sábado, dezembro 31, 2005


Retrato de Família: José de Anchieta, executante de guitarra. Posted by Picasa
José Alberto de Oliveira Anchieta Portes Pereira de SAMPAIO nasceu em Lisboa a 09 de Outubro de 1832, tendo falecido em Angola no dia 14 de Setembro de 1897. Era filho de José Anchieta Sampaio. Antes de se transformar num dos mais prestigiados nomes das explorações científico-naturalistas africanas de oitocentos, Anchieta ficou conhecido como inveterado boémio, esturdioso folgazão, brigão, além de executante de rabeca e de guitarra. Passou a correr pelo Colégio Militar, pela Escola Politécnica de Lisboa e pelos bancos da Faculdade de Matemática e da Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra no ano lectivo de 1852-1853. Como estudante universitário sem vocação, não foi além do 1º ano, com moradia na Rua do Cosme, nº 1. Tendo abandonado os estudos, em 1956 já se tornara um nome prestigiado nos meios científicos portugueses graças aos estudos concretizados nas Ilhas de Cabo Verde. O nome de Anchieta como discreto executante de guitarra em Coimbra estava destinado ao esquecimento, não fora uma curta mas oportuna nota escrita pelo seu velho amigo de juventude Raymundo Bolhão Pato, "Memórias. Cenas de infância e homens de letras", Tomo I, 2ª edição, Lisboa, Perspectivas e Realidades, 1987, pág. 45. Esta mesma nota veio depois transcrita por João Pinto de Carvalho (1858-1930) na sua "História do Fado" (1903). Nenhum dos publicistas referidos especifica que tipo de "guitarra" executava Anchieta. Ora, na época a que nos reportamos não há muito por onde divagar. Uma hipótese credível será o modelo mais vulgar de guitarra-cítara, usado em contexto de Fado (de Lisboa), com o seu cravelhame de madeira. Outra hipótese, não menos credível, será o emprego da Guitarra Inglesa, disponível nas casas de venda de instrumentos da Baixa e nas oficinas de violaria de Coimbra.
Nota 1: "Relação e Indice Alphabetico dos Estudantes matriculados na Universidade de Coimbra e no Lyceu no Anno Lectivo de 1852 para 1853", Coimbra, Imprensa da Universidade, 1852, págs. 35 e 44.
Nota 2: retrato à pena, publicado na capa de "O Occidente. Revista Illustrada de Portugal e do Estrangeiro", 4º anno, Volume IV, Nº 92, de 11/07/1881.
Pesquisa e texto: António M. Nunes

sexta-feira, dezembro 30, 2005

Testemunhos de um Cantor em Coimbra (1945-1954)
Por AUGUSTO CAMACHO VIEIRA (cantor, nasceu em Miranda do Corvo a 23/11/1924. Licenciado em Medicina pela UC em 1954. Cultor da CC e compositor amador. Antigo membro da TAUC e do Orfeon de Raposo Marques. Exerce em Lisboa, tendo-se destacado nos campos da Medicina Desportiva e Ortopédica. Cf. Armando Moreno, “História da Ortopedia Portuguesa”, Lisboa, Medilivro, 2003).
Os rudimentos deste texto foram apresentados pelo autor no “II Colóquio Sobre Canção de Coimbra. Contar e Cantar o Futuro”, Coimbra, 6 de Julho de 2002 (Cf. “Canção de Coimbra. Contar o Passado”, in Actas do II Colóquio, Coimbra, Coimbra Menina e Moça/CMC, 2002, págs. 5-12), e mais proximamente no colectivo “Canção de Coimbra. Testemunhos Vivos. Antologia de textos”, Coimbra, Edição da DG da AAC, 2002, págs. 99-104. Mediante especial autorização do autor, editamos agora no Blog “guitarradecoimbra” a versão da antologia de 2002, corrigida apenas em aspectos de pormenor. Manteve-se no texto a marca da oralidade (António M. Nunes, 27/12/2005).

Na Figueira da Foz onde passei a minha juventude até ao sexto ano do ensino liceal e ainda aluno da Academia Figueirense, aos 14 anos, conheci duas personalidades: uma era um advogado e a outra um empresário. O primeiro tinha sido contemporâneo de Artur Paredes, algumas vezes seu segundo guitarra, assim como do Dr. Jorge Morais, o célebre Xabregas, e que era o Dr. Monsanto, magnífico guitarrista coimbrão.
A outra cantava o "Fado de Coimbra", às vezes e a pedido, em alturas de determinados saraus no Ginásio Clube Figueirense. Era o Carlos Cook. Dotado de uma voz timbrada de tenor, com colocação dessa voz em tonalidades que nos subjugava e que nos prendia à arte genial com que interpretava o "Fado de Coimbra". Aliás o Dr. Francisco Menano que após a conclusão do curso trabalhara na Comarca da Figueira da Foz, e com quem convivi em Lisboa, na sua residência, em encontros nocturnos, na época que decorreu de 1955 a 1966, certa noite confidenciou-me que o seu irmão António ia de propósito à Figueira para ouvir cantar o Cook. Talvez por estes factos e ainda pelas emissões radiofónicas das vozes do António Menano, do Edmundo Bettencourt, do Armando Góis, do Paradela de Oliveira e do Lucas Junot, cujos discos nessa altura ocupavam programas muito repetidos na Emissora Nacional, teria surgido a tendência para esse tipo de Canção Coimbrã, influenciando assim a minha forma interpretativa. Fui para Coimbra em 1944 para concluir o sétimo ano, no Liceu D. João III, no ano lectivo 1944-1945, tendo sido aprovado no concurso para a Universidade no ano de 1945, onde iniciei os meus estudos na Faculdade de Medicina que concluí no ano lectivo de 1953-1954.
Nesse ano de 1945 fui integrado no naipe dos primeiros tenores do Orfeon Académico, após prestação de provas conduzidas pelo Manuel Julião, tendo sido mais tarde requisitado para o Grupo de Fados desse organismo.
Tendo aprendido ainda na Figueira os primeiros conhecimentos de solfejo e a tocar bandolim, depressa fiz parte do naipe dos primeiros bandolins da Tuna Académica, que deixei em 1946, para me integrar no grupo de fados desse organismo cultural académico. Era acompanhado pelo João Bagão e pelo José Amaral, nas guitarras e, nas violas, por Tavares de Melo e Aurélio Reis, o mesmo grupo que também actuava nas variedades do Orfeon.
Caloiro de Medicina, em Março de 1946, surgi pela primeira vez no Teatro Avenida a cantar “fados” num sarau promovido pela Casa dos Estudantes do Império, em que também participaram o Orfeon, a Tuna Académica e o TEUC. No início do ano lectivo seguinte, em Dezembro de 1946, participei na primeira Serenata de Coimbra com transmissão directa da Sé Velha, pela Emissora Nacional e através do Emissor Regional de Coimbra. Pedimos ao público que não batesse palmas para que a transmissão radiofónica desse a noção real duma serenata de estudantes, pela noite dentro, e ao ar livre pelas ruas da cidade. Cantei eu e o Jorge Gouveia, tendo sido acompanhados à guitarra pelo Carvalho Homem e Gabriel de Castro e à viola pelo Tavares de Melo e pelo Aurélio Reis, sendo locutor e organizador o Dr. Guimarães Amora, então quartanista de Medicina. Esta serenata constituiu um assinalável êxito, de tal forma que a Emissora Nacional passou a incluir regularmente Serenatas de Coimbra nos seus programas, as quais eram transmitidas aos domingos, à noite, e repetidas nas sextas feiras depois do almoço, às 14 horas, antes do fecho normal da estação.
Nessa primeira serenata transmitida de Coimbra, cantei dois "fados", um deles "A água da fonte" e o outro intitulado "Fado das Águias", cuja segunda quadra é da autoria (e a meu pedido) do Fernando Quintela, poeta da minha República "Palácio da Loucura", que a fez propositadamente para eu poder cantar nessa dita serenata, sendo a primeira quadra da autoria de Camilo Castelo Branco. O autor da música desconheço quem seja. Ouvi-a pela primeira vez e só com a primeira quadra, cantada por um estudante de Lamego numa noite boémia dessa minha República, onde curiosamente veio também viver o nosso consagrado Herbert Helder. Pode dizer que foi por me ter ouvido cantar que o José Afonso aprendeu este “Fado das Águias”. No ano de 1947 o Dr. Jorge Morais, antigo estudante e guitarrista afamado de Coimbra, aparece como Reitor do Liceu de Viseu, e é recebido na minha República, donde já noite dentro partimos para a Sé Velha.
Aí, dele aprendi um "fado" da sua autoria "A vida é negra" (Fado da Noite). Passei a cantá-lo em saraus e serenatas, tendo anos depois sido gravado pelo Machado Soares. O mesmo se passou com outro "fado", "O voo das andorinhas" que me foi cedido na República do Kalifado pelo seu autor Dr. Eduardo Leitão Nobre, aluno de Direito, tocador de guitarra e compositor. Este "fado" muitos anos mais tarde foi gravado pelo Adriano, mas com o título modificado.
Nos anos 40 encontrei em Coimbra um ambiente medieval das serenatas ao longo da noite. Era o tempo da voz maravilhosa do Julião, tenor famoso, que infelizmente não deixou registos discográficos por carência de meios técnicos nessa altura. Foi solista durante anos no Orfeon, como primeiro tenor e deslumbrava a assistência com a sua voz privilegiada. Era também o tempo do Nani (Dr. Frutuoso Veiga) filho dum advogado de Coimbra e duma pianista, que recordo ser possuidor duma excelente voz muito personalizada. Fazem parte dessa época também o Napoleão Amorim e o Jorge Gouveia, que deixaram gravações décadas depois da sua vida estudantil.
Nesta geração destacou-se um compositor emérito, Vieira Araújo, com a célebre "Feiticeira", "Contos velhinhos", "Adeus Coimbra", "Santa Clara, Santa Clara", "A carta", etc., etc..
Compuseram ainda nestes anos 40 o Carlos Figueiredo que, com versos do Fernando Quintela nos deixou "Sé Velha" e, o Tavares de Melo que surge com "Quando os sinos dobram" e "Incerteza", ainda hoje cantados.
Apresentaram-me o Brojo no ano de 1944-1945 quando ele era ainda aluno do Liceu D. João III e eu caloiro em Medicina, tendo iniciado com ele o "fado serenata". Éramos requisitados e lá íamos actuando ao sabor da arte e não da convivência a não ser as ceias oferecidas no Toino Ladrão ou no Menezes, pelos apoderados, ou nem que fosse no Pirata que em pijama nos abria a porta, nessa altura com a loja nos Arcos do Jardim, para onde tinha sido desterrado, vindo da Rua Larga, na altura do Camartelo que destruiu toda aquela área onde pontificavam a Associação Académica, antigo colégio onde estavam instalados o Orfeon, a Tuna, o TEUC e as estruturas do futebol da Académica.
O Zeca Afonso também viajava connosco e convivíamos com o Mário de Castro, viola, e com o Gabriel de Castro outro exímio guitarrista vindo da Ilha de São Jorge e ainda com o futrica José Rodrigues, guitarrista e crítico de pintura que nos falava do Artur Paredes e da sua execução, revelando o seu segredo da dedilhação (que além do polegar e indicador também utilizava os outros três dedos).
Recordo dessa altura os futricas Fernando Rodrigues, tocador de viola, e seu irmão Flávio Rodrigues. Ouvia-os pela noite dentro e certa vez fomos ao Penedo e hoje ainda sinto a arte genial do Flávio, que me arrebatou a acompanhar-me no "Fado das Águias" assim como num sarau no Casino da Figueira em que me acompanhando com uma corda prima estalada no momento, talvez pela temperatura ambiente, fomos freneticamente aplaudidos. Na época dos Menanos pontificara também em Coimbra um grupo de "fados", por futricas, constituído pelos irmãos Caetanos. Um destes irmãos, o José Caetano, Bedel de Medicina, cantava acompanhando-se à viola, tendo sido convidado por nós para um sarau na nossa República. Aí cantou o "Fado Manassés" e de tal forma que por vezes é recordado em reuniões dos antigos repúblicos, pela interpretação com que entoava esse "fado" antigo.
Na minha época surgiu também um futrica, como autor de "fados" de Coimbra, João Anjo, que também abrilhantava a orquestra ligeira de Manuel Eliseu e era membro da banda militar. Dele recolhi o "fado" "Morena dos meus Abrolhos" que depois cantava em serenatas e nas digressões do Orfeon e da Tuna.
Este "fado" foi gravado nos anos 60 pelo Manuel Branquinho; cantor e guitarrista que no ano de 1951 fez parte do grupo de "fados" convidado a participar na digressão do TEUC ao Brasil. Neste grupo, em que participei com o Napoleão Amorim, fomos acompanhados à guitarra por Manuel Branquinho e à viola pelo Tavares de Melo. Tratou-se de uma digressão cultural, que percorreu várias cidades, com início no Rio de Janeiro, no Teatro Municipal, e preparada pelo seu dinamizador em São Paulo e Santos, Divaldo Gaspar de Freitas ajudado pelo núcleo académico de antigos estudantes de Coimbra radicados em Santos e que exigiram a presença com o TEUC, dum grupo de fados de Coimbra, como aconteceu, assim como a presença do Reitor da Universidade e de vários professores. Esta embaixada que viajou no barco "Serpa Pinto" alcançou um sucesso estrondoso e deu azo a que fosse celebrado o primeiro acordo literário Luso-Brasileiro.
Decorria o ano de 1946 e a comissão da Queima das Fitas convidou antigos cantores e tocadores de Coimbra famosos, como Paradela de Oliveira, Armando Goes, Roseiro Boavida, Artur Paredes e Afonso de Sousa, para actuarem na Serenata da Sé Velha e no sarau de gala no Teatro Avenida, pois comemoravam-se em simultâneo o aniversário da fundação do Orfeon.
Roseiro Boavida surpreendeu cantando à viola com a sua voz de barítono a "Senhora do Almortão", tendo vindo a saber que era oriundo da Zebreira, Concelho de Castelo Branco. Foram esses cantores acompanhados pelo Artur Paredes, pelo seu filho Carlos Paredes, por Afonso de Sousa e por uma viola de Lisboa, o Arménio Silva.
A propósito desta serenata e revendo a participação de Roseiro Boavida, que trouxe do Distrito de Castelo Branco a "Senhora do Almortão" é altura de lembrarmos que além da Beira Baixa, outras composições populares ao longo dos tempos enriqueceram o "Fado de Coimbra": das Beiras, "Canção da Beira Baixa", do Alentejo "Lá vai Serpa lá vai Moura", dos Açores a "Saudadinha", etc., etc..
Dos cantores dessa época lembro o Julião e o Nani (Dr.Frutuoso Veiga), acompanhados pelo Bagão e Zé Amaral nas guitarras e Aurélio Reis e Tavares de MeIo nas violas. "O Século Ilustrado" dessa época ocupou as páginas centrais com o acontecimento de Maio de 1945, através da notícia escrita pelo João Falcato que inclusivamente canonizou o Bagão como doutorado em guitarra de Coimbra.
Quanto a gravações dessa época existiam no Posto Emissor da RDP Centro um arsenal das serenatas radiodifundidas ao longo de vários anos, com locução do Guimarães Amora e mais tarde pelo Sansão Coelho. A atitude selvagem de meia dúzia de elementos sem categoria não soube diferenciar nem respeitar um manancial histórico que era de todos, destruindo assim num assalto, todo aquele material que agora seria um testemunho sério e valioso do que se fazia nesse tempo já distante.
No início dos anos 50 surgem as gravações de Luiz Goes acompanhado pelo também famoso grupo de António Brojo (Tertúlia do Calhabé), e ainda alguns "fados" cantados pelo Fernando Rolim e pelo Zeca Afonso em 78 rm.
Próximo da minha formatura, em 1953, sou convidado pelo Carlos Figueiredo a gravar em Lisboa, na casa "Valentim de Carvalho" e em 78 rpm, 4 "fados" da sua autoria: "Sonhando", "Mágoa", "A tua Rua", e com letra do Fernando Quintela, "Sé Velha".
Dos outros intérpretes dessa geração não se conhecem registos discográficos, talvez devido a dificuldades das empresas discográficas centradas exclusivamente em Lisboa. Contudo e como já se disse, o Jorge Gouveia e o Napoleão Amorim já nas últimas décadas do século XX gravaram "Fados de Coimbra" deixando esses registos em vinil e em cd.
Conhecendo a obra de António Nunes, e segundo a sua opinião autorizada e séria acerca do "Fado de Coimbra" ou da Canção Coimbrã, ficamos a saber que o canto serenil depois do Hilário foi redefinido pelos Menanos e estereotipado por Edmundo Bettencourt e pelo Paredes; que ainda hoje subsiste, tendo encontrado fórmulas de continuidade após a Crise Académica de 1969. Diz-nos ainda que o canto de intervenção social foi introduzido na comunidade académica por José Afonso e pelo Adriano concretamente em 1960. Após o 25 de Abril de 1974 surge um período de silêncio que é quebrado na célebre serenata de 1979, no Dia do Estudante, e em 1990 durante a Queima das Fitas numa serenata monumental na Sé Velha.
Seja-me permitido acrescentar que nos finais dos anos 40 surgiu uma voz admirável, cantor nessa geração e nos inícios dos anos 50, que cantava o "fado de Coimbra” com arte muito pessoal. Gravou já depois de formado, nos anos 60, com João Bagão, interpretando o “Fado Hilário" numa versão discutível e que ele conseguiu recolher; versão essa, diferente daquela que habitualmente se tem ouvido. A interpretação é, na minha opinião, genialmente concebida. Este cantor chama-se Alexandre Herculano e foi nessa altura uma revelação.
Reflectindo sobre os factos apontados, ficamos com a ideia de que o "Fado de Coimbra" encontrou componentes histórico-musicais de continuidade ao longo das várias épocas, que são concretamente documentadas a partir dos anos 1850, primeira metade do século XIX, com José Dória, reconfirmando-se a partir de Hilário, e impulsionado pelos Menanos, de forma a criar através de gravações, uma verdadeira escola orientada para o futuro.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

CHEIA DE GRAÇA
Música: Albano Felix de Noronha (1902-1967)
Letra: 1ª quadra de Augusto César Ferreira Gil; 2ª quadra popular
Incipit: Teus olhos, contas escuras,
Origem: Coimbra
Data: 1928-1929



Teus olhos, contas escuras,
São duas avé-Marias
Dum rosário d'amarguras
Que eu rezo todos os dias.

Esse ar de santa a brilhar
Que do teu rosto esvoaça
Põe meus lábios a rezar
Maria cheia de graça.

Canta-se o 1º dístico, repete-se; canta-se o 2º e bisa-se.
Esquema do Acompanhamento:
1º Dístico (1ª vez): Ré menor, 2ªSib, Sib maior /// 2ª Ré, Ré menor
1º Dístico (2ª vez): Sol m, 2ª Sib, Sib maior /// 2ª Fá, Fá maior
2º Dístico (1ª vez): Sib maior, Sib menor, Ré menor /// Ré# maior, 2ª Ré, Sib maior
2º Dístico (2ª vez): Ré # maior, 2ª Ré, Ré menor /// 2ª Ré, Ré menor

Informação complementar:
Canção musical estrófica em compasso 4/4, e tom de Ré menor, cujo título foi extraído do 4º verso da 2ª copla. Tema gravado por Armando do Carmo Goes em Lisboa, nos inícios do mês de Setembro de 1929, acompanhado por Albano de Noronha e Afonso de Sousa em guitarras de Coimbra de 17 trastos: disco de 78 rpm His Master's Voice E.Q. 238.
Espécime escorreitamente interpretado por Armando Goes: excelente afinação, dicção coimbrã escorreita, respiração correcta e versatilidade comedida. A título de curiosidade anote-se o facto algo anómalo de o cantor iniciar o 1º dístico das coplas em Ré menor, fazendo a respectiva repetição em Sol menor. O cantor foi servido por um bom arranjo de acompanhamento idealizado por Albano de Noronha. Desta composição não se conhece qualquer edição em partitura impressa, nem gravação posterior à de 1929.
A letra encastoada nesta melodia de Albano de Noronha revela total falta de originalidade, fazendo ecos de uma prática muito discutível que detectamos na Canção de Coimbra até meados da década de 1960. Hoje designaríamos tal atitude por “predacção” aleatória das obras autorais da “Galáxia Sonora Coimbrã”. A 1ª quadra estava muito popularizada em Coimbra e noutros espaços regionais, constando de numerosos cancioneiros: “Cancioneiro Transmontano e Alto-Duriense”, “Cancioneiro de Viana do Castelo”, “Cancioneiro Popular Algarvio”, “Cancioneiro da Cova da Beira”, “Cancioneiro de Entre Douro e Mondego” e “Cancioneiro de Fernando Pires de Lima”. De recolha para recolha notam-se pequenas variantes, como a que conhecemos numa interpretação de “Olhos Negros da Guiné”, pelo Rancho do Cabo da Praia/Ilha Terceira.
Foi esta mesma copla aproveitada na década de 1960 numa composição de Eduardo Melo (“Os Teus Olhos”, 1964), notando-se ligeiras modificações no 1º verso (Os teus olhos não são teus) e também no 3º (Do rosário…). A referida composição foi gravada por José Miguel Baptista, na Holanda, em Dezembro de 1964: LP “Portugal: Fados from Coimbra. Coimbra Quartet”, Philips, mono 631 206 PL e stereo 831 206 PY, que conheceu uma 2ª edição em França. A 2ª quadra já tinha sido gravada em 1928 pelo próprio Armando Goes como 1ª da composição O MEU FADO (Esse ar de santa a brilhar), no disco His Master’s Voice , E.Q. 183. Era habitualmente cantada por António Menano na “Canção da Beira”, gravada pelo próprio em Lisboa, na Primavera de 1928, discos ODEON 1360807 e A136807, master Og 690. A mesma quadra aparece incorporada por António Menano no “Fado Antigo” (“Maria, minha Maria”, melodia no estilo Lisboa, com coplas oitocentistas que se cantavam no “Fado Carmona”), gravado pelo cantor mencionado, em Lisboa, na Primavera de 1928 (ODEON 136818 e A136818, master Og 671). Mais ou menos pela mesma altura, a referida quadra constava impressa na brochura “Colecção dos mais lindos fados e canções”, Lisboa, Livraria Barateira.
Não deve esta composição confundir-se com um registo fonográfico de José Carvalho de Oliveira, realizado entre 1923-1925, cuja 1ª quadra é “Dona Clarinha da Graça” (78 rpm PATHÉ 4043, master 201011), nem com o "Fado da Graça", gravado por volta de 1926-1927 por Felisberto Ferreirinha (Parlophone B 33503). No que respeita às duas gravações mencionadas, apenas conhecemos o disco de Carvalho de Oliveira, sendo plausível que a melodia seja a mesma em Oliveira/Ferreirinha.
D. José Pais de Almeida e Silva efectuou algumas gravações em Lisboa, a 5 de Setembro de 1929, nelas se incluindo um título CHEIA DE GRAÇA (His Master's Voice). Neste caso, limitamo-nos a referir a notícia da gravação, pois tudo indica que as matrizes de D. José Pais nunca chegaram a entrar no circuito comercial.
O Dr. Afonso de Sousa não possuía este disco na sua colecção particular, embora se lembrasse vagamente de Armando Goes ter gravado pelo menos uma composição de Noronha. Albano Félix de Noronha nasceu em Margão (Índia), no ano de 1902 e faleceu em Lisboa em 1967. Fixou-se em Coimbra no ano lectivo de 1923-1924. Integrou entre 1930-1933 o Fado Académico de Coimbra (FAC), onde tocou ao lado de figuras como Jorge Xabregas e Felisberto Passos. Entre 1926-1928 foi regularmente 2º guitarra de Artur Paredes, tendo nessa posição assegurado a primeira série de discos de Edmundo Bettencourt. De 1933 a 1938 esteve largamente ausente de Coimbra, tendo concluído Medicina nesse último ano, após o que se estabeleceu em Lisboa como médico. Esfriadas relações com Paredes, passou a trabalhar como solista, congregando em 2ª guitarra Afonso de Sousa, com quem realizou as gravações de Armando do Carmo Goes e Artur de Almeida d’Eça. Noronha gravou em 1929 guitarradas para a Columbia, a maioria de sua própria autoria, nenhuma delas tendo sido editada (Lá menor, Rapsódia, Fá Sustenido, Mi menor, etc.). Afonso de Sousa tece-lhe rasgados elogios como arranjador. Perdidas as suas peças instrumentais, e sabida a pecha que o guitarrista tinha em relação ao Fado de Lisboa, os registos disponíveis de Bettencourt, de Armando Goes e de Almeida d’Eça, demonstram que Noronha era na sua época logo a seguir a Artur Paredes o melhor guitarrista activo em Coimbra. Seria também o melhor discípulo de Paredes, a ponto de não esconder o seu desejo de tocar como solista em espectáculos e gravações. Poderia fazê-lo com outros tocadores, mas não como membro do grupo de Artur Paredes, pelo que em 1928 se distanciou do mestre.
Um pouco injustamente, Albano de Noronha é hoje uma figura esquecida nos meios conimbricenses. De longe em longe, e apenas em contexto de Fado de Lisboa, lá vão aparecendo umas peças reportadas ao seu nome, com os títulos “Variações em Lá Maior”, “Variações em Lá Menor”. Assim acontece com prestações do guitarrista Francisco Dias e com um disco algo raro “A guitarra de Fernando Pinto Coelho”, Porto, FF EP 0023, da década de 1960. Noronha pagou o preço da sua autonomização face a Artur Paredes. Esgotados e inacessíveis os discos de Armando Goes e Almeida d’Eça, outras gravações viriam inundar o mercado, secundarizando e ostracizando a necessidade de conhecer o real papel pioneiro desempenhado no seu tempo por Noronha.
Nota 1: o Engenheiro Fernando Pinto Coelho ficou conhecido como executante de Guitarra de Lisboa, tendo participado, em 1952, em gravações de Maria Teresa de Noronha (com Arménio Silva). Antes de concluir a sua formação académica em Lisboa, passou "meteoricamente" pela UC onde tocou Guitarra de Coimbra ao lado de homens como Afonso de Sousa, Albano de Noronha, Felisberto Passos e Jorge Xabregas. Não admira que na década de 1960 tenha gravado velhos espécimes instrumentais de José Cochofel, Francisco Menano e Noronha, pese embora vertidos no estilo lisboeta. Um seu irmão, Francisco Pinto Coelho, destacou-se também em finais da década de 1920 como executante de violão (Cf. Afonso de Sousa, "O Canto e a Guitarra...", Coimbra, 1986, pág. 45).
Nota 2: duas grandes novidades trazidas à Guitarra de Coimbra na década de 1920, por Artur Paredes, foram a "afinação de Coimbra" e as harmonizações instrumentais (=arranjos). Excluíndo os discos de Bettencourt, com arranjos de Artur Paredes, apenas detectamos nessa época arranjos nos discos de Armando Goes e Almeida d'Eça, cujas autorias são de Albano de Noronha.
Nota 3: Augusto César Ferreira Gil (Porto, 31/07/1873; Lisboa, 26/02/1929), poeta natural da cidade do Porto, antigo estudante de Direito na UC, autor de inúmeras quadras ao gosto popular cantadas nas vozes de Coimbra. Foi especialmente acarinhado por compositores como Cândido Pedro de Viterbo, Francisco Menano e Paulo de Sá.

Transcrição musical: Octávio Sérgio (2005)
Texto: José Anjos de Carvalho, António M. Nunes
Agradecimentos: José Moças (Tradisom), Dr. Afonso de Sousa, Dr. Divaldo Gaspar de Freitas, Dr. José Miguel Baptista, Eng. Teotónio Xavier Posted by Picasa

Resposta ao comentário de A. Nunes a "Valsas e Rondó"

Caro A. Nunes:
Agradeço as suas felicitações, e tenho todo o gosto em prestar, a si e aos frequentadores deste "blog", os esclarecimentos que me pede.
Inicialmente, pensei utilizar a expressão "para guitarra" como subtítulo para as três peças. Substituí-a por "para guitarra clássica" por se tratar de um "blog" dedicado à guitarra de Coimbra, onde essa primeira expressão se podia prestar a equívocos. Mas fi-lo na plena convicção da propriedade da segunda opção. É que elas são mesmo para o instrumento hoje conhecido em Portugal como guitarra clássica, ou simplesmente guitarra (como prefiro, no que de resto sigo a opinião predominante entre os nossos compositores, instrumentistas e professores). Passo a explicar:
Por guitarra barroca, entende-se hoje um instrumento que "differed significantly from the modern classical guitar. It was lighter in construction with a smaller, shallower body, lacked fan strutting, and had a shorter scale length with tied on adjustable frets. The instrument had five courses or pairs of gut strings, instead of the six single strings of todays instrument, and was tuned (from low to high) ADGBE . The first string could either remain single or be doubled, and together with the second and third courses were normally tuned in unisons, but the fourth and fifth strings (D and A) could be paired with high or low unisons or with octaves" (in: http://www.baroqueguitar.net; consultado em 27/12/2005). A literatura sobre este tipo de guitarra é já vasta, o mesmo acontecendo como as gravações em instrumentos da época ou réplicas. Sobre a sua técnica de execução, consulte-se, por todos, o site do guitarrista francês Gerard Rebours (http://g.rebours.free.fr/Gerard_Rebours.html).
Não foi, pois, para guitarra barroca que estas peças foram escritas, mas para aquilo que entre nós se designava por "viola francesa". No século XIX, mas também no XX: "Até aos anos sessenta do século XX, o instrumento continuava a ser designado como viola francesa no manual da disciplina de Acústica usado no Conservatório de Lisboa, donde se presume que só depois disso se terá adoptado a designação de guitarra clássica, para o distinguir não só da guitarra portuguesa, mas também das violas populares." (Isabel Monteiro, "Viola ou guitarra?-As diferentes designações do mesmo instrumento", in Educação Musical, nº 111—Out./Dez. 2001, Lisboa, Associação Portuguesa de Educação Musical, pág.s 22-23).
E o que era a "viola francesa" em 1820? A guitarra clássica na sua primeira fase, que vai de finais do século XVIII até meados do século XIX. As alterações introduzidas por Torres (que, de início, aliás, só foram adoptadas em larga escala em Espanha) correspondem a uma segunda fase, e o instrumento sofrerá a sua última modificação morfológica significativa com a introdução das cordas de nylon, nos anos 40 do século passado. A guitarra clássica, como hodiernamente a entendemos, não existe desde meados do século XIX, mas desde muito antes: "Decidedly, the most important factor in the development of the guitar was the addition of the sixth string. It was without doubt an innovation that belongs to the eighteenth century, just as the five-string guitar was a product of the sixteenth" (François Faucher, Classical Guitar Illustrated History, in: http://www.classicalguitarmidi.com/history/guitar_history.html; consultado em 27/12/2005; o itálico é do autor).
Na verdade, a introdução da sexta corda (Mi grave) terá, como consequências, profundas alterações ao nível da escrita de música prática, da técnica de execução e da didáctica do instrumento. O que acontece precisamente na primeira metade do século XIX, graças a mestres (também compositores consumados e instrumentistas virtuoses) como Fernando Sor, Mauro Giuliani, Mateo Carcassi, Johann Mertz, Ferdinando Carulli, Dionisio Aguado. Os seus métodos continuam hoje a ser usados, e os seus estudos e peças fazem parte do repertório essencial da guitarra (ou guitarra clássica).
E é neste ponto que devo referir-me à importância destas Valsas e Rondó: que eu saiba, são o mais antigo testemunho da prática em Coimbra do instrumento hoje conhecido como guitarra clássica. São peças fáceis, provavelmente usadas no ensino do instrumento, e não em execução pública. O que não se passa com as verdadeiras peças de concerto que figuram em "O Conimbricense Armonico (sic) / Periodico de Musica / que contem alternadamente. / Simfonias, Variações, Caprichos, Fantazias, / Pot-pourris, Arias, Cavatinas, Cabaletas, Ron-/ dos Contradanças, e Waltzs etc.ª / Arranjadas / Para Viola Franceza / por / L. J. M. Oliveira. / Coimbra / Lva.[=Livraria] de L. J. M. Oliveira". Como se lê, manuscrito, na capa de um dos seus folhetos (ver abaixo), "este periodico Conimbricense, de musica para viola francesa, começou a publicar-se em 15 de Novembro de 1848, e terminou com este nº 26 em dezembro de 1849. Fariam 2 numeros por mes". Na Biblioteca Municipal de Coimbra, há alguns números, alguns repetidos. Devo o conhecimento da sua existência à cantora Catarina Braga. É outra obra que merece a atenção de todos que se interessam pela música de Coimbra, e pela guitarra/ guitarra clássica (seja o que for que lhe chamem).
Com estas linhas, espero ter respondido a todas as suas dúvidas, bem como às que porventura subsistissem nos espíritos dos que neste "blog" encontram um espaço de reflexão e de informação actualizada sobre a música que se fez e se faz em Coimbra.
Cordiais cumprimentos de
Flávio Pinho

Seguem-se imagens de uma das capas, com um pormenor do seu topo, bem como de uma Waltz (Valsa) de "O Conimbricense Armonico".


"O Conimbricense Armonico". Digitalizado por Flávio Pinho. Posted by Picasa


"O Conimbricense Armonico", pormenor. Digitalizado por Flávio Pinho. Posted by Picasa

terça-feira, dezembro 27, 2005


Waltz (Valsa) de "O Conimbricense Armonico"Enviada e digitalizada por Flávio Pinho. Posted by Picasa

Retrato de Família
SÁ CARNEIRO
Por António M. Nunes
O minhoto Alexandre Luís Maria Chaves Marques de SÁ CARNEIRO nasceu em Barcelinhos no ano de 1909 tendo falecido na cidade de Braga em 1990. Pertencia a uma famíla de 18 irmãos. Frequentou a Faculdade de Direito da UC entre 1926 e 1934. Executante de violão de cordas de aço, acompanhou quase todos os guitarristas e cantores activos da sua geração. Manteve com o guitarrista Felisberto Passos indestrutível amizade ao longo da vida. Após a formatura de Afonso de Sousa (1930), Sá Carneiro e Felisberto Passos tocaram regularmente com Artur Paredes até inícios de 1934, tendo também assegurado a formação de Albano de Noronha. Pertenceu ao Fado Académico de Coimbra (FAC) e ao Orfeon. Exerceu advocacia nas Comarcas de Barcelos e de Braga, tendo sido Presidente da Câmara Municipal de Barcelos. Em 1964 veio, com o velho e inseparável amigo Felisberto Passos, tocar ao Pátio da UC na Serenata do Centenário de Hilário. Antigos colegas de curso que lá se encontravam logo disseram "onde está o Passos, está o Sá Carneiro!" Afonso de Sousa fixou-lhe a fisionomia, lembrando a famosa alcunha, "Afonso XIII", em virtude das parecenças de Sá Carneiro com o Rei de Espanha. Não deve confundir-se com o poeta Mário Saa (1894-1971, que de raspão foi aluno de Ciências em Coimbra), nem com Mário de Sá Carneiro (Lisboa, 1890; Paris, 1916. Aluno de Direito em Coimbra apenas no ano lectivo de 1911-1912).
Fontes: D. Lúcia Vilela Passos Limpo de Faria; Dra. Helena Sá Carneiro, Dr. Divaldo Gaspar de Freitas, "Emudecem Rouxinóis do Mondego", São Paulo, 1972, pág. 64; Dr. Afonso de Sousa


"Máquina - 1882". Aguarela de António Moniz (Palme). Posted by Picasa

Retrato de Família
Por António M. Nunes
JARDIM
João Gonçalves JARDIM, médico, executante de Guitarra de Coimbra, cantor e compositor amador. Filho de João Gonçalves Jardim e de Alice Martins da Silva, nasceu na cidade do Funchal a 28 de Junho de 1906. Concluídos os estudos secundários no Liceu do Funchal, JGJ rumou a Coimbra em 1933. Ingressou na Faculdade de Medicina da UC onde se veio a licenciar em 1941. Foi membro da TAUC e seu presidente. Consta dos ficheiros de sócios da TAUC com o nº 147, tendo feito a sua inscrição em 1935. Pertenceu ao Fado Académico de Coimbra (FAC) e ao núcleo da fundação do TEUC (1938). JGJ possuía conhecimentos musicais, tendo aprendido desde criança piano, violino e “guitarra” (??). No Fado Académico ministrou iniciação de cantores. Enquanto estudante e membro do FAC, JGJ realizou incontáveis serenatas na antiga Alta de Coimbra e abrilhantou actos de variedades da TAUC um pouco por todo o país.
Regressou ao Funchal em Junho de 1941, cidade onde casou e desenvolveu intensa actividade como médico no Hospital da Santa Casa da Misericórdia, Director dos Serviços Nocturnos da Cruz Vermelha, Presidente do Patronato de Nossa Senhora das Dores, Presidente do Ateneu Comercial do Funchal e presidente da assembleia do Marítimo.
Com a saúde progressivamente debilitada, faleceu na sua cidade natal aos 54 anos, corria o dia 17 de Junho de 1960.
JGJ protagonizou em Coimbra um tipo de desempenho próximo daquele que conhecemos em Manuel Duarte Branquinho e Serrano Baptista (cantor e guitarrista). As suas obras mais conhecidas são “Estrelinha do Norte” (gravações Gomes Alves e Alfredo Correia) e “Fado da Despedida do 5º Ano Médico de 1938” (gravações Barros Madeira e Camacho Vieira). Terá gravado em New York um disco com dois instrumentais, respectivamente “Bailinho dos Vilões” e “Variações em Ré Menor”, compostos em 1948 para a estreia da Emissora local.
Fontes: Luiz Peter Clode, “Registo Bio-Bibliográfico de Madeirenses. Sécs. XIX-XX”, Funchal, Edição da Caixa Económica do Funchal, pág. 266; António José Soares, “Saudades de Coimbra. 1934-1949”, Coimbra, Almedina, 1985; José Alberto Rabaça, “João Gonçalves Jardim” (http://www.cidadevirtual.pt/fadocoimbra/jardim.html); ficheiros de antigos sócios da TAUC (gentileza de Adamo Caetano); testemunho oral da Dra. Mariberta Carvalhal relativo aos ensaios do TEUC em 1938.


Pedro Caldeira Cabral (1) na revista "Politecnia", publicação do Instituto Politécnico de Lisboa (Ano IV Nº 10 Maio/Junho 2005, num artigo de Luís Simões Gomes. Posted by Picasa


Pedro Caldeira Cabral (2) na revista "Politecnia", publicação do Instituto Politécnico de Lisboa (Ano IV Nº 10 Maio/Junho 2005, num artigo de Luís Simões Gomes. Posted by Picasa


Pedro Caldeira Cabral (3) na revista "Politecnia", publicação do Instituto Politécnico de Lisboa (Ano IV Nº 10 Maio/Junho 2005, num artigo de Luís Simões Gomes. Posted by Picasa


Pedro Caldeira Cabral (4) na revista "Politecnia", publicação do Instituto Politécnico de Lisboa (Ano IV Nº 10 Maio/Junho 2005, num artigo de Luís Simões Gomes. Posted by Picasa


Pedro Caldeira Cabral (5) na revista "Politecnia", publicação do Instituto Politécnico de Lisboa (Ano IV Nº 10 Maio/Junho 2005, num artigo de Luís Simões Gomes. Posted by Picasa

Blog Pardalitos do Choupal (Extracto de dois Posts)

Do Choupal até à Lapa

Hoje vou falar-vos de Coimbra. Da Coimbra dos Estudantes, das tascas das Alta, do Pratas (onde tive muitas aulas), do “Museu” (onde conheci o meu amigo Mário em 1980), do Pinto (onde almoçávamos, às vezes á borla antes da Latada).
Quero falar-vos da Coimbra do Choupal até à Lapa , da Coimbra das canções, do Luiz Goes do Zeca Afonso e do Bettencourt, das serenatas de madrugada com os meus amigos Saturnino e Pompeu. Quero falar-vos, das Faculdades, principalmente dos seus bares, dos das Letras e dos Direitos (o meu era um bocadinho fraquinho em “radiosas criaturas”). Bares esses onde conheci o meu amigo Aurélio (figura de referência da praxe Coimbrã , para muitos de nós que começaram a usar capa e batina em 1980). Quero falar-vos de Praxe, da praxe verdadeira daquela que integrava todos e que fazia de todos nós amigos para sempre. Quero falar-vos, da Coimbra nocturna , dos copos e das tertúlias que fazíamos por tudo e por nada. Quero falar-vos do Mandarim (ai, ai …) local de culto de muitas gerações de estudantes , local onde passei milhares de horas. Quero falar-vos do Arcádia, e de outros que a voracidade do negócio extinguiu. Deixem-me falar, por fim do que resumia isto tudo numa só palavra : ACADÉMICA. Das viagens que fazíamos, das boleias que pedíamos (sem choramingar por autocarros a ninguém) , dos almoços que fazíamos e dos grandes jogos a que assistíamos. Quando olhava para a esquerda e para a direita e só via capas e batinas (e não barretes vermelhos) . Dos gritos e das canções que cantávamos. Ó saudade.
Para quem se esqueceu, ou nunca soube, isto é a verdadeira Académica. Não há outra maneira de vivê-la.
Saudações académicas
José Eduardo Ferraz

A minha Académica

Soletro agora as fontes e os caminhos
por onde corre o leite
que a Tua mão semeia.
*
Dissolvo o bibe azul da minha infância
por cima de águas
e saboreio os quintais vizinhos da alegria
na outra ponta do baloiço
*
Por mais que avance
estou sempre no princípio dos ciclos orbitais
pronto para saltar cancelas ou galáxias
e procurar um fio que seja voz e corpo
da Tua vida inteira
*
Te AMO minha Académica!!!
Mário José de Castro

segunda-feira, dezembro 26, 2005


Suplemento n 1 do "Porto Academico". Enviado por João Caramalho. Posted by Picasa


O Carnaval dos Estudantes - Porto, 1929. Enviado por João Caramalho. Posted by Picasa

Retrato(s) de Família
Por António M. Nunes
1 - DÉCIO
Beirão, DÉCIO Urbano da Rocha de Dantas nasceu em 27 de Maio de 1914. Foi por longos anos aluno da Faculdade de Direito da UC, funcionário administrativo da Secretaria Geral da UC, membro do Fado Académico e actor amador nos anos iniciais do TEUC. Em Novembro de 1934 integrou, na qualidade de executante de violão, a estreante formação constituída por Abílio de Moura/Sousa Seco (gg). Em 1936 fundou um grupo de apoio à Académica (Equipa de Futebol), chamado Cow-Boys, a que pertencia o guitarrista António Carvalhal. Foi sócio da Tuna Académica até concluir a sua formatura. Executante de violão de cordas de aço. Licenciou-se em 28 de Julho de 1947, tendo feito a sua inscrição na Ordem dos Advogados em 27 de Julho de 1950. Exerceu advocacia na Comarca de Santa Comba Dão.
Fontes: Dr. António José Soares; Dra. Isabel Cambezes

2 – BERRANCE
Egas BERRANCE Correia de Abreu era natural de Benavente onde nasceu a 7 de Fevereiro de 1926. Terminou a licenciatura em Direito na UC em 26 de Julho de 1954. Inscreveu-se na Ordem dos Advogados em 10 de Julho de 1959, tendo exercido advocacia na Comarca de Benavente. Guitarrista, gravou dois discos de 78 rpm com Augusto Camacho/Petrónio Riciulli e Carlos Figueiredo em 16 de Maio de 1953, nos quais assegurou a 2ª guitarra.
Fontes: Dr. Augusto Camacho Vieira; Dra. Isabel Cambezes

3 – FALCATO
João José FALCATO nasceu em Borba, Alentejo, no ano de 1915. Frequentou o curso de Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da UC entre 1942-1947. Membro do TEUC, ligado às facções estudantis adversas ao Estado Novo, destacou-se como escritor, jornalista, professor do ensino particular e cronista de costumes regionais. Falcato editou inúmeras crónicas alusivas à vida estudantil em jornais portugueses, depois vertidas nos livros “Coimbra dos Doutores” (1957) e “Palácios Confusos” (1965). As crónicas de temática coimbrã reflectem sentido crítico apurado e sensibilidade inteligente, afastando-se do saudosismo e da lamechice muito em voga na época. Propositadamente ambíguo, por forma a não ferir abertamente sensibilidades que lhe poderiam ser adversas, Falcato não se livrou de polémicas terçadas com escribas de menos valia que o procuraram diminuir, insinuando que escrevia “falsidades”. Um pouco à semelhança de Fernão Mendes “Minto”, Falcato viu-se alcunhado de “Falsato”. A leitura a posteriori dos escritos de uns e de outros só vem corroborar a superioridade de João Falcato. A ele se deve uma importante crónica sobre a Canção de Coimbra, editada primeiramente em 1952, já divulgada neste blog. Falcato era um confesso admirador de Edmundo Bettencourt.


Florêncio Neto de Carvalho (Alpiarça, 1924; Porto, 1981), intérprete, compositor e ensaiador da CC. Foto tirada no último ano do Liceu de Santarém (casa "Ótógomes Ribeiro, Santarém). Documento cedido pela viúva Dra. Lucília Abreu. Este membro da família da CC já se encontra biografado no blog.
António M. Nunes


Foto de João Caramalho Domingues, no período em que foi bolseiro em Inglaterra, onde prepara doutoramento; É assistente da Universidade do Minho. Foto cedida por Armando Luís de Carvalho Homem. Posted by Picasa


Foto com João Caramalho Domingues, no período em que foi bolseiro em Inglaterra (é o 1.º à esq.), onde prepara doutoramento; É assistente da Universidade do Minho. Foto cedida por Armando Luís de Carvalho Homem.
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Comentário de João Caramalho

Passadas as festividades natalícias, volto aos comentários.
1 - Começo por aproveitar para agradecer ao prof. A L Carvalho Homem o ter-me indicado a existência deste blogue!
2 - Impõe-se um pequeno esclarecimento: eu não apontei 1928 como possível data de licenciatura de Amândio Marques, e sim como provável data limite superior de transferência para Coimbra. O episódio referido pelo prof. Carvalho Homem reforça a ideia de que Amândio Marques terá ido para Coimbra por volta de 1926 (ano lectivo de 1925/26 ou 1926/27).
3 - De qualquer forma tenho mais uma rectificação a fazer ao meu primeiro comentário (de facto eu deveria ter esperado um dia, para evitar tanta asneira): disse então que a excursão ao Porto em que Armando Goes participou no carnaval de 1929 (inicialmente tinha falado em 1928) talvez fosse uma "que Amândio Marques organizou ou incentivou quando já estava em Coimbra" (daí a minha suposição no sentido de em 1928 Amândio Marques já estar em Coimbra). Na verdade, a excursão a que se pode associar Amândio Marques foi no sentido contrário! Diz Amândio Marques em "Carlos Leal - o «rouxinol do Ave»" (Porto Académico, n. único de 1962, p. 44 e 46):
"Por iniciativa dos estudantes que do Porto foram para a Universidade de Coimbra, como eu, foram o Orfeão e a Tuna Académica do Porto convidados a ir àquela cidade. Foi uma apoteose! Nada gastaram, foram aboletados nas «Repúblicas» e em casa de cada um. Os recitais constituiram um triunfo de artístico e de camaradagem. Carlos Leal e outros «artistas académicos» tiveram ali a sua consagração, em Coimbra, terra única de cantores e de Orfeão!! A «Canção das Rendilheiras» que Carlos Leal cantou acrescentou-lhe o triunfo!"
4 - Evidentemente é necessário dar os descontos devidos ao exagero retórico, mas estas citações não me dão a impressão de que na década de 20 houvesse já uma tendência para a crispação (em terreno de pura conjectura, eu inclinar-me-ia para os anos 30 ou 40 - para o início do aproveitamento "folclorista" do fado de Coimbra; imagino os estudantes de Coimbra a entenderem a prática do Fado de Coimbra por parte dos estudantes do Porto como uma prática "folclorizada"). Acrescento um apontamento retirado do artigo de Rebelo Bonito "Vida Académica do Porto - Do Orfeão Académico ao Orfeão Universitário (1912-1937)" (O Tripeiro, VI série, ano II (1962), p. 84-87 e 112-115): segundo Rebelo Bonito, no dia 6 de Maio de 1928 a Tuna e Orfeão Académicos do Porto deram uma récita no Teatro de S. João a favor do Hospital de Santa Maria; "colaboraram nos fados e guitarradas Armando Góis, Paradela de Oliveira, Lopes Azevedo, João Duarte e Castanheira Lobo da Academia de Coimbra, ao lado de Carlos Leal e Ferreira da Silva da Academia do Porto" (p. 113-114).
5 - Quanto aos estudos de Amândio Marques. A minha conjectura sobre Amândio Marques ter estudado na Fac. Letras da UP não passava de mera conjectura, com pouco fundamento: se tiver estudado na UP, Letras parece a melhor candidata. Porque é que imaginei que tivesse estudado na UP? Por ter tido intensa actividadade académica no Porto. Mas na verdade, relendo com mais cuidado o seu artigo "Carlos Leal - o «rouxinol do Ave»", fico na dúvida: Amândio Marques refere a Associação Académica, a Tuna, o Orfeão, inúmeras serenatas (no Porto, "Braga, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Espinho, Viseu, Mangualde, etc., etc."), discos gravados, o facto de usar sempre capa e batina ("nunca conheci outro traje"),... mas nunca a Universidade do Porto, a não ser a propósito de Carlos Leal e Canto Moniz (cirurgião com quem mais tarde Carlos Leal trabalhou); refere sim o facto de ter sido (tal como Carlos Leal) aluno do Liceu Rodrigues de Freitas - e a verdade é que nos anos 20 todas as tradições académicas referidas (incluindo a pertença ao Orfeão, Tuna e Assoc. Acad.) estavam abertas aos alunos do liceu.
Por enquanto fica a dúvida.
De qualquer forma, é de notar que os discos gravados por Amândio Marques foram-no com formações portuenses: para além de Carlos Leal, o viola Pais da Silva pertencia à Tuna Acad. do Porto (pelo menos em 1926, segundo a legenda de uma fotografia pertencente à colecção da antiga Associação dos Antigos Alunos da UP) - não tenho informação sobre Francisco Fernandes, a não ser que foi cirurgião em Moçambique. Pais da Silva acompanhou Amândio Marques não só nas gravações de Carlos Leal mas também nas gravações de guitarradas (Parlophon B33016 e B33017); gravou ainda pelos menos dois discos (Parlophon B33004 e B33005) em dueto de viola com José Taveira (que por sua vez, segundo Amândio Marques, também cantava fados). Devo dizer que destes quatro últimos discos só possuo as referências - infelizmente nunca os ouvi.
Tentarei nos próximos dias transcrever todo o artigo referido de Amândio Marques, para o colocar "on-line".
Saudações Académicas,
João Caramalho

domingo, dezembro 25, 2005


Manuel Duarte Branquinho (4), foto de 1971. Foto do espólio de António M Nunes.
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Manuel Duarte Branquinho (3), foto promocional tirada em 1971. Foto do espólio de António M Nunes


Manuel Duarte Branquinho (2), numa foto promocional de 1971. O cantor e guitarrista serviu de modelo a imagens que após fotomontagem foram impressas em postais turísticos com larga circulação regional. Em entrevista concedida em 1998, Branquinho ofertou-nos 4 postais: um meio busto em cenário escurecido, com guitarra ao colo e capa traçada; sentado a dedilhar guitarra num jardim de uma casa romana em Conimbriga; inscrito em medalhão com vista de Coimbra e tricana; grande plano de corpo inteiro e guitarra ao colo, em postal ilustrado, nas margens do Mondego, vendo-se ao fundo a ponte ferroviária e a cidade. Na voluta da guitarra comprada directamente a Artur Paredes após o regresso do Brasil (1966), pode adivinhar-se o monograma do proprietário com duas maiúsculas de prata entrelaçadas (MB). Foto e texto de António M Nunes.


Manuel Duarte Branquinho (1): cantor e guitarrista, discípulo de Flávio Rodrigues, com incontáveis discos gravados nas décadas de 1960-1970. Nasceu em Condeixa-a-Nova no ano de 1929 e faleceu em Braga em 1999. Foto tirada em 1971, pertencente a António M Nunes, que também escreveu o texto.


"SERENATA": nome de pequena mercearia situada nas traseiras da Sé Velha, Coimbra, complementado por ilustração naif, contendo dois estudantes, uma vista nocturna da cidade com rio Mondego/Universidade e, um ramalhete de fitas de quintanistas (as verdes são do ISSS). Primeira metade da década de 1990. Foto e texto de António M Nunes.


Capa da partitura do Fado "Saudades", dedicado a António Menano, com música de Paulo de Sá e Letra de Fernandes Martins, editada em 1914, pela Livraria Neves, Coimbra. Partitura cedida por Joaquim Pinho. Posted by Picasa


Partitura de "Saudades", com música de Paulo de Sá e Letra de Fernandes Martins, editada em 1914, pela Livraria Neves, Coimbra. Letra do Fado. Posted by Picasa


Partitura de "Saudades", com música de Paulo de Sá e Letra de Fernandes Martins, editada em 1914, pela Livraria Neves, Coimbra. Partitura do espólio de Joaquim Pinho. Posted by Picasa


Nuno Silva no Diário de Coimbra de ontem, a propósito do CD de Natal, "Renas, Trenós e outros sons". Posted by Picasa

Bloco de Notas (23)

1985 ... Fui a Paris de 24 a 27 de Novembro, à inauguração do “Novotel”, em Galieni, com Carlos Couceiro, António José Rocha, Marcelino e José Henrique Dias. Toquei o “Ré menor” de Artur Paredes. A viagem não correu da melhor maneira, pois António José Rocha ficou sem o dinheiro que levava. Colocou-o numa bolsa lateral da mala e, quando aterrou, encontrou a bolsa vazia. A nossa actuação não correu mal mas, francamente, levar um grupo daqui para actuar uns minutos num átrio de um hotel, sem condições nenhumas, sem a dignidade que se deve atribuir a qualquer participação da Canção de Coimbra, é caricato. Salvou-se o passeio turístico.
A 20 de Dezembro fui à Aula Magna com Luiz Goes, António Bernardino António Sérgio e Durval Moreirinhas, tocar num espectáculo organizado por alunos de Direito. Toquei “Dor na Planície”. Curiosamente foi a peça mais aplaudida.

1986 ... As actuações no Faia terminaram no final de Março. Já vinham desde Agosto do ano anterior.
A 7 de Março fui ao Coliseu de Lisboa, tocar numa homenagem a José Afonso. Foram António Sérgio, Durval Moreirinhas, Machado Soares, Armando Marta e António Bernardino. O espectáculo foi um êxito. A abrir, toquei uma peça de Carlos Paredes (?), seguindo-se a “Aguarela Portuguesa” de António Portugal. Armando Marta cantou “Amigo” de José Afonso, Machado Soares, “Saudades de Coimbra” e António Bernardino, “Balada Açoreana”, acabando com “Meu Pensamento”. Foi um sucesso. Na peça “Amigo”, acenderam-se os isqueiros. Não nos queriam deixar sair do palco. Seguidamente actuaram Vitorino, Janita Salomé e José Mário Branco. As opiniões que nos chegaram, deram a nossa actuação como a melhor parte do espectáculo. Fiquei todo babado a ouvir uma senhora dizer que eu era um grande guitarrista! Ouvir isto de uma senhora - normalmente as senhoras só dão atenção às canções, não é de deitar fora! Enfim, como não dei fífias e o som era bastante bom, saí de lá satisfeito. Já não posso dizer o mesmo sobre um espectáculo que dei para o BESCL, com a mesma equipa, Pelo menos é o que consta no bloco de notas. Diz lá que comecei com “Balada do Mondego” e a seguir com a de Carlos Paredes, já referida atrás.
A esta distância no tempo faz-me alguma confusão não incluir o nome da peça de Carlos Paredes. Mas, bem vistas as coisas, ainda agora ouço peças dele sem saber o nome que têm. Talvez devido ao facto da sua produção ser bastante grande. É uma falha que nunca procurei colmatar. Não é menosprezo pelo artista pois, para mim, continua a ser o expoente máximo na galáxia Coimbrã e não só. Todas as suas peças são “monumentos ao bom gosto”, a sua música é como que emanada por harpas celestiais, que só o autor consegue executar com total autenticidade. Penso que muito dificilmente aparecerá um dia outro guitarrista que o supere.
Mais algumas actuações e uma, em especial, por encontrar Jorge Tuna que também executou duas peças com o inseparável Durval Moreirinhas. Notou-se que esteve muito tempo parado e, por isso, houve ligeiríssimos enganos. Mas o som e a execução estão incólumes. Temos novamente Tuna, em breve, em todo o seu esplendor.
A 29 de Julho, estive nos claustros do Hospital de Santa Marta, com Arménio Santos, Sutil Roque, Durval Moreirinhas e António Sérgio. Tocámos “Bailados do Minho”, “Aguarela Portuguesa” e “Fado Hilário”. Dias depois começou a digressão que já vai sendo habitual a terras algarvias: Portimão, Tavira e Olhão.
Entre 4 e 16 de Novembro, percorri terras brasileiras, como Porto Alegre, Curitiba, Maringá, Rio de Janeiro, S. Paulo e Belo Horizonte.. No Rio de Janeiro actuámos para a Televisão. A única indicação que tenho no bloco de notas sobre esta viagem foi a de que a vida lá estava baratíssima. Mas lembro-me que fui com Durval Moreirinhas na viola, e a cantar, Armando Marta e António Bernardino. Fomos com Manuela Aguiar, na altura Secretária de Estado para a Emigração. Vim de lá maravilhado com as belezas daquele país, assim como com a deliciosa comida brasileira.
Comecei, a 1 de Outubro, a gravar um disco com José Mesquita e António Sérgio, nos estúdios Musicorde, em Campo de Ourique, Lisboa. Durval Moreirinhas também participou em três números, que ajudou a melhorar. Gravaram-se 12 peças, com música da autoria de José Mesquita e letras de autores consagrados no panorama literário português. Os arranjos de guitarra são de minha autoria e a viola de António Sérgio. Como já atrás referi, Durval Moreirinhas que se agregou ao grupo já depois de quase tudo feito, veio, com a sua arte de acompanhador, melhorar bastante as três peças em que entrou. Gravou-se tudo com voz à parte para, posteriormente, ser posta novamente por cima, caso o cantor não gostasse do que fez. Assim aconteceu. Todos os números foram pelo menos bisados na voz. Isso deu origem a que, por vezes, pareça que os instrumentos estão fora de tempo ou que o tocador se enganou, porque a voz foi mal colocada posteriormente. É bastante difícil cantar por cima do que está feito. Eu tenho alguma experiência disso e sei o quanto custa. Se for no próprio dia em que se gravou, ainda será relativamente fácil, se se deixarem passar uns dias, quando se lá volta já levamos outro ritmo na cabeça e torna-se dificílimo encaixar correctamente.
Em Setembro, um espectáculo em Pinhel, Outubro no Teatro S. Luís, em Lisboa, Novembro em Queluz, Dezembro em Algés e Dafundo, com Lopes de Almeida na guitarra, Durval Moreirinhas e Levy Baptista nas violas, Arménio Santos, Sutil Roque, António Bernardino e Armando Marta a cantar. Foi uma homenagem a Adriano Correia de Oliveira. Na segunda parte, cantou Carlos do Carmo. Estava Rogério Paulo, actor, na assistência.
Acabo o ano com uma ida à Costa da Caparica, com António Bernardino a cozinhar o almoço. Havia marisco à discrição. Compareceu o Vice-Reitor da Universidade de Coimbra, Jorge Veiga. O almoço foi todo gravado em vídeo, acabando com a Canção de Coimbra, como sempre foi hábito, nestas comezainas.


Trecho final do sarau comemorativo do 70º Aniversário da TAUC, realizado no Teatro Avenida, Coimbra, na noite de 25 de Abril de 1959. Camacho Vieira interpreta "Moça d'Aldeia" (=Fado da Sé Velha) e "Fado da Ansiedade", ambos de Francisco Menano, acompanhado pela formação João Bagão/José Amaral (gg) e Mário Castro/João Menano (violões aço). Foto e texto de António M. Nunes (cópia do original cedida pelo Dr. Augusto Camacho Vieira)

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