sábado, novembro 12, 2005


Comemorações do Ano Inesiano em Coimbra. Anúncio do Diário de Coimbra de hoje. Posted by Picasa

MÚSICA TRADICIONAL DE COIMBRA
(TEMAS DA CANÇÃO DE COIMBRA)


Uma explicação: o plano deste cancioneiro literário musical foi apresentado ao Dr. Mário Nunes, Vereador do Pelouro da Cultura da CMC em 27 de Agosto de 2003, nele figurando como técnico musical a convidar o Prof. José dos Santos Paulo. Porém, não foi possível chegar a um entendimento com o Prof. José Paulo e em Março de 2004 todo o projecto inicial sofreu transformações e adaptações por forma a ser incluído do projecto de candidatura da Canção de Coimbra e Partimónio da UNESCO. Entre Março e Maio de 2004 foram envidados infrutíferos esforços para agregar ao projecto os músicos José Firmino, Tobias Cardoso e António Madeira Alves. A celebração de um protocolo entre a Câmara Municipal de Coimbra e a Reitoria da Universidade de Coimbra em nada contribuiu para fazer arrancar o projecto. Todos os trabalhos projectados e calendarizados ficaram parados entre Maio de 2004 e as eleições municipais de Outubro de 2005, para grande amargura do Dr. Jorge Cravo e minha. A falta de vontade era tão ostensiva que a páginas tantas mais parecia que o autor deste projecto e o precioso colaborador, Coronel José Anjos de Carvalho, estavam a mendigar uma esmola editorial ao município coimbrão. O deixa andar, ditou o afastamento e o desinteresse. Edita-se on line o plano então elaborado, o qual estava inteiramente pronto a figurar como prefácio do 1º volume do cancioneiro das canções musicais estróficas.

I – Coordenação da obra
Coordenador Geral: Mestre António Manuel Nunes
Musicólogo: ?
Consultor e Colaborador Principal: Coronel José Anjos de Carvalho
Editor: Câmara Municipal de Coimbra

II – Um Património Cultural digno de preservação
Cidades dotadas de núcleo histórico apetrechado com edifícios religiosos, militares, escolares, jardins, mancha florestal e espaços museológicos, constituem mais valias que importa conhecer, estudar e preservar. Além de um Património Monumental deveras significativo – citemos o Paço das Escolas, a Sé Velha, a Cadeia de planta panótica oitocentista, a Igreja do Mosteiro de Santa Cruz, a última elevada à categoria de Panteão Nacional em 2003 – Coimbra é detentora de invejável palmarés no domínio da produção cultural espiritual, podendo referir-se a longa e persistente tradição dos grupos de teatro popular e académico, a gastronomia, os trajos etnográficos recuperados por grupos folclóricos, feiras, manifestações perdidas como a Queima do Judas e a Espera dos Reis, inúmeras romarias, arruadas de gaiteiros, os festejos da Rainha Santa Isabel, as serenatas fluviais das tricanas e dos futricas, a romaria de Santo António dos Olivais, os trabalhos artesanais que iam desde os brinquedos e faianças aos ferros forjados, as decantadas Fogueiras de São João, as marchas populares dos bairros, a celebração do Dia da Espiga, as idas à Fonte do Castanheiro em noites de São João. E claro, os espectáculos, cortejos, rituais e serenatas académicas.

Com alguma razão se mimoseou Coimbra com o epíteto de Cidade das Canções. Epíteto que encerra algumas perplexidades. A Música Tradicional de Coimbra, duramente marginalizado por musicólogos como Armando Leça e Mário de Sampaio Ribeiro, nunca mereceu qualquer interesse digno de vulto da parte dos folcloristas. O folclore conimbricense não passaria de um embuste, porquanto baseado em modas e danças de autores conhecidos. Coimbra pagou bem caro o preconceito, figurando ainda hoje à margem das recolhas nacionais operadas no século XX, cancioneiros da especialidade, manuais escolares de 5º e 6º ano. No pior dos casos, quando algum recolector musical fala de Coimbra, fá-lo apenas para mencionar uma “guitarrada”, um qualquer “fado”, ou mesmo versões estropiadas do “Vira de Coimbra” produzidas em estúdio (para tanto, pouco importando se estamos em presença do Vira de Coimbra, do Vira de Quatro ou de uma qualquer variante dos povoados vizinhos).
Este lastimoso estado de coisas tem vindo a mudar muito lentamente. Em 1987, a propósito das Primeiras Jornadas Sobre a Alta de Coimbra, dinamizadas pelo Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, o então director artístico do Grupo Folclórico da Universidade de Coimbra/Casa do Pessoal, aproveitou para denunciar o preconceito e a ignorância reinantes, para tanto trazendo ao palco cordofones, afinações, toques, modas e danças que causaram surpresa. Causaram surpresa aos jovens, pois os congressistas mais idosos logo bateram palmas e trautearam espécimes bem conhecidos como o Vira de Coimbra, o Ai Gabriel, a Giga e o Manuel Ceguinho.
Quer isto significar que o conceito de património se tem vindo a alargar, lançando olhares e curiosidades sobre mundos ocultos. Na transição do século XX para o século XXI assiste-se a uma deslocação e alargamento das convencionais fronteiras do conceito de património. Lado a lado com o mosteiro, o castelo, a biblioteca, o museu, entram em cena a gastronomia, as danças, os trajos etnográficos, os instrumentos musicais, o ambiente, a memória oral.
Abandona-se a visão urbana, elitista e monumentalista do património. É mais ou menos consensual que cada comunidade tem direito ao SEU Património Cultural. Mas convenhamos, nem todas as comunidades são detentoras de castelos medievais, igrejas góticas, “conventos de mafras”. As tradicionais festas açorianas do Divino Espírito Santo, com a sua parafrenália de estandartes, novenários, foliões, imperadores, coroas e coroações, banquetes comunitários, serão menos Bem Cultural do que um convento? Esta constatação leva-nos a problemas fulcrais: “preservar o quê e como”?, “quando é que um Bem ganha a qualidade de património”? (cf. O património local e regional, Lisboa, Ministério da Educação, 1998, págs. 16 e 25). Sem pretendermos fazer doutrina sobre matérias tão controversas, enunciaríamos os seguintes vectores: a) nas comunidades menos apetrechadas com património monumental material, a aposta difererenciadora passa necessariamente pela valorização do Património Imaterial; b) há produções culturais comuns a vários municípios, o que impede que determinado município em concreto se reclame legítimo representante de tal bem. São exemplos: a Viola da Terra, comum a todas as ilhas dos Açores; a Viola Braguesa, utilizada no Minho e Douro Litoral; a Chanfana, prato que se alarga aos concelhos de Coimbra, Condeixa, Penela, Arganil, Miranda; c) existem artefactos e práticas culturais específicas de determinadas localidades. É o caso singular da Canção de Coimbra, nascida e consolidada na Cidade de Coimbra, sem representação de vulto nas freguesias rurais do Concelho de Coimbra; d) nas comunidades onde já foi concretizado um longo e sólido trabalho de preservação do Património Material, torna-se pertinente estudar e preservar o Património Espiritual. Coimbra tem sobejas motivações para apostar a fundo num projecto desta natureza:

-O plano governamental de extensas demolições levado a cabo na Alta de Coimbra pelas décadas de 1940-1950 colocou em perigo e fez desaparecer práticas culturais como as Fogueiras de São João e as Serenatas de Cortejamento, na medida em que desarticulou as vivências tradiconais e operou a desertificação forçada do tecido urbano. Os espaços de sociabilidade mais afectados correspondem à demolição substancial do antigo Bairro Latino/Bairro Salatina, espaços onde emergiu e se consolidou a Canção de Coimbra a partir do primeiro quartel do século XIX;
-A proibição das Serenatas de Cortejamento durante a Primeira República e o Estado Novo, conduziu à rarefacção de práticas culturais e artísticas espontâneas, que passaram a ser vistas como fenómenos de perturbação da ordem nocturna;
-O crescente grau de poluição sonora urbana e a evolução dos gostos ditou o fim das antigas serenatas fluviais;
-As crises estudantis da década de 1960 baniram por completo a Canção de Coimbra dos horizontes culturais da cidade e da Universidade de Coimbra durante um longo período (1969-1978);
-a evolução e massificação dos gostos musicais juvenis tem-se vindo a traduzir na diminuição do número de potenciais cultores;
-O grosso dos registos fonográficos efectuados entre 1904 e 1930 esgotou completamente, pelo que se tornou impossível aos jovens cultores o acesso às fontes antigas, com manifesto prejuízo pedagógico e didáctico das escolas de formação de aprendizes;
-Grande parte dos registos fonográficos levados a cabo entre 1953-1973 também esgotou completamente sem terem conhecido qualquer esforço de reedição;
-Os registos sonoros em bobine de fita de aço feitos no antigo Emissor Regional de Coimbra (RDP-Centro) entre 1946-1960 não foram preservados;
-Avultado número de composições publicadas entre finais do século XIX e 1930 em partitura impressa desapareceram completamente do mercado ou existem apenas em coleccionadores particulares.

A Câmara Municipal de Coimbra, através do seu Pelouro da Cultura, tem-se mostrado sensível a este incomensurável Património Cultural/Imaterial. No domínio do folclore, manteve em funcionamento uma Comissão Municipal de Análise do Folclore, onde pontificaram nomes prestigiados como o Dr. Francisco Faria e o Prof. Doutor Nelson Correia Borges. Os resultados pedagógicos deste trabalho delicado e por vezes melindroso e melindrante são bem visíveis nos espectáculos proporcionados e reconstituições etnográficas levadas a cabo na cidade e em diversas freguesias do Concelho de Coimbra.
Noutros domínios da Música Tradicional de Coimbra, concretamente no que respeita à Canção de Coimbra, a edilidade encetou a partir de 1978 algumas acções que importa registar:

-construção, recuperação e divulgação da Viola Toeira
-realização do Primeiro Seminário do Fado de Coimbra (Maio de 1978), seguindo-se-lhe outros até 1983
-realização do Primeiro Forum Sobre a Canção de Coimbra (Maio de 2003)
-apoio e dinamização do Primeiro Centenário do Nascimento do guitarrista Flávio Rodrigues da Silva, concretizado através de palestras, exposição documental, descerramento de lápides toponímicas, espectáculo musical, edição de catálogo e comparticipação na edição da respectiva monografia biográfico-musical (Novembro de 2002)
-evocação do aniversário do falecimento do cantor Edmundo Bettencourt, com descerramento de placa toponímica, palestra e sessão musical (Fevereiro de 2002)
-criação do Prémio Edmundo de Bettencourt visando a edição de espécimes inéditos, cujo regulamento foi elaborado pelos Drs. Mário Nunes e Jorge Cravo (Fevereiro de 2003)
-apoio logístico à Escola dos Antigos Orfeonistas, orientada por monitor de guitarra Paulo Soares (Maio de 2002)
-apoio logístico e material da Escola Municipal do Chiado (1978-1990), orientada pelos formadores Dr. Jorge Gomes e Dr. Fernando Monteiro
-negociações com a RDP/Centro com vista a inventariar e salvaguardar os arquivos fonográficos daquela instituição (Março de 2002)
-negociações com o Director da RDP/Centro com vista a transferir para a Fonoteca Municipal o respectivo espólio discográfico (Março de 2002)
-projectos de salvaguarda de antigos discos de 78 rotações concretizados na Fonoteca Municipal pela Dr. Ilda Carvalho e seus colaboradores
-vistoria de espólios documentais particulares com eventual interesse para o estudo das tradições musicais locais (Espólio José Elyseu e Manuel Elyseu, Julho de 2003)
-aprovação por unanimidade na Assembleia Municipal de Coimbra da Canção de Coimbra como género musical, histórico e estético singular, candidato a Obra Prima do Património Oral e Imaterial da Humanidade junto da UNESCO (15 de Março de 2004)
-recepção, catalogação, restauro e exposição dos Instrumentos Musicais Tradicionais Portugueses da Colecção Dr. Manuel Louzã Henriques (Abril de 2004)

Verificou-se, entretanto, que alguns munícipes encorajados pelos trabalhos de estudo produzidos em 2002 sobre Flávio Rodrigues da Silva e em 1999 sobre Edmundo Bettencourt propuseram ao Pelouro da Cultura a cedência de materiais que possibilitariam realizar estudos similares aos referidos. Consultado sobre o assunto e chamado a proceder à triagem dos mencionados espólios António M. Nunes sugeriu que todos esses materiais fossem aproveitados não em monografias de escassas páginas mas alinhados na produção de um cancioneiro geral.
Esta proposta pretende fazer eco das interpelações votadas no final do I Forum Sobre Canção de Coimbra, realizado na Casa Municipal da Cultura em Maio de 2003, sob orientação do Dr. Jorge Cravo. Recordemos algumas dessas propostas enviadas ao Vereador da Cultura:

-urgência na feitura de uma História Geral da Canção de Coimbra, considerando a inexistência de estudos credíveis e a crescente procura dos investigadores nacionais e estrangeiros
-recolha, estudo e inventariação exaustiva de um cancioneiro literário-musical, tendo em conta que os espécimes mais conhecidos e registados fonográficamente representarão 15% a 20% do total de peças existentes em arquivos particulares
-considerar a hipótese de classificação da Guitarra de Coimbra como um produto com denominação de origem protegida
-reflectir sobre a hipótese de classificação da Canção de Coimbra como Património Cultural de Interesse Municipal

A Canção de Coimbra costuma ser apresentada nos dicionários, enciclopédias, manuais escolares, jornais e revistas como um peculiar tipo de “Fado regional” que ganhou alguns contornos diferenciados a partir de uma origem chamada Fado de Lisboa. Trata-se de uma ideia enraizada junto de musicólogos ilustres como Ernesto Vieira, António Arroio, Tomás Borba, Rodney Gallop, Fernando Lopes Graça, Frederico de Freitas, Rui Vieira Nery, ou de publicistas como João Pinto de Carvalho e Alberto Pimentel. Mas, também temos musicólogos de reconhecida e superior formação musical que negam com bons argumentos a essência fadográfica da Canção de Coimbra, não lhe reconhecendo mais do que pontuais sugerências. Enfileiram nesta segunda posição Mário de Sampaio Ribeiro, Armando Leça, Tenente Francisco José Dias, maestro João de Oliveira Anjo, Francisco Faria, Virgílio Caseiro. Quem está a ser cientificamente honesto, cabe perguntar?
Independentemente da dilucidação deste tipo de questões – nada menores, bastando lembrar o quanto os historiadores portugueses discutiram se houve ou não feudalismo em Portugal, se o Estado Novo foi ou não foi um tipo de fascismo – resta a inquietante e inexplicável inexistência de uma História da Canção de Coimbra. E resta também a preocupante impossibilidade de se pretender proteger um Bem Cultural que se encontra por recolher e inventariar. Não nos cabe atribuir responsabilidades, nem nomear quem deveria ter estudado em devido tempo e não estudou a Canção de Coimbra. Não teria ficado mal aos docentes de Antropologia, Sociologia, História da Música, História, activos na Universidade de Coimbra, a produção de estudos de fundo sobre tais matérias.
Como proteger um Bem cujos limites e extensão não são conhecidos? Como apoiar economicamente projectos, jornadas, seminários, reedições fonográficas, quando a “estória” desse invocado Bem assenta em mitos, lendas, no “diz que diz”? Um passo significativo para a alteração deste lastimoso estado de coisas foi dado em 2003, quando o Pró-Reitor da Universidade de Coimbra, Prof. Doutor João Goveia Monteiro, sugeriu ao Dr. Jorge Cravo a dinamização de um ciclo de debates sobre a Canção de Coimbra. E em Abril de 2004, logo após a aprovação municipal do projecto de candidatura à UNESCO, o mesmo Pró-Reitor veio sugerir a inclusão da candidatura no dossier documental que visa propôr o antigo Paço das Escolas e suas dependências ao galardão da UNESCO.
A Canção de Coimbra, é uma manifestação cultural muito peculiar de um todo mais genérico que é a Música Tradicional de Coimbra. Embora com sinais residuais anteriores (Proto-Canção de Coimbra), emergiu lentamente na Alta de Coimbra entre a Revolução Liberal de 1820, as manifestações do primeiro Romantismo e o término da Guerra Civil (1834). Torna-se possível hodiernamente delimitar com grande rigor a geografia desse parto sincrético, permutado entre o Bairro Latino e o Bairro Salatina. Como também se torna possível afirmar que a Canção de Coimbra é bem menos um “fado” importado e regionalizado e muito mais uma operação de sincretização/encontro entre o folclore de Coimbra e outras manifestações musicais onde entram modinhas, lunduns, valsas, sonatas, gigas, marchas, tangos, polcas, mazurcas, lieder, serenatas, trechos operáticos, fados.
Logo nas conclusões do Primeiro Seminário do Fado de Coimbra (Maio de 1978) o Dr. Luís Plácido sugeriu veementemente que se procedesse à recolha/transcrição musical de largas centenas de espécimes que corriam o risco de perecer. Recorde-se que entre 1969-1978 a Canção de Coimbra fora ameaçada de extinção e praticamente deixara de ser cultivada na Academia de Coimbra. Como apoio à Escola Municipal do Chiado, o Dr. Joaquim Pinho coligiu em fotocópia largas dezenas de partituras musicais (1979). Na sequência destes esforços publicou em 1986 o Engenheiro Carlos Manuel Simões Caiado um livro com 56 solfas manuscritas (Antologia do Fado de Coimbra).
Não obstante os esforços referidos, o trabalho de recolha e de transcrição musical é muito parcelar, lacunoso e praticamente inexistente, quando sabemos que o número de espécimes cantáveis e de espécimes instrumentais ascende a mais de dois milhares. Correndo o risco de perfilhar uma afirmação excessivamente positivista e até considerada ultrapassada, diremos que sem um arquivo literário-musical exaustivo, as tentativas de definição e de caracterização da Canção de Coimbra arriscam cair no terreno do anedótico, do superficial e do contingente.

Constitui a Canção de Coimbra uma mais valia patrimonial apta a rentabilizar a imagem cultural da Cidade de Coimbra, da Universidade de Coimbra, e a contribuir para a afirmação nacional e internacional da(s) sua(s) Identidade(s)? Entendemos que sim. Excluindo Lisboa, nenhuma outra cidade portuguesa se pode vangloriar de ser detentora de um foro musical peculiar, assimilável por exemplo ao Tango e à Canção Napolitana. Aliás, a Lei nº 107/2001, de 8 de Setembro (Lei de Bases do regime de protecção e valorização do Património Cultural) explicita claramente as responsabilidades e o papel decisório dos municípios quanto à implementação de medidas de salvaguarda do seu património material e espiritual.
Interessa pois ao Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, estudar, proteger e divulgar o Seu Património Cultural (neste caso a Canção de Coimbra) e não produtos e manifestações carcaterísticas de outros muncípios portugueses. E no caso vertente, o único elemento característico da Canção de Coimbra que poder ser partilhado com outros municípios da Beira Litoral é a Viola Toeira.
De acordo com artigo 17º do diploma mencionado cumpre-nos afirmar que a Canção de Coimbra:

-constitui um Bem Cultural único e inconfundível, construído e consolidado na Cidade de Coimbra
-possui Identidade própria, não se diluindo nem confundindo com quaisquer outros géneros musicais
-revela elevado Valor matricial
-espelha o génio criador de inúmeros compositores e intérpretes, podendo citar-se José Dória, Artur Paredes, Carlos Paredes, João Bagão, Luís Goes, António Menano, Edmundo Bettencourt
-é testemunho simbólico da Identidade Cultural da Cidade, com reconhecimento nacional e internacional plasmado na literatura turística, na comunicação social, no romance histórico, na produção poética, no cinema, na discografia, na pintura
-testemunha factos, memórias e vivências incontornáveis no âmbito da história local, cujos sinais mais visíveis são a toponímia e as lápides evocativas
-é um valor poético a descobrir, traduzindo ecos do Romantismo, Ultra-Romantismo, Simbolismo, Decadentismo, Neo-Realismo e folclorismo
-é um valor musical a descobrir, tanto a nível dos compositores amadores, como dos compositores com formação musical, onde deixaram rasto nomes como Prof. António Simões de Carvalho Barbas, Maestro Francisco Lopes Lima de Macedo Júnior, Alfredo Keil, Elisa Pedroso, Maestro Álvaro Teixeira Lopes, Maestro Raul de Campos, Maestro Manuel Raposo Marques, Maestro Elias de Aguiar, Maestro César Magliano, Maestro António Joyce, Maestro João de Oliveira Anjo, José das Neves Elyseu, Maestro António Dias da Costa, Prof. Tomás Borba, Condessa de Proença-a-Velha, António Viana e Alexandre Rey Colaço, Alberto Sarti, Virgílio Caseiro
-reflecte memórias individuais, colectivas e afectivas
-reveste importância em termos de investigação poética, histórica, biográfica, etnomusicológica, fonográfica, estética, antropológica, sociológica e psicológica
-corre, em muitos aspectos, o risco de perda de integridade, fruto de ausência de recolhas orais, pesquisa documental, salvaguarda, contrafacção de espécimes, não respeito pelos direitos autorais, desertificação da Alta, massificação cultural
-no passado recente foi ameaçada de marginalização e de extinção (1969-1978), tendo a recuperação pública resultado de iniciativa oficial desta edilidade

A Câmara Municipal de Coimbra tem-se vindo a mostrar particularmente sensível às questões de salvaguarda patrimonial, constituindo exemplos desta vontade cultural e política o cuidadoso processo de inventariação/revisão toponímico, a valorização do Brasão de Armas Municipal, o apoio abertamente manifestado a diversas iniciativas culturais e evocativas.
De há muito candidata persistente ao cobiçado galardão da UNESCO, a Cidade de Coimbra tem discutido se valeria a pena promover na geografia do classificável o núcleo histórico. Figuras importantes dos meios culturais locais sugeriram a necessidade de englobar a Cidade Universitária erigida pelo Estado Novo. Acrescentaríamos que uma “cidade de monumentos”, além das torres, muros, altares, fachadas, é também resultado do seu património espiritual.

II – Fontes
Como fontes documentais utilizamos registos fonográficos, partituras musicais impressas, partituras manuscritas, recolhas orais, livros de poesia, biografias, fotografias, anuários de matrículas, cartazes, jornais de época, revistas, filmes, testemunhos directos. Dos vários espólios e arquivos particulares a que tivemos acesso importa relevar:

-partituras de Armando Carneiro da Silva, sobretudo de récitas de despedida de quintanistas da Universidade de Coimbra, reunidas aquando da elaboração do livro Récitas do 5º Ano (1955), integralmente copiadas por António M. Nunes em 1988;
-diversos registos fonográficos pertencentes ao Dr. Afonso de Sousa, transferidos para cassete em 1988 e 1989;
-partituras impressas e manuscritas existentes na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra;
-partituras e registos fonográficos do cantor Francisco Caetano, cedidos por seu filho José António Caetano, num trabalho de recolha feito em colaboração com a Fonoteca Municipal de Coimbra (Maio-Julho de 2003);
-partituras da colecção particular do Dr. Jorge Gomes utilizadas como material de apoio à antiga Escola Municipal do Chiado (1978-1990);
-recolhas e reconstituições efectuadas por Fernando Frias Gonçalves, respeitantes a Flávio Rodrigues da Silva;
-arquivo particular do Dr. Aurélio dos Reis, salvaguardado informaticamente pelo Dr. Octávio Sérgio;
-partituras e documentos do espólio José Lopes da Fonseca (José Trego);
-documentos sonoros pertencentes aos herdeiros de Augusto e Alexandre Louro;
-integrais fonográficos do Dr. Augusto Camacho Vieira, transferidos para arquivo informático;
-transcrições musicais e arquivos sonoros do Dr. Octávio Sérgio;
-arquivo musical, fonográfico, biográfico, cronológico e inventários do Coronel José Anjos de Carvalho;
-documentos de Manuel Elyseu, cedidos por seu sobrinho José Elyseu (Julho de 2003);
-documentos particulares e solfas manuscritas do Maestro João de Oliveira Anjo;
-acervo documental do Museu Académico, consultado mediante colaboração com Dr. Artur Ribeiro: partituras, fotografias, caricaturas, instrumentos musicais, programas de espectáculos, espólio fonográfico do Dr. Divaldo Gaspar de Freitas;
-acervo da Biblioteca Municipal de Coimbra;
-documentos cedidos pelo Dr. António Augusto Ralha;
-recolhas e reconstituições efectuadas pelo Grupo Folclórico de Coimbra, sob a direcção técnica do Prof. Doutor Nelson Correia Borges;
-registos particulares cedidos pelo Dr. José Maria Amaral;
-fontes sonoras arquivadas pelo Engenheiro Manuel Mora;
-recolhas e documentos pertencentes a António Manuel Nunes.

III – Designação genérica
A obra a publicar em diversos tomos tem como antetítulo genérico Música Tradicional de Coimbra. Dois motivos de fundo justificam a nossa escolha. Entendemos que a Canção de Coimbra é uma manifestação peculiar da Música Tradicional de Coimbra e não um género musical exógeno ao ethos da cidade; deixamos aberta a porta por forma a que num futuro próximo possa ser continuada em termos de recolha e transcrição do folclore local.

IV – Estrutura
Relativamente à estrutura interna da obra seriam possíveis metodologias aparentemente diversas, mas que se tornam complementares. Uma seria a distribuição cronológica dos espécimes, com a vantagem de fornecer maior clareza em termos de continuidades, rupturas, sensibilidades peculiares no interior de uma época.
Acontece que a inventariação cronológica linear é praticamente impossível dado que muitos espécimes não estão datados e a operação de datação só poderá ser feita por aproximação. Com segurança só é possível datar sequêncialmente e com elevado grau de precisão os temas produzidos pelos cursos de quintanistas nas suas despedidas anuais. Por outro lado, a distribuição cronológica de temas apenas fora tentada por António M. Nunes no tocante ao período 1790-1900, encontrando-se ainda incompleta. Já se intentou uma iniciativa deste género na antologia discográfica Tempos de Coimbra. Quatro décadas no canto e na guitarra (1984, 1990, 1992, 2004), e os resultados afiguram-se francamente criticáveis, no que respeita a anacronismos, erros autorais e fragilidade na ilustração de certas épocas.
Outra hipótese seria trabalhar por autores, transcrevendo junto de cada nome as peças respectivas. Uma vez mais seríamos conduzidos a problemas complexos, na medida um que lote significativo de espécimes ficou no anonimato. Outra possibilidade seria realizar um tentame de inventariação temática, agrupando os espécimes por assuntos.
Outra possibilidade, porventura a mais aliciante, consistiria em inventariar os espécimes por movimentos estéticos, preenchendo as fronteiras (sempre movediças) da Proto-Canção de Coimbra, Romantismo, Belle Époque e Ultra-Romantismo, Primeiro Modernismo, Segundo Modernismo, Últimas Vanguardas, Pós-Modernismo. Acontece que o nosso consultor e colaborador principal, Coronel José Anjos de Carvalho, logrou avançar extensamente no emprego de outra modalidade de inventariação próxima da utilizada no estudo das modinhas brasileiras por alguns investigadores (modinhas bárdicas, modinhas árcades, modinhas estróficas. Cf. Baptista Siqueira, Modinhas do passado. Investigações folclóricas e artísticas, Rio de Janeiro, Oficinas Gráficas do Jornal do Brasil, 1956, págs. 93-94). Aceite a sugestão do nosso Consultor-Colaborador e ouvido parecer do nosso técnico musical, o trabalho a desenvolver assentará no seguinte esquema:

SECÇÃO I: Canções Musicais Estróficas (ex: Balada do Encantamento), com cerca de 600 espécimes, embora não exista fonte musical para todos eles
SECÇÃO II: Canções Musicais com Coro ou Refrão (ex: Samaritana), com cerca de 200 espécimes
SECÇÃO III: Canções com duas ou mais partes musicais (ex: Fado Hilário Moderno), com cerca de 100 espécimes
SECÇÃO IV: Sonetos e Sonetilhos (ex: Dobadoira), com cerca de 30 espécimes
SECÇÃO V: Temas de Récitas de Despedida, com cerca de 200 espécimes (incluindo hinos, baladas, fados, marchas, valsas, barcarolas e outras)
SECÇÃO VI: Peças Instrumentais (ex: Variações em Ré Menor, de Artur Paredes), com cerca de 250 espécimes


V – Questões técnicas
-o formato da obra não deverá ser inferior ao normalizado nos manuais escolares portugueses, sob pena de comprometer a visualização do grafismo musical. Neste sentido propomos 27 cms de altura por 20 cms de largura
-o número médio de páginas por tomo não deverá exceder em média as 300 a 350. Caso contrário perder-se-ia o sentido prático e utilitário da obra
-poderão surgir dúvidas relativamente a questões autorais, uma vez que utilizaremos frequentemente matrizes fonográficas e partituras comercializadas por determinadas editoras. Julgamos que a natureza deste trabalho configura as situações acauteladas no Código de Direito de Autor e dos Direitos Conexos (Lei nº 45/85, de 17 de Setembro, artigos 75º e 76º). Trata-se de um projecto de natureza científica (recolher, estudar, preservar, inventariar) e pedagógica (apoio às escolas de canto e guitarra activas na Cidade de Coimbra)
-os trabalhos finalizados serão entregues em disquete para efeitos de edição

VI – Normas adoptadas
O presente trabalho de recolha, inventariação e transcrição musical tem por objecto a Canção de Coimbra, vulgarmente conhecida por Fado de Coimbra. Assim sendo, não se reporta directamente ao folclore local, nem ao Fado de Lisboa, nem a temas próximos do estilo de Coimbra que tendo sido cultivados fora de Coimbra nunca chegaram a integrar o cancioneiro local. Visando precisar com maior rigor e clareza o âmbito das tarefas a realizar, o Coordenador Geral e o Técnico Musical definiram algumas regras de procedimento a seguir explanadas:

a) - não serão inventariados os espécimes enquadráveis na categoria de Fado Beirão, na realidade fados coreográficos
b) - serão transcritas solfas de fados apenas em situações em que se tenha verificado transformação local significativa, ou reiterada utilização (Fado Corrido de Coimbra, Fado em Dó)
c) - na análise musical de cada espécime transcrito será utilizado vocabulário técnico apropriado. Pode acontecer que um tema tenha sido designado na linguagem vulgar do próprio autor por fado, fado-canção, fado-serenata, embora o seu conteúdo musical seja outra coisa. Nestes casos precisaremos que o título da obra é destituído de rigor musical
d) - cada partitura será encabeçada por uma ficha tipificada onde constarão sempre que possível: o título original da obra, seguindo-se a classificação (valsa, marcha, etc.); subtítulo, caso exista; designação vulgar detectada; incipit correspondente ao primeiro verso para os temas cantáveis; autor da música; autor da letra; origem do espécime; utilização inicial; data da composição
EXEMPLO:

Fado das Lapas (serenata)
Incipit: Oh Lua que sobes calma
Designação vulgar: Fado das Fogueiras
Música: Francisco Paulo Menano
Letra: Gustaf Adolf Bergstrom
Origem: Coimbra, Largo de São João de Almedina
Utilização inicial: Fogueiras de São João
Data: 1910

d) - imediatamente a seguir ao cabeçalho identificativo procede-se à transcrição musical da peça
e) - a seguir à partitura figurará a memória descritiva contendo diversas informações biográficas, cronológicas, eventuais percursos evolutivos, sistema de acompanhamento, análise musical, estropiamentos, contrafacções, e todos os dados necessários a uma melhor compreensão da obra
f) - a letra transcrita em primeiro lugar corresponderá à versão original, podendo seguir-se variantes detectadas. Em não sendo possível aceder à letra original, transcreveremos a versão mais comum
g) - nos casos em que for impossível obter o título original, o espécime transcrito será identificado através do título vulgar ou do seu incipit
h) - não serão transcritas variantes literárias exógenas, quando a recolha indiciar que nunca tiveram aceitação em Coimbra (exemplo de Samaritana cantada com a variante O Trovador por Loubet Bravo)
i) - não serão transcritos temas de produção exógena, embora afins do estilo coimbrão, quando se comprovar que não tiveram vivescência local (exemplo de canções gravadas pelo cantor Ângelo Fernandes)
j) - não serão transcritos espécimes de despedidas estudantis provenientes de antigos liceus ou escolas superiores localizadas extra-muros
l) - os autores serão referidos pelo seu nome completo
m) - nas situações menos claras de autorias optaremos por “autor não identificado”, atribuído a “, “atribuível a”
n) - nos casos nublosos atinentes à datação usaremos classificativos tipo “primeiro quartel de”, finais do século”, “primeira década de”, “circa”, “não anterior a nem posterior a”
o) - nalgumas situações colidiremos com os dados constantes na Sociedade Portuguesa de Autores e fichas técnicas de grande parte da discografia comercializada em Portugal. Cite-se um disco do cantor Artur Almeida d’Eça onde o tema Eterna Canção indica a autoria musical correcta (António Rodrigues Viana), mas erra na letra, reportando-a ao Conde de Monsaraz D. António de Macedo Papança. Não se poderia corroborar um lapso desta monta, quando o autor da letra é comprovadamente Júlio Dantas. Também não serão confirmadas falsas autorias de letras, nos casos em que o texto literário seja anterior ao nascimento do autor a quem costumam ser atribuídas
p) - sempre que forem detectados erros musicais nas partituras ou fonogramas, os mesmos serão alvo de correcção, seguindo-se a devida explicitação na memória descritiva
q) - quando forem detectadas variantes musicais de um espécime será conferida primazia ao original. Pode suceder que a variante revista algum valor patrimonial autonomizado digno de menção. Nestas situações será transcrita a variante na respectiva ordem alfabética. Serve de exemplo o Fado do Mar Largo (Paulo de Sá) e a sua variante Água da Fonte. Tendo em conta a primeira gravação da variante com inovadores arranjos de guitarra por Carlos Paredes, não faria sentido ignorá-la
r) - as situações de contrafacção serão devidamente assinaladas em local próprio. Por exemplo, no verbete de Canção dos Malmequeres (António Menano) acrescentar-se-á que a melodia de Balada do Estudante gravada por Adriano Correia de Oliveira configura plágio sob a capa da menção “popular”, ou que o tema Olhos Verdes, registado por João Barros Madeira constitui contrafacção de Um Fado de Coimbra de Paulo de Sá
s) - pode suceder que a evolução sofrida por um espécime apresente reinterpretações dignas de vulto. Também aqui se atenderá ao original, ao primeiro registo fonográfico e a determinados tratamentos de que foi alvo. É o que sucede com a gravação Artur Paredes de Bailados do Minho e a sua reinterpretação décadas mais tarde por António Andias
t) – as transcrições musicais reportar-se-ão apenas às melodias
u) - quando a canção evidenciar falta de acerto entre a letra e a melodia, a situação será alvo de análise (caso de Ondas do Mar, de Carlos Figueiredo). Em se verificando que o trabalho de correcção musical altera a melodia proposta pelo autor, optaremos pela transcrição tal e qual, fornecendo informações complementares
v) - haverá sempre uma preocupação acrescida com o “espírito de época”, por forma a evitar anacronismos no tocante aos arranjos, afinações de cordofones e tipologia dos instrumentos de acompanhamento utilizados em cada época
x) - uma vez iniciada a publicação e acaso nos seja fornecido algum espécime desconhecido, este será integrado na obra, em local a designar

VII - O que são Canções Musicais Estróficas?
As canções musicais estróficas constituem o núcleo central dos vulgarmente chamados temas “clássicos”, tão veementemente criticados na década de 1960 pelos protagonistas do Segundo Modernismo da Canção de Coimbra. Não obedecem a uma estrutura melódica padronizada nem a esquemas de harmonização fixos. Os compassos adoptados oscilam entre o binário simples (predominante no século XIX), o quaternário, o ternário, e as marcações compostas. As melodias enquadram-se no Sistema Tonal, ora no Modo Maior, ora no Modo Menor. Via de regra, são árias destinada a solista (monodias), embora a repetição dos dísticos possa ser cantada em coro (muito raro).
São, acima de tudo, árias silábicas, dado que na esmagadora maioria dos temas inventariados a cada sílaba do texto poético corresponde uma nota musical. Muito raramente ocorrem fugas à estrutura silábica, mesmo quando se trata de trabalhos da lavra de compositores amadores. A estrutura poética mais cultivada desde a década de 1840 assenta no emprego da Redondilha Maior com versos de sete sílabas. As quadras adoptadas tanto glosam temas complementares como assuntos desligados, podendo ser adoptadas a partir do cancioneiro popular português ou colhidas num autor identificado/anónimo. Existem, contudo execepções, que percorrem sextilhas e décimas, perfilhando métricas mais complexas.
É nestas árias monódico-silábicas, sejam elas em compasso binário ou outro, em modo maior ou menor, com ou sem ais neumáticos, que a Canção de Coimbra mais de aproxima da Música Popular Portuguesa de estrutura tonal. É esta também a estrutura clássica do Fado Corrido, quando adopta a quadra. O expediente mais vulgarizado consiste em cantar o primeiro dístico de uma quadra (1º e 2º versos) e repeti-lo, o mesmo sucedendo com o segundo dístico. No fundo, trata-se de bisar a melodia (ex: Fado da Mentira).
Salvaguardando as necessárias e evidentes diferenças entre a estrutura melódica e o estilo vocal das peças coimbrãs de outras manifestação da música tradicional/regional portuguesa, poderíamos afirmar que o modelo é similar a inúmeras modas e danças do folclore português, servindo de exemplo a conhecida Sapateia da Ilha Terceira, gravada por Adriano Correia de Oliveira em 1972 (neste caso o solista canta cada um dos dísticos, sendo estes logo bisados em coro). Outra variante consiste em cantar integralmente a quadra a solo e rematá-la com a repetição do primeiro dístico (ex: Fado dos Passarinhos). Noutra modalidade assinalada opta-se por cantar a solo cada verso da quadra e repeti-lo de imediato (ex: Nossa Senhora de Vagos).
Quando alicerçadas no Modo Menor, muitas destas árias recolhidas e estudadas destilam um sabor nostálgico, romântico-sentimental, não raro plagencial, reforçado pela interpretação vocal e pelo teor das letras que persistentemente falam de saudades, sofrimentos indizíveis, da solidão e da morte, da separação materna.
Eis uma matéria onde importa inscrever nuances. A opção pelo modo menor não significa que todos os espécimes conimbricenses são plangenciais, nem que derivam do Fado Menor lisboeta. A cadência plagencial, tão presente em modas do folclore português, é dada as mais das vezes pelo cantor e pelos instrumentistas. Encontramo-la no Fado de Lisboa, em serenatas mexicanas, em árias operáticas oitocentistas, em modinhas luso-brasileiras, no chorinho brasileiro, em mornas caboverdianas, e em modinhas açorianas como a Saudade, a Lira, o Tanchão e o Meu Bem. Os fados lisboetas mais plagenciais terão dificuldade em competir com a açoriana Saudade. E no entanto ninguém se atreve a dizer que a Saudade é um “fado” ou um derivado do “fado”. Comparem-se os registos fonográficos de Edmundo Bettencourt e José Paradela de Oliveira no título Fado de Santa Cruz. Em Bettencourt temos uma sentimentalidade moderada. Em Paradela, a voz é lacrimogéna e a cadência plagencial.
A nível do trabalho instrumental de acompanhamento, subjaz a estas árias um esquema ascentral de dedilho, herdado da Viola Toeira, que consiste em ferir os baixões com a unha do polegar e as cordas finas com a unha do indicador. Há quem chame “puxadas”, há quem chame “tempo de fado”, a esta dedilhação arrastada que não ultrapassa o eixo tónica-dominante (ex: Ré Maior/Lá de 7ª) nas ocorrências mais ancestrais.
Momento digno de reparo no fluir da temporalidade e na estruturação das sensibilidades é, sem dúvida, a consagração do compasso quaternário e o emprego dos ais neumáticos ad libitum na geração de Manassés de Lacerda (1ª década do século XX). Embora respeitando no essencial a melodia primitiva de cada espécime, os intérpretes de árias estróficas – em particular os primeiros tenores operáticos da Belle Époque e os do Ciclo Ultra-Romântico – ficaram famosos pelo prolongamento ad libitum dos ais neumáticos intercalados nas transições das frases musicais, expediente também aplicado às “sílabas tónicas das palavras de efeito” (Óscar Lopes, 1987). Vejam-se para os primeiros Manassés de Lacerda, Agostinho Fontes Pereira de Melo, Francisco Caetano, e para os segundos António Menano, José Paradela de Oliveira, Lucas Junot, ou mesmo o outonal Fernando Machado Soares.
Quanto ao vocabulário tradicionalmente adoptado para identificar e classificar estes espécimes, são vulgares termos e expressões utilizadas indiferenciadamente: “fado do/da”, “fados de”; “fados dos/das”, “fado-canção”, “fado-serenata”, “canção”, “nocturno”, “fado número”. Não se poderia corroborar tamanha discricionaridade vocabular num trabalho desta natureza. É correcto chamar fado aquilo que efectivamente é fado. É incorrecto intitular fado um espécime que na realidade é uma canção ligeira, uma barcarola, um lied, uma valsa, um lundum, um tango, uma serenata.
Esta espécie de ultra-nominalismo acrítico e banalizador configura uma herança cancerígena de finais de oitocentos, inícios de novecentos, que rotulava discricionariamente na categoria de “fado” tudo o que fosse cantado com acompanhamento de guitarra. Secundando José Alberto Sardinha: “E foi tão importante a ligação entre o fado e a guitarra que esta se tornou até um elemento aglutinador de vários géneros musicais que, depois de o fado cair em moda, vieram também a integrar-se na designação de fado pela simples e única razão de serem acompanhados à guitarra” (autor citado, A Guitarra Portuguesa. Actas do Simpósio Internacional, Lisboa, ESTAR, 2002, pág. 122). Afinal quantas árias estróficas habitam o universo da Canção de Coimbra? Para o período 1820-2000 foram inventariados cerca de 600 espécimes. Este número não abarca a totalidade dos temas compostos neste lapso temporal. Duma ínfima percentagem não foi possível aceder às respectivas melodias.


27 de Agosto de 2003
(reformulado em Março de 2004 e em Maio de 2004)

BASES PARA O PROJECTO DE CANDIDATURA DA CANÇÃO DE COIMBRA A “OBRA PRIMA DO PATRIMÓNIO ORAL E IMATERIAL DA HUMANIDADE” JUNTO DA UNESCO
Por António Manuel Nunes

Uma explicação: o presente anteprojecto foi-me solicitado em Março de 2004 pelo Dr. Jorge Cravo, com vista a uma discussão especializada, a coordenadar pelo Vereador do Pelouro da Cultura da CMC, Dr. Mário Nunes. O plano veio a ser aprovado praticamente sem alterações, em reunião de 15/04/2004. Em Maio de 2004 foram entregues os primeiros documentos para transcrição musical e distribuídas orientações aos diversos parceiros envolvidos, visando o arranque dos trabalhos em velocidade de cruzeiro. Entretanto, o Prof. José Firmino declinou o convite em favor do maestro Tobias Cardoso, tendo o último declarado a sua imposssibilidade em Maio desse ano. A situação tendeu a cair num impasse, marcada pelo afastamento do Coronel José Anjos de Carvalho e do autor e signatário da presente memória. Não obstante todos os esforços e boas vontades (e nas boas vontades cabem este e os muitos outros trabalhos para os quais nunca houve verbas nem honorários), tudo se achava por fazer à data das eleições concelhias realizadas em Outubro de 2005.



Na sequência da deliberação do Executivo Municipal de Coimbra, de 15 de Março de 2004, reuniram na Casa Municipal da Cultura de Coimbra, no dia 15 de Abril de 2004, os seguintes elementos:

Dr. Mário NUNES (Vereador da Cultura)
Dr. Jorge CRAVO
Dr. António Manuel NUNES
Professor José Firmino

ORDEM DE TRABALHOS
-ponto UM: início dos trabalhos de transcrição musical com vista à edição do cancioneiro TEMAS DA CANÇÃO DE COIMBRA em seis volumes (aprovado)
-ponto DOIS: constituição do Grupo de Trabalho para suporte da CANDIDATURA à UNESCO e formalização das linhas orientadoras dos projectos a concretizar em cinco anos (aprovado)

1 – Exigências da UNESCO a cumprir em cinco anos pelos proponentes
IDENTIFICAÇÃO DO BEM
CONSERVAÇÃO/PRESERVAÇÃO/DIFUSÃO/PROTECÇÃO
PLANO DE REVITALIZAÇÃO/SALVAGUARDA
DOCUMENTAÇÃO/REGISTOS SONOROS
BIBLIOGRAFIA DE SUPORTE

2 – Comissão de Análise, Estudo e Consultadoria ( proposta de estrutura)
-Coordenador: Dr. Jorge CRAVO
-Relator: Dra. Cristina LEAL
-Recolha, inventariação, cronologia, biografias, iconografia: António M. NUNES
-Análise Jurídica: Dr. José Casalta NABAIS
-Análise literária: Prof. Doutor José Carlos Seabra PEREIRA
-Análise fonográfica: Prof. Doutor Armando Luís de Carvalho HOMEM
-Análise e transcrição musical: Professor José Firmino
-Edições Fonográficas: António Manuel Nunes, Jorge Cravo
-Consultores e Colaboradores: Prof. Doutor Nelson Correia BORGES (Música Tradicional de Coimbra, instrumentos musicais tradicionais de Coimbra, serenatas populares, a Canção de Coimbra e as festividades citadinas); Dr. Jorge Luís da Costa GOMES (Guitarra de Coimbra, Viola Toeira, Música Tradicional de Coimbra); Maestro João de Oliveira ANJO (Fogueiras de São João, serenatas populares), Carlos Alberto DIAS em representação de Os Salatinas, Dr. Sansão COELHO (RDP/Centro), Dra. Ilda CARVALHO (Fonoteca Municipal)

3 – Parcerias entre a CMC e outras instituições
(as parcerias serão formalizadas através de documento escrito)
3.1 - Reitoria da Universidade de Coimbra para fins de candidatura conjunta, apoio à investigação e comparticipação nos trabalhos editoriais, reedições fonográficas, dinamização de jornadas, exposição documentais
3.2 - Minerva Coimbra, protocolo entre a CMC e a série editorial Vozes e Sons de Coimbra
3.3 - com a RDP/Centro para acesso aos arquivos sonoros
3.4 - com o Museu Académico (arquivo sonoro)
3.5 – com a Tradisom, representada por José Moças, para concretização do Arquivo Sonoro
3.6 – com a Imagoteca do CEIS/20

4 – Subcomissões de trabalho
(as subcomissões reunirão mensalmente com o Coordenador e do encontro será lavrado relatório)
4.1 – Grupo Jurídico para preparação e consultadoria sobre: a) direitos de autor; b) direitos fonográficos de edição; c) classificação da Guitarra de Coimbra como produto de origem demarcada; d) classificação municipal da Canção de Coimbra como Património de Interesse Municipal; e) candidatura à UNESCO
4.2 – Grupo de análise literária dos temas da Canção de Coimbra, uma vez terminado o trabalho de transcrição musical e publicação do cancioneiro. Prof. Doutor José Carlos Seabra Pereira
4.3 – Grupo de Recolha, Inventariação e Transcrição Musical do cancioneiro: António M. Nunes, Coronel José Anjos de Carvalho, Professor José Firmino
4.4 – Grupo de Promoção das Edições Fonográficas: António M. Munes, Dr. Jorge Cravo

5 – Plano Editorial imprescindível
5.1 – Cancioneiro musical de inventariação
5.2 – Álbum ilustrado (Iconografia da Canção de Coimbra): discos, partituras, cartazes, programas, recortes de imprensa, capas de livros, fotografias, lápides, gravuras, instrumentos musicais, outros
5.3 – Livro dedicado à análise literária dos temas inventariados
5.4 – Tomo de biografias
5.5 – Tomo de inventário de registos fonográficos
5.6 – Relatório dos trabalhos encetados a partir de 1978 (seminários, jornadas, propostas de salvaguarda; decisões municipais...)
5.7 – Roteiro Histórico da Canção de Coimbra
5.8 – Tomos de testemunhos pessoais dos cultores vivos
5.9 – Dicionário


6 – Plano de edições sonoras (ARQUIVOS DA CANÇÃO DE COIMBRA)
6.1 – reedições de matrizes comercializadas (protocolo com a Tradisom)
6.2 – reedições a partir de inéditos em cassetes, bobines: Conselheiro Alberto Toscano, José Maria Amaral, Armando Carvalho Homem, Francisco Serrano Baptista, Afonso de Sousa, Jorge de Morais Xabregas, Walter Figueiredo, José Lopes da Fonseca, Anarolino Fernandes, Manuel Simões Julião, outros
6.3 – reconstituição e edição de inéditos/desconhecidos que serão distribuídos por grupos convidados. Cada grupo terá de ensaiar, reconstituir e gravar um mínimo de 15 temas em prazo a definir. O livreto de cada disco será escrito pelo Coordenador e Vice-Coordenador, sendo obrigatório mencionar autorias, datações e transcrição das letras, contextualização histórico-cultural

7 – Calendarização das Actividades desenvolvidas e a desenvolver
Maio/1978: Primeiro Seminário do Fado de Coimbra
-abertura da Escola de Canto e Guitarra de Coimbra, com sede no Edifício Chiado e posteriormente no Centro Cultural do Bairro Norton de Matos (1978-1990)
Maio/1979: Segundo Seminário do Fado de Coimbra
1980: Terceiro Seminário do Fado de Coimbra
1981: edição da obra de Afonso de Sousa, “O canto e guitarra na década de oiro da Academia de Coimbra (1920-1929)”; edição da obra de Francisco Faria, “Fado de Coimbra ou Serenata Coimbrã?”
11 de Novembro/2002: dinamização do Primeiro Centenário do Nascimento do guitarrista Flávio Rodrigues da Silva, acrescida de descerramento de lápides de homenagem a Fernando Rodrigues da Silva e Augusto Louro; edição de catálogo; restauro da guitarra de Flávio Rodrigues da Silva; espectáculo musical; comparticipação na edição da biografia sobre Flávio Rodrigues da Silva
1 de Fevereiro/2003: homenagem a Edmundo Alberto Bettencourt; atribuição do nome do poeta-cantor a uma rua da cidade de Coimbra; espectáculo musical; apresentação do Prémio de Inéditos Edmundo Bettencourt
17 e 18 Maio/2003: Primeiro Forum Sobre a Canção de Coimbra
Setembro/2003: homologação do projecto Temas da Canção de Coimbra, cancioneiro literário musical em seis volumes coordenado por António M. Nunes
Dezembro/2003: apoio ao catálogo Homenagem aos Poetas Nascidos da Alta de Coimbra, com levantamento das biografias de Manuel da Silva Gaio e Amélia Jany; comparticipação da antologia poética Amélia Jany

ACTIVIDADES PARA 2004
-15 de Março: aprovação no Executivo Municipal da candidatura da Canção de Coimbra à UNESCO
-15 de Abril: constituição da Comissão de Estudo presidida pelo Dr. Jorge Cravo e aprovação do plano de trabalhos a concretizar em cinco anos
-Novembro: realização do Segundo Forum Sobre a Canção de Coimbra, em parceria com a Reitoria da Universidade de Coimbra; comparticipação dos dois livros no prelo Minerva; edição das actas das jornadas e seminários (duas de 2003, as da CMC e as do Museu Académico); edição do primeiro cd com raridades e salvados provenientes de arquivos familiares particulares
-celebração dos protocolos previstos no projecto
-edição das actas do Primeiro Forum (CMC, Maio de 2003) e Jornadas (Museu Académico, Novembro de 2003)

ACTIVIDADES PARA 2005
-edição do cancioneiro
-Janeiro: edição Minerva/CMC da biografia de Luiz Goes
-edição Minerva/CMC do livro Carvalho Homem
-Março: apreciação no Executivo Municipal da Canção de Coimbra Património Cultural de Interesse Municipal, com base na Lei de Bases do Regime de Protecção e Valorização do Património Cultural (Lei nº 107/2001, de 8 de Setembro)
-edição livro de testemunhos de cultores
-Novembro: Forum
-edição 1º Prémio Edmundo Bettencourt
-outras edições fonográficas: 3 CD de serenatas populares pelo Grupo Folclórico de Coimbra; 1 Cd para o período 1790-1820 a confiar ao Dr. Octávio Sérgio; 1 CD de Homenagem a Manassés de Lacerda; 2 cds de reedição de matrizes anteriores ao ano de 1930

ACTIVIDADES PARA 2006
-edição do cancioneiro
-edição do 2º Prémio Edmundo Bettencourt
-edição do CD O Canto e a Viola Toeira
-Forum: Homenagem a Afonso de Sousa e Armando Goes

ACTIVIDADES PARA 2007
-edição do cancioneiro
-forum

ACTIVIDADES PARA 2008

8 – Despesas Estimativas
8.1 – materiais informáticos
8.2 – telefones
8.3 – fotocópias
8.4 – fotógrafo
8.5 – edições fonográficas
8.6 – edição de obras impressas
8.7 – jornadas/seminários (1 anual)
8.8 – honorários a pagar aos autores
8.9 – restauro de instrumentos musicais tradicionais de Coimbra
8.10 – reconstituição de instrumentos tradicionais, relevantes para a História da Canção de Coimbra (guitarra inglesa, cavaquinho de Coimbra, violão francês, viola toeira)


ANEXOS
PLANO FONOGRÁFICO EDITORIAL
(todos os discos devem conter obrigatoriamente um livreto com elementos contextualizadores, títulos, autorias, letras, datações e identificação correcta de vozes/instrumentistas)

ANO DE 2005
-edição do disco Prémio Emundo Bettencourt

-edição do disco a realizar pelo Dr. Octávio Sérgio VARIAÇÕES QUE SE TOCARAM EM COIMBRA NO CICLO DA GUITARRA INGLESA (1790-1850)
Paisiello/João Paulo Pereira
Variações sobre o tema da Molinaria
B. G. V. G.
Sonata para Guitarra
Gavota
Solo Inglês
Manuel Loiz:
Rondó
Manuel José Vidigal:
Marcha dos Cavalinhos
Anónimo:
Marcha do Egipto
Anónimo:
Contradança Modéstia Fingida
António Justiniano Baptista Botelho:
Tema e Variação Primeira
Variação Segunda
Variação Terceira
Variação Quarta
Variação Quinta
Variação Sexta
Anónimo:
Lundum da Bahia
Anónimo:
Variações do Lundum do Malhão
Anónimo:
Varsoviana

Disco de guitarradas a confiar ao guitarrista José Luís Oliveira
Minueto da Rosinha (Manuel da Paixão Ribeiro?)
Minueto do Matos
Contradança Francesa
Dança dos Cegos
Eduardo e Cristina
Valsa dos Amantes Zelosos
Valsa da Rua de Frontin
Lundum da Figueira da Foz
La Coquette (Polca-mazurca)
A Enfadadinha (Escocesa)
O Trovador (Romance do 4º acto, de Verdi)
Valsa (Strauss)
A Traviata (Aria final, de Verdi)
Os Quadros (Tango, de José Dória)
Viveiro de Pássaros (Polca-mazurca, de José Dória)
Valsa (Cesar Casella)
Saudades de Coimbra (Mazurca, por Manuel da Assunção)
Os Dois Mundos (Valsa, por José da Cunha e Costa Vasconcelos Delgado)
Visões em Sonho (Polca, por Francisco Lima de Macedo)
Complaisance (Valsa, por António Simões de Carvalho Barbas)

Disco de guitarradas a confiar ao guitarrista Nuno Dias
Os Dois Mundos (José Vasconcelos Delgado)
As Rosas (Cristiano Simões de P. C.)
-Pantalon
-Été
-Poule
-Trénis
-Finale
Tricana (António Rodrigues Viana)
Serenata-Valsa (António Rodrigues Viana)
Gracioso (António Rodrigues Viana)
Czardas (Vitorio Monti)
Serenata a Coimbra (Raul de Campos e César Magliano)
Fado Nº 4 (Raul de Campos)
Se Deus Quiser (selecção de João Pinho)
Fado de Coimbra Nº 5 (Carlos Clímaco)
Fado do Romal (anónimo)
Queixume (Manuel Eliseu)
Cigana (Manuel Eliseu)
Sempre (Manuel Eliseu)
Barco Naufragado (Manuel Eliseu)

Disco a editar em 2006 sob a direcção do Dr. Jorge Gomes, com voz, Viola Toeira, Rabeca e Violão:
Quando eu não amava (Quando eu não amava): Domingos Caldas Barbosa
Choradinho (Igreja de Santa Cruz): popular
Tricana d’Aldeia (Tricana d’aldeia): anónimo
A Raptada (Barra fora, barra dentro): anónimo
Fado Atroador (Oh fado que foste fado): anónimo
Fadinho das Bodas (Aqui neste canto, canto): popular
Ó Querida Gosto de Ti (Uma simples amizade): anónimo
Às Estrelas (Lindas mimosas safiras): anónimo
Moreninha (Chamaste-me moreninha): popular
Noite Serena (Vem meu anjo que eu não posso): José Dória
Fado de Coimbra (Coimbra nobre cidade): popular
A Menina dos Olhos Negros (Menina dos olhos negros): anónimo
Saudade (Oh terna saudade): José Delgado
Balada da Beira (Lá vem o comboio à ponte): popular

Discos de reedição de fonogramas antigos pela Tradisom em 2005
(este projecto pode vir a ser substancialmente modificado em virtude do teor do protocolo a celebrar por via dos discos Londres)
CD 1: Décadas de 1880-1890
Reynaldo Varela: 2
Antero Dias Alte da Veiga: 4
Manuel Rodrigues Paredes: 2
Ricardo Branco Borges de Sousa 2
Décadas de 1900-1915
Manassés de Lacerda Botelho: 4
Avelino Baptista: 2
Reynaldo Varela: 2
Francisco Caetano: 2
Alberto Caetano: 2
Alexandre de Rezende: 2
Elísio da Silva Matos: 2
António Ferreira: 2
Eugénio de Noronha: 2
CD 2: Décadas 1915-1930
António Paulo Menano
José Dias
António Batoque
Edmundo Bettencourt
José Paradela de Oliveira
Armando do Carmo Goes
Lucas Rodrigues Junot
Flávio Rodrigues da Silva
José Parente
Afonso de Sousa
Artur Paredes
CD 3: Resgate de temas não comercializados
Afonso de Sousa
Jorge Alcino de Morais Xabregas
Francisco Serrano Baptista
Alberto Toscano
Armando de Carvalho Homem
José Maria Amaral
José Lopes da Fonseca e Alexandre Louro
Walter Figueiredo
Manuel Julião
-outros de bonines da RDP/Centro

Disco para 2007 de Homenagem a Manassés de Lacerda, com 1º tenor, duas guitarras, violão e rabeca. Grupo de Bruno Costa?
Adeus
Fado Boémio
Fado de Lisboa
O Meu Fado
Fado Triste
Fado da Minha Terra
Fado de Guimarães
Serenata d’Amor
Fado das Ruas
Fado Amante
Fado da Saudade
Canção da Encosta
Fado Amoroso
Fado de Coimbra
Fado da Brisa
Fado Maria
Fado das Lágrimas
Fado Serenata
Fado Hilário Moderno
Fado Nocturno
Fado Ideal
Fado das Rosas
Fado Primavera
Talvez de Escreva
Fado de Montemor
Fado Estoril
Fado Brejeiro

Disco para 2007 de Homenagem ao Dr. Francisco Paulo Menano
Saudades (À tardinha quando passo)
As Lavadeiras (As lavadeiras no rio)
Fado das Lapas (Oh Lua que sobes calma)
Canção de Fornos (Moro em Vila de Fornos)
Fado da Despedida do 5º Ano Jurídico de 1912 (O nosso rosto não cora)
Solitário (Dizem que as mães querem mais)
Fado da Ansiedade (O mundo dá tanta volta)
Fado d’Anto (Minha capa vos acoite)
Sons do Luar (No fundo dos búzios canta)
Um Sonho Desfeito (Eu trazia sempre ao peito)
A Minha Guitarra (Guitarra que choras tanto)
Fado Canção (Quem quiser do amor a chama)
Amor Perdido (Quem por amor se perdeu)
Fado Antigo (Por uns lhos que fugiram)
Fado da Igreja (Entraste com ar cansado)
Fado da Sé Velha (Se eu tivesse uns olhos assim)
Fado de Santa Clara (Eu ouvi de Santa Clara)
Variações em Lá Menor
Variações em Dó Maior

Discos (3) a cargo do Grupo Folclórico de Coimbra, sob direcção do Doutor Nelson Borges
Oh Flor da Murta (Oh flor da murta)
Tricana d’Aldeia (Tricana d’aldeia)
Fadinho das Bodas (Aqui neste canto, canto)
Ó Querida Gosto de Ti (Uma simples amizade)
Às Estrelas (Lindas mimosas safiras)
Morenita (Chamaste-me morenita)
Noite Serena (Vem meu anjo que eu não posso)
Fado de Coimbra (Coimbra nobre cidade)
Saudade (Oh terna saudade)
Balada da Beira (Já lá vem o comboio à ponte)
Minha Teresa (Acorda minha Teresa)
Filha do Guadalquivir (Se eu pudesse em noite escura)
Fado das Três Horas (murmura rio, murmura)
Despedida de Coimbra (Já não ouço de Coimbra)
Noite de Primavera (Acorda, desperta, não ouves trementes)
Fado João de Deus
A Barquinha Feiticeira (A barquinha feiticeira)

Choradinho (Igreja de Santa Cruz)
A Raptada (Barra fora, barra dentro)
Esta Calçadinha (Triste sou, triste me vejo)
Jovens Sereias (O rouxinol quando canta)
Toutinegra (De manhã, de madrugada)
Ò Águia (Ó águia que vais tão alta)
Fado de Coimbra (Coimbra nobre cidade)
Flores de Coimbra
Cruz de Cristo (Os heróis que descobriram)
Fado das Lapas (Oh lua que sobes calma)
Mazurca Espanhola
Fado do Rancho Esperança
Malmequer
Marcha do Pátio da Inquisição
Na Roda Sem Par
Folguedos
Canção d’Amor
Dá-me um Beijo
Fado de Condeixa
A Madrugada

Balada do Mondego (Já branca lua alveja a terra)
Marcha das Rosas
Canção do Mondego
Trigueiras da Beira Mar
Fado do Rancho Alegre Mocidade
Beijo
Morena
Coimbra a Lisboa
Jóia Querida
Balada de Coimbra
Sonhos Dourados
Não Ames
Marcha Popular
Chora a Cantar
Barquinho Ligeiro
O Teu Olhar
Guitarra Geme
Marcha do Rancho Flor da Mocidade
Disco A Canção de Coimbra na época de Augusto Hilário. Grupo de Fernando Marques
Serenata à Morena (Eu não tenho onde me acoite)
Minha Teresa (Acorda minha Teresa)
Os Teus Olhos (Este inferno d’amar como eu amo)
O Fado Variado
O Tocar da Cabra
Filha do Guadalquivir (Se eu pudesse em noite escura)
O Que é Amor (Amor é sonho que mata)
Fado das Três Horas (Murmura rio murmura)
Serenata Açoriana (Caiu do céu uma estrela)
Saudades d’Aldeia (Que saudades desta terra)
Despedida de Coimbra (Já não ouço de Coimbra)
Fado de Coimbra em Lá Maior
Fado dos Milagres
Fado Melódico
Fado Serenata do Hilário (Foge Lua envergonhada)
Último Fado do Hilário (Senhoras venho de longe)
Fado Pintassilgo (O pintassilgo tem penas)
Canção do Mondego (Vendo correr-te o pranto)
Um Fado de Coimbra (Vou-me despedir do rio)
Fado Póstumo do Hilário (Oh luar, se tu pudesses)
Serenata d’um Louco (Mulher formosa, sedutora)
Fado Boémio (Guitarra, minha guitarra)

Disco de Homenagem a João de Oliveira Anjo, a confiar à Tertúlia do Fado de Coimbra
Morena dos Meus Abrolhos (Morena dos meus abrolhos)
As Contas do Meu Rosário (Nas contas do meu rosário)
Ó Madrugada Silente (Ó madrugada silente)
Que Marotos os Teus Olhos (Que marotos os teus olhos)
Coimbra tão Formosa (Ó Coimbra tão formosa)
Ó Trovador Quanto Freimas (Ó trovador quanto freimas)
Balada para Um Menino Raro (Ri ó criança bonita)
Estrelas lá do Alto (Ó estrelas lá do alto)
Lágrimas de Orvalho Frio (Lágrimas de orvalho frio)
Prelúdio Sentimental
Ontem era Hoje
Estudo Agarthiano
Pas de Deux
História para Dois
Amores de Férias
Efeméride
Beleza e Sentimento
Balada do Sol Interior
Crepuscular
Dois Tons para Um Verão
Flores de Alma
Idílio numa Tarde Mar
Surreal Quotidiano
Samambaia em Flor

Disco de Homenagem a Francisco Serrano Baptista , Jorge Xabregas e Alberto Toscano, a realizar pelo grupo Serenata de Coimbra
1 – Serrano Baptista
Um Beijo
Era Uma Vez o Amor
Noite de Luar
Ó Meu Amor Pobrezinho
Balada de Coimbra
Falas de Amor
Variações em Ré Maior
Variações em Lá Menor
Variações em Ré Menor
2 – Jorge Xabregas
Fado da Noite
Variações em Lá Menor
Variações em Sol Maior
3 – Conselheiro Alberto Toscano
Fado em Mi Menor
Variações em Si
Variações Sobre o Fado em Si
Saudade (variante da Ilha de São Jorge)

Disco de Homenagem a Paulo de Sá
Um Fado de Coimbra (Nossa Senhora da Graça)
A Maior Dor
Fado de Aveiro (Se julgas que perco muito)
Saudades (Saudades são orações)
O Meu Menino
Fado da Saudade
Fado de Santa Cruz
Fado do Mar Largo (Ó mar largo, ó mar largo)
Fado das Cotovias (Por eu ser pobre sorrias)
Fado da Tristeza
Fado da Cruz (Não há nunca amor perfeito)
Testemunho de Amor (Pedi a Deus que me desse)
Fado de Portugal (Há um cantinho que encerra)
Fado das Alminhas (Pelas alminhas te peço)
A Água da Fonte (A água da fonte é louca)
Lá Longe (Lá longe)
Canção da Fogaceira (Fogaceira linda e nova)
Despeito (Perdi a luz dos teus olhos)
Só (Fui encher a bilha e trago-a)

Discos de Raridades por Fernando Frias Gonçalves


Convívio em casa de Herculano Maia, em Sangalhos, no dia de S. Martinho. Na foto: Saboreando o saboroso leitão oferecido pelo Carlos Teixeira. O Champanhe foi oferta de Herculano Maia. Nada faltou! Posted by Picasa


Convívio em casa de Herculano Maia, em Sangalhos, no dia de S. Martinho. Depois do jantar, Canções de Coimbra e outras... Na foto: Herculano Mais oferece uma taça de Champanhe a José Paulo que toca guitarra. Silas Granjo toca viola e Octávio Sérgio guitarra. Posted by Picasa


Convívio em casa de Herculano Maia, em Sangalhos, no dia de S. Martinho. Depois do jantar, Canções de Coimbra e outras... Na foto: José Rodrigues, José M Dourado, Carlos Teixeira e Jorge Rino nas violas; José Paulo, Octávio Sérgio e José Rodrigues Rocha nas guitarras. De pé: José Martins com viola, Castro Madeira, Manuel Borras e Silas Granjo. Posted by Picasa


Convívio em casa de Herculano Maia, em Sangalhos, no dia de S. Martinho. Depois do jantar, Canções de Coimbra e outras... Na foto: José Rodrigues, José M Dourado, Carlos Teixeira e Jorge Rino nas violas; José Paulo e José Rodrigues Rocha nas guitarras; Silas Granjo (de pé) na viola. Também de pé: Castro Madeira, José Martins, Manuel Borras e o anfitrião, Herculano Maia. Posted by Picasa

sexta-feira, novembro 11, 2005

STUART CARVALHAIS, ILUSTRADOR DE CANÇÕES MUSICAIS DESTINADAS AO PÚBLICO CONIMBRICENSE

Por José Anjos de Carvalho e António M. Nunes

José Herculano Suart Torrie de Almeida Carvalhais terá nascido a 7 de Março de 1887 em Vila Real e faleceu na cidade de Lisboa a 2 de Março de 1961. Chegou a estar matriculado no Liceu de Évora, estabelecimento que abandonou em 1903. Frequentou o ateliê do pintor-ceramista Jorge Colaço aos 16 anos. Caricaturista de nomeada, os seus primeiros esboços foram editados em 1906 no jornal "O Século". Colaborou no "Diário de Notícias", "Diário de Lisboa" e no "Sempre Fixe", para apenas citar os mais representativos órgãos de comunicação social. Em 1913 residiu e trabalhou em Paris. Entre 1915-1918 inventou a série "Quim e Manecas" nas páginas do "Século Cómico", tendo ainda trabalhado em séries infantis como "O Senhor Doutor".
Frequentador assíduo dos meios boémios lisboetas, conhecido pela alcunha de o "Bocage da Illustração", Stuart pintou regularmente capas para livros, cartazes publicitários, caricaturas, banda desenhada e capas destinadas a edições de música impressa. De certa forma, representou em Portugal com alguns anos de diferença o papel desempenhado em França pelo cartazista publicitário e caricaturista Toulouse-Lautrec.
Relativamente a edições de repertório musical conimbricense, a produção artística mais significativa de Stuart ocorreu na década de 1920. Stuart celebrou contrato como ilustrador da editora musical Sassetti em 1921, e com a rival Valentim de Carvalho em 1922. O artista nem sempre datou os trabalhos, propondo ilustrações criativas, por vezes de pendor ruralizante, em outras recorrendo a símbolos demasiado convencionais que ainda hoje predominam na memória visual tradicional.
É preciso não esquecer que a partitura com capa ilustrada obedecia a uma estratégia de comercialização apoiada no nome da editora, na assinatura mais ou menos consagrada do artista e nos motivos simbólicos manipulados pelo pintor. Contrariamente ao que se possa pensar, as partituras de repertório coimbrão não se destinavam unidireccionalmente aos consumidores residentes em Coimbra. Visavam os salões burgueses de todo o Portugal Continental e Insular (serões mistos com pianadas, versalhada e cantoria), ensaiadores de teatros de província (a seguir à peça e teatro, o acto de variedades reproduzia canções em voga), as tunas de aldeia e de vila, os portugueses espalhados por África e muito especialmente os emigrantes portugueses radicados no Brasil (São Paulo e Rio de Janeiro). Muitas destas brochuras, caídas nas mãos de padres musicalmente ilustrados, seminaristas, regentes de tunas e de filarmónicas, professores de música dos liceus e colégios religiosos, mestres de coros de igrejas paroquiais, eram arranjadas para instrumentos de corda, sopro e orquestra. Servem de exemplo as composições de Francisco Menano, editadas na primeira metade da década de 1920, e arranjadas em Lisboa para uso da Academia de Santa Cecília para 1º e 2º violinos, violoncelo e contrabaixo (Um Sonho Desfeito, A minha Guitarra, Fado Canção, Amor Perdido,, Fado Antigo e Fado da Igreja).
Antes de Stuart, as edições de partituras de música coimbrã eram graficamente pobres. Contratado, e certamente pago à peça pelas editoras, Stuart concebeu entre 1920-1929 algumas das capas mais espectaculares das artes gráfico-publicitárias que rodeiam a comercialização de composições coimbrãs. Os artistas amadores mais representados foram António Menano, Paulo de Sá, Francisco Menano e Paradela de Oliveira. A partir de 1929 Stuart como que desaparece. Cessam as edições de brochuras impressas em folhetos de tipo quiosque ou de compra por encomenda postal. Ao esplendor dos anos 20 sucede o deserto artístico dos anos 30. A culpa de tamanha pobreza será fruto da concorrência feita pelas casas discográficas entre 1926-1929 e dos efeitos negros da Grande Crise Económica de 1929. Stuart representa o surto de consumismo que na Europa foi uma espécie de reflexo da Prosperidade Americana, provisoriamente instalada em sectores virgens de mercado. Só na década de 1960, com as capas dos invólucros dos discos de 45 e de 33 rotações vinil é que o grafismo voltou a ganhar folêgo, para de novo vegetar na década de 1990 com o advento do compacto disco.
Vale bem a pena (re)descobrir a obra de Stuart enquanto memória histórico-cultural e património a preservar em termos iconográficos. Em havendo oportunidade, não deixaremos de editar neste Blog os trabalhos originais de Stuart, com o devido agradecimento aos coleccionadores particulares que connosco queiram colaborar.
Nesta amostragem daremos notícia de trabalhos representativos da obra de Stuart, sem preocupação de exaustividade. Alguns dos trabalhos deste artista figuram em cds com reedições fonográficas de “António Menano”, lançados em 1995-1996 pela Emi-Valentim de Carvalho, com textos assinados por José Anjos de Carvalho; nos 2 tomos de “Fado de Coimbra”, da responsabilidade de José Niza, editados em 1999 pela Ediclube; no cd “Fados e Baladas de Coimbra Nº 7”, comercializado em 2004 pelo jornal o Público, bem como no livro profusamente ilustrado de Rui Viera Nery, “Para uma História do Fado”, publicado em Dezembro de 2004 pelo jornal Público.
Ao longo de 2005, parte substancial de exemplares da colecção particular de José Anjos de Carvalho, aqui inventariados, estiveram presentes numa exposição documental no Museu do Fado, Lisboa, cujo tema orientador é “O Fado por Stuart Carvalhais”. Caso para dizer Coimbra o ignora, Lisboa o aproveita.

-“Balada da Despedida dos Quintanistas de Direito de 1919-1920”, com música de Hermínio Nascimento e letra de Alfredo Guisado, Lisboa, Sassetti, 1920. Capa assinada, com desenho convencional de estudantes, um de capa pendente e a cantar, o outro a tocar guitarra.
-"Balada de Despedida dos Quintanistas de Direito de 1917-1922. Música de Fernando Baptista da Silva, Letra de Mário Alves Pereira", Lisboa, Sassetti, 1922. Capa assinada e datada de 1922, apresenta um desenho convencional do Choupal nocturno e enluarado onde o curso deambula em serenata de despedida. São visíveis elementos de apreensão imediata como choupos, lua, guitarra, violão, capas de estudante.
-"Capas ao Vento. Fado de Coimbra. Letra de Monteiro da Fonseca. Música de Possolo de Carvalho", Lisboa, Sasseti, 1922. Capa assinada e datada de 1922. Figuração muito convencional com um estudante de capa esvoaçante, boca aberto em jeito de quem canta e guitarra de tipo Lisboa em punho.
-"Fados de Coimbra por Francisco Menano” (Amor Perdido. Fado Antigo. Fado da Egreja), Lisboa, Sassetti, sem data (ca. 1922). Capa assinada, sem data. Mostra um trecho florestal com rio, que poderá ser lido como alusão ao Mondego/Choupal. Edição no Rio de Janeiro e em São Paulo.
-“Um Sonho Desfeito”, com música de Francisco Menano, Lisboa, Sassetti, 1922. Apresenta cercadura oval, tronco de árvore e ao longe o luar reflectido na água e no céu.
-“Três Fados de Coimbra”, músicas de Francisco Menano, Lisboa, Sassetti, sem data (ca. 1922-1923). Capa assinada. Stuart desenha uma tricana e a seu lado um estudante com guitarra.
-“A Minha Guitarra”, com música de Francisco Menano, Lisboa, Sassetti, sem data (ca. 1922). Figura um estudante de capa pendente a tocar guitarra do tipo Lisboa., choupos, duas tricanas a regressar da aguada com cântaros, uma vista de Coimbra.
-“Álbum de Canções”, música de Coutinho de Oliveira, Lisboa, Sasssetti, sem data (ca. 1922-1923). Capa assinada.
-“Álbum do Bandolinista”, com 6 músicas de Francisco Menano, Lisboa, Sassetti, sem data (ca. 1922-1923). Capa assinada com estudante de capa pendente a tanger bandolim e atrás dele outros dois estudantes, um com gorro, outro com viola.
-“Fado Antigo”, música de Francisco Menano, Lisboa, Sasssetti, sem data (ca. 1922-1923). Capa assinada. Grupo de serenata estudantil, estando dois estudantes com guitarra e viola, com arco arquitectónico e rua luarenta.
-“5 Fados para Guitarra por Reynaldo Varela”, Lisboa, Sassetti, sem data (ca. 1922-1924). Desenho simples com título e festão (Embora não activo em Coimbra, o já então muito outonal Varela conheceu farto aplauso nos meiso conimbricenses).
-"Fado do Alentejo. Música de António Menano", Lisboa, Sassetti, 1924. Capa assinada, sem data. Apresenta um monte alentejano com sobreiros e casinha caiada de piso térreo. Trata-se evidentemente de um falso rústico, pois a composição não tem origem regional alentejana. Edição simultânea em São Paulo e Rio de Janeiro.
-"Fado da Fonte. Música de António Menano", Lisboa, Sassetti, 1924. Capa assinada, sem data. O cenário escolhido é uma fonte com tanque adjacente. Edição em São Paulo e no Rio de Janeiro.
-"Fado da Praia. Música de António Menano", Lisboa, Sassetti, 1924. Capa assinada, sem data. Suart pinta uma praia iluminada pelo luar, captada a partir de um trecho de bosque. Edição simultânea em São Paulo e no Rio de Janeiro.
-“Fado de Portugal”, com música de Paulo de Sá, Lisboa, Sassetti, 1924. Figuração de simbologia muito patriótica e convencional, com um castelo medieval.
-“Fado do Bussaco”, com música de António Menano, Lisboa, Sassetti, 1924. O desenho propõe um bosque, com árvores em grande plano, em alusão directa à Mata do Buçaco.
-“Fado do Sonho”, com música de António Menano, Lisboa, Sassetti, 1924. A capa, assinada, representa um Pierrot da commedia dell’arte italiana, tangendo cítara, envolto em cenário luarento e aquoso.
-“Ballada dos Malmequeres”, com música de António Menano, Lisboa, Sassetti, 1924. Capa assinada, ostenta em grande plano um malmequer, com quatro pétalas a caírem.
-"Canções Portuguezas. António Vianna", 2ª Série; Lisboa, sem data, Sassetti & Ca. Editores, 56 Rua do Carmo. Stuart assina uma capa de fundo azul escuro, cujo motivo principal é uma rapariga à janela, rodeada de vasos de manjerico. O título está destacado com enormes letras a ocre. Brochura vendida na filial brasileira Casa Mozart do Rio de Janeiro. No Porto vendeu-se na Casa Editora Eduardo da Fonseca, à Praça Carlos Alberto nº 8. Contém peças famosas como "Camponesa", "Pequenina" e "Calhandra".
-“Fado Hespanhol”, música estilo Fado de Lisboa, de autor desconhecido, Lisboa, Sassetti, 1927. Tema cantado e gravado na época por Menano e Armando Goes. Capa notável, figurando a Maria-Rapaz dos Loucos Anos 20, com pernas cruzadas, chapéu de cabaret e guitarra tipo Lisboa.
"Carta de Longe. Música de António Menano. Letra de António de Sousa", Lisboa, Sassetti, 1927. Capa assinada, sem data, encabeça pelas parangonas "A mais inspirada canção cantada por António Menano". O trabalho artístico é notável, despojado de referências tradicionais. Stuart aposta num cenário minimalista (natureza) onde inscreve a moderna "Maria-Rapaz" escandalosamente consagrada no mundo ocidental após o fim da Grande Guerra: cabelos curtos, braços, peito e ombros nús, vestido de cintura descida. É a moderna mulher citadina da década de 1920, que não desdenhando dos efectos se tornou independente (também a pintou na capa do lisboeta Fado Hespanhol, aqui com provocante ar de dançarina de cabaret).
-“Fado da Mentira”, com música de Alexandre Rezende, Lisboa, Sassetti, 1927. Capa assinada, com uma flor singela.
-"O Meu Menino por António Menano", Lisboa, Sassetti, sem data. Assinado, sem data. A edição saíu por Novembro ou Dezembro de 1927. O motivo de capa é um menino burguês em fatinho de marujo, rodeado de brinquedos. Neste caso, a editora aposta no nome consagrado do cantor António Menano, mas no interior refere-se fraudulentamente que a peça de Alexandre Rezende é de Menano. Na contracapa Suart faz aquilo que hoje designamos por publicidade infantil, estimulando as crianças a pedirem às mães pianos, discos, gramofones e instrumentos musicais.
-"Fado Solitário". Por António Menano, Lisboa, Sassetti, 1927. Capa assinada, sem data. Ilustração romântica ao gosto oitocentista, com um pensador solitário sentado nuns rochedos à beira mar (inspiração em Caspar Friedrich, "Viajante junto ao mar de névoa", 1815?). No interior sugere-se enganosamente que a composição é de António e não de seu irmão Francisco. Na contracapa há farta publicidade aos "mais lindos fados" da temporada como sendo os de António Menano (e acrescentaríamos nós sem malícia, aos que eram habitualmente por ele cantados sendo de outros autores). Edição da Casa Mozart no Rio de Janeiro, e da Casa Campassi em São Paulo.
-“Fado Novo”, com música de António Menano, Lisboa, Sassetti, 1927. Capa não assinada. Cercadura floral e dizeres “fado Novo por António Menano”.
-“Fado Paris”, com música de António Menano, Lisboa, Sassetti, 1927. Capa assinada. Sugere uma corista do Moulin Rouge de perfil.
-“Phases da Lua”, fado estilo Lisboa, de autor desconhecido, Lisboa, Sassetti, sem data (1927?, 1928?). Apresenta um Pierrot sentado, a tanger cítara.
-"Fado das Penumbras. Música de Paradela de Oliveira", Lisboa, Sassetti, 1929. Capa assinada, sem data. O cenário representa um bosque penumbrento, em cujo centro toca guitarra um estudante algo andrógino. Guitarra de tipo Lisboa. No verso da brochura há publicidade a "os mais lindos Fados de Coimbra" para o ano de 1929, que são os de Paulo de Sá, concretamente Alminhas, Cruz, Cotovias, Mar Largo, Portugal e Tristeza.
-Fado das Andorinhas”, música de José Paradela de Oliveira, Lisboa, Sassetti, sem data (ca. 1929). Imagem com bando de andorinhas em volteios.
-"Fado das Alminhas. Música de Paulo de Sá", Lisboa, Sassetti, 1929. Capa assinada, sem data, figurando o Paço de Sub-Ripas. Na contracapa publicitam-se todas as composições de Paulo de Sá editadas em exclusivo pela Sassetti.
-“Fado da Cruz”, com música de Paulo de Sá, Lisboa, Sassetti, 1929. Ilustração assinada, apresenta uma vista de Coimbra, com a Torre da Universidade, um trecho do Mondego, a ponte fluvial. A cruz de uma igreja projecta a sombra no rio.
-"Fado de Santa Cruz. De António Menano", Lisboa, Sassetti, sem data (1929?). Capa assinada, sem data, apostando numa vista dos telhados na Igreja do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Inclui publicidade às filiais brasileiras do Rio de Janeiro e de São Paulo.
-"Fado do Mar Largo. Música do Dr. Paulo de Sá", Lisboa, Sassetti, 1929. Capa assinada, sem data, propõe como motivo ilustrado uma caravela dos Descobrimentos a vogar no oceano. Comercialização em São Paulo e Rio de Janeiro.
-"Fado das Cotovias. Música do Dr. Paulo de Sá", Lisboa, Sassetti, 1929. Capa assinada, sem data. Figura um frondoso bosque, mas omitiu as cotovias. Comercialização simultânea no Rio de Janeiro e em São Paulo.
-"Fado da Tristeza. Música do Dr. Paulo de Sá", Lisboa, Sassetti, 1929. Capa assinada, sem data. Apresenta um estudante solitário e tristonho, capa pendente, a tanger uma guitarrilha de 17 trastos com voluta de tipo Porto. Edição em São Paulo e no Rio de Janeiro.


Dia do Antigo Estudante de Coimbra celebra-se amanhã. Notícia do Diário de Coimbra de hoje. Posted by Picasa

DISCOGRAFIA DE EDMUNDO BETTENCOURT E RESPECTIVAS LETRAS

Por José Anjos de Carvalho

Edmundo Alberto Bettencourt (Funchal, 07-08-1999; Lisboa, 01-02-1973) concluiu o curso dos liceus no Funchal e matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa no ano lectivo de 1918-1919, curso que frequenta durante 4 anos.
No ano lectivo de 1922-1923, deixa Lisboa e ruma à Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, levando concluído o 2º Ano de Direito.
Edmundo Bettencourt[1] ganha grande notoriedade como cantor logo no ano de 1923, ao lado do guitarrista Artur Paredes que entretanto conhece e de quem fica muito amigo. A sua estreia pública em palcos ocorreu no princípio de Março de 1923, em Viseu, numa digressão da Tuna, a que se segue, no final dessa mesma quinzena, a Figueira da Foz, onde cantou dois fados do compositor Fortunato Roma da Fonseca, o FADO DE SANTA CRUZ e CRUCIFICADO. Os seus êxitos continuam e vai integrar com António Menano e Artur Paredes o Grupo de Fados na digressão da Tuna e Orfeon por terras de Espanha, em Abril desse mesmo ano de 1923. Nos anos seguintes credita-se como um dos mais notáveis cantores da Universidade de Coimbra.
Continua cantando, e a poetar também, até que, na noite de 08 de Maio de 1926, no Teatro Nacional de São João, no Porto, foi cantar o FADO DO CHOUPAL, de António Menano. Na repetição dos 2ºs dísticos das quadras, há um intervalo de uma oitava justa, cinco tons e dois meios-tons, nota essa a repetir pouco depois de forma ainda sustentada. Não é fácil fazer esse salto, sobretudo se essa oitava está no limite da tessitura vocal e, então, se ela se situa entre o extremo da tessitura e o limite superior da extensão vocal, pior ainda. Edmundo Bettencourt deu uma fífia ao cantar a 1ª quadra e quando toda a gente esperava, e desejaria, que conseguisse fazer o mais difícil, isto é que se redimisse na 2ª quadra, volta redondamente a falhar as ditas notas. Com ou sem razão, o facto é que Edmundo Bettencourt atribuiu tanta importância a este episódio que nunca mais subiu a um palco para cantar.

Edmundo Bettencourt efectuou duas séries de gravações, ambas para a Columbia, uma em Fevereiro de 1928 e outra em Dezembro de 1929 que se estendeu por Janeiro de 1930.
A 1ª série de gravações teve lugar no Porto, em Fevereiro de 1928, no Palácio dos Carrancas, antiga Casa Real. Foi acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca, mas os seus nomes não figuram nos discos. Foram editados 5 discos de 78 rpm, todos com etiqueta castanha e, numa 2ª edição, todos com etiqueta verde e com um outro número de catálogo.
Nesta 1ª série houve ainda a gravação do soneto NO CALVÁRIO (Passada a hora enorme da agonia), de Fausto José dos Santos Júnior (1903-1975), musicado por D. José Pais de Almeida e Silva (1899-1968), composição em que foi acompanhado exclusivamente à viola, e só à viola, por Mário Faria da Fonseca, mas a gravação não chegou a ser editada em disco.
A 2ª série de gravações teve lugar em Lisboa, em Dezembro de 1929, cuja última gravação foi já realizada em Janeiro de 1930. Esta última gravação, bem como algumas outras efectuadas do mês anterior não chegaram a ser editadas.
Nesta 2ª série de gravações foi acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Afonso de Sousa (que substituiu Albano de Noronha) e, à viola, pelo mesmo Mário Faria da Fonseca, mas os seus nomes não figuram nos discos. Dela foram editados apenas 3 discos de 78 rpm, todos com etiqueta castanha e, numa 2ª edição, todos com etiqueta verde e com um outro número de catálogo.
Edmundo Bettencourt é autor da música de um fado e da respectiva letra, intitulado Adeus a Coimbra (Quando em noites de luar), gravado pela primeira vez em Setembro de 1957, por Augusto Camacho, acompanhado à guitarra por Carlos Paredes e, à viola, por António Leão Ferreira Alves (EP Columbia, SLEM 2008, editado em 1958).

DISCOGRAFIA

Gravações de Fevereiro de 1928
Disco Columbia, 8120
Disco Columbia, GL 101
P 300 – Menina e Moça (Coimbra, menina e moça)
P 308 – Fado da Sugestão (Não digas não, dize sim)

Disco Columbia, 8121
Disco Columbia, GL 102
P 301 – Samaritana (Dos amores do Redentor)
P 309 – Canção do Alentejo (Lá vai Serpa, lá vai Moura)

Disco Columbia, 8122
Disco Columbia, GL 103
P. 307 – Inquietação (Quanto mais foges de mim)
P. 331 – Fado do Anto (A Cabra da Velha Torre)

Disco Columbia, 8123
Disco Columbia, GL 104
P. 306 – Fado de Santa Cruz (Igreja de Santa Cruz)
P. 333 – Mar Alto (Fosse o meu destino o teu)

Disco Columbia, 8124
Disco Columbia, GL 105
P. 302 – Canção da Beira-Baixa (Era ainda pequenina)
P. 332 – Crucificado (Ave-Marias são beijos)

Gravações de Dezembro de 1929
Disco Columbia, BL 1000
Disco Columbia, GL 106
P. 470 – Fado dos Olhos Claros (A luz dos teus olhos claros)
P. 633 – Alegria dos Céus (Ó Alegria dos Céus)

Disco Columbia, BL 1001
Disco Columbia, GL 107
P. 647 – Balada do Encantamento (Dentro de ti, ó Leiria)
P. 662 – Saudades de Coimbra (Ó Coimbra do Mondego)

Disco Columbia, BL 1005[2]
Disco Columbia, GL 108
P. 634 – Senhora do Almotão e Senhora da Póvoa
P. 659 – Saudadinha (Ó tirana saudade)

LETRAS

MENINA E MOÇA (Coimbra, menina e moça)
Música: Fausto de Almeida Frazão (Quintanista Medicina 1919-20)
Letra: 1ª Quadra: Américo Cortez Pinto (idem, idem)
2ª Quadra: Popular
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Coimbra, menina e moça,
Rouxinol de Bernardim,
Não há terra como a nossa,
Não há no mundo outra assim...

II
Coimbra é de Portugal
Como a flor é do jardim,
Como a estrela é do céu,
Como a saudade é de mim.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
A música é a do Fado da Récita de Despedida do V Ano Médico de 1919-1920 (Coimbra, menina e moça) e, bem assim, a 1ª quadra.
Gravado pela primeira vez em Fevereiro de 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, 8120 e Columbia, GL 101, master P. 300). No referido disco indica-se que a música é de Fausto Frazão mas, quanto à letra, a indicação de popular que figura no disco não está totalmente correcta, pois só a 2ª quadra é que o é; o autor da 1ª quadra, que é também a 1ª quadra do Fado da Récita de Despedida do V Ano Médico de 1919-1920, foi o Quintanista de Medicina Américo Cortez Pinto.
O Fado dessa Récita tem quatro quadras, todas de Américo Cortez Pinto, que são as seguintes:

I
Coimbra, menina e moça,
Rouxinol de Bernardim,
Não há terra como a nossa,
Não há no mundo outra assim...

II
A sorrir de madrugada,
De mãos postas à tardinha,
És Inês, a bem amada
E Santa como a Rainha.

III
Nunca houve em Portugal
Nem há terra tão bonita,
És a taça de São Graal
Onde o meu sangue palpita.

IV
Coimbra toda é um verso
Prà balada do luar,
Os meus olhos são um berço
Onde te quero embalar.

Quem cantou o Fado da Récita foi o próprio autor da música, Fausto de Almeida Frazão, um excelente tenor, dos melhores de então, que não chegou a gravar pois rumou como médico para Angola e lá faleceu, em 1946, em Benguela, onde foi Presidente da Câmara.

Menina e Moça é dos fado mais emblemáticos que continua ainda a ser cantado e gravado por numerosos cantores de Coimbra e não só.
Na discografia aparecem frequentemente erradas as autorias, quer da música, quer da letra, e o título vem muitas vezes substituído pelo incipit; além disso, o nome de Edmundo Bettencourt figura por vezes como co-autor, o que não está correcto, pois ele nada tem a ver com a autoria, quer da música, quer da letra; o fado é de 1920 e Edmundo Bettencourt só foi para Coimbra em fins de 1922.

Discos provenientes da mesma gravação de Edmundo Bettencourt:
De 78 rpm: Columbia, 1072-X (edição americana).
De vinil: LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, EMI-VC, editado em 1984.
Compact disc: CD Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, editado em 1999;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 6/Coimbra, editado em 1999.

Alguns CD’s de outros cantores:
CD Fados e Baladas de Coimbra – Coimbra tem mais encanto, Vidisco, 11.80.1304, editado em 1991 (canta Valdemar Vigário);
CD Tertúlia do Fado de Coimbra – Coimbra...terra de encanto! Videofono, VCD 50001, editado em 1993 (canta Victor Nunes);
CD Relíquia – Tertúlia do Fado de Coimbra, Edisco, 25, editado em 1994 (canta José Paulo);
CD Fados de Coimbra – Nº 45/O Melhor dos Melhores, Movieplay, MM 37.045, editado em 1994 (canta Manuel Branquinho);
CD Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra da Madeira, EMLI, s/n, s/d (canta Luis Filipe Costa Neves);
CD 15 anos depois... antigos tunos da Universidade de Coimbra, editado em 2000 (canta José Paulo);
CD Frederico Vinagre – Eternos Fados de Coimbra, Metro-Som, CD 101, editado em 2000;
CD Mar Lágrima – Grupo Madeirense de Fados de Coimbra, s/n, s/d (canta Carlos Bettencourt);
CD Ribeiro da Silva – Coimbra Menina e Moça, SPA 2004, não disponível no circuito comercial.

Variantes e versões com o mesmo título:
Sob o mesmo título, Menina e Moça, mas com uma outra letra, este fado foi gravado em Dezembro de 1928, em Berlim, por António Menano, acompanhado à guitarra por João Fernandes, à viola por Mário Marques e, ao piano, por Afonso Correia Leite (disco Odeon, LA 187807, master Og 1007). No disco não consta a participação de Correia Leite e quanto aos autores apenas indica entre parêntesis o nome Fausto Frazão sob o título Menina e Moça. A letra que António Menano canta é a seguinte:

I
É preciso ter sofrido
E ter-se de amores chorado
Pra se entender o sentido
Que há na tristeza do fado.

II
Numa noite de luar,
Sob um céu doce e calado,
Nada se pode igualar
À mágoa de um triste fado.

Esta gravação encontra-se disponível em vinil (LP do Álbum Fados de Coimbra – António Menano, 1º volume, editado em 1985) e, também, em compact disc: Heritage, HT CD 31, da Interstate Music, editado em 1995;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995;
CD António Menano – Fados, editado em Setembro de 1995 sob etiqueta Odeon.

Além da gravação de António Menano apenas se conhece, com esta mesma letra, uma outra gravação, mas apresenta estropiamentos no canto (alguns estropiamentos desta letra também se encontram em livros).

Com outros títulos e letras:
Deste fado de Fausto de Almeida Frazão há ainda mais uma gravação, com uma outra letra e um outro título, o fado Dom Portugal (Nada é impossível no mundo), gravado por Loubet Bravo, cuja letra é a seguinte:

I
Nada é impossível no mundo
Quando os homens são valentes;
Olhai o meu Portugal
Abraçando os continentes.

II
Minha Pátria, minha Terra,
Não há outro amor assim…
Portugal é muito grande
Mas cabe dentro de mim.

FADO DA SUGESTÃO (Não digas não, dize sim)
Música: Alexandre de Rezende (1886-1953)
Letra: (?)
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Não digas não, dize sim,
Muito embora amor não sintas
Que um não envenena a gente,
Dize sim inda que mintas.

II
Não digas não, dize sim,
Sê ao menos a primeira,
Falta-me embora à verdade,
Não sejas tão verdadeira.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por Edmundo Bettencourt, em Fevereiro de 1928, no Porto, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, 8120 e Columbia, GL 101, master P. 308). No disco vem indicado ser música de Alexandre de Rezende mas, quanto à letra, que aparentemente é de origem erudita, o disco é omisso.
Discos provenientes da mesma gravação:
De 78 rpm: Columbia, 1072-X (edição americana).
De Vinil: LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, editado em 1984.
Compact disc: CD Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, editado em 1999.

Este fado foi gravado por muitos outros cantores também; na discografia encontra-se por vezes como título o seu “incipit” e, quanto às autorias da música e da letra, aparece com alguma frequência o nome de Felisberto Ferreirinha (1897-1953), talvez por ele o ter gravado antes de Edmundo Bettencourt (disco Parlophone, 33.508, de 78 rpm); Felisberto Ferreirinha foi jornalista, funcionário dos Caminhos-de-ferro de Moçambique e gravou vários Fados de Coimbra.

Por vezes encontram-se variantes literárias e mesmo até estropiamentos da letra, quer em discos, quer em livros. Alguns CD’s de outros cantores:
CD Dr. Serra Leitão, Discossete, CD 951000, editado em1993;
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, SO 3003, editado em 1996;
CD Coimbra Eterna – Grupo de Fados da AAECP, Strauss, ST 5190, editado em 1998 (canta Napoleão Ferreira Amorim);
CD Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da AAECM, EMLI, s/n (canta Luis Filipe Costa Neves);
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.425/B, editado em 2001 (canta José Afonso).

Uma outra quadra com que também se terá cantado com este fado é a seguinte:

O não é mais venenoso
Que os venenos mais certeiros;
Antes um sim mentiroso
Que trinta nãos verdadeiros.

SAMARITANA (Dos amores do redentor)
Música: Álvaro Cabral (1865-1918)
Letra: Álvaro Cabral
Edição musical: Valentim de Carvalho (várias edições)

Dos amor’s do Redentor
Não reza a História Sagrada
Mas diz uma lenda encantada
Que o Bom Jesus sofreu d’amor.

Sofreu consigo e calou
Sua paixão divinal,
Assim como qualquer mortal
Que um dia d’amor palpitou.

Samaritana,
Plebeia de Sicar,
Alguém espreitando
Te viu Jesus beijar
De tarde quando
Foste encontrá-lo só,
Morto de sede
Junto à fonte de Jacob.

E tu, risonha, acolheste
O beijo que te encantou,
Serena, empalideceste
E Jesus Cristo corou.

Corou! Por ver quanta luz
Irradiava da tua fronte,
Quando disseste: - Ó Meu Jesus,
Que bem eu fiz, Senhor, em vir à fonte.

Samaritana
Plebeia de Sicar, etc. etc.

Informação complementar:
Cantam-se as duas primeiras quadras, o refrão, as duas quadras seguintes e novamente o refrão, sem repetir verso algum.

A música e a letra são ambas de Álvaro Cabral (Vila Nova de Gaia, 22-06-1865; Porto, 22-10-1918) que, além de compositor e de ser um boémio muito espirituoso e bom conversador, foi um excelente actor e autor de revistas e de letras de fados. Tinha 53 anos e era primeiro actor e director de cena da companhia que trabalhava no Teatro Nacional de São João, do Porto, quando morreu.
A letra integral deste fado consta das edições musicais da casa Valentim de Carvalho, inicialmente na Rua da Assunção, 37-39, em Lisboa (telefone nº 4.282). A 1ª edição foi impressa na Litografia Monteiro, Travessa das Pedras Negras, Nº 1, da mesma cidade. Foram feitas pelo menos três edições, as duas primeiras sem data e, a terceira, com desenho de capa datado de 1922, mas a primeira é bastante anterior, seguramente dos primeiros tempos da implantação da República.
As três edições que conheço são prova mais que segura da grande popularidade alcançada pelo fado Samaritana muito antes de Edmundo Bettencourt ter ido para Coimbra. Existe também uma edição para bandolim.

Este fado-canção, embora não seja propriamente um Fado de Coimbra, foi gravado em Fevereiro de 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia 8121 e Columbia, GL 102, master P. 301). O disco não contém qualquer indicação quanto às autorias da música e da letra, o que indicia desconhecimento do cantor e dos instrumentistas, inclusive desconhecimento das sucessivas edições musicais existentes à época.
Na reedição deste disco (Columbia, GL 102, etiqueta verde) figura erradamente, por gralha ou ignorância, o nome de Álvaro Leal como autor do fado, erro que se generalizou e se transformou num verdadeiro “erro sistemático” da discografia coimbrã.
A gravação de Edmundo de Bettencourt foi depois reeditada nos Estados Unidos sob etiqueta verde (disco Columbia, 1070-X).
Disponível em vinil (LP Fados de Coimbra – Edmundo Bettencourt, editado em 1984). Disponível também em compact disc: CD, Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 1/Coimbra, editado em 1999;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, edição de 1999.

Edmundo Bettencourt só canta metade da letra (trata-se de um disco de 25 cm e 78 rpm) e nela introduz a interjeição “Oh” no 3º verso da 4ª quadra, alterando-o para «Quando disseste: oh meu Jesus», ao que se julga para melhorar a prosódia.
A Academia de Coimbra apropriou-se deste fado e muitos têm sido os cantores que o gravaram, tendo-se transformado num dos mais emblemáticos fados de Coimbra.
Como se disse, na discografia existente (e em livros também) aparece com frequência o nome do compositor e escritor teatral Álvaro Leal (1893-1931), como autor da Samaritana, erro que, proveniente de um erro inicial, se transformou em erro sistemático, que se vai cometendo, repetindo-o sucessivamente. A letra também se encontra estropiada em diversos discos e em livros.

A outra metade da letra, a que não está gravada em disco, consta das diversas edições musicais e é a seguinte:

Fitando o azul celeste
Jesus seguiu a jornada,
Após o beijo que lhe deste
Naquela hora abençoada.

E a jovem Samaritana,
De lindo rosto moreno,
Como mulher sentiu-se ufana
Por ter beijado o Nazareno

Samaritana,
Plebeia de Sicar, etc. etc.

Mais tarde, na Galileia,
Seguida de fariseus,
Entravas pela Judeia
Perdida d’amor por Deus.

Dando gritos lancinantes
Suplicavas morte na cruz,
No mesmo lenho em que horas antes,
Bebendo fel, morrera o teu Jesus.

Samaritana,
Plebeia de Sicar, etc., etc.

Sicar é, provavelmente, a antiga Siquém (em hebraico Sichara), ou a actual aldeia de Askar, quase ao pé do Monte Ebal, próximo do Poço de Jacob.

Outros compact disc:
CD Fados e Baladas de Coimbra – Coimbra... tem mais encanto, Vidisco, 11.80.1304, editado em 1991 (canta Valdemar Vigário);
Tempo(s) de Coimbra, disco 1, EMI 0777 7 99608 2 8, de 1992 (canta Luis Marinho);
CD Tertúlia do fado de Coimbra – Coimbra... tem mais encanto, Videofono, VCD 50001, editado em 1993 (canta José Miguel Baptista);
CD Relíquias – Tertúlia do Fado de Coimbra, Edisco 25, editado em 1994 (canta José Miguel Baptista);
CD Valdemar Vigário, Vidisco, 11.81.1421, editado em 1995;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.332/B, editado 1996 (canta António Bernardino);
CD A nossa Selecção de Fados, Baladas e Guitarradas de Coimbra, Discossete, 1172-2, editado em 1997 (canta Alexandre Herculano);
CD Grupo de Fados Cantares de Coimbra – 1º. Aniversário, DCD 1024, editado em 1997 (canta Delfim Lemos);
CD Coimbra – Fados, ballads & guitars, Col. das Naus, NAU CD 017, editado em 1998 (canta Serra Leitão);
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 4/Coimbra, EMI 7243 5 20638 2 6, de 1999 (canta Luis Marinho);
CD Saudades de Coimbra – Grupo Serenata de Coimbra, Videofono, 50004, editado em1999 (canta Sutil Roque);
CD Victor Almeida e Silva – Coimbra enCanto e Poesia, Vidisco, 11.80.7854, editado em 2000;
CD Frederico Vinagre – Eternos Fados de Coimbra, Metro-Som, CD101, editado em 2000;
CD Fados de Coimbra e Tunas Académicas – Raízes e Tradições, CDsete, CD1, editado em 2001 (canta Alexandre Herculano).

António Menano gravou este fado em Dezembro de 1928, em Berlim, com uma outra letra e sob o título Conto d’Amor (Disco ODEON LA 187.809, master Og 1003). No disco vem correctamente o nome de Álvaro Cabral como autor da música e o de Afonso Correia Leite no acompanhamento do piano; o disco não contém qualquer indicação do nome do autor da letra, que é a seguinte:

Era uma vez um pastor,
D’alma alegre e sonhadora,
Que por uma linda pastora
Andava perdido de amor.

E não podendo esconder
O que no peito sentia,
Foi em segredo dizer
Uma canção que sabia:

Pastora linda!
Qu’eternamente vias
As minhas dores
E as minhas alegrias,
Quero-te muito
E juro-te por Deus
Daria a vida
Por um só dos beijos teus.

Mas o tempo que não mente,
A paixão tornou em nada
E ele deixou brutalmente
A pastora abandonada.

E a pastorinha hoje impura
Dos beijos dados a medo
Lembra talvez a falsa jura
E vai dizendo assim, quase em segredo:

Pastora linda!
Qu’eternamente etc. etc.

A referida gravação encontra-se disponível em vinil (disco 2 do II volume do Álbum António Menano – Fados de Coimbra, editado em 1986) e também em compact disc: CD António Menano – Canções, editado em Setembro de 1996.

O mesmo fado foi ainda gravado sob o título O Trovador, com letra de Manuel Henriques Guimarães, por Loubet Bravo, acompanhado à guitarra por Carlos Gonçalves e António Chaínho e, à viola, por José Maria Nóbrega (EP Fados de Coimbra, Marfer, MEL 2-155).
Loubet Bravo vivia no Porto, era empregado da CP, cantava no estilo Edmundo Bettencourt e colaborou diversas vezes com a Academia, nomeadamente no Carnaval de 1938, aquando da digressão do Orfeon Académico pelo Alentejo e Algarve, no que foi acompanhado pelo grupo de guitarras de Abílio de Moura, com o viola António Martins.

CANÇÃO DO ALENTEJO (Lá vai Serpa, lá vai Moura)
Música: Popular
Letra: Popular
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Lá vai Serpa, lá vai Moura
(Ai) E as Pias ficam no meio;
Quem vier à minha terra
(Ai) Não tem de que ter receio.

II
Teus olhos, linda morena,
(Ai) Fazem-m’a alma sombria;
Quero-te mais, ó morena,
(Ai) Do que à luz de cada dia.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Canção, de raiz folclórica alentejana, de que a Academia de Coimbra se apropriou através da voz privilegiada de Edmundo Bettencourt. A letra é a gravada no Porto, em Fevereiro de 1928, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, 8121 e Columbia, GL 102, master P. 309).
Discos provenientes da mesma gravação:
Em 78 rpm: Columbia, 1070-X (edição americana).
Em compact disc: CD Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, editado em 1999.
Na discografia encontram-se diversas variantes literárias destas duas quadras e, como título aparece por vezes «Canção de Serpa».
Os Ais entre parêntesis são o que ainda se poderia chamar de neumas (Do grego pneuma = sopro, pelo latim tardio), sinal empregado na notação do cantochão que indicava que a voz deveria elevar-se (ou abaixar-se), com duração ad libitum. Daí que se escrevam entre parêntesis dado não pertencerem aos versos.

António Menano gravou em Dezembro de 1928, em Berlim, uma canção intitulada Motivos Alentejanos, acompanhado ao piano por Afonso Correia Leite (disco Odeon, Lxx 174800, master xxOg 1045, de 30 cm), em que na primeira parte canta duas quadras com esta melodia, sendo a primeira uma variante literária da primeira quadra desta canção. Contudo, os cantores de Coimbra que vieram a cantar esta canção, e são bastantes, seguiram antes a versão gravada por Edmundo Bettencourt.

Alguns CD’s de outros cantores:
CD Grupo de Fados da AAECM – Do Choupal até à Lapa, EMLI, s/n (canta António Macedo);
CD João Queiroz – Nº 24/Fados do Fado, Movieplay, FF 17.024, editado em 1998.

INQUIETAÇÃO (Quanto mais foges de mim)
Música: Alexandre de Rezende (1886-1953)
Letra: Edmundo Bettencourt
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Quanto mais foges de mim,
Mais corro e menos te alcanço;
O meu amor não tem fim,
Morrerei mas não me canso.

II
Todo o bem que não se alcança
Vive em nós, morto de dor;
Quem ama, de amar não cansa
E se morrer é de amor.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se apenas o 4º verso.
A música é de Alexandre Rezende, compositor, cantor e guitarrista, de seu nome completo Alexandre Augusto de Rezende Mendes (Campinas, Brasil, 09-08-1886; Lisboa, 02-02-1953).
Gravado com esta letra em 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, 8122 e Columbia, GL 103, master P. 307). Esta gravação foi reeditada no Brasil, sob etiqueta preta (disco Columbia, 5319-B, master P. 307).
Disponível em compact disc:
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, casa Valentim de Carvalho, edição de 1999.

Vários cantores de Coimbra gravaram este fado de Alexandre de Rezende, cujos títulos e respectiva letra variam de uns para outros:
C. 1920-25, Carvalho de Oliveira, Fado da Mágoa (A minha tristeza é tanta);
Em 1926, António Batoque, Fado de Coimbra Nº 4 (Ceifeira que andas à calma);
Em 1927, Paradela de Oliveira, Um Fado de Coimbra (És linda mas foras feia);
Em 1928, António Menano, Fado dos Namorados (Não digas não dize sim);
Em 1928, Edmundo Bettencourt, Inquietação (Quanto mais foges de mim);
Em 1929, Almeida d’Eça, Fado (Eu tenho tanto cuidado);
Em 1981, José Afonso, Inquietação (És linda… se foras feia).

Outros CD’s sob o título Inquietação, com letra de Edmundo Bettencourt, no todo ou em parte:
CD Dr. Serra Leitão, Discossete, CD 951000, editado em 1993;
CD Valdemar Vigário, Vidisco, 11.81.1421, editado em 1995;
CD Alma Mater – Grupo de Fados de Coimbra, SecFado/AAC, CD-SF-005, editado em 1995 (canta Carlos Pedro);
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, SO 3003, editado em 1996;
CD A nossa Selecção de Fados, Baladas e Guitarradas de Coimbra, Discossete, 1172-2, disco 1, editado em 1997 (canta Serra Leitão);
CD Coimbra – Fados, ballads & guitars, Col. Naus, NAU CD 017, editado em 1998 (canta Serra Leitão);
CD Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra da Madeira, EMLI, s/n e s/d (canta António Macedo);
CD Mar Lágrima – Grupo Madeirense de Fados de Coimbra, s/n e s/d (canta Carlos Bettencourt);
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.425/A, editado em 2001 (canta José Maria Lacerda e Megre);
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.425/B, editado em 2001 (canta José Afonso);
CD Fados de Coimbra e Tunas Académicas – Raízes e Tradições, Cdsete, CD 1, editado em 2001 (canta Tito Costa Santos);
CD Ribeiro da Silva – Coimbra, Menina e Moça, SPA 2004, não disponível no circuito comercial.

FADO DO ANTO (A Cabra da Velha Torre)
Música: Francisco Menano (1888-1970)
Letra: António Nobre (1867-1900)
Edição musical: Livraria Neves, de Coimbra (1915)

I
A Cabra da Velha Torre,
Meu amor, chama por mim...
Quando um estudante morre
Os sinos tocam assim...

II
Ó quem me dera abraçar-te
Junto ao peito, assim, assim...
Levar-me a Morte e levar-te
Toda abraçadinha a mim!

Informação complementar:
Composição originariamente com refrão mas que, cantada só com estas duas primeiras quadras, é como se fosse uma composição com duas partes musicais. Os dísticos cantam-se e repetem-se sucessivamente, funcionando o refrão como se fosse a 2ª parte musical.
A música deste fado foi propositadamente feita por Francisco Menano para as Festas em Homenagem de Respeito e Saudade a António Nobre, que tiveram lugar em Coimbra em Fevereiro de 1915.

Gravado em 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt, que só canta estas duas quadras, funcionando o refrão como 2ª parte musical, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e à viola por Mário Faria da Fonseca, sob o título “Fado do Anto” (discos Columbia, 8122 e Columbia, GL 103, master P. 331). Esta gravação foi reeditada no Brasil sob etiqueta preta (Disco Columbia, 5319-B, master P. 331)
A gravação de Bettencourt encontra-se disponível em vinil (LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, EMI, editado em 1984) e também em compact disc:
Um Século de Fado/Ediclube , CD Nº 1/Fado de Coimbra, editado em 1999.

A versão literária primitiva deste fado, uma folhinha impressa na Minerva Comercial, Coimbra, em Fevereiro de 1915, compreendia três quadras e refrão, referindo em nota de rodapé que a música do Fado d’Anto não chegara a tempo mas que brevemente estaria à venda nas livrarias. Essas três quadras de António Nobre são por esta ordem as seguintes: «Minha capa vos acoite», «A cabra da velha torre» e «E só porque o mundo zomba» e, como refrão, a segunda quadra da versão gravada por Bettencourt «Ó quem me dera abraçar-te».

António Menano gravou este fado com duas quadras e refrão, na Primavera de 1928, em Lisboa, sob o título Fado d’Anto (Discos Odeon, 136.824 e A 136.824, master Og 657); por limitação de tempo, imposta pelos discos de 78 rpm, António Menano não repete o 1º dístico do refrão. Gravação disponível em compact disc:
CD António Menano (1927-1928), Heritage, HT CD 31, editado em 1995;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995;
CD António Menano – Fados, Volume II, editado em Dezembro de 1995.
As duas quadras cantadas por António Menano diferem ligeiramente das versões cantadas por Edmundo Bettencourt.

Outros compact discs:
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, SO 3003, edição de 1996;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.332/A, editado em 1996 (canta José Maria Lacerda e Megre);
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.425/B, editado em 2001 (canta José Afonso).

FADO DE SANTA CRUZ (Igreja de Santa Cruz)
Música: Fortunato Roma da Fonseca
Letra: 1ª Quadra: Popular
2ª Quadra: Popular (?)
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Igreja de Santa Cruz,
Feita de pedra morena,
Dentro de ti vão rezar
Uns olhos que me dão pena.

II
Quando estavas na igreja,
A teus pés ajoelhei:
– À Virgem por mim rezavas,
À Virgem por ti rezei.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, 8123 e Columbia, GL 104, master P. 306). No disco vem a indicação de a música ser de Fortunato Roma da Fonseca mas, quanto à letra, é omisso. Esta gravação foi reeditada no Brasil sob etiqueta preta (disco Columbia, 5320-B, master P. 306).
Gravação disponível em vinil: LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, edição de 1984; disponível também em compact disc:
CD Heritage, HT CD 15, da Interstate Music, editado em 1992;
Arquivos do Fado/ Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, edição de 1999.

A 1ª quadra é popular e não do autor do fado, como erradamente aparece na discografia coimbrã. José Leite de Vasconcelos, em apontamentos por ele recolhidos em 1892 na Quinta da Ponte, freguesia de Espinho, anotou a seguinte quadra popular:
Adeuzz... igrâija de Sã Pedro
Fâita de pedra muréna
Cândo eu lá ôiço missa
Doiz ólhos é que me dão péna.
(Cf. Leite Vasconcelos, OPÚSCULOS, Volume VI, Parte II, IN-CM, 1985, págs. 358-360)

José Paradela de Oliveira gravou este fado em Maio de 1927 e foi efectivamente o primeiro que o gravou, acompanhado à guitarra por Francisco da Silveira Morais e António Lopes Dias (disco His Master’s Voice, E.Q. 86 master 7-62173), mantendo-lhe o título mas substituindo a 2ª quadra por esta outra:

Lágrimas de portugueses,
Se todas fossem ao mar,
Já não houvera no mundo
Terra firme onde chorar.

A gravação do Paradela encontra-se disponível em compact disc:
CD Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 1/Coimbra, editado em 1999.

António Menano gravou este fado em Dezembro de 1928, em Berlim (Disco ODEON, LA 187.815, master Og 1034), acompanhado à guitarra por João Fernandes e, à viola, por Mário Marques. Na letra que António Menano canta não há referência alguma ao nome da igreja que dá o título ao fado; começa por cantar a 2ª quadra (Quando estavas na igreja) e, como 2ª quadra, canta esta outra:

E na crença e na vertigem
Foi então que eu me perdi;
Em vez de rezar à Virgem
Rezava mas era a ti.

Gravação disponível em vinil (Álbum de Fados de Coimbra – António Menano, Volume II, disco 2, editado em 1986); também em compact disc:
CD António Menano – Fados, EMI-VC, editado em Setembro de 1995.

Adriano Correia de Oliveira que cantava este fado mas que não o gravou, substituía a 2ª quadra por esta outra:

Ingrata, se fores à missa
Não te aproximes da Cruz
Que o pobre Cristo não veja
O teu olhar que seduz.

Muitos outros cantores gravaram este fado. Por vezes, na discografia, aparece erradamente como título o incipit Igreja de Santa Cruz. Gravações disponíveis em compact disc de outros cantores:
Tempo(s) de Coimbra, disco 1, editado em 1992 (canta Alfredo Correia);
CD Tertúlia do Fado e Coimbra – Coimbra... terra de encanto, Videofono, VCD 50001, editado em 1993 (canta Victor Nunes);
CD Dr. Serra Leitão, Discossete, CD 951000, editado em 1993;
CD Fados e Baladas de Coimbra – do Choupal até à Lapa, Vidisco, 11.80.1208, editado em 1994 (canta Valdemar Vigário);
CD Doutor Camacho Vieira – Colectânea de 1880-1994, Discossete, 1014-2, editado em 1995;
CD A nossa Selecção de Fados, Baladas e Guitarradas de Coimbra, Discossete, 1172-2, disco 2, editado em 1997 (canta Serra Leitão);
CD Coimbra – Fados, ballads & guitars, Colecção das Naus, NAU CD 017, editado em 1998 (canta Serra Leitão);
CD João Queiroz, Movieplay, FF 17.024, editado em 1998;
CD Frederico Vinagre – Fados e Guitarradas de Coimbra, Metro-Som, CD 151, editado em 2001.
CD Ribeiro da Silva – Coimbra, Menina e Moça, SPA 2004, não disponível no circuito comercial.

MAR ALTO (Fosse o meu destino o teu)
Música: Mário Faria da Fonseca
Letra: Edmundo Bettencourt
Edição musical: desconheço a sua existência

I
Fosse o meu destino o teu,
Ó mar alto, sem ter fundo!
Viver tão perto do céu,
Andar tão longe do mundo.

II
Antes as tuas tormentas
Do que todas as revoltas,
Num sólio azul te adormentas
E a soluçar nunca voltas.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e à viola por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia 8123 e Columbia, GL 104). No disco 8123 não existe indicação alguma sobre o nome do autor da letra pelo que não se compreende bem a omissão se efectivamente o seu autor foi Edmundo Bettencourt. Esta gravação foi reeditada no Brasil sob etiqueta preta (disco Columbia, 5320-B, master P. 333). Disponível em vinil (LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, EMI-VC, edição de 1984); também em compact disc:
CD Heritage, HT CD 15, da Interstate Music, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, edição de 1999;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 6/Fado de Coimbra, EMI, editado em 1999.

Das gravações que conhecemos de outros cantores, à excepção de uma de 1997 do Grupo Serenata de Coimbra, todos eles estropiaram o 3º verso da 2ª quadra; dizem sol azul, sonho azul, céu azul...
Outros compact discs:
CD Coimbra na voz do doutor Camacho Vieira; Discossete, CD 86400, editado em 1992;
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, SO 3003, editado em 1996;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.332/B, editado em 1996 (canta José Afonso);
CD Grupo Serenata de Coimbra...para o mundo, Videofono, 50008, editado em 1997 (canta Tito Costa Santos);
CD Mar Lágrima – Grupo Madeirense de Fados de Coimbra, s/n, s/d (canta Jorge de Freitas);

CANÇÃO DA BEIRA-BAIXA (Era ainda pequenina)
Música: Popular
Letra: Popular
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Era ainda pequenina,
Acabada de nascer,
Inda mal abria os olhos
Já era para te ver.
Acabada de nascer.

II
Quando eu já for velhinha,
Acabada de morrer,
Olha bem para os meus olhos
Sem vida – inda te hei-de ver.
Acabada de morrer.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Cantam-se e repetem-se sucessivamente os três primeiros versos, canta-se o 4º verso e repete-se o 2º.
A letra que se apresenta é a gravada em Fevereiro de 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (Discos COLUMBIA, 8124 e Columbia, GL 105, master P.302). Esta gravação foi reeditada no Brasil sob etiqueta preta (disco Columbia, 5321-B). Disponível em vinil (LP Fados de Coimbra – Edmundo Bettencourt, edição de 1984); também em compact disc:
CD Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, edição de 1999.

Esta famosíssima canção monsantina entrou para o foro musical Coimbrão após ter sido cantada e gravada por Edmundo Bettencourt. Trata-se de uma cantiga bailada, cantada com adufe na Romaria de Nossa Senhora da Póvoa. A sua notação musical foi recolhida diversas vezes e encontra-se em:
Rodney Gallop, Cantares do Povo Português, Ed. Instituto de Alta Cultura, pág. 103;
Lopes Graça, A Canção Popular Portuguesa, Europa-América, col. Saber, 3ª edição, pág. 124 e 142;
Michel Giacometti, Cancioneiro Popular Português, Ed. Círculo de Leitores, pág. 260.
Nos livros citados a letra que apresentam é diferente da cantada por Edmundo Bettencourt. No 4º verso da 2ª estrofe, Bettencourt canta “Sem vida – inda te hei-de ver”, como acima se indica, enquanto que nos ditos livros o referido verso é, em todos eles: “Inda são para te ver”. Naqueles livros também existe divergência quanto ao compasso: Gallop apresenta duas hipóteses, 6/8 ou 3/4, enquanto que para Lopes Graça o compasso deve ser 3/8.
Ainda quanto à 2ª quadra (Quando eu já for velhinha / Acabada de morrer / Olha bem para os meus olhos / Inda são para te ver), Lopes Graça, a pág. 142 do citado livro, transcreve esta quadra e afirma que lhe “foi dito pelo poeta Edmundo de Bettencourt ter sido por ele composta (ele, Bettencourt) e depois vulgarizada através da sua gravação da formosa canção monsantina”. Ora, nem ele gravou “Inda são para te ver”, nem a que ele gravou, “Sem vida – inda te hei-de ver”, se vulgarizou através da gravação do Bettencourt. E, se a quadra era dele, porque não a cantou na gravação? Por outro lado, o diplomata inglês Rodney Gallop, eminente folclorista e músico, que viveu em Portugal entre 1931 e 1933, aproveitou tal estadia para fazer recolhas in loco de que resultou o livro publicado em 1936, em Cambridge (Portugal – A Book of Folkways). A recolha desta canção terá ocorrido entre 1932 e 1º semestre de 1933.
N’A Canção Popular Portuguesa, Lopes Graça apresenta, na já referida página 124, duas variantes, indicando as respectivas origens, a 1ª das quais é a cantada por Edmundo Bettencourt:
“Sem vida - inda te hei-de ver” (António Joyce - É a variante que o Bettencourt canta)
“Sem ter vida, querem ver” (Eurico Sales Viana, Cancioneiro Monsantino)
Salvo melhor opinião, parece-me que algo estará mal no que diz Lopes Graça, o que me leva a pensar haver nisto tudo alguma confusão.

Outros compact discs:
CD Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra, Movieplay, PE 51.019, editado em 1995;
CD Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da AAEC da Madeira, EMLI, s/n e s/d (canta Luis Filipe Costa Neves);

CRUCIFICADO (Ave-Marias são beijos)
Música: Fortunato Roma da Fonseca
Letra: Francisco Bastos (1864-1901)
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Avé-Marias são beijos,
(Ai) Padres-nossos são abraços,
Rosário dos meus desejos,
A Cruz é abrires-me os braços.

II
De rezar beijos e abraços,
(Ai) E desejos, estou cansado,
Abre depressa os teus braços,
Quero ser crucificado.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
A música é de Fortunato Roma da Fonseca e a letra de antigo estudante brasileiro Francisco Bastos de Oliveira Bastos (Paraíba do Sul, 1864; ibidem, 1901), quintanista de Direito no ano de 1890-1891, co-autor da peça da Récita de Despedida desse ano, «De Coimbra a Constantinopla», uma nefelibatada em 3 actos e 5 quadros.
Edmundo Bettencourt gravou este fado com esta letra em 1928, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, 8124 e Columbia, GL 105 master P. 332). Esta gravação foi reeditada no Brasil sob etiqueta preta (disco Columbia, 5321-B, master P. 332). Disponível em vinil (LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, EMI, edição de 1984); também em compact disc:
CD Fados de Coimbra 1926-1930, Heritage HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/ Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, edição de 1999;
Um Século de Fado – Fado de Coimbra, CD Nº 6, EMI, editado em 1999.

No disco Columbia, 8124, a indicação de popular para a letra não é correcta. Apesar de Edmundo Bettencourt ser homem de cultura, verificam-se omissões e incorrecções nos dizeres dos seus discos pelo que não se podem considerar como fonte absolutamente segura. A letra é efectivamente do brasileiro e antigo estudante de Coimbra Francisco Bastos de Oliveira Matos, embora já estivesse popularizada passados quatro decénios. Veja-se Alberto Pimentel, A Triste Canção do Sul, publicada em 1904, mas já no prelo desde 1902, págs. 220, e Quadras de Estudantes a Coimbra e para as Tricanas, edição d’O Rancho de Coimbra”, organizada por Octaviano de Sá, Coimbra, 1940, pág. 9.
No disco Columbia, GL 105 o erro da autoria da letra é ainda mais grosseiro, figurando o nome «E. de Bettencourt» do cantor, como autor.

Vários cantores, uns de Coimbra, outros não, também gravaram este fado mas não se pode dizer que a letra tenha sido sempre respeitada escrupulosamente, tanto por uns, como por outros, consequência das aprendizagens de outiva.
Gravações disponíveis em compact disc de outros cantores:
CD Dr. Serra Leitão, Discossete, 951000, editado em1993;
CD Valdemar Vigário, Vidisco, 11.81.1421, editado em 1995;
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, Série Ouro, SO 3003 editado em 1996;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV: 30.332/B, editado em 1996 (canta José Afonso);
CD A nossa Selecção de Fados, Baladas e Guitarradas de Coimbra, Discossete, 1172-2, disco 1, editado em 1997 (canta Serra Leitão);
CD Coimbra – Fados, ballads & guitars, Col. Naus, Nau CD 017, editado em 1998 (canta Serra Leitão);

FADO DOS OLHOS CLAROS (A luz dos teus olhos claros)
Música: Mário Faria da Fonseca
Letra: Edmundo Bettencourt
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
A luz dos teus olhos claros
É uma estrela a lucilar
Que eu ora vejo no céu,
(Ai2) Ora nas ondas do mar.

II
Ó olhar da claridade,
Olhar de luar e água,
Sagrado espelho onde vejo
(Ai2) A sombra da minha mágoa.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado pela primeira vez em Dezembro de 1929, em Lisboa, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Afonso de Sousa e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia BL 1000 e Columbia, GL 106, master P. 470-1). No Disco vêm indicadas as respectivas autorias.

Os Ais, indicados entre parêntesis na letra do fado, são o que ainda se poderia chamar de neumas (Do grego pneuma = sopro, pelo latim tardio), sinal empregado na notação do cantochão que indicava que a voz deveria elevar-se (ou abaixar-se), com duração ad libitum. Daí que se escrevam entre parêntesis dado não fazerem parte dos versos das quadras. No caso em apreço só quando se repetem os dísticos é que se devem cantar esses ais; daí que se tenha aposto o índice 2 a seguir a cada um deles.

Existe uma variante literária da 2ª quadra dado que, numa outra gravação do mesmo fado, Edmundo Bettencourt não canta a 2º quadra exactamente como a transcrita acima, cujo 2º verso é alterado para “Oh olhar de luar na água”. Existem portanto duas matrizes e estamos em crer que a versão que se apresenta seria a preferida pelo autor.

Discos provenientes das referidas gravações: Em vinil: LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, EMI-VC 2402451, editado em 1984. Em compact disc: CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, edição de 1999; Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 6/Coimbra, editado em 1999.
Fado gravado por numerosos cantores de Coimbra e não só. Na discografia aparece por vezes com o título de «Olhos Claros», tout court, e também se encontra um ou outro estropiamento da letra, quer em discos, quer em livros.
CD’s de outros cantores:
CD Dr. Serra Leitão, Discossete, 951000, editado em1993;
CD Relíquias – Tertúlia do Fado de Coimbra, Edisco, 25, editado em 1994 (canta Victor Nunes);
CD Alma Mater – Grupo de Fados de Coimbra, SecFado/AAC, CD-SF-005, editado em 1995 (canta Carlos Pedro);
CD Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra da Madeira, EMLI, s/n (canta Luis Filipe Costa Neves);
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, SO 3003, editado em 1996;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.332/A, editado em 1996 (canta Adriano Correia de Oliveira);
CD A nossa Selecção de Fados, Baladas e Guitarradas de Coimbra, Discossete, 1172-2, disco 1, editado em 1997 (Grupo de Fados da Universidade do Porto)
CD Coimbra – Fados, ballads & guitars, Col. Naus, NAU CD 017, editado em 1998 (Grupo de Fado Académico do Orfeão Universitário do Porto);
CD Clássicos da Renascença – Adriano Correia de Oliveira, Movieplay, MOV 31.028, editado em 2000;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.425/B, editado em 2001 (canta José Afonso);
CD Fados de Coimbra e Tunas Académicas – Raízes e Tradições, Cdsete, CD 3, editado em2001 (Grupo de Fado da Universidade do Porto);
CD Ribeiro da Silva – Coimbra, Menina e Moça, SPA 2004, não disponível no circuito comercial.

ALEGRIA DOS CÉUS (Ó Alegria dos Céus)
Música: Mário Faria da Fonseca
Letra: José Campos de Figueiredo (1899-1965)
Edição musical:

I
Oh Alegria dos Céus
Tua luz bendita seja;
Quem vive em graça com Deus
Tem aquilo que deseja.

II
Luz divina da alegria
Venha a nós a tua graça;
Que a gente possa sorrir
Na ventura e na desgraça.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado pela primeira vez em Dezembro de 1929, em Lisboa, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Afonso de Sousa e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, BL 1000 e Columbia, GL 106, master P. 633). No disco vêm as indicações das respectivas autorias.
Discos provenientes da mesma gravação:
Em vinil: não existe disco.
Em compact disc: CD O Poeta Cantor, EMI-VC 560 5231 0047 2 5, editado em 1999.

Alguns CD’s de outros cantores:
CD Grupo Serenata de Coimbra – Saudades de Coimbra, Videofono, 50004, edição de 1993 (canta Tito Costa Santos);
CD Grupo Madeirense de Fados de Coimbra – Mar Lágrima, s/n e s/d (canta Luis Filipe Costa Neves)

BALADA DO ENCANTAMENTO (Dentro de ti, ó Leiria)
Música: D. José Pais de Almeida e Silva (1929)
Letra: D. José Pais de Almeida e Silva (1929)
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Dentro de ti, oh Leiria,
Vive uma moira encantada...
Não sabes, é minha amada
E tem por nome Maria.

II
Leiria foste um ladrão,
Leiria do rio Lis,
Roubaste-me o coração
E, vê lá tu... sou feliz.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Os versos cantam-se e repetem-se sucessivamente.
A música e a letra são ambas de D. José Pais de Almeida e Silva, então quintanista de Matemática e regente da Tuna Académica.
A Balada do Encantamento foi dedicada a uma dama que então conheceu em Janeiro de 1929, em Leiria, por ocasião da ida da Tuna àquela cidade, onde realizou dois saraus, Senhora que mais tarde viria a ser sua Esposa.
Gravada pela primeira vez em Dezembro de 1929, em Lisboa, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Afonso de Sousa e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, BL 1001 e Columbia, GL 107, master P. 647). No disco vêm indicadas as autorias da música e da letra.
Discos provenientes da mesma gravação:
Em vinil: LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, editado em 1984.
Em compact disc:
CD O Poeta e o Cantor, EMI-VC 560 5231 0047 2 5, editado em1999;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 1/Coimbra, EMI 7243 5 20633 2 1, de 1999.

CD’s de outros cantores:
CD Fados e Baladas de Coimbra... do Choupal até à Lapa, Vidisco, 11.80.1208, editado em 1992 (canta José Mesquita);
CD João Queiroz, Movieplay, FF 17.024, editado em 1998;
CD Grupo de Fados da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra da MadeiraDo Funchal até à Lapa, EMLI, s/n (canta Luis Filipe Costa Neves);
CD Grupo Madeirense de Fados de Coimbra – Mar Lágrima, s/n e s/d (canta Carlos Bettencourt).

Este mesmo fado, entenda-se a música, foi cantado na década de 40 numa das Serenatas de Coimbra que a antiga Emissora Nacional transmitia aos domingos, repetidas na sexta-feira seguinte. A letra cantada nessa serenata foi a seguinte:

I
Sofro e rezo Ave-Maria
E, por destino de Deus,
Teus olhos passam nos meus
E a noite parece dia.

II
Nossa Senhora das Dores
Tem sete espadas no peito:
– Saudade tem sete letras
Que ferem do mesmo jeito.

Já não sei quem foi que cantou mas, a ideia que tenho, é que foi muito bem cantado.

SAUDADES DE COIMBRA (Ó Coimbra do Mondego)
Música: Mário Faria da Fonseca
Letra: António de Sousa (1898-1981)
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Oh Coimbra do Mondego
E dos amores que eu lá tive,
Quem te não viu, anda cego,
Quem te não ama, não vive.

II
Do Choupal até à Lapa
Foi Coimbra os meus amores.
A sombra da minha capa
Deu no chão, abriu em flores.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado pela primeira vez em Dezembro de 1929, em Lisboa, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Afonso de Sousa e à viola por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, BL 1001 e Columbia, GL 107, master P. 662-1). No disco vêm indicadas as respectivas autorias.
Discos provenientes da mesma gravação:
Em vinil: LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, EMI-VC, editado em 1984.
Em compact disc:
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, edição de 1999;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 6/Coimbra, editado em 1999.

Tenho perfeita consciência de nos anos 40, quando andava no Liceu de Évora, ter ouvido variadas vezes este fado em que a última quadra era a última quadra da Balada da Récita de Despedida do V Ano Médico de 1919-1920, que é esta:

Não se esquecem nunca mais
As horas aqui passadas;
A Saudade e a partida
Andam sempre de mãos dadas.

Até à presente data nunca encontrei esse disco, cujo cantor tinha excelente voz com timbre de tenor e cantava muito bem; ainda o “oiço” a cantar esta quadra. Julgo, mas disso já não tenho a certeza, que cantava as três quadras, as duas deste fado e finalizava com esta da Balada da Despedida de 1920.

Saudades de Coimbra também é dos fados mais emblemáticos pelo que tem sido gravado por numerosos cantores. Quer nos discos, incluindo cantores de nomeada, quer em livros, a letra apresenta-se por vezes com algumas incorrecções, maiores ou menores, chegando a atingir o estropiamento.
Alguns CD’s de outros cantores:
CD Fados e Baladas de Coimbra... do Choupal até à Lapa, Vidisco, 11.80.1208, editado em 1992 (canta José Mesquita);
CD Saudades de Coimbra – Grupo Serenata de Coimbra, Videofono, 50004, editado em 1993 (canta João Frada)
CD Relíquias – Tertúlia do Fado de Coimbra, Edisco, 25, editado em 1994 (canta José Miguel Baptista);
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, SO 3003, editado em 1996;
CD Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra da Madeira, EMLI, s/n e s/d (canta Luis Filipe Costa Neves);
CD Frederico Vinagre – Eternos Fados de Coimbra, Metro-Som, CD 101, editado em 2000;
CD Victor Almeida e Silva – Coimbra enCanto e Poesia, Vidisco, 11-80.7854, editado em 2000;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.425/A, editado em 2001 (José Afonso);

SENHORA DO ALMOTÃO E SENHORA DA PÓVOA
Música: Popular; arranjo de Artur Paredes
Letra: Popular
Edição musical: Desconheço a sua existência

Senhora do Almotão,
Ó minha rosa encarnada,
Ao cimo do Alentejo
Chega a vossa nomeada.

Senhora do Almotão
Minha tão linda arraiana,
Vira as costas a Castela,
Não queiras ser castelhana!

Não queiras ser castelhana
(Ai) Nossa Senhora da Póvoa, (bis)
Minha boquinha de riso,
Minha maçã camoesa (bis)
Criada no paraíso. (bis)

Senhora do Almotão,
A vossa capela cheira:
Cheira a cravos, cheira a rosas,
Cheira à flor da laranjeira.

Cheira à flor da laranjeira
(Ai) Nossa Senhora da Póvoa, (bis)
Minha boquinha de riso,
Minha maçã camoesa (bis)
Criada no paraíso. (bis)

Informação complementar:
Canção gravada em Dezembro de 1929, em Lisboa, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Afonso de Sousa e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, BL 1005 e Columbia, GL 108, master P. 634). O disco contém as seguintes indicações: “Canção da Beira-Baixa” e “Arranjo de Arthur Paredes”; em boa verdade, trata-se duas canções, como aliás o próprio título sugere, Senhora do Almotão, uma, e Senhora da Póvoa, outra, ambas da Beira-Baixa, reunidas numa só, como numa suite, funcionando a 2ª como refrão.

A Senhora do Almotão, venerada em Idanha-a-Nova, tem a sua festa 15 dias após a Páscoa. Em tempos antigos, esta canção não se cantava com refrão mas, ultimamente, têm-lhe acrescentado algumas formas de refrão. A canção tem variantes, podendo a melodia ser em tom maior ou em tom menor. No disco vem Almotão e não Almurtão; uma outra forma é Almortão; todas estas variantes são correctas mas, a primeira, a que vem no disco, parece-me ser a preferível para efeitos da discografia.
A Senhora da Póvoa, festejada na antiga aldeia de Vale de Lobo, hoje Vale da Senhora da Póvoa, concelho de Penamacor, é na 2ª feira de Pentecostes. A canção também tem variantes musicais e literárias.

A gravação de Edmundo de Bettencourt encontra-se disponível em vinil (LP Fados de Coimbra – Edmundo Bettencourt, EMI, editado em 1984) e também está disponível em compact disc:
CD Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 1, editado em 1999:
CD O Poeta e o Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, editado em 1999.

Vários outros cantores gravaram esta linda canção mas, por vezes, a letra aparece a(du)lterada, incluindo em livros, consequência de aprendizagens de outiva.
Outros compact discs:
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, SO 3003, editado em 1996;
CD Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da AAEC da Madeira, EMLI, s/n e s/d (canta Luis Filipe Costa Neves);
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.332/B, editado em 1996 (José Afonso).

SAUDADINHA (Ó tirana saudade)
Música: Popular
Letra: Popular
Edição musical:

I
Ó tirana saudade,
Ó minha saudadinha,
Foste nada no Faial,
Baptizada na Achadinha.

II
Saudade, onde tu fores
Leva-me, podendo ser:
Eu quero ir a acabar
Onde tu fores morrer.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. O 1º e 3º versos cantam-se três vezes seguidas e o 2º e o 4º apenas se cantam uma só vez, precedidos da palavra saudade (substituída por no Faial no 3º para o 4º verso da 1ª quadra.
A letra é a gravada em 1929, em Lisboa, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Afonso de Sousa e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, BL 1005 e Columbia, GL 108, master P. 659); nele vem a indicação de “Canção Açoriana”.
Disponível em vinil a partir de 1984 (LP Fados de Coimbra – Edmundo Bettencourt, EMI). Também em compact disc:
CD Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
CD Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, editado em 1999.

A 1ª quadra vem no Cancioneiro Geral dos Açores, 2º volume, pág. 321, com a variante “Foste nada na cidade”; a 2ª quadra vem no Cancioneiro Popular Português, II volume págs. 106, 110 e 119, uma outra variante vem em Um Esquema do Cancioneiro Popular Português, de Afonso Duarte, da Seara Nova, a pág. 10, e uma outra no Cancioneiro de Fernando de Castro Pires de Lima, FNAT, 1962, a pág. 53.

Esta canção foi depois gravada por Luiz Goes, acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão e Aires de Aguilar e, à viola, por António Toscano e Fernando Neto Mateus da Silva (EP Columbia, 8E 016 40135, de 45 rpm); o disco foi depois incluído no LP Canções da Vida e do Mar – Columbia, 11C 072-40015. Disponível em compact disc:
CD Luiz Goes – Canções do Mar e da Vida, EMI-VC, editado em 1995;
CD Luiz Goes – Homem só meu Irmão, EMI-VC (Caravela), editado em 1996;
Integral 1952-2002 de Luiz Goes, editado em 2002, CD N.º 2.

Gravações disponíveis em compact disc de outros cantores:
CD Relíquias – Tertúlia do Fado de Coimbra, Edisco 25, editado em 1994 (canta Nuno de Carvalho).

Lisboa, 25 de Outubro de 2005

[1] Para um melhor conhecimento do Cantor e do Poeta recomenda-se NO RASTO DE EDMUNDO BETTENCOURT, de António Nunes, Funchal, 1999, e RETRATOS DE POETAS QUE CONHECI, de João Gaspar Simões, Brasília Editora, 1974.
[2] Os discos BL 1002, BL 1003 e BL 1004, cujos números de catálogo talvez estivessem destinados à 2ª série das gravações de Edmundo Bettencourt, são do tenor Tomás Alcaide (Gosto de ti, Amor é cego e vê, Beira Mar, Não quero o teu amor…). Só nos discos da 2ª edição é que a numeração é seguida (GL 101 a GL 108).

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