sábado, agosto 06, 2005

Bloco de Notas (18)

1982 ... No dia 20 de Fevereiro acompanhei Armando Marta pela primeira vez em público. Foi perto do Cacém, na "Quinta do Pinheiro", a convite dos bancários do Banco Borges e Irmão. Acompanhou-me António Sérgio. Toquei "Dor na planície" que foi muito aplaudida, o que me surpreendeu. Armando Marta terminou com uma peça dele chamada "Descobridores".
A 19 de Março actuei em Almada, na Academia Almadense, com José Afonso, Armando Marta, Durval Moreirinhas e António Sérgio. O Zeca cantou as três peças do costume e eu toquei "Dor na planície", com António Sérgio. Foi muito apreciada esta peça. Armando Marta cantou a sua "Grândola de novo". Fiz-lhe um acompanhamento bastante original.
A 25 de Março fui tocar ao Restaurante Algarve, no terminal do Rossio. Foram Armando Luís de Carvalho Homem, Durval Moreirinhas, António Bernardino e António Sérgio. Toquei o "Entreacto" que me saiu pessimamente, pois já não o tocava há bastante tempo. Serviu-me de lição. Seguidamente toquei "Dor na planície" e "Flores em Abril" que não correram mal. Entraram depois Berna e Durval na execução de baladas. Finalizámos todos com Fados e Guitarradas de Coimbra. Toquei o meu Lá menor, o Lá maior de António das Águas e o Lá menor do Bagão. Já depois da actuação e de pé junto à mesa dos jornalistas, tocámos para estes, sem microfone, a "Desfolhada" e a "Rapsódia nº 2" de Artur Paredes, e a minha "Dança", esta acompanhada por António Sérgio. Mas continua a ser o Lá maior de António das Águas a peça que mais empolga o público. É muito mexida e popular, o pessoal adere logo!
Acabei hoje, dia 13 de Abril, as "Variações sobre o tom de Sol maior" que tinha começado no início das férias. São em estilo clássico de Coimbra. Estou a gostar delas. Fi-las com a intenção de as levar este ano ao Seminário sobre o Fado de Coimbra, nesta cidade.
Quero destacar uma actuação no dia 25 de Abril, em Santarém, a um convívio de Oficiais, integrado nas comemorações daquela data. Actuaram além de outros, Fanha, Vitorino, Carlos Paredes, Ari dos Santos, António Portugal com Luís Filipe e António Bernardino, Natália Correia e Manuel Alegre. Fui com Armando Marta e António Sérgio. Marta cantou uma canção dele e eu toquei "Dor na planície". No final Carlos Paredes veio dizer-me que eu e o meu filho fazíamos um belo conjunto. Os meus filhos Cristina e Mauro foram pedir autógrafos a Carlos Paredes. A Cristina disse-lhe que o pai também, tocava guitarra e ele perguntou-lhe quem era o pai. Depois de identificado, Carlos Paredes disse-lhe que me conhecia e que tocava muito bem! Estava lá Vasco Gonçalves a quem vi aplaudir a nossa actuação com entusiasmo.
As actuações vão-se sucedendo: Reitoria da Universidade de Lisboa, Sines, Vila Moura, etc.
A guitarra de Gilberto Grácio que comprei no final do mês de Maio está a dar-me problemas, pois partem-se muito as cordas. Deve ser de ter o cavalete demasiado alto!
No dia 17 de Junho fui às Caldas da Raínha com José Afonso em apoio dos grevistas da fome do PRP. Toquei "Nas Linhas de Torres" e "Dor na planície". O Zeca cantou quatro fados e, seguidamente, eu e o meu filho António Sérgio acompanhámos Júlio Pereira em dois números de cavaquinho.
Tive que cancelar um convite de José Niza para actuar com Machado Soares num espectáculo político, e ainda cancelei outro com José Afonso na Amadora, pois vou para a Áustria com António Bernardino e Durval Moreirinhas.
Estamos em finais de Junho, rumo à Áustria, escala Zurich, e depois Insbruck, agora em táxi aéreo, um avião de 18 lugares a abanar por todos os lados. O Durval está branco, sem saber se escapa desta. A turbulência é muita. Vamos só cinco pessoas pois muitos passageiros recusaram-se a embarcar, dadas as condições péssimas do tempo. O avião vai entre montanhas e já se avista o aeroporto e ambulâncias a circularem nele para o caso de alguma aterragem mal sucedida.
Chegámos sem problemas. Vamos actuar a 29, último dia da estadia. Estamos numa estância de inverno, Albach, rodeada de montanhas cobertas de neve. O tempo está bom, embora de vez em quando haja chuviscos.
O espectáculo correu muito bem. Começámos com um indicativo, depois "Toada Beirã", "Balada Açoreana", "Andorinhas", "Chula do Minho", "Serra d'Arga", "Partir", "Avenida de Angola", "Lá maior" de António das Águas, "Balada do Outono", "Saudades de Coimbra", "Coimbra", "Balada de Coimbra" e, como extra, "Lutaremos". As peças mais aplaudidas foram "Partir" e o inevitável "Lá maior" de António das Águas.
No dia 7 de Julho fui à televisão do Porto actuar no programa "Cantos e Contos de Coimbra", do 2º canal, com Armando Luís de Carvalho Homem e António Sérgio. Foi um programa em directo. Fizemos a 2ª parte com 20 minutos aproximadamente. Começámos com "Dor na planície" e "Nas Linhas de Torres"; seguiu-se uma pequena entrevista com Sansão Coelho e acabámos com "Variações sobre o tom de Lá" e "Fantasia - A Espanhola".
Há dias, numa actuação na Mobil, conheci Fontes Rocha, guitarrista fabuloso de guitarra de Lisboa.
Tive algumas actuações no Casino Estoril e um convite para ir a Vilar de Mouros com José Afonso e Machado Soares, mas não concretizado, pois não aceitaram as condições do Zeca.
Dia 4 de Agosto voltei ao 2º canal da televisão noutro programa "Cantos e Contos de Coimbra", com Durval Moreirinhas e Sutil Roque. Toquei o "Lá maior" de António das Águas e Sutil Roque cantou "Fado dos Olhos Claros", "Incerteza" e "Santa Clara".
Sempre fui a Vilar de Mouros no dia 8 de Agosto, mas com Machado Soares, Adriano Correia de Oliveira e Gomes Alves, juntamente com Durval Moreirinhas e António Sérgio. A anteceder a nossa actuação, esteve Travadinha, violinista cabo-verdiano e Cidália Moreira. Esta mal se conseguia ouvir, dado o ambiente de contestação que se criou à volta do Fado. Estavam a preparar-se para nos fazer o mesmo. Resolvi abrir com o meu ex-libris dos espectáculos com José Afonso: "Dor na planície", acompanhada por António Sérgio. Houve acalmia geral e até fomos fortemente aplaudidos. Apareceu depois Adriano e então foi o silêncio absoluto. Acabou por ser um espectáculo muito agradável. Estavam em palco três belíssimas vozes. Adriano e Gomes Alves foram acompanhados de improviso, pois fui lá só para acompanhar Machado Soares. Gomes Alves cantou um Fado seu de muito interesse e com aquela linda voz que, infelizmente, pouca gente conhece.

quarta-feira, agosto 03, 2005

7 Notáveis Antigos Orfeonistas - Caricaturas de Virgílio Caseiro









terça-feira, agosto 02, 2005

”Fado (O) de Coimbra” na Academia do Porto *

Armando Luís de Carvalho HOMEM

Não é coisa rara ver associada a prática do Canto e da Guitarra de Coimbra no seio da Academia portuense exclusivamente ao mais antigo dos Organismos estudantis: o Orfeão Universitário do Porto (OUP; fundado como Orfeão Académico do Porto em 1912; existente com muitas soluções de continuidade até aos anos 30; tentativas de reorganização a partir de 1937, com a designação transitória de Orfeão Académico da Universidade do Porto; reorganização ‘definitiva’ em 1942, ano a que também remonta a actual designação; de 1937 a 1967 teve como regente o maestro Afonso Valentim [da Costa Pinto, 1897-1974]). Que este, pela sua longa existência, pelo facto de dispor, quase sempre, de um grupo de fados, tem um lugar importante nesta sucessão de estórias é um facto; lugar importante: disse e repito; mas de modo algum lugar único.
Datar a origem do processo é algo que só uma pesquisa aturada (nos matutinos da Cidade, numa publicação como O Porto Académico [anos 30/40/ 50], nos fundos da Biblioteca Pública Municipal [BPMP] que incluam programas de espectáculos, no que possa existir de arquivos sonoros dos antigos Emissores do Norte Reunidos [ENR], etc.) poderá estabelecer. Mas creio que, no essencial, ele remonta aos anos 30, com pontuais antecedentes na década anterior. E ao processo não foi de modo algum estranha a ida para o Porto de estudantes de Engenharia com antecedentes em Coimbra (cursados os «Preparatórios» na Faculdade de Ciências) e que agora rumavam à Invicta a concluir a licenciatura.
De qualquer modo, os nomes mais antigos que conheço são exteriores à Universidade: trata-se de estudantes dos então Institutos Industrial e Comercial (dos actuais Institutos Superiores de Engenharia e de Contabilidade e Administração / Instituto Politécnico do Porto), em finais dos anos 30 / princípios dos anos 40; aí referencio nomes como os dos guitarristas:

o Alexandre Brandão (1909-2004): Executante notável, bom intérprete de Artur Paredes (a quem chegou a conhecer), manteve nos anos 40 um «trio Brandão» (que incluía o também guitarrista Lauro de Oliveira e o viola José Severino), actuando regularmente nos então ENR. Era detentor de uma colecção notável de discos de gramofone, incluindo gravações próprias e algumas gravações de Artur Paredes / Carlos Paredes / Arménio Silva (programa Guitarradas de Coimbra, Emissora Nacional [Lisboa], anos 40). Nas décadas de 50, de 60 e de 70 vários foram os guitarristas do OUP que beneficiaram do seu magistério (António Rosa Araújo, Manuel Antunes Guimarães, Manuel Melo da Silva, Mário Freitas…; deles adiante se falará). Teve na vida outro hobby: a criação de canários e o treino e classificação do seu canto, sendo perito internacional na matéria (cf. o texto de Jorge FÉLIX disponível em http://www.terravista.pt/ancora/2047/private/AlexanBrandão.html [consultado em 2004/09/10]; inclui uma foto de AB à guitarra no dia do seu 90.º aniversário; veja-se também, no presente blog, o texto de minha autoria «Dois guitarristas portuenses que nos deixam» (post de 2005/03/26).

o Lauro de Oliveira [o «Tio Lauro»] († 1970): Até praticamente ao fim da vida manteve em sua casa uma tertúlia semanal. Nos anos 50 e 60 teve um grupo que julgo ter durado uns bons anos, com o também guitarrista Fernando Barbosa (advogado) e o viola Ernesto Almeida (vulgo «Almeidinha») [funcionário da Polícia Judiciaária, † 1983], e gravou pelo menos um EP, com o cantor José Vitorino Santana (a que adiante se fará referência).

o Fernando Lencart: Carlos Fernando Barbosa Salgado e Lencart, ulteriormente notabilizado como solista de viola clássica e de alaúde e intérprete da música antiga (funcionário de uma das empresas hidroeléctricas que estão na remota raiz da actual EDP.

o Ayres Máximo Saraiva de Aguillar: Nos anos 60/80 notabilizou-se como membro do grupo de João Bagão, participando em 3 LP’s de Luiz Goes e num EP instrumental de João Bagão.

Para a maior parte da década de 40 não disponho de outros elementos. Aí a partir de 1948 encontramos António Pinho de Brojo (1927-1999) a concluir a licenciatura em Farmácia na UP. Ignoro se a sua actividade nos 2 anos lectivos que passou na Invicta é intensa ou não (e o próprio nunca se abriu muito sobre esta matéria). Mas julgo que pertenceu ao OUP (ou pelo menos colaborou em espectáculos), e nessa sua fase portuense acompanhou cantores como Napoleão Amorim (estudante de Engenharia, também ido de Coimbra, onde pertencera ao Orfeon Académico) e Álvaro de Andrade (futuro médico); tocaram com ele os guitarrristas Viriato Santos e Manuel Cunha Gomes e o viola Aureliano Veloso (futuro engenheiro-químico, pai de Rui Veloso e irmão do brigadeiro António Pires Veloso; foi o primeiro Presidente eleito da Câmara Municipal do Porto [mandato 1977-1980]).
Já em plena década de 50 há memória no OUP de um excelente guitarrista: António Mendonça. Morreu muito jovem, vitimado por uma hemoptise. Com ele se iniciaram no OUP cantores como José Tavares Fortuna10, Óscar França (futuro engenheiro) e José Vitorino Santana (futuro urologista; director do Departamento Clínico do F. C. Porto na primeira metade da década de 70; 1931-2004); todos tiveram basta longevidade como cantores (pelo menos até finais da década de 80), primeiro no OUP, depois na Associação dos Antigos Orfeonistas da Universidade do Porto (AAOUP, fundada em 1967). O último gravou, aí por 1962, um EP 45 RPM, acompanhado por Lauro de Oliveira / Fernando Barbosa / Ernesto Almeida (já mencionados); incluiu os temas «Fado dos Passarinhos», «Estrelinha do Norte» (arr. Lauro de Oliveira), «Cantiga partindo-se» (versão J. Barros Madeira) e «Fado Manassés». Note-se ainda que José V. Santana – um primeiro-tenor com bastante extensão nos agudos – foi sempre possuidor de vastíssimo reportório, onde se destacavam temas de (ou celebrizados por) Edmundo Bettencourt, a quem profundamente admirava.
Aí pelos meados da década afirma-se no OUP um grupo de executantes de qualidade invulgar para a época: os guitarristas António Rosa de Araújo (futuro médico, veio a ser fundador e durante longos anos Director do Serviço de Hematologia do Hospital de S. João; 1931-2004) e Serafim Guimarães (futuro lente de Medicina /Farmacologia, foi Vice-Reitor da UP em 1984-1985; jubilado em 2004; note-se que SG foi também cantor; julgo que esta faceta se localiza mais para o final do seu percurso estudantil; mas ignoro até que ponto haverá fases estanques entre o cantor e o guitarrista) e os violas Fernando Neto [Mateus da Silva] (futuro engenheiro; tal como o mencionado Ayres de Aguillar, integrou o grupo de João Bagão na década de 60; participou nessa fase em dois LP’s de Luiz Goes e num EP instrumental de João Bagão; sobre a sua actividade na Coimbra dos anos 40 e 50, cf. José NIZA, Um Século de Fado. Fado de Coimbra, II, Alfragide, EDICLUBE, 1999, pp. 134-135), José Alão (futuro engenheiro, irmão de Paulo Alão) e Fernando Reis Lima (futuro médico). Com eles actuaram cantores como os já referidos José V. Santana e Óscar França e ainda, no início da sua longa passagem pelo OUP, Raul Barros Leite (futuro gestor de empresas). Neste grupo – que fez a primeira digressão do OUP a Angola (1956) – é normalmente destacada a virtuose de A. R. Araújo, extremamente minucioso na fidelidade aos originais quando executava temas de Artur Paredes.
Quanto a Raul Barros Leite, esteve no OUP entre 1955 e 1966 (com duas soluções de continuidade, por motivos castrenses). Multifacetado, foi, entre «much coisas plus» (expressão manuscrita que alguém acrescentou na sua ficha de membro do OUP), cantor de fados – num registo de segundo-tenor, com bastante extensão quer para graves, quer para agudos; infelizmente, escassos são os registos gravados da sua actividade como tal –, viola da Orquestra de Tangos, viola de grupos de folclore regional, apresentador de saraus, entertainer nos mesmos e – the last but not the least – viola e solista vocal da Tuna do OUP, nos moldes em que ela renasceu nos anos 60 (sob a regência de José Belarmino da Mota Soares [† ca. 2000], responsável então pelo arranjo de múltiplos temas; economista, manteve longa actividade musical: para além da regência da Tuna do OUP [1961-1965] e da Tuna da AAOUP [anos 70], foi organista da igreja da Lapa e maestro do Coral Sacro de S. Tarcísio [sediado na mesma igreja e ulteriormente na da Trindade). Deve-se-lhe a interpretação vocal do tango «Amores de Estudante» (poema de Paulo Pombo [professor do Instituto Industrial do Porto; m. em meados da década de 80], música de Aureliano da Fonseca [violinista, mais tarde dermatologista; foi professor da Faculdade de Medicina/UP e, nos anos 70, professor visitante da U. de Campinas SP (UNICAMP); contando 80 e muitos anos, continua a exercer clínica; pai dos lentes Luís Adão da Fonseca (historiador, UP), António Adão da Fonseca (engenheiro-civil, UP) e Fernando Adão da Fonseca (engenheiro-civil, economista e gestor, UCP)]; composto nos anos 30 para a então Orquestra Universitária de Tangos) no primeiro EP da Tuna do OUP, grande sucesso discográfico aí por 1964/65. Como executante de viola eléctrica, integrou uma das primeiras formações do Conjunto Pedro Osório (princípios da década de 60) e participou na gravação de vários EP’s. Mais para meados da década – e em perfeita sincronia com os alvores do movimento da balada – gravou um EP com temas musicais de sua autoria sobre poemas de Miguel Torga (acompanhando-se à viola, em parceria neste instrumento com Eduardo Beirão Reis [de quem adiante se falará]). Numa fase ulterior (1970-1972) esteve em Angola, como capitão miliciano. Produziu então mais umas tantas baladas, nas quais a temática d’«o mato» é predominante; poderiam ter tido um excelente destino discográfico… Desde os anos 70 que todas as semanas fidalgamente recebe em sua casa os companheiros de andanças, numa tertúlia com tanto de caloroso como de informal.

Os finais da década de 50 são tempos de maior apagamento. Destaquem-se no entanto nomes como os dos guitarristas Joaquim («Quim») Rodrigues e António Pinto Ferreira (futuro médico), o do viola José Gomes da Silva (futuro economista, irmão de António Gomes da Silva [v. infra] e os dos cantores Henrique Gameiro dos Santos (futuro médico), Casimiro Ferreira (que ulteriormente se transferirá para Coimbra; gravou então um EP, acompanhado por António Portugal / Eduardo de Melo / Manuel Pepe / Paulo Alão, incluindo os temas «Menino de Oiro», «Fado Corrido de Coimbra» e «Nuvens Brancas»; completam o disco as «Variações em ré menor» de Flávio Rodrigues; matemático, futuro professor da U. de Aveiro; é um dos raros casos de cantores ou instrumentistas com actividade nas duas Academias, mas pela ordem cronológica Porto / Coimbra) e, efemeramente, Nuno Morgado (de quem se voltará a falar). Nomes como estes asseguraram a primeira ida do OUP a Moçambique (1959).

Entrados os anos 60, algo se acentua: o carácter efémero da constituição dos grupos. As dificuldades crescentes com o adiamento do serviço militar (1961 ss.) e, num plano mais geral, o encurtamento da vida estudantil fazem com que nos cerca de 15 anos que precedem a mudança de Regime poucos tenham sido os grupos de fados do OUP a manter o essencial do seu elenco de um ano para o seguinte. Inclusivamente, na segunda viagem do Organismo a Angola (1962) o staff de orfeonistas seguiu quantitativamente debilitado, e com um grupo de fados de composição quase improvisada no plano instrumental.
Entretanto, 1961 vira chegar ao Porto – e ao OUP – um guitarrista de proveniência coimbrã, Arménio [José Serrão] Assis [e Santos] de seu nome (estudante de Geologia, primo dos lentes Daniel Serrão [UP/Medicina] e Fernando Serrão [UP/ Ciências-Química, † 1981]; barítono, pertencera ao Orfeon Académico de Coimbra; cf. José NIZA, Op. Cit., p. 76). Tecnicamente limitado, tinha no entanto um saber acima da média para o panorama portuense: conhecimento de fados e de «introduções» para os mesmos, um acompanhamento – ao tempo – muito discreto – e consequentemente muito eficaz – para as guitarradas tradicionais, etc. Por tudo isto, pode dizer-se que AA fez alguma Escola no OUP, ajudando a lançar instrumentistas mais jovens. A sua actividade não foi no entanto longa (1961-1967, com intermitências por razões de serviço militar). Com ele tocaram, entre outros, guitarristas como Joaquim Baldaia, Manuel Botelho Chaves (de quem se voltará a falar), Manuel Antunes Guimarães (idem), Sebastião Carneiro («Tião», futuro médico) e Manuel Melo da Silva (futuro engenheiro, passou por Coimbra entre 1967 e 1969, integrando ocasionalmente o grupo de Hermínio Menino) e violas como Eduardo Beirão Reis (futuro engenheiro), Jaime Fonseca Filho e António Huet Bacelar (futuro geólogo); por ele foram acompanhados cantores como Manuel Rogério Silva (estudante de Engenharia, antigo elemento do Orfeon Académico de Coimbra; actualmente professor jubilado da Fac. Ciências/UP) e outros de quem já se falou ou falará (Arménio Assis terá nos anos 70 uma actividade intensa no âmbito da AAOUP [grupo de fados e Tuna]; ultimamente tem integrado o Grupo de Fados da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto, do qual fazem parte, entre outros, o guitarrista António Cardoso Moniz [Palme] e o cantor José Maria Lacerda e Megre [Filho]).
Os meados da década serão entretanto marcados no OUP pela dupla de guitarristas José Carlos Agrelos (futuro economista) / Manuel Botelho Chaves, com os violas Eduardo Beirão Reis e, mais pontualmente, Jaime Fonseca Filho e António Huet Bacelar (já referidos). Foi este o grupo que fez a digressão ao Brasil (1965), com os cantores Raul Barros Leite e José Luís Borges Coelho (ao tempo estudante de História, JLBC possuía formação musical, haurida no seminário de Vila Real e no Conservatório de Música do Porto). Beirão Reis era ao tempo presidente da Direcção. Problemas em Assembleia-Geral no regresso da digressão levaram à queda do Executivo a que presidia; em consequência, abandonou o OUP, acompanhado na dissidência pelos dois guitarristas. Com o efémero ex-orfeonista Nuno Morgado (referido supra; estudante de Ciências, futuro empresário, foi candidato à presidência da Câmara Municipal do Porto nas Autárquicas/93), constituiram o Grupo Universitário de Guitarras, em actividade até ca. 1969. Ao longo desse período encarregaram-se sem excepção das serenatas monumentais da Queima das Fitas (o hábito das serenatas monumentais a abrir a Queima das Fitas não é no Porto, pelo menos em termos de regularidade, anterior aos meados da década de 50; durante alguns anos ter-se-á andado à procura do lugar ideal: alto da Av. dos Aliados [na escadaria que então dava acesso à Câmara Municipal], pelourinho do Terreiro da Sé, escadaria do Liceu Carolina Michaëlis, etc.; a partir de 1961, com a inauguração do Palácio da Justiça, é a escadaria respectiva o local escolhido; e por aí se fica até 1971, ano da última Queima, realizada sob forte contestação; o ressurgimento verificar-se-á em 1979). É o caso mais nítido de um grupo que sobrevive por alguns anos sem vínculo permanente a qualquer Organismo (ainda que em 1967/68 tenham dado alguma colaboração ao entretanto criado Coral de Letras da Universidade do Porto [CLUP; criado em 1966, regido desde o início por José Luís Borges Coelho; após alguns anos de Ensino Secundário, JLBC passaria a uma actividade exclusivamente nos planos do ensino musical e da direcção de coros; para além do CLUP, dirigiu o Coro do Círculo Portuense de Ópera; pai do pianista Miguel B. C. e irmão do historiador e lente jubilado da UL António B. C.]. Gravaram dois EP’s 45 RPM, onde temas tradicionais de Coimbra (v.g. «Canção da Beira», «É tão lindo o teu Olhar») alternam com originais de criação portuense. O ‘modelo’ deste grupo foi claramente o Coimbra Quintet, e a audição dos dois referidos discos proporciona indiscutivelmente bons momentos.

No OUP, após a saída dos elementos que foram constituir o Grupo Universitário de Guitarras, viveu-se alguma confusão em matéria de grupo de fados. Em 1965/66 e 66/67 a constituição do mesmo foi algo de instável: pelos espectáculos passaram quer nomes vindos do passado (guitarristas como Arménio Assis e Sebastião Carneiro, violas como António Huet Bacelar, cantores como Raul Barros Leite, José Luís Borges Coelho e Hernâni Pinto), quer novos que se estreavam ou quase (guitarristas como Manuel Antunes Guimarães e Manuel Melo da Silva, violas como Carlos Teixeira e Arnaldo Brito, cantores como Alfredo Pais da Rocha, Manuel Faria de Bastos e António Jorge Rodrigues da Silva). Dois nomes merecem, entretanto, realce:

o Hernâni Pinto: Natural de Espinho, barítono, futuro economista, Hernâni Rodrigues Pinto privou, muito jovem, com Adriano Correia de Oliveira, que pelo final dos anos 50 / princípios dos 60, frequentava estivalmente aquela praia. Com ele algo aprendeu, tendo sido também claramente influenciado pelas velhas gravações de José Afonso; tudo isto se viria a traduzir no reportório preferencial, com uma tendência clara para a trova / balada («Pescador do rio triste», «Balada do Outono», «Trova do Amor Lusíada», «Pensamento»…) ou, no âmbito do fado tradicional, para temas objecto de gravação por aqueles dois nomes («Fado da Mentira», «Incerteza», «Fado dos Olhos Claros», «Canta Coração»…). Esteve no OUP de 1962 a 1969 (com um interregno castrense), e desde os anos 70 que participa assiduamente nas actividades da AAOUP.

o Carlos Teixeira: Natural de Águeda, futuro economista, foi sem dúvida o melhor executante de viola que – e pelo menos até aos anos 70 – passou pelo OUP. Para além de viola de fado, Carlos Manuel Duarte Teixeira possui formação de «viola clássica» e conhecia, como ninguém no meio, a «gramática» da bossa nova. Pertenceu ao OUP de 1965 a 1971, e desde finais da década de 70 que tem colaborado intensamente com a AAOUP.

Os anos 1968-1970 conhecerão no OUP uma estabilidade fora do vulgar para a época em matéria de grupo de fados. Executantes de guitarra medianos (Firmino Coutinho [futuro engenheiro] e João Fonseca [futuro economista]; e também, mais para o final do período, António Jorge Carvalho) mas trabalhando muito e conhecendo-se reciprocamente bem, enquadrados por dois grandes violas (o já mencionado Carlos Teixeira e Arnaldo Brito [também com formação de viola clássica]; e ainda, mais pontualmente, José Manuel Gomes Duarte) e acompanhando os cantores António Jorge Rodrigues da Silva («Bizout») e Alfredo Pais da Rocha (e mais pontualmente Hernâni Pinto), proporcionarão inegavelmente bons momentos em palco; isto numa altura em que o OUP começava a dispor de apreciáveis meios técnicos (luzes, som, etc.) para a montagem dos seus saraus: nestes finais dos sixties a actuação do grupo de fados (que tinha a peculiaridade de se verificar ao abrir da 2.ª Parte, i.e., logo após o intervalo que sucedia a actuação do Coro; o encerramento cabia normalmente à Orquestra de Tangos [e mais pontualmente, nesses anos, à Tuna]) verificava-se a uma luz muito ténue – como que recriando uma noite de luar – e com uma sábia utilização dos microfones.

Por obra e graça de uma pequena dissidência havida no OUP, o CLUP voltará a ter um grupo de fados em 1969/70 e 70/71. Integraram-no nomes como os dos guitarristas Manuel Antunes Guimarães (futuro engenheiro-civil, MAG começara no Porto, integrando o grupo de fados do OUP em 1964/65 e 65/66; passara depois a Coimbra, integrando o grupo de José e Nilton Bárrio [1966-1969], grupo que acompanhava então os espectáculos do Coro Misto; regressou ao Porto em 1970, passando um ano pelo CLUP [1970/71] e outro pelo OUP [71/72], António Gomes da Silva («o Sócio», futuro economista, irmão do já citado José G. da S.) e Orlando Lourenço (estudante de Filosofia, hoje lente da Fac. de Psicologia e de Ciências da Educação/UL), os dos violas Armando Luís de Carvalho Homem e (efemeramente) Adélio Coutinho (futuro engenheiro) e os dos cantores Paulo Sampaio (futuro engenheiro-electrotécnico, passara por Coimbra, integrando, com Manuel Antunes Guimarães, o grupo de José Bárrio), Hernâni Pinto e Mário Fernando de Oliveira (fazendo às vezes uma perninha vocal o próprio maestro Borges Coelho). Mas foi coisa efémera, até porque a partir de 1971 o CLUP trilharia caminhos algo diferentes.

No OUP, o ano de 1970/71 (marcado pela terceira digressão a Angola) representa o culminar finalizante dos rumos que remontavam a 1967/68: guitarristas como João Fonseca e António Jorge Carvalho (pontualmente ‘reforçados’ por António Cunha Pereira, de quem se falará com maior detença), o viola Carlos Teixeira (por vezes fazendo também uma perninha vocal) e os cantores António J. Rodrigues da Silva e Luís Paupério (futuro engenheiro) protagonizam assim este ano fim-de-um-tempo (até porque muitos deles estavam nas vésperas da incorporação em Mafra).

Os anos subsequentes serão tempo de muitas interrrogações: a contestação à Queima/71 marcara a suspensão desta iniciativa por alguns anos, as capas iam desaparecendo completamente do quotidiano – até porque o seu uso na rua podei dar lugar a piropos… – e falava-se até do seu abandono como traje de cena. Só no OUP e em alguns núcleos de Antigos Orfeonistas se persevera nesses anos. No OUP não será fácil, até porque vão escasseando os praticantes do género. Seguindo uma evolução lógica ao tempo, os grupos passam a ter apenas um guitarrista (sucessivamente Manuel Antunes Guimarães e Mário Freitas) e um viola – Armando Luís de Carvalho Homem (por vezes com o reforço de mais um, o também cantor Luís Paupério); e no reportório instrumental despontam – qual consequência lógica – Carlos Paredes e Jorge Tuna. Em matéria de cantores, alguma gente nova surge: Luís Sobral Torres (futuro engenheiro), Júlio Domingues (estudante de Medicina, morreu prematuramente em acidente de viação no Verão de 1974), Joaquim Barbosa Ferreira («Quim Zé», futuro médico); e também no reportório se procura ter em conta as contingências da formação instrumental: temas de Adriano, Luiz Goes, A. Bernardino, José Manuel Santos, Mário Veiga ou José Miguel Baptista; ou fados tradicionais com acompanhamentos atentando no que um João Bagão, um António Andias ou as duplas Nuno Guimarães / Manuel Borralho e António Portugal / Francisco Filipe Martins estavam fazendo, v.g. em gravações de Luiz Goes, Armando Marta ou outros cantores linhas atrás mencionados (a reacção a tais novidades de reportório por parte dessa «fila zero» do público que eram os Colegas do Organismo é que nem sempre era a melhor…). E em Agosto de 1973 a última digressão vieux style, à Venezuela.
Tempos, portanto, continuadamente fim-de-tempo, é curioso que por esses anos tenham passado pelo OUP três grandes guitarristas, todos, cada um à sua maneira, com uma costela de nouvelle guitare:

o António Cunha Pereira: Natural de Alvarenga, diplomado pelo Instituto Industrial do Porto ca. 1970, António Fernando da Cunha Pereira chegou nesses anos a colaborar com o Grupo Universitário de Guitarras (v.g. na Serenata Monumental de 1969). Em 1971 cursou Ciências Pedagógicas na Faculdade de Letras – ingressando então no OUP – e mais tarde licenciou-se em Engenharia Electrotécnica. Desde os finais da década de 70 que colabora intensamente com a AAOUP. Terá sido o mais completo, maduro e desenvolto de todos os guitarristas que passaram pelo OUP. Senhor de um reportório muito vasto – que ia da Coimbra tradicional às várias fases de Jorge Tuna e praticamente à totalidade do conteúdo dos dois primeiros LP’s de Carlos Paredes –, extremamente tecnicista, por vezes algo frio no dizer das frases (são muitas as características da execuçção de Paulo Soares que me recordam António Cunha Pereira), era notavelmente seguro em público. Nos anos 80 gravou um LP, com o guitarrista António Jorge Carvalho, os violas Carlos Teixeira e Arnaldo Brito e os cantores Alfredo Pais da Rocha, Victor Silva e Luís Paupério; inclui as «Variações em mi menor» de Jorge Tuna e as «Variações em ré menor» de Armando de Carvalho Homem.

o Manuel Antunes Guimarães: Já se historiou o seu percurso académico Porto / Coimbra / Porto. Manuel Francisco de Faria Antunes Guimarães passou por Coimbra em condições de absorver muito do que de novo se ia fazendo no domínio da guitarra – a herança de Carlos Paredes, os contributos de Eduardo e Ernesto de Melo, António Andias, Nuno Guimarães, Francisco Martins, Manuel Borralho, José Bárrio e outros; o que naturalmente se traduziu no reportório: «Canção Verdes Anos», «Melodia n.º 2», «Dança» ou «Variações em lá menor», de Carlos Paredes; «Variações em Ré Maior» ou «Os Amantes», de Jorge Tuna (para além do modo como interpretava as «Variações de Coimbra» de Afonso de Sousa). Possuidor de uma guitarra de Gilberto Grácio com uma escala francamente dura, traduzia-se isso num modo de tocar vigoroso e num som possante; certos processos de execução faziam lembrar António Andias (com quem ocasionalmente chegou a tocar); infelizmente nunca conseguiu superar um acentuado nervosismo em palco.

o Mário Freitas: Estudou guitarra desde muito novo, com Alexandre Brandão. Quando, aos 17 anos (1972), chegou à Faculdade de Medicina – e ao OUP – Mário Fernando Nogueira de Freitas levava já um razoável reportório, que incluía, abundantemente, Artur Paredes (era particularmente brilhante a sua interpretação das «Variações em mi menor», numa versão antiga, extraída de um dos mencionados discos de gramofone do espólio do seu Mestre, a qual apresentava umas tantas diferenças significativas em relação à versão ‘definitiva’ [se é que com Artur Paredes algo alguma vez foi definitivo…], que Artur Paredes gravou em 1957), e também Carlos Paredes («Danças Portuguesas»), algumas peças do reportório coimbrão dos anos 40 e 50 (v.g. «Estudo em Lá», arr. A. Brojo, «Aguarela portuguesa», «Valsa em lá menor» de Flávio Rodrigues, etc.) e um curioso arranjo de Alexandre Brandão para um tema brasileiro («Noite de Estrelas [valsa]», de Dilermando Barbosa; julgo o tema inédito nesta versão para guitarra). No OUP fez-se como acompanhante de cantores e alargou o reportório instrumental («Canção Verdes Anos» e outros temas de Carlos Paredes, incluindo quatro peças da suite O Ouro e o Trigo: «A Montanha e a Planície», «Dança Palaciana», «Sede e Morte» e «Dança dos Camponeses»; estes temas foram tirados a partir da gravação de uma actuação tevisiva de Carlos Paredes e Fernando Alvim, com texto dito por José Nuno Martins [Out.75, com repetições no Natal do mesmo ano e em Abr.77]; só em 1983 Carlos Paredes nos daria versões gravadas deste conjunto de peças [no álbum Concerto em Frankfurt; cf. O Mundo segundo Carlos Paredes, Lisboa, EMI-Valentim de Carvalho, 2002, CD 4, faixas 30 a 33; outras versões nesta integral da discografia de CP, por vezes com pequenas modificações nos títulos]). Mário Freitas foi portanto aqui um acentuado pioneiro; «Os Amantes» e «Andamento», de Jorge Tuna; etc.). Permaneceu no OUP até 1976, conhecendo portanto toda a série de modificações na estrutura dos espectáculos ocorrida a partir de 1974. Senhor de uma execução algo doce e de grande sensibilidade, era consideravelmente seguro em palco (a partir do final da década de 70 e até ca. 1987, Mário Freitas tocou regularmente com Armando de Carvalho Homem, Armando Luís de Carvalho Homem e Paulo Alão, acompanhando os cantores José Horácio Miranda e – mais ocasionalmente – António Sousa Pereira; o grupo participou em alguns dos Seminários sobre o Fado de Coimbra [1978-1983]).

Ultrapassando praticamente incólume os tempos imediatamente posteriores ao 25 de Abril – descontando alguns ‘sobressaltos’ –, o OUP introduzirá modificações sensíveis nos seus saraus nos anos subsequentes. O que tradiocionalmente se designava como «as Variedades» (2.ª e 3.ª partes das actuações públicas) passa a ter o rótulo englobante de «Etnografia», incluindo as danças e cantares regionais, actuações do coro (desde 1973 é regente artístico do OUP Mário Mateus; natural de Vagos, barítono, de formação básica no Conservatório de Aveiro, com ulteriores estudos post-graduados na Áustria e na RFA, MM chega ao OUP depois de uma breve passagem pelo Coral de Letras de Coimbra [1972/73]; faz parte de uma geração de maestros de coros – universitários ou não – que profundamente renovaram a partir dos anos 60 finais, v.g. Fernando Eldoro, José Robert, Jorge Mata, José Luís Borges Coelho, etc.; pelo final da década de 70 assistiu Lopes-Graça na orientação das classes de direcção coral dos Cursos Internacionais da Costa do Estoril; é actualmente Director do Conservatório Regional de Vila Nova de Gaia) em peças regionais portuguesas com harmonizações de Fernando Lopes-Graça (1906-1994), sons vocais e instrumentais com a marca de Adriano, Berna, Paredes ou Tuna, leitura de textos (poéticos ou em prosa, neste último caso com algum destaque para Eça, Torga ou Soeiro Pereira Gomes) conotados com o universo de situações posto em cena, etc.
O regresso a ‘cenários’ mais tradicionais dá-se a partir de 1977, ano das comemorações do 65.º aniversário do OUP e do 10.º da AAOUP, e da realização de dois saraus (no Rivoli e no Coliseu, Maio e Junho do ano em causa) de colaboração recíproca. Naturalmente, os fados cabem então aos «antigos», ressurgindo em cena – bem como nas restauradas serenatas monumentais da Queima das Fitas (1979 ss.) – múltiplos cantores e instrumentistas das décadas precedentes. A título de exemplo, direi que nos 2 saraus pioneiros de 1977 actuaram os guitarristas António Cunha Pereira, Arménio Assis e Joaquim Rodrigues; os violas José Alão, Carlos Teixeira e Armando Luís de Carvalho Homem; e os cantores José Tavares Fortuna, José Vitorino Santana, Hernâni Pinto, Henrique Gameiro dos Santos e Raul Barros Leite. Este último interpretou as partes solo da «Balada da Diferença», peça para pequeno coro e solista vocal com contínuo de guitarras/violas, então composta (poema: Raul Barros Leite; mús.: Raul Barros Leite e Arnaldo Brito) e objecto de 1.ª (e até hoje creio que única…) audição pública (Coliseu do Porto, 1977/06/16).
Mantendo embora a colaboração com membros da AAOUP, o OUP procurará recriar grupos de fados a partir dos finais da década em causa, o que conseguirá, embora com resultados nem sempre muito convincentes. Mas isso é estória recente, de que será, de momento, prematuro falar.
Importa entretanto referir, para fechar, que os alvores da presente década de 90 assistiram no Porto (e na Maia) ao ensino (crescentemente metódico) de Paulo Jorge Soares (Jó Jó). Para além de formar inúmeros guitarristas, Paulo Soares está na raiz da constituição de grupos, cujo quadro institucional não é já o de um Organismo Académico mas, eventualmente, o de uma Faculdade, mormente a de Ciências; «Baladas da Despedida» de finalistas terão inclusivamente a sua marca de arranjador.
Pelo que, a presente estória quase acaba como começa: os Institutos Industrial e Comercial nos anos 30, as Faculdades nos anos 90. Pelo meio, e sempre, o mais antigo Organismo musical da Academia: a que tive a honra de pertencer.

Morelinho (Sintra), Agosto/Setembro de 1999

* In José NIZA, Um Século de Fado. Fado de Coimbra, I, Alfragide, Ediclube, 1999, pp. 115-128.

10 Ginecologista, viveu em Moçambique. Ulterior Director-Clínico da Maternidade Júlio Dinis (MJD, Porto). Nos inícios da década de 80 gravou um LP, acompanhado por António Arnaldo de Mello e Castro / João Lamego (gg.) e Agostinho de Matos / Rui Garcia de Brito (vv.), e participou num outro, com o também cantor António Rodrigues (igualmente médico); os acompanhantes são praticamente os mesmos, apenas com a substituição de A. A. Mello e Castro por Joaquim Rodrigues (v. infra). Tal como o médico e cantor lírico Álvaro Malta, ficou célebre na MJD por, não raro, trautear peças do seu reportório como forma de descontrair as parturientes…; especialmente oportuna seria então a 2.ª quadra de «Nuvens Brancas» (que por sinal fazia parte do seu reportório):

Cautela não te aborreça
A mágoa do nosso amor,
Que a vida quando começa
É por um grito de dor !


Caricatura de Octávio Sérgio desenhada por Virgílio Caseiro. Já no dia 4 de julho foram colocados neste Blog dois quadros sobre Coimbra, deste mesmo autor. Fiquei surpreendido na altura pois não lhe conhecia esses dotes de "paisagista". Mas mais surpreendido fiquei agora por ver que também a caricatura não tem segredos para ele. Não contava com esta oferta tão valiosa! Obrigado, Virgílio Caseiro, que as tuas mãos nunca te tremam! Posted by Picasa

segunda-feira, agosto 01, 2005

Paulo Soares enviou-me este poema de seu pai, Jorge de Oliveira Soares, que faz parte de uma grande colecção de poemas de sua autoria e ainda não publicados.

DOIS FADOS

LISBOA: fado vadio,
que anda metido em zaragatas,
bebedeiras e bravatas,
chafurdando nas sarjetas
da miséria social.

Às vezes fala do Rio,
das canoas, do Rossio.
Mas logo perde a razão,
e é de novo rufião
que se mantém da conduta
de uma triste prostituta
nos becos da Mouraria
ou de outro Bairro qualquer,
farrapo em vez de mulher,
que dizem que tem virtude
quando vai na procissão
da Senhora da Saúde.

Gaba-se de a fidalguia
o cantar bem avinhado,
em adultério furtivo,
escuso e fora de portas
no escuro das horas mortas.

E, às vezes, a bebedeira
fazia nascer o fado
de súbita chinfrineira
onde, de qualquer maneira,
rebentava um trinta e um,
num salsifré libertino
que se transformou num hino
como não há mais nenhum.

COIMBRA: canção saudade
de alguém que se encontra ausente,
uma guitarra plangente
ao ritmo da mocidade
e um bater de coração
marcado em cada bordão.

É o amor que se confessa
nos lamentos de um queixume,
é o carinho que se assume
num olhar feito promessa.

Ternuras de Avé-Marias
no pensamento das mães,
rezadas todos os dias.

Por entre arroubos de amor,
lá vem a recordação
desse Minho Encantador,
de uma Moira de Leiria,
da Senhora do Almortão

Devoções de graça plena
dirigidas a Jesus
da Igreja de Santa Cruz
feita de pedra morena.

Serenatas à luz do luar
que se espelha, no Mondego
a murmurar em segredo
ecos meigos de embalar
de alguma canção saudosa
na Sé Velha majestosa
com guitarras a rezar.

Fado, onda de nostalgia
que se imprime na emoção
dos que viveram um dia
esta Coimbra-tradição.

Jorge da Carvalha

Tradições Académicas Portuenses:
Breves notas, vividas, de uma ‘História’ em criação
*

Armando Luís de Carvalho HOMEM

À memória do Doutor Luís Vasco
Nogueira Prista († 2004), lente
de Farmácia, universitário
«à part entière»

I. Dos Clérigos ao Carregal: um Estudo na Cidade

É uma praça. Como tantas outras. Quadrangular. Trapezoidal, digamos. E orientada, grosso modo, segundo os pontos cardeais. Nos vértices e num dos lados paralelos vêm convergir outras praças e diversos arruamentos; enquanto que outro dos lados é todo ele preenchido pela embocadura de mais uma rua, que vai estreitando, qual funil, para terminar num pequeno largo. Diversos nomes teve já a nossa praça: Largo do Carmo, Praça da Universidade, Praça Gomes Teixeira. Mas para o habitante médio da Cidade tem sido, e por certo será, «os Leões», nome advindo da brônzea fonte ornada de quatro regorgitantes espécies da soberana espécie que lhe está ao centro.
Desloquemo-nos para a placa central da praça; contornemos a fonte pelo lado Leste e, voltando-lhe as costas, olhemos para Sul: à nossa frente, ‘monopolizando’ esse lado, está um maciço edifício onde alternam o cinzento da pedra, o branco da tinta e o verde dos portões. Para os mais idosos dos habitantes do Burgo, é, ainda hoje, «a Universidade». O qualificativo nunca teve total razão de ser. Berço de uma das mais antigas Escolas Superiores portuenses (a Academia Politécnica, na raiz da Faculdade de Ciências), jamais o edifício terá albergado a totalidade do Ensino desse nível, quer antes, quer depois de 1911. Não tendo nunca total razão de ser, não tendo hoje (salvo por ‘inércia’ terminológica) qualquer razão de ser, o qualificativo teve no entanto, e por muito tempo, suficiente razão de ser: albergando a Faculdade de Ciências, naquela Casa sediavam também a Reitoria e diversos Serviços Centrais (o que aconteceu até aos anos 70); e o Salão Nobre respectivo foi durante décadas a «sala dos actos» do Estudo Geral portuense.
Quanto ao mais, tudo se processava por ali perto: no largo ao fundo da referida rua em funil situava-se a Faculdade de Medicina (sucessora da Escola Médico-Cirúrgica), tendo ao lado um hospital, também Escolar. Dos Clérigos ao Carregal: num limitado espaço, duas das Escolas ‘fundadoras’, os Serviços Centrais, as sedes dos Organismos estudantis, cafés e restaurantes de frequência acentuadamente universitária, pensões, residências, casas alugando quartos... Tudo, ou quase tudo, nesse limitado espaço, acrescido de dois eixos que o prolongavam: por Cedofeita, até à Rua dos Bragas (sede, até 2001, da Faculdade de Engenharia); pelo Rosário / Boa Hora, até à Rua Aníbal Cunha (sede da Faculdade de Farmácia); pelo caminho ficando uns tantos lares e as sedes dos Serviços Sociais e Desportivos. E mesmo as Escolas de mais tardia fundação (e tomando os anos 70 como terminus ante quo) aí se iriam situar: Economia (1953; funcionou na «águas-furtadas» da Faculdade de Ciências até ao Outono de 1974) e Letras (1962; a este respeito não deixa de chocar a localização ‘excêntrica’, na Quinta Amarela [a caminho do então suburbano Carvalhido], da Faculdade de Letras em parte do seu primeiro tempo de vida [1919 ss.]. ‘Excenticidade[s]’ [que outras houve...] sempre impeditiva[s] de uma perfeita integração da Escola na UP; e à[s] qual[is] não será estranho o seu fim [1928-1931], sem glória nem grandeza).
Dos Clérigos ao Carregal (e prolongamentos)...: num limitado espaço todo um viver estudantil. Que a dado momento se terá plasmado em práticas bem próprias: o uso de um traje, o comemorar condigno do final do ano lectivo e do termo dos cursos, o preenchimento dos tempos livres (?) com determinadas actividades artísticas – mormente teatrais e musicais, sendo de salientar dentro destas últimas certas formas de música vocal-instrumental (tunas, orquestras de tangos), as danças e cantares regionais ou, finalmente, um determinado género, tipicamente estudantil, assente numa dada forma de cantar e num típico suporte instrumental: o «Fado de Coimbra». ‘Imitação’ dos comportamentos estudantis da mais antiga Universidade portuguesa ? Um ‘purista’ afirmá-lo-ia sem hesitar. Mas tudo depende do que se entender por ‘imitação’. No fundo, será de surpreender que uma comunidade estudantil, vivendo numa Cidade não-universitária mas confinando-se espacialmente, ‘reproduzisse’ certas práticas ? O mesmo não se ia passando em tantos Liceus da Província (mormente no Interior-Norte e Centro) e, mesmo no Porto, no mais ‘provinciano’ dos seus Liceus masculinos (o Alexandre Herculano) ? Nada tem pois, quanto a mim, de menos ‘digno’ que o Porto tivesse a tradição que foi tendo[1], os Organismos que se foram criando (um Orfeão, uma Tuna, uma Orquestra Universitária de Tangos [estas duas mais tarde integradas no Orfeão], um Teatro Universitário [1948], mais tarde um Coral de Letras [1966]), que esses Organismos procurassem um público ‘médio’, no País ou fora dele: as «digressões» processavam-se aonde quer que houvesse «núcleos de Portugueses espalhados pelo Mundo» – África(s), Brasil, Estados Unidos, pontualmente Venezuela; na Europa ficavam-se pela vizinha Espanha: a ‘descoberta’ do Velho Continente viria bem mais tarde: com efeito, só no final dos anos 70 os Organismos musicais começariam, com certa regularidade, a deslocar-se a países europeus, já para actuar junto de comunidades de emigrantes (e aqui havia apenas o precedente do Orfeão, França/1967), já para participar em Festivais de Coros ou de Folclore (e aqui o papel de pioneiro cabe ao Coral de Letras, Escócia /1970 e Itália/1971).

II. O Estudo Pela Cidade...

Mas um dia... já nem tudo vai estar entre os Clérigos e o Carregal. Uma população escolar que cresce, exigências científicas e pedagógicas que acrescem... O espaço universitário distende-se. E ainda que pelo caminho tenham ficado projectos de expansão na zona histórica (cadeia da Relação, mosteiro de S. Bento da Vitória...), o ‘crescimento’ verificar-se-ia alhures: com a construção do Estádio Universitário, logo prolongada pela instalação do Jardim Botânico na Casa Andresen (anos 40/50), esboça-se o pólo do Campo Alegre; e o da Asprela inaugurar-se-á em Junho de 1959 com o Hospital de S. João, nova sede da Faculdade de Medicina. E pela Cidade iriam também surgir novas residências...
E, depois, a comunidade estudantil dos anos 60 já não iria ser a mesma. Repare-se: o traje académico, na feição que adquirira no início do século XX (uma batina estudantil está próxima de uma sobrecasaca oitocentista), andava em paralelo com o uso quotidiano do «traje de passeio» (leia-se: fato e gravata). E o jovem comum propendia a afastar-se de tal vestuário. Consequência: as marcas exteriores de uma certa Tradição começam a sair do quotidiano e a só surgir em Abril / Maio, aquando da «Queima». Os próprios membros dos Organismos Artísticos tenderam então a envergar a capa e batina apenas aquando de apresentações públicas, qual ‘traje de cena’, como a casaca dos músicos «clássicos». E mesmo as actividades destes Organismos estavam em vias de deixar de dizer algo a boa parte da população estudantil, em tempos de declínio de interesse pela música coral, de ‘explosão’ do pop/ rock ou de posse, cada vez mais frequente, de uma formação musical autêntica por estudantes universitários[2]. Por outro lado, o «Fado de Coimbra», num meio muito mais intérprete que criador [3], tendia a estagnar; quaisquer tentativas de fazer algo de diferente[4] – e falo por experiência própria – chocavam com a difícil receptividade do público, a começar pela própria ‘primeira fila’ que eram os Colegas de Organismo; sempre ‘caía melhor’ o «Passarinho da Ribeira»...
Finalmente, o ‘radicalizar’ de posições na viragem dos anos 60 para os 70 levou a esquerda estudantil à contestação global da Tradição, identificada com «conservadorismo / reaccionarismo / elitismo / marialvismo castrado»..., quando não com adesão ao regime político do tempo; contestação larvar a partir de 1968; contestação frontal a partir de 1971: em Abril deste último ano, e na sequência de acontecimentos que aguardam ainda o seu narrador, teria lugar, em clima extremamente tenso e com cumprimento de apenas uma parte do programa, a última «Queima das Fitas». Clima tenso, mas que logo se distendeu; aparentemente, afinal, as Tradições pouca falta faziam...; e quase todos os que em –71 as defenderam logo se desinteressaram[5]. E tudo pareceu terminar...

III. Um Estudo a cada Esquina da Cidade ?

Assim, 1974 não vai representar nada em matéria de Tradições Académicas, desaparecidas, como se viu, cerca de 3 anos antes. A década de 70 é portanto, praticamente toda ela, de ‘vazio’ nesta matéria.
E é nos anos 70 que a Universidade do Porto se expande decisivamente, esboçando o facies actual: cresce a sua população, fundam-se Escolas e Serviços, projectam-se e constroem-se edifícios, tudo em torno dos três pólos já indicados. Ao mesmo tempo que ao Porto se estende a Universidade Católica, que na Cidade surge o Ensino Superior Privado e Cooperativo e que diversas outras Escolas se criam ou reconvertem, vindo a dar origem ao Ensino Superior Politécnico; e, também aqui, a iniciativa estatal se tem visto complementada pela privada e cooperativa. E todas as novas (ou transformadas) Escolas foram tendendo a aderir a práticas e festejos entretanto ressurgidos (mormente a «Queima das Fitas»), ‘federando-se’ a diversidade dos Estabelecimentos na reaparecida designação de «Academia do Porto».
Tal ressurgimento teve as suas primeiras manifestações na Primavera de 1977, quando o Orfeão Universitário e Associação dos Antigos Orfeonistas da UP comemoraram os seus 65.º e 10.º aniversários, respectivamente, com 2 Saraus, realizados no Rivoli e no Coliseu. Estas iniciativas foram pacíficas (o Orfeão só em 1976 não realizara o seu Sarau Anual no Rivoli). O mesmo se não dirá de algo ocorrido no ano seguinte: estudantes de algumas Faculdades lograram realizar uma «Semana Académica»; apesar de contestada, a iniciativa teve continuidade, logo em 1979 se recuperando a designação «Queima das Fitas». Ressurgimento este, portanto, em termos não propriamente pacíficos. No fundo, e por banda de sectores estudantis (e político-partidários) opostos, uma contestação à contestação de uns tantos anos antes... Nesses primeiros tempos, as restauradas Tradições estão assim longe de unir a população estudantil, bem pelo contrário.
E hoje, mais de uma dúzia de anos decorrida ?
Para alguém com a minha idade (40 anos), o meu percurso estudantil (Liceu Alexandre Herculano / Faculdade de Direito de Coimbra / Faculdade de Letras do Porto) e a minha vivência das tradições musicais a sensação é, não raro, de alguma perplexidade. Os anos de interrupção fizeram perder a memória de comportamentos, práticas, símbolos; ‘codificação’ não existia; a bibliografia era escassa e inencontrável; e a transmissão oral (perguntar ao pai, ao avô, ao irmão mais velho, a algum professor mais antigo...) não resolve tudo... Daí que alguém do meu tempo amiúde se veja confrontado com práticas, por assim dizer, ‘exóticas’: das ‘fantasias’ vestimentais, a peditórios na via pública para... viagens de finalistas (!!!!), até ao ‘ressuscitar’ do menos simpático dos aspectos da Tradição – o gozo aos caloiros (a «praxe» stricto sensu), coisa de ténue prática no Porto (salvo no Orfeão Universitário), que de qualquer modo desaparecera das Faculdades muito antes de 1971 e que hoje se exerce em termos não raro pouco dignificantes, chegando-se inclusivamente (coisa impensável há 30 ou 40 anos) a perturbar o funcionamento de aulas ! Por outro lado, o número dos indivíduos e instituições abrangidos por este universo de comportamentos é hoje consideravelmente mais lato: onde tínhamos uma Universidade com umas tantas Faculdades temos hoje uma «Academia» com uma multidão de Escolas: estatais, privadas e concordatárias, universitárias e politécnicas. É corrente, nos mais díspares locais da Cidade, cruzar-me, em certas épocas do ano, com grupos de estudantes trajados ao rigor, ostentando insígnias de cores inesperadas; de onde, a natural pergunta: – Que Escola ou Instituto por aqui se localizará ?!
Numa «Academia» com uma tal dimensão e dispersão serão ‘lógicas’ manifestações unitárias ‘monstras’, como um Cortejo mantido em dia de normal laboração, ou uma serenata «monumental» que já chegou a realizar-se na Avenida dos Aliados, precedida de’passagem’ de música rock (gravada), não sei se para ‘criar ambiente’ ?!
Um ‘veredicto’ final condenatório ? Só que um criador cultural, e logo no âmbito das Ciências Humanas e ainda por cima historiador, tem que manter a serenidade das suas apreciações. Por isso finalizarei com duas sucintas notas, serenas:

a) Se uma população de milhares e milhares de estudantes – e mesmo descontando o factor ‘propaganda’, que leva as Escolas jovens a reproduzir práticas com uma longa tradição nas mais antigas – assume determinados comportamentos é porque eles lhe dizem algo. Não caiamos agora no simplismo do diagnóstico de «alienação» (de tantos milhares...) ou, nos tempos que correm, em elementares acusações de estratégias partidárias, conservadoras ou não.

b) Em certas semanas lectivas, alguém que é docente universitário há mais de 18 anos, que enquanto estudante viveu as Tradições e com mágoa assistiu ao seu desaparecimento, vê-se rodeado de alunos, finalistas, nomeadamente, que lhe pedem um autógrafo nas fitas, o apadrinhamento da imposição da cartola, lhe parodiam as aulas na «sessão de serrote», lhe solicitam a presença em múltiplos encontros de confraternização... Um tal docente, vivendo um ofício de árduo exercício num ambiente não raro propenso a tensões, não pode, nessas semanas, deixar de se sentir acrescidamente compensado, deixar de sentir... «uma terna consolação» (Eça de Queiroz).

Porto, Primavera de 1991

* Boletim da UP, 9 (1991, Jun.), pp. 29-33. As observações que este artigo consubstanciou integravam-se na preparação de um volume – Universidade do Porto (1911-1991): História, Estórias – a coordenar pelo autor e a publicar em 1992, no âmbito das actividades do Projecto ALMA MATER (coord. Luís V. N. Prista) e da FUNDAÇÃO GOMES TEIXEIRA (coord. do Vice-Reitor Eduardo Oliveira Fernandes). Nos meses finais de 1991, estes dois Mestres (que em mim depositaram inesquecível confiança) desvincularam-se dos cargos e funções que exerciam; de onde, a não-concretização do projecto. De qualquer modo, reitero agora os agradecimentos então feitos pelas colaborações que recebi: Reitoria, Fundação Gomes Teixeira, Órgãos Directivos das diferentes Escolas, Serviços e Organismos da UP, Dr.ª (hoje Prof.ª Doutora) Amélia Polónia da Silva (Fac. Letras) e Dr.ª (hoje Prof.ª Doutora) Amélia Ricon Ferraz (Fac. Medicina).

[1] Deixo de lado toda e qualquer explanação ‘erudita’ sobre a cronologia de tais Tradições: com isso se não compadecem os limites de espaço, o tempo breve que tive para redigir este texto e o carácter mais vivencial do que histórico-sociológico que lhe quis imprimir. Direi, no entanto, que as raízes são remotas, anteriores, até, à criação da Universidade. Como renuncio a qualquer abordagem das (problemáticas) especificidades da Tradição portuense: não raro esse tipo de preocupação redunda num nada saudável ‘bairrismo’; salientarei apenas, e a esse propósito, a maior precocidade na adaptação do traje académico ao uso por estudantes do sexo feminino; porque, com efeito, os Organismos portuenses foram mistos mais cedo; salientarei também uma ‘originalidade’ portuense que consistia no uso frequente da pasta com fitas ou grelo sem o traje académico; e salientarei ainda que, encravada numa grande Cidade, a população estudantil nem sempre terá sido vista do melhor grado fora dos limites da sua micro-«cidade universitária»: de longa data, por exemplo, os portuenses ‘vernacularmente’ se queixavam dos engarrafamentos de trânsito provocados pelo Cortejo da «Queima das Fitas», isto nos anos 50, bem antes de outras formas de contestação.
[2] Uma ‘saída para a crise’ terá então estado na melhoria do reportório e da preparação vocal dos coros universitários, agora crescentemente voltados para a polifonia, para J. S. Bach ou para a música popular com harmonizações de Fernando Lopes-Graça, isto num processo iniciado ca. 1967 por Günther Arglebe no Orfeão e por José Luís Borges Coelho no Coral de Letras e prosseguido mais tarde por Mário Mateus (1973 ss.) no primeiro destes Organismos.
[3] E se alguns guitarristas e cantores de ‘Velha Escola’ ainda procuravam seguir a lição de Artur Paredes / Edmundo Bettencourt, a grande maioria ficava-se pelo mais ‘cinzento’ repertório coimbrão dos anos 40/50; no máximo da modernidade, chegar-se-ia ao conteúdo do álbum Coimbra Quintet, gravado em Madrid para a PHILIPS em 1957, por Luiz Goes / António Portugal / Jorge Godinho / Manuel Pepe / Levy Baptista.
[4] V.g. incluir no reportório temas do ‘último’ Luiz Goes (discografia 1967 ss.), de José Miguel Baptista, de José Manuel dos Santos ou de António Bernardino, e isto para já não falar das «trovas» de M. Alegre / Portugal / Adriano, as quais mantinham o suporte da guitarra, contrariamente às «baladas» de José Afonso.
[5] Só o Orfeão manteve, e por mais algum tempo, o uso da capa e batina; ainda que em 1972 ou –73 usar o traje na rua pudesse comportar a audição de alguns ‘piropos’...

domingo, julho 31, 2005


Livro de poesia de Eduardo Aroso, "A Quinta Nau", das Edições Gresfoz, saído no ano de 2003. Vou transcrever o texto de abertura do livro:
"Eduardo Aroso nasceu em Coimbra, no ano de 1952. Diplomou-se com o Curso do Magistério Primário (1973), iniciando estudos de música, do autodidactismo ao Conservatório de música e vice-versa. Posteriormente, licenciou-se no Ensino de Música do Ensino Básico. Actualmente é professor de Educação Musical do Quadro da Escola Ferrer Correia. Foi regente do Coro de Professores de Coimbra, co-fundador da Academia Monteverdi e da Tertúlia do Fado de Coimbra, na qual, durante 30 anos, vem mantendo actividade ininterrupta.
Autor de várias obras musicais, repartidas por canções didácticas e outras, fados/baladas e estudos para guitarra clássica e guitarra portuguesa. É membro da Sociedade Portuguesa de Autores.

Obras poéticas e literárias

Poesia
A Poesia vai à Escola (ed. de autor; obra adquirida pela Fundação Calouste Gulbenkian); 1980.
Poemas do Arquétipo (ed. Gresfoz); 1990.
O Olhar da Serra (ed. Gresfoz); 1995
Habitante Sensível (Universitária Editora, Lisboa); 1997.
Ensaio
A Guitarra Portuguesa – Aproximações Histórico-Musicais à sua Génese e Fixação em Portugal (ed. Gresfoz); 2000.
Incluído em:
Antologia Ibero-Americana de Homenagem a Rosalía de Castro (Coleccion Poesia Nueva, Madrid – 25 nações (Coleccion Prometeo); 1987.
Homenagem a Gerardo Diego (Salamanca); 1996.
Homenagem a Claudio Rodríguez (Salamanca); 2001
Álamo (Salamanca 2002 – Ciudad Europea de la Cultura)
Colaborações:
Revista de Poesia Álamo (Salamanca).
El Pregonero (Madrid).
S. Paulo, Destaque (S. Paulo).
Artres & Artes (Lisboa)
Teoremas de Filosofia (Porto)

Co-fundador do Gresfoz – Grupo de Estudos Figueira da Foz – 1983

Co-subscritor para a Fundação da Academia Ibero-Americana de Letras (Madrid); 1987."
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Poema "A Quinta Nau"
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Partiu sem ninguém dar por isso,
Na fria madrugada do silêncio.
Leva gente diversa: família real,
Republicanos, liberais, anarquistas
E o povo simples de Portugal
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Vai na rota de várias dimensões
A regressar um dia ao cais de sempre,
Ao nível de água feito de espirais,
Junto à terra de todos os continentes
No vento suave de sopro universal.

Site de José Lúcio Ribeiro de Almeida






Vale a pena passar umas horas na consulta desta página sobre cordofones
http://www.jose-lucio.com/
e na seguinte, já referenciada neste Blog a 15 de Maio
http://joseluciofado.8k.com/index.html


Grupo Folclórico de Coimbra
O Grupo Folclórico de Coimbra foi fundado em 1986.
O repertório tem cerca de 100 temas entre cantigas e danças.
O grupo pretende reviver e divulgar o património cultural da cidade de Coimbra e dos seus arredores, desde meados do séc. XVIII até ao início do séc. XX ao nível do canto, da dança, das tradições e das vivências.
Foto e texto retirados do seu site.
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Em defesa da Orquestra Clássica do Centro. Notícia do Diário das Beiras de ontem. Posted by Picasa


Noite no àCapella, ontem. Luís Barroso na guitarra e Pedro Lopes na viola, acompanham António Ataíde numa canção de Coimbra. Posted by Picasa


Noite no àCapella, ontem. Luís Barroso na guitarra e Pedro Lopes na viola, acompanham António Ataíde numa canção de Coimbra. Posted by Picasa


Noite no àCapella, ontem. Um aspecto da assistência. Posted by Picasa


Noite no àCapella, ontem. Um aspecto da assistência. Posted by Picasa


Grupo "Quarto Crescente", ontem, na Galeria Almedina. Miguel Gouveia está na guitarra e Paulo Larguesa na viola. Foi uma serenata muito interessante, com boas guitarradas e boas canções. Pena foi que os belíssimos inéditos do grupo tenham ficado na gaveta! Posted by Picasa


Grupo "Quarto Crescente", ontem, na Galeria Almedina. José Beato canta, acompanhado por Miguel Gouveia na guitarra e Paulo Larguesa na viola. Posted by Picasa


Grupo "Quarto Crescente", ontem, na Galeria Almedina. Jorge Machado canta, acompanhado por Miguel Gouveia na guitarra e Paulo Larguesa na viola. Posted by Picasa


Grupo "Quarto Crescente", ontem, na Galeria Almedina. José Beato canta um extra acompanhado por Paulo Larguesa, a insistente pedido do muito público presente. Posted by Picasa


Um aspecto da assistência à serenata do Grupo "Quarto Crescente", na Galeria Almedina, efectuada ontem. Posted by Picasa


Um aspecto da assistência à serenata do Grupo "Quarto Crescente", na Galeria Almedina, efectuada ontem. Posted by Picasa

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