sábado, março 24, 2007

Expansão do fenómeno tunante


Baptismo de uma caloira na Tuna de Pau
O fenómeno tunante estudantil continua por estudar, sobretudo em Portugal. Quando tudo fazia crer que a fundação de tunas era apenas um movimento febricitante português e espanhol, eis que o modelo espanhol se transforma num produto cultural e turístico de exportação.
A fotografia, extraída do site oficial da Tuna do Distrito de Pau, fundada em 1999 (Bordes, sul de França), dá conta de uma tuna mista de modelo salmantino, num momento de admissão de uma nova sócia. O aspecto ligth e divertido não oculta porém os contornos de uma investidura, com empossante e empossada, falas rituais, solicitação de admissão de joelhos e subsquente atribuição de um objecto simbólico. Das clássicas tradições académicas detestadas pelo seu pendor impositivo, como que se passou para uma situação inversa de procura voluntarista/consentida, cujo único critério de legitimação parece residir no "very fun".
Numa França onde as "bisutages" são proibidas pelo Ministério da Educação, e onde os movimentos laicistas e abolicionistas deixaram rasto, não deixa de causar alguma perplexidade este regresso aos rituais e aos trajes, movimento que se faz sentir com muito mais intensidade no universo das confrarias gastronómicas e vinícolas. Aí, a ritualização é bem mais pomposa, numa retoma revivalista do "sacre" (coroação régia) e da investidura dos cavaleiros medievais.
Seguindo de perto as informações e ligações constantes deste site, fica-se a saber que a Tuna de Pau mantém contactos com pelo menos seis tunas portugueses e diversas espanholas. Estudantes de Paris, Bruxelas, Munique e Holanda fundaram já tunas de modelo espanhol. O mesmo acontece quanto a tunas indicadas para o México, Porto Rico, Peru e Chile.
Quem passou por Coimbra em finais dos anos de 1970, inícios de 80, não deixou de ouvir acusões usadas para apoucar os que viveram activamente a chamada "Restauração das Tradições e da Praxe".
Os exemplos que temos vindo a levantar no plano internacional relativamente a "Alguns Chapéus de Estudantes", e agora a estas "Tunas à Espanhola", demonstram que alguns adjectivos são "polissémicos"... uma coisa é certa: quem tinha teres e haveres para restaurar, restaurou-os conforme o engenho e a arte. Quem os não tinha, tratou de inventá-los. Quem agora os não tem, vai buscá-los a Espanha. Caso para perguntar, afinal onde estão os estudantes dos países ditos mais progressistas e civilizados?
Conforme anotava A. Silva em apostila de 13/03/2007 ao texto "Traje Académico? Ou Trajes Académicos?" (cf. Blog, 11/03/2007), muitas das invenções festivas e vestimentárias incorporadas no universo académico português pelas décadas de 1980/1990, se ainda não eram tradições académicas em sentido estrito, já estavam em processo de desuso nas comunidades populares regionais, podendo considerar-se folclores passivos ou disfuncionais.
Este alerta avançado por A. Silva afigura-se-nos deveras estimulante do ponto de vista da prospecção etno-antropológica, pois a invenção de tradições estudantis nas décadas de 1980/1990 não foi diferente dos processos de invenção e de sacralização de tradições observado no passado mais recuado.
Antropologicamente falando, as tradições começam justamente por não o ser! É a repetição de certas festividades, rituais e cerimónias, que confere à novidade ou aos objectos banais do quotidiano o carácter de "tradições". A cultura ocidental está repleta de exemplos de tradições inventadas, que na sua fase inicial não se distinguam daquilo que hoje designamos por "folclore". O que eram os hábitos talares dos beneditinos e dos franciscanos nos anos iniciais da fundação daquelas ordens monásticas? Não era o escapulário preto de duas abas adoptado por São Bento um simples avental camponês de trabalho que se prendia nos flancos com dois atilhos? Não era a túnica grosseira de baeta dos franciscanos o traje ordinário dos camponeses europeus medievais? Não eram as antigas latadas dos estudantes de Coimbra uma variante das latadas de noivos que se faziam nas aldeias portugueses aos recém-casados e nubentes viúvos? E a Queima das Fitas de Coimbra, o Enterro do Galo do Liceu de Beja, o Enterro da Gata do Liceu de Braga (e Universidade do Minho), o Enterro da Bicha do Liceu de Ponta Delgada e o Enterro da Farpa dos académicos portuenses, não eram réplicas burlescas e de crítica social a festividades arcaicas e carnavalescas próximas da Queima do Judas, Serração da Velha, Enterro do Bacalhau? E a Procissão dos Caloiros, de que temos notícia nos antigos Liceus de Ponta Delgada e Guarda, seria assim tão diferente das procissões religiosas católicas (antigas procissões do Corpo de Deus e dos Nus), de certas festividades romanas, da Festa dos Loucos, da Festa de Santo Estêvão (com fortes tradições em Trás-os-Montes), da Festa do Burro, da Festa dos Maridos Cornos*, da Festa do São Nicolau dos Estudantes (vide Nicolinas, Liceu de Guimarães)?
Fonte: Tuna de Distrito de Pau, http://www.distrituna.net/.
Nota*: as Festas dos Cornos ou de São Marcos, celebradas a 25 de Abril nas aldeias das Ilhas centrais dos Açores e nos Países Baixos, ultrapassaram a Revolução de 1974. Quando o governo português fez instaurar o 25 de Abril como feriado nacional, a iniciativa mereceu a maior galhofa nos ilhas do Pico, Faial e Flores. Então o dia oficial dos maridos cornos era agora pomposamente declarado feriado nacional?
AMNunes

Memórias da Crise Académica de 1907


Prisões académicas (1)
Antiga cadeia privativa da Universidade de Gottingen, com mostra de grafitis, mesa, cadeira e retrete. Na genereralidade das situações conhecidas, as universidades alemães mantiveram os seus cárceres em actividade até aos inícios da Grande Guerra. Alguns ainda funcionavam em 1914-1915.
Boa amostragem destes antigos cárceres académicos encontra-se acessível na internet, através do endereço KARZAR, http://en.wikipedia.org/wiki/Karzar.
No referido endereço são mencionadas Gottingan, Marbuger, Frederich-Alexander-Universitat Erlangen-Nurnberg, Ernest-Moritz-Arndt, Greifswald, Heidelberg, Leipzig, Tubingen, Evangeliches Stif Tubingen, Tartu (Estónia) e Latvian (Riga). Destas, Heidelberg e Gottingan pertencem ao Coimbra Group.
AMNunes

Prisões académicas (2)
Imagem de uma das enxovias da Prisão Académica da Universidade de Heidelberg, com funcionamento documentado entre 1778-1914. Os estudantes chamavam-lhe "Kavaliersdelikte".
Fontes:
-"Old Student Prison. Heidelberg", http://outdoors.webshots.com/photo/;
-"Politech. House Judiciary targets", http://seclistes.org/politech/2003/Feb/0117.html.
AMNunes


Prisão académica (3)
Fachada principal do Colégio de São Boaventura, demolido em 1949 para dar lugar à nova Faculdade de Letras, onde funcionou a última Cadeia da Universidade de Coimbra no período compreendido entre 1834-1910.
A artéria descendente é a Rua do Norte que deslizava entre os colégios de São Boaventura e o de Lóios (cujo cunhal se divisa, sede do Governo Civil), com fim no Largo de São João de Almedina.
Entre o triunfo da Monarquia Constitucional e a Revolução de 1910 não houve voz singular ou movimento tributário dos ideais progressistas, libertários e republicanos que não tenha bradado contra o supostamente existente "Foro Académico" e sua cadeia.
Em bom rigor, o Foro Académico, herdado do Studium Generale medieval, fora extinto pelo artigo 145º da "Carta Constitucional" e artigo 38º do Decreto de 16 de Maio de 1832 (Nova Organização Judiciária). Após a implantação do Regime Constitucional na cidade de Coimbra, a 08 de Maio de 1834, a UC deixou de ter Foro Académico e Conservador (Juiz), conforme lhe foi oficialmente comunicado pelo Ministério dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça pela Portaria de 23 de Maio de 1834.
Extinto o Foro Académico ou Juizo da Conservatória da UC, os delitos praticados na mesma instituição passaram a correr no Juízo Criminal da cidade. Mas, numa época marcada pelo bandoleirismo e pelos comportamentos violentos, não havendo ainda da parte do poder central capacidade para garantir um serviço de polícia à escala nacional (as esquadras da Polícia Cívica em Lisboa e Porto datam apenas de 1867. Quando a esquadra de Coimbra foi finalmente instalada, os estudantes universitários não reconheceram autoridade nem prestígio aos seus agentes. Dados cronológicos em "MAI-História da Polícia de Segurança Pública", http://www.mai.gov.pt/memoria_psp2.asp/), a Reitoria da UC viu-se dotada de amplos poderes de acção imediata e autonómica, através do "Regulamento de Polícia Académica", publicado no Diário do Governo de 25 de Novembro de 1839, com assinaturas de D. Maria II e de Júlio Gomes da Silva Sanches.
O chamado "Decreto Sanches" era nada mais nada menos do que o Regulamento Disciplinar da UC, ao qual se chamou abusivamente durante 71 anos "Foro Académico". Com poderes disciplinares mais amplos do que os consagrados nos regulamentos disciplinares dos Liceus, Seminários, quiçá colégios particulares, era apenas um instrumento de enquadramento disciplinar, competindo-lhe nomedamente: vigilância e manutenção da ordem em todos espaços do Paço das Escolas e suas dependências; inspecção dos uniformes docentes, discentes e dos oficais administrativos; policiamento nocturno de ruas, casas de jogo clandestino, tascas e prostíbulos; instauração de processos disciplinares por desrespeito, agressão, roubo, homicídio; aplicação de penas através de acórdãos ratificados pelo Conselho de Decanos.
No leque das penas mais temidas contavam-se a prisão na Cadeia de São Boaventura e a expulsão temporária ou definitiva, segundo a gravidade dos delitos.
Conforme os ciclos reitorais e a instabilidade da conjuntura política, assim os archeiros e o guarda-mor eram mais ou menos tolerantes. Se havia advertências irritantes, resultantes de preconceitos morais e modísticos, outras reflectiam não raro a constante propensão dos estudantes para as partidas e gozações. Muitas vezes, os estudantes arreliavam-se com medidas proibitivas consideradas violadoras da liberdade individual, quando na prática algumas dessas medidas traduziam o pânico em que vivia a Reitoria perante situações de risco como um incêndio no Paço das Escolas. Como a Universidade não tinha meios para combater um incêndio violento, e estando bem ciente do património que se perderia, a solução drástica consistia em proibir os cigarros nos edifícios universitários. Na óptica dos jovens alunos, medidas deste tipo cheiravam a reaccionarismo e autoritarismo.
A Cadeia de São Boaventura, cujo preso mais célebre foi o estudante Antero de Quental, de alcunha o Marrafa, não apresentava as melhores condições de asseio e de higiene. À semelhança da maior parte das cadeias comarcãs portuguesas oitocentistas, os presos não estavam separados do convívio urbano. O carcereiro fazia circular bilhetinhos e mensagens de ligação entre o espaço interior e o mundo exterior. Damas da Alta visitavam os estudantes presos, levando-lhes álbuns para neles manuscreverem versalhada e mimosas cestinhas com charutos e doçaria. Os estudantes colegas dos encarcerados iam às grades animar os amigos com estudantinas e filarmónicas. Os presos podiam encomendar cestas de comida e cangirões de vinho no exterior, enviavam mensagens, pediam livros emprestados, cavaqueavam, charutavam e agradeciam às compadecidas visitantes com versos inflamados e ramos de flores (Cf. Joaquim Teixeira de Carvalho, "Bric-a-Brac", 1926, p. 399).
Quando António José de Almeida e o novo Reitor Manuel de Arriaga se deslocaram a Coimbra para darem curso às reformas laicizadoras, científicas e pedagógicas de há muito reclamadas - e exigidas com veemência pelos grevistas de 1907 -, António José fez saber que declarava extinto o odiado e anacrónio "Foro Medieval", atitude que levou a "Illustração Portuguesa", Nº 245, de 31 de Outubro de 1910, a fotografar a extinta cadeia supra reproduzida.
O que o Decreto de 23 de Outubro de 1910 extinguiu não foi o Foro Académico mas antes o "Regulamento da Polícia Académica" de 1839. A medida abolicionista ocorreu num ciclo político exaltado. Segundo os detractores do RPA pretendiam fazer crer, já nenhum país ocidental civilizado teria "cadeia académica". Era conhecido que havia algum abuso propagandístico nas campanhas republicanas de então, e o próprio Alberto Xavier não deixou de reconhecer que as figuras mais informadas da Crise Académica de 1907 sabiam perfeitamente que as universidades da civilizada Alemanha ainda mantinham foro e cadeias privativas.
AMNunes

Prisão académica (4)
Janela da antiga Cadeia da Universidade de Coimbra.
Foto de Rui Lopes
AMNunes

Prisão académica (5)
Corredor de acesso à antiga enxovia da Cadeia da Universidade de Coimbra, nos baixos da Biblioteca Joanina.
Foto de Rui Lopes
AMNunes


Prisão académica (6)
Antiga enxovia ou cela da Cadeia da Universidade de Coimbra, sita nos baixos da Biblioteca Joanina, onde funcionou entre 1773 e 1832. Devidamente restaurado, fenece ao espaço um projecto de valorização iconográfica e documental que aposte na exposição de documentos e na integração de peças de mobiliário rústico de época. Pagar um bilhete para ver quatro paredes nuas numa universidade pluricentenária que se candidata à Unesco... sabe seguramente a pouco.
Sugestões possíveis: tarimba, bacio de louça, retrete de caixilho de madeira, mocho de quatro pés, candeia, mesa, bilha da água, livros de época, traje completo de meirinho, traje completo de verdeal, traje completo de carcereiro, traje completo de estudante, gravuras coevas, cópias de acórdãos do Conselho de Decanos...
Foto de Rui Lopes
AMNunes


Prisão académica (7)
Porta de gradão de ferro forjado da antiga Cadeia Académica da UC.
Foto de Rui Lopes
AMNunes


Prisão académica (7)
Vista da entrada da antiga Cadeia Académica da Universidade de Coimbra, captada a partir das Escadas de Minerva.
Foto de Rui Lopes
AMNunes

Maravilhas de Portugal
Como já devem saber, está a decorrer em http://www.7maravilhas.sapo.pt/ a votação para as 7 maravilhas de Portugal, entre as quais se encontra a Universidade de Coimbra.
Entretanto, o "Tour Nacional", que contará com uma caravana que estará 2 dias em todos os locais dos 21 finalistas, e onde se pode votar, estará este Sábado e Domingo em Coimbra, no Parque Verde do Mondego, onde se poderá votar entre as 10 e 18 horas. Quem votar no local terá direito a uma ida ao cimo da Torre da Universidade (quem ainda não foi que aproveite, pois é oportunidade única e o transporte desde o parque verde do Mondego até à Universidade é assegurado por um autocarro).
Não esqueçam, no endereço acima indicado, votem na Universidade de Coimbra e reencaminhem esta mensagem para os vossos contactos.

Cumprimentos,

Rui Lopes

sexta-feira, março 23, 2007

No âmbito das comemorações do 115º Aniversário da Tuna Académica da Universidade de Coimbra foi editado recentemente o livro “Método de Guitarra Portuguesa” de José dos Santos Paulo, obra esta que será apresentada publicamente, para todos os que desejem participar, no Salão Nobre da A.C.M. no dia 24 de Março às 15h30. Este evento reveste-se da notável importância que esta edição acrescenta à preservação da tradição da Guitarra Portuguesa ao estilo de Coimbra, assim como à continuidade da transmissão da técnica de execução deste instrumento que é indiscutivelmente um dos mais importantes de expressão musical portuguesa. Esta obra será apresentada pelo Prof. Dr. Armando Luís de Carvalho Homem, Professor Catedrático do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, sendo o evento enriquecido com a interpretação de algumas das obras incluídas neste valioso contributo à cultura portuguesa, interpretadas pelo autor, assim como por alguns dos seus alunos do Conservatório de Música de
Coimbra e pelo Grupo de Fados da Tuna Académica da Universidade de Coimbra.

Imagens da Crise Académica de 1907


O Chefe de Estado na Crise Académica de 1907 (doc. A)
O Rei D. Carlos I de Bragança (28/09/1863; 01/02/1908), Chefe de Estado entre 19/10/1889 e 01/02/1908.
Em memorando particular, datado de 02 de Março de 1907, João Franco inteirou o monarca dos tumultos vividos em Coimbra nos dias 27 e 28 de Feveiro e 01 de Março. Declarando-se contrário ao uso da violência, D. Carlos mostrou-se favorável ao encerramento temporário das aulas e às averiguações disciplinares. A UC seria compulsivamente encerrada pelo Governo através da letra do Decreto de 03 de Março de 1907, assinado pelo rei no dia anterior.
Esta medida gerou de imediato um verdadeiro tremor de terra no Parlamento, atiçado pelos antigos estudantes de Coimbra ligados ao Partido Republicano. Afonso Costa e sobretudo António José de Almeida fizeram lembrar que na sua juventude José Dias Ferreira (lente da UC e pai do candidato agora reprovado) fizera encerrar a UC em 1892 e obrigara António José a um exílio africano.
Ao longo de todo o conflito que viria a terminar institucionalmente com a amnistia geral decretada em 26 de Agosto de 1907, os estudantes nunca chegaram a increpar o Chefe de Estado. As atitudes de revolta e de protesto seriam direccionadas contra os lentes membros do júri que chumbara o candidato José Eugénio Dias Ferreira, a Faculdade de Direito em particular (acusada de atraso científico e de antipedagogismo), o reitor cessante Santos Viegas, o reitor nomeado pelo Governo (o fidalgo D. João de Alarcão), as forças policiais e militares que cercaram a Alta e João Franco.
A esse tempo, a popularidade do monarca entrara em erosão acelarada junto dos monárquicos dissidentes, republicanos de todos os quadrantes, carbonários, anarquistas, socialistas, operariado urbano, jornalistas, "marines", empregados de balcão e estudantes. A Crise Académica que se arrastou de 28 de Fevereiro a 26 de Agosto de 1907 motivou adesões em massa ao republicanismo.
Entre a Greve Académica de 1907 e a Revolução de 1910 estudantes conimbricenses militantes da ala radical jacobina do Partido Republicano, carbonários e anarquistas, alimentaram contactos regulares com células conspirativas activas em Lisboa. Diversos académicos e Coimbra tomaram parte nos preparativos da revolta gorada de 28 de Janeiro de 1908. Poucos meses depois, um antigo estudante de Coimbra e elo de ligação entre os revoltosos de Lisboa e Coimbra, o antigo boémio Pad-Zé (Alberto Costa) suicidava-se (31/11/1908).
AMNunes


O 1º Ministro da Crise de 1907 (Doc. B)
João Ferreira Franco Pinto Castelo Branco (Fundão, 1855; Lisboa, 1929) cursou Direito na UC de 1869-1870 a 1875. Firmemente convencido de que as manifestações académicas conimbricenses tinham origem directa na propaganda republicana, João Franco procurou neutralizar os protestos com mão firme. A instauração de processos disciplinares aos supostos cabecilhas do movimento, o encerramento temporário das aulas e a recusa em atender as pretensões dos manifestantes, transformaram João Franco num dos políticos mais detestados pelos estudantes de Coimbra. Aquilo que os estudantes implicados na Crise Académica de 1969 pensaram do Ministro da Educação José Hermano Saraiva será sempre muito suave quando comparado com o que os académicos da Crise de 1907 disseram de João Franco.
As duras medidas de controlo disciplinar impostas por Franco à UC não fizeram mais do que atiçar a ira dos académicos e concitar as simpatias de outras escolas superiores e liceais. Em 08 de Abril a greve alastrava ao resto do país.
Após o regicídio de 01 de Fevereiro de 1908, prevaleceria de João Franco a imagem de um político inábil, vilão e tortuoso. Um dos fulminados com pena disciplinar de expulsão, o estudante de Direito Alberto Xavier, traçou de Franco a pior das imagens numa rememoração de 1962 ("História da Greve Académica de 1907"). Odiado pelos republicanos, vilipendiado pelos estudantes de Coimbra, mal amado pelos seus corregelionários monárquicos do Partido Regenerador (que o consideravam um traidor de Hintze Ribeiro), Partido Progressista de José Luciano de Castro, carbonários, anarquistas, dissidentes e cortesãos, Franco foi acusado de ser o único responsável pelo regicídio e desgraça da Monarquia Constitucional.
Para a construção da imagem negra de João Franco contribuiram os escritos de Augusto Fushini ("Liquidações Políticas", 1896), Raul Brandão, António Cabral e o já citado Alberto Xavier. Visando humilhar e denegrir ainda mais o contestado estadista, homens como Fushini seguiram o método lombrosiano da sinalização de supostos sinais criminogénos no rosto e antecedentes supostamente indiciadores de degerescência mental. Franco não era um homem particularmente favorecido pela genética, pelo que logo houve quem movido por preconceitos rácicos o acusasse de ter rosto judaico. Em devassa ao passado familiar e juvenil de Franco, os opositores também procuraram valorizar negativamente certas vivências académicas do estadista, como trupes e caçadas a gatos, facécias de onde lhe adviera a alcunha de "João Mata-Gatos". Segundo alardeavam os inimigos de Franco, um aluno que, além de "medíocre" nos estudos, fizera trupes e estufara gatos caçados à força da moca, não poderia dar bom político! A tudo isto, os preconceituosos e palacianos colegas de actividade de João Franco juntavam em tom de mofa o conhecido sotaque regional do detestado político. Franco nunca perdera a acentuação das sibilantes, sendo alvo de troça o seu vincado "xe-xe" beirão. Nos corredores das Cortes, alguns intriguistas despeitados chamavam-lhe verrinosamente o "Xoão".
Caído em desgraça após o regicídio, Franco exilou-se e retornou a Portugal. À data da Revolução de 1910 residia em Sintra, tendo sido preso. Novamente exilado, viveria muito recatado até ao óbito registado em Abril de 1929. Tendo publicado em 1923 "Cartas d'El-Rei D. Carlos I a João Franco" (5ª edição, 1924) foi alvo de manifestações de hostilidade arremessadas de todos os quadrantes: antigos estudantes de Coimbra ligados à Crise Académica de 1907 que se haviam guindado a posições institucionais de relevo, monárquicos que continuavam a responsabilizá-lo pela queda do regime, republicanos que dele faziam bode expiatório do regicídio.
Afinal quem foi este antigo estudante de Coimbra e político liberal?
João Franco nunca foi alvo de um estudo biográfico académico. O seu espólio, doado pelos familiares à Universidade Católica Portuguesa e guardado em Lisboa na Biblioteca João Paulo II, originou em 2005 um programa de comemorações dos 150 anos do nascimento do estadista.
Enquanto não são dados a lume estudos de fundo sobre a vida e obra de João Franco, a internet disponibiliza alguns traços aproximativos:
-"João Franco". Portugal. Dicionário Histórico, http://www.arqunet.pt/dicionario/francojoao.html;
-"Conselheiro João Franco", http://www.ucp.pt/;
-"Governo de João Franco", http://www.iscsp.utl.pt/.
AMNunes


O Reitor da Crise Académica de 1907 (doc. C)
Retrato a óleo do Reitor António dos Santos Viegas (1837-1914), existente na Galeria dos Reitores da UC. Doutorado em Filosofia (1859), Santos Viegas, fora reitor uma primeira vez entre 1890-1892, cumprindo o seu segundo mandato de 17 de Abril de 1906 a 17 de Abril de 1907.
Santos Viegas não conseguiu resolver internamente os conflitos estudantis em erupção a partir da reprovação do candidato a doutoramento em Direito, José Eugénio Dias Ferreira. Com conhecimento do rei D. Carlos, o Primeiro Ministro João Franco considerou a greve uma perigosa manifestação pró-republicana atiçada pelo Partido Republicano, pelo que mandou encerrar provisoriamente a UC e exigiu ao Reitor e ao Conselho de Decanos (formado pelo Reitor e lentes mais antigos de cada uma das Faculdades) a instauração de rigoroso processo disciplinar aos suspostos culpados.
O Comité Revolucionário Académico, de que faziam parte nomes como António Granjo, Diogo Ramada Curto, Alfredo Pimenta e Fernando Bissaia Barreto, não perdoou ao Reitor aquilo que considerou ser um acto de subserviência da UC perante João Franco e o seu Partido Regenerador Liberal.
Como se pode constatar, a acção disciplinar da UC em situação alguma lograva contentar os estudantes:
a) se o Conselho de Decanos procedia à apreciação de situações disciplinares, como aliás era sua legítima competência, os alunos consideravam a UC arcaica e herdeira do Tribunal da Inquisição. Fazendo crer erradamente que o órgão disciplinar era o Foro Académico medieval (extinto pela letra da Carta Constitucional), os estudantes reclamavam que os processos disciplinares fossem entregues à Polícia Cívica e aos Tribunais Comuns;
b) se o Reitor tomava a iniciativa de pedir ajuda ao Governo ou solicitar a intervenção de um corpo de polícia externo à UC, os mesmos estudantes hostilizavam implacavelmente a reitoria, argumentando que a UC era soberana e autónoma, que era inaceitável a polícia civil ou a tropa entrarem no edifício do Paço das Escolas, que o reitor estava a atraiçoar a Academia, ou numa atitude de preconceito e desprezo, que o polícia estava três furos abaixo da condição de caloiro.
O Conselho de Decanos começou por entender que o movimento nascera de forma espontânea, não havendo lugar à identificação e culpabilização de líderes. Mas o suspeitoso João Franco procedera a averiguações paralelas, tendo apresentado ao reitor um rol de cabecilhas, relativamente aos quais o Conselho de Decanos teria de proceder disciplinar e exemplarmente. O acórdão do Conselho de Decanos seria dado a conhecer no dia 01 de Abril de 1907. Nele se proclamava a expulsão de sete alunos.
Considerado um reitor serventuário das exigências e prepotências do odiado Primeiro Ministro, os estudantes viam em Santos Viegas um ancião em processo de degenerescência. Ante tão encapelado horizonte, o Prelado tomou a iniciativa de se demitir do cargo.
Fonte: pormenor do retrato publicado por Manuel Augusto Rodrigues, "A Universidade de Coimbra e os seus Reitores", Coimbra, AUC, 1990, p. 500.
AMNunes

quinta-feira, março 22, 2007

Actuação de as FANS
Ontem actuaram as "Fans" Tuna Feminina de apoio à Briosa que nos encantaram com as suas músicas, das quais se destacam a "Fonte dos Amores" sobre Pedro e Inês, cujo refrão é:

Numa encantada e enfeitada,
Com mil flores
Por Inês e Pedro Amada
Chamaram-lhe:
A fonte dos Amores

Também cantaram o "Vira de Coimbra" em que introduziram uma quadra de apoio à Briosa que é assim:

Ó Coimbra linda Rosa
Que aquece os corações
Vamos levar a Briosa
À liga dos campeões.

Aí vão fotos da actuação,
Rui Lopes

A Solene Investidura do novo Reitor da Universidade de Salamanca



Cortejo académico na USAL (foto 1)


Cortejo académico na USAL (foto 2)



Cortejo académico na USAL (foto 3)

Investidura do reitor da USAL (foto 4)



Investidura do reitor da USAL (foto 5)



Investidura do reitor da USAL (foto 6)



Investidura do reitor da USAL (foto 7)


Investidura do reitor da USAL (foto 8)



Investidura do reitor da USAL (foto 9)

No dia 15 de Março de 2007 foi solenemente empossado no novo Magnífico Reitor da Universidade de Salamanca (USAL), o catedrático de Biologia José Ramón Alonso Peña.
A cerimónia teve lugar no paraninfo das Escolas Maiores, perante o corpo catedrático, funcionários, reitores de outras universidades e vice-reitores convidados, equipa do reitor cessante e Presidente da Junta de Castilla y León. A Universidade de Coimbra fez-se representar por um dos seus vice-reitores.
Investido o novo reitor, tomaram logo de seguida posse os vice-reitores, a secretária geral e demais membros da equipa escolhida por José Alonso. A tomada de posse decorreu segundo os antigos estilos ou cerimonial salmantinense, revelando fortes pontos de convergência com a investidura reitoral conimbricense.
Corrido o sino grande de anúncio dos préstitos, o corpo universitário juntou-se na Aula Salinas do Paço das Escolas. Abriu o cortejo a Charamela com os tocadores vestidos de roupões negros e desbarretados, seguindo-se os Bedéis (maceros), o Mestre de Cerimónias e os Heraldos. Seguidamente alinhou o corpo docente com as respectivas insígnias (Borla/Barrete e Capelo/Muceta), ordenando-se os lentes das Faculdades mais novas na vanguarda e os das mais antigas na rectaguarda: Filosofia e Letras (azul celeste), Ciências (azul escuro), Direito (vermelho), Medicina (Amarelo), Farmácia (roxo), Belas Artes (branco), Economia e Empresas (laranja), Psicologia (violeta-malva), Ciências Sociais (cor-de-laranja) e Tradução e Documentação (azul claro baço).
Após o corpo docente, integraram o cortejo os membros do governo, a equipa de gestão da USAL (administrador, conselho social...), o reitor cessante e o reitor eleito, os convidados de honra do reitor e outros membros da mesa presidencial.
Sentado o corpo universitário por hierarquia de Faculdades e antiguidade dos lentes, bem como os convidados e os membros da mesa da presidência, o reitor cessante leu o dircurso de despedida. Proclamados os autos de cessação e de nomeação, o novo reitor jurou lealdade à Constituição.
Teve então lugar o ritual de investidura propriamente dito. O reitor cessante despojou-se das insígnias reitorais e o reitor eleito despiu as suas insígnias azuis escuras de Doutor em Biologia pela Faculdade de Ciências. Adornado com a Borla e Capelo da sua especialidade científica (Medicina), o reitor cessante investiu o reitor eleito, colocando-lhe na cabeça o barrete reitoral preto, os punhos cor-de-rosa forrados de renda e botões de ouro, a medalha reitoral em ouro-esmalte com cordão de seda preta e trançado de ouro e finalmente o bastão.
Saudado e aclamado o novo Magnífico Reitor, proferiram juramento e foram solenemente empossados os vice-reitores, a secretária geral e restantes membros da equipa reitoral.
Foto 1: charameleiros. Tradição recuperada nos anos mais recentes em Salamanca e na Comptlutense (herdeira de Alcalá). A abertura de cortejos militares e reais por trombeteiros é muito antiga na cultura mediterrânica. Em Portugal, a Casa Real costumava utilizar nos cortejos solenes e entradas régias charameleiros, costume depois implantado na Universidade de Coimbra, em certas câmaras municipais ibéricas e nas entradas dos bispos. Na Grã-Bretanha, a Casa Real ainda utiliza trombeteiros a pé ou a cavalo nas grandes cerimónias. Relativamente a Portugal, excluindo raros momentos solenes em que o Chefe de Estado possa ser precedido de uma fanfarra militar, apenas temos notícia de charameleiros na UC. Os charameleiros (tocadores de instrumentos de sopro e de percussão) podiam desfilar a pé ou a cavalo, envergando via de regra dalmáticas ou trajes militares. Os instrumentos deveriam ser adornados de pendões bordados com as armas nacionais, tradição que ainda prevalece na Grã-Bretanha;
Foto 2: Mestre de Cerimónias com roupão preto, cabeça descoberta (faltando o gorro preto com pluma, aprovado em 1850) e bastão, acompanhado pelos Bedéis (maceros) que transportam maças de prata. Um pouco atrás, seguem os heraldos com maças, dalmáticas vermelhas bordadas a ouro e barretes estilo renascença. Compete ao Mestre de Cerimónias dirigir e articular os vários momentos do cerimonial salmantinense. O Mestre de Cerimónias foi uma figura nuclear da cultura cortesã e palaciana europeia, nos palácios reais, universidades, Vaticano e catedrais. Mesmo nos países mais avessos a cerimónias e protocolo, o Mestre de Cerimónias/Chefe de Protocolo continua a ser uma figura essencial em qualquer Ministério dos Negócios Estrangeiros;
Foto 3: Bedéis (maceros) e Mestre de Cerimónias, com grande plano da vanguarda do cortejo doutoral. As insígnias doutorais em Espanha são comuns em todas as universidades desde 1850: capelo de botões e capuz, na cor científica, podendo o laureado misturar nos botões as cores de outras Faculdades por onde seja doutorado; barrete rígido preto de oito arestas, de tipo advogado, com a copa integralmente coberta pela borla e franjados pendentes na cor científica. As franjas podem ser misturadas, caso o portador seja doutorado por outras ciências; anel doutoral em ouro, trazendo gravado o selo da universidade; medalha doutoral; punhos de renda com fundo na cor da especialidade científica. Existem ainda o Livro da Sabedoria e as Luvas. Os bedéis eram desde a Idade Média funcionários ligados às casas reais, universidades, corte papal, catedrais e câmaras municipais. Desempenhavam funções administrativas e de vigilância de instalações, devendo exibir maças de prata alçadas. Com diversas nomenclaturas, os bedéis ou maceros ainda aparecem na Universidade de Coimbra, universidades inglesas, canadinas e australianas, casa real britânica, algumas catedrais (Braga) e nas grandes solenidades das câmaras municipais espanholas;
Foto 4: o Reitor eleito, José Ramón Alonso Peña, com Borla e Capelo de Biologia (azul escuro), vendo-se no meio Juan Vicente Herrera, Presidente da Junta de Castilla y León, e com insígnias pretas, o Reitor cessante (catedrático de Medicina Enrique Battaner Arias);
Foto 5: o Reitor eleito, José Alonso, ainda com as insígnias doutorais de Biologia, profere juramento ante o crucifixo;
Foto 6: já devidamente revestido com as insígnias doutorais de Medicina, o reitor cessante impõe o barrete doutoral preto ao seu sucessor. Este já enverga a murça preta de veludo e a medalha própria da dignidade reitoral. Nas fotos 6, 7 e 8 nota-se uma espécie de chumaço sob o capelo amarelo do reitor cessante Enrique Battaner. Em geral os doutores espanhóis não gostam de exibir o capuz costal, de feição longa e pontiaguda (cogulla), preferindo escondê-lo entre as costas da beca e o forro do capelo;
Foto 7: o reitor cessante entrega ao novo reitor o Bastão;
Foto 8: troca de abraços entre o reitor cessante e o empossado;
Foto 9: a Universidade de Salamanca e os seus convidados aplaudem o novo Magnífico Reitor José Alonso.
Fontes: todas as fotografias editadas nesta rubrica foram extraídas do site do Gabinete de Protocolo da USAL, com o devido conhecimento do seu chefe. Indicam-se ainda notícias complementares relacionadas com este evento:
-"Herrera asiste a la investidura de José Ramón Alonso como nuevo Rector de la Universidad de Salamanca", http://www.usal.es/gabinete/comunication/noticia.jsp?id=2595;
-"Toma de posesión del Rector José Ramón Alonso Peña. 15 de marzo de 2007", http://www.usal.es/gabinete/protocolo/posesión_Jose_Ramon_Alonso.htm;
-"La Investidura de Alonso", in «De Igual a Igual.net», de 15 de marzo de 2007, http://www.deigualaigual.net/electiones-usal/investidura-alonso-usal-battaner.html;
-"El Presidente de la Junta de Castilla y León asistirá a la investidura de José Ramón Alonso", http://www.i-bejar.com/noticias/salamanca/ampliada.asp?id=2007314185125.
AMNunes

Jorge Gomes, de nome completo Jorge Luís da Costa Gomes, nascido em 19 de Julho de 1941, começou a tocar guitarra aos 15 anos, em Coimbra. Licenciou-se em História. Esta foto do livro Fado Falado, da colecção Um Século de Fado, da Ediclube, saído em 1999, ilustra uma interessante entrevista que o autor Baptista-Bastos, lhe fez. A foto é de José Santos.

Jorge Tuna, de nome completo Jorge Manuel Casqueiro Lopo Tuna, nascido em 1 de Julho de 1937, aqui numa foto a abrir uma interessante entrevista dada a Baptista-Bastos, inserta no livro Fado Falado, da colecção Um Século de Fado, da Ediclube, saído em 1999. A foto é de José Santos. Jorge Tuna começou a tocar guitarra em Coimbra no ano de 1952. Licenciou-se em Medicina.

quarta-feira, março 21, 2007

Espectáculo de Canção de Coimbra e Tunas

Pardalitos do Mondego


Real Fortuna
***
Ontem, na Feira das Engenharias de Coimbra, a decorrer na Praça da República, houve Canção de Coimbra e Tuna. Actuaram o grupo "Pardalitos do Mondego" e a Real Fortuna do Instituto Bissaya Barreto, como podem ver nas fotos.
Os "Pardalitos do Mondego" tiveram Felisberto Queirós na voz, Francisco Viana na Guitarra e Arnaldo Tomás na Viola e interpretaram temas como "Guitarras do meu País", "Balada para um Amor Ausente", "Balada da Distância", entre outros temas. Depois actuou a Real Fortuna.
Hoje, pelas 21 horas, na mesma feira, actua a Tuna Feminina "As Fans", a excelente Tuna Feminina de apoio à nossa eterna Briosa...
Amanhã, actua a Imperial Tertúlia "In Vino Veritas" e na 6 ª Feira a Tuna de Enfermagem de Coimbra.
RUI LOPES



TRÊS IMAGENS DUM PAINEL QUE EXECUTEI PARA UMA URBANIZAÇÃO EM VALE DE PARRA (ALBUFEIRA).
O SOL "AFIMFA-SE " NUMA DOCE SERENATA ÀS AREIAS QUENTES E HÚMIDAS DESTE DOCE ALGARVE ( SÓ COM UM L) AZUL.
José Maria Oliveira

terça-feira, março 20, 2007

Texto sobre José Afonso no Diário as Beiras de hoje, da autoria de João Boavida.

A Orquestra Clássica do Centro e o plano de algumas das suas actuações durante este ano, dirigidas pelo seu maestro, Virgílio Caseiro.

segunda-feira, março 19, 2007

Imagens Republicanas da Crise Académica de 1907


Os processos disciplinares de 1907 (Doc. A)Posted by Picasa
A adesão à Greve Académica de 1907, o boicote às aulas e aos actos (=exames), as supeitas de falta de respeito aos lentes de Direito e Teologia, a inquietação causada pela crescente agitação do movimento republicano, a desobediência dos estudantes aos pais que propositadamente se deslocaram a Coimbra, estiveram na origem de um complicado processo disciplinar imposto à UC pelo 1º Ministro João Franco, mediante o qual o Conselho de Decanos apreciou 9 processos, isentando 2 alunos e mandando expulsar 7 (Acórdão Disciplinar de 1 de Abril de 1907).
A intervenção do governo de João Franco que mandou encerrar a UC (2/03/1907), a aplicação interna de processos disciplinares (os estudantes liberais e republicanos consideravam a expulsão equivalente à pena de morte), as pressões feitas pelos pais de família para que os filhos regressassem às aulas, a ordem de reabertura governamental das aulas em 08/04/1907, os cordões policiais que cercaram a UC em Abril-Maio com grande aparato, motivaram violentas campanhas de imprensa contra o governo monárquico e a velha UC.
Esta caricatura, da autoria de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, reflecte bem o ambiente crispado que então se viveu. Com o título de "Os crimes da Universidade", e o subtítulo "As vítimas", o autor denuncia os sete processos disciplinares abusivamente aplicados aos estudantes. Os alunos alvo de processos são apresentados não como insurrectos mas como inocentes vítimas do autoritarismo e das arbitrariedades da UC e do seu Regulamento Disciplinar Interno. A instituição é vista como um castelo medieval sinistro, à luz de um entendimento que concebia a Idade Média como um período de "trevas".
Até 1910, quando os comportamentos académicos justificavam processos disciplinares, o Conselho de Decanos via-se fatalmente acusado de estar a perpetrar arbitrariedades impróprias de uma universidade civilizada, pois tanto a legislação como as penas aplicáveis seriam tributárias do Foro Académico. Tratava-se de uma confusão muito oportuna e de pronta conveniência, pois o Foro Académico fora extinto definitivamente em 1834, pelo que os processos disciplinares aplicados ao longo do Liberalismo resultavam unicamente do "Regulamento Interno" da UC e não de qualquer imaginário "foro" medieval.
Fonte: "História da República", Lisboa, Editorial O Século, 1960, imagem anexa à p. 292.
AMNunes


Greve Académica de 1907 (Doc. B) Posted by Picasa
Caricatura de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, de sátira à posição assumida pela Faculdade de Direito da UC na origem e decurso da Greve Académica de 1907 (27/02/1907-26/08/1907). O autor convoca elementos de carga negativa como o R (reprovação), a fava preta (voto negativo), a Justiça decapitada, as sebentas (ensino anti-pedagógico) e um lente de Direito em Hábito Talar, e Borla e Capelo, com orelhas de burro e ares de jesuíta (sotaina, calção e meia alta, sapato de fivela, lenço de rapé).
A vestimentária arcaica, a associação Capelo=albarda, bem como os ares clericais da figura, pretendem denunciar o monolitismo cultural da UC e as ligações suspeitas que continuava a manter com a monarquia e os preceitos do Concílio de Trento. Descontando os exageros próprios da época, a caricatura de Manuel Gustavo evidencia o choque inconciliável entre a visão confessional da UC e as exigências laicizadoras do ensino que se encapelavam no horizonte.
Fonte: "História da República", Lisboa, Editorial O Século, 1960, imagem anexa à p. 282.
AMNunes


O chumbo de José Dias Ferreira (Doc. C)Posted by Picasa
Caricatura de Francisco Valença, alusiva à reprovação com que a Faculdade de Direito da UC fulminou o candidato a provas de doutoramento José Eugénio Dias Ferreira nos dias 27 e 28 de Fevereiro de 1907.
Sendo o candidato assumidamente republicano, constou de vésperas em círculos académicos restritos que o júri se preparava para chumbar Dias Ferreira com favas pretas. Asssim veio a acontecer, com grande escândalo da Academia, do Partido Republicano e da imprensa afecta aos ideais republicanos. A arbitrariedade administrativa dos lentes da Faculdade de Direito foi interpretada como símbolo de obscurantismo, e atentado à liberdade de pensamento, qual reflexo de conivência entre a UC e a Monarquia/Governo de João Franco.
Seguiu-se uma greve que rapidamente alastrou ao ensino superior de Lisboa e Porto, grandemente secundada no ensino liceal, com João Franco a ordenar o encerramento da UC em 2 de Março, e o Conselho de Decanos da UC a expulsar 7 alunos. Encerradas as aulas e cercada a UC por um contingente militar, os meses de Março e de Abril foram alvo de extensos relatos de imprensa. A ordem do dia nas Cortes não deixou de reflectir os incidentes conimbricenses.
A caricatura de Valença assume um tom de denúncia, propondo o candidato reprovado a varrer para a barrica do lixo os lentes prepotentes. Uma vez mais, e de acordo com as representações culturais republicanas, a Borla (=barrete) doutoral é comparada ao "apagador do senso comum" ou vassoura que atrofia o conhecimento.
O chumbo de Dias Ferreira constituíu um acto de prepotência e arbitrariedade administrativa por parte dos três lentes de Direito que massacraram o candidado. Alunos de diversas sensibilidades que assistiram aos dois dias de examinações, foram unânimes em considerar o procedimento dos jurados como um autêntico linchamento. Ao apresentar-se a provas de doutoramento, Dias Ferreira não explicitou se tinha em mente candidatar-se a uma futura vaga no corpo docente da Faculdade de Direito. O facto é que os lentes examinadores não estavam dispostos a admitir tal possibilidade e trataram de o chumbar.
A Crise de 1907 não foi iniciada pelo Partido Republicano, mas o ideário republicano acabou por moldar o curso dos protestos, tendo precipitado para as hostes republicanas inúmeros jovens indecisos. Muitos republicanos prestes a conquistarem o poder viam em Teófilo Braga um patriarca espiritual e Teófilo tinha por hábito lembrar frequentemente aos seus admiradores que a Faculdade de Direito o tinha repelido da cátedra em 1871.
A Crise Académica de 1907 atinguiu proporções nacionais, tendo afectado o ensino superior e liceal. A inabilidade do 1º Ministro João Franco para compreender os protestos juvenis fez precipitar o endurecimento das manifestações oposicionistas, a poda à liberdade de imprensa e o regicídio. Alguns estudantes de Coimbra da ala radical do Partido Republicano e outros afectos ao pensamento anarquista mantinham ligações com a Carbonária. De 1907 para 1908 deslocaram-se com frequência a Lisboa, tendo participado nos preparativos do regicídio e os que ainda permaneciam na UC à data da Revolução de 05 de Outubro de 1910 constituiram a Falange Demagógica. Os falangistas, inspirados na Tomada da Bastilha e na decapitação de Luís XVI, assaltaram o Paço das Escolas em 17/10/1910 deixando atrás de si um rasto de destruição. O lente Teixeira de Abreu, que fora Ministro da Justiça do Governo de João Franco durante a Greve Académica de 1907, escapou de ser executado pelos falangistas nesse dia 17.
A Crise Académica de 1907 teve dimensão nacional, afectou a velha UC e o os alicerces da Monarquia Constitucional. Precipitou o assassinato do Rei D. Carlos I e a queda da 1º Ministro João Franco. Fez engrossar a militânicia republicana e apressou a Revolução de 1910. Esteve em grande parte na origem das profundas reformas levadas a cabo na UC em 1910-11, como a abolição dos cerimoniais católicos, a extinção da Fac. de Teologia, a criação da Fac. de Letras, a fundação de novas universidades em Lisboa e no Porto, a abertura de uma Fac. de Direito em Lisboa e a abolição da obrigatoriedade do porte diário de uniforme escolar.
Em muitos aspectos, a Crise Académica de 1907, cujo 1º centenário se relembra (apesar de injustamente esquecida nos meios estudantis conimbricenses), foi mais importante do que a Crise Académica de 1969.
Fonte: "História da República", Lisboa, Editorial O Século, 1960, imagem anexa à p. 270. Estas três imagens já tinham sido editadas no Blog em 28/09/2006.
AMNunes

Biografia de Afonso de Sousa inserta no livro "O Fado e as Toiradas - Portugal".

Biografia de Roseiro Boavida, inserta no livro "O Fado e as Toiradas - Portugal".


"Revolta Académica de 1907 recordada"
Aspecto da mesa que no dia 02 de Março de 2007 teve lugar na Casa Museu Bernardino Machado, Vila Nova de Famalicão. O Doutor Norberto Cunha, investigador e docente da Universidade do Minho, discorreu sobre o tema "A Revolta Académica de 1907". Esteve também presente um neto de Bernardino Machado, Prof. Manuel Sá Marques. Em ambiente ameno, a conversa ultrapassou a meia noite... segue-se o relato da segunda conferência.

I - Revolta Académica de 1907 recordada
A Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, através do Museu Bernardino Machado, está a preparar a organização de uma exposição documental e fotográfica comemorativa do centenário da revolta académica de 1907. A mostra que será inaugurada no âmbito das celebrações do 25 de Abril, reúne um conjunto de documentos, alguns inéditos, como cartas, fotografias e postais alusivos a este episódio da sociedade portuguesa, para além de uma cronologia explicativa do despoletar dos diversos acontecimentos.
A revolta de 1907 ficou na história como a maior crise académica de sempre em Portugal, tendo mesmo paralisado por completo o país, durante vários dias. Um dos protagonistas desta revolta foi precisamente o antigo presidente da República, Bernardino Machado, que durante este período, se colocou ao lado dos estudantes, tendo pedido mesmo a demissão do cargo de docente na Universidade de Coimbra.
Refira-se que a Revolta de 1907 foi também o tema da última conferência do ciclo “As Lutas Académicas e Estudantis: Do Liberalismo ao Estado Novo”, que decorreu no Museu Bernardino Machado, na semana passada. O debate que teve como oradores convidados, o Coordenador Científico do Museu Bernardino Machado, Norberto Cunha e Manuel Sá Marques, neto do Bernardino Machado, centrou-se não só nos acontecimentos que levaram à organização do maior movimento estudantil da história nacional, mas principalmente no papel interventivo de Bernardino Machado.Depois de fazer uma breve exposição dos factos ocorridos em 1907, Norberto Cunha salientou que “a politização desta revolta a académica era inevitável e o que inicialmente era difuso foi adquirindo contornos de disputa política”. Ao contrário do que João Franco pensava, por detrás desta revolta estava presente um mal-estar generalizado sobre a qualidade do ensino, que vai converter-se numa antipatia contra a monarquia e numa aproximação dos estudantes e da opinião pública pelos ideais republicanos. Assim, segundo o coordenador científico do Bernardino Machado, “a greve académica de 1907 acelerou a queda da monarquia, ao obrigar ao encerramento das Cortes e, desta forma antecipar a ditadura de João Franco”.Norberto Cunha acentuou ainda que “havia fundamentos políticos na greve, e as propostas pedagógicas dos estudantes veiculavam princípios políticos”. O responsável chamou ainda a atenção para a participação e o envolvimento do antigo presidente da Republica, Bernardino Machado, ao tempo docente da Universidade de Coimbra, nesta revolta académica. “Bernardino Machado demite-se da cátedra, solidarizando-se com os estudantes”, salientou Norberto Cunha, explicando que “as ideias pedagógicas e as propostas de reforma defendidas pelos estudantes, eram as mesmas que já tinham sido apresentadas por ele na oração de sapiência que proferiu na abertura do ano académico 1905-1906, e que estão reproduzidas no opúsculo “A Universidade e a Nação”.A crise académica terminou com a intervenção régia em 14 de Julho, com o indulto dos estudantes expulsos e de todos os outros que participaram nesta revolta.
[foto e texto retirados do site da CMVNF, httpp://www.cm.vnfamalicao.pt/]
==/==
II - Programa Evocativo da Crise Académica de 1907
"Lutas Académicas e Estudantis: do Liberalismo ao Estado Novo"
-02/02/2007: "1890-1891: Republicanismo radical e movimentos estudantis", pelo Prof. Doutor Sérgio Campos Matos
-02/03/2007: "A Revolta Académica de 1907", pelo Prof. Doutor Norberto Cunha
-27/04/2007: "A Falange Demagógica", por António Manuel Nunes
-11/05/2007: "1919: um ano de conflitos na Universidade de Coimbra", pela Prof. Doutora Maria Cândida Proença
-01/06/2007: "Republicanos, Monárquicos e Lutas Académicas (1920-1926)", pelo Prof. Doutor Ernesto Castro Leal
[calendarização conforme os dados gentilmente fornecidos pela Dra. Paula Lamego, da Casa Museu Bernardino Machado]
AMNunes

domingo, março 18, 2007

José Afonso no jornal Centro de 7-3-2007, com texto de Mário Martins. Não sei quem transcreveu a música, mas constato que não está totalmente correcta. Não se percebem os compassos e a letra não coincide com a melodia!


Reedição da Colectânea de José Afonso - o melhor da sua obra. Saíu a 17 de Fevereiro. Ninguém lhe pode ficar indiferente.
No caderno que acompanha os dois CDs, podem ler-se, além de uma resumida biografia, textos de João de Freitas Branco, Óscar Lopes, Manuel Louzã Henriques, Fernando Assis Pacheco, Bernardo Santareno e Urbano Tavares Rodrigues. Ainda se encontram transcritas as letras de todas as canções.

Alguns chapéus de estudantes
A "Cap and gown", oriunda das universidades clássicas britânicas popularizou-se nos estabelecimentos de ensino superior tributários da cultura anglo-saxónica como o Canadá, EUA, África do Sul ou Austrália.
A instauração da sociedade de consumo nos EUA no decurso da década de 1920 e a crescente massificação do ensino secundário e primário estiveram na base da apropriação do traje académico como mercadoria desterritorializada e banal bem de consumo. Docentes, educadoras de infância, empresas de pronto-a-vestir e de organização de eventos sociais, passaram a realizar decalques da "Graduation Ceremony" nos anos terminais dos liceus (High School Graduation), Preschool (pré-escola), Kindergarden (infantários) e regime de Homeschool (ensino domiciliário).
A parafrenália mediática e consumista repete-se de infantário para infantário e de primária para primária: discursos, fotografias, pais e amigos, banquetes, trajes, peluches, diplomas revivalistas. Algumas empresas disponíveis na internet afirmam a sua capacidade para abastecer este tipo de eventos nos EUA, México, Canadá, Austrália ou Japão.
Para o caso português não temos notícias de eventos semelhantes aos descritos. Sabe-se que nos jardins de infância e escolas de primeiro ciclo (antigas primárias) do Distrito do Porto, por directa influência das festividades anuais da Universidade do Porto, há nas salas dos cinco anos dos infantários e nas turmas dos quartos anos do Primeiro Ciclo do Ensino Básico crescente propensão para a festa dos finalistas com capas pretas de licra, cartolas e bengalas cor-de-rosa, entrega de diplomas enrolados de estilo revivalista, sarau em salão paroquial ou de bombeiros, filmagens, e até eventual missa na igreja paroquial (translado da missa da Benção das Pastas dos estudantes católicos para o 4º ano da primária).
A invenção e crescente solenização de tais "tradições" parece constituir uma réplica portuguesa às norte-americanas festas de finalistas dos infantários e escolas de primeiro ciclo em tempos de globalização. Nesta suave e aparentemente divertida ritualização do fingir ser "doutor" avant la lettre, assiste-se à consagração de "insígnias" kitsh que, no caso coinimbricense, não são traje ou chapéu de estudante mas antes costume de fantasia de quintanistas que terminam os respectivos cursos.
Fonte: Jostens, http://www.jostens.com/graduation.home.asp; para a Austrália, veja-se Rhyme, http://www.rhymeuniversity.net/.
AMNunes


Alguns chapéus de estudantes
Grande parte dos estabelecimentos de ensino secundário norte-americanos (High School) apropriou-se dos rituais e trajes universitários anglo-saxónicos para canalizar em benefício próprio mega-festas de graduação dos finalistas (Graduation Ceremony), festas essas que mobilizam pais, alunos, docentes, fotógrafos, técnicos de filmagens, vasta produção de souvenirs como lenços, anéis, postais, gravatas, empresas gastronómicas...
Em geral são eventos realizados em grandes estádios e pavilhões desportivos, como acontece nesta "High School Graduation" em Port Huron Northen High School, Estado do Michigan. Em Portugal não se conhece nada de parecido, a não ser as mega-missas de Benção das Pastas que nas cidades de Lisboa e Porto enchem estádios de futebol. Porém, a comparação não nos parece legítima porque a CARTOLA não é em Portugal um chapéu estudantil e a Missa da Benção das Pastas dos alunos que terminam os cursos superiores também não é nem nunca foi nas universidades e politécnicos uma cerimónia intra-oficial de gradução de bacharéis ou de licenciados.
A "Cap and Gown" não é um traje escolar usado de ordinário pelos estudantes liceais norte-americanos. Fabricada em série por empresas de pronto-a-vesti, a maior parte das vezes em tecidos baratos e com fecho éclair, é especificamente comprada para as colossais festas dos finalistas que gostam de ser fotografados com familares e amigos.
AMNunes

Alguns chapéus de estudantes
"CAP" ou "MORTARBOARD" é um barrete académico e clerical oriundo da Grã-Bretanha, em forma de calote sobrepujada por uma copa de pala quadrangular, de cujo centro nasce uma borla que descai em franja como no Fez. É tradicionalmente usado por reitores, lentes, estudantes e bispos anglicanos em mandato na Câmara dos Lordes.
A partir de velhas universidades como Oxford e Cambridge, a Cap migrou para as universidades da África do Sul, Canadá, EUA e Austrália, para apenas exemplificarmos algumas situações de deslocalização tributárias da cultura britânica.
Nas universidades norte-americanas, a toga académica (gown) não é um traje de uso corrente durante os anos de realização dos cursos. A toga e o barrete costumam ser comprados expressamente para as mega-festas de entrega dos diplomas de fim de curso, com outros acessórios como o anel.
A massificação das universidades norte-americanas, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, originou o aparecimento de empresas especializadas na organização da "Graduation Ceremony", empresas essas que marcam as datas, arrendam estádios e pavilhões desportivos, disponibilizam equipas de fotógrafos e de filmagens, vendem peluches, anéis, impressos e diplomas, álbuns fotográficos e borlas de diversas cores para aplicação nas copas dos barretes.
De forma bem mais moderada, a "Graduation Ceremony" também ocorre nos estabelecimentos de ensino superior do Canadá, Austrália ou Grã-Bretanha (aqui como investidura ritualizada), com tendência visível para ser adoptada em países europeus, latino-americanos e asiáticos.
De olhos postos no paradigma universitário, a "Graduation" à americana estendeu-se aos liceus e aos infantários.
A fotografia seleccionada documenta o estudante norte-americano Linus Pauling, no dia da sua graduação pelo Oregan Agricultural College (1922).
Com o abolicionismo republicano vivido em Outubro de 1910 e anos subsquentes, a Universidade de Coimbra deixou cair no esquecimento as antigas cerimónias de investidura dos seus bacharéis e licenciados, apenas subsistindo a Imposição de Insígnias de Doutores e as laureas Honoris Causa. Para estes graus existiam na Alma Mater Studiorum Conimbrigensis insígnias distintas das doutorais bem como cerimonial próprio.
Ao longo do século XX sempre se levantaram vozes isoladas em Coimbra, lamentando justamente a perda das Imposições de Insígnias correlativas aos actos de bacharel e de licenciado, reclamação que se ouvia na década de 1980 na boca de lentes mais conhecedores do velho Universitatis Splendor. Não há dúvida nenhuma que estes rituais persistiram nas instituições britânicas, mormente no oxfordiano Encaenia, e após anos de esquecimento voltaram a ser retomados na Alma Mater Salmantinensis em 13 de Maio de 2000 (Graduationes de Alumnos). Universidades fundadas nos séculos XIX e XX nos EUA, na Guatemala, Canadá ou Austrália, implementam "graduations".
É certo que na UC os estudantes dos anos terminais realizam espontaneamente eventos como a récita de despedida, a missa católica com benção de pastas e consagração de quintanistas, o desfile de cartolados no cortejo anual da Queima das Fitas, mas nenhuma destas iniciativas configura uma cerimónia oficial da própria universidade consagrada no seu Cerimonial interno.
Em conjuntura de candidatura da UC a património da Unesco, e quando por todo o lado se consagram os graus de licenciado e de mestre conformes ao "Processo de Bolonha", não faz mal recomendar à UC que, à semelhança do que tem vindo a fazer a sua congénere salmantina, pondere na revitalização modernizada do seu velho cerimonial.
AMNunes


Alguns chapéus de estudantes
Chapéu e traje adoptados pelos estudantes do Instituto Politécnico de Tomar: calça comprida, dólmen de corte militar (embora no site se escreva "clerical"), ornamentado com quatro alamares e mangas de três botões diagonais na cor científica, capa, chapéu de feltro dito "marzantino" (sic) e camisa branca de colarinho chão.
Admitimos que "marzantino" se trate de uma gralha do site, pois este modelo de chapéu constitui simples variante do antigo chapéu da Escola Agrária de Coimbra (ver foto no Blog, edição de 12/03/2007), do chapéu de equitação à portuguesa e do modelo espanhol andaluz conhecido por "mazzanatini".
Uma versão matricial mais remota deste chapéu catapulta-nos para o século XVII. Ei-lo, com aba rígida plana, cinta de fivela e copa em formato de cone interrompido:
-no retrato do Rei Charles I, por Anthony Van Dyck (ca. 1635);
-em telas de Rembrandt: "Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp" (1632), "Ronda Nocturna" e particularmente "Síndicos da Guilda de Clothmaker's" (1662): http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/rembrandt/;
-diversos trabalhos de Franz Hals, nomeadamente "Casal do Jardim", "Archeiros de Santo Adriano" (1633), "Companhia Meagre" ou "Família no Campo", http://en.wikipedia.org/wiki/Frans-Hals;
- da mesma raiz promanam os antigos chapéus do traje de gala dos oficiais da UC e os de Presidente e Vereador da Câmara Municipal de Coimbra (versão aba dobrada com presilha e plumas brancas), de que há belíssimas e completas fotografias nos "Anais do Município de Coimbra", Volume 5, anos de 1890-1903. Uma dessas imagens documenta o lente de Direito da UC, Doutor António Luís de Sousa Seco, em Grande Uniforme de vereador, com vara, traje de calção, jaqueta, sapato de fivela, espada, vara dourada de edil, gravata de dois bofes, capa e chapéu emplumado de aba revirada, apenas fenecendo a este notável conjunto a faixa peitoral.
Salvo opinião mais autorizada, o chapéu dito à "mazzanatini", aponta para um modelo distinto da raiz invocada pelos estudantes do Instituto Politécnico de Tomar. Como tal, pode identificar-se com o chapéu de equitação andaluz, com o famoso chapéu à "Zorro", também conhecido e usado no México, e com o chapele de feltro dos Juízes portugueses (ver fotos dos Juízes Conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça e do Juiz Carlos Pinto Osório, Blog, edições de 04/11/2006).
A fotografia ilustra uma digressão da Tuna Templária à cidade de Ponta Delgada. O site desta tuna dá conta de uma versão feminina do referido traje, com casaco mais curto e saia.
Fonte: "Tuna Templária", http://www.tunatemplaria.ipt.pt/.
AMNunes


Alguns chapéus de estudantes
Chapéu preto de feltro e aba larga oficialmente adoptado pelos estudantes na Universidade da Beira Interior/Covilhã.
A fotografia documenta um desfile da DESERTUNA/Tuna Académica da Universidade da Beira Interior (fundada em 2002) no Cortejo de Carnaval de Arganil de 28 de Fevereiro de 2006.
O conjunto vestimentário parece remontar à década de 1990, baseado nos trajes burgueses de finais de oitocentos/inícios de novecentos. Existe uma versão feminina deste traje, com casaquinha preta e saia comprida inspirada nos anos 1916-1920.
Em 2003 tivémos oportunidade de observar um traje muito semelhante ao registado na foto em estudantes do Instituto Politécnico de Viseu (o que nos leva a dizer que foram inventados nas décadas de 1980-1990 bastantes mais trajes para academias e tunas do que realmente se poderia supor).
Fonte: "Desertuna", http://www.desertuna.com/mostra_noticia.php?not=86-16k.
AMNunes


Alguns chapéus de estudantes
O tricórnio/tricorne é uma cobertura de cabeça, característica do século XVIII, com a copa em forma de calote e abas reviradas, a rematar em três arestas alteadas. Podia ser ornamentado com plumas e fitilhos e o rebordo era debruado com galões de prata, ouro ou virola de tecido rico.
Chapéu a um tempo civil, nobiliárquico e militar, o tricórnio esteve intimamente associado às vivências barrocas e à mais variegada gama de perucas que a Europa e seus territórios coloniais conheceram. É considerado peça obrigatória do traje de gala do Cavaleiro Tauromáquico português.
Em Coimbra, o tricórnio nunca foi chapéu estudantil, embora fosse usado pelo Meirinho, Guarda-Mor das Escolas (que também era o Porteiro) e Corpo de Archeiros, costume que se prolongou até às reformas vestimentárias de 1834. Enquanto cobertura de cabeça de archeiro, o tricórnio era correntemente designado por chapéu de "verdeal".
Percurso diferente do conimbricense conheceu o tricórnio em Salamanca e noutras universidades espanholas como Alcalá, Valladolid e Zaragoza, onde foi considerado chapéu próprio de estudantes "decentes" e "honrados" na recta final do século XVIII. Os normativos régios não o conseguiram fazer vingar na viragem para o oitocentismo liberal e abolicionista. Nas décadas que se seguiram à Revolução Francesa de 1789, Invasões Napoleónicas, Guerra Peninsular, Revoluções Liberais, e emergência das primeiras "estudantinas de carnaval", os estudantes espanhóis não deixaram de manifestar a sua referência pelo bicórnio.
No século XVIII, o tricórnio foi cobertura de cabeça dos estudantes católicos do Colégio de Mateus, situado em Roma.
O velho chapéu de setecentos, que o imaginário infantil associa às aventuras dos piratas, reapareceria nos meios académicos portugueses em 1989 pela mão da Associação Académica da UM e estudantes da Universidade do Minho (Braga/Guimarães, ver imagens editadas no Blog em 12/03/2007).
Na falta de uma fotografia de qualidade, optámos por ilustrar o tricórnio com base numa imagem de pensionistas do Royal Hospital Chelsea, datada de 2004, colhida no endereço TRICORNE, http://en.wikipedia.org/wiki/Tricorne.
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