sábado, março 26, 2005

Dois guitarristas portuenses que nos deixam


Armando Luís de Carvalho HOMEM



1. Alexandre Brandão (1909-2004)


Executante notável, bom intérprete de Artur Paredes (a quem chegou a conhecer), despontou nos anos 20/30, no seio de um grupo de estudantes dos Institutos Industrial e Comercial do Porto (actuais Institutos Superiores de Engenharia e de Contabilidade e Administração / Instituto Politécnico do Porto); outros nomes a referir para esse tempo são os de Fernando Lencart (então guitarrista, depois notabilizado como executante de viola clássica e alaúde) e Ayres de Aguillar (guitarrista, integrante do grupo de João Bagão [1921-1993] a partir dos anos 60).
Já na década de 40, Alexandre Brandão formou um «trio Brandão» (que incluía o guitarrista Lauro de Oliveira [† 1970] e o viola José Severino), actuando regularmente nos então Emissores do Norte Reunidos. Era detentor de uma colecção notável de discos de gramofone, incluindo gravações próprias e algumas gravações de Artur Paredes / Carlos Paredes / Arménio Silva (programa Guitarradas de Coimbra, Emissora Nacional [Lisboa], anos 40), onde por vezes se encontravam versões diferentes das vulgarmente conhecidas por gravação comercial e normalmente executadas (em Artur Paredes nada era definitivo, conforme Octávio Sérgio já por mais do que uma vez aqui salientou, em textos derivados dos seus preciosos blocos de notas…). Utilizador de diversas afinações (numa delas a escala com as cordas soltas proporcionava um acorde de Mi Maior), nelas executava outro tipo de repertório, inclusive clássico (v.g. «Momento musical», de Schubert). Peças originais não lhas cheguei a conhecer; mas é possível que algo tenha ficado. Sobra-me portanto a imagem de um grande executante e de um notável arranjador de temas populares (incluindo uma «Chula do Douro», que executava com uma das tais afinações alternativas) e até de uma peça brasileira («Noite de estrelas» [valsa em Lá], de Dilermando Barbosa), que o seu discípulo Mário Freitas executou frequentemente em público.
Nas décadas de 50, de 60 e de 70 vários foram os guitarristas do Orfeão Universitário do Porto que beneficiaram do magistério do «Senhor Brandão», como normalmente era tratado: António Rosa de Araújo (de quem se falará já a seguir), Manuel Antunes Guimarães, Manuel Melo da Silva e Mário Freitas (a quem devo a oportunidade de o conhecer e de por mais de uma vez ir a sua casa [1972-1973]; mais tarde [1981], lá voltei com Octávio Sérgio; por diversas vezes o encontrei também em casa do advogado e guitarrista Dr. Eduardo Teixeira Portela), entre outros.
Alexandre Brandão teve na vida outro hobby: a criação de canários e o treino e classificação do seu canto, sendo perito internacional na matéria.

Obs.: Sobre este executante cf. o texto de Jorge FÉLIX disponível em http://www. terravista.pt/ancora/2047/private/AlexanBrandão.html [consultado em 2004/09/10]; inclui uma foto de AB à guitarra no dia do seu 90.º aniversário; veja-se também, de minha autoria, «”Fado (O) de Coimbra” na Academia do Porto», in José NIZA, Um Século de Fado. Fado de Coimbra, I, Alfragide, Ediclube, 1999, pp. 115-128, maxime 116 e 126-127; agradeço por último aos guitarristas Eng.os Manuel Antunes Guimarães e Manuel Melo da Silva as informações que me prodigalizaram.



2. António Rosa de Araújo (1931-2004)


Médico formado pela Fac. Medicina/UP, fundador e primeiro Director do Serviço de Hematologia do Hospital de S. João (cargo de que se aposentara há alguns anos), António Rosa de Araújo pertenceu ao Orfeão Universitário do Porto (OUP) na década de 50, integrando como guitarrista um grupo de que também fizeram parte Serafim Guimarães (g.) [ulterior lente de Medicina/ Farmacologia, jubilado em 2004; Vice-Reitor da UP em 1984-1985], Fernando Reis Lima, Fernando Neto Mateus da Silva [que já passara por Coimbra; nos anos 60 integrará o grupo de João Bagão, participando em diversas gravações] e José Alão [irmão de Paulo Alão] (vv.). Acompanharam cantores como José Tavares Fortuna, Óscar França, José Vitorino Santana (1931-2004) e Filipe Gameiro dos Santos, entre outros. Foi o essencial desta formação que participou na primeira digressão do OUP a Angola (1956).
Rosa Araújo deixou no OUP memória de virtuoso e exigente – consigo próprio e com os Colegas de Grupo –, para além de extremamente minucioso na fidelidade aos originais quando executava temas de Artur Paredes.
Apenas uma vez o encontrei: foi em Abril de 1972, por ocasião das comemorações do 60.º aniversário do OUP e do 10.º da Associação dos Antigos Orfeonistas (AAOUP). O que vi e ouvi – em ensaios e no Sarau em colaboração OUP/AAOUP (Coliseu do Porto, 1972/04/289 – confirmou-me as rememorações de orfeonistas mais veteranos. Rosa Araújo possuía uma guitarra GRÁCIO de construção já antiga – julgo até que de algum dos antecessores de Gilberto Grácio –, de escala macia e de sonoridade límpida; dela extraía um som puro – eventualmente a fazer lembrar Eduardo de Melo – embora não excessivamente possante. O seu repertório era tradicional, inclusive nas introduções de «fados»; e, naturalmente, no plano instrumental Artur Paredes tudo sobrelevava: ouvi-lhe as «Variações em Sol Maior» e «em lá menor» [n.º 1]; estas últimas executou-as no referido Sarau (com Serafim Guimarães [g.] / Fernando Reis Lima e José Alão [vv.]: a ‘concatenação’ com o «2.º guitarra» era notável, chegando a alternar a abordagem solística de frases; por sorte, esta peça (bem como «A Água da Fonte», tema vocalizado por Óscar França) ficou registada no LP antológico do Sarau em causa (ed. Arnaldo Trindade, 1973).

Obs.: Sobre este executante cf. o trabalho de minha autoria cit. supra, a propósito de Alexandre Brandão, p. 118; agradeço ao Prof. Doutor Serafim Guimarães as informações que me facultou.


"Fado em Dó" de Borges de Sousa (1) Posted by Hello


"Fado em Dó", de Borges de Sousa. Esta partitura foi editada no livro aqui anunciado, "Flávio Rodrigues da Silva - Fragmentos para uma guitarra", de António Manuel Nunes e José dos Santos Paulo. Foi transcrita por mim, a partir de uma gravação já pouco perceptível, facto que faz com que a fidelidade não seja a melhor. A escrita está propositadamente simplificada, para fácil leitura de principiantes, Não faço distinção nas vozes, como se de uma apenas se tratasse. Posted by Hello


"Flávio Rodrigues da Silva - Fragmentos para uma guitarra". Livro escrito por António Manuel Nunes e José dos Santos Paulo e editado pela MinervaCoimbra, em 2002. Livro de imenso interesse para o conhecimento de um dos grandes guitarristas de Coimbra da primeira metade do século vinte. Nele se fica a conhecer uma parte significativa da sua história, do que gostava de tocar, com quem o fazia, o que compunha, etc. António Nunes é um historiador já bem conhecido pelo seu empenho na preservação e catalogação de todo o espólio musical e escrito referente a Coimbra e, por isso, o trabalho ficou em boas mãos.. As partituras insertas, bem elaboradas, ajudam aqueles que pretendam embrenhar-se mais a fundo na música daquele guitarrista. José Paulo é um estudioso da guitarra já há alguns anos, o que dá garantia de seriedade nestas transcrições. Foi em boa hora que os "Salatinas" se dispuseram a comemorar o primeiro centenário do nascimento de Flávio Rodrigues. Daí nasceu o lançamento de um livro, o que é muito de louvar e uma ideia para continuar!... Os autores, António Nunes e José Paulo, estão de parabéns. Há, agora, que não perder a pedalada. Posted by Hello


Sérgio Azevedo recebendo dois primeiros prémios de Composição, um de Música Sinfónica e outro de Música de Câmara, atribuídos pela Câmara de Lisboa, quando Jorge Sampaio presidia à respectiva Câmara. No ano seguinte, voltou a ganhar o primeiro de Música Sinfónica.Já lá vão uns bons anitos! Agora já não há dinheiro para concursos. Somos um país de tanga ou da tanga? Posted by Hello


Estudo 1 Posted by Hello


Estudo 2 Posted by Hello


Estudo para viola de Octávio Sérgio com acompanhamento de Sérgio Azevedo. Estava eu ao computador a acabar de passar para este, já la vão uns bons anos, uma partitura minha já muito antiga - dos tempos em que me dediquei à viola exclusivamente - quando tive que me ausentar por alguns minutos. Quando retomo o meu lugar frente ao computador, deparo com uma segunda linha no meu estudo. Como é possível? Mas rapidamente concluo que o meu filho Sérgio Azevedo me tinha pregado uma partida. Fiquei com curiosidade de ouvir o que ali estava. Que sonoridade! O meu fraco estudo até parecia uma peça de concerto! Já não apaguei a nova linha nem barafustei com ele e, agora, não concebo sequer o estudo dissociado do acompanhamento. Experimentem pôr no computador e ouvir! Ou então, tocar! Posted by Hello


Antigos Orfeonistas no Brasil em 2004. Arte e descanso por alguns dias! Posted by Hello


Por vezes uma fotografia é inoportuna! Acontece frequentemente! Posted by Hello

sexta-feira, março 25, 2005

Bloco de Notas (4)

1979...Chegou ao fim o Seminário sobre o Fado de Coimbra. Armando Carvalho Homem, acompanhado à guitarra por Mário Freitas (actualmente médico cirurgião com clínica privada de gastrenterologia e medicina interna) e à viola pelo filho, Armando Luís de Carvalho Homem, tocou na Sé Velha o seu Ré menor. Disse-me que queria fazer um teste com público para ver se não se atrapalhava. Saíu bastante bem. Tira um belíssimo som da guitarra. Percute as cordas com uma pancada seca de muito bom efeito. Usa unha de plástico, comprida, apenas com o bico cortado, um pouco em diagonal, descaída para o dedo médio.
Faço aqui um pequeno parêntesis nas notas do bloco para referir que Armando Carvalho Homem foi meu professor de Matemática no quarto ano de liceu (agora oitavo). A sua especialidade era Físico-Químicas mas, naquele ano, teve que leccionar Matemática; mas Carvalho Homem saiu-se muito bem, e eu aprendi o suficiente para, no ano seguinte, enfrentar o exame final de Ciclo e passar com nota razoável. Eu mesmo, no primeiro ano de trabalho em Portimão, leccionei Geografia ao terceiro ano (agora sétimo). Os meus estudos de Geografia foram de três anos no liceu. Claro que sabia apenas o trivial. Estou a falar disto porque, como autodidacta na execução da guitarra, tinha curiosidade de ver como eram os dedos do meu professor e como seriam as unhas. Então, quando ele saía, seguia-o para tentar perscrutar alguma coisa. Que me lembre, nunca vi o que pretendia! Na altura, Carvalho Homem tocava com outro professor de Matemática, José Serrão, também à guitarra, e o filho deste Augusto Serrão na viola. Ainda os escutei numa festa do Liceu. Fiquei entusiasmadíssimo com o som das guitarras.
Volto às notas do bloco
Escutei uma valsa denominada “Noite de Estrelas”, composta por um brasileiro Dilermando Barbosa e com arranjo para guitarra portuguesa de Alexandre Brandão (oportunamente sairá aqui um Post sobre este Grande Senhor da guitarra de Coimbra, da autoria de Armando Luís de Carvalho Homem), tocada pelo Mário Freitas. Que maravilha! E que bem tocada; execução primorosa, com uma sonoridade ímpar, aveludada... Como é que no Porto se toca assim? Já o Cunha Pereira, também do Porto, me tinha impressionado com a sua execução sem falhas, a tocar Jorge Tuna e Carlos Paredes como se tudo fosse muito simples! O “Movimento Perpétuo” saía sem mácula, como se a guitarra estivesse já ensinada! E com o acompanhante na viola, Carlos Teixeira, faziam uma dupla de respeito.
Está a chegar a data em que Hermínio Menino queria que eu fosse a Viseu dar um concerto de guitarra. Se tivesse quem me acompanhasse até seria capaz, embora fosse um pouco arriscado. Pelo sim pelo não lá lhe fui dizendo que este ano não podia ser.
Estive em casa dele em Viseu e toquei a minha “Fantasia - A Espanhola”. Disse-me que nesta peça não tenho já a influência de ninguém, que é uma música de todos os quadrantes.
Artur Paredes quando me ouviu tocar o meu “Ensaio nº 1” disse que a minha música era futurista, que sabia empregar muito bem os meios tons, que ficava acima dos guitarristas que conhecia, que não copiava nada de ninguém e que, o que fazia, era mesmo meu. Ele deve ter ficado de facto muito surpreendido, pois esperaria que eu tocasse tudo menos o que toquei! Penso que não acharia verosímil algum guitarrista de Coimbra tocar assim!
Lembro-me agora de uma apreciação feita por Fernando Xavier (cirurgião urulogista), guitarrista de altíssima sensibilidade, quando me ouviu tocar a minha música que começa em fá sustenido (a esta distância no tempo já não sei a qual se refere), no primeiro jantar a que fui na Valenciana, organizado pelos Antigos Estudantes de Coimbra, em Lisboa; “que era uma variação muito fina”.
Há dias fui actuar a casa do Tomé (lembram-se do solista tenor do Orfeon?), agora é criador de vacas. Continua com a mesma voz, muito boa para cantar ópera mas pouco apropriada para o fado de Coimbra Foi sardinhada e carne a granel; mas um ambiente demasiado conservador para meu gosto! Quando comecei a tocar – o Lá menor de Afonso de Sousa – senti que estava a tirar as notas das entranhas da guitarra. Poucas vezes tenho tido esta sensação! Levei no final uma ovação como nunca me acontecera! Os convidados, mais de cem, levantaram-se aos gritos e palmas, pedindo bis! Será que o fado de Coimbra está condenado a ser só apreciado pelos conservadores? A Esquerda abandona-o? Depois não se queixem! (Isto eram desabafos de quem ainda sentia bem de perto a transformação operada com a Revolução de Abril de 74).
Lembro-me agora que há pouco mais de um ano, quando toquei a primeira vez para os componentes do grupo do João Bagão, executei as “Folias” (não sei a que peça me refiro, pois os nomes mudaram, entretanto). Todos gostaram muito. Disseram que fazia lembrar danças dos séculos passados! António Toscano mostrou-se tão entusiasmado que até me pediu o número de telefone. Até hoje nunca me telefonou!. O curioso é que o João Bagão, que de vez em quando me convidava para ir assistir aos seus ensaios, nunca mais me convidou! Porquê? Cada um tire as suas conclusões.
Já consigo tocar o Si menor do Carlos Paredes, sem ter que parar na parte difícil. A dificuldade estava na mão direita! Agora, é a esquerda que tem que avançar mais, mas isso parece-me fácil de atingir. O problema é mais de memorização.
Hoje não fui a casa de Artur Paredes. Não sei se houve ou não, ensaio. Carlos Figueiredo nada me comunicou!
Vim a saber no dia seguinte que, afinal, houve ensaio em casa de Artur Paredes. Ficou muito aborrecido por eu não ter aparecido. Segundo me disse Carlos Figueiredo, estiveram mais de meia hora a tentar descobrir um tom dissonante e não o conseguiram Por fim Artur Paredes dizia que “se cá estivesse o Dr Sérgio já o tinha descoberto”! Também afirmou que eu a acompanhá-lo era um bocado duro, que por vezes me sobrepunha ao primeiro guitarra. É natural que assim seja,. Praticamente nunca tinha acompanhado ninguém (exceptuam-se as poucas vezes que acompanhei António Portugal; mas isso foi antes do interregno, já atrás referido, de cerca de dez anos)! Espero vir a melhorar. Se ele me tivesse dito isso quando o acompanhava, teria tentado melhorar, mas nunca me diz nada. Diz depois a Carlos Figueiredo. Parece ter receio de me melindrar! Seja como for, prefiro assim. Artur Paredes está sempre a implicar com Carlos Figueiredo, mal ele se engana em qualquer passagem. Eu não aguentava aquele tratamento!
Há dias num ensaio em minha casa, em Almada, toquei o Ré menor nº 1 de Artur Paredes. Foi um sucesso! O Xavier (E agora não sei se o Fernando se o Teotónio, pois tocava com os dois) disse que tinha sido divinamente tocado. Ferreira Alves (primeiro viola de Carlos Paredes, como já referi neste Blog) acrescentou que toco como Carlos Paredes. É bom ouvir estes desabafos, mas não me envaideço, porque sei que são ditos de entusiasmo momentâneo!
Não sei o que se passa com o Conselheiro Toscano. Foi para férias no Algarve, por quinze dias segundo disse e nunca mais deu notícias, já lá vai mais de um mês.Tinha ficado de telefonar assim que chegasse! Quando partiu, parecia disposto a gravar um disco com aquelas músicas que tão bem executa. Será uma lástima se aquilo se perder!
Tenho que fazer um parêntesis nas notas do bloco para referir que o Conselheiro Toscano, tio de António Toscano, viola de Luiz Goes, era um exímio guitarrista, daquela escola do tempo do António Menano. Tinha uma sonoridade à antiga, lindíssima, usando afinaçõs diversas. Também tocava muito bem piano. Compôs muitas peças para este instrumento. Eu só pensava em como seriam aquelas peças se as tivesse composto para guitarra! Era um Senhor!. Fui muitas vezes a sua casa, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, ouvi-lo e acompanhá-lo à viola!


"Folha a Folha" - componentes do Grupo: Jorge Cravo, Luiz Goes, Manuel Mendes, Manuel Gouveia Ferreira, Manuel Borralho e José Ferraz de Oliveira Posted by Hello


Disco "Folha a Folha - Canto e Guitarra de Coimbra" de Jorge Cravo. À guitarra, Manuel Borralho e José Ferraz de Oliveira; à viola, Manuel Gouveia Ferreira. Cantam Jorge Cravo e Luiz Goes. Este interpreta, como convidado, uma peça de Jorge Cravo. Os outros textos são de Manuel Mendes. A música é toda de Jorge Cravo. A apresentação do disco é do melhor que conheço. Edição de luxo, poderá dizer-se. Disco totalmente preenchido com originais o que é raro nos dias que correm. Sobre Luiz Goes nada há a acrescentar àquilo que já é do conhecimento público. Uma voz sem paralelo, apesar de já muito gasta pelo peso dos anos, continua a deliciar o ouvinte mais exigente. Daqui lhe envio um grande abraço e que continue assim por muitos mais anos! De Jorge Cravo tenho a dizer que fiquei a gostar da sua voz desde o primeiro disco que gravou, ainda em vinil, "Canções d'Aqui" com o "Grupo Académicon de Fados e Canções de Coimbra" (disco que a seu tempo aqui será focado). Tem boa técnica, faz bem os pianíssimos, bom timbre, voz clara, cristalina, com boa dicção, e com uma veia criadora invejável. A guitarra de Manuel Borralho , bem acompanhada por José Ferraz de Oliveira e Manuel Gouveia Ferreira (discretamente, mas com eficácia), está já num estádio de grande evolução. Explora o mais puro estilo clássico coimbrão, seguindo uma escola à Eduardo Melo com apontamentos à Jorge Tuna, provavelmente seus ídolos. Mas a música é mesmo dele. Não há aqui sobreposições. É bastante agradável ouvir este trio instrumental. Fico à espera do tão desejado disco com o Fernando Gomes Alves. Não deixem que aquela preciosa voz se perca; aproveitem enquanto dura. As suas composições são do melhor que há. Força, para a frente, pessoal! Sobre a poesia, nada como ler o que Manuel Alegre escreveu para este disco. Aqui vai parte do texto: "Este é um disco raro. Pelo timbre excepcional da guitarra de Manuel Borralho, pelo cristal da voz de Jorge Cravo, que parece ter vindo da Provença até nós, pela qualidade dos poemas de José Manuel Mendes, que trazem à canção de Coimbra um lirismo depurado e renovado..." Agora aqui vai o final do texto de Rui Pato: "...Que bonito presente que vocês ofereceram a todos os que gostam da música de Coimbra e, que nele, encontrarão, por ventura, algumas das respostas à inquietante questão de saber quais serão os seus novos rumos".Transcrevo, agora, um pouco do grande texto, escrito por Armando Luís de Carvalho Homem: ...Ao longo desses meses, por mais do que uma vez tenho a oportunidade de conversar com José Ferraz de Oliveira sobre o trabalho que vem desenvolvendo com Manuel Borralho e Gouveia Ferreira, e os cantores Fernando Gomes Alves, Jorge Cravo e, pontualmente, outros ainda. Diz-me JFO que poderá parecer prosápia, mas às vezes há no grupo a sensação de que, ao fim de longos anos de trabalho conjunto, estão a conseguir um som próprio. Opino que não há aí prosápia alguma: em meu entender o grupo tem efectivamente uma maneira de tocar muito "sui generis" e de qualidade fora do comum; e importaria registar em CD os múltiplos temas (vocais e instrumentais) que constam do reportório respectivo". Posted by Hello

quinta-feira, março 24, 2005


"Antologia do Fado de Coimbra" de Carlos Caiado. Este livro que Carlos Caiado teve a amabilidade de me oferecer no ano de 1993, foi editado em 1986, era então Carlos Caiado estudante de Engenharia Civil na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Hoje é um distinto (ou disbranco!) engenheiro e meu colega no coro dos Antigos Orfeonistas e toca viola no Grupo de Fados deste mesmo grupo, onde eu também participo. É um livro de muito interesse para aqueles que pretendam aprender letras e músicas de temática coimbrã ou tão somente revisitar os lugares por onde passaram nos anos que permaneceram em Coimbra. Além de boas e sugestivas fotografias enquadradas no contexto dos fados, o livro ainda tem textos alusivos às temáticas abordadas nas letras dos próprios fados, assim como textos referentes às regiões donde alguns provêm. Não resisto a transcrever o final do prefácio escrito por Luís Plácido: ..."A propósito dela (a antologia) diremos, como alguém disse dos seus críticos: Quem faz alguma coisa, tem contra si aqueles que não fazem nada; as que gostariam que se não fizesse; e os que desejariam fazer a mesma coisa". Recomendo vivamente este primeiro volume e ficamos à espera do segundo. Só uma sugestão, amigo Carlos Caiado: Que agora as partituras sejam feitas em computador!. É brilhante e tem muito mérito o trabalho realizado à mão mas, por vezes, fica-se na dúvida se uma nota está numa linha ou num espaço. Com a precisão do computador, as dúvidas desaparecem!  Posted by Hello


Disco "Vagamundo - Estranha forma de fado". Intérpretes: Jorge Menino em guitarra, Bruno Pato na viola e a cantar Sónia Lisboa. É um disco de facto estranho, já que os acompanhantes são de escola coimbrã e a cantora interpretra fado de Lisboa. Resulta muito bem. Os instrumentistas são bastante criativos e sabem bem manejar os instrumentos. A cantora, Sónia Lisboa, tem uma voz que encanta qualquer um. Belo timbre, grande potência e sabe cantar como as grandes senhoras do Fado. Estou a escrever este texto e a ouvir o fado "Lágrima" . É comovente! Não fica a dever nada a Amália Rodrigues. Na "Rosa Engeitada" que ouço agora, vem-me à lembrança a grande senhora que foi Teresa de Noronha. Dois estilos parecidos, ambos do melhor que há. Parabéns ao grupo! Posted by Hello


Livro "Carlos Carranca - Miguel Torga e a África Portuguesa". Edições Universitárias Lusófonas, de 1995. Carlos Carranca ofereceu-me este livro em Maio daquele ano, aquando de uma sua apresentação em público a cantar o fado de Coimbra, acompanhado por mim e pelo Durval Moreirinhas. Neste livro os poemas não são dele. Aqui faz apenas prosa. Diz M. L. Rodrigues de Areia no final da "Nota Preliminar" incluída no livro "...O mérito desta recolha está em descobrir a faceta africana de Torga, um ponto alto da vida do poeta, fixado com grande sensibilidade por Carlos Carranca, que me surpreendeu e não poderá deixar de tocar os leitores". Além de escrever e cantar, Carlos Carranca tem outra grande virtude. É um "doente" pela Académica, a nossa "Briosa". Encontro-o amiúde, aos domingos, no Estádio Cidade de Coimbra para apoiar a equipa de todos nós. Com apoios destes a Briosa não morre! Posted by Hello


Disco "Quinteto de Coimbra - Guitarra e Canção de Coimbra". Grupo formado por Ricardo Dias à guitarra, Nuno Botelho e Pedro Lopes à viola e a cantar, Patrick Mendes e António Ataíde. Disco com alguns inéditos, o que é sempre de louvar. As vozes ouvem-se com muito agrado e a guitarra de Ricardo Dias mostra muita personalidade. Paredes, Brojo e Melo, bem interpretados. O disco acaba com o instrumental "Homenagem", do próprio Ricardo Dias. Bem construído, fica-nos a ideia que, com pequeno esforço, daqueles dedos poderão futuramente nascer mais e ainda melhores peças. Ficamos à espera. A amostra é boa; venha o resto. Posted by Hello

quarta-feira, março 23, 2005


Disco "O Canto e as Armas" de Adriano Correia de Oliveira Posted by Hello


Capa do livro "O Canto e as Armas" de Manuel Alegre Posted by Hello

“O Canto e as Armas” de Manuel Alegre

Um livro editado pelo autor em 1970, com um símbolo na capa e no interior a dizer "Poesia, Nosso Tempo". Poemas da clandestinidade, no tempo em que não era permitido expressar opinião diferente da oficialmente estabelecida.
Não se podia chegar a uma livraria e perguntar, como eu fiz mais que uma vez, se tinham, por exemplo, o livro de Aquilino Ribeiro, “Por quem os lobos uivam”. Olhavam-nos de alto a baixo, com ar de desprezo, pensando que éramos da PIDE e ali íamos tirar nabos da púcara. Ou se era conhecido, suficientemente bem, pelos livreiros, ou então nada feito. Muito poucos arriscariam a fornecer a um desconhecido uma obra registada no Index. Manuel Alegre era um desses autores proibidos.
Lembro-me de um dia encomendar uma centena de exemplares à sua mãe, não me lembro se deste livro se da “Praça da Canção”, também da autoria de Manuel Alegre, para o meu amigo Achando, em Almada, da Livraria Académica. Mas tudo feito sigilosamente, com o máximo cuidado. Vim a saber depois que a encomenda foi entregue.
Adriano Correia de Oliveira gravou um belo disco, exactamente com o título “O Canto e as Armas”, numa edição Arnaldo Trindade, no ano de 1969, com uma reedição em CD em 1994 pela Movieplay, fazendo parte da obra completa de Adriano, já referida neste Blog. O acompanhamento à viola está a cargo de Rui Pato que, como sempre, enriquece os textos e a voz, com a sua mestria amplamente reconhecida, desde as primeiras baladas de José Afonso.
Na face 1 do disco os textos são deste livro, começando pelo Canto I, Peregrinação. Se estes poemas são sublimes, só uma música também sublime os poderia envolver. E é exactamente isso que acontece. Parece estarmos em face de um compositor de música erudita, pela maneira como os poemas estão trabalhados.
Na face 2 deste disco, só dois poemas não são de Manuel Alegre: um é de António Cabral e o outro de José Afonso. Os que se seguem, “Canto da nossa tristeza”, “Trova do vento que passa nº 2” e “As mãos”, antecedem um “Post-Scriptum” com este final empolgante: “Sobre esta página escrevo o teu nome, LIBERDADE!” Um final em que Manuel Alegre e Adriano nos levam a um novo mundo, sem amarras nem mordaças.
Outros poemas deste livro estão também musicados, alguns ainda por Adriano, outros por António Portugal, josé Niza, J. Fernandes e Francisco Martins.
A poesia de Manuel Alegre é uma poesia muito musical. Destila música por todos os poros, pode dizer-se. António Portugal, a par de Adriano, soube também captar a poesia do seu cunhado, tendo escrito belas peças que a seu tempo aqui serão focadas.
Vou transcrever um texto de Adriano Correia de Oliveira inserto na primeira edição do disco “O Canto e as Armas”.

O trabalho que agora se submete à apreciação do público, leva-nos a algumas considerações, que cremos oportunas, explicativas da sua razão de ser.
Diremos, assim, que a forma de expressão de que se socorre, impropriamente designada por “balada”, é antes o resultado da fusão numa forma simples de dois tipos de linguagem – a da música e a das palavras. Assim, a expressão musical e a literária, se harmonizam e se fundem num todo, em que cada uma, para se atingir perfeita realização, terá igual papel e deverão servir-se mutuamente. Não se trata efectivamente de poesia musicada ou de música que utilize as palavras como mero suporte.
Nestas cantigas o modo de expressão resultante, utiliza-se de uma linguagem a um tempo musical e literária.
Ao musicar a primeira parte de “O Canto e as Armas”, tentou fazer-se uma experiência nova, realizando uma obra de maior fôlego que o normal, que ultrapassa pelo menos a sua extensão convencional. Trata-se, com efeito, de um poema em sete partes com perfeita sequência lógica, cuja unidade se obteve pela utilização de um tema musical comum que é diversificado consoante as características de cada parte e as necessidades de desenvolvimento ao longo da própria estrutura da “Origem, Peregrinação, Regresso”, I parte de “O Canto e as Armas”
Neste trabalho, queremos referir a ajuda preciosa nos acompanhamentos, do talento do Rui Pato, um dos principais obreiros de todo o movimento de recriação, iniciado nos últimos anos e lançado pelo virtuosismo indesmentível e espantosa capacidade criadora – e isto, sem esquecer os antecedentes contributos que o possibilitaram – do seu primeiro representante.
Além disso, o Rui Pato, é pelas circunstâncias da sua vida actual, um símbolo daqueles a quem gostaríamos de dedicar, fraternalmente, este modesto trabalho, exprimindo-lhes assim a nossa mais viva camaradagem e solidariedade.
Convirá ainda lembrar,que em toda a “viragem” à realidade, aos problemas concretos da nossa vida colectiva, que consideramos conteúdo e razão de ser deste movimento que cresce em múltiplas formas (com a consequente recusa de quaisquer tendências alienatórias, de tipo musical ou literário), tem importância fundamental, a acção dos estudantes portugueses no seu esforço irreprimível pela valorização da nossa sociedade e também de cada vez mais amplas camadas da população, representando todos o seu suporte social.

terça-feira, março 22, 2005


Tempos Idos - Cassete. Gravação feita em 1995, editada pela Public-Art. Em guitarra: Octávio Sérgio, José Paulo e Virgílio Caseiro. À viola: César Nogueira. Vozes: José Paulo, Virgílio Caseiro e Rui Silva. Esta cassete foi gravada para levar à Alemanha, numa digressão efectuada nesse ano por este grupo.. Posted by Hello


"Tempos Idos" de Virgílio Caseiro. Partitura tirada do livro anunciado acima e passada por mim a computador. É um fado de Coimbra de rara beleza e de um grande sentimentalismo. Retrata o afecto de um filho a sua mãe apoiado numa música comovedora e triste. Virgílio Caseiro é um músico a sério e esta peça é daquelas que contribui, decisivamente, para o enriquecimento do espólio do fado coimbrão. Este fado foi gravado em cassete, no ano de 1995 pelo próprio autor a cantar, acompanhado por mim e José Paulo à guitarra com César Nogueira na viola. Posted by Hello


Disco Tertúlia do Fado de Coimbra - Amanhecer rm Coimbra Posted by Hello


Tertúlia do Fado de Coimbra - Amanhecer em Coimbra Posted by Hello

Tertúlia do fado de Coimbra – Amanhecer em Coimbra

Disco editado em 1993 pela Editora Edisco, contendo alguns inéditos. Destaco aqui os escritos por Eduardo Aroso, poeta e músico já com grande curriculum. São fados que não seguem a tradição das duas quadras, com temas focando a beleza da cidade e as suas tradições. Boas peças para apreciadores exigentes e muito bem interpretadas pelas vozes magníficas de Joaquim Matos – um barítono de bom timbre e que sabe cantar – e de José Paulo – um tenor com voz educada e de bom timbre também, onde não se nota uma falha por mais pequena que seja. A propósito de José Paulo há quem o critique dizendo que é certo de mais!
João Anjo tem aqui uma preciosidade no estilo clássico – não esqueçamos a sua idade a rondar os noventa anos!
Victor Nunes surpreende-nos. Só lhe conheço esta “Elegia ao Amor”, mas foi um momento de grande inspiração. Está bem interpretada.
Nuno de Carvalho é um intérprete calhado para o folclore e é isso que explora, com inteligência.
José Miguel, uma voz sempre certa, com um timbre apropriado para as baladas, fez bem em voltar a trazer à ribalta o Eduardo Melo.
As guitarras estão perfeitamente enquadradas com os fados, distanciando-se do tradicional, procurando novos rumos no acompanhamento. Os instrumentais de Álvaro Aroso têm um cunho pessoal. Só podem ser dele; e estão bem interpretados.
E Carlos Teixeira, sempre certinho, lá vai passando despercebido, como os bons árbitros. Se ninguém dá conta que estão em campo, é porque fizeram uma boa arbitragem.

segunda-feira, março 21, 2005


Capa do disco "Janita Salomé - Melro". Gravação inicial em 1980, pela Orfeu-Arnaldo Trindade e reeditado em 1993 pela Movieplay em formato CD. A primeira parte do disco é preenchida com cações. Começa com "Os Homens do Largo", com um acompanhamento magistral à guitarra por Pedro Caldeira Cabral. A segunda parte é de fados de Coimbra de António Menano, com uma guitarrada, tocada por mim, de nome "Variações em Lá maior" de António Rodrigues (António das Águas). Eu fiz o acompanhamento dos fados à guitarra e o Durval Moreirinhas tocou viola. Como segundo guitarra actuou o Pedro Caldeira Cabral. Fez imensos contracantos magníficos, absolutamente fora da vulgaridade, no entanto, o disco é editado sem esses contracantos. Nunca cheguei a saber o porquê dessa decisão nem de quem foi a responsabilidade. Se tiverem oportunidade, ouçam o disco muito em silêncio e ainda conseguirão ouvir qualquer coisa bem lá no fundo. Foi aquilo que não conseguiram cortar, por ter sido captado nas outras pistas. Na guitarrada, fui acompanhado por Durval Moreirinhas à guitarra e Fernando Alvim à viola. Foi de improviso, pois só depois de se gravar o último fado é que sugeriram a inclusão de uma guitarrada no disco. Fomos gravar no dia seguinte... Posted by Hello


Mauro, Cristina e Sérgio, os meus três filhos, por ordem crescente de idades, em casa do Sérgio, em S. joão do Estoril, em Agosto de 2003. Posted by Hello

Bloco de Notas (3)

1979 ... Fui hoje a casa de Artur Paredes para a sessão semanal de guitarra. Toquei o meu Ré maior por sugestão de Carlos Figueiredo. Com as suas poucas falas sobre as obras dos outros, disse-me que tinha coisas muito boas.
Tocou depois o novo Sol maior. Já se convenceu que o método de Carlos Figueiredo, de apontar os tons no papel, dá resultado. A peça está constantemente a mudar de tom, o que torna extremamente difícil fixar as mudanças. Escrevendo, fica a questão resolvida.
Artur Paredes disse que saiu de Coimbra aos trinta e quatro anos e que seu pai se suicidou quando tinha dezasseis. Como fez em dez de Maio 80 anos, nasceu em 1899, saiu de Coimbra em 1933 e o pai, Gonçalo Paredes, morreu em 1915.
Durante a sessão, Artur Paredes confessou que, embora se zangasse muitas vezes com o filho, Carlos Paredes, mesmo nestas ocasiões este era muito delicado para ele, acrescentando também que a sua dedicação era maior que a da irmã.
Há dias em conversa com Jorge Morais, Xabregas, soube que Edmundo de Bettencourt um dia, a cantar num espectáculo no Porto, se não estou em erro, deu uma tal fífia, que nunca mais teve coragem de enfrentar o público. É que, na segunda quadra, quando todos esperavam que se redimisse, voltou a falhar duma maneira ainda mais escandalosa. Foi o fim da carreira ao vivo. Por este facto, a sua projecção não era grande. Foram posteriormente os discos que o projectaram ao pedestal em que se encontra agora.
Continuando a falar da conversa com Xabregas, este afirmou ainda que António Menano cantou sempre em público até morrer. De Artur Paredes diz que guitarrista assim nunca houve nem haverá. Mas, ironia, não dá o devido valor a Carlos Paredes. Disse também que morou na mesma casa que o Bettencourt. Afirmou que o seu célebre Lá menor foi composto numa tarde. Saíu-lhe quase de improviso e à noite já estava a tocá-lo num espectáculo.
Acrescentou ainda que não ficou satisfeito com o facto de, no seminário sobre o fado de Coimbra deste ano, Luís Goes ter dito que o Bettencourt teve maior aceitação no público que o Menano, pelas razões já atrás expostas.
Musiquei um soneto de António Nobre, “As Virgens” e mostrei-o ao Machado Soares. Este disse-me que não gostava totalmente dele porque não era redondo! De facto não é. Está sempre num crescendo.
Encontro aqui notas sobre o progresso na execução do instrumento. Leio no bloco a seguinte frase: já não é preciso aquele “aquecimento” muito meu característico. Quero dizer com isto que começo logo a tocar razoavelmente sem ter que aquecer os dedos primeiro. Isto levou-me a recordar um episódio dos tempos de liceu. Nessa altura também tinha que estar um bocado a “esgalhar” para aquecer os dedos. Tocava com o Fernando Rebelo e o José Maria Barros Ferreira. Quando eu dizia que tinha que aquecer os dedos primeiro, ou me enganava - a justificação era o não estar ainda quente - o Rebelo virava-se para o Barros Ferreira e dizia: vai buscar a lamparina para ele aquecer os dedos! Bons tempos...
Artur Paredes está a gostar bastante de tocar o Sol maior, agora com acompanhamento. Tocámo-lo imensas vezes, e via-se que de facto, estava bastante entusiasmado. Carlos Figueiredo anda a convencê-lo a gravar. Na verdade tem imensos inéditos e será uma enorme perda se ficarem na gaveta. Ao menos gravá-los em casa para se não perderem. É curioso que por vezes, nas novas peças, se ouve uma frase de outras já gravadas, como por exemplo num Ré menor, em que a meio, toca o começo do Ré menor das primeiras gravações. Nunca está satisfeito com o que faz. É muito difícil acompanhá-lo, pois nunca se tem a certeza da frase que se segue. Pode já tê-la mudado! Os apontamentos dos tons têm que ser semanalmente revistos.
Estive duas noites em casa do Durval Moreirinhas com o Rui Gomes Pereira. Estamos a ensaiar para futuramente actuarmos em Casas de Fado. Toquei as minhas variações em Lá e os dois, gostaram muito, especialmente o Rui. Este dizia que, ao ouvi-las, lhe apetecia acompanhá-las a cantar. O Ré maior também não foi mal recebido.
Novamente em casa de Artur Paredes e um desabafo: Acompanhar aquele Sol maior é mesmo difícil.
Tenho outra notação mais à frente, no bloco, que diz o seguinte: normalmente, ao ouvir pela primeira vez uma música, esta me parece melhor do que na realidade é. Já com as variações em Sol de Artur Paredes, à medida que as vou ouvindo e aprendendo o acompanhamento, fico a gostar mais delas...


Oliveira do Bairro - Grupo de amigos. Estive ontem em Oliveira do Bairro com o grupo que se vê na foto, num almoço no restaurante do Hotel Paraíso, a convite do "Círculo de Cultura Musical da Bairrada", através de Manuel Borras. Comeu-se bem e bebeu-se ainda melhor. Foi uma tarde agradável. Não é muito habitual os instrumentos verem a luz do dia. Normalmente só actuam de noite! Na foto, da esquerda para a direita e de pé, estão: Manuel Dourado, Silas, Manuel Borras, Carlos Teixeira, e Jorge Rino. Em baixo: Octávio Sérgio, José Paulo e José Rocha. Esteve ainda Ulisses Carvalho que não está na fotografia. Posted by Hello

domingo, março 20, 2005


Caricatura de Octávio Sérgio, por António Ralha.Estávamos no Natal de 1988, no jantar de fim de ano na Escola Avelar Brotero, em Coimbra, quando o meu grande amigo António Ralha, aproveitando o cartaz de Boas Festas, com a ementa do jantar, que se encontrava em cima da mesa, resolve pegar numa caneta e começar a desenhar. Sai a minha caricatura! Naquela altura não conhecia o jeito dele para esta arte. Estava há pouco mais de um ano a leccionar Físico-Químicas naquela escola e pouco contacto tinha ainda com o Ralha. Fomos companheiros de "Luta" em Coimbra enquanto estudantes, mas eu segui depois para o sul, acabando por permanecer em Almada, por acidente, bastantes anos. Foi, pois, uma surpresa bastante agradável a que me fez!... Digam então se estou parecido! Eu era bastante mais novo que agora! E já que falei em ementa, aqui vai ela: Caldo verde, Bacalhau à moda da Beira, Rabanadas, Bolo Rei, Frutas secas, Fruta da época, Vinho e Café ... Bom apetite. Posted by Hello

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