sábado, março 25, 2006


Barbosa de Magalhães (2) Posted by Picasa
Retrato a óleo do 2º Bastonário da Ordem dos Advogados, Ministro da Justiça (1915), Ministro da Instrução Pública (1917), Ministro dos Negócios Estrangeiros (1922), deputado durante a 1ª República, lente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (1914-1941). Natural de Aveiro (31/10/1878), veio a falecer em Lisboa (5/04/1959). Concluira Direito na UC em 1899.
Republicano e democrata, BM não se coibiu de criticar o ordenamento jurídico do Estado Novo, em páginas anotadas do "Estatuto Judiciário" pelos finais da década de 1930. Salazar não se esqueceu de lhe "oferecer" um saneamento em 1941.
Retrato existente na Ordem dos Advogados, da autoria de Henrique Medina. BM posa com Borla e Capelo de Direito e Toga de Advogado (visível a condecoração). Reprodução a cores em Adalberto Alves, "História breve da advocacia em Portugal", Lisboa, CTT Correios, 2003, pág. 159.
AMNunes


Barbosa de Magalhães (1) Posted by Picasa
O 2º Bastonário da Ordem dos Advogados, Dr. José Maria Vilhena de Barbosa Magalhães (1879-1959), antigo Ministro da Justiça da 1ª República e lente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, discursa de pé na tribuna do Salão Nobre do Supremo Tribunal de Justiça, na cerimónia solene do Primeiro Centenário da Fundação do STJ, realizada em 14 de Outubro de 1933.
Esta fotografia foi divulgada no meu livro "Sob o Olhar de Témis. Quadros da História do Supremo Tribunal de Justiça", Lisboa, Edição do STJ, 2000, pág. 104. Repare-se que António de Oliveira Salazar representa o governo, ocupando a cadeira de espaldar alto do Presidente (também ele lente de Direito sem doutoramento). O Ministro da Justiça, Manuel Rodrigues Júnior, enverga fato civil de cerimónia (doutor e lente por Coimbra, nesta data já passara a lente da Faculdade de Direito de Lisboa).
De pé, Barbosa de Magalhães profere o discurso solene da Ordem dos Advogados. Diplomado em Direito por Coimbra, mas sem qualquer doutoramento, Magalhães fora nomeado em 1914 "Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa" após "concurso de provas públicas". A prova terá constado de um exame escrito (com parte oral?) sobre pontos de matéria de Direito tirados à sorte perante um júri, sendo de alguma forma equivalente às provas escritas de admissão a certos cargos públicos que hoje em dia se continuam a realizar. Magalhães enverga Borla e Capelo vermelhos, segundo o figurino tradicional da UC. Quanto ao Hábito Talar, não há sinal algum de Capa nem de Batina. Sob o Capelo insinuam-se as linhas verticais e a manga larga da Toga de Advogado (e não da Beca da antiga Escola Médico-Cirúrgica). Com o vestuário descrito se fez Magalhães retratar a óleo para a Galeria dos Retratos dos Bastonários da Ordem dos Advogados.
Relativamente à biografia e habilitações de BM veja-se:
-CARLOS, Adelino da Palma - "Elogio histórico do Dr. José Maria Vilhena Barbosa de Magalhães", Lisboa, 1960;
-LAMY, Alberto Sousa - "A Ordem dos Advogados Portugueses. História, órgãos, funções", Lisboa, Ordem dos Advogados, 1984.
Agradecimentos: à Sra. Dra. Isabel Cambezes e ao Sr. Dr. Duarte Catalão que a nosso pedido andaram a vasculhar os arquivos e Biblioteca da Ordem dos Advogados
Já que estamos com a mão na massa: sentado na ala extrema direita da tribuna (nem de propósito), logo a seguir a BM, de Hábito Talar e Borla e Capelo, alinha António Faria Carneiro Pacheco (Santo Tirso, 1887; Estoril, 1957), então Vice-Reitor da Universidade de Lisboa (1931-1936) e lente da sua Faculdade de Direito (1922-1957). Pacheco fizera o curso de Direito e o doutoramento em Coimbra, tendo sido colega de Oliveira Salazar. Apoiante do sidonismo e do 28 de Maio de 1926, devotado admirador e colaborador de Salazar, Pacheco integrou a Comissão Executiva da União Nacional, foi deputado nas legislaturas de 1934 e 1938, Ministro da Educação Nacional (1936-1940), embaixador no Vaticano (1940-1946) e em Madrid (1946-1954).
Enquanto Ministro da Educação Nacional (e não da Instrução, à maneira republicana) promoveu a intensa fascização das escolas. A ele se deve a tristemente célebre Lei de 1 de Abril de 1936 (Lei da Remodelação do Ministério da Instrução Pública), que além de pretender controlar cultural e ideologicamente discentes e docentes (terá a actual Ministra relido a Base II?), estabelecia apertado controlo sobre o professorado (Bases III, IV e V), impunha o manual escolar único (Bases IX e X, também relida pela actual Ministra e respectivo séquito?) e fazia instalar nas salas de aula das escolas primárias o Crucifixo (Base XIII) como "símbolo da educação cristã determinada pela Constituição" (de 1933, entenda-se).
D. Eurico Dias Nogueira, arcebispo jubilado de Braga e antigo estudante de Coimbra, o presidente da CM de VNGaia, o Prof. João César das Neves, diversos jornalistas entre os quais se eriçou Francisco S. Cabral, alguns opinion-makers e docentes universitários ligados a instituições confessionais, não leram, ou fizeram de conta que não conheciam, a lei de 1936 quando em Novembro/Dezembro de 2005 esquentaram a "Questão dos Crucifixos" com falsos argumentos cujo fim último pretendia branquear a história do século XX.
Contrariando os argumentos falaciosos dos opinion-makers, importa clarificar:
a) na legítima luta pela retirada dos crucifixos das escolas públicas não se pretendiam praticar quaisquer actos iconoclastas que visassem ferir a religião Católica;
b) é totalmente abusivo comparar a necessidade de retirada desses símbolos das escolas públicas com eventuais actos de vandalismo a praticar em todos os espaços onde figurassem símbolos católicos anteriores à Lei de Separação de 1911 (falou-se de museus, igrejas, cemitérios, capelinhas, alminhas...);
c) os crucifixos ainda existentes em alguns edifícios de escolas primárias edificadas antes de 1974 não simbolizam 800 anos de História de Portugal num amistoso braço dado entre "trono" e "altar". Esse é precisamente o argumento fascista usado por Salazar na letra da "Constituição de 1933" e por Carneiro Pacheco na letra da lei da reforma educativa de 1936. Os crucifixos ainda existentes nas antigas escolas primárias são apenas um símbolo remanescente de um acto fascista que escapou ao processo de democratização operado a partir de 1974.
Manter esses crucifixos não significa respeitar a cultura portuguesa multissecular, nem as crenças dos portugueses (melhor, a crença). Significa tão só louvar uma lei totalitária que impunha às escolas, aos professores e às crianças indefesas, uma religião única (a Católica) e o culto do chefe (o retrato dos chefes nas mesmas salas e paredes). Não nos admiremos com estas e outras confusões, pois em recente intervenção parlamentar (governo de Durão Barroso) uma voz feminina, pelos vistos Secretária de Estado da Educação, não se coibiu de afirmar que considerava a religião Católica sinónimo de religião escolar;
d) não andaremos longe da verdade se dissermos que os crucifixos permaneceram após 1974 esmagadoramente em escolas implantadas em meios geo-culturais de um "Portugal profundo", dominado pela ruralidade e pelo catolicismo, com a conivência de conservadoras professoras do ensino primário, contínuas e inspectores;
e) perante um tão estranho acto que ofende o laicismo de Estado e a liberdade de crenças positivada na Constituição de 1976, importa perguntar se os sucessivos inspectores que ao longo de 30 anos foram passando por essas escolas não viram os crucifixos salazaristas? Era impossível não os verem, escarrapachados por cima dos quadros, bem a meio das paredes das salas de aula. Francamente senhores inspectores, para mais tendo os zelosos técnicos uma alínea dos seus relatórios expressamente dedicada às instalações escolares... além do mais, é bem conhecido o empenho que os senhores inspectores tiveram em mandar retirar das salas de aulas os estrados, com grave prejuízo da visualização do quadro, da projecção natural da voz dos docentes e do controlo disciplinar. Empenharam-se nos estrados, fizeram ouvidos de mercador aos crucifixos e às mazelas dos edifícios.
Graças a estas cúmplices piscadelas de olhos, amostra significativa de docentes ultra-conservadores tem vindo a promover "missas de Páscoa" em polivalentes de EB2,3, enquanto em creches e primárias, educadoras e professoras ensinam afoitamente cânticos católicos para receber bispos diocesanos expressamente convidados para abençoarem crianças. Zelosos presidentes de escolas conhecemos que não foram sem assinar ordens de serviço de actividades extra-curriculares, quais sejam missas pascais, às quais deveriam os directores de turma acompanhar obrigatoriamente os seus alunos;
f) na vergonhosa e desonesta "Questão dos Crucifixos" seria de esperar uma palavra da Assembleia da República, do Presidente da República (refiro-me a Jorge Sampaio) e até um "despacho interno" do Ministério da Educação (desta feita, o Secretário de Estado, tão prolixo em "despachos" que lembram diplomas da "outra senhora", optou por não despachar). Contrariamente ao que pretendia o Sr. presidente da CM de VNGaia, quando falava em 800 anos de catolicismo em Portugal e invocava a hipótese de um tão perigoso quanto místico "respeito" pelas "tradições locais" capaz de forjar decisões locais de pais/vereadores/alunos, importa lembrar que não há discussão possível perante símbolos de Estado bem definidos. O desinvestimento do Estado nos seus símbolos oficiais não significa conferir a edis de duvidoso bom senso a possibilidade de transformarem os recintos escolares públicos em coutada de caça de partidos, dos clubes de futebol da sua afeição, ou em grotesca imitação das kitsches cabines dos camionistas portugueses de longo curso.
A República Portuguesa tem como símbolos, além do Hino Nacional e da Bandeira, o Escudo (escudo que aliás contém símbolos cristãos). Como tal, os símbolos da República Portuguesa a admitir nas escolas públicas (paredes, eventualmente salas. Encontram-se em uso a Bandeira e o Selo) só podem ser a Bandeira, o Escudo heráldico de Portugal ou (digo eu) a tão esquecida Alegoria Feminina da República Portuguesa. Porquê afinal este desprezo do Estado pela sua própria representação feminina? Mas, num país onde deputados fazem greves por causa da preservação da suposta tradição regional de um queijo de bola que afinal é oriundo da Holanda, o que se não dirá e escreverá sobre os símbolos da República?! Stultus multa stultorum, já dizia a Bíblia!
As tradições locais não prevalecem sobre os símbolos do Estado, nem podem ferir gravemente as liberdades e garantias dos cidadãos, sendo que as tradições locais se prestam a comportar execrandas afirmações de xenofobia, de machismo, além de descarada veneração a "chefes" locais, sejam eles "calistos elóis", "conselheiros acácios" ou quejandos. Quando o governo de António Guterres veio abrir excepções à realização das touradas de morte em Barrancos, não teve plena consciência dos demónios que se escondiam na bem portuguesa "caixa de Pandora". O que não faltam no Portugal regional são particularismos, alguns tenebrosos e boçais, à espreita de um regresso ou de consagração pública. E nesse "Portugal no seu pior", quantos políticos trauliteiros não espreitam o momento em que canalizarão em proveito próprio tradições "bárbaras", facilmente tomadas por boas práticas culturais em contextos regionais onde não existe reflexividade crítica sobre o ser e o estar? Perdida a noção do ridículo, relativizados os valores civilizacionais, fechados os horizontes, o hediondo seria facilmente tomado por boa prática (os professores sabem bem quem foi e o que fez Hitler). À conta das "belas" tradições locais, a população de Soalhães acusou uma mulher de bruxa e queimou-a na fogueira, isto pela década de 1930, em hediondo ritual de atraso civilizacional que motivou Bernardo Santareno a escrever "O Crime da Aldeia Velha".
Toda esta polémica dos "Crucifixos" diz muito sobre a desonestidade e malformação de certa classe política à moda dos "cabrais", da estranha amnésia e descaramento da velha direita, do incomensurável poder que as instituições católicas voltaram a conquistar em Portugal e do inquietante silêncio em que os intelectuais de esquerda foram mergulhando (campanha presidencial de Dez./2005-Jan./2006). Quantas mordomias, caros amigos dos sixties. Razão a Daniel Cohn-Bendit quando veio declarar que "nem tudo o que dissemos era para levar a sério".
Os senhores presidentes de câmaras e directores de colégios que vieram pregar publicamente a cruzada dos crucifixos poderão evidentemente colocá-los nos seus salões nobres e gabinetes directoriais. Sonharão alguns deles que bem poderiam conferir posse e juramento de fidelidade aos professores nos seus próprios gabinetes, em reabilitação do tenebroso Decreto-Lei Nº 27.003, de 14/09/1936 (afinal só foi abolido pelo Decreto-Lei Nº 49.397, de 24/11/1969)?
Se há um responsável pelo lamentável e ofensivo (para nós docentes defensores do laicismo de Estado e da liberdade religiosa) equívoco dos crucifixos, esse responsável é o próprio Ministério da Educação. Fingindo que não via os crucifixos nas salas das escolas públicas durante 30 anos, negligenciando a colocação dos símbolos da República Portuguesa democrática, o Ministério da Educação abriu ele mesmo as portas a perigosos entendimentos difusos. Se o Estado não tem símbolos, se o Estado não zela pelos seus próprios símbolos, então qualquer "calisto elói" pode fazer entrar nas escolas públicas a bandeira do seu partido, a túnica da sua igreja, o cachecol do seu clube de futebol, o retrato daquele vereador que ofertou caixotes de espumante e queijos de bola para a feirinha de São Martinho, a santinha que ornará o átrio ou... o caracol de borracha multicolor onde piedosamente se lê "Deus abençoe esta casa"! Convenhamos que tudo isto, ostensivamente praticado e exibido nas escolas, é muito diferente do crucifixo ou da medalhinha que o aluno crente leva discretamente num colar ou numa pulseira. Razão tem o Ministério da Educação francês que, pecando embora por algum excesso de zelo quando defende a neutralidade dos símbolos religiosos, coloca em primeiro plano a civilização republicana e humanista.
Ao excesso de simbologia fascista de ontem (1936-1974 são muitos anos de inculcação ideológica) sucederam 30 anos de desleixo e de vazio simbólico. Construídas largas centenas de edifícios escolares após 1974 (arquitectura reles a das EB 2,3 que marcou os ministérios Roberto Carneiro e Marçal Grilo na década de 1990), onde estão os símbolos da República Portuguesa democrática nas escolas públicas? Onde está a reforma da própria designação do Ministério?
Desde a governação Marçal Grilo/Ana Benavente que se assiste a uma descarada acção ministerial de desacreditação do modelo institucional de escola pública (bem como dos professores formados nas universidades), com a correlativa louvaminhança às escolas privadas, cujo ponto alto foi atingido em declarações públicas de David Justino.
Lamentavelmente, muitas escolas públicas assemelham-se mais a degradadas gasolineiras do Texas, a desolados apeadeiros de aldeia e a inenarráveis centros de saúde terceiro-mundistas, que também vemos em muito Portugal velho, do que a modernas escolas europeias. Nesta matéria, temos de reconhecer que as escolas primárias públicas, bem como as de 2º e de 3º ciclos, não estão em condições de competir arquitectonicamente com as creches e colégios particulares. Relativamente ao 1º ciclo (antiga primária), excluindo meia de dúzia de municípios com boa obra feita, a gestão do parque escolar por intermédio dos executivos municipais configura um crime grave de negligência. No geral, persistem os edifícios herdados do Estado Novo com o mesmo campo de terra batida (o larguinho de aldeia), as mesmas salas de aula, as mesmas retretes. Decorridos 40 a 50 anos após a empreitada de construção, as únicas benfeitorias visíveis são a ligação dos edifícios à rede de electricidade e a existência de um computador num dos acanhados cantos das salas.
A explosão demográfica que se viveu sobretudo no litoral, a consagração dos direitos das crianças, o estilo de vida da sociedade de consumo, nada disto se fez acompanhar de um programa geral de construções em busca de cores e de formas tão emblemáticas do imaginário infantil. "Alice no país das maravilhas" não chegou nunca ao acanhado mundo do parque escolar português. Não há cantinas, não há bibliotecas, não há ludotecas, não há auditórios, não há palcos, não há parques de diversões, não há berçários, não há actividades extracurriculares que satisfaçam os pais mais exigentes. São os mesmos edifícos do deposto regime, de salas austeras, de mobiliário pobretanas, concebidos para um tempo em que as crianças eram sujeitas ao trabalho infantil, sobreviviam mal alimentadas, sorviam goladas de óleo de fígado de bacalhau, caminhavam horas a pé para chegar à escola, não tinham um brinquedo nem uma guloseima e levavam sovas de cana e palmatória.
Uma criança portuguesa de uma família burguesa remediada tem actualmente mais conforto em casa do que na sua creche pública ou na sua escolinha estatal. As áreas de serviço das auto-estradas e os centros comerciais são sítios bem mais atractivos do que as escolas públicas. Além da penúria dos espaços, não há carrinhas destinadas a assegurar transportes escolares, falham as cantinas e dormitórios, é impossível garantir uma piscina semanal ou uma sessão de artes marciais. Nesta matéria, creches, externatos e colégios particulares, levarão sempre a melhor sobre as escolas públicas. As mais valias pagam-se no particular, exactamente como se pagam as consultas médicas nas clínicas privadas.
Admira que Daniel Sampaio, sempre tão solícito em aconselhar os professores (ou trabalhadores camaleões? O termo convirá à equipa ministerial visto prestar-se a confusão com "camelos") a fazerem de tudo com muita "alegria no trabalho", não tenha ainda escrito sobre esta matéria.
Muitos dos sapientes técnicos de psicologia educacional e de ciências da educação que se esfalfam no aconselhamento aos ministros da educação são fãs de um novo modelo de profissão agora em voga: anteontem manequim, ontem hospedeira, hoje actriz de telenovelas, de manhã na metereologia, à tarde num concurso débil, à noite numa jetessetada ou numa botoxada (e se aparecer mais alguma coisinha...).
Estes técnicos lá sabem de sua banha da cobra. Como que a dar-lhes razão, os alunos portugueses compram muitas revistas de quiosque onde esses mutantes de sucesso são frequente motivo de capa. Nelas não costumam figurar professores, nem nas capas, nem nas páginas interiores, sendo certo e sabido que os professores "à la mode" dão aulas, são directores de turma, fazem matrículas, entrevistam pais, elaboram perfis sócio-familiares dos alunos, avaliam, ministram formação cívica, projecto, estudo acompanhado, apoio pedagógico, asseguram salas de estudo e bibliotecas, fazem de psicólogos, de assistentes sociais e terapeutas familiares, participam em milhentas reuniões, redigem actas e relatórios, frequentam acções de formação e... esfregarão urinóis no dia em que um qualquer "calisto elói" lhes enviar o competente "despacho" para encher horário (quantas escolas não tresandam a urina por falta de funcionárias? Como garantir a higiene mínima em escolas destinadas a 400 anos, a abarrotar com 800 alunos, mas mantendo os mesmos funcionários? Assim se contabiliza o fedor da poupança ministerial).
O que é preciso é ocupar esses malandros que não trabalham oito horas diárias, faltam que se fartam e, ainda por cima, recebem subsídio de férias e 13º mês! É dinheiro a mais para tanto camaleão. Se perguntarmos aos "filhos de Ana Banavente" (esses mesmos que foram amestrados a vociferar contra os "professores estilo liceu") se são professores, estes sentir-se-ão insultados. Professores?! "Professor é o seu tio! Eu participo em reuniões, dou sala de estudo, organizo a Feira de São Martinho, programo visitas de estudo, voto notas de alunos em risco de chumbarem, atendo os pais, telefono à comissão de protecção de menores, planifico competências, asseguro a biblioteca, projecto dvs, enfeito mesas para o jantar de Natal, substituo professores faltosos com palavras cruzadas e forca, detesto os colegas que dão negativas, vou dizendo uns palavrões na sala dos profes, o meu portugês é sofrível, e odeio esses colegas que são sindicalizados e fazem greves."
Se é que pode servir-nos de consolo, também sabemos que muitos desses técnicos encartados em pedagogia fizeram os seus doutoramentos "em Boston" (há que faça trocadilho), sarcástica maneira de dizer à portuguesa para os que quase se diplomaram por correspondência.
Os senhores edis, preocupados com aquilo a que chamam ofensas à religião, deveriam prestar mais atenção ao estado vergonhoso a que chegaram os edifícios das escolas primárias da sua directa gestão financeira. Os pais e as crianças, além de terem de aguentar com esses barracos velhos de terceiro mundo, ainda são obrigados ao pagamento de resmas de papel para a fotocopiadora, de uma taxa para o toner, de um tanto para o papel higiénico e de mais uns euros para os detergentes destinados à limpeza. Ai daquela associação de pais que não saiba assentar um vidro partido numa janela, remendar o cano do lavatório ou substituir a fechadura emperrada! Bem pode enviar ofícios "vox clamantis"! As criancinhas podem ser amorosas, mas não votam!
Esta é que é a verdadeira escola primária pública, dita "gratuita". Não há "choque tecnológico" que lhe valha, se lembrarmos o estado de choque em que o Ministério tem trazido os seus agentes. Não bastava ter de levar com os edifícios frios, exíguos, antiquados, quantos deles a funcionar em barracões pré-fabricados, mais a paga do papel higiénico, do papel de fotocópias e do desinfectante das sanitas. Ter de levar com os crucifixos de Salazar pela cabeça abaixo é demais. Deixamos esse mimo para a titular da pasta, com o mesmo amor com que nos aconselha o milagreiro "choque tecnológico". Aí sim, estariam optimizadas todas as "competências" da boa ensinança: forno crematório em Souselas para despachar aos 66 anos os inúteis, incompetentes e preguiçosos professores (tanto adubo, tanta ecologia. A ideia veio da Alemanha) e cadeira eléctrica nas escolas. Que seja uma por cada escola, e que venham depressinha, pois há muito por onde electrocutar.
Oliveira Salazar bem pode rebolar-se de riso, ele que leu Le Bon e conhecia os portugueses do Portugal velho. A Constituição de 1933 foi revogada mas os símbolos católicos ficaram para durar nas escolas primárias (perdão, de "1º ciclo". Eu sou dos que ainda dizem "liceu"), nas capelas dos hospitais públicos, nos quartéis militares públicos, nas capelas das cadeias públicas. O que se segue na estulta viagem desta nave dos loucos? O retorno do juramento de honra sobre a Bíblia (não é da tradição? afinal só foi abolido em 1910)? "Morreu o rei, viva o rei"!
AMNunes

sexta-feira, março 24, 2006


Dia do Estudante: a luta contra a opressão. Artigo do Diário das Beiras de hoje, escrito por Patrícia Cruz Almeida. Posted by Picasa

quinta-feira, março 23, 2006


Partitura de "As Pombas", com acompanhamento de viola, transcrita por António Carrilho Rosado Marques. Esta partitura destina-se a substituir uma semelhante inserta neste Blog no dia 12 de Fevereio deste ano. Foi-me enviada pelo autor da dita transcrição, que me pediu para a substituir. O sistema não me está a permitir fazer a substituição, pelo que a insiro aqui novamente.
Esta partitura irá fazer parte da 3ª edição do livro por ele escrito com transcrições de peças de José Afonso, chamado "Cantares de José Afonso".
Para se ficar melhor informado sobre esta peça, volto a inserir o texto escrito por José Anjos de Carvalho e António M Nunes:
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As Pombas
Partitura transcrita por António Carrilho Rosado Marques, presente na obra "Cantares de José Afonso. Acompanhamentos para viola", Évora, Edição do Autor, 1998, pág. 15. As autorias mencionadas no cabeçalho da solfa são pouco precisas na informação ministrada.
Visando contextualizar esta composição, José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes elaboraram a seguinte memória:
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AS POMBAS
Música: José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (1929-1987), Luís Oliveira de Andrade (1935-1993), Rui de Melo da Rocha Pato
Letra: Luís Oliveira de Andrade, José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos
Incipit: Pombas brancas
Origem: Coimbra
Data: 1963
*
Pombas brancas
Que voam altas
Riscando as sombras
Das nuvens largas
Lá vão
Pombas que não voltam
*
Trazem dentro
Das asas prendas,
Nos bicos rosas
Nuvens desfeitas
No mar
Pombas do meu cantar
*
Canto apenas
Lembranças várias
Vindas das sendas
Que ninguém sabe
Onde vão
Pombas que não voltam
*
Canta-se cada estrofe sem repetir verso algum.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Mi;
2º dístico: Mi, Lá///Lá, Mi;
3º dístico: Mi/// Lá, 2ª Mi;
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Informação complementar:
Canção de tipo estrófico, em compasso binário composto (6/8), com divisão ternária e andamento lento. A composição está no tom de Mi Menor. Todavia, a melodia original de "As Pomba, foi gizada na viola de Rui Pato em Ré Menor natural, possibilitando assim a José Afonso participar na feitura da obra com a sua viola. Espécime emblemático do Movimento da Balada, mediante o qual José Afonso afirma o seu distanciamento em relação à Canção de Coimbra de pendor classizante em geral e à Guitarra de Coimbra em particular. A melodia foi improvisada em Coimbra, numa noitada fria de Inverno, na sala de bilhares do café A Brasileira. A música é em bom rigor uma co-autoria, partilhada por José Afonso/Rui Pato/Luís de Andrade, sendo a letra confeccionada pela dupla José Afonso/Luís de Andrade.
Tema vocalizado por José Afonso, acompanhado à viola nylon por Rui Pato no EP "Baladas de Coimbra", Rapsódia, EPF 5.218, gravado em 9 de Agosto de 1963. Deste registo se fez uma remasterização vertida no LP “Baladas e Fados de Coimbra”, Edisco, EDL 18.020, editado em 1982.
Em bom rigor, “As Pombas” não é apenas mais uma “balada” de José Afonso. Esta canção integrava o célebre e simbólico EP que continha “Os Vampiros” e “Menino do Bairro Negro”, disco que foi apreendido pelos serviços de Censura do Estado Novo no segundo semestre de 1963. Sobre esta composição, José Afonso in “Cantares de José Afonso”, Lisboa, 2ª edição, AEIST, 1968, pág. 53, fazia o seguinte comentário: “Pretendia-se que a melopeia, feita de reiterações e alongamentos em que a voz mantém as sílabas finais até se extinguir lentamente, correspondesse a um fundo independente do conteúdo literário e vice-versa. O poema, a melodia e o acompanhamento separam-se e reúnem-se de novo, repelidos por uma espécie de movimento ascensional sem princípio nem fim. A voz eleva-se e tenta fixar por meio de modulações adequadas o voo dos pássaros que se perde na distância.
”Infelizmente não se encontra disponível qualquer biografia do poeta Luís Andrade (Luís PIGNATELLI) autor que também fez parceria com José Afonso em ELEGIA. José Afonso refere que Andrade também sabia música, ou se não a sabia, ajudou a improvisar as melodias de “As Pombas” e de “Elegia”, dado confirmado por Rui Pato.
Canção gravada com o título adulterado para POMBAS BRANCAS pelo grupo Verdes Anos, constituído por Gonçalo Mendes/Rui Seoane (vozes), Miguel Drago/Luís Barroso (guitarras), António Dinis/João Pedro Martins (violas): CD Verdes Anos, Public-Art, pa-19101, ano de 2001, faixa nº 13, atribuindo a letra a José Afonso.
Encontrámos uma transcrição musical desta canção no antigo sócio da TAUC António Carrilho Rosado Marques, “Cantares de José Afonso. Acompanhamentos para viola”, Évora, Edição do Autor, 1998, págs. 14-15.
Existe uma outra gravação protagonizada por Mário Gomes Pais, com o título adulterado para “Pombas Brancas”, no CD “Coimbra é uma Saudade”, Coimbra, Aeminium Records, AE 002, ano de 2002, faixa nº 16. Viola e arranjo de Paulo Larguesa.
Esta mesma canção, com o título adulterado para “Pombas Brancas” foi adaptada ao estilo Fado de Lisboa por Cristina Branco: CD “Murmúrios”, do ano de 2005.
O registo original de José Afonso encontra-se disponível em compact disc:-CD “Dr. José Afonso. Os Vampiros”, Porto, EDISCO, ECD-001, ano de 1987, Faixa nº 8, sem qualquer regerência ao ano de gravação nem à matriz original.
O poeta e tradutor Luís Oliveira de Andrade nasceu em Espinho a 1 de Janeiro de 1935, tendo falecido em Lisboa em 20 de Dezembro de 1993. Após estudos primários e liceais em Espinho, residiu em Coimbra entre meados da década de 1950 e o Verão de 1965, com uma pequena interrupção para uma visita rápida a Moçambique no ano de 1963. Em Coimbra conviveu com Herberto Helder, Manuel Alegre, Lousã Henriques, José Afonso e Adriano Correia de Oliveira (mais dados em Google "Insónia: exibicionismo"). A partir do Verão de 1965 opassou a residir em Lisboa.
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Adenda: a 1ª edição on line desta memória foi feita sem que tivesse chegado às mãos dos autores o comentário crítico solicitado ao Dr. Rui Pato. Em função dos elementos gentilmente fornecidos em 14/02/2006, procedemos às necessárias modificações do texto, nomeadamente nas matérias respeitantes às co-autorias, local de feitura da obra e tonalidade original.
Texto e pesquisa: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Agradecimentos: Sandra Cerqueira (Edisco), Prof. José dos Santos Paulo, Dr. Octávio Sérgio, Dr. Rui Pato

quarta-feira, março 22, 2006

Canção de Coimbra /Reflexões ( III )



José Mesquita*

Encerramos as reflexões sobre o primeiro dos temas que nos propusemos abordar, com uma nota final que é, simultaneamente, um reparo. Assim, durante a elaboração destes despretensiosos textos, tivemos a oportunidade de ver e ouvir, com muita atenção, o DVD «História do Fado de Coimbra» (1), referido nos primeiros artigos. Ficámos então altamente surpreendidos, ou melhor dizendo, estupefactos, com a completa omissão de, uma simples referência que fosse, a António Pinho Brojo!!...
Sabemos muito bem que nestes artigos jornalísticos, com certo cariz histórico, as referências exaustivas são difíceis e por vezes incompatíveis com o «espaço» disponível...
Conhecemos também os melindres, susceptibilidades e outras " dificuldades", que não são de agora, mas sempre existiram no meio "fadístico"...
Seja como for, neste caso particular, tendo em conta a importância do Prof. António Pinho Brojo no contexto da música coimbrã, o grande número de instrumentistas referidos no DVD (alguns deles seus colaboradores directos ! ) e a diversidade dos temas aí abordados, a não citação deste ilustre guitarrista é, quanto a nós, completamente injustificável. Trata-se de uma omissão injusta e incompreensível para além de, obviamente, constituir uma lacuna grave na história que se pretende divulgar do fado de Coimbra...
Aqui fica a crítica, na esperança de que os Autores, se assim o entenderem, venham a reparar esta profunda injustiça e repor a verdade histórica. ( B )

Prosseguindo agora com a abordagem dos pontos previamente anunciados (ver 1º artigo), começamos hoje a debruçar-nos sobre o seguinte tema :

A Poesia nas suas relações com a componente musical (melódica/harmónica) e/ou interpretativa da Canção de Coimbra

É por demais óbvio que toda a peça musical composta para ser cantada integra duas componentes: a letra (poema) e a música (melodia). As relações entre estas duas componentes, sob vários aspectos (importância relativa, prioridade temporal na composição, etc.) têm algumas vezes sido utilizadas para delimitar géneros musicais... Foi o que fez, por exemplo, Afonso de Sousa relativamente aos fados de Lisboa e de Coimbra . Diz este ilustre cultor do fado e da guitarra de Coimbra (companheiro de Artur Paredes e dos maiores vultos do canto coimbrão da 1.ª geração de ouro) : "O fado lisboeta será musicalmente estruturado para ser adaptado à letra, à copla, que são preexistentes, sendo estas que vão inspirar a linha melódica. Forçosamente, o sentido intencional e descritivo da letra vai arrancar do compositor musical a frase melódica adequada a essa acção e ao sentimento revelados no estrato literário"(sic) (6).
Em contrapartida," os compositores de Coimbra constróem as suas composições abstractamente (música pela música)... sem disporem ainda de um tema literário a musicar, seja a tradicional quadra, seja outro poema, à excepção do soneto.. como aconteceria, por exemplo, com os seus próprios fados "Asas Brancas" e" Desalento". Assim sendo, essas composições (frequentemente em tons maiores e primando pela leveza da sua estrutura melódica) não tendo sido vazadas numa forma, adaptam-se sem esforço a esta ou aquela composição literária" ( 6 ).
Quanto à temática, o fado de Lisboa distinguir-se-ia do de Coimbra pela incidência nos temas da morte, catástrofe, desgraça, desespero, ciúme, amores trágicos, etc. etc.
Analisemos esta interpretação:
Genericamente, se estivermos a comparar "extremos", isto é, o "fado castiço de Lisboa" com o chamado "fado tradicional de Coimbra", e nos reportarmos há 40-50 anos atrás, esta distinção, realçada por Afonso de Sousa, poderá parecer suficientemente bem fundamentada!... Com efeito, ainda na minha geração (anos 50) era muito frequente constatar-se que os fados não constituíam, em si mesmo, peças minimamente estáveis nas suas componentes musical e poética. As clássicas duas quadras, frequentemente sem qualquer relação uma com a outra (às vezes até desconexas...), eram escolhidas à vontade e ao gosto do intérprete. A história do fado de Coimbra é pródiga nestes exemplos em que a mesma melodia é cantada com 2, 3, 4, e às vezes mais, letras diferentes!... (ex.: o "Meu fado" e "Canção das lágrimas" de Armando Goes, para já não falar dos clássicos " Fado Hilário" e Samaritana "). O mesmo acontecia, aliás, com as "Introduções instrumentais"!... A única coisa que interessava aos intervenientes era conhecer o tom em que se ia" cantar o fado"!! A partir daí era a plena liberdade (ou "libertinagem"...), para guitarristas e cantores, sendo frequentes diálogos do género :" Eh pá! O que é que vais cantar logo à noite" ? ( Referência a uma serenata previamente aprazada e "arrematada" para uma "garota", algures num "Lar" do Penedo ou na Rua dos "Coutinhos".). Resposta possível: .o "fado das andorinhas em mi menor".É evidente que, quando chegava a "hora da verdade", saía a "Introdução"que dava mais jeito ( desde que em mi menor.) e ." as andorinhas podiam nem sequer aparecer" !! Para o "meio fadístico",porém, a melodia ali estava .inconfundível. É evidente que este procedimento é bem mais difícil, senão mesmo impraticável, com outras "formas poéticas", que não a quadra tradicional. A comprová-lo podemos citar, bem cedo na "história do fado" ( décadas de 20-30 do século passado ) os, ainda raros, sonetos musicados por D. José Pais de Almeida e Silva ("Dobadoira", "Noite de Luar", etc.), onde a letra e a música "se casam numa união feliz e indissolúvel". É evidente que esta "necessidade", musical e estética, de conjugação harmoniosa da letra com a melodia, foi-se acentuando cada vez mais, com a diversificação da música coimbrã, logo a partir da década de 60 , mas, fundamentalmente, quando a "grande poesia "e os seus diferentes estilos começaram a entrar significativamente nessa música.(ver artigo anterior ). Sendo esta realidade incontornável e já presente na música coimbrã há várias décadas, não nos parece historicamente correcto, vir apresentá-la agora como "inovação" ou "autêntica revolução" no Fado de Coimbra ! !... ( 7 ).
Com efeito, seria hoje, no mínimo, de muito mau gosto, tentar interpretar melodias como o "Lago do Breu", "Menino do Bairro Negro", "Senhor Poeta", "Canção de Embalar" e tantas outras de Zeca Afonso, ou "É preciso acreditar", "Balada da distância", "Balada do rei vadio", "Boneca de trapo", "Romagem à Lapa" etc, etc, de Lionel Neves /Luiz Goes ou ainda "Súplica", "Ficam as sombras", "Canção", "Ostinato", "Se pudesse" .e outras de Miguel Torga e Eugénio de Andrade, com letras diferentes dos poemas originais para que foram compostas.
Então, se a situação de "música abstracta independente da letra" (6), não se pode generalizar na Canção de Coimbra, muito menos pode considerar-se seu exclusivo, pois vamos também encontrá-la, bem evidente, no Fado de Lisboa, no qual, como é sabido, 4-5 harmonizações (fado menor, fado corrido, fado Mouraria, fado Vitória.) dão suporte musical a dezenas / centenas de letras!!...
Continuaremos a analisar esta questão no próximo artigo.
(B) Tomámos conhecimento, recentemente, de uma nova versão ampliada (produção TELEVITA Reg. nº 12028 / 2005 ) que, infelizmente, neste particular, se mantém inalterada !...
De qualquer modo, gostaríamos de salientar que estes nossos reparos não questionam a valia e significado do DVD pois, para além do mais, trata-se do único trabalho sobre Fado de Coimbra, disponível no mercado, no domínio do audio-visual. Em nossa opinião, este pioneirismo justifica, só por si, a aquisição do DVD por quem se interesse por esta faceta das tradições da Academia de Coimbra.

Bibliografia
* Cultor da Canção de Coimbra ( canto e composição ).
(1) In"História do Fado de Coimbra" ( DVD ) estem LOSANGO 2004.
(2) « Diário de Coimbra, 7/6/1999
(3) « Semanário "O Jornal " ( Supl. Educação ), 12/1983
(4) « Semanário "O Jornal",8/3/1985
(5) « Expresso ( Única ),nº 1703, 18/6/2005
(6) « Separ./Comissão Municipal de Turismo ( 1981 )
(7) «"Diário As Beiras ( 21/09/2005 )
(8) «"Diário As Beiras" ( 17/04/2001 )

Legenda da Figura (Montagem Fotográfica):
Memória / Momentos : Tempo(s) de Coimbra / Divulgação da sua canção
Ao centro (A) : "Tempo(s) de Coimbra"- oito décadas no canto e na guitarra (1985) Edit. EMI-Valentim de Carvalho. Esta Antologia do Fado de Coimbra (6 discos), com várias edições (em vinil e cd) e que ainda se encontra no mercado, teve como base as gravações realizadas para a série de Televisão com o mesmo nome, da autoria e coordenação de António Brojo e António Portugal e interpretações do "Grupo de Guitarras e Cantares de Coimbra".
Em cima (B-D) : Grupo, com a composição mais frequente (Anos 80), em concerto no Palácio Foz - Lisboa (1982) (B), em gravação para a TV, no Páteo da U.C. (1983) (C) e com Carlos de Jesus (1995) (D). E, F, G - Digressão pela ex-União Soviética (U.R.S.S.) (1984), onde se constata que a "irreverência Coimbrã" não tem idade !!...
Em baixo (H-O) : Divulgando a Canção de Coimbra. H, Japão (1981); I, Açores / Madeira (1988); J, África do Sul (1989); K, Bulgária (1995); L, Macau (2005); M, Hong-Kong(2005) ; N, Bruxelas (?) e outras paragens como, Espanha, França, Luxemburgo, Alemanha, Áustria, U.S.A., Brasil, Argentina. Posted by Picasa


Queima das Fitas no Diário das Beiras de ontem, por Patrícia Cruz Almeida. Posted by Picasa

terça-feira, março 21, 2006

AO DIA DA POESIA

Talvez hoje sinta alegria
Num dia sem lugar a tristeza
Uma palavra marca firmeza:
Poesia! Poesia! Poesia!
Deixo de lado qualquer melancolia
Rio, escrevo e declamo todo o dia

Revejo um sonho, ilusão ou quimera
Passeio em campos de brejo
Visito o meu Ribatejo
As lezírias verdejantes
Vejo perto a minha natal Abrantes
Em dia de início de Primavera

Vivo no maior sossego
Vejo nascer e pôr o sol
Ouço cantar um rouxinol
Nas doces margens do Mondego
Cujas águas passam à minha beira
Quem sabe se esse rouxinol
É o passarinho da ribeira

O vento traz sons de guitarras
Que oiço o dia inteiro
Liberto cruéis e vis amarras
Deixo de lado juventude de rebeldia
Por palavras somente de alegria
E algo faço só neste dia
Somente poesia! Poesia

Coimbra, 21 de Março de 2006 – Dia da Poesia
Rui Lopes

segunda-feira, março 20, 2006


Figuras de Coimbra. Foto enviada por Eduardo Aroso. Posted by Picasa

domingo, março 19, 2006

Canção de Coimbra / Reflexões ( I I )



A diversidade temática e estilística da poesia na Canção de Coimbra ( conclusão)

José Mesquita*

Terminamos a abordagem deste primeiro tema com mais algumas considerações que reputamos pertinentes.
Assim: quando se identifica e caracteriza o segundo momento de renovação do discurso literário da Canção de Coimbra (o chamado período de intervenção...), como fez José Manuel Beato (1), pensamos ser importante nele incluir também (e não só incluir , mas até realçar…) a vertente poética de José Afonso que, dando suporte letrístico às suas famosas baladas (Minha mãe, Menino d’oiro, Pastor de Bensafrim, Tenho barcos,tenho remos, Senhor poeta, Canção de embalar, Maria, Menino do Bairro Negro, Coro da Primavera/Canto jovem, Lago do breu, Vampiros, sem esquecer, obviamente, a “Balada de Outono” e “Traz outro Amigo também”, entre outras ), é responsável por uma das maiores “revoluções”, temática e estética, na história da música coimbrã … (foi a “pedrada no charco”!!.) E a propósito, citamos a Prof. Elfriede Engelmayer, académica austríaca estudiosa da obra poética de José Afonso, que, no seu trabalho “Utopia e passado: as canções de José Afonso”, diz : “José Afonso é também um grande poeta, mas a sua obra não figura em nenhuma antologia e praticamente ninguém o reconhece como tal” ( 2 ) . Haverá então em José Afonso um poeta oculto pelo Zeca cantor !...,não sendo certamente este caso o único entre os cultores da Canção de Coimbra . Com efeito, ocorre-me a propósito questionar se, nesse grande vulto da música coimbrã, Luiz Goes, os seus incomparáveis talentos de cantor, intérprete e compositor, poventura, não terão deixado ainda sobressair, na justa medida, a sua obra poética !...
José M. Beato (1), no seu testemunho, refere-se ainda à inclusão da “grande poesia” na vertente poético- literária da Canção de Coimbra. Talvez por lapso (?), o Autor reporta este facto à actualidade ... ,ao momento presente!!...
Ora, a verdade é que em 1983 (já lá vai quase ¼ de século!... ), numa entrevista que nos foi solicitada nesta matéria para um Semanário (3) pode ler-se : “ao passar em revista as letras de muitos fados e canções de Coimbra, constatei, com algum espanto, que, para além de Manuel Alegre, António Nobre e E. Bettencourt, grandes vultos da poesia portuguesa, que tinham passado por Coimbra e ouvido a sua canção, não tinham ainda sido cantados!...”(A) Esta circunstância, foi a principal motivação que nos levou às gravações, ainda em vinil ( LP’s ), dos discos “Coimbra dos Poetas”. (ed. Fotosonoro, com António Brojo, António Portugal, Aurélio Reis e Luís Filipe) e «Ecos da Canção Coimbrã» (ed. Polygram, com Octávio Sérgio, Sérgio Azevedo e Durval Moreirinhas) editados, respectivamente, em 1983 e 1987, e onde, para além de E. Bettencourt, António Nobre e Manuel Alegre, nos aparecem poemas de Luís de Camões, Afonso Lopes Vieira, Almeida Garrett, Antero de Quental, Miguel Torga, João de Deus, Afonso Duarte, José Gomes Ferreira, Sophia de Mello Breyner, Jorge de Sena, Ary dos Santos entre outros, com realce para Eugénio de Andrade (5 poemas)! Então, ao contrário do que parece concluir-se das palavras de José M. Beato (1) , não é “agora”, mas foi já há muito tempo, que a grande poesia começou a “entrar”, significativamente, no repertório da Canção de Coimbra…

Duas questões podem naturalmente colocar-se:

Porquê esta nossa opção pela grande poesia ?
Quais os critérios que utilizamos na selecção dos poemas ?

1. Relativamente à primeira questão, e antes do mais, queremos regozijar-nos pela adesão notória a esta “prática”, referida por J.M. Beato (1) (pese embora a sua incorrecta “localização” temporal…), pois ela é, efectivamente, bem evidente em algumas das gravações vindas a lume na última década .
A Canção de Coimbra (por alguns considerada a expressão de um folclore urbano), sendo eminentemente dinâmica, não podia deixar de reflectir as alterações da realidade social e académica em que se integra ... Contudo, e para além de outras temáticas eventualmente mais consentâneas com o nosso tempo, a permanência imprescindível da sua faceta lírica (“romântica”) exige, quanto a nós, uma componente poética actualizada, essencialmente diferente da dos anos 30-50 do séc. passado... Aliás, esta relativa “pobreza” da poesia no fado de Coimbra tem sido comentada, com alguma frequência, ao longo da sua história…A título de exemplo, cito o meu saudoso amigo e contemporâneo Fernando Assis Pacheco que, a propósito de uma reportagem sobre o concerto de apresentação da colectânia “Tempo(s) de Coimbra” na Aula Magna (Lisboa), escreveu: “Tempo(s) de Coimbra confirmou-me ainda uma velha suspeita, a de que o suporte letrístico é muitas vezes abaixo do aceitável, prolongando até aos anos 50 (e mesmo depois, quanta lamechice !) um romantismo dessorado…”(sic)( 4 ) . Sobre esta questão pensamos que, na falta de “letras” actuais e de qualidade, há sempre, em alternativa, o recurso à «grande poesia» pois, como é sabido, esta prima pela sua intemporalidade! No que nos diz respeito, não hesitamos: o “Poema com letra maiúscula”foi, nos anos 80, e continua a ser, actualmente, a nossa opção...

2. Quanto à segunda questão, é óbvio que a selecção dos poetas e dos poemas não foi nem poderia ser aleatória...
Entendemos que, no fado em geral, e muito especialmente no canto coimbrão, em que a vertente interpretativa é fundamental, o poema, para além de qualidade literária, deve motivar claramente essa interpretação, seja pela força emocional da palavra, pelo lirismo emergente da composição, ou mesmo pela preexistência de «música» na própria poesia!... Ora isto, como é óbvio, não acontece em todos os poemas nem em todos os Poetas, ... mesmo nos de elevada qualidade estética e/ou literária... Em suma: nem toda a «grande poesia» é cantável, pelo menos em «jeito coimbrão». Por exemplo, em relação a Eugénio de Andrade, considerado um dos maiores poetas portugueses da segunda metade do séc. XX, com tradução em 23 línguas ... (do servo-croata ao chinês ou do japonês ao basco!..) escreveu-se recentemente, a quando do seu falecimento (2005) ( 5 ): «deu uma outra dimensão ao lirismo amoroso, muito ligado à pulsão dos sentidos» (Vasco Graça Moura); ... «apetece logo caracterizar esta poesia como uma espécie de música» (Oscar Lopes); ... «nunca ninguém como ele, soube por tanta côr e sensibilidade na poesia» (Eduardo Lourenço). Estas opiniões insuspeitas, de certa forma, reforçam o que atrás ficou dito, e abonam a nossa preferência de há vinte anos, bem expressa no trabalho «Ecos da Canção Coimbrã» (1983)...
Vários outros exemplos poderiam ser cotejados na História da poesia portuguesa mas, não cabe aqui fazer essa análise, por escassez de espaço e, obviamente, de «engenho e arte»...

* Cultor da Canção de Coimbra ( Canto e composição ).
Bibliografia
(1)”História do Fado de Coimbra” ( DVD ) estem LOSANGO 2004.
(2) Diário de Coimbra, 7./6/1999
(3) Semanário “O Jornal “ ( Supl. Educação ), 12/1983
(4) Semanário “O Jornal”,8/3/1985
(5) Expresso ( Única ),nº 1703, 18/6/05

(A) A propósito, refira-se que, para além destes, alguns outros (não muitos …) grandes nomes da poesia portuguesa , esporadicamente, também já tinham sido “chamados “ por cultores do Fado/Canção de Coimbra ( Ângelo de Araújo, Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, José Niza, entre outros ) a dar suporte literário às suas composições musicais.

Legenda para a Foto:

Memória/Momentos: Nos dois documentos que servem de “fundo” à composição fotográfica, atente-se nos dizeres : “Fados de Coimbra” por Adelina Fernandes !!...(Queima das Fitas- 1937); “Ballada de Despedida” (1899-1900).Quanto aos“momentos registados em película” “desafiam-se” os leitores a reconhecerem as pessoas e/ou “personalidades” presentes em A (anos 50), B (U.S.A.,1962) e C (Sé Velha, Maio,1978- célebre serenata que marcou a “retoma”do fado de Coimbra, após uma década de “ostracismo”…Aqui, neste momento, “nasceu” a tradição do “Coimbra tem mais encanto…”, mas isso é outra “história” que ficará para uma próxima oportunidade…

Canção de Coimbra / Reflexões ( I )



José Mesquita*

Em jeito de preâmbulo a estes textos sobre a Canção de Coimbra entendemos dever avançar algumas informações que ajudarão os potenciais interessados a compreender melhor, não só o”formato” dos artigos, mas também as motivações que incentivaram a sua elaboração, as opções e/ou interpretações neles contidas, enfim, a postura do Autor, nesta matéria. Assim :

O Diário de Coimbra, considerando de interesse o tema em análise, aceitou a sua publicação, pelo que lhe agradecemos esta pronta disponibilidade. Por razões relacionadas com a “formatação”,específica para cada Jornal, o trabalho ( originalmente elaborado com outro fim…),depois de revisto, ampliado e reorganizado, deu origem a esta série de artigos de opinião que agora “vêm a lume”…O conteúdo, corresponde, na sua essência, a uma palestra proferida num Colóquio sobre a Canção de Coimbra (Casa da Cultura, 9/7/05, Coimbra) para o qual fomos convidados a colaborar pela Grupo de Guitarras de Coimbra -“Associação Coimbra, menina e Moça”. A sua publicação, agora concretizada, vem na sequência de um pedido feito nesse sentido, na referida sessão…
A abordagem do tema que nos foi proposto (“A poesia e os poetas na Canção de Coimbra” ) não sendo, como é óbvio, uma análise literária, incidirá noutras vertentes, nomeadamente a das relações da poesia com a componente musical da Canção de Coimbra.
A nossa análise, as nossas opiniões e/ou interpretações têm uma base essencialmente empírica, despida, portanto, de qualquer tentativa de investigação académica, para a qual, aliás, nesta área, nunca nos sentimos muito motivados, sem que esta “descrença” (porventura infundada...) diminua o apreço pelos trabalhos já realizados ou que venham a ser efectuados neste domínio….
A inclusão de algumas “imagens” nos textos foi-nos sugerida pelo Diário de Coimbra e mais não significa do que a “evocação de momentos “ ou “ilustração de factos”, relacionados com o autor e seus companheiros, na divulgação da Canção de Coimbra, ao longo de mais de cinquenta anos.

Tivemos o privilégio de “contactar”, directa ou indirectamente, com as, assim denominadas, duas «gerações de oiro” do Fado de Coimbra . Com a 1ª geração, através dos frequentes relatos de meu Pai que nunca se cansava de evocar os “ídolos”do seu tempo de Coimbra ; com a 2ª geração, pela nossa própria vivência, pois estudámos na ”Lusa Atenas” nos anos 50 e, na sequência da nossa ligação académica à Universidade, não mais abandonámos esta cidade … O nosso interesse, a nossa «paixão» por esta faceta cultural da urbe Coimbrã – a Canção de Coimbra – remonta assim, como acima referimos, há mais de meio século … Acresce ainda que fomos também parte activa no retomar desta tradição académica, após o período conturbado que se seguiu à revolução de Abril de 74, não mais deixando de a “praticar”, desde então... Daí a justificação para o tal conhecimento empírico, vivencial, atrás invocado, e que, voltamos a acentuar, constitui o suporte fundamental destes textos, complementado embora por alguma (escassa) leitura documental …
Dividiremos então o tema que nos propusemos abordar em dois pontos fundamentais :
1. A diversidade temática e estilística da poesia na história da Canção de Coimbra.
2. A poesia nas suas relações com as componentes musical (melódica/harmónica) e/ou interpretativa da Canção de Coimbra.

A diversidade temática e estilística da poesia na Canção de Coimbra


Em termos gerais, a componente poético-literária na Canção de Coimbra, não tem nem nunca teve um estilo bem definido e constante, antes primando pela sua heterogeneidade, seja na forma, seja na temática …
Quanto à forma, podemos dizer que o género poético mais frequente tem sido sem dúvida a quadra, ou não fosse ela o suporte letrístico do chamado “ fado tradicional “…
Seja singela e popular, extraída do cancioneiro, ou cuidadosamente elaborada e oriunda de fontes mais ou menos eruditas, a quadra aparece em todas as épocas da história do fado de Coimbra. Apesar desta predominância, outras formas poéticas ou estilos vão emergindo na vertente literária da canção de Coimbra, nomeadamente o soneto, sendo importante assinalar que, contrariamente ao que por vezes se pensa, esta categoria estilística, já marcava presença nos anos 20-30 do século passado. Basta recordar as inolvidáveis baladas e canções compostas por D. José Pais de Almeida e Silva para sonetos de António de Sousa (“Noite de luar”) , António Sardinha (“Dobadoira”) , Marques da Cruz (“Rezas à noite”), sem esquecer a célebre “Balada de Encantamento”,todas elas interpretadas por algumas das vozes de ouro de seus contemporâneos, como Armando Goes ou Edmundo Bettencourt.
Quanto à temática, pode dizer-se que a vertente amorosa, o lirismo, predominam , em paralelo com a quadra, reconhecendo-se logo nas origens e mantendo-se até aos nossos dias (embora com alguns “ sobressaltos de percurso “…) o que, segundo José M. Beato[1] encontrará explicação no facto da “ emergência do fado de Coimbra, enquanto género musical autónomo, ter ocorrido nos finais do séc. XIX, quando o romantismo, embora tardio, ainda pontificava no nosso País»( fim de citação ). Concordamos com José M. Beato quando diz «ser difícil, aventuroso até, remetermos a história da poesia ligada ao fado de Coimbra para a história da poesia em geral ou História da literatura portuguesa» (1).
(1) Relativamente a esta questão, remetemos o leitor para o DVD (História do Fado de Coimbra , Ed. Estem Losango, 2004) onde, entre outras intervenções, o tema é abordado pelo Dr. José Manuel Beato, com a qualidade que, normalmente e muito justamente, lhe é reconhecida. Por isso, a nossa breve exposição sobre esta matéria específica assenta, em grande parte, no seu testemunho, com o qual, aliás, concordamos na generalidade, isto, obviamente, sem prejuízo de alguns comentários que julgamos pertinentes e dos quais,mais adiante, daremos conta.
De qualquer modo, e embora a heterogeneidade poético-literária seja uma constante na história do fado de Coimbra, isto não quer dizer que não tenham surgido períodos mais facilmente caracterizáveis, seja pelo predomínio de um determinado estilo e renome dos seus protagonistas, seja pela renovação (“arejamento”) que trouxeram ao discurso literário da Canção de Coimbra …, na sua vertente académica
Assim, continuando a referir José M. Beato (1), poderão considerar-se 3-4 momentos renovadores neste discurso literário:
1. O primeiro, com E. Bettencourt, quando, e passamos a citar, “numa atitude interpretativa e de subversão dos temas tradicionais, pretendeu reconduzir o fado de Coimbra ao modernismo presencista, substituindo o discurso romantizado prevalecente na época” (fim de citação). Era o contraponto de E. Bettencourt a António Menano, com temas como os Olhos Claros, Mar alto, Saudadinha, Senhora do Almortão, etc. etc.
2. O segundo período será o bem conhecido momento de intervenção, com os poemas de Manuel Alegre, onde os temas da resistência e liberdade são fonte de inspiração às trovas e baladas de António Portugal e Adriano Correia de Oliveira. É o tempo de “Flores p’ra Coimbra”, “Trova do Vento que passa”, “Rosa negra, capa negra” e tantas outras.
3. O terceiro momento surge com a poesia de Leonel Neves e Luis Goes, indissoluvelmente ligada às suas canções e à música de seus colaboradores João Bagão, João Gomes, António Toscano que, como é unanimemente reconhecido, protagonizaram um marco único e imperecível na história do canto coimbrão no séc. XX, independentemente daquele discurso literário ser identificado como um “neo-modernismo” ( Jorge Cravo ) ou como uma “critica da modernidade enquanto tal”, na interpretação de José M. Beato (1).
Por fim, acrescenta este estudioso e cultor do fado de Coimbra: “Actualmente vivemos muito em Coimbra a tendência para trazer ao universo do fado/canção de Coimbra toda a grande poesia, a poesia dos grandes vultos da literatura portuguesa. Assim vemos gente que procura musicar poemas de Eugénio de Andrade, Ary dos Santos, Fernando Pessoa ...” ( fim de citação ) .
No próximo artigo concluiremos as reflexões sobre este ponto.

(1) “História do Fado de Coimbra” ( DVD ) estem LOSANGO 2004

* Cultor da”Canção de Coimbra “e adepto da sua renovação. Embora muito “ligado” a esta tradição académica (canto) desde os seus tempos de estudante, na década de 50, só começou a compor em 1978, recorrendo, na vertente poética, aos grandes vultos da poesia portuguesa.Conta vinte e seis temas registados na Sociedade Portuguesa de Autores( SPA),entre fados e/ou canções de matriz coimbrã.

DISCOGRAFIA

Canções de Coimbra (1978)
LP edit.VADECA/Roda estereo(SSRL-9000)

Fados e Baladas de Coimbra(1979) LP edit.VADECA/Roda estereo(SSRL-9001)

Coimbra dos Poetas (1979) LP edit. Fotossonoro (Edison)

Ecos da Canção Coimbrã (1987) - Polygram Discos, S.A. (Philips) ( Reedição em CD-1996/532339-2)

Coimbra dos Poetas (II)/Coimbra das Canções Trovas e Baladas (1999) CD duplo,dist. Loja da Música

Colaborações:

Tempo(s) de Coimbra-oito décadas no canto e na guitarra (colab.) (1985).Colectânea de 6 LP`s-EMI Valentim de Carvalho (Reedição em CD,1992)

Um século de Fado (Fado de Coimbra) (colab.) José Niza /Ediclube (1999)

O Fado do Público, nº7, Fados e Baladas de Coimbra, Edições de Arte,SA(2004)

Compilações :

Fados e Baladas de Coimbra –Vidisco (11.80.1208) (1992)

Fados e Baladas de Coimbra - Vidisco (11.80.8299)

Série“O melhor de…”( nº 2) (Duplo CD) Universal Edit

N.B. Colaboraram nestas gravações os seguintes instrumentistas, por ordem cronológica :
António Brojo, Jorge Gomes, Aurélio Reis, Manuel Dourado, António Portugal, Luís Filipe, Octávio Sérgio, António Sérgio, Durval Moreirinhas, Carlos Jesus, Humberto Matias. Manuela

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