sábado, maio 28, 2005


Gala do Fado de Coimbra no TAGV. Notícia do "Diário de Coimbra" Posted by Hello


Quarteto de Guitarras AEMINIUM na Galeria Almedina. Notícia do "Diário de Coimbra"Posted by Hello


Grupo de Fados "Presença Coimbrã", em Hong Kong, 2004. Posted by Hello

sexta-feira, maio 27, 2005


Livro de poesia "Habitante sensível" de Eduardo Aroso, da Universitária Editora, saído em 1997.
Vou transcrever o que nele está escrito sobre o autor:
"O autor é componente do Grupo de Estudos Figueira da Foz (Gresfoz), integrado no qual participou, por convite da Associacion Prometeo de Poesia Nueva de Madrid, em: Homenagem a Camões e Miguel Torga (Coimbra, 1980); Centenário de Afonso Duarte, Afonso X, O Sábio, e León Camino (Cáceres, 1984); Centenário de Rosalia de Castro e cinquentenário da morte de Fernando Pessoa (Santiago de Compostela, 1985) e I Bienal Internacional de Poesia de Madrid - 25 nações -, sendo um dos subscritores da Academia Ibero-Americana de Letras (Madrid, 1987).
Está incluído na Antologia Ibero-Americana de Homenagem a Rosalia de Castro (Coleccion Poesia Nueva, 1986) e na Antologia da Bienal de Madrid (Coleccion Prometeo, 1987).
Colabora, entre outras publicações, nas revistas literárias «Álamo» de Salamanca e «El Pregonero» de Madrid."
Segue-se outro texto de Carlos Carranca, inserto no mesmo livro:
"Habitante de um lugar bucólico, de versos que não são «cicatrizes de um percurso», mas líricas flores à beira do caminho, eis o poeta da cidade repartida entre o mar e a serra, «cais de aventura», a dos ritmos sem perigo, onde o tempo se espraia, preguiçoso, sem temor das horas.
É de um tempo ideal que o autor nos fala; de um tempo de catedrais, marcado pelo ... «silêncio/Que adivinha o canto».
A Coimbra de Eduardo Aroso, enfeitiçada por uma raínha milagreira, guardou-a de outros poetas, eternizada no Choupal, Quinta das Lágrimas, em Santa Clara, na Torre de Anto.
Poemas que, um a um, nos guiam aos lugares da memória e nos deixam suspensos pelo momento onde os acordes de uma guitarra surgem como por magia." Posted by Hello

NOTAS URGENTES PARA «HABITANTE SENSÍVEL»

Gran homenaje a Coimbra la ciudad del autor. Pero es un canto nuevo, auténtico, sincero, pero sin caer en sensiblerias, ni sentimentalismos, contenido, que es como puede hacerse verdad y realidad el binómio sentimiento - pensamiento para ser arte, poesia verdadera. Perfecta estructuración del libro, desde el primer poema de confesión de amor, hasta el último poema “ Canção politonal sobre a cidade “, más extenso resumiendo el tono general de homenaje.Rendido canto de un hijo enamorado, pero consciente de tener que huir del tópico de Coimbra.
Y como formalmente el libro elige para el caminar poético la forma del verso corto, heptasilábico, o a lo más octosilabo, como volante de la aventura. Oportunos son los temas en torno a la ciudad: “Miradouro”, “ Portugal dos Pequenitos “, amaneceres de la ciudad y madrigales adornan el libro. Monumentos y tarjetas obligadas de las postales y rincones de Coimbra surgen en los versos, como largos pensamientos y confesiones hondas. Y naturalmente el músico que hay en Eduardo Aroso surge inevitable, ardorosamente rompiendo con sus cuerdas todo el amor enfurecido por la ciudad en defensa de ella. Musicalmente todos los poemas son válidos, recreados en notas y decires; pero sobre todo lo más importante del libro es la hondura, el dolor o mejor aún el amor-dolorido por su ciudad natal. Libro antologico de la ciudad del Mondego. Pero volveré, porque lo merece este poemário.

Jose Ledesma Criado

( Poeta, Director da Revista Literária Álamo e ex-Professor da Universidade de Salamanca )


Prólogo

Estas breves e quase desnecessárias palavras têm o alcance de criar um ambiente para outro ambiente.Ao preceder os poemas «Habitante Sensível» de Eduardo Aroso do texto recuperado de Dona Carolina Michaelis de Vasconcellos (Berlim, 15 de Março de 1851 - Porto, 16 de Novembro de 1925) intitulado “Arredores de Coimbra”, pretendo homenagear um e outro dos autores que tanto enaltecem Coimbra no paladar em si que Coimbra é e, ao mesmo tempo, desmentir o Nietzsche, o contraditório. A vida não tem lógica ou não obedece à lógica dos impulsos da razão. Há um Nietzsche que é o felino dionisíaco do novo, do vir-a-ser, do futuro e, assim, o iconoclasta vociferador contra o intocável divino, o rebanho, a corrupção, a superficialização e a generalização. É o dinâmico Nietzsche que repudiava a segurança de qualquer coisa e berrava alto, com o músculo do pensamento, contra o fundo comum da humanidade, este fundo de um fluir parado: que há coisas que duram, que há coisas iguais, que uma coisa é como aparece, que nosso querer é livre, que o que é bom para mim também é bom em e para si. O outro Nietzche ( o tal, o mais propalado, só aparentemente matou Deus ) não deixa de estar guiado... por Deus, e ele sabe-o, nega-o e afirma-o ao mesmo tempo; apenas dou um exemplo:- “Que também nós, conhecedores de hoje, nós os sem-Deus e os anti-metafísicos, também nosso fogo, nós o tiramos ainda da fogueira que uma crença milenar acendeu, aquela crença cristã, que era também a crença de Platão, de que Deus é a verdade, de que a verdade é divina...”( in parágrafo 344 de “A Gaia Ciência “). Foi a verdade de tudo e em tudo o que atormentou Nietzsche e tamanha era a sua febre que fácil era reiterar o seu ódio a qualquer permanência ou igualdade. E, todavia, este argonauta vai desaguar no eterno-retorno, no volver da identidade pretérita!
Repudio o primeiro Nietzsche, o da afirmação de que não há coisas iguais. E repudio o segundo, pois não quero tanto, não aspiro a nenhum eterno retorno, como a ele aspirou o infeliz Raúl Proença.
Em palavras correntes, da tribo não filosófica, não se dá um retorno de Dona Carolina Michaelis (assim a tratavam na Faculdade, em Coimbra, por um costume lançado pelo poeta Eugénio de Castro ) para a pessoa de Eduardo Aroso, existe um forte parentesco a não resvalar para a igualdade; porém não coincidindo ponto por ponto, repete Eduardo Aroso aquela emoção que um dia palpitou em Dona Carolina Michaelis e subsiste num texto perdido no turbilhão das bibliotecas. Porque se não há eterno-retorno, ao menos existe um palpitar comum no reino das igualdades afins. E, flutuando este mundo na barca da alterabilidade, é reconfortante o acerto e a amarra de um algo que permanece igual a si mesmo. Por outras palavras sem filosofia, se Coimbra se mantém Coimbra, na graça da sua plural fisionomia, a física e a humana, natural é que o próprio espírito destilado por Coimbra tenha acendido em dois espíritos ( quase sem igualdade ), essa Dona Carolina e este Eduardo Aroso, um fogo comum, uma igual chama, uma iluminação em tudo idêntica.
Eu tinha descoberto o pequenino texto há um ano, na Biblioteca do Exército, em Lisboa. “Arredores de Coimbra” figura no volume primeiro, ano 1902, de uma obra de arte colectiva já muito rara, «A arte e a Natureza em Portugal». Este “álbum de fotografias com descrições; clichés originais, cópias em fototipia inalterável; monumentos, obras de arte, costumes, paisagens” ( como reza o subtítulo ) foi da direcção de F. Brutt e de Cunha Moraes. Era um régio empreendimento editorial da firma “Emílio Biel & Ca, Editores” no Porto. O seu tamanho invulgar torna esta obra “antipática” para sua arrumação.
Nasci em Coimbra e fui educado na casa paterna e materna na simpatia pela Dona Carolina Michaelis. Meu progenitor, Joaquim de Carvalho, foi quem dirigiu a imponente homenagem da cultura portuguesa e internacional a Dona Carolina, organizando esse obelisco da “Miscelânea de Estudos,” na hora da despedida do colégio coimbrão, na da morte e na da saudade ( 1927 e 1933 ).
Ao descobrir esta preciosa relíquia, os “Arredores de Coimbra” , disse para mim mesmo: não há nada tão perfeito na emoção que Coimbra faz provocar do que estas páginas que a anunciam, repetem, inventariam e analisam! Quem me dera que todo o coimbrão as conhecesse e também pensasse não numa Profª Doutora Carolina Michaelis de Vasconcellos mas simplesmente numa grande e sábia amiga, a Dona Carolina Michaelis, trazendo-a de volta para o seio de seu coração!
Era germânica, mas bastaria este sucinto e intenso texto para a naturalizar portuguesa. Quem sente assim a natura alheia dela bebendo toda a seiva oculta, passa a filha de toda a região que vier amar. Coimbra enfeitiçou a nobre dama, valendo em alteza mental o que muitas vezes a própria aristocracia não alteia. Foi uma rainha da cultura e Portugal soube-a coroar. Meu pai preparou a “Miscelânea,” essa permanente coroa de louros que tanto a honrou. E na hora de sua morte, em nome de toda uma Universidade, à beira da sepultura, proclamou: “Uma universal curiosidade levou-a a estudar e a surpreender o génio português em todas as suas manifestações - desde as palavras às ideias; desde o homem às instituições, desde a etnografia aos mais elevados e subtis movimentos espirituais”, rematando, entre saudoso e justiceiro: “A vida da Senhora Dona Carolina Michaelis de Vasconcellos foi uma obra prima de ternura, de razão e de trabalho. Não atacou nunca ninguém, e tudo sacrificou aos únicos dogmas em que acreditava: a verdade, o dever e a humanidade. Foi corajosa quando era necessário sê-lo e as suas opiniões jamais sofreram as oscilações do mundo exterior. Os grandes admiravam-na, e os pequenos, os humildes de espírito ou de condição, devotavam-se-lhe comovidamente. Curvemo-nos, porque vai baixar à sepultura o cadáver de alguém que pensou e nobremente procedeu, cuja obra perdurará no convívio dos sábios e cujo espírito viverá na saudade dos homens bons”. O texto da fenomenal e santa investigadora tem essa auréola do definitivo semblante que Coimbra - o meio natural e a cidade - imprime a quem a desfruta. Ela, a sábia e afável senhora, eternamente dona e não frau captou a imagem do manacial milagreiro do que está certo e expressivo e sente por dentro refrescante porque verdadeiro. O seu belo texto mata-nos a sede desse conhecimento em alma que as coisas nos deixam e tão difícil é de expressar. É leite maternal. Ela era maternal em tudo e largou bondosas sementes como outras lançam rosas...
Mais tarde vieram os poemas de Eduardo Aroso, colhidos nos campos e margens de uma Coimbra perene. Senti que o que neles se espelha, como na superfície do Mondego, é a face trémula de Coimbra nesse mesmo conhecimento em alma, esse torrão de jeito para searas de amor. A delicadeza do texto de Dona Carolina Michaelis se repete na delicadeza de poemas de Eduardo Aroso. Ela louva um ambiente, procedendo ao seu escalpe descritivo. Ele, o poeta, espalha esse ambiente pelas coisas e louvando estas está recriando aquele como o fluido ou linfa onde elas poisam.
Com os pergaminhos familiares, um pai que adorou uma tão notável Mestre e logo depois uma Colega, achei que não era vilania ressuscitar aqui - neste átrio do templo poético de Aroso - o que, numa tarde dourada, tanto me enalteceu no sentimento por Coimbra, melhor me descobrindo com a descoberta desse texto. Sei que a Dona Carolina está feliz, por aqui, a modo de prefácio, ter colado o seu texto “Arredores de Coimbra”.
Se quis contrariar o seu compatriota Nietzsche, pois há coisas que duram, há coisas iguais - e as afinidades no beber e provar Coimbra entre a Dona Carolina Michaelis e o Eduardo Aroso em tudo são gémeas - , quero finalizar com uma harmonia, regressando a Nietzsche e à sua ideia de morte, o que me dá razão em dizer que a Dona Carolina Michaelis está feliz . É que o pensador germânico, tão mal compreendido ( pois a contradição não combina com o espírito geométrico do latino ) deixou este recado: “Guardemo-nos de dizer que a morte é oposta à vida. O vivente é somente uma espécie de morto, e uma espécie muito rara”. E quando não há oposição, não há contradição...
Coimbra, a alma de Coimbra, aqui irão enlaçadas. Um texto em prosa, ressuscitado daquela espécie de morte, volta à vida e nos dá vida. E complementado é por uns tantos poemas que são essa mesma alma de Coimbra.
Entre vida e morte não existem fronteiras.

Alfama, Lisboa, 10 de Janeiro de 1993
Joaquim de Montezuma de Carvalho
( Membro de The Hispanic Society of America, de New York )



ARREDORES DE COIMBRA

De braço dado com um cicerone ilustre, o visitante de Coimbra já admirou o esplêndido panorama que a mui antiga, mui nobre e sempre leal cidade apresenta, vista da margem esquerda: linda ninfa fluvial que, depois de banhar os pés, trepa com graciosa agilidade pela ladeira íngreme da montanha, para afinal se reclinar risonha no seu cume achatado, retratando-se no rio, cujas águas serenas, cantadas há quatro séculos pelo príncipe dos poetas lusitanos, vão descendo, e mansamente até ao mar não param.
Em frente de alguns dos seus preciosos monumentos teve ocasião de se orientar sobre as origens da velha Conimbriga, as páginas mais brilhantes da sua história, o seu papel notável na civilização portuguesa como antiga corte, esboçado magistralmente por Sá de Miranda em uma das Sátiras.
Sabe que, graças ao seu clima benigno, foi, durante séculos, abrigo saudável e ameno onde os reinantes e seus cortesãos se refugiavam quando a peste os acossava da soberba capital de mármore e granito, à qual Coimbra tivera de ceder o passo.Mas principalmente ela é família, e cara a todos como Lusa-Atenas, formosa e nobre cidade, onde se formam doutores, conforme rezam singelas trovas populares; centro intelectual para onde convergem os espíritos mais bem dotados; um dos focos vivos da elaboração poética, no qual se cristalizam lendas, contos, cantigas, romances nacionais que a
mocidade académica, afluindo das diversas províncias, fez e faz ainda brotar do solo fértil da tradição, irradiando-os novamente para todos os recantos de Portugal.
Peregrino da arte, o curioso já contemplou, em rápida excursão pela estrada da Figueira até ao lugar de S. Silvestre, uma série de fragmentos arquitectónicos e de esculturas formosíssimas, da escola coimbrã. E entrou também na vetusta catedral românica, elucidado acerca do Panteão dos Silvas de S. Marcos e a respeito da Sé por guias seguros, doutos, entusiastas.
Hoje convidamo-lo a um simples divagar e devanear poético, de diletante, pelas cercanias da cidade. Sem preocupações eruditas gozemos, passeando, as justamente célebres belezas naturais desta terra, torrão de jeito para searas de amor, querida e cantada por todos os patriotas que um fado venturoso distinguiu com o dom da lira. Por isso mesmo, a cada passo versos dos mais ilustres vates que tentaram fixar traços característicos da paisagem coimbrã, e versos que respiram entranhado amor, terna comoção e saudade profunda, como os de Silva Gaio e Alberto de Oliveira Correia acodem sem querer à nossa memória, exteriorizando as suaves impressões que vamos colhendo. O próprio povo, enlevado pelo meio aprazível, e adestrado pelo longo convívio com moços de talento, toma parte nesse festim de poesia, pois foi ele quem forjou o tantas vezes repetido prolóquio: Quem não viu Coimbra não viu coisa linda, dando assim a réplica aos lisboetas que gabam, não sem motivo, a rainha do Tejo.
Situados no centro do país, os campos de Hércules são a sua parte mais temperada. Abrigada dos ventos leste e norte pela forte barreira das serras da Estrela, do Caramulo, do Bussaco, Dianteiro, a planície do Mondego é humedecida amiúde pelas brisas marítimas. Copiosas chuvas dão à vegetação um viço deslumbrante. Único entre os rios caudalosos do reino que é genuinamente português, desde a sua nascente no Hermínio até à foz, o Mondego corre no fim do seu percurso, plácido e lentamente - tanto a seu sabor que não se sente - minguado na força do estio a ponto de descobrir os seus areais de ouro em largas extensões. Na primavera, porém, engrossado com as neves e chuvas do inverno, transforma-se em corrente impetuosa e mesmo devastadora. Então inunda os terrenos marginais abaixo de Coimbra e deposita aí nateiros que o tornam ubérrimos. Para os suster orlaram as ribas de espessas plantações, de canaviais, salgueiros, amieiros, choupos e freixos, de tons e formas variadíssimas. Nessas verduras fazem ninho legiões de aves que enchem a atmosfera ora de sons melódicos, ora de um chilreio inquietador e vivaz.
A pequena distância, além dos mouchões, há faixas de terreno plano, as afamadas ínsuas produtivas de milho, com pomares viridentes, vinhas, laranjais, cujas níveas flores embalsamam o ar e evocam visões virginais. Mais ao longe nas oliveiras de troncos esgarçados e folhagem argêntea pousa a cigarra de Anacreonte e faz ouvir em julho e agosto o seu cantar trémulo, estridente e monótono. No limite extremo erguem-se montanhas, em ondulações caprichosas de cores esfumadas, azul e violeta.A impressão produzida por esta deliciosa paisagem sobre génios sentimentais não é todavia - como seria de esperar - a de uma Arcádia alegre. Risonha - undique ridentem - a chamam apenas alguns estrangeiros e certos optimistas que aí têm berço, lar e jazigo. A saudade é que em geral reina e governa nos campos do Mondego. A ave que os povoa e caracteriza não é a cotovia matutina - the skylark - que cheia de júbilo gorgeia hinos de amor, mas antes o rouxinol nocturno que chora queixumes desesperados até se finar de paixão. A plêiade numerosa dos que lá passam apenas um lustro da vida, e têm de apartar-se afinal desse país do Senhor, dizendo adeus ao mesmo tempo à época descuidosa e abençoada da candura juvenil em que amaram e cantaram, gozaram e lutaram, essa mira os campos com olhos rasos de lágrimas, e quando os revê entre sonhos, « a alma que de lá os acompanha,/ nas asas do ligeiro pensamento,/ para vós, águas, voa e em vós se banha». Ora, se os autores de elegias e éclogas nostálgicas são de facto, como pensam certos críticos atilados, os intérpretes mais fiéis da alma portuguesa, essencialmente lírica; se a sensação que melhor lhes quadra e melhor os inspira é a saudade -dor aprazível e alegria triste, tão bem definida por Almeida Garrett, longe da pátria querida - comparável e já comparada a um rio «que da lembrança nasce, e vem passando,/ aqui ameno e doce, ali sombrio» - então um Cancioneiro de Coimbra, contendo todas as obras literárias, arquitectadas em honra da cidade, do rio e das ninfas do Mondego, que por sucessivas gerações de artistas, de mais ou menos alentado vôo, desde o primitivo desabrochar lírico nos dias do trovador coroado que «fez primeiro em Coimbra exercitar-se/ o valeroso ofício de Minerva/ e de Hélicon as Musas fez passar-se/ a pisar do Mondego a fértil erva», até aos nossos dias, havia de ser não somente lindo como um dos mais lindos volumes de rimas portuguesas, mas de importância típica. Vale a pena reuni-lo, a bem de todos os visitantes de Coimbra!
Dos múltiplos reflexos aí enfeixados que se espelharam nos espíritos vibráteis dos poetas, e nos podiam iluminar o nosso passeio, urge todavia passsarmos à realidade. Dos contornos de Coimbra em geral, a alguns pontos salientes.
A dificuldade consiste apenas na escolha. Tal é a abundância de sítios deliciosos que a rainha da Beira encerra e de lugares tentadores que a cercam, de perto e de longe.
O nosso passeio de hoje está todavia prescrito. Havemos de fazer três estações, todas elas muito perto do rio: em frente de Santa Clara; - no Choupal;- na Quinta das Lágrimas.

Desçamos. Do rio sobe cada vez mais distinto o som de vozes feminis.
São aguadeiras e lavadeiras que mourejam cantando e conversando, para assim tornar menos pesada a faina diária. Espectáculo rústico, não isento de graça. Lá estão, isoladas ou aos pares, em longa carreira tortuosa, flores vivas que marcam os meandros do Mondego. Conto uma, duas, três, quatro dúzias: parte a lavar, parte a torcer; outras que estendem; algumas a encher os canecos e cântaros; descalças todas, com as saias arregaçadas, as velhas protegidas contra o ardor do sol pelo chapéu de feltro, enquanto às moças airosas basta-lhes o lenço branco ou de cor sobre o cabelo farto.
Enxotando o enxame de cantigas com suas voltas e glosas camonianas e modernas, que de novo acodem à nossa mente, e olhando para os mantéis, mais brancos que a neve, que coram sobre o areal, recordemos apenas a fama secular «que só com as águas do Mondego a roupa se faz tão alva como nas mais partes com sabão ou outro artifício», fama tão inveterada como a de «fino, resistente e bom para enredos» ganha pelo fio de linho português, de Coimbra a Guimarães, e como o renome da água do Mondego. Coada pelo filtro natural das areias ela passa não só por límpida e delgada, mas por saborosíssima, e ainda hoje é preferida à das fontes por grande parte dos habitantes. Se houvesse perto um dos esteiros privilegiados onde as moças de cântaro se surtem, havíamos de prová-la num pucarinho de barro, pois já em tempo do velho Estrabão os lusitanos eram grandes bebedores de água e preferiam vasos de «terra», para que sempre lhes pareça que bebem na própria fonte.
Uma curva lancha vai rio abaixo, tão devagar como se o homem que a move à vara, obedecesse às raparigas que o provocam, cantando estâncias quinhentistas: Ir-me quero, madre, com o marinheiro, ou «Deixa, deixa, oh barqueiro/ Ir o barco lentamente!/ Deixa! Deixa! que a saudade/ ir mais longe não consente».
Na margem oposta o monte de Santa Clara sobe, também sem pressa, dividido em muitas parcelas, como indicam os casais espalhados entre verduras. Rente à borda da água ergue-se, no meio da usual estacaria de canas, salgueiros e choupos, um belo grupo de robínias, cujos cachos pendentes rescendem deliciosamente. Dos férteis milharais, meio ocultos, nas ínsuas do Almegue, erguem-se esbeltos eucaliptos, cujo verde ténue e azulado está em admirável contraste com a fronde espessa e escura, de tons metálicos, das laranjeiras salpicadas de pomos de oiro, e com as latadas de vinha. Estas e as oliveiras de fundo dão ao pequeno quadro certo aspecto de fartura meridional: cereais e legumes, hortaliças e frutas, vinho e azeite, que se criam com tanta abundância nos férteis campos conimbricenses.
Um pouco ao ocidente da cidade, temos o Choupal. Entre todos os passeios lindos é sem contestação o que sobressai pela sua amplidão e pelo seu carácter de bem e verdadeiro tratado bosque. Assoriamentos constantes haviam alteado o nível do rio de sorte que, em fins do século XVII, o governo teve de proceder a novo aleitamento.
Fizeram-se então, sobre uma parte do antigo leito e areais, até então incultos, mas fertilizados pelos sedimentos arrastados pelas cheias, largas plantações de choupos, que deram o nome à nova mata nacional. Crescendo a capricho num estado quase virginal, recortado por fundos valeiros, por onde se escoavam as águas das enchentes, não comportadas pelo rio, o Choupal ficou durante longo tempo quase intransitável. Hoje, porém, graças ao trabalho inteligente dos directores das obras do Mondego, a pequena floresta, cobrindo mais de cem hectares, está transformada em um parque ameno, com numerosas estradas e ruas, valas regularizadas, pontes rústicas e magníficos exemplares de árvores de exuberante vegetação: copadas faias, amoreiras corpulentas, plátanos e nogueiras, álamos, acácias, loureiros, medronhos, eucaliptos altivos cujo rápido desenvolvimento surpreende os que, vindo de longe, estão acostumados ao lento crescer do arvoredo setentrional. Como tipo de arborização em terrenos baixos e férteis, servindo de campo de experiências na cultura de plantas exóticas e indígenas, e de viveiro-modelo de onde já sairam milhares de boas árvores que dão sombra e frescura às estradas e aformoseiam povoações outrora pobres de verdura, a mata tem muita importância científica e agrícola. Se lhe falta o tom pitoresco comunicado por grandes acidentes no terreno, se não há grutas, belvederes, lagos, tabuleiros de flores, relvados de seiva, temos em troca a vista do rio e da cidade.
Em todas as estações é uma delícia passear aí, sobretudo nos meses em que a natureza ressurge do letargo anual « quando os choupos nodosos/ a um ai de leve nortada/ sacodem frouxéis sedosos/ que a terra deixam nevada»; quer procuremos o alívio da sombra em dias de intenso calor; quer observemos através de minguada folhagem outoniça a fantástica silhueta da cidade, envolta em nevoeiro; e mesmo no inverno quando o vento sacode, contorce e quebra ramos e troncos, juncando o chão de folhas mortas. Como em toda a parte, a ocasião mais bela é o crepúsculo, «a hora em que o sol desmaia/ e a voz das águas se espraia/ como uma prece a subir».
Com os trechos do rio e do bosque irmana perfeitamente o último quadro, a romântica Fonte dos Amores na Quinta das Lágrimas ( outrora do Pombal ) que alcançamos atravessando a ponte e subindo a ladeira até ao rossio de Santa Clara. Se aqueles primam exclusivamente por belezas naturais, como em geral as paisagens portuguesas, a este deram realce, valia superior e renome universal recordações românticas. Quem desconhece a história da mísera e mesquinha que depois de ser morta foi rainha? Impressionando desde logo os coevos, conforme se vê dos relatos dos cronistas, não só pela formosura de Inês, pelo desespero e a vingança do Infante D. Pedro, transformado em justiceiro feroz, mas também pelo juramento por meio do qual tentou reabilitar a amada, seguido da lúgubre exumação e trasladação do cadáver de Santa Clara a Alcobaça, e principalmente pelo duplo monumento fúnebre aí erigido, que é uma maravilha de arte medieval portuguesa, o caso triste e digno de memória foi posteriormente idealizado em romances, dramas e composições líricas, a ponto de se tornar o exemplo mais comovente do amor à portuguesa. Eternizada pelo cantor dos Lusíadas , no episódio delicado da sua epopeia nacional, Inês atrai constantemente ao sítio que agora visitamos, e ao seu jazigo, romeiros sentimentais, ávidos de sensações, que desejam comparar os sepulcros alcobacenses aos de Heloisa e Abélard no Père-Lachaise; e a Fonte das Lágrimas não só à do Sorga provençal, onde Petrarca cantou a sua Laura, mas também ao ribeiro da gentil Ofélia, ou ao Jardim de Julieta em Verona - pois foi ao pé dela que, segundo a lenda, se passaram os princípios idílicos e o desfecho sangrento do drama.
O cenário, sombrio e solitário, lembra quadros sugestivos de Boeklin. Um vasto tanque quadrangular recebe por um pequeno canal de pedra a linfa cristalina da nascente que brota de musgosas rochas graníticas, não impetuosa e silvestre como a de Vaucluse, mas brandamente com um murmúrio quase imperceptível. Altivos cedros formam um denso toldo verde-escuro, impenetrável aos raios do sol, e estendem languidamente os seus ramos sobre a superfície da água.
Estes cedros, que embora gigantescos, nem de longe podem contar cinco a seis séculos, foram na imaginação popular testemunhas primeiro de cenas íntimas entre os amantes, e depois, da degolação da Nise lastimosa. Aí retumbaram os choros das inocentes crianças, os gritos da vítima, as ameaças dos algozes, os brados do vingador. Com estas águas misturaram as ninfas do Mondego as suas lágrimas de dor e compaixão. Nas manchas avermelhadas de algumas das lajens que pisamos (musgos microscópicos) quer o vulgo reconhecer gotas de sangue. As ruivas radículas filamentosas de certas plantas aquáticas que ondulam no tanque são cabelos louros. O cano que conduz através da quinta a água da fonte, serviu de veículo para as mensagens trocadas entre Pedro e Inês.
No tronco de um dos cedros, derrubado em 1841 por um vendaval, estavam esculpidas as palavras: eu dei sombra a Inês formosa. Numa lápide tosca lê-se a estância final do episódio camoniano na qual o magno poeta condensou a lenda que criara.
O espaço limitado e o carácter ligeiro destas notas não admitem que falemos do processo instaurado pela crítica contra a veracidade desses elementos poéticos, fecundados posteriormente tanto pelo engenho de doutos comentadores como pela imaginativa de outros poetas, e consagrados pelo aplauso da nação inteira.
Para quê? - Pois, embora ela decida que as cenas localizadas por Luís de Camões ao pé de uma Fonte de lágrimas ou de amores, se desenrolaram em realidade num recanto diverso, (do outro lado do Rossio, no paço real de Santa Clara que servira de residência a D. Inês de Castro), a visão sentimental da pungente tragédia renova-se dia a dia no sítio reproduzido pela nossa estampa.

CAROLINA MICHAELIS DE VASCONCELLOS


Pedro Caldeira Cabral com guitarra inglesa. Foto extraída da internet. Posted by Hello

Memórias da Guitarra Portuguesa
Por Pedro Caldeira Cabral
(Tirado da internet)

O instrumento a que damos hoje o nome de Guitarra Portuguesa foi conhecido até ao século XIX em toda a Europa sob os nomes de Cítara (Portugal e Espanha), Cetra (Itália e Córsega), Cistre (França), Cittern (Ilhas Britânicas), Cister e Zittern (Alemanha e Países Baixos).
Tendo como origem directa a Cítara europeia do Renascimento, por sua vez filiada na Cítola Medieval, a actual Guitarra Portuguesa sofreu importantes modificações técnicas no último século (nas dimensões, no sistema mecânico de afinação, etc.), tendo no entanto conservado a afinação peculiar das cítaras, igual número de cordas e a técnica de dedilho própria deste género de instrumentos.
Em Portugal, o seu uso está documentado desde o século XIII (Cítola), nas mãos de Trovadores e Menestréis, e no século XVI (Cítara), estando de início confinado aos círculos da côrte, terá posteriormente sido alargado a outros níveis populares e por isso encontramos referências à utilização da Cítara no Teatro e também nas Tabernas e Barbearias , sobretudo nos séculos XVII/XVIII.
Em 1582, Frei Phillipe de Caverel ao visitar Lisboa e descrevendo os seus costumes, cita a estima dos portugueses pela Cítara a par das Violas e outros instrumentos como o Adufe, a Harpa, etc. No catálogo da Livraria Real de Música de D. João IV (1649), encontramos também vários livros, contendo o reportório erudito mais importante de autores estrangeiros dos séculos XVI e XVII e que pela sua complexidade e dificuldade técnica, pressupõe a existência de executantes altamente qualificados no nosso país.
No início do século XVIII, Ribeiro Sanches (médico famoso e vítima da Inquisição) recebia lições de Cítara na cidade da Guarda, conforme o próprio revela em carta a seu pai, pedindo dinheiro para pagar as lições ao seu mestre.
Mais adiante nesse século, chegam-nos notícias diversas do uso da Cítara, com alusão ao reportório partilhado com outros instrumentos como o Cravo ou a Viola e que incluem Sonatas, Minuetos, etc. É nesta época (ca.1760) que chega a Portugal a chamada Guitarra "Inglesa", um tipo de Cítara europeia cuja estrutura interna foi modificada por construtores ingleses e alemães, a qual é acolhida com grande entusiasmo pela nova sociedade burguesa mercantil instalada na cidade do Porto e praticante da chamada "música de salão" , constituída pelas "lânguidas" modinhas, os "arrastados" minuetos e os "picantes" lunduns, como eram qualificados na época.
Esta Guitarra tem uma difusão limitada aos círculos da alta sociedade, nunca se popularizando e acaba por desaparecer no fim do século XIX com a revitalização da Cítara popular, causada pela associação desta com o Fado de Lisboa.
Em 1858, encontramos a última referência detalhada à Cítara, na obra de Fétis "A Música ao alcance de todos", cuja tradução portuguesa contém um glossário, no qual se descrevem as diferentes características (afinação, inserção social, reportório, etc.) da Cítara e da Guitarra desta época. Concluindo, o programa de hoje revisita a memória de um percurso musical de cinco séculos, com alguns dos exemplos mais representativos do reportório da Guitarra Portuguesa.Pedro Caldeira Cabral 2002

Biografia de Pedro Caldeira Cabral
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Nasceu em Lisboa em 1950. Ainda na infância, inicia o estudo da Guitarra Portuguesa, da Guitarra Clássica e da Flauta doce. Mais tarde estuda solfejo, contraponto e harmonia com o Prof. Artur Santos. A partir de 1970 inicia o estudo do Alaúde, da Viola da Gamba e de outros instrumentos antigos de corda e de sopro, vindo mais tarde a fundar e dirigir os grupos La Batalla e Concerto Atlântico, especializados na interpretação da Música Antiga em instrumentos históricos.
Entre 1967 e 1975, frequentou vários cursos de composição de música contemporânea, tendo trabalhado com Karel Goyvaerts, Constança Capdeville, José Alberto Gil e Jorge Peixinho. Sendo um autodidacta na Guitarra Portuguesa, desenvolveu como compositor, um estilo próprio fundado na tradição solística da Guitarra, com incorporação de técnicas originais e elementos resultantes do estudo dos instrumentos antigos das tradições cultas e populares da Europa Mediterrânica.
Como intérprete tem alargado o reportório solístico da Guitarra, fazendo transcrições de obras de Bach, Weiss, Scarlatti, Seixas, entre outros e apresentado publicamente novas obras originais de autores contemporâneos.
Tem realizado investigação na área da música tradicional (Organologia musical), tendo colaborado com o Dr. Ernesto Veiga de Oliveira na segunda edição de "Os Instrumentos Musicais Populares Portugueses" - Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,1983 e na 3ª edição (capítulo novo) datada de Janeiro 2001.
Fundou e dirige desde 1987, o Centro de Estudos e Difusão de Música Antiga, e no seu âmbito coordena exposições-conferências sobre organologia musical antiga (séc. XIII a XVII), concertos didácticos em escolas e programas musicais para os vários grupos que dirige.
Tem também coordenado programas de edição musical e de estudos sobre temas musicais. Desde 1970 tem dado, na qualidade de solista, concertos nas principais salas e festivais da Europa, Estados Unidos da América, Macau e Brasil. Membro do júri do 1º Festival de Música do Mediterrâneo realizado em Antalya, Turquia (1986), Pedro Caldeira Cabral tem efectuado conferências e seminários sobre temas musicais na Europa (França, Inglaterra, Alemanha, Suíça, Suécia e Turquia) e EUA. Fez a pré-produção e a direcção artística do Festival de Guitarra Portuguesa na EXPO'98.
Em 1999 foi editado o livro "A Guitarra Portuguesa" de sua autoria, sendo esta a primeira obra monográfica sobre as origens e evolução histórica, estudo organológico e reportório do instrumento nacional. Comissariou as exposições monográficas "Portuguese Guitar Memories" apresentada no Convento de Santa Agnes de Boémia em Praga, República Checa em Setembro de 2000 e "À descoberta da Guitarra" no Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa, em Maio de 2001.
Fez programas nas seguintes emissoras de Televisão: RTP (Portugal), WDR, ZDF e NDR (Alemanha), BBC e Granada TV (Inglaterra), ORTF (França), VPRO (Holanda) e TV Globo e TV Cultura de S. Paulo (Brasil).
A sua discografia a solo inclui: Guitarras de Portugal, Tecla (1971); Encontros, Orfeu (1982); A Guitarra nos salões do século XVIII, Orfeu (1983); Pedro Caldeira Cabral, EMI (1985); Duas Faces, EMI (1987); Guitarra Portuguesa, GHA (1991); Momentos da Guitarra, Fenn,(1992); Variações, Mediem/WDR (1993); Música de Guitarra Inglesa, BMG/RCA Classics (1998); Guitarra do Século XVIII, F M, (2000); Memórias da Guitarra Portuguesa, F M (2000); Sons da Terra Quente, FM (2000) e The Enchanting Modinhas and the English Guitar, Radical Media (2001).

quinta-feira, maio 26, 2005


Vitorino e Ricardo Dias, hoje, no àCapella. Posted by Hello


Guitarra de António Carvalhal
Guitarra Toeira de Coimbra, de ilharga baixa, escala de 17 pontos, e voluta em lágrima, fabricada por Raul Simões em 1937. Pertenceu ao guitarrista António Carvalhal. Encontrava-se em excelente estado de conservação quando a fotografei em 1998. Pode escutar-se a sua sonoridade característica nas gravações de Edmundo Bettencourt, Artur Paredes e primitivas do grupo de António Brojo.
Em Novembro de 1989 ajudei a montar no Museu Académico uma exposição onde figurava a antiga guitarra do Dr. Afonso de Sousa, instrumento que justamente acabara de ir buscar em mão própria a Leiria. Lembro-me que o Paulo Soares apareceu e ficou ali sentado a ver e a dedilhar essa velha guitarra do Dr. Afonso de Sousa, tendo dito que estava bem conservada e tinha bom timbre.
Vem tudo isto a propósito de informações que vamos encontrando na internet onde a propósito da grande revolução operada na Guitarra de Coimbra por Artur Paredes/Quim Grácio há quem pretenda que as transformações se basearam na "guitarra do fado" ou guitarra do tipo lisboeta. Não se pode de modo algum corroborar tamanha falsidade histórica, uma vez que já existia perfeitamente definida desde os alvores do século XX um modelo de Guitarra de Coimbra e foi a partir desse modelo que se operaram as experiências e mutações. Por outro lado, creio que não ficará mal reconhecer que a partir dessas mudanças, a "guitarra do fado" passou a andar a reboque da Guitarra de Coimbra. O modelo aqui referido é dado hoje como extinto, pese embora o facto de o construtor Fernando Meireles a ele ter voltado recentemente para ensaios que passam pelo rebaixamento da ilharga da guitarra coimbrã.
Em Novembro de 2002, num intervalo do sarau de lançamento do livro "Canção de Coimbra. Testemunhos Vivos" , realizado no Teatro Académico de Gil Vicente, vi um executante da nova geração com um destes modelos Meireles, de enorme graciosidade e belíssimo timbre, ali mesmo elogiado pelo Dr. Jorge Gomes.
Se virmos bem o grosso do repertório para guitarra praticado entre 1900-1954 passou por este modelo e muitas peças de época não perderiam se fossem ocasionalmente nela executadas em concertos ou mesmo gravadas em disco.
Foto e texto enviados por António M. Nunes.
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Partitura de "Variações em Lá maior" (1) de António Carvalhal.
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Partitura de "Variações em Lá maior" (2) de António Carvalhal. Posted by Hello

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Partitura de "Variações em Lá maior" (3) de António Carvalhal.
Peça de muito bom gosto, de dificuldade média, foi muito bem gravada por António Brojo no disco "Variações inacabadas", edição EMI, Valentim de Carvalho, saído em 1994.
Tenho em meu poder uma gravação caseira da mesma peça, por Armando de Carvalho Homem, acompanhado por Mário Freitas e pelo filho Armando Luís de Carvalho Homem. Não fica nada a dever à interpretação de António Brojo. Posted by Hello

quarta-feira, maio 25, 2005

Grupo “Toada Coimbrã”

Após ter questionado João Paulo Sousa, do grupo "Toada Coimbrã", sobre se teriam algum disco gravado que não fosse do meu conhecimento, recebi um mail com o texto que se segue que nos vai elucidar sobre a questão posta e anunciar para breve o lançamento de um disco com originais. Ficamos à espera.
«As nossas edições resumem-se a duas K7, a primeira das quais gravada ainda a 3 (Vicente, João Carlos e Rui Lucas) creio que em 87, ainda nos estúdios da RDP e que serviu para empandeirar em algumas digressões que eles fizeram na altura. Apesar de tudo um documento curioso.
A segunda foi gravada para o mercado expositor, então na Moviplay, e contempla ainda apenas fados tradicionais, datando de 91. De salientar que já o grupo estava completo (desde finais de 88) e corresponde à melhor fase (?) do grupo. É a época de oiro do Rui Lucas e é anterior ao meu acidente de viação. Tem, creio, 12 temas, incluindo 2 guitarradas.
Ainda no tempo do vinil, e anterior (início de 90) a este trabalho foi editado um single que incluía a Balada do 5º Ano Jurídico 88/89 e "Alta Noite na Sé Velha".
Tal Balada seria ainda editada na colectânea das Baladas dos Anos 80, primeiro em vinil (LP) e depois em CD.
Posteriormente existe a participação no CD preto da Secção de Fado ( com a mesma Balada e com o "Fado do Adeus" do António Vicente).
Mais tarde, existe ainda uma participação num disco comemorativo dos 20 anos (25?) da CERCIAG (Águeda) com a Balada "Renascer" (e que me era pessoalmente dedicada na sequência do meu acidente e quando ainda não se sabia se eu poderia voltar a tocar).
Por fim, mais recentemente, participámos ainda na colectânea das Baladas de 90, com o tema de abertura "Balada do 5º Ano Jurídico de 89/90".
O trabalho na calha será completamente original, repositório dos já 18 anos levados juntos, sendo constituído por 16 ou 17 temas (dos quais 2 guitarradas, o indicativo do grupo, do Vicente, e "Devaneio", a minha guitarrada, que já escutou no "A Capella", incluindo novas gravações dos originais já editados.»


Foto do Livro "20 Anos do GGCC".
Serenata Tradicional no Largo do Seminário, em 1998. Valdemar Benavente, AntónioMadeira Lopes, João Luís Madeira Lopes, e Frernando Martinho à guitarra; António Viegas Tavares, Elias Rodrigues e Jácome Ramalho à viola; Raúl Melo Santos a cantar. Vêem-se ainda José Beja e Malha Valente. Posted by Hello


Foto do Livro "20 Anos do GGCC".
Serenata no Convento de S. Francisco, integrada na Coimbra Capital da Cultura, 2003. Actuaram os grupos: "Campa Rasa", constituído por Rui Ferreira e Joaquim Mota a cantar, David Leandro e Valdemar Benavente à guitarra, Emanuel Maranha das Neves e José Niza à viola; grupo "Guitarra e Canto de Coimbra", formado por Fernando Martinho, João Madeira Lopes, António Madeira Lopes e Francisco Rodrigues à guitarra, António José Tavares e Elias Rodrigues à viola, Sebastião Louro, Vítor Casimiro, Melo Santos, Sónia Simões, António Pinho, Coelho das Neves, Malha Valente, José Beja e Fernando Rolim, no canto. Posted by Hello


Foto do Livro "20 Anos do GGCC". Actuação em Santarém a 12 de Maio de 1997. Instrumentistas: José Estrela, João L. Madeira Lopes, Valdemar Benavente, António José Madeira Lopes, António José Graça, Lucílio Martins, David Leandro, Fernando Martinho, António José Tavares, João Moreira, Vítor Tavares, José Niza, Elias Rodrigues, João Roque Dias e Jácome Ramalho. Cantores: Fernando Rolim, Paula Jacob, Malha Valente, Luís Carlos Bastos (apresentador), Raúl Melo Santos, Coelho das Neves, Victor Casimiro e Octávio Freitas. Posted by Hello


Foto do Livro "20 Anos do GGCC" Posted by Hello


Encontro de Coros na Igreja da Graça. Coro do Círculo Cultural Scalabitano com acompanhamento do GGCC. Comemorações do 25 de Abril de 2005 - Santarém. Foto fazendo parte do livro a seguir anunciado. Posted by Hello


Livro editado pelo Grupo Guitarra e Canto de Coimbra e pelo Centro Cultural Regional de Santarém. Comemora os 20 anos do grupo. Posted by Hello

20 anos do Grupo de Guitarra e Canto de Coimbra do
Centro Cultural Regional de Santarém

O Grupo de Guitarra e Canto de Coimbra está a comemorar, neste ano de 2005, os seus 20 anos de existência.
Um dos pontos altos desta comemoração teve lugar no dia 14 de Maio, no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém.
Tratou-se de um espectáculo evocativo das actividades do grupo que foram desenvolvidas nas duas últimas décadas e que contou com a participação de 3 grupos de fado e guitarra de Coimbra.
A primeira parte do espectáculo, abriu com o Coro do Círculo Cultural Scalabitano, interpretando a Balada de Outono, de Zeca Afonso, seguindo-se a actuação de cantores e guitarristas que, ao longo do tempo, integraram o Grupo de Guitarra e Canto de Coimbra do CCRS de Santarém: os cantores José Beja, Luís Malha Valente, Octávio Freitas, Paula Jacob, Pedro Ramalho, Raúl Melo Santos, Sebastião Louro e Vitor Melancia Casimiro, os guitarristas António José Madeira Lopes, Francisco Madeira Lopes, Francisco Rodrigues, Fernando Martinho , João Luís Madeira Lopes e Elias Rodrigues na viola.
A segunda parte contou com as participações de:
- Valdemar Benavente (guitarra) e António Viegas Tavares (viola) - variações de Coimbra
- Carlos Carranca e Durval Moreirinhas (poesia e baladas)
- Fernando Rolim (fados de Coimbra)
- Fernando Machado Soares (fados e baladas de Coimbra, incluindo "Coimbra tem mais encanto/na hora da despedida", de sua autoria).
O espectáculo foi apresentado por Fernanda Narciso, Vicente Batalha e José Niza, tendo sido feito o lançamento de um livro evocativo das actividades do Grupo e da tradição académica em Santarém.


Encontro com Adriano. Evocação a Adriano Correia de Oliveira, realizada em 10 de Outubro de 2004 no Teatro Sá da Bandeira - Santarém, em colaboração com o "Veto - Teatro Oficina", e a participação de Fausto, Francisco Fanhais, Paulo Vaz de Carvalho, Paulo Sucena e outros. O Grupo Guitarra e Canto de Coimbra integrou um conjunto de quadros teatrais alusivos ao percurso académico, artístico e de intervenção sócio-política de Adriano. Intervieram a cantar, Sebastião Louro, Octávio Freitas, Vítor Casimiro, Melo Santos, Malha Valente, Susana Alves e Paula Jacob. Posted by Hello


Grupo de Santarém. À guitarra: João Luís, António Madeira Lopes e Fernando Martinho. À viola, Elias Rodrigues. A cantar: José Beja, Malha Valente, Octávio Freitas, Paula Jacob, Raúl Melo Santos, Sebastião Louro e Vitor Casimiro.
Esta foto e as três que se seguem, foram tiradas no espectáculo do dia 14 de Maio de 2005, no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém. Este grupo de Santarém apresenta-se com o nome de "Grupo Guitarra e Canto de Coimbra".


Grupo de Santarém. À guitarra: João Luís, António Madeira Lopes e Fernando Martinho. À viola, Elias Rodrigues. A cantar ?... Posted by Hello


Machado Soares acompanhado pelo grupo de Santarém. À guitarra está Valdemar Benavente e à viola, António V. Tavares e Durval Moreirinhas. Posted by Hello


Fernando Rolim a cantar com o Grupo de Santarém. Valdemar Benavente na guitarra. Acompanharam ainda Durval Moreirinhas e António V. Tavares nas violas, que não se vêem na foto. Posted by Hello

terça-feira, maio 24, 2005


António Eustáquio com o Guitolão, construído por Gilberto Grácio. Posted by Hello

Nasceu um novo instrumento português
(Texto de Isabel Damião, do jornal "O Primeiro de Janeiro")
(Artigo enviado por João Paulo Sousa do grupo "Toada Coimbrã")


Carlos Paredes idealizou-o, Gilberto Grácio construiu-o e António Eustáquio é o homem que tem a missão de o apresentar oficialmente. Trata-se do Guitolão, o novo instrumento musical português – uma extensão da guitarra portuguesa. Criar um instrumento que valesse por si só, sem necessidade de ter a viola, ou outro qualquer instrumento para o acompanhar foi a ideia a partir da qual Carlos Paredes idealizou a Guitarra Portuguesa Barítono, posteriormente designada Guitolão, pelo construtor Gilberto Grácio. O objectivo, conforme explica o músico António Eustáquio, era “conseguir um instrumento com uma grande tacitura, com uma extensão de sons graves e agudos, que tivesse um leque bastante grande em termos de frequências”.
Posto isto, Carlos Paredes falou com o seu construtor, Gilberto Grácio, “e disse-lhe que gostava de ter um instrumento com determinado tipo de características – uma guitarra portuguesa, mas mais grave, que tivesse um tipo de sonoridade que lhe permitisse tocar outro tipo de música”, esclarece António Eustáquio. “Entretanto – continua – Gilberto Grácio fez um protótipo, isto é, uma guitarra de Coimbra com um braço maior e o Carlos Paredes ainda gravou uma música com esse instrumento, com a cantora Sofia de Melo e o poeta Manuel Alegre, divulgada na colectânea «O mundo segundo Carlos Paredes – Integral 1958-1993»”.
Passado pouco tempo Carlos Paredes adoece e Gilberto Grácio desiste do projecto.Um dia António Eustáquio é surpreendido com um telefonema da companheira de Carlos Paredes que lhe diz que gostava de lhe mostrar um instrumento que lá estava em casa, “e eu fiquei fascinado com os sons, gravámos logo uma cassete que ela levou ao Sr. Grácio. Ele entusiasmou-se novamente com a ideia e construiu o guitolão com madeiras que lá tinha há muitos anos”, recorda o músico.
Aquando do funeral de Carlos Paredes, António Eustáquio encontra-se com o construtor de guitarras e falam uma vez mais do novo instrumento que estava na forja, nesse dia [no dia 23 de Julho] “reiniciámos a conversa e a partir daí começou todo um trabalho de construtor e de equipa até que chegou às minhas mãos o que é o novo instrumento português idealizado pelo Carlos Paredes”, confessa com uma ponta de orgulho.
Apresentação oficial
António Eustáquio, detentor do primeiro exemplar deste novo instrumento, vai apresentá-lo publicamente, no dia 18 de Junho, em Marvão, acompanhado pelo Quarteto Iberoamericano, do qual faz parte António Miranda, seu companheiro no projecto Camerata Lusitana [ver texto inferior]. Um espectáculo que será gravado em DVD, o qual, posteriormente, integrará um DVD promocional de Marvão para divulgação da cidade, candidata a Património Mundial, servindo também para divulgar este novo instrumento.
O reportório de apresentação do guitolão já está pronto. “É composto por originais de minha autoria e algumas músicas de Carlos Paredes”, adianta António Eustáquio.
Curiosidade
Parceria entre as famílias Paredes e Grácio.
“O avô de Carlos Paredes, Gonçalo Paredes, ainda teve guitarras do avô de Gilberto Grácio [construtor de Carlos Paredes]. Ou seja, as famílias Paredes e Grácio tiveram sempre uma grande parceria nesta história da guitarra portuguesa – uma tradição que já não perdura, uma vez que os descendentes do Sr. Grácio não deram continuidade a esta arte”, refere António Eustáquio.


Partitura de "Variações em Lá menor nº 2" (1) de António Portugal. Posted by Hello

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Partitura de "Variações em Lá menor nº 2" (2) de António Portugal. Posted by Hello

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Partitura de "Variações em Lá menor nº 2" (3) de António Portugal. Posted by Hello

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Partitura de "Variações em Lá menor nº 2" de António Portugal.
Peça de muito bom efeito, bem construída, com mudanças de ritmo bem elaboradas, mostrando um António Portugal diferente das suas primeiras composições para guitarra. Aqui segue uma linha descritiva, de muito bom gosto, muito melodiosa, mostrando saber o que quer. Prossegue o mesmo caminho que utiliza nas introduções dos "Fados" dos últimos tempos.
Anterior a esta, num período bem diferente deste, as suas "Variações em Lá menor nº 1" foram um achado guitarrístico, com uma grande originalidade, a que se seguiu "Variações em Ré menor". São duas peças com toques modernistas, mas que não tiveram continuação em novas guitarradas.
Ainda continuou neste estilo em algumas composições para voz, que foram muito bem cantadas por Adriano Correia de Oliveira.
Mais tarde tornou-se um compositor mais sereno, não tão pujante mas igualmente lúcido, não pactuando com lamechices.
Muito ainda haveria a esperar-se dele, não fosse uma morte prematura a pôr fim a um dos maiores e persistentes cultores da música de Coimbra.
Espero em breve ter aqui a partitura do seu Lá menor nº 1, assim o meu amigo Alexandre Bateiras me forneça uma gravação apenas com as partes do 1º e 2º guitarras. Este guitarrista executa muitíssimo bem esta peça. Foi por ele que, pela primeira e única vez, as ouvi ao vivo.
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