sábado, abril 30, 2005


Augusto Camacho Vieira, Divaldo Gaspar de Freitas, Luiz Goes, António Toscano e João Gomes (faltam João Bagão e Agillar). Foto tirada na Gare Marítima de Santos, Brasil, em 1983, aquando da digressão do grupo de João Bagão ao Brasil e África do Sul (foto cedida a António M. Nunes pelo Dr. Camacho Vieira)
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Capa da monografia Emudecem Rouxinóis do Mondego, São Paulo, 1972, onde Divaldo de Freitas procede ao levantamento de inúmeras biografias de antigos cultores da CC, com ilustrações complementares e inventariações fonográficas. No motivo de capa vê-se uma guitarra do tipo Lisboa, em alusão à última guitarra utilizada por Augusto Hilário. (Texto e fotografia de António M. Nunes)
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Divaldo Gaspar de Freitas (1912-2003). Um pioneiro na produção de estudos sobre a História da Canção de Coimbra

Divaldo Gaspar de Freitas, filho do comerciante português António Gaspar de Freitas, e de Clara Vollet, nasceu em São Carlos, Brasil, em 20 de Setembro de 1912. Passou a meninice a brincar na loja paterna, cuja tabuleta anunciava “O Rei dos Barateiros”. Ainda criança, a família foi estabelecer-se em São Paulo, na Rua Cincinato Braga, cidade onde Divaldo fez o ensino primário no Grupo Escolar Rodrigues Alves, à Avenida Paulista. Na fase de transição da escola primária para o Liceu, a família Freitas fixou domicílio em Cantanhede, nos arredores de Coimbra. Divaldo de Freitas passou a frequentar o Liceu de Coimbra, donde transitou para a Faculdade de Medicina da UC, cujo urso terminou em 1938. A Divaldo de Freitas deve a Academia de Coimbra a divulgação do famoso “grito académico”, FRA… Em 1937 passou por Coimbra uma delegação de estudantes brasileiros, em grande parte aboletada na República dos Kágados, que divulgou um antigo grito brasileiro, conjugado com uma sigla codificada contra o regime de Getúlio Vargas (1883-1954). Vargas chegara à presidência da república em 1934, tendo instaurado o “Estado Novo” pelo golpe de 10/11/1937. Divaldo aprendeu o grito, parece que o lançou com alguma frequência nos jogos do clube de futebol de Cantanhede e finalmente, na noite de 26 de Maio de 1938, ensaiou os quintanistas de Medicina e lá se gritou furiosamente o FRA (=Frente Republicana Académica Anti-Jetúlio Vargas!) no Jardim Botânico da UC. No dia seguinte, 27 de Maio, todos os cursos presentes na Queima das Fitas berravam o FRA a plenos pulmões. E dos cursos saltou para as gargantas dos apoiantes da Académica (equipa de futebol), com um percurso imparável pelos liceus continentais e ultramarinos, magistérios primários, Universidade do Porto, alastrando já depois de 1974 a todas as escolas públicas e privadas de ensino superior, quartéis, escuteiros, campistas…
Já agora, o que Divaldo gritou com os seus colegas foi:

Solo: Então Malta, e pelos quintanistas de Medicina, não vai nada, nada, nada?
Coro: Tudo!
Solo: Nada, mesmo nada, nada, nada?
Coro: Tudo!
Solo: Então, com toda a pujança, toda a cagança, e todo o espírito académico, FRA (efe, erre, ah, ditas as letras com grandes prolongamentos)
Coro: Ah!
Solo: FRE (efe, erre, eh)
Coro: Eh!
Solo: FRI (efe, erre, ih)
Coro: Ih!
Solo: FRU (efe, erre, uh)
Coro: Uh
Todos: Frá, Fré, Fri, Fró, Fru, Alêguá-Guá-Guá, Alêguá-Guá-Guá, Chi-Ri-Bi-Bi, Tá-Tá-Tá-Tá, Hurrá-Hurrá!

Após a formatura regressou ao Brasil, tendo casado em 1941 com Adelaide Fortunato, uma conterrânea que conhecera em Coimbra por 1936.
Iniciou a sua actividade profissional como regente da cadeira de Medicina Legal em São Paulo e trabalhou como médico na Beneficiência Portuguesa. Em 1942 estreou-se no ramo farmacêutico, como Director Secretário do Laboratório Clímax S/A, cargo que manteve até 1974. Estudou longamente a História da Medicina, tendo escrito centenas de trabalhos para revistas, jornais, conferências, congressos e cursos, e participou em diversos encontros científicos da especialidade no Brasil e no estrangeiro. Investigou paralelamente temas da História de Portugal e da História do Brasil, destacando-se a premiada “A vida e as obras de Bartolomeu Lourenço de Gusmão” (1967). Divaldo foi membro de inúmeras instituições culturais e científicas. Embora não tenha exercido carreira universitária, chegou a orientar várias teses de doutoramento e participou em júris doutorais.
Coleccionador insaciável de livros, e também de discos, Divaldo de Freitas acabaria por doar o grosso dos seus livros às instituições universitárias de São Paulo. Ao Museu Académico de Coimbra remeteu por mala diplomática nos inícios da década de 1990 umas 40 caixas contendo cartas, livros, documentos diversos e dezenas de antigos discos de 48 rotações.
A Divaldo se ficaram a dever as mais calorosas recepções que os organismos teatrais e corais da Academia de Coimbra receberam no Brasil, cabendo rememorar as digressões do TEUC (1949) e do Orfeon (1954). Na década de 1950 ajudou a fundar uma delegação da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra em São Paulo, de que foi incansável dinamizador. Veio a Portugal por diversas vezes na década de 1960, com derradeira visita à sua amada Sião em 1988. Nos alvores da década de 1960 iniciou a recolha de certidões, fotografias, partituras e variados informes com vista ao levantamento das biografias e discografias dos muitos agentes da CC que iam desaparecendo. Um dos seus grandes colaboradores em Portugal foi o Dr. Afonso de Sousa. Esteve intimamente ligado às homenagens a Hilário, Lucas Junot e Manassés. Um breve resumo das suas pesquisas veio a lume em 1972 na muito sentimental mas preciosa obra “Emudecem Rouxinóis do Mondego”. Tendo começado por defender as origens hilarianas da CC, Divaldo deixou falar a sua costela de investigador e em Julho de 1988 proferiu no Arquivo da UC uma notável conferência onde demonstrou que Hilário não poderia ter cantado o Fado Hilário Moderno, mas sim o Fado Serenata do Hilário. Numa conjuntura em que facilmente poderia ser acusado de “fascista”, defendeu a continuidade da CC e invocou a necessidade de entender este género artístico como Património Cultural.
Ainda me correspondi com Divaldo de Freitas em 1989, mas sem continuidade. Os documentos ofertados ao Museu Académico dariam para sustentar uma bela tese de mestrado. Os velhos discos permitiriam lançar uma saborosa antologia em cd ou dvd. As fotografias dos antigos cultores, essas tenho-as visto em obras assinadas por António Brojo/António Portugal e também José Niza. O “Emudecem Rouxinóis…” merecia ser reeditado com notas críticas, inclusão de biografias que ficaram inéditas e documentação remanescente.
As minhas sentidas homenagens a esta figura da cultura e grande amigo da Canção de Coimbra que pode ser classificado sem rebuço de estudioso pioneiro.

Agradecimentos: ao Dr. Augusto Camacho Vieira e ao Dr. Fernando Freitas pelas boas pistas que me lançaram no encalço de Divaldo
(António M. Nunes, Abril de 2005)


Capa do CD "CANÇÕES D'AQUI", com a voz de Jorge Cravo, integrado no Grupo Académico de Fados e Canções de Coimbra, da etiqueta Ovação e saído em 1994, reedição de um LP saído em 1989, da mesma etiqueta. Os instrumentistas deste grupo, são: António José Moreira e Henrique Ferrão à guitarra; José Carlos Ribeiro, Luís Miguel Martins e Manuel Pera à viola.
Este disco foi uma "pedrada no charco", com temas todos originais e de bom nível, mostrando um Jorge Cravo compositor e poeta. Realço aqui um belo texto e uma melodia de muito bom gosto no "Fado" "Elegia para um Choupal", alcunhado, no bom sentido, de "Fado Ecológico". A bonita voz de Jorge Cravo empresta-lhe um sabor mui sui generis.
Há ainda que destacar o grande desempenho de António José Moreira, um aluno de longa data de Jorge Gomes, com preciosos arranjos e belíssima execução, muito bem secundado pelos outros elementos do grupo.
Só é pena que haja trocas entre o conteúdo e o que é anunciado na contracapa do CD.
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Armando Luís de Carvalho Homem fez este comentário que eu não resisto a colocá-lo mais em evidência. Aqui vai:

Caro Octávio
Parabéns também a Si pelo sentido de oportunidade, ao inserir esta foto num momento de grande alegria para os adeptos, de perto ou de longe, da que também é uma «equipa de todos nós». Aliás o tema ACADÉMICA tem andado aqui na ordem do dia em «comments» particularmente polémicos: a ACADÉMICA surge assim como UM FACTOR DE CONSENSO e a colocação da foto não poderia ser mais oportuna. E para quem, pela idade, conheceu a equipa de Mister Mário Wilson (ca. 1964-1969), dos 2.º e 5.º lugares no Campeonato (1967 e 1968), de algumas «partidinhas» aos GRANDES nos seus terrenos (vitórias e empates nas Antas e em Alvalade, eliminação do Benfica e do Sporting na Taça 67 e do 2.º também na Taça 69; as reacções - sobretudo dos adeptos portistas - eram sempre «raivosas» ou pouco menos; e houve jornalistas desportivos - mormente d' A BOLA -que se converteram em «bêtes noires» na Coimbra de então), das duas finais da Taça de Portugal (1967 e 1969),dos guarda-redes Maló (já aqui disse isto e repito: quando é que Coimbra homenageia um grande jogador que não quis ser profissional e que se converteu num distinto clínico e lente de Estomatologia ?), Brassard, Viegas (tenho uma foto de grupo da latada de Ciências 1967/68 em que ele está - era então finalista de Matemática; vou-lha mandar logo que possa) e Melo, dos defesas Bernardo, Celestino, Rui Rodrigues, Curado, Castro, Vieira Nunes e Marques, dos médios Gervásio, Toni, Rocha, Pedrosa e Peres (célebre internacional do Sporting que jogou em Coimbra em 68/69) e dos avançados Crispim, Mário Campos, Jorge Humberto, Manuel António, Ernesto, Artur Jorge, Serafim (já desaparecido, este grande avançado despontado no F. C. Porto, transferido para o Benfica europeu dos anos 60 - e nunca conseguindo lugar certo na equipa principal ...- e concluindo carreira na Académica, 1966-ca. 1969; pela Briosa foi pela última vez internacional em Junho de 67, em jogos da fase preliminar do EURO 68, face à Suécia - empate em Estocolmo - e à Noruega - vitória em Oslo) e Vítor Campos (e ainda alguns ligeiramente posteriores, como o malogrado avançado Neno, o também avançado António Jorge ou o médio Vala; ou então glórias mais antigas, como Bentes - a quem Manuel Alegre dedicou um poema -, o próprio Mário Wilson e o depois médico Mário Torres) o dia é duplamente especial...

Apenas uma sugestão: seria possível acrescentar a legenda ? Quem são aqueles 11 «heróis» que ontem garantiram praticamente a permanência na divisão principal ?

E um post-scriptum: creio que os «arquivos interiores» de JOSÉ MIGUEL BAPTISTA contém muita informação sobre a Académica daqueles tempos áureos que evoquei. Quando é que ele aparece no blog, para falar sobre isto ou sobre o seu percurso musical?

Um grande abraço

Armando Luís de Carvalho Homem
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As novas Listas Telefónicas da zona centro, ostentam na capa uma foto do grupo PRAXIS NOVA, foto esta também incluída no CD do mesmo grupo, "Percursos", que brevemente aqui será apresentado. À guitarra está José Rabaça e à viola Luís Carlos e Carlos Costa. A cantar, Rui Moreira e Luís Alcoforado.
Vou dar um esclarecimento para quem ainda não se tenha apercebido:
As fotos e partituras podem ver-se em formato maior, carregando nelas com o rato. A foto fica maior. Aparece uma figura no canto inferior direito. Se aí carregarmos com o rato, a foto ou a partitura ficam ainda maiores .


A nossa Académica já não desce de divisão. Ontem obteve uma brilhante vitória perante o Boavista e tudo ficou praticamente esclarecido. Para o ano temos novamente a "Briosa" entre os "Grandes". Parabéns aos jogadores, técnico e equipas de apoio.
A equipa que jogou foi a seguinte: Pedro Roma, Vasco Faísca, José António, José Castro, Nuno Luís, Hugo Leal, Paulo Adriano, Roberto Brum, Luciano (autor do golo), Dário e Marcel; jogaram ainda Kenedy, Dionattan e Danilo. Na foto (já tirada há algum tempo), estão alguns jogadores não utilizados ontem.

sexta-feira, abril 29, 2005


Tasquinha do João. Confraternização mensal, com almoço à mistura, onde se vão discutindo assuntos essencialmente relacionados com a música de Coimbra. Estiveram presentes; António Ralha, Frias Gonçalves, José Paulo e Octávio Sérgio. Mais tarde juntou-se-nos Horácio Fachada. Posted by Hello


Tasquinha do João. Almoço mensal. Horácio Fachada, Frias Gonçalves e José Paulo. Posted by Hello


II Noite de Fados@DEI
Ex.mo(s) Senhor(s)
Vai realizar-se no próximo dia 3 de Maio pelas 21h30m, no Pólo 2 da Universidade de Coimbra, a II Noite de Fados@DEI.
Este evento decorrerá nas escadarias entre o Departamento de Engenharia Informática e o Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores e conta com a presença de grupos de elevado prestigio, entre eles o Grupo de Fados dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra, o Guitarrista Paulo Soares e a Escola da Guitarra da Viola e do Fado de Coimbra, o Grupo de Fados Alma Mater e o Grupo de Fados dos Engenheiros.
Convidamos todos a estarem presentes e informamos que a sua participação é gratuita.
Com os melhores cumprimentos,
A organização da II Noite de Fados@DEI
NOTA: Caso se verifiquem condições climatéricas adversas, o espectáculo realizar-se-á na "Casa de Pedra" também situada no complexo do Pólo 2 da Universidade de Coimbra
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Deve ser a primeira vez na história do Fado que se vai realizar uma SERENATA DE FORMATURA!
O organizador, Armando Oliveira, será avaliado no final da organização do evento, faltando apenas a nota desta cadeira para se licenciar em Engenharia Informática. Poderemos ter uma serenata seguida de rasganço; tenho a certeza que tudo irá correr lindamente.
Para mim, pessoalmente, é um triplo prazer participar neste evento: primeiro, porque o Armando foi aluno da ESCOLA DA GUITARRA que também actua;
segundo porque o grupo de fados dos Antigos Orfeonistas vai participar, tendo à guitarra Octávio Sérgio; terceiro, antes de dar definitivamente em guitarrista cheguei a ser aluno do Departamento de Eng. Electrotécnica que mais tarde se dividiu em dois - o de Electro e o de Informática - o que me faz sentir naturalmente próximo da casa.
É notável a quantidade de grupos diferentes que se têm apresentado em Coimbra ultimamente, dando-nos uma imagem assaz completa do panorama fadístico e guitarrístico actual. Creio nunca ter existido tanta gente a tocar como agora. E o nível médio é bom, perspectivando a boa continuação do desenvolvimento a que temos assistido nos últimos anosPaulo Soares (Jójó)


Capa do CD "Biografia do Fado de Coimbra", edição EMI - Valentim de Carvalho, Música Lda, saído no ano 2000. Encontra-se aqui representada a maioria das figuras mais importantes da música de Coimbra. Outras, tão importantes, não estão presentes. Nota-se a ausência de Jorge Tuna, Eduardo Melo, etc. No Post a seguir está um bonito e enriquecedor texto do meu amigo José Dias. Mas notei que se esqueceu de nomear uma grande figura da guitarra de Coimbra, como executante e como criador. Refiro-me a Armando de Carvalho Homem. Posted by Hello

CD - Biografia do Fado de Coimbra
(Texto incluído no caderno que acompanha o CD)

Breve sumário de um certo encantamento

À semelhança do que se diz do Direito Romano, também o Fado de Coimbra começou por não ser. Certo que desde sempre, particularmente desde meados do século XIX, os estudantes que deambulavam pelo velho burgo coimbrão, libertos da sonolenta leitura das apostilas ou das filiais sebentas, iam arrancando à viola toeira, no alinhamento paralelo dos arames, pungentes trinados que sublinhavam canções em voga. Os gorgeios e os trinados não deixariam de ter destinatárias, mas não era ainda a deambulação nocturna para afirmação de amores sob janelas suspensas de mistérios. Não chegara ainda o tempo dessa forma de folclore urbano que a gosto ou a contragosto de estudiosos se consagrou como Fado de Coimbra, para exaltantes promessas de amor em noitres enluaradas.
Quer a matriz viesse nas arcas encoiradas dos estudantes brasileiros, quer conformasse nostálgicas recordações dos lisboetas que rumavam a cidade mondeguina, quer assumisse tintagens de medievalesco trovar por vínculo transcultural, se não conflituarmos a estrutura tonal do fado com a modal do cancioneiro medievo, morre nas discussões académicas o rigor das origens e apenas se pode certificar que espraiava o ultra-romantismo os seus ais no destilar sofrido dos corações, corria a década oitocentista de setenta, quando a guitarra soltou os primeiros gemidos nas margens do Mondego e com ela talvez o balbuciar das ancestrais manifestações geradoras do fado coimbrão.
Com o aparecimento da guitarra alongava-se em esforço de definição uma estrutura melódica que não clivava ainda com a tradicional melopeia do batido fado lisboeta.Um ou outro escolar ensaiaria uma estrutura mais erudita, do lied ou da sonata, mas seria em híbridas e ao mesmo tempo lineares formas de comunicação de um certo tipo de sentimentalidade amorosa que os rapazes da academia derimiam em noites de boémia as tristezas que sempre escorrem das horas mortas.
A música coimbrã inicia desde então o ciclo metamorfósico. Com fumos de elitismo, recusam alguns a designação Fado de Coimbra, preferindo-lhe Canção de Coimbra, ou mesmo, pela sua textura mensageira, Serenata Coimbrã, como enuncia o musicólogo Francisco Faria. Luiz Goes sustenta que o que marca a diferença, o que a singulariza no confronto com outras formas, é a interpretação, essa sim, vinculada à vivência coimbrã.
Talvez tenha sido essa vivência que marcou a passagem de Augusto Hilário, a quem Pascoaes chamou o Pontífice Máximo da Boémia. O jovem viseense, aspirante a João Semana, preferiu a guitarra e a serenata à artes de facultativo, arrancando ais prolongados que traziam “à janela as meninas de Coimbra e fazia delirar as tricanas gentis”, como recorda o sábio Egas Moniz em A nossa casa, ao desfiar os verdes anos.
Viver Coimbra era madrugar numa temporalidade de paixões impossíveis, evidenciar no canto os males de amor e a sacralização da amada. Melodia simples, quadras de sete sílabas, pendor melancólico, decadente, com a morte a sobrevoar a dominância temática. Assim versejava Hilário e assim vertia para o canto, com a acanhada guitarra sobre os joelhos, esguio e olheirento, a insinuar paixões nos ais intermináveis, percutidos nos suspiros das donzelas.
Memorável a sua passagem pelo Teatro D. Maria II, nos idos de Março de 1895, em sarau de homenagem a João de Deus. Nessa noite, pôs ao rubro a plateia com “os seus famosos fados de estilo original e a sua linda voz”, como regista nas memórias o actor Chaby Pinheiro.
Hilário é a primeira referência individual do fado-serenata. Pelas ruas do velho burgo coimbrão, em noite de festa, os estudantes agrupavam instrumentos e cantares, mas não encontramos notícia de um trovador singular. Em 1880, quando das comemorações camonianas, a academia celebrou com uma serenata, de que se fez eco O Conimbricense. Mas serenata com uma estudantina, com descantes à mistura.
Moço ainda, aos 32 anos, a 3 de Abril de 1896, Hilário morre em Viseu, pagando nas fragilidades do corpo as prodigalidades da alma, lançando nas asas do tempop as sementes do mito. Virado o século, o mito corporiza-se nas entoações do Fado Hilário, maioridade interpretativa de todo o cantor coimbrão que se preze.
As estudantinas multiplicam-se. Destaca-se a voz de Avelino Baptista, mas logo outros nomes, novas vozes, algumas a poderem chegar a nós em registos fonográficos. Manassés de Lacerda distingue-se então entre quantos na Lusa Atenas fazem da noite refúgio para entoações românticas. Com ele se vai cruzar Alexandre de Resende, brasileiro que nunca frequentou a Universidade mas se vinculou como autor e intérprete, sendo dele o célebre Fado do Meu Menino, que às vezes circula com outras paternidades, menino d’oiro a ser levado ao céu, enquanto pequenino, para com os anjos aprender a arte de cantar.
Tomam corpo as composições com duas quadras de sete sílabas, geralmente não relacionadas no assunto, precedidas duma breve introdução da guitarra, com os tons dominantes da melodia, e a funcionar depois como separador das quadras, modelo que persiste praticamente até aos nossos dias.
Abeira-se o tempo de António Menano, voz romântica que ecoou em todo o país nas velhas grafonolas, cantando o Passarinho da Ribeira, o Solitário, a Carta da Aldeia, a Carta de Longe, o Fado do Alentejo, entre dezenas de composições, acompanhado por seus irmãos Francisco, Alberto e Paulo, em guitarra e viola, mas se notabilizou igualmente em famosas canções acompanhado ao piano. Os discos do Menano, dono de “uma voz excepcional, de uma suavidade e um encanto únicos, clara, límpida, de um excepcional valor mesmo nos pianíssimos ...”, são apreciados em todo o mundo, ganham especial relevo no Brasil e nas antigas colónias portuguesas de África. António Menano fez escola, era o próprio Fado de Coimbra, suave e romântico, nos temas e na dolência do canto. Pela mesma época, outros nomes deixaram rasto nas ruas da velha Alta, pela maviosidade do seu canto: Roseiro Boavida, Agostinho Fontes, Alexandre de Resende ...
Porém, é com Edmundo de Bettencourt que a canção coimbrã ganha outra expressão, outra espessura. Na música e nas palavras. O poeta fundador da Presença, o notável precursor de Poemas-Surdos, somava à criação poética uma voz poderosa e uma brutal, em sentido telúrico, capacidade interpretativa, que vão encontrar na guitarra de Artur Paredes os pilares de radical mudança.
Temos por adquirido que o que definitivamente distingue o Fado de Coimbra de outras formas musicais urbanas é a nova maneira de afinar a guitarra e de a tocar que Paredes introduziu. Com ele morre o trinado à guisa de bandolim, corda a corda, substituído pela organização de acordes comprometendo uma nova utilização da mão esquerda. Mais que sublinhar a melodia cantada, a guitarra ganha identidade e cresce no tempo a definir melodias outras, personalizada e vigorosa.
Bettencourt vai colher nas raízes populares cantares que transforma em “gritos de cristal e oiro”, como fixou Régio. Paredes cedo descobre que era preciso mudar a anatomia da guitarra para encorpar o som. Alarga a escala, eleva o nível dos pontos, aumenta a altura das ilhargas, “no objectivo de uma maior pureza de notas, isoladas ou em associação,e de uma necessária ampliação do campo de ressonância” (Afonso de Sousa), para uma estruturada organização harmónica.
Ai choro com que o Paredes / As mãos dobradas em garra / Esfrangalhava a guitarra / Punha os bordões a estalar (Régio).
Os discos que Bettencourt gravou passaram a ser peças de referência para várias gerações, como viagem obrigatória de quem ruma a Coimbra passaram a ser as variações de Artur Paredes. Zeca Afonso, filho de um condiscípulo de Bettencourt, considera-o “o maior cantor de fados de todos os tempos”, Afonso de Sousa, que privou como guitarrista e poeta com essa geração, exalta a sua importância como renovador que esquceu “cânones tradicionais, consagrou um novo estilo, arejando um ambiente artístico já muito recapitulado e, por assim dizer, monocórdico”.
Aos anos vinte é comum chamar de Década de Oiro. Edmundo de Bettencourt, Lucas Junot, Paradela de Oliveira, Armando Goes e Artur Paredes legaram-nos um património de rara qualidade, marcaram uma época mas, acima de tudo, pelas diferenças de timbre vocálico e pela sensibilidade interpretativa, pela tessitura harmónica como pelo vazar em novos moldes poéticos, da redondilha ao soneto, vestiram a música coimbrã de novas roupagens que a tornaram reconhecível e apetecida, a que um novo ciclo epigonal segue o rasto com Serrano Baptista, Lacerda e Megre, Felisberto Passos e Xabregas no canto e na guitarra.
Para os anos cinquenta estava reservado o segundo momento alto, se bem que não devamos esquecer nomes como Julião, Napoleão Amorim, Almeida Santos, José Amaral, Anarolino Fernandes, Augusto Camacho, Florêncio de Carvalho, Tavares de Melo, Ângelo de Araújo e Carlos Figueiredo, na década anterior. A poética procura com nova sintaxe a temática dos olhos e olhar, do oiro dos cabelos, ondas do mar e ciúmes divinos ante a beleza da amada, a sempre presente sacralização da Mãe, quadras sustentadas pela leveza da estrutura melódica.
Dessa geração, é imperativo destacar essoutro grande inventor de sonoridades, João Bagão, quando já em Lisboa constroi algumas espantosas composições sobre poemas de Leonel Neves, de Edmundo de Bettencourt e de Luiz Goes, destinadas ao império vocal deste último.
A década de meados do século XX trouxe à música coimbrã uma outra luz. Pela poética como pela estruturação musical, ensaiam-se novas formas, retomam-se temas populares, redefine-se a balada. Com Luiz Goes, para nós o maior de quantos passaram por Coimbra, não só pela sua fabulosa voz de barítono como pelo virtuosismo interpretativo, a música de inspiração coimbrã atinge uma outra força, universaliza-se. As suas gravações do Coimbra Quintet soam a revolução. Com ele, Machado Soares, José Afonso, Fernando Rolim, Sutil Roque e alguns mais, imprime-se um novo impulso no gosto e na difusão da música de Coimbra.
Pela mesma época, igualmente comprometidos na procura de novos caminhos, emergem músicos de qualidade como António Brojo, António Portugal, Jorge Godinho, Manuel Pepe, Levi Baptista e logo outro notável compositor e intérprete, Jorge Tuna, guitarrista de exemplar rigor, sensibilidade e vigor criativo, que encontrou na viola de Durval Moreirinhas a necessária complementaridade.
Partindo de sonoridades coimbrãs, marcada pelo sopro do génio, a guitarra de Carlos Paredes, último de uma dinastia de grande criatividade, na composição e na execução, iniciada com seu avô Gonçalo Paredes, continuada na revolução operada por seu pai, Artur Paredes, exponencializada enfim nas mãos insuperáveis de Carlos, que conferiu à guitarra o reconhecimento de uma outra dignidade.
Da década de sessenta, naturalmente as vozes de Alfredo Correia, Luís Marinho, Adriano Correia de Oliveira e António Bernardino, as guitarras de Andias e dos Melos, o sempre presente Durval na viola e as palavras de Manuel Alegre. Sob o magistério de José Afonso e do primado da viola de Rui Pato, ressalta então um canto social e politicamente interventor (de alguma maneira antecipado por Luiz Goes), comprometimento cívico que busca novos e auspiciosos caminhos, em trovas e baladas. A música perde as colorações coimbrãs, porque visa outros espaços de sociabilidade, é de outra esfera,embora não perca uma vinculação ao gosto interpretativo coimbrão.
Elencar, para todas as épocas, nomes, composições, estilos, não cabia na modéstia desta nota, breve sumário da história desse tocante veículo de comunicação de sentimentos e emoções, carregado de símbolos e mitos, sempre revisitado e a exalar frescura, contra o tempo e os silêncios, que é a música da cidade do Mondego. Não lhe caem os parentes na lama se chamarmos fado a muitas das suas formas cantadas, que assim têm caminhado e são reconhecidas...
De Coimbra fica sempre a inspiração e a mistificação de nomes e lugares. Ao deslumbramento da chegada, segue-se a exaltante vivência, que é convivência, e mais encanto na hora da despedida, maneira de falar da sua permanência, recordação teimosa em quem lá viveu os verdes anos.
Neste disco poderá certamente encontrar-se dos mais significativos momentos desse universo musical, na variedade das suas múltiplas formas de expressão. Ao ouvi-lo, a possibilidade de participar desse mais encanto, vivido ou imaginado, presente numa antologia que guarda um século de amor e de saudade, a par com o sabor das coisas populares e de renovados sentires.
Para quem sabe descobrir nas harmonias e na substância poética que se eleva das palavras o fundo mistério de Coimbra, um não sei quê que faz com que chegue a ter saudades dela, quem nela nunca viveu...

José Henrique Dias


quinta-feira, abril 28, 2005


Regresso do Grupo "Canção de Coimbra" da República Checa. Pedro Nunes e Fernando Dias Marques à guitarra e Manuel João Vaz à viola. Foto de um concerto só de guitarradas, num salão da Câmara Municipal de Brno. Aí vai a legenda em checo: - Koncert portugalského kytarového souboru Canção de Coimbra venovaný pocte slavné hudebnické rodiny Paredes. Posted by Hello


Regresso do Grupo "Canção de Coimbra" da República Checa. Pedro Nunes e Fernando Dias Marques à guitarra e Manuel João Vaz à viola. A cantar, Jorge Vaz Machado. Foto de um concerto de "Fado de Coimbra", num salão da Câmara Municipal de Brno. Aí vai a legenda em checo: - Koncert portugalského kytarového souboru Canção de Coimbra. Tradicní portugalská hudba fado a protestsongy z období diktatury.
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Partitura de "Variações do Lundum do Malhão" (1) Posted by Hello

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Partitura de "Variações do Lundum do Malhão" (2) Posted by Hello

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Partitura de "Variações do Lundum do Malhão" (3), música do Dr. Francisco Manuel Gomes da Silveira Malhão, dito Malhão Velho, da década de 1780. Parte melódica do Lundum do Malhão em compasso binário e tom de Fá Maior, comprovadamente tonal e setecentista, originalmente tocada em guitarra inglesa (ou na sua variante mais popular de guitarra-cítara), de textura algo singela, mas sobejamente agradável à outiva. Nem o título nem a música aludem à dança popular portuguesa "Ó Malhão, Malhão/Que vida é a tua/Comer e beber...", embora se possa admitir que esta moda folclórica faça referências à vida do célebre serenateiro e boémio Malhão Velho. O autor naseu em Óbidos (1757), tendo falecido advogado na sua terra natal (1816). Estudou Leis em Coimbra entre 1783-1789, tendo-se evidenciado como actor amador, cantor, poeta e executante de viola de arame e guitarra. Ficaram célebres as suas serenatas na Alta de Coimbra , mas também em Óbidos e nas portarias dos Mosteiros de Lorvão, Sendelgas e outros. A recolha foi efectuada em 2000, tendo Octávio Sérgio feito a transcrição do manuscrito, cuja caligrafia é muito semelhante à do já aqui divulgado Lundum de São salvador da Bahia (Arquivo de António M. Nunes)
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13-4-2000

António Camões Sobral - "Fado e Lundum"
(Texto extraído da Internet)

São desconhecidas as verdadeiras origens do Fado. A própria designação "Fado de Coimbra" não tem sido nada pacífica. Entre as múltiplas e diferentes opiniões as origens do Fado, muito há a dizer, pois cada autor / historiador faz uma perspectiva não só baseada na recolha de dados, mas também na sua própria opinião, originando uma grande variedade de suposições. A Enciclopédia Luso Brasileira fala-nos do Fado como pertencente à canção popular portuguesa, tardiamente nascido e gerado fora de Portugal, definindo três períodos de aparecimento e evolução musical deste género de música:
- No primeiro período, dá-se o aparecimento do Fado de Lisboa (a partir de 1822). Na transição do Lundum para o Fado, a dança continua a ter maior importância.
- No segundo período (a partir de 1840), o canto supera a dança, sendo associado à valorização da guitarra, em substituição da viola.
- No terceiro período (a partir de 1888), o Fado já é totalmente divulgado, passando a ser aceite pelas classes sociais. A sua divulgação chega a Coimbra através dos estudantes da Universidade. Segundo Pinto de Carvalho no seu livro "A História do Fado", até 1840, apenas existia um tipo de canção entoada pelos marinheiros, a qual era cantada à proa das embarcações. A partir de 1840, começou a aparecer nas ruas de Lisboa.
§ Primeira "origem": "o Lundum trazido para Portugal pelos marinheiros" Alberto Sousa Lamy em "Academia de Coimbra", já pressupõe duas origens para o Fado de Coimbra: Uma delas seria baseada nas melodias importadas pelos estudantes brasileiros que vieram, a partir de 1860, estudar para a Universidade de Coimbra, pelo que, o Fado de Coimbra teria aparecido pela primeira vez nesta cidade, na récita de despedida do ano lectivo de 1900-1901.
§ Segunda "origem": "as melodias trazidas pelos estudantes brasileiros". A outra derivaria da vinda de estudantes portugueses, provenientes de Lisboa, os quais depois de terem convivido com os estudantes brasileiros trouxeram as canções e melodias para Coimbra. Já com os estudantes desta cidade, teve a possibilidade de se individualizar e diferenciar em Coimbra.
§ Terceira "origem": "a canção teria sido trazida por estudantes provenientes de Lisboa, para Coimbra". Existe também uma remota possibilidade de a origem do Fado de Coimbra ter evoluído a partir da "Modinha", género sentimental que teve um grande cultor no Padre José Maurício (1752 / 1815), professor da cadeira de Música da Universidade de Coimbra que, trocando o piano pela guitarra, e os salões pelas ruas em noite de luar, simplificou o género musical virilizando-o na voz masculina.
§ Quarta "origem": "a Modinha e o papel do padre José Maurício". Armando Simões, na sua obra "A Guitarra - Bosquejo Histórico", envereda por outras e diferentes origens, quando afirma que "... na invasão árabe, no século VIII, vê-se uma nova hipótese da génese do Fado na natural dolência dos cantos mouros, na suavidade dos seus romances e na cadência das suas lengas-lengas ..."
§ Quinta "origem": "a influência das melodias Árabes ou Mouras no Fado" Ainda nesta obra encontra-se uma outra influência, a Africana. Junto com os escravos africanos, nomeadamente angolanos, que foram levados para o Brasil, foram também algumas manifestações culturais próprias, e entre elas, o "Batuque" e o "Calundum", integrando-se com muita facilidade no conjunto das danças locais brasileiras. Foi no Brasil que se transformou em "Lundum" e "Fado", sendo já com estes novos vocábulos que surgiu em Portugal, no qual viria a ser conhecido simplesmente por "Fado", vindo a desenvolver-se no nosso país, a partir de meados do século XIX.
§ Sexta "origem": "a influência africana dos escravos enviados para o Brasil". Também um outro autor - Manuel de Sousa Pinto - concorda com esta "sexta origem, confirmando e documentando, na sua obra "O Lundum, avô do Fado", que não só a melodia do Lundum mas a própria designação de Fado, na sua aplicação coreográfica, é de origem brasileira. Este autor ainda acrescenta que um musicólogo brasileiro, Mário de Andrade, provou com factos e datas, a origem brasileira do Fado, na sua obra "Pequena História da Música" (S. Paulo, 1942). Assim, o Lundum chegou a Portugal através de marinheiros, que o teriam introduzido, pouco a pouco, nos bairros típicos da cidade de Lisboa. ( A suportar esta hipótese está o facto de que as primeiras músicas dentro do género estavam de ligadas não só ao mar como às terras para lá daquele, onde habitavam os escravos. Veja-se o exemplo de uma das músicas cantadas pela Amália, chamada "O Barco Negro", da autoria de Caco Velho citado há dias na lista eque fala precisamente de uma sanzala.) O Território português limitar-se-ía assim, a receber o Fado, especialmente nas cidades de Lisboa e Coimbra, chegando em geral por via estudantil (de brasileiros). Em Lisboa, a canção foi-se desenvolvendo pelas vielas e lupanares, e daí conseguiu alcançar fama, ascendendo às casas de família ou salões aristocratas, sendo cada vez mais aceite pelas senhoras e damas, que passaram a dançá-lo e dedilhá-lo, em substituição da "Modinha". Em Coimbra, nas serenatas ou nas reuniões académicas, o Fado adaptou-se nas banzas (violas) estudantis num estilo local e mais romântico, enriquecendo-se em novas variações, sendo a partir daqui espalhado como canto, toques e danças populares. Com o decorrer do tempo, as modificações foram-se dando, levando o Fado, em Coimbra, a ser exclusivamente cantado e tocado pelos estudantes, que lhe deram características próprias de lirismo e romantismo. Alguns investigadores ainda afirmam que as origens do fado estarão ligadas à Idade Média, nas cantigas de amor e na trova provençal.
§ Sétima "origem": "as Cantigas de Amor e a Trova Provençal da Idade Média". Na obra "Fado - História de Portugal", Mascarenhas Barreto concorda com esta última origem, ao afirmar-se que "... De origem provençal, o Fado sofreu a influência melodico-poética árabe e, ao longo dos séculos, ganhou características mais definidas, tornando-se numa maneira de cantar que exprime, genericamente, um estado psíquico de nostalgia. (...) O casamento dos príncipes trazia para Portugal a sua corte de cavaleiros e trovadores. Assim se formou, entre os portugueses, a escola de poesia Provençal que veio fortalecer os primeiros passos de uma Literatura Nacional. (...) A "Chansó" era o mais nobre género de canção, própria de cavaleiros fidalgos; O "Sirvente" era cantado por soldados; Os "Contenses" eram controvérsias travadas entre dois trovadores; O "Plang" era uma canção lamentosa: "Cantiga de Amigo" cantada de mulher para homem, e "Cantiga de Amor", cantada de homem para mulher; e ainda outra forma de poesia, de expressão satírica: "Cantiga de Escárnio ou Mal Dizer". (...) Oito séculos passados, o Fado actual conserva ainda antigas características. O Fado dos Estudantes de Coimbra, como expressão do sentimento masculino, manteve o mesmo espírito das Cantigas de Amor. No Fado de Lisboa, parece predominar a forma das Cantigas de Amigo, expressão feminina, em que a mulher manifesta o seu sentir." Diferenças entre fados Em Lisboa e no Porto encontramos o fado cantado essencialmente na parte mais antiga da cidade, em tabernas ou casas de fado, pequenas, antigas, de paredes frias, decoradas com os símbolos daquela forma de canção nessas duas cidades: o xaile negro e a guitarra portuguesa. O homem que canta o fado fá-lo normalmente de fato escuro. Canta os seus amores, a sua cidade, as misérias da vida, critica a sociedade, os políticos. Fala muitas vezes da toirada, dos cavalos, de tempos passados e pessoas já idas, e fala, quase sempre, de saudade. Mas de onde vem a palavra Fado? Do latim fatum, que significa destino, o destino inexorável e que nada pode mudar. É por isso que o fado é normalmente tão melancólico, tão triste: porque canta a parte do destino que foi contra os desejos do seu dono. A mulher canta sempre de negro, normalmente de xaile aos ombros, com uma voz lamentosa. Canta, tal como o homem, o amor e a morte: a morte que vem da perda do amor, o amor perdido para a morte... Este modo de cantar espelha, de certo modo, o espírito do povo português: a crença no destino como algo que nos subjuga e ao qual não podemos escapar, o domínio da alma e do coração sobre a razão, que levam a actos de paixão e desespero, e que se traduzem naquele lamento tão negro mas tão belo. E em Coimbra? Em Coimbra temos o mesmo estilo triste, mas com uma motivação totalmente diferente. Tal como já se disse, o ex-libris de Coimbra são os estudantes. Aos poucos, jovens que iam de Lisboa e do Porto para ali, foram levando as suas guitarras e aquele estilo novo de tocar, que caiu nas boas graças da população estudantil. O que poderia ser melhor para impressionar as suas amadas, do que cantaram a sua angústia por não as terem, depositando-lhes nas mãos um coração cheio de penas que só elas poderiam aliviar? E que outra música poderia explicar melhor o desgosto de abandonar os melhores anos da mocidade, a vida boémia de um estudante, do que o Fado? Foi assim que ele surgiu como a música oficial das despedidas de cada ano, e dos estudantes em geral. Em Portugal é costume os estudantes universitários trajarem com um fato e uma capa grossa, negros, e é assim que se canta o fado em Coimbra. Pode parecer um pouco soturno, uma multidão de negro ouvindo uma serenata de Fado de Coimbra, mas na verdade é muito belo. No silêncio da noite - pois as serenatas são sempre à noite - ecoam as guitarras e as vozes profundas, num lamento que se estende por sobre a multidão de capas negras, ou que se esgueira pelas esquinas das ruas estreitas e se entranha nas pedras centenárias.

quarta-feira, abril 27, 2005


Paulo Soares (guitarra) e Carlos Costa (viola). Foto extraída do caderno do CD "Victor Almeida e Silva - Trova Lírica" Posted by Hello


Capa do CD "Victor Almeida e Silva - Trova Lírica", edição Movieplay Portuguesa, SA., saído em 1994. Este é um disco referência na evolução do "Fado de Coimbra". Os temas originais, do género Balada, compostos por Victor Silva, são de grande qualidade, muito bem interpretados e primorosamente acompanhados por dois grandes senhores: Paulo Soares, à guitarra e Carlos Costa, à viola. A voz de Víctor Silva faz lembrar José Afonso, embora tenha o seu cunho pessoal, pois distinguem-se perfeitamente. Não há cópia, apenas influência benéfica. Encontram-se poemas belos do insigne poeta Aurelino Costa, ainda pouco divulgado! O instrumental "Tarde de Serenata", de Paulo Soares, é um tema originalíssimo, com uma estrutura bem cuidada, antevendo a guitarra do futuro. Carlos Costa, além dos acompanhamentos muito bem conseguidos, ainda é autor de um saboroso "Fado". Pena é que este trio se tenha desfeito, pois poderia vir a enriqucer bastante o espólio coimbrão.
Vou transcrever três textos incluídos no caderno que vem junto com o CD:
"Este trabalho surge como corolário de uma ambiência muito própria que se inicia nas margens do Mondego. Foi na canção de Coimbra, vista no seu sentido mais lato, englobando fados, baladas e guitarradas, que Victor Almeida e Silva, Paulo Soares e Carlos Costa se iniciaram no estilo próprio que os identifica. Fruto de perfeita simbiose, resultante da grande amizade que os une, surgem arranjos onde voz e instrumentos dialogam constantemente. Sem ferir a raíz coimbrã, dela se afastam, levados por uma sensibilidade comum que partilham".
Segundo texto:
"Póvoa, 12 de Janeiro de 1989
Aqui te mando alguns «versos» que a musa ditou. São temas e imagens de um quotidiano. Penso que revelam aquilo a que alguém como tu e eu não podem fugir em momentos de criação: a inocência, o amor, o brilho das pedras, das águas, «a paixão» terna e doce de alguém que se ama ... Penso, também, que só a TUA VOZ, na candura de trovador, poderá dar alma àquilo que um feitor de «versos» apresenta! Isto porque a TUA VOZ, foi das coisas mais lindas e mais puras que me foram dadas a conhecer em toda a minha vida. Se Coimbra valeu alguma coisa foi conhecer-te, ouvir-te e saber que uma nova alma «nasce no coração da gente». BEM HAJAS! (Aurelino Costa)"
Terceiro texto
"Lisboa, 13 de Abril de 1994
Sempre considerei que a música de matriz Coimbrã tem como uma das suas mais importantes características a de poder abarcar, sem trair, os mais variados temas - quer musicais, quer poéticos - possibilitando assim que o Espírito criativo dos seus compositores e intérpretes se possa manifestar sem subterfúgios ou disfarces. Assim foi sempre e, ao contrário do que alguns julgam, as ortodoxias vigentes foram sendo ignoradas pelas sucessivas gerações de cultores, fieis aos ditames da sua sensibilidade e ao espírito do seu tempo. A unidade na diversidade consegue-se no respeito profundo pelas raízes e na aceitação tácita de que o Burgo inconfundível a todos marca duma maneira indelével e pedagógica com a sua magia e os seus valores imanentes e intemporais. Como exemplo do que atrás digo, surgem de vez em quando artistas como Victor Silva, cantor exemplar de temas antigos mas que não se deixou vencer pelo imobilismo criando ele próprio as suas canções - algumas de grande qualidade e sem complexos - recriando com mestria algumas baladas do seu ídolo de sempre o inesquecível José Afonso. Eis aqui, nesta gravação, um exemplo de como a música de Coimbra pode e deve ser entendida por todos os seus cultores, sem preconceitos e a antecipar-lhe o futuro. Grande êxito bem o merece Victor Silva! (Luiz Goes)" Posted by Hello


Cartaz da "Homenagem a Augusto Camacho" Posted by Hello

terça-feira, abril 26, 2005

Realizou-se no domingo uma “Homenagem a Carlos Paredes”. Com muita pena minha, não me foi possível assistir. Transcrevo, mais abaixo, parte de uma notícia do “Diário de Coimbra”, saída hoje.
Este Blog está aberto a quem quiser mandar fotos do evento ou quaisquer críticas sobre o mesmo.
Não será necessário relembrar que estou sempre pronto a incluir neste espaço aquilo que a cada um lhe parecer susceptível de interesse, para um mais profundo conhecimento da guitarra de Coimbra. O meu endereço é:
octavioazevedo@sapo.pt



“Queima das Fitas – Inside Stories

Contagem decrescente


... Terminamos dizendo que a Homenagem a Carlos Paredes que teve lugar no Convento de S. Francisco, no dia 24 foi, no mínimo, marcante... Com os testemunhos de Luísa Amaro, a companheira de Palco e da Vida do Mestre, do Dr. Jorge Gomes, grande responsável pelos ensinamentos de Guitarra nas últimas três décadas, as actuações indiscritíveis dos alunos da Secção de Fado da AAC, Sons do Tempo, Reacções Verbais, Miguel Carvalhinho, Marco Figueiredo, e as declamações do Dr. Aurelino Costa entre outras participações, a noite foi esplêndida e de casa cheia ... memorável! ...

Comissão Organizadora da Queima das Fitas 2005

segunda-feira, abril 25, 2005


Capa do conjunto de seis LPs "Tempo(s) de Coimbra", Edição EMI - Valentim de Carvalho, Música Lda, saído na década de oitenta. Foi reeditado, actualmente, em CD.  Posted by Hello


António Brojo. Foto do "Tempo(s) de Coimbra". Posted by Hello


António Portugal. Foto do "Tempo(s) de Coimbra" Posted by Hello


Rui Pato. Foto do "Tempo(s) de Coimbra". Posted by Hello


Aurélio Reis. Foto do "Tempo(s) de Coimbra". Posted by Hello


Luís Filipe. Foto do "Tempo(s) de Coimbra". Posted by Hello


Luiz Goes. Foto do "Tempo(s) de Coimbra". Posted by Hello


Machado Soares com Luís Filipe à viola e António Portugal à guitarra. Foto do "Tempo(s) de Coimbra". Posted by Hello


Fernando Rolim. Foto do "Tempo(s) de Coimbra". Posted by Hello

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