sábado, março 11, 2006

DOBADOIRA
Música: D. José Pais de Almeida e Silva (1899-1968)
Letra: António Maria de Sousa Sardinha (1888-1925)
Incipit: A dobadoira gira, gira, gira (1923)
Origem: Coimbra
Data: 1925

*
A dobadoira gira, gira, gira,
- A dobadoira, alegre, vai girando...
Na febre do dobar em que delira,
Só tu é que a deténs de quando em quando.

Recorda o seu murmúrio o duma lira,
- O seu murmúrio tão discreto e brando,
E a dobadoira gira, gira, gira,
- E a dobadoira, alegre, vai girando.

E gira alegremente a dobadoira...
Que sonhos de oiro dobará, Senhora,
Girando sempre alegre, sempre assim?

Entregue ao seu rumor de rola mansa,
Não pára, não se queixa, nem se cansa,
- Que o sonho que ela doba não tem fim!

Canta-se o texto sem repetir verso algum.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Dó maior /// 2ª Dó, Dó maior;
2º dístico: 2ª Dó, Dó maior /// Mi menor, 2ª Mi, Mi menor;
3º dístico: Ré menor, (Fá maior), Dó maior /// Ré menor, Dó maior;
4º dístico: Dó maior /// 2ª Dó, Dó maior;
5º dístico: Dó maior, 2ª Dó, Dó maior, 2ª Dó, Dó maior /// Ré menor, 2ª Ré, Ré menor, 2ª Ré, Ré menor;
6º dístico: 2ª Dó /// Dó maior, 2ª Dó, Dó maior;
7º dístico: Ré menor, (Fá maior), Dó maior /// 2ª Dó, Dó maior;

Informação complementar:
Este soneto veio a lume sob o título “Melodia Simples”, inserta no livro Chuva da Tarde, Lumen, 1923. A versão que se apresenta é um translado da matriz fonográfica registada por Luiz Goes em 1952, a qual difere ligeiramente da original presente na obra “Antologia Poética de António Sardinha”, Colecção Poesia e Verdade, Guimarães Editores, 1960.
Lied conimbricense em forma de soneto, composto por D. José Pais, primeiramente gravado por Armando do Carmo Goes na His Master’s Voice, Lisboa, a 21 de Setembro de 1928. Esta matriz funcionaria como uma das faces do 78 rpm onde seria prensado o soneto “Rezas à Noite”, cuja música é do antigo estudante José Coutinho de Oliveira. Em nossa opinião, Armando Goes interpretou o tema em compasso 4/4 e tom de Ré Maior (um tom acima de seu sobrinho Luiz Goes), acompanhado em violão de cordas de aço por Afonso de Sousa. O certo é que estes dois sonetos não chegaram a entrar no circuito comercial. De acordo com informações prestadas por Afonso de Sousa, Armando Goes efectuou a sessão de 21/09/1928 em limitativo estado febril (notório na tremura vocal de alguns fonogramas) e terá rejeitado estas duas matrizes com os olhos postos numa segunda gravação que já não chegou a realizar. Por volta de 5 de Setembro de 1929 Armando Goes realizou uma derradeira sessão fonográfica com quatro composições, mas nenhuma delas comportava “Dobadoira”. Por seu turno, D. José Pais também gravou em 5/09/1929 pelo menos umas 7 composições, nelas se incluindo os sonetos “Rezas à Noite” (melodia de José Coutinho de Oliveira) e “Dúvida” (desconhecido, presumimos que tivesse música de D. José Pais), sem que tenha dedicado espaço a “Dobadoira”.
O autor da letra, António Sardinha, nasceu em Monforte, Alentejo, no ano de 1888, tendo falecido em Elvas em 1925. Diplomado pela Faculdade de Direito da UC em 1911, Sardinha transitou dos sectores estudantis anarco-republicanos e positivistas mais radicais para estruturas mentais hiper-conservadoras tributárias do despotismo esclarecido. Sardinha é considerado patriarca e figura de proa do Integralismo Lusitano, movimento antiliberal, antiparlamentar, monárquico-absolutista e ultranacionalista, fundado em Coimbra a 8/04/1914 (revista “A Nação Portuguesa”). Este movimento conquistou um vasto número de adeptos em todo o país, com destaque para os meios universitários. Após a morte de António Sardinha, ocorrida a 10/01/1925, o Integralismo Lusitano perdeu fulgor, tendo sido oficialmente dissolvido em 1933. Não deixaria, porém, de influenciar profundamente a ideologia e o programa do Estado Novo. Não sendo um militante activista, Armando Goes (1906-1967) era um simpatizante do movimento e um leitor atento da produção literária dos doutrinadores do Integralismo. Daí a sua adesão a este soneto de António Sardinha, cuja autoria e conteúdo devem ser devidamente contextualizados. Sardinha faz a apologia das virtudes da vida rústica tradicional e do ideal doméstico português, ruralidade essa comungada por Armando Goes.
Não foi seguramente alinhado por estes quadros mentais que o jovem estudante Luiz Goes apostou na redescoberta e divulgação deste esquecido soneto. Luiz Goes pretendia então criticar o academismo estético instaurado em Coimbra, insinuando que a CC era bem mais do que o universo arqui-aplaudido das composições estróficas. A melodia é bastante conseguida, indo D. José Pais ao ponto de sugerir crescendos vocais ilustrativos do movimento giratório da dobadoira dos antigos e matriarcais serões do amanho do linho e da lã.
Soneto gravado em 1952 por Luiz Goes, então estudante de Medicina, em compasso 4/4 e tom de Dó Maior, acompanhado em 1ª e 2ª guitarras de Coimbra de 17 trastos por António Brojo/António Portugal e, em violão de cordas de aço por Aurélio Reis/Mário de Castro: disco de 78 rpm Melodia, 15.092 – F.P.D. 215. No disco constam as autorias da música e da letra, indicando-se erradamente como hipótese classificativa “fado-canção” (sic). O arranjo é da autoria de António Brojo. Disponível em extended play (Melodia, EP-85-6, de 45 rpm) e em long play (Alvorada, LP-04-17); também em compact disc:
-CD nº 45/”O Melhor dos Melhores – Fados de Coimbra”, Movieplay, MM 37.045 editado em 1994;
-CD Nº 30/”Clássicos da Renascença”, Movieplay, MOV. 31.030, editado em 2000;
-CD “Fados e Guitarradas de Coimbra”, Vol. 2, Movieplay, MOV. 30.425/B, editado em 2001;
-“Luiz Goes. Canções para quem vier. Integral (1952-2002)”, Lisboa, EMI-Valentim de Carvalho, 7243 5 80297 2 7, ano de 2002, CD nº 1, Faixa nº 1.
Gravado novamente em 1983 por Luiz Goes, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Luis Filipe Roxo Ferreira (LP nº 3 do Album Tempo(s) de Coimbra; nesta gravação, no 1º e no 7º versos, a letra vem modificada em relação à cantada na 1ª gravação e afasta-se mais da letra original. Disponível em compact disc:
-CD “Tempo(s) de Coimbra”, disco 2, EMI 0777 7 99609 2 7 , editado em 1992 e reeditado em 2005.
Exceptuando Luiz Goes, não conhecemos qualquer gravação desta obra em vozes de outros cantores.
Transcrição musical: Octávio Sérgio (2006)
Texto: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Agradecimentos: Dr. Afonso de Sousa, José Moças (Tradisom), Eng. Mário Henriques de Castro (04/09/1918; 01/03/2003), Dr. Jorge Cravo Posted by Picasa


Homenagem a Virgílio Caseiro. Texto de Patrícia Cruz Almeida e fotos de Carlos Jorge Monteiro, do Diário das Beiras de ontem. Posted by Picasa


Homenagem a Virgílio Caseiro. Foto de Carlos Jorge Monteiro, do Diário das Beiras de ontem, onde se vê a actuação do Coro dos Antigos Orfeonistas, com Rui Paulo ao piano. Posted by Picasa


Homenagem a Virgílio Caseiro. Foto de Carlos Jorge Monteiro, do Diário das Beiras de ontem, onde se vê a actuação de um quarteto formado por elementos da Orquestra Clássica do Centro. Posted by Picasa


Virgílio Caseiro homenageado. Notícia do Diário de Coimbra de ontem. Foto de Gonçalo Martins, onde se vêem Maria Emília Martins, Seabra Santos, (Reitor da Universidade de Coimbra), Virgílio Caseiro, Rui Alarcão e Luzio Vaz. Posted by Picasa

quinta-feira, março 09, 2006


Capa do CD "Cabra de Coimbra" de Manuel Marques. Interpreta aqui peças de sua autoria, com sabor a Coimbra.
Segue-se um comentário de Rui Lopes:
Excelente CD do Professor Manuel Marques no Brasil, sobretudo o tema "Cabra de Coimbra" em que o Professor consegue mesmo "imitar" com a Guitarra a Cabra a tocar. Para esse disco, o Professor, para saber como era o toque da Cabra, solicitou mesmo à Dr. ª Isabel Terra que lhe enviasse uma gravação da Cabra a tocar, pelo que conseguiu ouvir a cabra a tocar através da já citada gravação e compôs o tema que é a 1 ª faixa do CD e que dá o nome ao CD.
Pelo que já ouvi nos CDs que o Professor me enviou por correio, verifico que de facto se trata de um grande mestre de Guitarra que, embora sendo Português (nasceu em Milheirós - Concelho da Maia), está no Brasil (S. Paulo) desde 1955, onde tem a sua escola de Guitarra.
Também aproveito a ocasião para referir ao Dr. Octávio Sérgio que talvez fosse melhor fazer um link para o site do professor Manuel Marques que é : http://manuelmarques.do.sapo.pt/ . Neste site estão todas as informações acerca do Professor Manuel Marques, assim como alguns dos seus temas que é possível ouvir e, penso que nos links, também dá acesso ao de um aluno dele (Ricardo Araújo - http://ricardorocha.do.sapo.pt/), Brasileiro de origem, que pelo que se vê no site, também será um grande guitarrista no Brasil.


Contracapa do CD de Manuel Marques, "Cabra de Coimbra". Guitarrista radicado no Brasil já há longos anos, onde, além de executante, compõe peças que vai gravando, e passando o testemunho a outros, numa escola por si fundada. Posted by Picasa


Jorge Gomes, Horácio Fachada, Frias Gonçalves e Octávio Sérgio, ontem, no almoço na Tasquinha do João. Foi mais um motivo para conviver umas horas e falar das "lides fadísticas". Posted by Picasa


Jorge Gomes, Horácio Fachada, Frias Gonçalves e o senhor João da Tasquinha, ontem, ao almoço. Posted by Picasa


Frias Gonçalves na Tasquinha do João, ontem, ao almoço. Posted by Picasa


Jorge Gomes na Tasquinha do João, ontem, ao almoço. Posted by Picasa


Horácio Fachada na Tasquinha do João, ontem, ao almoço. Posted by Picasa

quarta-feira, março 08, 2006


António Carvalhal Posted by Picasa
Serenata nas escadarias da Sé Velha, com cantor/tocador de violão de cordas de aço e dois executantes de guitarras toeiras de Coimbra. O guitarrista central é o licenciado em Histórico-Filosóficas e funcionário do Arquivo da UC António Abreu de Almeida Carvalhal (1909-1982). Serenata realizada em inícios de Junho de 1941, com os executantes em postura heterodoxa, publicada na revista O SÉCULO ILUSTRADO, Nº 182, de 28 de Junho de 1941, depois reeditada na revista MUNDO GRÁFICO, ANO IV, Nº 123, de 30 de Outubro de 1945.
Fotografia: espólio de António Carvalhal, cedido pela Dra. Mariberta Carvalhal
AMNunes


Os descendentes de Álvaro do Carvalhal Posted by Picasa
O casal Álvaro da Silva Carvalhal e Eugénia Abreu, com os filhos António, Álvaro, Luís, Joaquim e Mariberta.
Fotografia: espólio da Dra. Mariberta Carvalhal
AMNunes


Álvaro do Carvalhal Posted by Picasa
Retrato fidedigno do antigo estudante da Faculdade de Direito da UC e contista Álvaro do Carvalhal, réplica de um outro de grandes dimensões existente na sala da casa de habitação de sua neta Dra. Mariberta Carvalhal.
O escritor Álvaro do Carvalhal, filho de António do Carvalhal Silveira Telles e de Teresa Teixeira Vaz Barroso Guerra, nasceu em Algeriz, Vila Real, no ano de 1844. Com passagens pelos liceus de Braga, Viseu e Coimbra, matriculou-se na Faculdade de Direito da UC em 11 de Outubro de 1864. Viria a falecer de aneurisma, com o curso por concluir, em Coimbra, no dia 14 de Março de 1868, pelas 21 horas, no prédio nº 46 da Couraça de Lisboa. Foi sepultado no Cemitério da Conchada, o romântico "Pio" dos tísicos e serenateiros, em vala comum.
No assento de óbitos, exarado no "Livro de Óbitos da Freguesia de São Cristóvão", Coimbra, ano de 1868, folha 4v-5, refere o padre Manuel da Cruz Pereira Coutinho "não consta que deixasse filhos" (sic). De facto, à data da sua morte, Álvaro do Carvalhal não sabia que havia gerado um filho a Genoveva da Silva, quatro anos eram contados. Nos anos do Liceu de Braga, o jovem Álvaro conheceu, namorou e teve relações íntimas com Genoveva da Silva, uma rapariga natural de Braga que trabalhou como professora primária em Braga e Esposende. Da relação carnal entre Genoveva da Silva e Álvaro do Carvalhal veio a nascer discretamente em Celeirós, Braga, uma criança do sexo masculino, baptizada com o nome de Álvaro da Silva Carvalhal. O escritor jamais soube que Genoveva estava grávida. Não são conhecidos os motivos que levaram Genoveva a ocultar a Álvaro a gravidez. Podemos, no entanto, enunciar: a) a vergonha familiar e social que ao tempo resultava do facto de ser-se mãe solteira; b) os receios de Genoveva quanto a uma eventual cassação da licença de ensino, visto ser mãe solteira; c) o temor de agravar o estado de saúde de Álvaro, dado que este quando residia em Braga já lhe fora diagnosticada a doença e prognosticados poucos anos de vida.
Genoveva deu o filho a criar até aos 9 anos a uma ama de Celeirós, Braga, doceira de ofício. Receosa de perder a licença profissional, ou tendo no horizonte a celebração de eventual casamento, entendeu que era chegado o momento de enviar o filho para o Brasil, entregando-o aos cuidados de um seu irmão solteiro.
Antes do embarque, Genoveva inteirou o filho da identidade do progenitor e da existência de familiares em Trás-os-Montes. Viajou com a criança até Algeriz e em chegando à porta de António Teles deu-se a conhecer e disse ao que ia. O idoso António Teles veio receber comovidamente o neto, abraçou-o e gritou para dentro: "Ó Teresa anda cá ver o filho do nosso Álvaro!". Teresa Guerra, mordida pela peçonha da vergonha de um neto "apanhadiço" resmungou e não se deu a ver. O pequeno Álvaro jamais esqueceria as falas secas e duras daquela avó que não se quis dar a conhecer.
Genoveva da Silva, professora de instrução primária, veio a casar em Esposende e ali trabalhou duradouramente. Não ocultou ao marido a existência do filho "ilegítimo". Nascido quatro anos antes da morte do pai (1864-1935), Álvaro da Silva Carvalhal emigrou para o Brasil. Ali se fez "brasileiro milionário", republicano amigo e simpatizante de Bernardino Machado, maçon, ateu e cultivado autodidacta. Regressado a Portugal com 43 anos, o endinheirado filho de Álvaro do Carvalhal estabeleceu-se em Esposende na casa da mãe e do padrasto. Desembarcado em Lisboa, no seu périplo terreste para norte percorreu alfarrabistas e livrarias de Lisboa, Coimbra e Porto, com o fito de encontrar um exemplar do livro do pai ("Contos", 1868). Finalmente, por intermédio de uma professora amiga e conviva do futuro sogro, logrou obter um exemplar da obra. Foi mais ou menos nesta altura que o "brasileiro" conheceu Eugénia Abreu, uma burgesinha esposendense, católica, conservadora, com menos 23 anos do que o futuro marido (1887-1958), filha do professor régio de Esposende. O casamento realizou-se no ano de 1907 na Igreja de São Lázaro, Braga. Na época a que nos reportamos eram corriqueiros os casamentos entre noiva provinciana católica e noivo positivista, ateu, maçónico e republicano. As esposas não interferiam na actividade política/ou partidária dos esposos e estes davam carta branca às esposas quanto a baptizados, comunhões e crismas dos filhos.
O casal Carvalhal domiciliou-se em Esposende, local onde foram sucessivamente gerados António Carvalhal (1909-1982), Álvaro Carvalhal (1911-1950), Luís Carvalhal (1913-1995), Joaquim Carvalhal (1915-1995) e Mariberta Carvalhal (1918...).
Na segunda metade da década de vinte, o casal Carvalhal acompanhou o filho António, primeiro no Liceu de Viana do Castelo (até ao 5º ano), depois no Liceu de Braga (até ao 7º ano). No Verão de 1931 toda a família Carvalhal se estabeleceu em Coimbra, com o filho António a iniciar os estudos de Direito. Habitaram sucessivamente em Montes Claros, Ladeira do Seminário, Rua António José de Almeida e Largo da Matemática (actual República dos Inkas). À excepção do aluno de Direito e guitarrista António Carvalhal, os restantes irmãos frequentaram o Liceu D. João III. Mariberta matriculou-se no Infanta D. Maria, tendo ingressado na Faculdade de Letras da UC no ano lectivo de 1937/1938. Integrou a primeira geração do jovem TEUC, foi colega e amiga do estudante escritor Vergílio Ferreira, tendo concluído o curso de "germânicas" em 1944.
O folgado estado financeiro da família Carvalhal, conseguido graças aos lucros obtidos numa fábrica de refinação de açúcar do Brasil, alterou-se em meados da década de trinta. O regime brasileiro congelou fortunas e rendimentos de antigos emigrantes portugueses. As poupanças de Álvaro da Silva Carvalhal não escaparam a este processo. A agravar a situação, Álvaro da Silva Carvalhal faleceu em Coimbra, a 30 de Maio de 1935, balbuciando apenas um insólito "Deus seja comigo".
Sendo a viúva Eugénia Abreu doméstica e inábil para os negócios, o filho mais velho, António Carvalhal, tentou assumir-se como "chefe de família". Abandonou Direito no 3º ano e ingressou em Histórico-Filosóficas, trabalhando ainda na Biblioteca Geral da UC. Os manos Luís, Joaquim e Mariberta matricularam-se em cursos da UC. O mano Álvaro tirou o diploma de ensino primário, após o que fundou e dirigiu em Esposende o Colégio Infante Sagres. Luís, terminado o curso de Histórico-Filosóficas, refugiou-se a partir de 1950 no Rio de Janeiro. Joaquim deixou o curso de Direito por concluir em Coimbra. Por 1950-1951 asilou-se no Brasil, ali tendo concluído Direito e exercido advocacia. António trabalhou como professor no Colégio Alexandre Herculano, Coimbra, mas a partir de 1944 percorreu estabelecimentos de ensino na Covilhã e no Porto, como professor de História e de Português. Mariberta, após passagem por Ilhavo e Porto, radicou-se com a família em Luanda no ano de 1958. Exceptuando António, personalidade muito conservadora e simpatizante do Estado Novo, os restantos manos Carvalhal eram assumidamente do "reviralho".
Álvaro do Carvalhal (neto), faleceu em 16 de Agosto de 1950 em Esposende, solteiro e sem filhos, vitimado por fulminante cancro de estômago.
Luís Carvalhal faleceu no Rio de Janeiro, em 18 de Novembro de 1995, casado, pai de uma filha e de um filho.
Joaquim Carvalhal faleceu no Rio de Janeiro em 5 de Novembro de 1995, solteiro e sem filhos, vítima de traumatismo craniano resultante de atropelamento de bicicleta na via pública.
Mariberta Carvalhal, viúva, é mãe de duas filhas.
As obras conhecidas do escritor Álvaro do Carvalhal são:
-"O castigo da vingança", drama em 3 actos, editado em Braga, quando ali era aluno do Liceu;
-"Contos", edição póstuma, ainda no decurso de 1868, pelo seu grande amigo e biógrafo José Simões Dias. Esta obra inclui os contos frenético-fantásticos J. Moreno, O Punhal de Rosaura, Os Canibais, A Febre do Jogo, A Vestal e Honra Antiga. Da 1ª edição de 1868 se tiraram pelo menos mais duas, sempre com os reeditores na mais firme convicção quanto à inexistência de herdeiros directos do escritor: "Seis contos frenéticos escritos por Álvaro do Carvalhal", Lisboa, Arcádia, 1978, com prefácio e notas de Manuel João Gomes; "Contos", Lisboa, Assírio & Alvim, ISBN 972-37-089-1, Agosto de 2004.
O conto "Os Canibais" serviu de argumento ao filme-ópera de Manuel de Oliveira, com o mesmo título, realizado em 1988.
Na voz de alguns críticos literários, AC não é propriamente apreciado. José Régio apodava-o de artificial. Cf. José Régio, "Sobre o estilo de Álvaro do Carvalhal", in O Primeiro de Janeiro, de 27 de Março de 1968. Jacinto Prado Coelho rotula-o de "doente", "tosco", "cínico" (Cf. Jacinto Prado Coelho, "Álvaro do Carvalhal", in Dicionário de Literatura, 3ª edição, 1º Volume, Porto, Figueirinhas, 1985, p. 154. Alberto Ferreira distingue-o como pioneiro no lançamento da polémica que haveria de catapultar a Questão Coimbrã. Cf. Alberto Ferreira, "Bom Senso e Bom Gosto. Questão Coimbrã", Volumes I e II, Lisboa, Portugália, 1968 (I, pág. 416; II, págs. 233-246).
Para saber mais: Maria Helena Duarte Santos, "Álvaro do Carvalhal. Um escritor esquecido?", in MUNDA, Nº 38, Novembro de 1999, págs. 21 e ss (com desconhecimento da existência de descentes directos).
Agradecimentos: Dra. Mariberta Carvalhal
AMNunes

terça-feira, março 07, 2006


Carneiro da Silva Posted by Picasa
Retrato de Armando Carneiro da Silva, derradeiro conimbógrafo de uma geração de notáveis onde pontificaram José Pinto Loureiro e Octaviano do Carmo e Sá. Nasceu em Coimbra, na Freguesia da Sé Nova, a 7 de Fevereiro de 1912, tendo falecido na sua terra natal no dia 5 de Março de 1992.
Foi autor de dezenas de trabalhos, alguns de valia insuperável e de consulta obrigatória, tendo exercido funções de 2º Director da Biblioteca Municipal de Coimbra. Não contando mais do que a frequência da antiga escola profissional de Avelar Brotero, Carneiro da Silva era senhor de considerável erudição, não temendo a leitura dos ingratos palimpsestos municipais de antanho. Homem de cultura, sólido e fecundo produtor de cultura, Carneiro da Silva metia no bolso de uma assentada muitos técnicos diplomados e seguramente a "geração zéza" filha da malfadada reforma Ana Benavente/Eduardo Marçal Grilo.
Possuía na sua casa de habitação da Rua António José de Almeida milhares de fichas manuscritas e variadíssimos documentos. O seu gabinete fazia lembrar os "scriptoria" dos laboriosos monges de outrora.
No que respeita à História da Canção de Coimbra, Carneiro da Silva publicou em 1955 uma obra rara e esgotada, "As Récitas do V Ano", monografia que durante meio século passou ao lado dos investigadores, dado que leitura crítica concluída não é possível continuar cegamente a dizer que o repertório do "chamado Fado de Coimbra" é constituído apenas por "fados estróficos".
Convivi com Carneiro da Silva assiduamente, quer num gabinete de trabalho situado num prédio sobranceiro aos Paços do Concelho (onde lamentava não ser mais utilmente aproveitado), quer na sua casa da António José de Almeida. Em 1988-1989, Carneiro da Silva facultou-me fotocópias de dezenas de partituras musicais, através do seu amigo e fotógrafo Varela Pécurto com quem viria a trabalhar estreitamente em 1999. Foi também na sua casa que vislumbrei as insígnias da praxe de Antero de Quental. Carneiro da Silva disse-me taxativamente que por sua vontade, as partituras, as insígnias de Antero e diversos sobre as tradições académicas, estavam destinados ao Museu Académico.
Reformado, Carneiro da Silva não sabia estar em casa e muito menos inactivo. A sua figura aprumada, de farta cabeleira branca, memória prodigiosa e erudição cintilante, parecia incomodar a nova geração de técnicos ligados à Biblioteca Municipal e ao Pelouro da Cultura. Por seu turno, Carneiro da Silva sentia-se injustamente desaproveitado. Não o desperdiçou a Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra que logo o fez sócio honorário. A ele se devem, por exemplo, dezenas de preciosas fotografias captadas em directo durante as demolições estatais da Velha Alta. Com parte substancial dos documentos de Carneiro da Silva se editou o álbum fotográfico "A Velha Alta Desaparecida" (1984).
Após o falecimento de Carneiro da Silva, pelo menos uma parte da documentação chegou a estar em Aveiro, em casa de seu filho Eng. Carneiro da Silva.
Sem querer entrar em polémicas que não me dizem respeito e cujos contornos obscuros ignoro, creio que Carneiro da Silva, no seu muito amor a Coimbra e às coisas da edilidade, desejaria doar os seus ficheiros à Biblioteca Municipal, ou porventura ao Arquivo Municipal (que aliás organizou). Mas ínvios são os caminhos. Em 2004 o Eng. Carneiro da Silva doou à Santa Casa da Misericórdia de Coimbra a parte mais substancial da documentação paterna. Em Fevereiro de 2006, numa visita ao Museu Académico, chamou-me a atenção uma vitrine com as insígnias da praxe de Antero de Quental. Não deixei me me alegrar e comover com uma tal visão. Por momentos vi-me de novo a manuseá-las sobre a mesa da sala de Carneiro da Silva, tendo na mente uma âncora de pedra junto a um banco do Campo de São Francisco de Ponta Delgada onde se lê a palavra "esperança". Ali se suicidou Antero. Quando terminou o curso (1864), Antero deixou alguns pertences em Coimbra, na casa de seu tio Filipe de Quental (1824-1892). Foi por intermédio de Filipe de Quental, lente de Medicina, que as insígnias da praxe de Antero (moca de madeira exótica e palmatória) permaneceram em Coimbra, tendo chegado às mãos de Carneiro da Silva, com actual depósito no Museu Académico.
Para saber mais sobre Carneiro da Silva veja-se o bem documentado texto de António Gonçalves, "Armando Carneiro da Silva. Bibliotecário e investigador", revista MUNDA, Nº 35, Maio de 1998, págs. 81-96.
AMNunes

Antigos Orfeonistas: 20 anos de (En)Cantos

Por José Miguel Baptista no Jornal de Coimbra de 21 de Fevereiro de 2001






Final do texto de José Miguel Baptista, no Jornal de Coimbra de 21-2-2001.

segunda-feira, março 06, 2006


Coro dos Antigos Orfeonistas no Québec, no ano de 1998. Foto de José Miguel Baptista. Posted by Picasa


Coro dos Antigos Orfeonistas de partida para a África do Sul, no ano de 1989. Foto de José Miguel Baptista. Posted by Picasa


Coro dos Antigos Orfeonistas em Ottawa, no ano de 1998. Foto de José Miguel Baptista. Posted by Picasa


Coro dos Antigos Orfeonistas no Mosteiro de Rila, na Bulgária, no ano de 1995. Foto de José Miguel Baptista. Posted by Picasa


Coro dos Antigos Orfeonistas em Hannover, no ano de 2000. Foto de José Miguel Baptista. Posted by Picasa


Coro dos Antigos Orfeonistas em Hannover, no ano de 2000. Foto de José Miguel Baptista. Posted by Picasa


Coro dos Antigos Orfeonistas em Salzburg, no ano de 2001. Foto de José Miguel Baptista. Posted by Picasa

domingo, março 05, 2006


O Teatro Avenida Posted by Picasa
Vista geral da frontaria e cúpula do velho Teatro Circo do Príncipe Real D. Luís Filipe, Teatro Circo de Coimbra, ou mais simplesmente Teatro Avenida e ainda "Avenida". Inaugurado em 20 de Janeiro de 1893, veio a ser demolido sem lágrimas nem dó em finais da década de 1980, para dar lugar a um sofisticado centro comercial.
O Avenida, teatro que entre 1893 e 1963 (inauguração do novo Teatro Académico no polivalente da AAC, projecto Alberto Pessoa/Abel Manta) serviu de principal sala de espectáculos à Academia de Coimbra, vegetava quando em Outubro de 1985 me matriculei na UC. Acabou tristemente, projectando sem garbo nem glória filmes pornográficos de refugo. Se não me falha a memória, o derradeiro filme que lá vi terá sido "O Nome da Rosa". Creio que, algures no "Diário de Coimbra", o jornalista Joaquim Reis lhe escreveu o epitáfio, lamentando a decisão de demolição, lembrando os dias grandes, apelando à movimentação cívica. Em vão. Após terem sofrido na pele a hecatombe das demolições da Velha Alta Salatina, levadas a cabo arbitrariamente pelo regime salazarista, as gentes de Coimbra só poderiam encolher os ombros ante o caso Avenida. Afinal o que era um velho teatro, quando comparado com quarteirões e casario derribados, memórias e costumes riscadas do mapa, deportações forçadas de salatinas para bairros económicos situados nas periferias da cidade?
De valia arquitectónica modesta, o Avenida era, a par da Cadeia Penitenciária, um belo exemplo da consagração local oitocentista da arquitectura do ferro. O grande recinto central tinha a forma de um coliseu (relembremos os edifícios mais ou menos contemporâneos de Lisboa e de Ponta Delgada. Exteriormente, o de Ponta Delgada apresenta fachadas muito singelas), com plateia de planta circular cindida por corredores e palco convencional. A toda volta da sala nasciam pilares de sustentação, sobre os quais se apoiavam dois aneis corridos de camarins guarnecidos com gradins metálicos. A estrutura metálica da cúpula veio de um mais antigo Teatro Circo do Arnado (Cf. Gonçalo dos Reis Torgal, "Coimbra. Boémia e saudade", Tomo I, Coimbra, 2003).
O Avenida não era, com efeito, um teatro luxuoso, nem no mobiliário, nem na decoração. Artur Paredes que nele actuou pela derradeira vez em Maio de 1960, nunca gostou da acústica da sala. Além de Artur e de Carlos Paredes, pelo defunto Avenida passaram quase todos os grandes divos da Canção de Coimbra.
Mais um exemplo do triunfo do economicismo.
AMNunes

relojes web gratis