sábado, janeiro 13, 2007



Flávio Rodrigues aqui executado por Frias Gonçalves. É um trabalho notável, pois além de fazer os solos faz também os acompanhamentos. O disco ouve-se com muito agrado, sem cansar. Possuidor de uma técnica bastante avançada, Frias Gonçalves faz-nos aqui reviver um dos grandes guitarristas do passado, não estudante, barbeiro de profissão que, no intervalo de duas tesouradas, ainda ia ensinando aqueles que se mostravam interessados, na maioria estudantes da universidade.
Frias Gonçalves tem um site "GUITARRADAS" em que fez renascer um sem número de peças para guitarra que pareciam já perdidas e outras que nem se sabia que existiam. Vale a pena a sua consulta.

Como comprar a toga na INTERNET: um «site» norte americano (I)

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Armando Luís de Carvalho HOMEM

Como comprar a toga na INTERNET: um «site» norte americano (II)

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Armando Luís de Carvalho HOMEM

Como comprar a toga na INTERNET: um «site» norte americano (III)

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Armando Luís de Carvalho HOMEM

Como comprar a toga na INTERNET: um «site» norte americano (IV)

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Fonte: ic030059.ithaca.edu/~physics/
Há nos EUA um «site» - ligado ao Ithaca College Physics - através do qual um académico graduando pode adquirir a toga para a cerimónia de graduação num alentado número de U's. Lá se apresentam as togas de múltiplas instituições, seguidas de instruções quanto a compra, pagamento, etc. Bem-entendido: trata-se da toga básica, para a cerimónia final de entrega de diplomas do que por cá vimos chamando «licenciatura». O único complemento ao que aqui vemos poderá estar num chapéu de base redonda e copa quadrangular, com borla pendente. Outros adornos - capelo, gorra, medalha, maior elaboração da veste, etc. - ficam para graus superiores: Master, PhD, Dr. h.c., etc.
Armando Luís de Carvalho HOMEM



Chegámos à Índia...


Doutoramento h.c. de Madhavan Nair pela Punjab Technical University
(2003)
No momento em que o PR Aníbal Cavaco Silva se encontra na Índia, recebendo por estes dias o doutoramento h.c. pela U. Goa, não será inoportuna a imagem de um acto desta natureza numa Universidade do País em causa. A imagem mostra-nos o Chanceler da Punjab Technical University preparando-se para entregar o diploma ao novo dr. Togas vermelhas de tecidos sedosos / acetinados, mais rica a do Chanceler, cujo debrum frontal, dourado, se afigura também mais largo; ostenta canhões dourados nas mangas, ao contrário do novo dr., cujas mangas são estreitas e sem decoração.
Armando Luís de Carvalho HOMEM

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Wole Soyinka dr. h. c. pela Universidade de Princeton, New Jersey, USA (2005)

O novo dr. está ao centro na imagem. A ausência do chapéu (como o do post anterior) e do capelo (que cruza a base do pescoço e pende para as costas, como no caso do lente à esq.) leva a crer que a imagem se reporta ao início da cerimónia.
Armando Luís de Carvalho HOMEM

Um dr. h.c. pela Universidade de Princeton (New Jersey, USA)

Esta imagem é abstracta, i.e., não se reporta a uma pessoa, situação ou momento concretos; é uma imagem de prospecto, patente numa dada secção do «site», já que em Princeton o grau de dr. h. c. é algo a que qualquer um se pode candidatar, mediante requerimento de exame do currículo; a sua atribuição nestas circunstâncias é algo de curricularmente muito valioso, como é óbvio. Toga preta, informalmente envergada; chapéu de base redonda e copa quadrangular, com borla pendente.
Armando Luís de Carvalho HOMEM

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Vista geral da oficina da Artimúsia, em Celeirós, Braga, no ano de 1999. Foto enviada por Jorge Félix.





Paulo Larguesa teve a amabilidade de me enviar o seu último trabalho, CD "Ao Sul - Carlos Jesus, Paulo Larguesa - Guitars". É um disco só de "guitarradas", em que os dois instrumentistas se encaixam muito bem. Boa sonoridade no conjunto, com 4 inéditos, o que é sempre de louvar. Peças interessantes, estas, em que se nota a preocupação de seguir uma linha de rumo bem específica. Norton 39 e Beautiful Maria of my soul estão muito bem elaboradas, ouvindo-se com muito agrado. Nota alta neste trabalho. Ficamos à espera de mais.

Tertúlia Coimbrã de Miratejo


Dia 18 de Fevereiro, no Fórum Cultural do Seixal
Tudo começou com os trinados de uma guitarra portuguesa que esporadicamente se ouviam numa rua de Miratejo. Esta foi a semente de um percurso que levou à criação de um grupo, a Tertúlia Coimbrã de Miratejo, que actua, no dia 18 de Fevereiro, sábado, às 21.30 horas, no Auditório Municipal, Fórum Cultural do Seixal.
As baladas e os fados de Coimbra são trazidos nas vozes de Joaquim Monteiro e Filipe Lopes, na guitarra portuguesa de Serrano Baptista e Álvaro Albino, e na viola de João Costa e Nuno Correia e Carlos Taveira.
O grupo foi constituído em 1993 e vale a pena ouvir a história da sua génese: «O Eng. Luís Adão, antigo estudante de Coimbra, que passava frequentemente na Avenida Luís de Camões, em Miratejo, costumava, a certa altura do percurso, ouvir o som de uma guitarra portuguesa. Investigou e descobriu o Romeu Pires que aí vivia e que nos seus tempos de estudante se tinha iniciado na guitarra de Coimbra. Ele foi, na verdade, a semente que facilmente aglutinou um grupo de pessoas a quem a canção de Coimbra dizia alguma coisa. Infelizmente o Romeu Pires faleceu em Agosto do ano passado».
Lançada a semente, a ideia começou a germinar e a Luís Adão e Romeu Pires juntaram--se António José Vieira, ligado à dinamização cultural e autor da ideia de uma Tertúlia Coimbrã, tornando-se um dos seus cantores, José Carita, professor de matemática, músico e dirigente associativo, Rui Sequeira, professor e músico, e Nuno Correia e Sílvia Ribeiro, nesse tempo estudantes ligados a grupos de música tradicional portuguesa.
Canção coimbrã
Estes músicos dizem que o seu repertório não se restringe ao fado: «Preferimos chamar-lhe canção de Coimbra porque há outras coisas que interpretamos que não são fado.» E dão o exemplo das baladas de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, António Bernardino e Luís Goes. Além disso, têm peças só instrumentais de Artur Paredes, Carlos Paredes, João Bagão, Almeida Santos, por exemplo.
O que une os elementos da Tertúlia é o facto de sentirem que se dedicam «a uma arte com raízes populares, mas que de algum modo evoluiu para uma forma semierudita, distinguindo-se do fado de Lisboa». Referem também a incontornável ligação das baladas ao combate pela democracia, que «se começaram a ouvir nos anos 60 e que saíram dos limites de Coimbra».
Evolução permanente
Depois do núcleo inicial, juntaram-se outros elementos à Tertúlia, como Joaquim Monteiro e Filipe Lopes, os actuais cantores, o João Costa, que toca viola com o Nuno Correia e o Álvaro Albino, também guitarrista. «A morte do Romeu Pires, para além do desgosto do desaparecimento de um amigo, foi um duro golpe no valor artístico do grupo que assentava muito na sua técnica e virtuosismo de guitarrista», frisam. No entanto, dizem: «Felizmente para o grupo, veio para Miratejo, no ano passado, o Serrano Baptista, guitarrista de estilo coimbrão, com experiência de participação e liderança noutros grupos e divulgou a canção de Coimbra. A sua vinda marcou a reanimação do grupo.»
Das memórias da Tertúlia, são de realçar a estreia do grupo, com uma serenata, no Centro Comercial de Miratejo, em Dezembro de 1993, a participação em Semanas Académicas, os espectáculos nos Fóruns Culturais de Almada e do Seixal e, claro, a edição do CD, em 2002.
Para o futuro, o objectivo da Tertúlia Coimbrã é aperfeiçoar as técnicas instrumentais e vocais e o virtuosismo do conjunto, seleccionar mais reportório tradicional, compor originais e procurar maior divulgação para o grupo.
Sobre o espectáculo de dia 18, no Seixal, afirmam que gostariam de ter muita gente a assistir, já que o Fórum tem «excelentes condições».
Boletim Municipal do Seixal






Armando Luís de Carvalho Homem teve a gentileza de me enviar o seu mais recente trabalho de investigação: "O Traje dos Lentes".
Fotos: Capa do livro, contracapa, badana 1, badana 2 e posfácio de José Novais Barbosa.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Foi há 20 anos, no dia 23 de Fevereiro de 1987. O andarilho "voou" para outras paragens mas continuou a caminhar connosco, como sempre. Lamúrias e velórios, medalhas e estátuas... tudo há-de vir ao de cima! Nós, Casa do Povo da Longra, concelho de Felgueiras, sabemos o que queremos – porque "conhecemos o Zeca" – já que é natural que se multipliquem pelo país iniciativas evocativas da sua vida, da sua obra e do seu exemplo de cidadania.
Felgueiras, felizmente, vai abrir esse ciclo, no dia 3 de Fevereiro – um sábado –, pelas 21,30 horas, na sala de espectáculos da Casa do Povo da Longra, na Vila da Longra – a 5 quilómetros da cidade, de quem vem de Lousada ou na saída da A11 –, resultado de uma parceria com a Associação José Afonso, com sede em Setúbal, através do seu Núcleo do Norte (Porto).
Esta iniciativa terá como símbolo principal o espectáculo “SOMOS NÓS OS TEUS CANTORES”, e contará com a participação de Francisco Fanhais, Tino Flores, grupo Erva de Cheiro (Lisboa), grupo AJAFORÇA (Porto) e a banda Hyubris. Os actores Alexandre Castanheira e Fernando Soares farão da poesia o eco do homem da "Grândola".
Neste dia vai falar-se também de Adriano Correia de Oliveira, companheiro de canções de luta e de vida de José Afonso, a quem a Casa do Povo da Longra dedicará, em Outubro, um evento de tributo ao cantor da “Trova do Vento que Passa”, na passagem dos 25 anos da sua ida para outras paragens.
Na parte de tarde, pelas 16 horas, haverá lugar a um debate/tertúlia, para o qual foram convidados Alípio de Freitas, presidente da AJA, Isabel e José Manuel Correia de Oliveira (filhos do Adriano), Alexandre Manuel (jornalista e ex-editor do DN), Paulo Alão (músico que participou em algumas gravações do Zeca e do Adriano), Alexandre Castanheira (académico), Soares Novais (jornalista e editor da Arca das Letras), e representantes da Casa do Povo, entre outros que poderão juntar-se.

Preço do bilhete: 10 euros.

A 3 DE FEVEREIRO....ZECA...SEREMOS NÓS TODOS... MELHOR OU PIOR... OS TEUS CANTORES! PARA O QUE DER E VIER...SEM MUROS NEM AMEIAS! IGUAIS POR DENTRO E IGUAIS POR FORA!

Os amigos do Zeca da Casa do Povo da Longra,
Felgueiras
Adão Coelho (presidente da Direcção),
Gonçalo Magalhães (presidente da AG),
José Carlos Pereira (associado e directo colaborador),
entre outros, tudo “gente igual por dentro e igual por fora”.
(n.º telemóvel para eventual informação: 91 609 00 33)



A "ALTA DE VOLTA"/A ALTA DIGITAL

Relativamente às interpelações quanto à necessidade e oportunidade de trabalhar a Alta como Museu Virtual/Museu Digital, o Doutor Nuno Rosmaninho Rolo enviou-nos a seguinte mensagem:

Quanto ao post sobre o Museu Virtual, a ideia parece-me óptima, como sabe. Partilho consigo uma relutância irremediável em relação ao saudosismo. Em contrapartida, há um trabalho efectivo, muito mais interessante, que poderia ser posto em prático. Além do Alexandre Ramires, lembrei-me dos arqueólogos que têm estudado a Alta e até do Arq. Walter Rossa, que tem em imagem computorizada as diferentes fases de evolução da Alta, rigorosamente estabelecidas. Manifestamente, é um trabalho para muitas pessoas, mas que está longe de ser impossível.

Um abraço,

Nuno Rosmaninho

Na gravura (estampa do século XVIII): 1) Colégio da Companhia de Jesus (confiscado pela Coroa mediante Lei de 03/09/1759). Fundado em 1542, com obras iniciadas em 1547, compreendia três claustros, anexos e a Igreja das Onze Mil Virgens. A construção demorou até ao 1º quartel do século XVIII. Em 1772 o Marquês de Pombal fez instalar a Sé Catedral na parte correspondente à igreja e cedeu os claustros e alas ao Hospital da UC e Museu de História Natural. As obras de remodelação provocaram modificações no Largo da Feira, junto ao adro e particularmente nos pavilhões voltados ao vizinho Real Colégio das Artes; 2) Real Colégio das Artes, ligado ao de Jesus por dois passadiços. As obras de edificação iniciaram-se em 1568 e arrastaram-se pelo século XVII (veio a ser o primitivo Lyceu de Coimbra e parte dos Hospitais da UC). Entre o século XIX e os inícios do século XX (1904 e ss) passou por avultadas obras de remodelação do claustro e fachadas. O grande pátio deu origem à expressão "Bichos do Pátio", que servia para identificar os liceais.

AMNunes

ESTUDANTES DE COIMBRA ABREM "PAIXÕES"
Por António Manuel Nunes
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Nota prévia: o Blog "guitarradecoimbra" tem-se mostrado atento ao historial do Trajo Académico na UC e à multiplicidade de vestes docentes na Europa, América e Países de Leste. A propósito da estreia da telenovela "Paixões Proibidas", damos conta de incorrecções vestimentárias desnecessárias. Bem sabemos que no reino da "sétima arte" SI NON È VERO, È BENE TROVATO.
Ora, aceitando essa margem de liberdade que assiste à produção de telenovelas e séries, eu faria uma espécie de trocadilho com as palavras de Júlio César: em certas matérias não basta ficar pelo "parecer", é preciso "ser".
Cada vez mais me conveço que a Academia de Coimbra e suas Tradições (as presentes, as pretéritas e as virtuais) constituem o exemplo acabado daquilo a que alguns sociólogos designam por "comunidades imaginadas" (Benedict Anderson, 2005). Vista à distância, todos parecem saber tudo sobre ela e todos parecem possuir superior competência para sobre ela dissertar. É obvio que há na cultura académica coimbrã emblemas simbólicos incontornáveis, porquanto polarizadores da Identidade, servindo de exemplos a Capa de estudante ou a Guitarra de Coimbra. Mas, equanto no plano interno estas imagens e representações não sofrem ambiguidades, já no que respeita ao imaginoso olhar externo, o "parecer" pode contar mais do que o "ser". Ou seja, para quem não está familiarizado com o ethos académico, a Capa de estudante pode ser uma capa de "estilo Drácula" e a guitarra pode ser a Guitarra de Lisboa. Estas representações imaginadas, produzidas sobre comunidades imaginadas, são muito antigas na cultura europeia. Se recuarmos à arte sacra medieval, vemos que ainda Hollywood não o era e os pintores preenchiam um quadro da Natividade com pastores europeus medievais, ou uma Crucifixão com soldados medievais ou renascentistas. Do ponto de vista dos produtores de imagens de comunidades imaginadas, as INCONGRUÊANCIAS são partes constitutivas da "realidade virtual".
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Estreou ontem à noite na RTP1 (09/01/2007), pelas 21:00 horas, a telenovela luso-brasileira assinada por Aimar Labaki "Paixões Proibidas". Co-produzida pela Rede Bandeirantes e RTP, "Paixões Proibidas" entrecuza e recria elementos extraídos dos seguintes livros de Camilo Castelo Branco: "Mistérios de Lisboa" (1854), "Amor de Perdição" (1862) e "O Livro Negro do Padre Dinis" (1885).
Apresentada aos espectadores brasileiros em 14 de Novembro de 2006, a produção apostou na captação de cenas em Coimbra, Resende, Lisboa e Rio de Janeiro. Tudo começa no Rio de Janeiro, pelo ano de 1805, pouco antes da chegada da Família Real, com Simão regressado da UC.
O primeiro episódio abria com um quadro conimbricense, propondo um confronto ideológico entre partidários do absolutismo (discurso do estudante conservador Meneses) e adeptos dos ideais da Revolução Francesa (Simão). A notícia da morte de Bocage desencadeia inflamados discursos no Pátio das Escolas/Via Latina que rapidamente evoluem para insultos e pancadaria. Seguem-se fugazes imagens de deambulações adjacentes em ruas e na frontaria da Sé Velha. Detido e sujeito a processo disciplinar, Simão vê-se expulso da UC e regressa ao Rio de Janeiro.
O que dizer destas cenas filmadas em Coimbra em tempo e cenários reportados a ca. 1804-1805?
Reconhecendo a Aimar Labaki plena liberdade para recriar e ficcionar personagens e ocorrências, não quero deixar de assinalar algumas fragilidades que poderiam ter sido contornadas. Para se recriar uma época não basta pedir ao operador de câmara que mande retirar antenas de televisão e sinais de trânsito de uma rua, nem satisfaz dizer à equipa de costureiros que copie calções e casacas de um qualquer livro sobre a história do vestuário.
No meu tempo de estudante participei em episódios de duas séries televisivas, ambas com filmagens em Coimbra, dedicadas à vida e obra de Antero de Quental e Mário de Sá Carneiro. Na 2ª fui indicado pela Reitoria ao director da série e coloquei como condição o máximo de exigência e de rigor em tudo o que respeitava à reconstituição da Capa e Batina nos alvores da Primeira República. Lembro-me que numa filmagem junto ao Arco do Paço de SubRipas se disfarçou a calçada com ramagens e palhas. A iluminação eléctrica nocturna foi igualmente matizada com fumarolas provocadas pela combustão de jornais. Tudo isto para recriar um Mário de Sá Carneiro a fugir espavorido de uma trupe de veteranos! A dita cena foi filmada e quadrifilmada, na ânsia da melhor das imagens. Nas demoras e nos nervos, a fogueira dos jornais apagou-se e tornou-se necessário reacendê-la...
Reconheço que estou a ser exigente, mas não falo de nada que a experiência cinematográfica e televisiva britânica não tenha resolvido com mão de mestre desde há décadas em termos de cenários, guarda-roupa, caracterização de actores e sobretudo recriação credível de momentos do quotidiano como o banho, o fazer a barba, o comer, o cheirar rapé... para mim, actores que cirandam muito penteados, sem ligação palpável à natureza, podiam ter ficado a representar no palco de um teatro (quem disse que o actor faz tudo o que as pessoas "normais" costumam fazer?).
Nas telenovelas brasileiras de argumento histórico há uma forte tendência para adoptar a tradição hollywoodiana (mais vistosa e sedutora) de guarda-roupas e cenários virtuais consagrados em obras como "Fabíola" (1949), "Sansão e Dalila" (1949), "Os Dez Mandamentos" (1956), "Ben-Hur" (1959), ou "Cleópatra" (1963). Se esta opção seduz mais espectadores, não deixa de ser menos credível do ponto de vista do trabalho de reconstituição. O que é facto é que os realizadores e produtores cada vez mais recorrem a especialistas em cenários e guarda-roupas históricos, não se percebendo muito bem dos motivos que levaram a Rede Bandeirantes e a RTP aos caminhos do fazer mínimo.
Discutamos o que importa verdadeiramente discutir:
a) os cenários: tenho as maiores dúvidas quanto à pertinência do Paço das Escolas (Via Latina) e Sé Velha como sendo os locais mais adequados à realização de filmagens. Em 1804-1805 muito dificilmente os estudantes se atreveriam a fazer discursatas de teor político na Via Latina, numa UC ciosamente controlada pelo Reitor e velho amigo de Pombal, D. Francisco de Lemos. A ronda dos verdeais entraria logo em acção. É verdade que no momento da refrega entre as duas facções académicas se apercebe a intervenção de um corpo militar armado com espingardas. Mas uma tal intervenção não era possível na época em que decorre a acção. Se o realizador pretende aludir aos archeiros, só pode tratar-se de anacronismo grosseiro, pois o que então existia era o Corpo dos Verdeais, capitaneado pelo Meirinho. E o uniforme e as armas dos verdeais da UC não tinham mesmo nada a ver com aquilo que foi mostrado na filmagem.
As imagens captadas na fachada da Sé Velha não são propriamente felizes. Ao excesso de luz artificial projectada pelos holofotes, somam-se supressões trazidas por restauros posteriores e um adro construído na década de 1930!
A cena proposta por Aimar Labaki poderia ter sido recriada com contornos mais credíveis num espaço ligado a uma praceta da Alta, terreiro fronteiro ao Mosteiro de Santa Cruz, escadório da Sé Nova (já se disse que este largo é que servia de forum académico), ou num interior ligado ao ambiente conspirativo de uma sociedade secreta. O realizador optou pelo turístico e pelo espectacular e os resultados não foram seguramente os melhores. Regalam as vistas mas falham em substância.
b) A Loba e Mantéu: os figurantes e actores propostos como estudantes de Capa e Batina não correspondem ao uniforme discente usado na época (e os penteados que se viam, também não!). Houve aqui um deslize anacrónico e apressado para imagens oitocentistas tardias, nomeadamente um Macphail, cujo traço tão bem conhecemos.
Capa e Batina ainda não tinha feito a sua estreia nos "palcos" oitocentistas, prevalecendo a obrigatoriedade da Loba de dois vestidos (sotaina+chamarra), Mantéu talar (com colarinho, gola, bandas e cordões), Volta branca, Cabeção preto, Gorro preto, Calção, Meias altas e sapatos de chinelo com fivela. Tanto atropelo e tanta ligeireza na proposta de reconstituição desse trajo, mais imaginado e fantasiado do que propriamente objecto de trabalho substantivo telenovelístico. A Capa estava incorrecta em termos de colarinho (excessivamente alteado), da configuração da gola e da ausência de elementos epocais como as bandas peitorais. A Loba, nas suas duas variantes mais importantes, nem sequer foi reconstituída e, como tal, não vale a pena perder tempo a enunciar as omissões detectadas. Basta dizer que aquela "batininha" que se via nas filmagens não corresponde ao que os estudantes efectivamente vestiam ou tinham de vestir por obrigação estatutária.
O Gorro, visto muito de raspão, era em geral mais longo (num figurante via-se um inacreditável gorro de pescador com borla!!). Quanto à Volta e Cabeção, nem vê-los, pois o que as filmagens mostravam eram camisas de colarinhos chãos. No que toca ao Calção, prefiro não me pronunciar sequer. As meias, essas estavam "mais ou menos", como costuma dizer-se. Ele faltavam, em muitos estudantes, as tão usadas polainas pretas de abotoaduras laterais...
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Paixões proibidas" entre Portugal e o Brasil
Por Nelson Morais
"Corre o ano de 1805 e a Universidade de Coimbra (UC) acaba de receber a notícia da morte do libertário poeta Manuel du Bocage, a que o aluno brasileiro Simão de Azevedo dedicara um elogioso texto.
Das escadas da Via Latina da UC, perante centena e meia de colegas de capa e batina, o conservador Meneses faz um discurso inflamado. Mas é rapidamente interrompido pelo progressista Simão. Entre insultos mútuos, este sabe que acaba de ser expulso da UC e provoca uma cena de pancadaria, entre liberais e conservadores.
Esta é a sinopse possível das primeiras cenas da telenovela "Paixões proibidas", a adaptação, por Aimar Labaki, de três romances de Camilo Castelo Branco "Amor de Perdição", "Mistérios de Lisboa" e o "Livro Negro do Padre Diniz". De resto, foram as primeiras cenas a serem filmadas - ontem na UC - e praticamente as únicas com rodagem em Portugal. O grande bolo dos 160 episódios da inédita co-produção luso-brasileira RTP/Rede Bandeirantes - com os actores portugueses Virgílio Castelo, Natália Luiza, Pedro Lamares, São José Correia, Carlos Vieira, Henrique Viana, Nuno Pardal, Ana Bustorff e Leonor Seixas - é cozinhado no Rio de Janeiro.
As cenas de Coimbra visam tão só uma primeira caracterização do personagem Simão, o tal que é expulso da UC. Depois, "Simão de Azevedo, que corresponde ao Simão de Botelho, do 'Amor de Perdição', em vez de regressar a Lamego, regressa ao Brasil", explicou Virgílio Castelo, que, na pele do Padre Dinis, será protagonista, tal como Simão, no Brasil, de uma paixão proibida.
Na UC, onde uma vice-reitora, há uns anos, impediu a rodagem de uma telenovela que abordava a paixão proibida de um professor por uma aluna, o director de Programas da RTP1 depositou as maiores expectativas sobre esta parceria luso-brasileira.
"Tem acontecido, algumas vezes, actores portugueses participarem em telenovelas brasileiras, mas aquilo que vai acontecer, desta vez, é radicalmente diferente", garantiu Nuno Santos. Pela importância atribuída a "Paixões proibidas", o director de Programas, que se recusou a revelar o seu orçamento, ainda não decidiu se será exibida a partir de Novembro, como no Brasil, ou só em 2007, para assinalar o 50.º aniversário da RTP".
[texto extraído do site do "Jornal de Notícias" on line, http://jn.sapo.pt]
AMNunes

Tarde de «Fados» na oficina de Domingos Machado, Tebosa arredores de Braga.
Tocaram-se chulas, viras, fados de Lisboa, de Coimbra, do Porto, (de Braga ??..) e até se dançou o Fado. Uma senhora também cantou Coimbra, bateram-se palmas, e ninguém fez reparos. Havia vinho, pão e presunto, tudo da região. Eu tirei este retrato para agora recordar.
Na foto podem ver-se Manuel Lima na guitarra; José Fernandes e Luís Lima na viola.
Jorge Félix

terça-feira, janeiro 09, 2007

Um dos tectos da Biblioteca Joanina da UC
Foto da autoria de Varela Pecurto, enviada por Augusto Mota, com a seguinte nota "Para quem não conheça aqui vai uma foto do tecto central da Biblioteca Joanina, foto que foi especialmente tirada
para a capa do Livro dos Quartanistas de Letras / 1957 (o meu curso), capa que não tem qualquer
título para não estragar o efeito estético pretendido. Só a lombada tem as referências necessárias. Foto dos laboratórios «Hilda», tirada pelo seu técnico principal
Varela Pécurto, tarefa a que assisti e que não foi nada fácil".

***
Estas pinturas foram realizadas em 1723 pelos pintores António Simões Rodrigues e Vicente Nunes.
AMNunes

A Europa de Leste ou "o eu" e "o outro" (5) - A República Checa "em todo o seu esplendor" (I)

1.
2.

3.

Peteru Cheklandovi, dr. h.c. pela Vysoká Skola Ekonomika,Praga
(2004)


Comentário: O novo dr. enverga uma toga preta, aberta na frente, com bandas em veludo na mesma cor; gorra preta, com uma periferia dura e o centro de material mais flexível. Lentes da Casa estão vestidos de madeira idêntica, mas ostentam uma medalha de metal amarelo, pendente de cadeia na mesma cor e no mesmo material. A apresentante enverga toga, capelo (sem debrum) e gorra vermelhos, mais uma medalha como as já descritas. Outra lente enverga indumentária vermelha, mas o capelo é debruado a pele castanha.
Duas observações:
  • O novo dr. entra na cerimónia e dela sai com idêntica toilette; de novidade há somente o «canudo» com o diploma (v. il. 3.);
  • o seu visual é bem mais modesto (na cor ou na falta de adornos) do que o dos lentes da Casa.

Voltarei a estes pontos na 2.ª parte do post.

Fonte: www.cse.cz

Armando Luís de Carvalho HOMEM

A Europa de Leste ou "o eu" e "o outro" (5) - A República Checa "em todo o seu esplendor" (II)

1.
2.
3.

4.
5.
Robert A. Mundel, prémio Nobel da Economia, dr. h. c. pela
Vysoká Skola Ekonomika, Praga (2006)


Comentário - Imagens como as 1., 2. e 3. falam por si: estamos em pleno esplendor sumptuário, com reminiscências de alto-clero e nobreza dos sécs. XV-XVIII; o Dr. António M. M. Nunes já aqui o destacou com toda a pertinência. Na imagem 1. vemos um "alabardeiro" abrindo a zona do cortejo onde segue o doutorando e a lente que lhe serve de apresentante. Ambos reaparecem nas ils. 4. e 5., sendo esta última a assinatura final do auto pelo novo dr. As imagens não permitem ir muito longe sobre a indumentária deste último: toga preta aberta no peito (vê-se a gravata); gorra na mesma cor, em tecido aveludado mole. De salientar que, aparentemente, o novo dr. h.c. entra na cerimónia e dela sai exactamente com a mesma «toilette»: nenhuma medalha, capelo ou outro tipo de insígnia lhe é aposto; a «honor» traduzir-se-á no diploma e no registo do auto em livro próprio. Já a «madrinha» enverga toga e gorra vermelhas, mais um capelo na mesma cor debruado a pele; medalha de metal amarelo, pendente de cadeia na mesma cor.
As ils. 2. e 3. são um repositório de togas/becas em vários tons de vermelho (e uma lilás), capelos debruados a pele, medalhas e cadeias douradas, estolas em arminho ou em peles de cor castanha, gorras de diversos feitios, em cores que vão do preto ao vermelho, sendo que num destes últimos casos existe também um forro e debrum de pele castanha.
Julgo importante re-insistir desde já na modéstia da indumentária do novo dr. face aos lentes da Casa (ou, eventualmente, de outras Casas, e que ali se tenham deslocado): o aspecto final mantém-lhe um visual de noviço, impetrante, postulante, candidato... Que diferença face àquelas Instituições (Coimbra, Évora, Aveiro, Açores, U's espanholas, francesas e outras...) onde o novo dr. sai da sala tal qual os Mestres da Casa que presentes estiveram !... A lógica do cerimonial / ritual / visual desta Universidade checa será pois bem uma lógica de «neo-Ancien-Régime»... Voltarei a este ponto no sentido de o aprofundar, mormente no que toca os contrastes face a alguns Países da Europa Ocidental.

Fonte: www.cse.cz

Armando Luís de Carvalho HOMEM

«Europa (A) de Leste ou "o eu" e "o outro" (4): Introdução à Polónia


Peter Slight, criador artístico, dr. h.c. pela Medical University de Gdansk
(2005)
A Polónia acaba por ser afinal a grande excepção no mundo socialista pré-1989, bem mais intensamente que as experiências checoslovacas enciumantes dos russos, evocadas por Dubcek. Foi de longe o País que correspondeu com maior número de imagens aos meus critérios de busca. Mais: nos «sites» de algumas Universidades vemos relações de actos desta natureza remontantes aos anos 60, i.e., aos tempos do relativamente ortodoxo líder W. Gomulka (1956-1970), antes da relativa liberalização de E. Gierek (1970 ss.).
Na imagem, o novo dr. recebe o diploma das mãos do Reitor (2.º a contar da dir.) e de outra lente (apresentante ?). Enverga uma toga vermelha aberta na frente; laço branco e gorra preta poligonal. Maior luxo no traje reitoral (mas insuficente informação visual para o descrever); maior simplicidade no traje da apresentante: toga preta com debruns vermelhos; gorra aparentemente idêntica à do novo dr.
Armando Luís de Carvalho HOMEM

Um doutoramento h.c. na República Dominicana

1.
2. Carlos di Nubila é feito dr. hc. pela Universidad Nacional Pedro Enriquez Ureña
(2003)

1. O doutorando (à esq.) profere algo como um «compromisso de honra» perante o Reitor (à dir.); não é ritual corrente nas U's europeias.
2. O novo dr. e o Reitor.
O traje é uma beca azul-escura sóbria. Sobre os ombros um escapulário, que se prolonga para a frente e para as costas, aparentemente azul-noite (ou mesmo preto) no caso do Reitor e verde no caso do doutorando. Chapéu de base cilíndrica e copa quadrangular, com borla amarela pendente. Globalmente, um visual muito de tipo americano.
Armando Luís de Carvalho HOMEM

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