sábado, fevereiro 24, 2007

Imagens da Indumentária Estudantil em Salamanca
(Soslaios entre Coimbra e Salamanca)
Por António Manuel Nunes

Até aos inícios do século XVI não existiu na Universidade de Salamanca (USAL) uma indumentária discente padronizada em cores e figurino(s)[1]. Os estudantes clérigos envergavam as túnicas talares, cogulas, capas, capelos e coberturas de cabeça especificadas nas regras monásticas das respectivas ordens (clero regular). Os escolares ligados ao clero secular vestiam-se segundo os normativos canónicos especificados para as situações eclesiásticas em que se achavam integrados.
A necessidade de um vestuário académico apto a diferenciar a corporação universitária face aos mesteirais, mercadores, cambistas, vereadores municipais, alcaides, militares, confrarias, conventos e catedrais, emergiu lentamente, na passagem do século XV para o século XVI.
Ao adoptar um uniforme discente próprio, as universidades ibéricas não se propunham igualitarizar os estudantes no tocante ao pulsar do quotidiano interno da instituição, mas sim distinguir a corporação face ao mundo exterior. Os estudantes continuavam a distinguir-se entre si pela qualidade dos padrões dos tecidos, acessórios e adornos e qualidade de vida.
O mundo cristão Ocidental vinha a assistir ao encurtamento dos trajos talares masculinos, fruto de modismos que deixavam ver pernas, coxas e nádegas, acentuando a linha de cintura e os ombros. Diversas autoridades eclesiásticas levantaram voz contra os escândalos vestimentários aportados pelo gibão curto de modelo X, com a sua bainha curta, cintura estreita e ombreiras enchumaçadas[2].
Na transição para o século XIV regista-se na Europa uma cisão vestimentária definitiva, de triplo alcance: 1) o vestuário que desde as civilizações antigas evoluíra muito lentamente, começa a reflectir ciclos de modas marcados pela crescente busca da novidade e consagração da excentricidade; 2) as vestes masculinas e femininas operam uma pronunciada ruptura, prevalecendo as bainhas talares na indumentária feminina e as bainhas pelo joelho ou coxa nas masculinas; 3) o progressivo encurtamento das vestes masculinas confina rapidamente os hábitos talares ao clero regular e secular, bem como aos juristas, altos funcionários de Estado e corporações universitárias.
O apego às plumas, peles, recortados de mangas, debruns, golpeamentos de mangas, meias e sapatos, bainhas curtas, ornatos a fio de ouro e prata, apliques de pedrarias, conduziu as autoridades reitorais e o poder régio à publicação de repetidas ordenanças de teor restritivo.
Nos “Estatutos” do Studium General português, solenemente jurados na Sé Catedral de Lisboa em 16 de Julho de 1431, impunham-se aos bacharéis, licenciados, mestres e lentes o porte de Hábito Talar roçagante e aos estudantes o uso de hábitos talares de corte e cores decentes com bainhas pela meia perna.
Nos “Estatutos Manuelinos”, apresentados à Universidade em Lisboa por El-Rei D. Manuel I, exige-se que o bedel confisque aos estudantes quaisquer armas defensivas ou ofensivas e insiste-se na “honestidade dos vestidos”. Ficavam interditos pelotes e gibões curtos, bem como cores vivas (encarnado, amarelo, verde, ornatos a ouro) nos capuzes, barretes e demais vestes[3].
A regulamentação manuelina reforça-se ao longo de todo o século XVI, já com a Universidade instalada em Coimbra, através de instrumentos como a Ordenança do Rei D. João III (1539) e da letra dos sucessivos “Estatutos”. Predominam agora as lobas escuras, os mantéus talares com ou sem capelo, os barretes de copa armada e os chapéus de alguidar (sombreiros), espelho da crescente afirmação de uma imagem de austeridade que se acentua nas universidades ibéricas após o Concílio de Trento e no protocolo das cortes de Lisboa e de Madrid.
Pesadas multas interditam os punhos de renda, as golas de rendas e canudos, os tecidos de seda, setim e veludo, as meias-calças multicolores, os tons fortes como o verde, o vermelho, o amarelo, o laranja, os golpes nos sapatos, meias, calções e mangas. Cores sóbrias, ainda admitidas em Salamanca e Coimbra no início do século XVI, como o castanho e o pardo, recuam perante o triunfo do preto. Os viajantes italianos, franceses e sobretudo ingleses que visitaram a Península Ibérica no século XVII, registaram este excesso visual de negritude vestimentária consagrado pelo clero, docentes e estudantes universitários e fidalguia desde o reinado de Filipe II.
A necessidade de erradicar a moda laica do universo vestimentário académico, não se confinou às universidades ibéricas do século XVI. Por todo o Portugal continental e insular quinhentista proliferaram normativos episcopais designados por “Constituições Sinodais”, onde figuravam títulos idênticos aos positivados nos “Estatutos” universitários. De acordo com as disposições assinadas pelos bispos, o clero diocesano ficava obrigado ao porte de loba talar escura abotoada (cerrada), sendo interditas vestes civis curtas como pelotes e tabardos, não se admitindo peças golpeadas, cores vivas, ornatos bordados ou jóias. Os mantéus e o calçado deveriam ser integralmente pretos[4].
Procurando fazer cumprir o estatuído nas “Constituições Sinodais”, cada novo bispo tinha a faculdade de regulamentar o trajo dos clérigos na sua circunscrição diocesana através de instrumentos de controlo actualizados como as “pastorais”. A cominação de vestes talares ao clero remontava pelo menos ao Concílio de Latrão (1215), posição reforçada pelas decisões emanadas do Concílio de Trento[5].
Por seu turno, os normativos proibitivos universitários promulgados em Salamanca e Coimbra não se distanciam do conteúdo dos estatutos mandados imprimir pelos reitores dos seminários diocesanos católicos dos séculos XVIII e XIX.
Vestes talares como lobas, garnachas, chamarras, tabardos, mantéus, capelos abertos e cerrados e barretes, já se usavam em Coimbra e em Salamanca no século XV, mas ainda não tinham adquirido feitio padronizado nem uniformização cromática. O preto coexistia com outras cores consideradas “honestas” como o castanho escuro, o roxo carregado, o azul escuro ou o cinzento. Na época considerada, os académicos de Oxford distinguiam-se pelo uso da “gona” (gown)[6] e os de Bolonha costumavam trazer tabardos escuros, lobas, gorros variados e mantos talares com romeiras de peles.
As peles de luxo, nomeadamente arminhos, como que configuram um marcante elemento de distinção entre o mundo ibérico e as sociedades além Pirinéus. Em Itália, França, Inglaterra, as pelarias de luxo eram usadas por universitários, juristas, alto clero e nobres. Em Portugal e Espanha, as pelarias finas não penetraram nas instituições universitárias e judiciárias, afirmando-se instrumento de prestígio do alto clero (murças de arminhos) e da realeza (mantos régios).
Na passagem do século XV para a centúria de quinhentos, os académicos de Salamanca usavam com regularidade os seguintes elementos vestimentários:

a) Loba pela meia perna, composta por sotaina com ou sem fileira de botões frontais, habitualmente sem mangas, e garnacha exterior com mangas fendidas ou de boca de sino;
b) Mantéu preto talar, podendo comportar uma romeira curta com capuz afunilado (ferreruelo);
c) Barrete preto quadrangular, sendo a copa ornamentada com dorsais e borla central(bonete);
d) Beca, longa faixa colorida, que se aplicava em V sobre o peito, ficando as duas pontas pendentes pelas costas quase até aos calcanhares. A faixa que pendia pelo ombro esquerdo tinha um anel circular ou rosca forrada do mesmo tecido, semelhante à presilha dos epitógios franceses (no século XV, em vez da rosca chegaram a usar-se gorros). Esta insígnia era distintiva dos colegiais;
e) Cinta, tira de pano da mesma cor da loba.

Depois vinham as muitas excepções ao modelo comum. Tal como em Coimbra, os estudantes regulares iam às aulas com os uniformes adoptados pelas respectivas ordens. Os de São Bento usavam uma túnica talar preta, de costuras plissadas, mangas largas, cogula e romeira fendida no peito. Os monges de Cister ou beneditinos reformados, vestiam túnica branca, com escapulário preto. Os eremitas de Santo Agostinho eram identificados pelos hábitos pardos. Os cónegos regulares de Santo Agostinho tinham hábito composto por sotaina, roquete branco, capa preta talar, romeira ou murça (muceta) e barrete. Os cónegos de Santo Antão vestiam habitualmente hábito preto com aplicação de cruz branca. Os trinitários tinham um hábito branco, com cruz azul e vermelha, chapeirão, capa e cogula. Os franciscanos envergavam túnica castanha cingida com cordão de nós e capuz. Alguns, como os franciscanos capuchinhos, acrescentavam uma meia capa sobre a túnica. Os dominicanos traziam ordinariamente hábito branco, capa e capuz pretos. Os carmelitas eram identificados pelas suas túnicas castanhas e capas brancas. Os membros da Companhia de Jesus optaram pelo clássico roupeta talar, cinto, capa preta de gola militar e barrete de quartos com dorsais e borla central[7].
Mas era nos colégios dispersos pela malha urbana que se observavam múltiplas combinatórias. O elemento mais vistoso era a beca, insígnia distintiva que também se usou em Coimbra até à extinção resultante dos Decreto de 31 de Maio de 1834 e de 16 de Julho de 1834 no Real Colégio de São Paulo-o-Apóstolo e no Real e Pontifical Colégio de São Pedro[8]. Ao contrário do que se poderia supor, a cor mais comum nas lobas dos colegiais, em Salamanca e em Coimbra, era o castanho escuro e não o preto.
Comecemos pelos colégios ligados às Escolas Maiores[9]:

-os colegiais de São Bartolomeu trajavam beca parda;
-os colegiais do Arcebispo, beca vermelho-escarlate;
-os colegiais de Oviedo, beca azul;
-os colegiais de Cuenca, beca violeta.

Passemos aos alunos dos mais sugestivos Colégios Menores:

-colegiais de Santa Maria de Burgos, com manto amarelo e beca violeta;
-colegiais de Órfãos da Conceição, sotaina branca e beca azul, sem barrete algum;
-colegiais de São Pelaio, sotaina e beca verdes;
-colegiais de São Pedro, manto azul e beca encarnada;
-colegiais dos Irlandeses, loba castanha, barrete e beca adornada de rosca;
-colegiais de Trilingue, becas amarelas.

Em Coimbra, Salamanca e Oxford, o traje académico era obrigatório desde o momento em que o candidato a estudante propunha matricular-se. Nenhum estudante se poderia matricular sem estar devidamente trajado com Loba, Mantéu e Barrete[10] (imposição abolida em Salamaca no ano de 1834 e em Coimbra em 1910, mas ainda vigente na Universidade de Oxford)[11]. No caso de Salamanca, o candidato à matrícula deveria mesmo apresentar um documento contendo a informação “Va arreglado en el Traje”. Breve, o esmero e asseio quedavam-se pelos estudantes do primeiro ano, pois os veteranos faziam gala na exibição de vestes pejadas de buracos e salpicos de vinho.

Alguma da diversidade anteriormente descrita pode visualizar-se em pinturas realizadas na Biblioteca General da USAL por Martín de Cervera no ano de 1614[12]. Nessas pinturas, relativas a aulas no estudo salmantino, se descontarmos os uniformes dos alunos monásticos (franciscanos, dominicanos, carmelitas, bernardos)[13], os estudantes não pertencentes aos colégios maiores e menores trajam as vestiduras comuns constituídas por Loba, Mantéu, calção escuro, meias-calças, calçado de couro e Barrete de quartos. Em termos cromáticos parece haver ainda alguma oscilação entre o preto carregado e o pardo, tendência que se matizará ao longo de seiscentos.
Liberalidade vestimentária, nem todos os estudantes envergam o barrete quadrangular (de “cuatro picos”), avistando-se em profusão o abeiro de feltro preto, dito “sombrero” em Salamanca e “chapéu de alguidar” em Coimbra[14].
Idêntico ao figurino descrito para Salamanca e Coimbra era também o postulado nos “Estatutos” da Universidade de Valladolid para a mesma época: Loba, Mantéu e Bonete castelhano, com interdição do sombreiro de abas largas, panos de seda, gorras moles, rendas e passamanarias, ressalvando-se os estudantes pobres que poderiam trazer carapuças e gorras (excepção que prevaleceria em Coimbra na passagem do século XVIII para o século XIX).
O estudante de humilde condição social e económica era designado por “capigorrista” ou “gorrón”, sendo vulgar em Espanha a expressão “comer de gorra”, em explícita alusão ao ritual da ingestão da sopa na portaria dos mosteiros.
Sobre o mantéu podiam os estudantes colocar o caipirote, um capelo de peitilho inteiriço, com um longo capuz dorsal afunilado, que tanto protegia das intempéries como permitia guardar comida, pergaminhos e materiais de escrita. Em Coimbra, os escolares humildes utilizavam um gorro escuro de tipo saco, nele guardando esmolas, comes, materiais de estudo, tinteiros e punhais.
O elemento do traje académico mais celebrado na cultura estudantil e popular era o mantéu, substantivo que esteve na origem da palavra “manteísta” (=”bonetista”), isto é, o académico que não tinha direito às becas (pensões) dos colégios. Os mais pobres, conhecidos por tunos e sopistas, costumavam prender colheres de pau nas vestes (“la cuchara”), anunciando a sua condição de mendicantes nos povoados e portarias dos mosteiros. A colher do sopista ibérico radicava na tradição medieval dos mendicantes e goliardos, constando de pinturas assinadas por Hieronymus Bosch. O mantéu prendia-se com dois cordões que os estudantes galanteadores aproveitavam para decorar com fitilhos e corpetinhos das amantes. A bainha raramente era pespontada, recebendo uma guarnição chamada “tirana”. Na tradição popular conimbricense cantava-se:

A capa do estudante
É um jardim de flores
Toda cheia de remendos
Cada um de seus amores.

Estudante bargante
Chapéu de alguidar
Com o sentido nas moças
Não pode estudar.

E em Espanha:

Las armas del estudiante
Yo te diré cuáles son:
La sotana y el manteo
La cuchara y el perol.

Desde que soy estudiante
Desde que llevo manteo
No he comido más que sopas
Con suelas de zapatero.

O traçar afidalgado, ou “terciado”, fazendo lançar uma aba da capa por debaixo do braço direito, era comum aos escolares de Coimbra, Salamanca e Valladolid. No século XIX passaria a designar-se em Coimbra este modo de traçar a capa estudantil por “capa à tricana”, em anacrónica confusão entre o mantéu académico e o mantéu da tricana (capa de ombros semelhante a uma saia).
Ao longo do século XVIII o trajo estudantil sofreu o impacto das flutuações da moda, particularmente a loba e o barrete. Em Coimbra, o barrete quadrangular e o sombreiro praticamente desapareceram, como que sorvidos pela generalização do gorro preto tubular dos escolares humildes. A loba traduziu os modismos romanos, ora sem mangas na sotaina, ora com mangões de boca de sino na garnacha, agora com uma só fileira de botões, mais tarde exibindo dupla fiada ornamental.
No que respeita a Salamanca, o velho “bonete” quadrangular ficou progressivamente reservado aos lentes portadores dos graus de bacharel, licenciado e doutor, de base preta e copa quadrangular sulcada de dorsais, borla central e franjados da cor científica.
Em Janeiro de 1766 o Rei Carlos III decretou a proibição de capa larga, sombreiro de abas redondas e quaisquer peças que facilitassem o embuçamento. No imediato, esta regulamentação conduziu a transformações no traje antigo, estando na origem do aparecimento da capa pela meia perna e do tricórnio preto de feltro à francesa.
Após os distúrbios polarizados pelo Motim de Esquilache, uma lei datada de dois de Julho de 1770 interditou o antigo sombreiro, impondo o tricórnio civil e militar. Entre a Real Resolução de 1773 e a abolição de 1834 o trajo usado nas universidades espanholas era composto por calções e meias altas, sapatos de fivela, loba de baeta, mantéu e tricórnio, salvo nos colégios onde permaneciam os modelos ancestrais. As diferenças relativamente ao modelo discente conimbricense eram pois insignificantes.
Contudo, entre o término do século XVIII e o primeiro quartel do século XIX, a obrigatoriedade do tricórnio não impediu a adesão à moda do bicórnio preto de grande sucesso no período napoleónico. Os escolares sopistas ou caldistas cedo lhe fizeram pregar na aba revirada a “cuchara” ou colher de pau, elemento vulgarizado nos meios académicos desde a Idade Média para mendigar os alimentos [15].
Na passagem de setecentos para oitocentos, muitos tunos errantes e académicos em viagens a caminho de suas casas já não vestiam o austero uniforme clássico mas antes os “trajes de gentes”, compostos por camisa branca, casaca de abas, meias altas, calções e sapatos pretos de fivela (“hebilla”).
Na sequência das ocupações napoleónicas e das revoluções liberais, o governo de Espanha decretou em 1834 a abolição do Trajo Académico discente, sancionando uma situação de abandono que se arrastava desde finais do século XVIII. Na Universidade de Cervera, Barcelona, a iniciativa abolicionista seria firmada pelo punho do reitor D. José Hermosilla, que através de edital de 08 de Outubro de 1835 declarava abolido o porte obrigatório do Habito Talar.
Abolido oficialmente em 1834 o antigo traje estudantil, por décadas as tunas espanholas fizeram actuações sem qualquer trajo distintivo. Na segunda metade do século XIX fomentou-se o uso de fantasias nas tunas carnavalescas, como se pode observar numa fotografia da Estudantina de Santiago de Compostela captada em 1877, um ano após a sua apresentação no Carnaval de 21 de Fevereiro de 1876[16].
A sorte das fantasias carnavalescas tunantes seria jogada no Carnaval de 1878, quando foi organizada uma tuna, logo baptizada de Estudantina Espanhola, que actuou em Espanha e no dia 06 de Março de 1878 realizou espectáculos em Paris no Jardim das Tulherias. O fato carnavalesco adoptado pelos tunos era constituído por um traje eclético da primeira metade do século XVII, remetendo com alguma imprecisão para meias calças, sapatos de laço, calções presos abaixo do joelho, gibão liso, camisa com colarinho e punhos de folhos, capa fidalga e bicórnio de finais de setecentos.
A revista mundana “La Illustración Española y Americana”, de 15 de Março de 1878, dedicou uma áspera reportagem fotográfica à Estudantina Espanhola, mas a repercussão foi tal que rapidamente aquilo que começara por ser um efémero trajo carnavalesco se viu transformado em virtual “trajo académico dos tunos espanhóis”.
A moda dos fitilhos multicolores nas capas e instrumentos alastrou às universidades espanholas e a Portugal (ex: Córdova, foto de 1891) e aos países da América Latina (ex: Valparaíso, Chile, foto de 1891). Na sua visita a Portugal em 1888, a Estudantina Compostelana apadrinhou a Tuna da Universidade de Coimbra, cujos elementos adoptaram de imediato fitilhos no braço dos cordodones e no ombro da batina escolar. E a moda não tardou a popularizar-se nas emergentes tunas dos liceus portugueses ao longo da década de 1890, com os Liceus de Viseu, Évora ou Porto a consagrarem o porte do laçarote de pontas verdes no braço direito da batina.
Porém, o “traje académico de tuno”, sofreria diversas transformações ao longo do século XX. Durante a Guerra Civil de 1936-1939 a maior parte das tunas abandonou o porte do bicórnio. Um normativo publicado no “Boletín Oficial del Estado”, de 07 de Dezembro de 1955, normalizou o trajo dos tunos em todo o território do reino, impondo o uso de um laço da cor científica no braço esquerdo. Foi também nesta altura que se procedeu à reciclagem da antiga beca salmantina. Os tunos passaram a usar becas da cor científica, dobradas em V sobre o peito, mas com as pontas muito encurtadas pela linha da cintura, e admitindo emblemas bordados e crachás metálicos. A última grande transfornação ocorreria em Salamanca no ano de 1973, data em que o trajo oitocentista das tunas de carnaval foi substituído pelo trajo fidalgo do Século do Ouro: meias calças, sapato de chinelo, calções de bolbos e entretalhos, com o forro da cor científica, jibão de veludo com ombros tufados e golpeados, capa nobre e beca colorida pregada nos ombros[17].
Das tunas masculinas, as becas reinventadas na década de 1950 passariam às tunas femininas, não deixando mesmo de influenciar a movida tunante vivida na América Latina e no Portugal dos anos 1980-1990.
Relativamente a Portugal, influências espanholas mais explícitas parecem detectar-se nas tunas da Universidade do Minho (Braga/Guimarães), mas talvez se possam admitir de forma menos lisível na Infantuna de Viseu[18], no Real Tunel (Viseu), e nas tunas ligadas à Universidade do Algarve (Faro).
ANOTAÇÕES
O aprofundamento dos estudos comparativos Coimbra/Salamanca tem sofrido sucessivas melhorias graças à bondade e préstimos do Senhor Jerónimo Hernandez de Castro, do Gabinete de Protocolo da USAL.
[1] Cf. Ana Martín Villegas, “El Trajo Académico. Ritual y Símbolos. Ritual y Uso del Traje Académico”, comunicação apresentada ao Primeiro Encontro de Responsáveis de Protocolo das Universidades Espanholas, dias 06 e 07 de Março de 1996, Universidade de Granada. Edição on line em http://www.protocolouniversitario.ua.es/; Enrique Pérez Penedo, "La Evolución del Traje Escolar a lo largo de la Historia: desde el início de las universidades hasta 1835, año en que se decretó su disparición". Ponencia al Tercer Seminario Internacional del Buen Tunar, La Serena, Chile, Enero 2004, editado no peiróido on line "Ronda la Tuna", http://www.geocities.com/notitunas/.
[2] Leituras complementares em António de Oliveira Marques, “A Sociedade Medieval Portuguesa. Aspectos da vida quotidiana”, 5ª edição, Lisboa, Livraria Sá da Costa, 1987, pp. 23 e ss. (O Traje); Gilles Lipovetsky, “O Império do Efémero. A moda e o seu destino nas sociedades modernas”, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1989, pp. 31-92.
[3] De acordo com as anotações de Francisco da Silveira Morais, “Estudantes & Lentes. Das tradições e costumes universitários em Portugal e no estrangeiro através dos tempos”, Coimbra, Tipografia União, 1930, p. 92.
[4] Veja-se, por exemplo, “Constituições Sinodaes do Bispado de Angra”, 1560, Título XVI (Da vida & honestidade dos Clérigos, da tonsura & hábito clerical, & vestidos & cores que hão-de vestir os clérigos). Transcrição em João Afonso, “O Trajo nos Açores”, Angra do Heroísmo, Secretaria Regional dos Assuntos Sociais, 1987, pp. 40-42.
[5] Reverendo Bernard J. Ganter, “Clerical Attire. A Historical Synopsis and a Commentary”, Washington, The Catholic University of América, 1955, pp. 11-19.
[6] Informações disponíveis on line em “Academic dress of the University of Oxford”, http://en.wikipedia.org/wiki/Acdemic_dress_of_Oxford_University; “Academic Dress”, http://en.wikipedia.org/wiki/Acedmic_dress; “The Burgon Society”, http://www.burgon.org.uk/.
[7] Descrição conforme Jorge Campos Tavares, “Dicionário de Santos”, 3ª edição, Porto, Lello & Irmãos, 2004, pp. 171-174.
[8] Descrição e gravura em António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, “Escritos Vários”, 2ª Edição, Volume 1, Coimbra, AUC, 1987, pp. 202-204 e Estampa XXV, anexa à p. 199.
[9] Referências em D. António Ballesteros Y Beretta, “Historia de España y su influencia en la Historia Universal”, Tomo IV, Barcelona, 1927, p. 287.
[10]Estatutos” da Universidad de Salamanca de 1561, Título LXV (ditos Estatutos de Covarrubias).
[11] “Oxford requires matriculands to wear academic dress with sub-fusc during the cerimony. At Cambridge and Durham, policy regarding the wearing of academic dress varies amongst colleges”, verbete Matriculation, http://en.wikipedia.org/wiki/Matriculation.
[12] Luís Rodriguez Bezares, “Estudiantes de Salamanca”, Salamanca, Ediciones USAL, 2001, p. 60.
[13] Reprodução em Luis Bezares e Roberto del Rio, “Estudiantes de Salamanca”, Salamanca, Ediciones USAL, 2001.
[14] Desenhado numa água-forte de George Hoefnagel, de 1572, editada em Colónia (Civitatis Orbis Terrarum, 1599).
[15] Vejam-se as figurações do pintor Hieronimus Bosh em “O Viajante” (O Carro do Feno, El Escorial, Monasterio de San Lorenzo) e “O Viajante” ou “Filho Pródigo” (Roterdão, Museum Boymans-van Beuning).
[16] Nota histórica da Tuna Universtaria Compostelana, http://www.usc.es/tuna/.
[17] Descrição em Roberto Martínez del Rio, “Estudiantes de Salamanca”, Salamanca, Ediciones USAL, 2001, pp. 71-75.
[18] Informações sobre a origem desta tuna e trajo adoptado em João Paulo Sousa, “10 anos de Infantuna. Contributo para a memória de um fenómeno”, Viseu, Palimage Editores, 2002. Trata-se de uma obra pioneira na abordagem do fenómeno tunante académico português vivido após a Revolução de 1974. Em Outubro de 2006 o referido autor promoveu em Viseu um encontro que reuniu especialistas portugueses e espanhóis. Cf. ainda "Tuna Académica. INFANTUNA", http://www.estv.ipv/infantuna/-3k, e "IV Encontro Nacional de Tunos. Viseu, 13, 14 e 15 de Outubro 2006", http://www.iv-encontronacionaldetunos.com/. Há notas sobre o traje, cores e insígnias dos tunos da UMinho em "Afonsina", Tuna de Engenharia da UM", http://www.geocities.com/afonsina/, bem como em "Azeituna. Tuna de Ciências da Universidade do Minho", http://www.azeituna.pt-3k. Relativamente ao traje discente adoptado na Universidade do Algarve, existem informes no sites "Tuna Feminina da Universidade do Algarve/Traje Académico", http://www.ualg.pt/estudantes/tunas/fferventis/, e em "Tuna Académica da Universidade do Algarve/Traje", http://www.ualg.pt/estudantes/tunas/versus-2k. Sobre o REAL TUNEL Académico de Viseu, sua fundação (1991) e criação do trajo renascentista (1997), com boina, gibão de ombros golpeados, calções e faixas distintivas (azuis, amarelas, vermelhas), veja-se o site http://www.realtunel.com/bi/traje/htm.


Indumentária estudantil (I)
Com actividade regular desde 1889, a Tuna Universitária de Salamanca visitou Coimbra com enorme sucesso nesse mesmo ano. Para assinalar o 1º centenário dessa visita, a Tuna Universitária de Salamanca e a Estudantina Universitária de Coimbra celebraram em 1989 um pacto de amizade e geminação.
A fotografia documenta uma digressão da Tuna Universitária de Salamanca a Coimbra nos dias 22-26 de Novembro de 2002, com o traje à Século de Ouro adoptado em 1973.
Fonte: "Tuna Universitaria de Salamanca", http://www.usal.es/~tuna/index2htm.
AMNunes

Indumentária estudantil (II)
Gravura alusiva à famosa Estudantina Espanhola composta por 64 elementos que em seis de Março de 1878 actuou em Paris ("Illustración Española y Americana", 15/03/1878).
AMNunes

Indumentária estudantil (III)
Velha fotografia da Tuna Universitária Compostelana, com funcionamento oficializado desde o Carnaval de 21 de Fevereiro de 1876. Trajo de fantasia tendo como peças nucleares meias e calções pretos de veludo, jibão, cinto de fivela de prata, camisa branca de golas e punhos rendados, bicórnio e capa.
Coube-lhe em 1888 o apadrinhamento da debutante estudantina de Coimbra (TAUC).
Fonte: "Tuna Universitaria Compostelana", http://www.usc.es/tuna/.
AMNunes


Indumentária estudantil (IV)
Imagem romântica do tuno da idade clássica, conforme o figurino sugerido pelas estudantinas de entrudo ou estudantinas de carnaval que se afirmaram nas universidades espanholas a partir da década de 1860. Convertido em "traje de tuno" na década de 1870 (1876-1878), perderia o bicórnio do período da Guerra Civil (1936-39) e acrescentaria a beca colorida em meados da década de 1950.
Fonte: Luis Bezares e Roberto del Rio, "Estudiantes de Salamanca", Salamanca, 2001, p. 66.
AMNunes


Indumentária estudantil (V)
Tuno cortejador com capa, calções, jibão e bicórnio adornado de colher, numa ilustração realizada em 1902 por Emilio Sala ("Una Broma Picante"). No plano da invenção das imagens pitorescas, cujo instrumento primacial de divulgação foi o bilhete postal ilustrado, parece-nos digno de reparo comparativo o tratamento turístico do duo conimbricense estudante/tricana.
Abolido o Traje Académico em 1834, os tunos reinventaram na década de 1870 indumentária carnavalesca que se viria a impôr em Espanha e nas universidades da América Latina como "traje de tuna".
AMNunes



Indumentária estudantil (VI)

Estudante tuno de regresso a casa com loba, mantéu, bicórnio, viola e cajado, numa proposta de reconstituição bastante credível de Méndez Bringa (1916) para os anos que anteceram a abolição do traje em 1834.

Fonte: Enrique Pérez Penedo, "La Evolución del Traje Escolar a lo largo de la Historia: desde el inicio de las universidades hasta 1835, año en que se decretó su disparición. Ponencia al Tercer Seminario Internacional del Buen Tunar La Serena, Chile, Enero de 2004", edição on line em "Ronda la Tuna. Periódico de los Tunos", http://www.geocities.com/.

AMNunes


Indumentária estudantil (VII)
Pintura alusiva a estudante do Colégio dos Irlandeses, já anteriormente publicada, delineada por Bradford e gravada por Clark em 1809 na cidade de Londres: sotaina parda, barrete quadrangular, beca de faixas longas com a antiga rosca.
AMNunes



Indumentária estudantil (VIII)

Escolar do Colégio de Oviedo (?), com loba de baeta castanha, sendo a veste exterior cerrada e sem mangas. Beca azul. Ausência de mantéu e de cobertura de cabeça. Loba de configuração idêntica à usada pelos colegiais de São Pedro e São Paulo (o Apóstolo) em Coimbra, pese embora o facto de no modelo conimbricense se acrescentar uma garnacha de cauda roçagante que os portadores faziam enrolar no braço esquerdo.

Escultura existente na Reitoria da USAL.

AMNunes


Indumentária estudantil (IX)
Costas e capuz de roupão de letrado ibérico. Proposta de reconstituição de Kerstin Froberg (Suécia), segundo desenho de Alcega (1589).
AMNunes

Indumentária estudantil (X)
Roupão de letrado ibérico, de finais do século XVI, com maça de tipo bedel ou rei-de-armas. Reconstituição de Kerstin Froberg, com base num desenho de Alcega (1589). Vista de frente.
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Indumentaria estudantil (XI)
Roupão de letrado ibérico, reconstuição da técnica sueca Kerstin Froberg, com base no manual de alfaiataria de Juan de Alcega (1589).
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Indumentária estudantil (XII)
Esquema para a confecção de um roupão de letrado, de acordo com Juan de Alcega, "Libro de Geometria. Pratica y Traça", Madrid, 1589, de que existe cópia no Victoria and Albert Museum. Este manual de alfaiatria foi reeditado em Londres no ano de 1979.
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Indumentária estudantil (XIII)
Tal como sucedia em Coimbra, os alunos e lentes das ordens religiosas radicados em Salamanca iam às lições e liam com a indumentária especificada nas respectivas regras monásticas (vejam-se as imagens editadas neste Blog em 21, 23 e 24 de Janeiro de 2007).
Nas pinturas de Martín de Cervera são individualizados alguns desses trajes. A gravura supra reconstitui os hábitos de franciscano, dominicano e carmelita (apud Jorge Campos Tavares, "Dicionário de Santos", 3ª edição, Porto, Lello Editores, 2004, imagens anexas à p. 160).
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Indumentária estudantil (XIV)
Pormenor de uma aula nos Gerais de Teologia da USAL segundo pintura de Martín de Cervera na Biblioteca General (1614): os trajes das ordens regulares coexistem com a Loba e Mantéu dos escolares não colegiais. Reprodução em Luís Bezares e Roberto del Rio, "Estudiantes de Salamanca", Salamanca, Ediciones USAL, 2001, p. 42.
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Indumentária estudantil (XV)
Estudantes de Coimbra surpreendidos em 1572 por Georg Hoefnagel (gravura impressa na obra "Civitatis Orbis Terrarum", Colónia, 1599), aqui numa manipulação de António Correia para o artigo "Subsídio para o Estudo do Trajo dos Estudantes de Coimbra. II", RUA LARGA, Nº 5, 16 de Outubro de 1957, p. 133.
O conjunto básico assenta na trilogia Loba+Mantéu+Barrete, sendo admitidas as variantes barrete quadrangular (comum aos juristas, letrados e clérigos da Europa) e o sombreiro de aba redonda. No essencial, o disposto nos "Estatutos de D. João João III", e mais tarde nos "Estatutos Filipinos", não divergia das regulamentações presentes nos "Estatutos" da Universidade de Salamanca de 1561.
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Indumentária estudantil (XVI)
Conforme temos procurado demonstrar em diversos trabalhos de pesquisa, há muitos elementos da cultura tradicional popular ibérica que são comuns aos costumes académicos.
A colher de pau (cuchara) dos sopistas de Salamanca e de Coimbra era na Idade Média um símbolo identificativo de estudantes goliardos, monges mendicantes e pedintes. Pregada no chapéu, saco ou cesto, identificava a condição económica do respetivo portador, servindo nas estalagens e portarias dos mosteiros para ingerir caldos e sopas distribuídos aos pobres.
Grande plano da figura do "Viajante" ou "O Caminho da Vida" (ca. 1500-1502), de Hieronymus Bosch, óleo sobre madeira, existente no El Escurial/Monasterio de San Lourenzo. Do mesmo autor e praticamente idêntico, veja-se "O Filho Pródigo" ou "Viajante", existente em Roterdão, Museum Boymans-van Beuningen. Complementarmente reveste interesse visualizar uma das figuras masculinas com chapéu verde e colher no quadro de Pieter Bruegel-o-Velho, "Casamento de Camponeses" (ca. 1565), Kunsthistorisches Museum, Viena.
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sexta-feira, fevereiro 23, 2007


Nos 20 anos da morte de José Afonso
(23 de Fevereiro de 1987-23 de Fevereiro de 2007)
Caricatura de RUI/1994. Catálogo da exposição do artista Rui Pimentel, subordinada ao título "Puro Açucar", Coimbra, Edifício Chiado, Maio-Junho de 2005 (catálogo com o mesmo título editado pela CMC, p. 8).
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quarta-feira, fevereiro 21, 2007


Cartaz alusivo a José Afonso
Cartaz de grandes dimensões colocado em muro (Guimarães, 2006). Fotografia captada por Adriano Rangel e editada no periódico A PÁGINA DA EDUCAÇÃO, Ano XVI, Nº 163, Janeiro de 2007, p. 48, na rubrica "FOTO com palavras".
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Figuras de convite
Alabardeiros ou "archeiros" do século XVIII (ca. 1730), com uniforme idêntico ao do corpo dos verdeais da UC. Painel de azulejos existente na caixa das escadarias do Paço dos Arcebispos de Lisboa, Santo Antão do Tojal.
Fonte: fotografia de Nicolas Lemonnier, http://www.instituto-camoes.pt/.
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Alabardeiros
Militares e marechal francês com vestuário e armamento de ca. 1704-1730, num visual muito próximo do que foi o corpo dos verdeais da UC até 1834: sapato preto de tacão e fivela, polainas, casaca com mangões de canhão, caseada e garnecida (as da UC eram verdes), colete, cabeleira, espada, tricórnio e alabarda.
Fonte: Braun & Schneider, "The History of Costume", ca. 1861-1880, http://www.siue.edu/COSTUMES/.
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Alabardeiros
Os corpos de alabardeiros foram presença obrigatória ao longo de séculos nos cortejos régios europeus, cerimónias realizadas no Vaticano e na Universidade de Coimbra. As vestes e os acessórios foram reflectindo a flutuação das modas militares ocidentais. Conhecidos na gíria conimbricence por "archeiros", antes de 1834 eram vulgarmente designados por verdeais. Cumpria-lhes abrir os préstitos e procissões da UC, levando na frente o meirinho com vara branca alçada.
Actualmente são ainda conhecidos no Vaticano (Guarda Suiça), cortejos e cerimónias da Casa Real Britânica e na Universidade de Coimbra.
Gravura alemã de 1570, in Braun & Schneider, "The History of Costume", ca. 1861-1880, http://siue.edu/COSTUMES/; idem, http://costume.mrugala.net/.
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terça-feira, fevereiro 20, 2007

Escolar germânico
Estudante alemão com pelote quinhentista de farta gola e mangas fendidas, trazendo na mão o respectivo chapéu de plumas.
Fonte: Braun & Schneider, "The History of Costume", ca. 1861-1880, http://www.siue.edu/COSTUMES/.
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Escolares italianos
Dois estudantes de Pádua surpreendidos na segunda metade do século XVI (1583) com companhia feminina. Trajos civis com calças de cores vivas (=meias), calções descidos, gibões, gorgeiras de canudos, espadas, chapéus pretos emplumados. Um dos figurados usa pelote talar azulado, guarnecido de peles e mangas tubulares de entretalhos.
Fonte: Braun & Schneider, "The History of Costume", ca. 1861-1880, http://www.siue.edu/COSTUMES/.
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Recordando a ENTRUDADA de 1854
Faz anos que rebentou no Largo de Sansão (=Praça 8 de Maio) um conflito entre académicos e populares, conhecido pela designação de Entrudada ou Tomarada.
Os desacatos haviam começado a engrossar no Domingo Gordo, 26 de Fevereiro de 1854, na Praça Velha. Muitos académicos desceram do Bairro Latino à Praça Velha e divertiram-se em animados dichotes e lançamento de objectos tradicionalmente usados no Entrudo Porco, como cascas de tremoços, cebolas, ovos, cinzas, batatas e panelos de barro pejados de desperdícios.
Na 3ª feira concentraram-se os académicos foliões na Praça de Sansão. Veteranos e caloiros improvisaram uma Tourada com investidas, passes de capas, bandarilhas, pegas de caras e de cernelha e animados olés. Enquanto decorria a simulação da tourada académica, estudantes e futricas travavam a batalha dos ovos e dos restos de comidas. Havia muitos moradores apinhados nas janelas do casario do largo que também lançavam desperdícios sobre a multidão.
No meio da folia, alguém atirou um ovo que entrando pela janela de um comerciante chamado Martins se foi esborrachar no peito de sua filha. Esta senhora era casada com um estudante universitário, natural da Guarda, um tal João Lúcio de Figueiredo Lima, de alcunha Lima Valentão, que se deu por ofendido. Lima, de cabeça perdida, arremessou uma panela de barro sobre os toureiros académicos, e de seguida proferiu ameaças de espingarda em punho. Os académicos que estavam na praça invadiram a casa e Lima viu-se obrigado a escapar pelo telhado.
Confrontada com a posição desfavorável das autoridades, a Academia reuniu em assembleia magna extrordinária e decidiu retirar para Lisboa. A 2 de Março de 1854 mais de 200 estudantes marcharam a pé para Lisboa, tendo chegado à fala com o Coronel Francisco Gorjão em Tomar. Gorjão conseguiu parlamentar com os orgulhosos estudantes que regressaram a Coimbra animados com a promessa de uma amnistia.
Com o correr dos anos, o velho Entrudo conimbricense modernizou-se. No começo do século XX o Entrudo Porco fora abandonado no interior da cidade. Foram os anos dos cortejos alegóricos com carros efeitados e batalhas de flores. Seguiram-se, ao longo de toda a primeira metade do século XX, os afamados Bailes de Carnaval, promovidos por hotéis, clubes e sociedades recreativas dos bairros.
Os momentos mais celebrados do Carnaval conimbricense eram os ASSALTOS, convívios organizados por grupos de foliões que visitavam casas de amigos e de vizinhos em busca de petiscos e de animadas ceias.
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O V Encontro de Responsáveis de Protocolo nas Universidades Espanholas

Nos dias 11, 12 e 13 de Maio de 2006 a Universidade de Navarra (Pamplona) acolheu as quintas jornadas sobre protocolo, trajos académicos, insígnias, cerimonial, autonomia e tradições universitárias espanholas.
Longe de esgotado o filão, e definitivamente afastada a visão distorcida que na transição das sociedades barrocas para liberalismo impôs uma leitura baseada no austero (pre)conceito de futilidades, o estudo do cerimonial ganha o seu lugar no campo da sociologia e da historiografia contemporâneas. Lugar que aliás nunca chegou a perder na sociedade britânica.
Graças aos renovados e aprofundados contributos de especialistas como Norbert Elias, Ana Maria Alves, Rui Bebiano, Diogo Ramada Curto ou António Filipe Pimentel (Real Edifício de Mafra, Corte de D. João V), o Barroco conquista toda uma inteligibilidade que, ultrapassando os conceitos liberais de austeridade/desperdício, permite compreender as instituições sociais nas suas estratégias de construção e de reprodução de identidades. A moda, os uniformes e as insígnias teriam forçosamente de sofrer os reflexos desse requestionamento, desde cedo expresso nas pesquisas de um Daniel Roche ou de um Gilles Lipovetsky.
Ainda não foram editadas as actas do V Encontro, pelo que nos limitaremos a reportar o elenco das matérias abordadas:
Dia 11
Presentación
“Conferencia inaugural”, por Joaquín Lorda, U. Navarra
“Autonomia universitária y protocolo académico en los Estatutos de las Universidades Españolas (1919-1921)”, por Jerónimo Hernández de Castro, U. Salamanca
“Análisis de un Acto Académico”, por Teresa Galino Mateos e Asunción Sánchez, U. Complutense
“Evolución de los Actos Universitarios y sus tradiciones”, por Salvador Martínez, U. Católica San Antonio de Murcía
Grupos de Trabajo
-Manual de Protocolo
-Movilidad del PAS
-Página web
-Colores académicas

Dia 12
“Protocolo y Ceremonial navarro”, por Rafael Lopes, Chefe de Protocolo do Governo de Navarra, e Javier Mendoza, Chefe de Protocolo do Ayuntamiento de Pamplona;
“Las cerimonias universitárias. Adaptación o pérdidad de sentido?”, por Júlio Panizo, U. de Vic
“El responsable de protocolo. Profesión de alto riesgo?”, por Francisca González, da U. Córdova, e José Reig, da U. Huelva
“El Protocolo entre bromas y veras”, por F. Xavier Rasilla, U. Navarra

Dia 13
Mesa redonda
Conferencia de clausura
Fonte: “Asociación para el Estúdio del Protocolo…”, http://www.protocolouniversitario.ua.es/.
António Manuel Nunes

domingo, fevereiro 18, 2007

MINHA MÃE





















Música: José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (1929-1987)
Letra: 1ª quadra popular; 2ª e 3ª quadras de José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (1929-1987)
Incipit: Ó minha mãe, minha mãe
Data: 1960-1961

Ó minha mãe, minha mãe,
Ó minha mãe, minha amada,
Quem tem uma mãe tem tudo,
Quem não tem mãe não tem nada.

La-ra-rã; La-ra-rã-la; La-ra-rã; La-ra-rã-la
La-ra-rã; La-ra-rã-la; La-ra-rã; La-ra-rã-la

Quem não tem mãe, não tem nada,
Quem a perde é pobrezinho,
Ó minha mãe, minha mãe,
Onde estás que estou sozinho?

La-ra-rã, etc.

Estou sozinho no mar largo,
Sem medo à noite cerrada
Ó minha mãe, minha mãe,
Ó minha mãe, minha amada.

La-ra-rã, etc.

No registo de 1961 canta-se o 1º dístico e repe-se; após o 2º dístico entoa-se o trauteio.

Informação complementar:
Composição musical de inspiração estrófica, ainda apegada ao efeito de repetição assente na redondilha maior, mas ensaiando contido tentame de ruptura expresso no solo de viola de acompanhamento e na inclusão de um trauteio entre coplas. O último elemento como que introduz na leitura da obra artística um elemento de perburbação: estrófica? com refrão? "Minha Mãe" configura uma ponte simbólica entre o antes clássico (quadra, efeito de repetição) e o depois (solo de viola, trauteio) e o debutante Movimento da Balada. José Afonso elabora a composição em compasso quaternário (4/4), espraiando-se num sentimental Ré Menor. O trauteio é interpretado em ternário.
O trauteio não é fácil de captar. José Afonso não separa distintamente as sílabas e não é claro se diz sempre "la-rã-rã". Algumas vezes parece ouvir-se "na-rã-nã", "na-rã-la" ou até "na-rã-lã".
A presente transcrição de letra segue "Cantares de José Afonso", Lisboa, Edição das AAEE, 1969, e também "José Afonso. Textos e Canções", Lisboa, Assírio e Alvim, 1983, p. 34.
A autoria da música, oficialmente reclamada por José Afonso (1929-1987), levanta algumas dúvidas, pois o Juiz Conselheiro Alcindo Costa (relato de 18/06/2003) diz ter aprendido uma melodia semelhante a esta por volta dos sete anos em Trás-os-Montes, em plena década de 1930. O mais certo é José Afonso ser o autor da melodia na parte corresponde às estrofes, tendo reelaborado uma melodia de origem popular provincial no que respeita ao trauteio. Nos embalos populares era costume as mães rematarem os dísticos com estorpecedores "ó-ó-ós" e "na-nã-nã-nãs", sendo plausível que José Afonso tenha escutado este tipo de trauteios quando viveu em Belmonte (1938-1940). Dúvidas não subsistem, todavia, quanto ao sentido canto com que parece evocar a figura materna, Maria das Dores, ausente da vida do menino e adolescente nos períodos 1930-1933, 1936-1937, e longamente a partir de 1938. Em comentário aos textos publicados em 1969, subscreveu "A uma mãe não canonizada por nenhuma data oficial, nem institucionalizada por nenhuma nota oficiosa".
A primeira gravação conhecida deste tema foi efectuada por José Afonso no teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra no Verão de de 1961, sendo o cantor acompanhado à viola por José Niza e Durval Moreirinhas: LP "Coimbra Orfeon of Portugal", USA, Monitor MP-596, ano de 1962; reeditado na cassete "Orfeão Académico de Coimbra", Ovação, OV-K77046, ano de 1987, Lado A, Faixa nº 3; idem, no Cd "Orfeão Académico de Coimbra", Ovação, OV-CD-012, ano de 1991 (estas reedições são omissas quanto à data da gravação e instrumentistas). Notam-se claras divergências entre o registo do autor e gravações de terceiros, diferenças estas que também ferem o trauteio. Assim, conforme os gostos e arranjos, ora se escuta "la-ra-ra", "la-ra-rá, "lã-rã-rã"...
O mesmo tema foi gravado por Adriano Correia de Oliveira no EP "Fados de Coimbra", Porto, Orfeu, ATEP 6077, ano de 1962, acompanhado à viola por Rui Pato. Reedições: antologia Cd "Adriano. Obra Completa", Lisboa, Movieplay, 35.003, ano de 1994 ("Adriano. Fados e baladas de Coimbra", Lisboa, Movieplay, 35.004, 1994, faixa nº 12). Adriano grava uma espécie de variante do original: nas coplas bisa o 1º dístico; suprime a 3ª quadra e adultera o 2º trauteio.
Espécime regravado pelo próprio José Afonso, acompanhado por Rui Pato na viola nylon: EP "Baladas e Canções", Porto, Ofir, AM 4.016, ano de 1964 e LP "Baladas e Canções", Porto, Ofir, AMS 301, ano de 1967. Foi este registo remasterizado no CD "José Afonso. Baladas e Canções", Lisboa, EMI-VC 724383661725, ano de 1996.

Outros registos:

-José Maria Lacerda e Megre, CD "Coimbra Eterna", Porto, STRAUSS, ST 5190, ano de 1998, faixa nº 18, acompanhado por Assis e Santos/Moniz Palme (gg), Mário Ribeiro/Manuel Costa (vv). Vocalização excessivamente arrastada, como que modificando a linha melódica. O cantor bisa os primeiros dísticos das quadras e o acompanhamento de guitarra parece-nos excessivamente próximo do concebido em 1956-1957 por Machado Soares para o tema SERRA d'ARGA;

-Frederico Vinagre, fadista profissional activo em Lisboa, no CD "Frederico Vinagre. Fados de Coimbra", Lisboa, Metro-Som, CD 151, ano de 2001 (remasterização de um Lp da década de 1980, com Octávio Sérgio e Durval Moreirinhas);

-José Henrique Dias, LP "De Coimbra... por Bem", Lisboa, Discossete, LP-800, ano de 1991, Lado A, faixa nº 3. Este registo foi vertido no CD "Fados de Coimbra e Tunas Académicas. Raízes e Tradições", CDSETE, Cd 3, ano de 2001;

-CD "Quinteto de Coimbra. Guitarra e Canção de Coimbra", Coimbra, Casa de Fados, ano de 2001, faixa nº 7. Formação profissional constituída por Patrick Mendes/António Ataíde (vozes), Ricardo Dias (g) e Nuno Botelho/Pedro Lopes (vv). Registo próximo de Adriano Correia de Oliveira, com repetição dos primeiros dísticos das quadras;

-António Jesus, CD "António Jesus. O canto, a guitarra e os amigos", Coimbra, AEMINIUM Records 004, ano de 2002.

Não confundir esta composição com duas outras cuja melodia é distinta:

-Minha Mãe (Minha mãe é pobrezinha), gravada na década de 1920 pelo estudante de Medicina da Universidade do Porto Carlos Leal;

-Minha Mãe (Oh minha mãe, minha mãe), espécime da década de 1940, da autoria de Manuel Julião, gravado por Manuel Branquinho.

Transcrição: Octávio Sérgio (2007)
Texto: José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes

“RTP1: Zeca Afonso depois da meia-noite” (JN)
O Jornal de Notícias (JN), na sua edição de ontem (sábado), num curto apontamento mas com sentido de oportunidade, justiça e seriedade intelectual, levanta uma questão pertinente em relação à atitude da RTP1 sobre José Afonso.
O canal do Estado anunciou que, no dia 22, vai transmitir um comentário sobre o Zeca, como sempre, depois da meia-noite e não num horário nobre, espaço a que só têm direito os enlatados norte-americanos ou Jaime Nogueira Pinto a colocar Salazar nos altares da história.
Nesse apontamento, o JN diz que contactou a Direcção de Programas da RTP sobre os critérios para a escolha daquele horário, mas que não obteve qualquer resposta.
Já estou a ver o “filme”: o comentário vai ser, mais uma vez, um hino ao passadismo, que vai exibir um Zeca quase inteiramente incompleto; apenas o Zeca das canções contra a ditadura, o da “Grândola” e o de outra meia dúzia de melodias que ficaram no ouvido dos portugueses, mas ignorando sempre a envergadura deste homem extraordinário. Sempre, numa atitude passadista, ideológica e com muita ignorância pelo meio; um Zeca deitado na tumba, muito caladinho. Não vão mostrar um Zeca “filho do povo com nobreza e modernidade” – como dizia Eduardo Luís Cortesão.
Queremos o Zeca verdadeiro! Autêntico, como era! O que nos legou uma obra incomparável, que aborda as nossas raízes, a cidadania, a liberdade do homem individual e colectivo, porque, como escreveu Torga, “temos que encontrar as Índias que temos cá dentro”, ou seja, Portugal, que só considera concebido de modernidade o que vem de fora e o que é parolo.
Como diz o outro, “não seja parolo, ouça música portuguesa!”
José Carlos Pereira
Do Blog da AJA (Associação José Afonso)


Aniversário Natalício de Carlos Paredes
Caricatura de Carlos Paredes por RUI/1997, nome artístico de Rui Flunser Pimentel. Esta caricatura fez parte de um conjunto que esteve exposto no Edifício Chiado, Coimbra, em Maio-Junho de 2005, depois editado no Catálogo "Rui Pimentel. Puro Açúcar. Maio-Junho 2005", Coimbra, Edição da CMC, 2005, p. 10, publicação que também contém uma caricatura de José Afonso.
Este autor é o mesmo referido por Octávio Sérgio no post anterior.
Infelizmente não nos é humana nem tecnologicamente possível acompanhar os acontecimentos relacionados com todas as figuras da Guitarra e Canção de Coimbra. Para uns faltam retratos e dados biográficos, para outros não existe uma base de dados informática que permita estar em sintonia com o pulsar do calendário anual. Uma boa maneira de remediar lacunas poderá passar por leitores que tomem a iniciativa de lembrar datas e eventos.
AMNunes

No Blog do Manel encontrei esta interessantíssima caricatura de Carlos Paredes, no dia do seu aniversário, 16 de Fevereiro. Neste Blog tal data não foi assinalada, pelo facto de ter estado toda a semana sem computador. Por vezes acontecem imprevistos!


Elos para uma abordagem dos Trajos Académicos (I)
D. Manuel Gonçalves Cerejeira e diversos prelados portugueses com o Papa Paulo VI (1897-1978) em Fátima (visita papal de 13/05/1967). Alguns bispos envergam roquete de mangas estreitas e rendadas sobre as batinas avivadas (tradição comum aos doutores, advogados e juízes espanhóis) e sobre este uma espécie de sobrecapa curta e despojada de mangas. Trata-se de uma versão curta da antiga Chamarra ou Garnacha que se assentava exteriomente sobre a Loba. Segundo o direito canónico, os prelados deveriam usar esta veste apenas em deslocações fora das suas dioceses.
Uma terceira variante, posicionada entre a garnacha curta e a talar era a talar de cauda roçagante, usada em grandes cerimónias de corte e entradas régias e episcopais. Nos desfiles a cavalo, descaía lateralmente sobre o animal. Nos cortejos pedestres palacianas e processionais, requeria a presença de um pagem caudatário. Visualize-se um modelo deste tipo, em vermelho vivo, em D. Manuel I, no Terceiro Casamento do monarca em 1516, segundo registo pictórico de Garcia Fernandes (Lisboa, 1546, Museu de São Roque).
Fonte: D. Manuel José da Cruz Policarpo, "Cardeal Cerejeira. Fotobiografia", Lisboa, Notícias Editorial, 2002, p. 114.
AMNunes


Elos para uma abordagem dos Trajos Académicos (II)
Dezembro de 1929, Roma: o novo Cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira com o seu séquito. D. Manuel Gonçalves Cerejeira apresenta um conjunto de peças vestimentárias e de insígnias que o aproximam das tradições universitárias de Coimbra e de Salamanca:
1) Hábito Talar;
2) Roquete com punhos de renda (Salamanca, advogados e juízes de Espanha);
3) Murça (Salamanca);
4) Anel (Coimbra e Salamanca);
5) Galero ou Capelo de borlas (imposto pelo Papa, como soía com os barretes em Coimbra e Salamanca, deveria ficar aos pés do ataúde nos velórios);
6) Luvas (Salamanca e Coimbra).
Ladeiam D. Manuel Gonçalves Cerejeira seu irmão, o médico Dr. Júlio Gonçalves Cerejeira, com bastão e vestes de Mestre de Cerimónias e o Camarista em Loba talar e chapéu preto de abas redondas. Entre o Cardeal Cerejeira e seu irmão Joaquim divisa-se o Pagem Caudatário, também com Loba talar e romeira. Os restantes dois elementos, em traje de cerimónia, eram ministros portugueses convidados.
Esta fotografia constitui um documento muito expressivo para o estudo comparativo dos trajos, insígnias e cerimonial nas velhas universidades ibéricas, Sé Patriarcal de Lisboa e Vaticano. Conforme se aduz, as vestes, insígnias e cerimonial eclesiástico mantiveram-se praticamente sem alterações até ao Pontificado de Paulo VI. Quando se julgava que a ancestral Loba havia desaparecido sem deixar rasto, comprova-se através de análises comparativas que permaneceu no Vaticano até à década de 1960 em duas versões: de duas peças, talar, comum à tradição de Coimbra e de Salamanca, nos Camareiros, Pagens Caudatários e transportadores da Sédia Gestatória papal; como veste externa curta de bispos, arcebispos e cardeais, mais conhecida por garnacha.
Fontes: Padre Moreira das Neves, "O Cardeal Cerejeira. Patriarca de Lisboa", Lisboa, Edições Pró Domo, 1948; D. José da Cruz Policarpo, "Cardeal Cerejeira. Fotobiografia", Lisboa, Notícias Editoral, 2002; pintura de Stefano Piale, "Pio VI visita os Museus do Vaticano". Neste trabalho, o papa ostenta uma batina branca de cauda, ajeitada por um Pagem Caudatário com Loba e cinta.
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Elos para uma abordagem dos Trajos Académicos (III)
Trajo de pastor/pastora protestante de porte consagrado na Suiça: "toge" preta talar, costura de ombros fartamente pregueada e mangão de tipo boca de sino sem canhão, apresentando grandes semelhanças com a beca judiciária portuguesa. Não é visível a abotoadora frontal de botõezinhos, comum às togas de advogados, "toges" universitárias e judiciárias francesas, lobas antigas e batinas eclesiásticas.
Na Coimbra do século XVIII muitos estudantes se distinguiam pelo porte de uma variante da Loba antiga. Em vez da sotaina sem mangas, faziam-se incorporar mangões de boca de sino na chamarra ou garnacha. O botânico Heinrich Link, tendo passado por Portugal entre 1797-1799, anotou nas suas memórias editadas em 1805 ("Voyage en Portugal...") que a Loba lembrava um "casaco" apertado nas costas com atilhos, parecendo a garnacha a "toge" dos pastores protestantes alemães. Em 1815, Breton produziu relato semelhante ao de Link. Ao cabo e ao resto, os viajantes estrangeiros limitavam-se a assinalar impressivamente traços comuns, em peças vestimentárias europeias da mesma família.
AMNunes


Elos para uma abordagem dos Trajos Académicos (IV)
Advogada portuguesa? Não, pastora francesa com "toge" preta de corte semelhante à usada pelos juízes, docentes universitários e advogados franceses. O modelo judiciário espanhol é quase idêntico. Nesta solução, a manga é de estilo saco, com estrangulamento junto ao punho, conforme modelo adoptado pelos Juízes do Supremo Tribunal das Filipinas (cf. Blog, de 15/01/2007).
Se deixarmos de lado o pormenor do remate das mangas, aos olhos dos viajantes estrangeiros que passaram por Coimbra no século XVIII este figurino parecia algo semelhante à Loba dos estudantes. Distorção do olhar? Com efeito, a Loba usada pelos lentes e escolares conimbricenses assemelhava-se a este modelo, imperando contudo diferenças consideráveis: a "toge" de pastor francês é inteiriça, enquanto a Loba era constituída por Sotaina interna e Chamarra ou Garnacha externa; a "toge" de pastor incorporava mangas, enquanto a Loba as não tinha.
Fonte: http://www.ponsard-dumas.com/.
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Elos para uma abordagem dos Trajos Académicos (V)
A Virgem com o Menino ao colo é um tema plurissecular na arte sacra ocidental. O surpreendente Jean Fouquet abordou o assunto no Díptico de Melun (ca. 1452-1455), emprestando a Maria o rosto de Agnès Sorel. Fouquet desenha uma dona tardo-medieval de seios opulentos, pele marmórea como era próprio dos estratos sociais elevados e vestuário rico, não omitindo sequer o detalhe da testa rapada à navalha. O conceito de pudor na Idade Média não abarcava o seio desnudo quando em contexto de amamentação, costume que se prolongou na cultura portuguesa até ao século XX.
O cenário e adereços seleccionados por Fouquet deixam escapar informações dignas de reparo. Um desses pormenores mostra o trono da Virgem adornado com borlas de ouro, pérolas e franjados. Outro, bem mais interessante, regista um cinto confeccionado à base nós e rosetas, com uma solução ornamental idêntica à adoptada nos capelos dos cónegos portugueses e no peito da beca consagrada em 1856 para uso das Escolas Médico-Cirúrgicas.
Este ornato não ocorre nas becas judiciárias/ou universitárias belgas, francesas, espanholas, como também não o detectámos até ao presente em qualquer figuração da beca dos juízes portugueses.
Uma influência plausível, e já aventada, seria a transmigração dos alamares à hussardo, bastante usados em casaquinhas femininas e em casacos masculinos civis no período 1840-1860. As representações portuguesas da toga de advogado são escassas para os períodos anteriores a 1900 e o desenho-base guardado na sede da Ordem dos Advogados não se pode considerar elucidativo. Basta lembrar aqui que alfaiates conimbricenses de grande gabarito como o Sr. Quaresma, com oficina junto às escadinhas da Portagem (activo até meados da década de 1990), não confeccionavam a toga conforme o desenho-padrão da Ordem dos Advogados, optando outrossim por não cortar o pano no peito e por um tipo de manga tubular rematada em canhão de setim e botões.
Admitindo que o modelo mais comum seria o da toga preta talar inteiriça com botõezinhos frontais, manga de boca de sino e pala dorsal, conforme a caricatura de Manuel de Arriaga por Bordalo Pinheiro no "Álbum das Glórias", é preciso não perder de vista uma representação-variante muito rara, presente num postal ilustrado de propaganda republicana a Afonso Costa. Nesse postal, Afonso Costa é figurado com toga preta talar de advogado, nela se vendo distintamente o peito ornamentado com rosetas negras. Esta variante, raríssima, ainda foi avistada em 2007 num advogado português.
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Elos para uma abordagem dos Trajos Académicos (VI)

Gustave Courbet, "Um enterro em Ornans", França, 1850 (Musée d'Orsay, Paris). Muitos séculos separam esta pintura de costumes provinciais assinada por Courbet em meados do século XIX e o fresco idealizado por Domenico di Bartolo no Hospital de Santa Maria de Siena. Coubert coloca junto do padre dois magistrados em "toge" talar preto-vermelha, figuração que não oferece surpresas, comum que era aos meios profissionais universitário e judicial. Porém, o modelo de barrete oferta alguma extravagância visual, com a sua base campaniforme sulcada de nervuras e o rebordo da copa recortado à maneira dos capitéis palmiformes egípcios. Diríamos que configura uma solução mais tributária das variantes franco-italianas anteriores ao século XIX do que das soluções padronizadoras consagradas no século XX.

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Elos para uma abordagem dos Trajos Académicos (VII)
Pormenor de um fresco assinado por Demenico di Bartolo no Ospedale de Santa Maria della Scala, Siena, ca. 1441-1444, alusivo ao tratamento de doentes e acamados. Rico em informações no que concerne à História da Medicina europeia, este fresco tem o condão de exibir uma figura masculina erecta com um barrete negro que parece configurar uma variante da "toque" consagrada no universo parlamentar, judiciário e universitário francês, belga e italiano. A altura entre a base cilindriforme e o rebordo da copa é bastante exagerada, sobressaindo a ornamentação bolbosa, de tipo capitel palmiforme egípcio, que a partir do século XVI prevaleceu em França.
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O Coro dos Antigos Orfeonistas comemorou os seus 25 anos de vida, no Casino da Figueira da Foz. Notícia do jornal Centro de 7-2-2007.

José Afonso no jornal O Despertar de 16-2-2007.

José Dias em mais uma crónica dos seus tempos de Coimbra no jornal O Despertar de 16-2-2007.

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