sábado, julho 02, 2005


Partitura de "Variações de Coimbra" (1) de Afonso de Sousa. Posted by Picasa


Partitura de "Variações de Coimbra" (2) de Afonso de Sousa. Posted by Picasa


Partitura de "Variações de Coimbra" (3) de Afonso de Sousa.
Esta magnífica guitarrada foi excelentemente executada e gravada por Jorge Tuna no seu primeiro EP, quando ainda estudante. O próprio autor se referiu a este facto, dizendo que Jorge Tuna a tinha tocado melhor que ele. Existe, pois, uma gravação pelo próprio Afonso de Sousa, ainda em discos de 78 rotações.
Segue-se um texto de António M. Nunes sobre esta peça.
"VARIAÇÕES DE COIMBRA", em compasso 4/4 e tom de Lá Menor, é peça instrumental para Guitarra Toeira de Coimbra, já com a nova afinação popularizada por Artur Paredes. Foi composta em 1928 e gravada por próprio autor em Guitarra TC, com acompanhamento de violão aço por Laurénio da Silva Tavares. A gravação decorreu em Lisboa, no 2º semestre de 1929, e foi editada no 78 rpm Columbia J 895, figurando na outra face uma versão instrumental do lisboeta "Fado Liró" (de Nicolino Milano). Na referida sessão fonográfica, AS gravou ainda as matrizes de Variações em Lá Maior, Motivos Populares, Temas Tristes e Variações em Ré Menor, todos da autoria do executante leiriense. Infelizmente, das muitas gravações em que participou AS, nem todas foram comercializadas, particularmente do próprio, de Bettencourt e também de Armando Goes.
"Variações de Coimbra" entrou no repertório da CC e veio a ser magnificamente reinterpretada por Jorge Tuna/Jorge Godinho/Durval/Tito, num Ep de ca. 1960, editado pela Alvorada. Tuna acelerou o andamento de alguns compassos, mas AS achou que a reinterpretação estava melhor do que o original. A versão Tuna consta do Cd "Jorge Tuna. Coimbra, Porto, EDISCO, ECD 133, ano de 2000, faixa nº 12, numa reedição criminosa que não identifica autorias nem matrizes originais de gravação.
Afonso de Sousa (1906-1993) nasceu e faleceu em Leiria, tendo estudado Direito na UC entre 1924-193o. Bem pode ser considerado, e com inteira justiça, o pai da 2ª guitarra de Coimbra, além de figura graúda da chamada "Década de Oiro". No próximo ano passará o centenário do nascimento de Afonso de Sousa e de Armando Goes. Oxalá se possa estudar, reeditar fonograficamente e transcrever as peças destes intérpretes e criadores da CC.

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"Coimbra ao Entardecer". Quadro pintado por Humberto Matias, ilustre pintor, tocador de viola e cantor de Fado de Lisboa, como se pode comprovar, consultanto os Posts dos dias 1 de Abril, 31 de Maio e 1 de Junho. Humberto Matias teve a gentileza de me oferecer esta magnífica pintura que veio enriquecer o aspecto da minha sala de convívio. Posted by Picasa

sexta-feira, julho 01, 2005


Partitura de "O Fado Variado" (1) de Francisco Lopes L. Macedo. Posted by Picasa

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Partitura de "O Fado Variado" (2) de Francisco Lopes L. Macedo. Posted by Picasa

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Partitura de "O Fado Variado" (3) de Francisco Lopes L. Macedo.
Peça de muito bom gosto, embora me pareçam um pouco descabidas as subidas e descidas cromáticas que por lá aparecem.
Segue-se um texto sobre esta peça de António M. Nunes.
"O FADO VARIADO" (para piano) é uma composição instrumental da autoria de Francisco Lima de Macedo Júnior, da 1ª metade da década de 1880 (ca. 1880-1885), em compasso 4/4 e tom de dó menor, em "andamento de tango", bem estruturada e bastante agradável à outiva. Pode ser recriada a título exemplificativo do repertório da CC para salão oitocentista burguês, com uso de guitarra/piano/violino, ou guitarra/piano/violão aço.
A transcrição foi efectuada por Octávio Sérgio em 2002, a partir da solfa manuscrita autógrafa recolhida por António M. Nunes.
Francisco Luís Lopes Lima de Macedo Júnior, filho do músico Francisco Lima de Macedo, nasceu em Coimbra por volta de 1859. A família Lima de Macedo herdara boa parte do espólio de José Maurício (famoso autor de modinhas) e possuía uma bem apetrechada biblioteca musical comprada em Lisboa e Porto, ou mesmo importada de França e de Itália. Macedo Pai chegou a editar música para as igrejas locais e teatros, sendo bem conhecido em Coimbra como compositor sacro.
A partir de meados da década de 1870, Lima de Macedo Júnior começa a deixar rasto, primeiro ligado à orquestra do Teatro Sousa Bastos, depois como Bedel da Faculdade de Teologia da UC, organista titular da Real Capela da UC, e professor de Música do Liceu de Coimbra. Macedo Júnior esteve duradouramente associado ao que se ia fazendo em Coimbra em termos de música sacra, récitas de amadores populares e récitas estudantis. Regeu ainda a Tuna Académica (TAUC) entre 1900-1905 e esporadicamente em 1909. Após a Revolução de 1910, e por impossibilidade do lente Simões Barbas, Macedo Júnior foi convidado a assegurar a cadeira de Música da UC.
Possuímos outras belas composições deste esquecido autor que talvez venham a ser divulgadas em futuro não muito distante.
Francisco Lima de Macedo Júnior faleceu na sua casa de Assafarge, arredores de Coimbra, no mês de Novembro de 1939. Dele apenas conhecemos uma fotografia inserta na revista Illustração Portugueza, I Série, Ano de 1902, relativa à exibição da Récita do 5 Ano Jurídico de 1902 no Teatro Nacional de São Carlos perante a Família Real em Abril desse ano. Para os que gostam de apoucar a CC como um género artístico "menor" que não valeria a pena estudar, talvez valha a pena redescobrir a obra de Lima de Macedo Júnior e de outros "macedos" que andam esquecidos.
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quinta-feira, junho 30, 2005

Comentários de Armando Luís de Carvalho Homem ao texto que se segue de António M. Nunes

É «vox populi» na Academia do Porto que a versão feminina do traje académico remonta aqui aos anos 40, no âmbito do Orfeão Universitário do Porto, primeiro Coro Universitário misto a nível nacional (experiência pioneira em 1937, continuada sem soluções a partir de 1942/43). Mas em tudo isto só conheço testemunhos orais, apontando o uso de um «tailleur» preto não-estandardizado sob a capa. Bem poderia valer a pena um contacto com ex-OUP's como Flávio Serzedelo de Oliveira, Rui Vasconcelos Bessa ou Raul Barros Leite, todos eles geralmente bem informados. A Associação dos Antigos Orfeonistas da UP (AAOUP) tem actualmente sede em edifício anexo à Fac. Direito (ex-Engenharia), à Rua dos Bragas.
O texto de António Nunes é, como sempre, um óptimo e bem documentado contributo. Para ele um permanentemente renovado abraço.
Segue-se um segunco comentário:
Os naipes femininos surgiram no OUP logo em 1937, no Sarau de Gala comomorativo do Centenário da Academia Politécnica (antecessora das Facs. de Ciências e, indirectamente, de Engenharia), sob a regência do Maestro Afonso Valentim (da Costa Pinto, 1897-1974), que depois a manteria de 1942 a 1967; as Senhoras envergaram então blusa branca e saia preta talar. Em momento subsequente terão colocado nos saraus uma capa sobre este conjunto. E num 3.º momento surgirá então o «tailleur» preto de características não-estandardizadas (julgo que nos anos 40 seria bem mais corrente que hoje uma jovem universitária ter uma tal peça no seu-guarda-roupa, e como que intuitivamente se pensar nela para complemento da capa). Mas faltam-me, evidentemente, dados cronológicos mais concretos. Uma consulta a nomes como os mencionados e a algum dos raros sobreviventes desse tempo poderá ser útil. Acrescentarei o nome do antigo estudante de Matemática JOÃO DOMINGOS, muito interessado na Tradição Portuense, actualmente doutorando numa Universidade inglesa (o Paulo Soares conhece-o, e talvez possua o contacto).
Armando Luís de Carvalho Homem.

Na Passagem dos 50 anos da institucionalização do Traje Académico Feminino na Universidade de Coimbra, por António M. Nunes

No final da palestra proferida pelo Dr. Jorge Cravo sobre a Canção de Coimbra na década de 1980, no passado dia 28 de Junho, o ilustre advogado e guitarrista do grupo Toada Coimbrã, Dr. João Paulo Sousa, lamentou que em 2004 ninguém se lembrou de assinalar em Coimbra os 50 anos da oficialização do Trajo Estudantil Feminino.
Também eu lamento esta vergonhosa amnésia, meu caro João Paulo. Não caberia a instituições como a Direcção Geral da AAC, Conselho de Veteranos, Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra e suas delegações regionais, Museu Académico, Reitoria da UC (esta para mais a editar a aparatosa revista Rua Larga), comemorar condignamente tal acontecimento? E os docentes titulares da cadeira de História da Universidade de Coimbra, da FLUC estudaram ou publicaram alguma coisa?
Tanto património cultural e simbólico desperdiçado! Onde está a monografia? Onde está o catálogo ilustrado? Onde estão as entrevistas à protagonistas ainda vivas? Onde se fala dos organismos estudantis mistos que mais divulgaram esse trajo na década de 1950, particularmente TEUC, Coral das Letras e Coro Misto?
Não cabe seguramente a um antigo estudante de Coimbra, como eu, destituído de meios económicos, documentais e institucionais, suprir aquilo que é obrigação de quem gere os meios no próprio local. Mas, verdade seja dita, todas as santas vezes que alguém quer fazer alguma coisa com mais credibilidade sobre a História dos Costumes Estudantis de Coimbra, "aqui-del-rei quem tem o telefone do António Nunes". Quase apetece dizer, então as pessoas ocupam os cargos e depois não sabem fazer? "Coimbra, cidade do conhecimento" é só para figurar na placa da auto-estrada?
"Se bem me lembro", não falto à verdade se escrever que fui eu quem primeiramente por 1990 exarei em breve crónica notas sobre este esquecido assunto. Essas notas vinham na sequência de um projecto de Reconstuição/Exposição do Trajo Académico iniciado em 1987 pela Dra. Madalena Brás Teixeira, então Directora do Museu Nacional do Trajo. Este projecto falhou por falta de subsídios solicitados ao Secretário de Estado da Cultura de Cavaco Silva, Pedro Santana Lopes. Tentei desesperadamente salvar o que se poderia salvar, sugerindo a transferência do projecto de reconstuição para o Museu Académico, com eventuais patrocínios da Comissão do 7º Centenário da Fundação da Universidade, presidida pelo Prof. Manuel Augusto Rodrigues. Também aqui tudo se gorou, tendo eu trabalhado inteiramente de graça entre 1987-1991 para o Museu Nacional do Traje e Museu Académico. Além do mais, ainda fui publicamente acusado no Diário de Coimbra de ter "roubado" tudo quanto penosamente investiguei a outro membro do grupo de trabalho. Compreenda-se que ainda hoje me custa falar do assunto "Trajo Académico".
De acordo com o levantamento documental que efectuei entre 1987-1990, apurou-se que entre a matrícula da 1ª aluna na UC em 1891 (Domitila de Carvalho) e o ano de 1954, não existiu na Academia de Coimbra qualquer uniforme estudantil feminino. De nada adiantou a publicação de legislação governamental republicana no Diário do Governo, de Novembro de 1924, tornando o uso da "Capa e Batina de modelo coimbrão" extensiva aos alunos e alunas de todos os liceus, escolas superiores e universidades. Aliás, o diploma governativo nem sequer especificava o que queria significar "modelo coimbrão tradicional", nem dizia se no caso das alunas estas usariam saia e batina, ou vestido e batina. Não dispomos, assim, de qualquer eco de um possível uso de trajo feminino em liceus ou universidades pelas décadas de 1920-1930.
Em Coimbra não foi usado seguramente, prevalecendo a "tradição" da colocação da Capa Académica preta sobre vestuário civil, eventualmente complementada por pasta com grelo/pasta com fitas (isto nada tem a ver com a tradição de as enfermeiras colocarem sobre a bata branca um capote escuro, argumento que foi usado pelas alunas da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra como factor de legitimação do uso do "trajo académico"). Entronca neste costume a tradição de as estudantes irem ao Baile de Gala das Faculdades com Capa sobre vestido de noite.
Só pelos finais da década de 1940 é que uma estudante de Letras, membro do TEUC, Ilda Pedrosa, apareceu na Imposição de Insígnias de Novembro de 1949 envergando Capa e Batina. Pedrosa vestia blusa branca, batina de modelo masculino, saia preta, capa talar, meias e sapatos pretos. Deu nas vistas, mas ninguém se escandalizou. Outras alunas envergaram o mesmo modelo entre 1949-1952, por aquilo que consegui apurar.
Contudo, não seria o conjunto descrito a ficar para a posteridade. Nas vésperas do Verão de 1951, as estudantes do TEUC começaram a preparar a digressão ao Brasil. Alguém alvitrou que era mais prático e barato levar um conjunto de tipo uniforme, por forma a evitar malas cheias de vestidos de gala. Ficou assente que o "uniforme", idêntico para todas, seria constituído por Capa preta talar, fato com casaco preto curto e cintado, saia de macho posterior, busa branca, laçarote preto, sapato preto e meia cor de carne (facultativo).
Estamos perante a invenção de uma tradição feminina, realizada à margem da Reitoria (lembre-se que o Reitor, Maximino Correia integrou a digressão ao Brasil e nada disse quanto à invenção) e do Conselho de Veteranos. Parece que o figurino que acabamos de descrever se foi usando espontaneamente até 1954. Logo a seguir à Queima das Fitas de Maio de 1954, o Conselho de Veteranos (integralmente masculino), presidido pelo Dux João Nata, deliberou por mais de 50% de votos a institucionalização do Trajo Académico Feminino, seguindo o figurino proposto em 1951 pelas associadas do TEUC. Que se saiba a deliberação não foi antecedida de qualquer debate. A normativização pegou e em Novembro seguinte, as alunas quartanistas e quintanistas apareceram esmagadoramente de Capa e Batina nas cerimónias de Imposição de Insígnias e latadas das Faculdades.
Não se tratava de uma deliberação pró-regime, pese embora o facto de ter sido tomada com larga margem de autonomia corporativa por um orgão que dentro em breve se veria confundido com o autoritarismo do regime.
A revista FLAMA, Ano XI, Nº 353, de 10 de Dezembro de 1954, transformou o assunto em motivo sensasionalista de capa, numa altura em que a feminilização da Academia de Coimbra se afirmava como tendência irreversível.
Nunca consegui obter o Decretus do Conselho de Veteranos, promulgado em 1954, mas o seu conteúdo foi positivado sem alterações de fundo no Código da Praxe de 1 de Março de 1957, Artigo 252º, supenso em 1969 e posto a vigorar "provisoriamente" durante as décadas de 1980-1990.
Há quem discuta se o figuro aqui referido teve a sua origem na Universidade de Coimbra, ou se terá surgido anteriormemte na Universidade do Porto, tendo em conta o facto de o Orfeon da UP ter sido transformado num organismo misto antes de 1950. Não disponho de informes sobre esta questão, que talvez possa ser esclarecida pelo Doutor Armando Luís de Carvalho Homem.
Posso dizer, sem com isto pretender ofender ninguém (aliás, o meu tempo já la vai), que não aprecio nem nunca apreciei o "Fato-Saia-Casaco" das estudantas tal qual o conheci a partir de Outubro de 1985. Cheguei mesmo a tentar por diversas ocasiões abrir o assunto a debate, tendo em conta que muitas colegas minhas gostariam de usar colete, pareciam dispostas a ponderar uma reforma estética a partir da Batina (que não do vulgar casaco preto) e muitíssimas reclamavam o direito ao uso da calça preta comprida no Inverno.
Claro que nada se discutiu e nada se permitiu reformar, a fazer fé na leitura do Código da Praxe, com data de 2001.


Coro dos Antigos Orfeonistas com Rui Paulo ao piano e Virgílio Caseiro na regência, ontem, na Quinta das Lágrimas. Posted by Hello


Carlos Carranca com Arnaldo Tomás na viola e Francisco Viana na guitarra, ontem, na Quinta das Lágrimas. Posted by Hello


Conjunto Guitarras de Coimbra, ontem, na Quinta das Lágrimas. Bernardino Gonçalves, António Jesus, Alexandre Cortesão, Fernando Plácido e Aníbal Moreira são os instrumentistas. A cantar, Abel João, Nuno Miranda e José Neves. A declamar, Augusto França. Posted by Hello


Coro dos Professores, ontem, na Quinta das Lágrimas, sob a regência de Inês Andrade. Posted by Hello


Coro Misto, ontem, na Quinta das Lágrimas, com César Nogueira na regência. Posted by Hello

Extracto da Tese de Mestrado de Virgílio Caseiro, em 1992, sobre a História do Orfeon Académico.
... Ao assumir um papel ímpar de liderança no panorama histórico-académico nacional, Coimbra tornou-se, por direito próprio, o lugar primeiro da actividade associativa no país. Não obstante as dificuldades que ao longo dos tempos e dos regimes lhe foram levantadas, a sua persistência tem sido o garante desta liderança, bem assim como o vinco de personalização associativa que incontroversamente mantém.
Muitos são os vectores que ao longo dos anos, e desde a sua formação como Associação Académica, têm dado o seu melhor contributo para esta personalização; e de entre estes será justo dar especial relevo ao trabalho desenvolvido pelos organismos autónomos e pelas secções culturais e desportivas.
A Associação Académica tem, ao momento, nove secções artístico-culturais, vinte e três secções desportivas e oito organismos autónomos. Nestes últimos se inclui o Orfeon Académico de Coimbra (O.A.C.) conjuntamente com a Tuna Académica (T.A.U.C.), Grupo de Etnografia e Folclore (G.E.F.A.C.), Coro Misto da Universidade de Coimbra (C.M.U.C.), Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (T.E.U.C.), Centro de Iniciação ao Teatro da Academia (C.I.T.A.C.), Círculo de Artes Plásticas (C.A.P.C.) e Organismo de Futebol (A.A.C./O.A.F.).
De todos estes organismos cabe ao Orfeon a honra de ser o mais antigo, remontando mesmo a sua fundação a tempos anteriores à própria fundação da Associação Académica.
Isto justifica a importância de que se reveste um trabalho sistemático de recolha e síntese histórica sobre este organismo. Falar do Orfeon Académico é, em simultâneo, para além de contar a sua história, dar a conhecer o seu contributo para a sociedade académica em que sempre esteve inserido, o papel social que desenvolveu desde os seus primeiros passos, o contributo artístico ímpar que deu à cidade, o gosto artístico que estimulou nos seus elementos e mais ainda o contributo de congregação e espírito académico fraterno com que marcou e marca todos os seus associados, unindo gerações e universalizando esta verdade, difícil de compreender, que é o ser ou ter sido estudante em Coimbra.
Por isso se entendeu como essencial a observação do Organismo segundo várias vertentes, enquadrando-o, tanto quanto possível, no todo que é a cidade, e não esquecendo as diversas componentes da sua evolução histórica: fundação, percurso artístico, direcções artísticas, espectáculos, digressões e projectos.
Na segunda parte deste trabalho, o objectivo principal é o de definir a projecção interventora artística e cultural do organismo na cidade, e, dentro dela, muito especialmente no meio académico, de tal forma consequente, que ao longo dos tempos lhe veio a merecer o acumular de títulos sucessivos, que hoje fazem parte da sua carteira de honra, tais como[1]:
-Comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada
-Grande Oficial da Ordem de Benemerência
-Oficial da Ordem do Império
-Medalha de Honra da cidade de Coimbra
-Sócio de Mérito dos Jardins-Escolas João de Deus
-Benemérito da cidade de Coimbra
-Sócio de Honra da ''Academia Mondiale degli Artisti e Profes-
sionisti'' de Roma
-Membro de Honra do clube ''Ateneo'' da Faculdade de Letras
de Poitiers
-Medalha de Prata de Espinho
-Sócio Benemérito das Creches de Coimbra, da Associação dos
Socorros Mútuos dos Artistas de Coimbra e da Casa dos Pobres de Coimbra
-Sócio Honorário do Orfeão Português do Rio de Janeiro e do
Orfeão Portugal do Rio de Janeiro.
Esta dissertação teve em vista não só a apresentação de um trabalho a submeter à apreciação de um júri, como tese de Mestrado, mas também a exposição, com um certo pormenor, dos factos que motivaram os primeiros passos do organismo, do contexto sócio-político e artístico em que se foi desenvolvendo e da sua luta pela sobrevivência ao longo de mais de um século. Isto implicava, necessariamente, uma renúncia ao espírito de síntese que deve prevalecer em trabalhos deste género, dado que, visto na globalidade, nunca este tema foi objecto de um estudo sistemático.
Por outro lado, na hipótese de ele poder vir num dia a ser publicado, muitos dos factos aqui reunidos terão evidente interesse para um melhor conhecimento da vida do mais antigo coro universitário da Universidade portuguesa.
Todo este trabalho não teria sido possível sem o apoio e colaboração da Direcção do O. A. C., que de imediato facultou a absoluta disponibilidade das suas instalações e facilitou o acesso a todo o seu arquivo e museu.
Também o contributo do Coro dos Antigos Orfeonistas foi precioso, quer através do acesso a documentos e informações do seu arquivo, quer através de depoimentos de alguns dos seus antigos membros, cuja idade aconselhou a recolher como contributo histórico inestimável.
Por último um agradecimento profundo aos orientadores de Mestrado, com incidência especial para a Professora Doutora Maria Augusta Barbosa, que desde sempre mostraram uma disponibilidade ímpar, acompanhando o evoluir das investigações e aconselhando, de forma douta, na optimização dos rumos traçados.

Estruturação

O Orfeon Académico de Coimbra foi fundado em 1880.[2]
As razões que levaram à sua instituição terão sido, naturalmente, múltiplas; e se o gosto pelo canto não pode deixar de ser referido, talvez outras razões, como causa primeira, possam ser evocadas se se atender ao contexto histórico em que apareceu e a que acontecimentos pretendeu servir.
Projectava-se, nesse ano, comemorar o tricentenário da morte de Camões; e foi este cenário que optimizou as condições de mobilização dos académicos. Esta mobilização não terá sido ingénua, mas sim decorrente da situação política vivida no momento e desenvolvida já desde o ano de 1876, altura em que, por um lado, se assistiu à fusão de várias expressões de tendência num único partido - o Partido Progressista, liderado por Anselmo Braamcamp - e por outro se iniciavam, nos seus primeiros passos, os adeptos do republicanismo socializante. Estes, ainda neste ano de 1876, e incentivados pela vitória eleitoral dos republicanos franceses, encontram nesta o apoio moral para a sua constituição, o que vem a acontecer na decorrência de um banquete realizado em 25 de Março do mesmo ano em atitude de solidariedade com os seus camaradas.
A sobrevivência deste novo partido foi precária até 1878, data em que, realizadas eleições para nova legislatura parlamentar, pela primeira vez se candidataram, em Lisboa e Porto, representantes do Partido Republicano. E se é verdade que o partido do Governo ganhou as eleições, permitindo a Fontes Pereira de Melo continuar com o seu projecto de reformas, a vitória da facção republicana em alguns círculos, colmatada pela eleição de Rodrigues de Freitas no Porto e Elias Garcia em Lisboa, começou a abrir brechas na estrutura e a dispor de interlocutores capazes de se fazerem ouvir.
Todas as oportunidades eram bem-vindas para fazer ouvir a voz republicana e é neste contexto que as comemorações Camonianas acontecem. A memória do poeta, porque universal, servia insuspeitadamente a qualquer adesão e por outro lado a ideia da música, e muito concretamente da música coral, assentava como luva na exaltação da sua memória.
Foi assim que a estas comemorações aderiram os mais prestigiosos intelectuais da época, sendo injusto não referir nomes como o de Teófilo Braga, Antero de Quental e Oliveira Martins. Este último entende mesmo as comemorações como o festejar de um novo Renascimento, o que o leva a reeditar, em 1881, o seu livro ''Camões, os Lusíadas e a Renascença em Portugal'', livro publicado, pela primeira vez, em 1872.
Quanto a Teófilo Braga ele foi, de facto, o grande impulsionador das comemorações tri-centenárias e a ele se deve a congregação, em torno de Camões, dos mais importantes liberais e republicanos do tempo. O seu culto pelo património moral e espiritual da raça, bem assim como o fortalecimento e ressurgimento do sentimento pátrio, mereceram-lhe o aplauso da nação viva que o apoiou, conseguindo, desta forma, a quase globalidade da adesão popular.
A este espírito se ficou a dever o brilhantismo e gigantismo das comemorações e a partir dele se veio a encontrar uma expressão republicana cada vez mais forte e consequente.
A perpetuar as comemorações, no largo fronteiriço à Porta Férrea, foi erigido um monumento a Camões, formado por uma coluna de pedra, suporte de uma palma de folhas de louro, e por um leão em bronze, na base da coluna. A primeira pedra do monumento foi lançada a 10 de Junho de 1880 e este veio a ser inaugurado a 8 de Maio de 1881.[3]
O O.A.C., ao dar os seus primeiros passos por finais do ano de 1880, aparecia como mais um elemento de engrandecimento dos festejos e de projecção cultural daqueles que o haviam promovido, ou seja, a corrente liberal republicana.
Poderá ser esta a descrição sucinta do enquadramento do actual Organismo no contexto político e social da época.

HISTÓRIA

Período de João Arroio
1880 - 1882
Como atrás se disse, o espírito das comemorações camonianas esteve, de perto, ligado à criação do Orfeon. Aliás, os espectáculos dados neste âmbito pelo organismo constituíram, sem dúvida, o ponto mais alto da sua existência neste curto período.
Pode indicar-se a data de 29 de Outubro de 80 como a data da criação real da então Sociedade Choral do Orpheon Académico, sob o patrocínio do estudante de direito João Marcelino Arroio e tendo como número inicial de participantes cerca de 60. Os ensaios decorriam no Teatro Académico[4]
O primeiro espectáculo viria a acontecer no mesmo teatro a 7 de Dezembro deste ano e decorridos tão somente cerca de 40 dias sobre a data da sua constituição. Neste espectáculo, o número de elementos rondava já os 80. Dizia o órgão de comunicação da época ''Correspondência de Coimbra'', na sua edição de 10/12/80 que foi <>.
Já em Fevereiro de 1881, viria o Orfeon a participar num espectáculo a favor da Filantrópica, fazendo ouvir música de Wagner,<>[5]; e, a 6 de Maio do mesmo ano, participava no Sarau de Gala do Tricentenário das comemorações da morte de Camões, ponto mais alto dos festejos. Aí encantou a assistência reunida no Pátio da Universidade, fazendo com que o Orfeon recebesse <<>>[6]
Depois de realizado o sarau das comemorações, o Orfeon participou ainda num concerto fluvial, cantando dentro de barcas serranas, em cortejo que se deslocou até à Lapa dos Esteios. Ainda em Maio, a 21, realizou mais um espectáculo público, no Teatro Académico, a favor das vítimas do terramoto da Ilha de S. Miguel.
Na sequência de problemas de saúde que acometeram João Arroio -''as bexigas de Arroio, que o não deixaram ir a Lisboa com os rapazes, às festas Pombalinas; depois uma recaída que o impediu de os levar ao Porto, a um concerto de caridade a favor de uma escola; depois nova doença que o não deixou festejar o ponto por aquela forma, como se tinha combinado...- o Demónio!''[7],- a actividade orfeónica esmoreceu por todo o final deste ano de 81. No entanto, em 1882, embora em espectáculo particular, o Orfeon apresentou-se ainda no Grémio de Coimbra;''mas aí, espichou de vez o Orfeon! Morreu!''[8].
Fechou-se, assim, o primeiro período de actividade deste organismo.
Mais tarde, João Arroio foi para Lisboa, onde exerceu funções ministeriais. Em 1911, em espectáculo havido no Teatro de S. Carlos, com o Orfeon já dirigido por António Joyce, ao interpretarem a obra Morena, chamaram Arroio ao palco, e ele próprio aí dirigiu a peça, de sua autoria, sendo esta a sua derradeira apresentação artística em público.
Quanto ao reportório realizado neste período, bem como noutras datas, dar-se-lhe-á mais adiante, e em capítulo próprio, o realce merecido.

Período da Sebenta
1899 - 1900
Com os festejos de comemoração do Centenário da Sebenta[9], reactivou-se o Orfeon, ou melhor, um orfeon que pudesse abrilhantar os espectáculos. A congregação dos seus membros compreendeu a urgência lógica do apressado da ideia e funcionou apenas com carácter pontual para as comemorações. Foi seu animador e director artístico Luís de Albuquerque Stockler, estudante e artista boémio que, apesar de tudo, se veio a formar em Direito.
Este Orfeon da Sebenta viria a apresentar-se em público, durante o Sarau de Gala, no Teatro Circo[10],interpretando o Hino da Sebenta, da autoria de Stockler, com letra de Mário de Oliveira e em conjunto com o Auto da Sebenta, este da autoria de Afonso Lopes Vieira.
A ideia de cantar em conjunto ainda persistiu algum tempo, mas, em assembleia geral de 13 de Novembro de 1900, decidiu-se mesmo pelo encerramento do Orfeon.[11]

Período de António Joyce
1908 - 1912
Chegado a Coimbra em 1906, António Joyce, por imperativo de gosto e de formação musical, desde logo se ligou ao meio artístico, primeiro através da Tuna Académica, depois, uma vez incompatibilizado com esta, através de reuniões musicais feitas na sua casa de Celas e, por fim, dinamizando a criação de um grupo coral - o novo Orfeon - com a ajuda de alguns amigos, que recrutaram inscrições e permitiram que os ensaios pudessem começar, à luz dos gasómetros, uma vez cedida para o efeito, ainda no ano de 1908, a Igreja de S. Bento[12].
Ligados a este projecto e desde a primeira hora solidários com ele, há nomes que o tempo não delapidou e que é justo referir, tais como: Isidro Aranha (também ele músico ilustre e co-autor de várias obras em parceria com Joyce), Francisco Menano (exímio tocador de guitarra), Garcia Pulido (poeta), Godofredo Monteiro (um dos melhores Baixos do seu tempo), Maximino Correia (que viria a ser reitor da Universidade), Carlos de Figueiredo (ilustre compositor de fados de Coimbra), e tantos, tantos outros mais.
Os ensaios ocupavam, por naipes, as várias naves da igreja antes que Joyce lançasse o grito de ensaio geral!''Às sete horas tudo está a postos. Por isso quem depois das seis e meia passar pelas ruelas da Alta, não se deve admirar de ouvir, como eu ouvi, perguntar de grupo para grupo: - Ó coiso, p'ra onde vais?- P'ro Orpheon...
É um êxodo em que de todas as esquinas nos surgem estudantes, que apressados lá vão para a obrigaçãosinha...
...Os ensaiadores esfalfavam-se mas os seus esforços foram coroados de êxito porque dentro em pouco ouvia-se gritar: - Ensaio geral, ensaio geral... De todos os pontos começavam a convergir cantores e passados instantes o estrado estava apinhado''[13]
A 23 de Janeiro de 1909, reaparecia em público o Orfeon Académico de Coimbra, em espectáculo realizado no Teatro Príncipe Real em benefício das vítimas de uma catástrofe no sul de Itália. Fez a apresentação do Orfeon o Dr. Avelino Callixto. E, segundo um relator da época, '' O espectáculo começou pelo Hino Académico[14], como é de uso em espectáculos organizados pela academia, tocado pela Tuna... A seguir falou o velho Doutor Calisto... A seguir o Orfeon cantou a sua primeira música. Aquelas cento e tantas vozes, como uma só, vibraram uníssono, à mercê dos movimentos rítmicos da batuta. O silencio na sala, durante as pausas, era absoluto. O encantamento do público, que acorrera numeroso para o ouvir, era crescente. O entusiasmo, ao terminar o primeiro trecho, foi indescritível. O teatro ecoou durante muitos segundos com aplausos. O Joyce foi levado ao colo, em triunfo, e aclamado com delírio. Poucas vezes se ouviu em Coimbra ovação tamanha.''[15]
Foi o início de um ciclo de espectáculos que, ao longo de mais de três anos, não parou de divulgar a música coral ao serviço da beneficência.
A ideia benemerente presidiu constantemente à actividade do Orfeon e foi por ela que este iniciou, com um Sarau realizado a 1 de Abril de 1909 no Coliseu dos Recreios e apresentado pelo Dr. Egas Moniz, a campanha de fundos para a construção do Jardim de Infância João de Deus[16], que viria a ser inaugurado a 1 de Abril de 1911.
Deste período existe uma publicação do O.A.C. - Memória - elaborada por Felizardo António Saraiva e José Freire de Mattos, que sumaria a globalidade dos espectáculos realizados de 1909 a 1912; contém reportório e ainda algumas críticas publicadas em jornais da época.
Sem se pretender ser exaustivo, há todavia que referir, como pontos altos deste período orfeónico, os seguintes espectáculos:
- 29/4/09, no Teatro Príncipe Real, 10º aniversário do Centenário da Sebenta.
- 5/3/10, Teatro Aveirense. Execução, em primeira audição, do Amen (Fuga da Danação de Fausto de Berlioz).
- 6/4/10, Palácio de Cristal no Porto.
- 27/4/10, Teatro de S. Carlos, em Lisboa, em homenagem a Alexandre Herculano.
- 23/3/11, Teatro Príncipe D. Carlos na Figueira da Foz.
- 25 e 26/3/11, respectivamente Teatro de S. Carlos e Teatro da República em Lisboa.
- 1/4/11, Teatro Avenida, Sarau de Inauguração do Jardim Escola João de Deus, com discurso de abertura pelo Dr. Jaime Cortesão, poesias recitadas por João de Barros e Afonso Lopes Vieira e calorosa ovação a Raul Lino, autor do projecto.
- 7 a 16/4/11, Viagem a Paris, com espectáculos no Trocadero a 9 e a 16.
-23 e 24 /3/12, Sarau de despedida no Coliseu dos Recreios em Lisboa
- 20/5/12, Teatro Avenida, última actuação do Orfeon de Joyce, depois de ter feito a sua última viagem à cidade da Guarda, com espectáculo a 9 deste mês.
Com este último espectáculo e com a conclusão da formatura de António Joyce, o Orfeon entrou em novo interregno de cerca de dois anos.
Fosse o objectivo deste trabalho a abordagem exaustiva de todos os dados históricos reunidos, e muito mais havia ainda a acrescentar, em datas, locais, pessoas, direcções e histórias académicas, (sempre envolvidas por um manto de descrição encantatória, a que é difícil resistir!). Mas a pontualidade de cada uma destas temáticas e a abordagem que delas já foi feita, por outros autores em outros locais, deixa razão de ser a esta omissão[17]. Também o carácter monográfico global deste trabalho assim aconselha.
Da análise deste período da vida do Orfeon poder-se-á depreender que ele pertence ainda a uma época em que a direcção artística joga um tal cunho personalizante que justifica, em pleno, o uso da designação de ''Orfeon de Joyce'', tal como ela foi usada para o ''Orfeon de João Arroio''. Verifica-se que tudo o que sucede, embora planificado e desenvolvido por uma equipa directiva, acaba por se diluir na auréola de comando do seu regente.
Artisticamente, o trabalho realizado neste período é de elevada qualidade (não esquecendo, contudo, os meios de realização e de comparação competitiva com os dias de hoje!) e os críticos isso referem:''No tempo de Joyce o Orfeon de Coimbra só tinha um similar numa Universidade estrangeira: o Orfeon Académico de Upsala, famoso agrupamento coral.
António Arroio, o maior crítico de há cinquenta anos, disse-nos, um dia, que o nosso Orfeon não era inferior ao de Upsala.''[18]

Período de Elias de Aguiar
1914 - 1936
Se é verdade que, com Joyce, o O.A.C. tinha de facto sucumbido, não deixa de ser verdade também que, fruto dos grandes triunfos artísticos e ''turísticos'' conseguidos, o espírito de associação, embora latente, continuava vivo. Faltava encontrar alguém que, porque carismaticamente reconhecido, funcionasse como ''pivot'' de congregação. E esse homem, embora contra sua vontade, foi Elias de Aguiar.
Nunca Elias de Aguiar, com a humildade que lhe era peculiar, teria estado disponível para despoletar este processo. E foi só graças à ''traiçãozinha'' de alguns dos seus colegas de República -e muito concretamente de Henrique de Sousa que afixou na Porta Férrea um edital de inscrições, que rapidamente se encheu, à revelia de Elias e sem seu conhecimento!- que, reconhecendo o mérito artístico do já então padre e ao tempo aluno de Teologia, o ''empurraram'' para a cabeça do novo Orfeon.
É pela boca de Falcão Machado[19]que se escuta a descrição de José Saavedra, ensaiador dos Barítonos:''Recorremos... à traição. Henrique de Sousa foi encarregado de afixar à Porta Férrea o convite para a inscrição, que foi rapidamente preenchida com antigos orfeonistas e outros. Calcule-se a indignação do bom Elias de Aguiar quando teve conhecimento dos <>. Teve de se curvar, perante uma eleição tão espontânea. E na velha igreja de S. Bento, hoje demolida, lá nos reunimos à noite, sob a direcção paternal do seu regente. Sânzio (do orfeon de Joyce), os manos Forjazes, António Menano, eu e outros fomos os seus primeiros ensaiadores.''
Começados os ensaios, a afluência foi enorme e rapidamente se sucedeu a execução de obras de valor da literatura musical: o Amen de Berlioz, o Hino à Noite de Beethoven, o Coro dos Soldados de Meyerbeer, as Canções Transmontanas de Pinto Ribeiro, etc. Em Março de 1915, o Orfeon tinha atingido um nível que lhe permitia apresentar-se em público. Assim aconteceu em duas audições realizadas a 6 e 7 na cidade de Aveiro, com a colaboração da Tuna Académica.
Animados com o êxito alcançado, organizam uma digressão ao Norte que, apesar de totalmente planeada, acabou por não se realizar, em virtude de na época ter rebentado um movimento militar contra a ditadura de Pimenta de Castro. Assim, só em 2 de Junho o Orfeon se apresenta de novo, agora em Coimbra, no Teatro Avenida, em Sarau presidido pelo Reitor da Universidade, Guilherme Moreira, e com a colaboração, entre outros, de Afonso Lopes Vieira, Augusto Rosa e Viana da Mota.
Ainda neste ano lectivo e como espectáculo de encerramento, realiza a 15 de Junho mais um sarau, desta vez de parceria com o pianista Oscar da Silva e o violinista Réné Bohet.[20]
Estava assim lançado o percurso do novo Orfeon, se bem que o momento histórico lhe viesse a reservar períodos de difícil sobrevivência, decorrentes da 1ª Guerra Mundial que deflagrara na Europa e na qual Portugal acabou por participar. Este facto impossibilitou frequentemente o decurso das actividades e mais ainda dos espectáculos, umas vezes por falta de enquadramento propício, outras por falta de número adequado de vozes.
Em 1919, o Parlamento institucionaliza o Orfeon Académico de Coimbra, ao firmar a sua existência permanente através da lei nº 861. Também por esta lei é recriada a Faculdade de Letras e instituída a cadeira de História da Música, ficando dela responsável o regente do Orfeon Académico.
Em 1923, o Orfeon vai a Espanha. A viagem tem o patrocínio do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Instrução Pública. Para além do organismo, fazem-se representar a Associação Académica, a Universidade de Coimbra, de Lisboa e do Porto, o reitor do liceu José Falcão (a quem pertencia a igreja de S. Bento) e a imprensa diária, num total de cerca de 220 participantes! A digressão inclui as cidades de Madrid, Salamanca e Valadolid. Contrariamente ao projectado, Barcelona e Saragoça não são visitadas. Para além dos espectáculos realizam-se também algumas conferências, no elenco das quais participa Vitorino Nemésio, em Madrid.
Digno de registo nesta digressão é o facto de pela primeira vez, e na sequência da doença asmática de Elias de Aguiar, ter sido chamado a reger, como última alternativa, o orfeonista D. José Pais de Almeida e Silva[21] que, depois de muito solicitado e perante a gravidade da situação, acabou por aceitar a incumbência. Esta situação voltar-se-ia a repetir outras vezes, mais tarde, por razão idêntica.
Em 1923 e por falta de provimento dos vencimentos a que tinha direito como professor da cadeira de História da Música, que vinha a leccionar desde 1920, por força da lei nº 861, o Dr. Elias de Aguiar foi obrigado a despedir-se de Coimbra e a regressar a Vila do Conde, por razões de sobrevivência económica. Os estudantes, reunidos na Sala dos Capelos e face aos acontecimentos que faziam perigar o Orfeon, tomaram um conjunto de deliberações tendentes a abreviar a posse real do lugar, deliberações que se encarregaram de levar ao conhecimento do Governo. Em simultâneo, deslocaram-se a Vila do Conde para expressar pessoalmente ao regente o empenho da Academia no seu regresso.
Elias de Aguiar voltou, assim, a Coimbra. Com ele nasceu a ideia de uma nova digressão por terras de França. Os ensaios recomeçaram motivados por tal aliciante e a viagem concretizou-se em Junho de 1924. Não foi no entanto Elias de Aguiar que acompanhou o Orfeon, por impedimentos de saúde, mas sim António Joyce que, convidado para a regência, se deslocou de novo a Coimbra e garantiu a direcção artística, não sem que primeiro, contudo, se tenham levantado grandes protestos, decorrentes da imposição de Joyce de reforçar alguns naipes com elementos estranhos ao Orfeon, vindos de Lisboa.
A digressão é antecedida por três espectáculos, realizados no Coliseu dos Recreios de 3 a 5 de Junho, todos dirigidos por Elias de Aguiar. Ficou histórico o concerto do dia 4, porque aconteceu na consequência da vitória da A.A.C. sobre o Marítimo, em futebol, e os orfeonistas, bem como os elementos da Orquestra Pitagórica, não quiseram perder o jogo, nem o prazer da sua comemoração. Desta feita o sarau começou atrasado, perante a angústia do Dr. Elias de Aguiar.''À hora de começar ainda eram raros os componentes do Orfeon que se encontravam no palco. O público começava a impacientar-se e ouviam-se já assobios e pateada. O Dr. Elias de Aguiar, à medida que iam entrando os orfeonistas, todos eles <> pela vitória da Académica, lamentava-se amargamente pelo estado em que se apresentavam, imaginando o fiasco que ia ser o espectáculo, com os orfeonistas tão <>. Sobe o pano. Atrevemo-nos a dizer que, tendo tomado parte em inúmeros espectáculos, nunca assim ouvimos cantar o Orfeon''[22]
Para França parte uma embaixada de 163 figuras.
Tendo como ponto alto a realização de um sarau, uma vez mais no Trocadero, este foi antecedido por uma sessão de homenagem a Camões, realizada na Sorbonne e contando com a presença de eminentes intelectuais portugueses e franceses: Afonso Costa e António da Fonseca, o Reitor da Universidade de Paris, o antigo chefe do Governo Louis Bartou, o ministro da França em Portugal, Bonin, o poeta e professor Eugénio de Andrade e os artistas Madeleine Roch e Jean Hervé.
No regresso de Paris, efectuaram-se espectáculos em Bordéus e Baionne.
No ano lectivo de 25/26, resolveu o Orfeon homenagear, na sua terra natal, o Dr. Elias de Aguiar. O Sarau realizou-se no Teatro Afonso Sanches e deixa antever já o débil estado de saúde do mestre. A esta homenagem seguem-se outras, em 1929, patrocinadas pelo Orfeão Lusitano do Porto e onde o estudante de direito Raposo Marques, conhecido entre colegas como o <>, substituiu Elias de Aguiar, falando em seu nome. Em Maio do mesmo ano, nos dias -24, 25 e 26-o mestre é novamente homenageado.
Aos poucos, a disponibilidade de Elias de Aguiar diminui e embora a sua regência se mantenha até à morte é com certa frequência que o já referido aluno de direito, Raposo Marques[23], o vai substituindo e assegurando, como regente substituto, a vida artística do Orfeon nos anos que medeiam entre 1928 e 1936.
Durante a regência de Elias de Aguiar e principalmente depois de 1926, longos são os períodos em que não há notícia de qualquer espectáculo, por razões de saúde do maestro ou por este se encontrar em Vila do Conde.

Período de Raposo Marques
1936 - 1966
Entregue definitivamente a chefia artística a Raposo Marques, ainda no ano de 1936 o Orfeon fez a sua primeira digressão às ilhas adjacentes, visitando os Açores e a Madeira. (Seja lícito referir aqui o facto curioso de Raposo Marques festejar o seu primeiro ano de regência titular, nos Açores, e aqui vir a morrer, depois do último concerto que realizou, passados 30 anos!). O primeiro concerto foi em S. Miguel, depois Angra do Heroísmo, Horta e por último uma pequena paragem nas Lages do Pico, antes de regressar, de novo, a S. Miguel.
A Madeira foi visitada já no regresso, e o velho paquete Lima trouxe de seguida o Orfeon até Lisboa.
Em 1937, são de sublinhar os três saraus realizados em Lisboa, no Eden, presidido o primeiro por sua Exª o Presidente da República.
Em 1938, faz-se uma digressão ao Ribatejo. Para divulgar o trabalho orfeónico é feita uma edição única do jornal ''Orfeon'', organizado por Coriolano Ferreira e Machado Franco. Ainda neste ano o Orfeon vai a Lisboa, ao Coliseu dos Recreios, participar num sarau conjuntamente com a Tuna Académica. Também começam então a aparecer referências nos órgãos de comunicação à qualidade e à irreverência estudantil presente no acto de variedades que fazia parte do espectáculo, preenchendo a 2ª parte, e cuja tradição se manteve mais ou menos acesa até 1974.
Das dezenas de espectáculos e saraus realizados pelo Orfeon ao longo dos trinta anos de direcção artística de Raposo Marques é evidente que, neste âmbito, se torna impossível a sua enumeração exaustiva - até porque a esse nível já possui o organismo, felizmente, um conjunto de publicações de incidência pontual, escritas e publicadas por antigos orfeonistas e observando o Orfeon, quase sempre, por período de tempo igual ao da sua permanência nas hostes orfeónicas, (é o caso de ''Em Terras de Espanha'' de Mário Ramos e Guilhermino de Mattos, ''Coimbra em África'' de António de Almeida Santos, ''Roteiro do Brasil'' do padre Pardinhas e tantos outros...). Interessa portanto apenas sintetizar o que de essencial aconteceu e como aconteceu.
Na sequência da Segunda Guerra Mundial, as restrições necessariamente impostas em todos os sectores, por certo que viriam também a recair sobre o Orfeon. E assim foi. As limitações impostas a todas as despesas, não permitia que se usufruísse das condições mínimas exigidas para deslocações, não só ao estrangeiro, como também dentro do país ''Pois até as velhas e incómodas carruagens de terceira, só podiam ser concedidas por deferência a deuses''[24]. Apesar disso e como resultado da dinâmica directiva, alguns saraus de beneficência continuaram a realizar-se.
O Orfeon visitou o norte do país em 39, as Beiras e Lisboa em 40, voltou ao Norte em 41 e 43, visitou Viseu em 44 e finalmente deslocou-se a Espanha, à Galiza, em Abril de 45, com espectáculos em Vigo, Santiago de Compostela e Tui, altura em que foi publicado mais um número do Jornal Orfeon, para acompanhar a digressão.
Há muito que se pensava em fazer uma digressão ao Brasil; e chegou mesmo a ser nomeada uma comissão que levasse por diante as necessárias negociações. Contudo, e fruto do contexto, uma vez mais tudo se gorou.
No entanto uma outra ideia se agita para se vir a juntar ao rol brilhante das viagens já realizadas a França e a Espanha: a possibilidade de uma ida a Angola e Moçambique. E de facto, em Agosto de 1949, esta vem a realizar-se, depois do Orfeon, já nesse ano, ter feito uma digressão a Aveiro e Vila Real.
Após espectáculos realizados, como era hábito, no Coliseu dos Recreios (com a colaboração de João Vilaret) e também na Feira Popular, o Orfeon parte para Angola, no paquete João Belo, com escala e apresentação na Ilha da Madeira.
Só em Setembro chegam a Angola. Visitaram Luanda, (onde Raposo Marques foi ovacionado e levado em ombros, lembrando os tempos de Arroio e Joyce, na descrição de Almeida Santos), Lobito e Benguela. Em seguida partiram para Lourenço Marques e Beira. Já de regresso visitam a África do Sul, realizando um espectáculo de estrondoso êxito na cidade do Cabo.
Dobrado o Cabo da Boa Esperança, fizeram nova paragem em Moçâmedes, deslocando-se depois a Sá da Bandeira e Nova Lisboa.
S. Tomé foi o último porto de paragem, já em finais de Outubro. A recepção, em Lisboa, foi presidida pelo Ministro do Ultramar.
Da aceitação e impacto desta viagem pode citar-se:''Quando se perdeu no ar a última nota do <> - que, como é tradicional, também foi cantada pelos antigos orfeonistas presentes - Raposo Marques foi erguido aos ombros dos antigos estudantes e as lágrimas correram pelo palco, onde também choviam, em indescritível apoteose, palmas e pétalas de rosas''[25]. ''Sei que não nos pedes contas. Nem o que vou dizer-te é verdadeiramente dar-te contas. Mas deixa-nos sentir agora um pouco de orgulho de nós mesmos: cumprimos.''[26].
Desta viagem a terras africanas há ainda a referir o facto de para ela ter sido feita, por Teles de Oliveira, o ensaio de um novo emblema, que depois se tornou definitivamente o emblema orfeónico e tem acompanhado o organismo até ao presente.
Também em 49 são transferidas as instalações académicas da velha Rua Larga para o Palácio dos Grilos.
Até 1954, a vida orfeónica decorre com a movimentação normal que advém dos espectáculos e digressões internas, colaborações em saraus académicos e algumas realizações complementares experimentais como, por exemplo, a iniciação de emissões de som para todas as instalações académicas, divulgando, diariamente, boa música coral e orquestral, comunicados, entrevistas, etc. ,tudo isto conseguido através de altifalantes colocados na sede e assegurado por uma equipa de orfeonistas convocados para o efeito.
Em 1954 realiza-se mais uma digressão ao estrangeiro, desta vez, e por fim, ao Brasil, terra de sonho e de tantos anos de esperada visita! O O.A.C. parte para terras de Santa Cruz em Agosto de 54 e só regressa em meados de Outubro do mesmo ano.
São três meses de agitada vida artística com espectáculos na Madeira e em Cabo Verde, (pontos de escala do paquete Santa Maria), e depois em Rio de Janeiro, Santos, S. Paulo. Visita com espectáculo em directo os estúdios da Televisão Record. Segue depois para Campinas, Ribeirão Preto, S. Carlos, Americana, S. Caetano do Sul, Belo Horizonte, Ouro Preto, Niterói, Teresópolis e finalmente Baía, -onde não chegou a apresentar-se-, e Recife, também local de embarque e regresso.
Nesta digressão o Orfeon era composto por cerca de 80 elementos e acompanhavam-no, também, para além de representantes da Universidade de Coimbra e do seu reitor, um grupo de fados anexo ao organismo que complementarizava o espectáculo com a tradicional serenata. Esta prática já se vem a desenvolver desde os tempos de Joyce, e pelo Orfeon passaram as melhores e mais conhecidas vozes da canção coimbrã, assim como os mais conceituados guitarristas e violistas.
Da digressão foi feito o relato escrito pela pena do Padre Manuel Alves Pardinhas, director orfeónico à época, no livro ''Roteiro do Brasil, memórias e impressões de viagem do Orfeon Académico de Coimbra''.
O ano de 1955 foi o ano das comemorações das Bodas de Diamante. Os 75 anos orfeónicos foram comemorados com inusitada pompa, tendo sido para o efeito nomeada uma comissão de honra e uma comissão executiva.
Os festejos decorreram de 23 de Abril a 1 de Maio e para além das actividades óbvias e decorrentes (jantares convívios, sessões solenes) é de salientar a realização de uma exposição evocativa dos 75 anos de vida do Orfeon, realizada no Salão Nobre da Câmara Municipal com o patrocínio do Museu Académico. Abrilhantaram estes festejos um Sarau oferecido à Academia, a 27 de Abril, no Pátio da Universidade, um outro Sarau, este de gala, no dia 29 no Teatro Avenida e finalmente no dia 1 de Maio, no campo do jogo da péla do Parque de Santa Cruz[27], uma homenagem ao Orfeon Académico de Coimbra, prestada pelos organismos académicos locais e organizada pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (T.E.U.C.).
Das Comemorações foi editada uma medalha evocativa, tendo numa das faces o actual emblema do organismo e na outra o emblema anterior. Também foram editados dois livros com o mesmo nome ''Comemoração das Bodas de Diamante do O.A.C.'', um deles oriundo da própria Direcção do Orfeon no mesmo ano de 1955 e o outro da responsabilidade de Manuel Ayres Falcão Machado, membro da Sociedade de Geografia, no ano de 1956.
No ano de 1956 inicia o Orfeon uma nova actividade de que dá eco toda a imprensa regional: a realização de cursos de solfejo para os sócios no activo. De facto, esta preocupação de formação musical complementar não deverá deixar de ser referida quando aplicada a pessoas que só pretendem cantar, já que, ainda hoje, no panorama coral nacional é preocupação que a quase ninguém assiste!
E a década de 50 conclui-se dentro de uma prática coral rotineira, preenchida com os já habituais espectáculos, ora em Coimbra (presença sempre obrigatória nos saraus da Queima das Fitas), ora pelo norte ou sul de Portugal.
No entanto é ainda nesta década que ganha indiscutido prestígio um grupo subsidiário do Orfeon e formado por elementos seus, a Orquestra Ligeira, composta por cinco elementos, e que chega mesmo a actuar isolada do coro, abrilhantando festas e bailes. A sua qualidade foi reconhecida e levou-a em digressão, sozinha, a Angola (1963).
As digressões ao estrangeiro continuam, contudo, a acontecer e assim o Orfeon desloca-se a Espanha, uma vez mais, em 1956, visitando Vigo, Santiago de Compostela e Pontevedra.
Em 1958 representam Portugal na Exposição Internacional de Bruxelas na Bélgica, cantando também em Antuérpia.
Em 1960 retornam aos Açores, nas férias da Páscoa, e a digressão passa por S. Miguel, Terceira e S. Maria. Atendendo aos laços de sangue que prendem a esta terra o seu regente, os espectáculos têm sempre um enquadramento afectivo muito especial ''...nem mais nem menos: a apoteose continua coroada de flores e palmas num misto de enternecimento saudoso e solenidade empolgante, a que a presença das maiores autoridades da Ilha deu brilho inconfundível ''[28]. Ainda neste ano o Orfeon retorna, também, a Angola, por onde fica durante os meses de Agosto e Setembro, revisitando Luanda, Malange, Lobito, Benguela, Nova Lisboa, Sá da Bandeira, Silva Porto e Moçâmedes. De regresso ao continente pára e actua na ilha de S. Tomé.
Em 1961 pode entender-se como mais relevante a digressão a terras de Espanha - Salamanca, Burgos e Madrid - e a participação nas comemorações dos 50 anos do Jardim Escola João de Deus, ao qual o Orfeon se encontrava ligado, pela importância decisiva que teve na sua fundação.
Chegado 1962, talvez tenha chegado o tempo de maior prestígio e qualidade artística deste Orfeon de Raposo Marques, perpetuado pela gravação de um disco de longa duração, editado nos Estados Unidos da América pela casa Monitor e assim anunciado na imprensa '' Foi ontem posto à venda nos E. U. A. o primeiro álbum de discos norte americanos gravados pelo Orfeão dos estudantes de Coimbra, que inclui catorze números executados por um conjunto de oitenta vozes ''[29]. Também neste ano O Orfeon faz a publicação de mais um número do seu jornal ''O Orfeon'', saído a 9/4, e a sua primeira digressão aos Estados Unidos, actuando em 35 cidades americanas e terminando a digressão com dois memoráveis concertos, um em Washington, na Catedral da Imaculada Conceição e o outro em Nova Iorque, no ainda recente Lincoln Center Philharmonic Hall.
A digressão foi um êxito absoluto, tanto artística e cultural como economicamente, deixando as portas abertas aos promotores americanos, todos eles profissionais do espectáculo, para uma nova apresentação, que viria a acontecer três anos mais tarde.
São registos da imprensa da época as seguintes afirmações de cabeçalho: ''Mais um êxito inolvidável do Orfeon de Coimbra ''[30]; ''Calorosamente recebido em Boston ''[31] ; ''O Orfeon Académico de Coimbra encerrou a sua digressão de seis semanas pelos E.U.A. com um espectáculo no New Philharmonic Hall... ...o público pediu bis no fim da primeira parte e o êxito foi absoluto ''[32].
A digressão alongou-se mais que o previsto, por solicitações de novos espectáculos, tendo sido gravados programas para a televisão. O regresso a Portugal só se veio a verificar na segunda quinzena de Novembro.
Em 1963 são publicados em Diário da República de 19/9, os Estatutos definitivos do O.A.C., que congregam, ampliam e oficializam o regulamento interno em vigor com carácter de estatutos desde 10 de Novembro de 1938, sendo secretário da Direcção, ao tempo, Machado Franco.
Ainda neste ano o Orfeon é convidado a visitar a Madeira, para na cidade do Funchal participar nas festas de Fim de Ano.
O ano de 1964 começa com a morte de António Joyce, antigo regente, e todo um movimento de consternação à sua volta.
Neste ano é editado, em Março, mais um número do jornal ''O Orfeon'' e é criada uma nova secção cultural musical dentro do organismo que dá pelo nome de ''Club de Jazz do O.A.C.'' e que tem por função divulgar a música de Jazz (mais uma vez cabe ao Orfeon ser pioneiro nestas áreas), através da sua prática, colóquios, Jam Sessions, festivais e escola de Jazz.
Com a criação deste club, pela primeira vez se vêm abertas as portas do Orfeon à população universitária feminina, que a ele ocorre em número razoável, constatável pelo número de fichas de inscrição ainda existentes nos arquivos da Direcção.
Em Novembro deste ano são comemorados os 10 anos da Digressão ao Brasil. Ainda neste mês são transferidos para o Teatro Académico de Gil Vicente os ensaios parciais e gerais, porque nas novas instalações, à Rua Padre António Vieira[33], não tinham sido previstas as necessárias salas de ensaio[34].
Em 1965 o Orfeon volta de novo aos E.U.A., para participar no Iº Festival Internacional Coral Universitário do ''Lincoln Center for the Performing Arts'' de Nova Iorque, tal como ficara já previsto desde 1962, mas desta vez sem ter conseguido o êxito da digressão anterior.
Este período de ouro, sob a batuta de Raposo Marques viria a terminar em 1966, com mais uma digressão aos Açores. No regresso à metrópole, e já no Aeroporto de S. Maria, a escassos momentos do embarque, Raposo Marques é acometido de um síncope cardíaca que o vitima e põem assim fim a 30 anos de dedicação orfeónica, várias vezes reconhecida através de homenagens e distinções.
Com Raposo Marques terminou, talvez, o último período do O.A.C., herdeiro legítimo da glória académica e de representatividade quase exclusiva da cultura universitária, já que a partir dele, e nas décadas de 60 e 70, a diversificação associativa foi um facto e consequentemente a auréola, quase mística, que envolvia o Orfeon se profanou. Também toda a problemática política-associativa abriu brechas no prestígio orfeónico, que de forma mais ou menos intensa se têm reflectido na sua existência até à actualidade.
Seria injusto não referir também que Raposo Marques, porque antigo estudante de Coimbra e antigo 1º Tenor orfeónico, tinha uma compreensão correcta da dimensão universitária e sabia gerir, com lucidez, o compromisso constante entre irreverência académica e qualidade artística, cedendo ora num lado ora noutro, de forma a manter uma coesão orgânica e espiritual que congregava gerações e edificava a auréola orfeónica. Foi a sua correcta compreensão da realidade universitária coimbrã que funcionou como chave de ouro para a perpetuação desse espírito.

Período de Joel Canhão
1966 - 1973
Com a morte de Raposo Marques é chamado à direcção artística do Orfeon o Prof. Joel Canhão, na altura maestro do Orfeão Scalabitano, e digno do lugar que lhe era proposto pelas provas de qualidade e saber artístico demonstrados, para além da sua sólida formação musical.
Iniciados os ensaios sob a sua batuta, em Novembro de 66, de imediato se constatou a férrea vontade artística deste regente, impondo um regime apertado de ensaios, que tinham por objectivo um elevado nível de qualidade.
Em 19 de Abril de 1967, no Teatro de Gil Vicente, é feita a primeira apresentação pública sob a sua regência, em sarau que contou na 2ª parte com a participação do Teatro Universitário do Porto, e com um acto de variedades na 3ª.[35]
A partir daqui os espectáculos retomam a cadência normal. Já em Agosto de 1967 o Orfeon volta a Angola para um longo périplo que, saindo de Luanda e a ela regressando, percorre, em cerca de um mês, as cidades de Carmona, Malange, Negage, Salazar, Nova Lisboa, Sá da Bandeira, Benguela, Lobito e Novo Redondo.
Em 1968, enquanto delegado regional da Pro Arte, o Orfeon organiza alguns concertos, trazendo a Coimbra nomes importantes do panorama musical nacional.
No mesmo tempo, e sempre com o objectivo de se melhorar a qualidade vocal exigida pelo seu regente, é contratado Giovanni Voyer, tenor italiano radicado em Portugal, para orientar sessões de técnica vocal, de presença obrigatória. Durante a regência de Joel Canhão foi sempre exigido este tipo de preparação vocal., Após a sua morte, G. Voyer foi substituído por outros cantores nacionais de mérito reconhecido como o barítono José Oliveira Lopes e o tenor Fernando Serafim.
Com o chegar do ano de 1969, ventos negros começam a soprar em direcção ao Orfeon, não por razões artísticas, mas por motivos políticos e de confronto académico.
A 17 de Abril de 1969, é inaugurado o bloco das Matemáticas, com a presença do Presidente da República, Almirante Américo Tomaz. E dos incidentes acontecidos na inauguração, somados à insatisfação, já latente, por anteriores reivindicações não ouvidas, estoira uma profunda e demorada crise académica, coberta por luto, que afectou e dividiu os estudantes, em razão da sua participação ou não na greve às aulas, que entretanto tinha sido decretada.[36]
A direcção do Orfeon, solidária com o Regime, assume uma posição de distanciamento académico, expulsa 17 orfeonistas grevistas e toma a defesa dos pontos de vista governamentais. A partir daqui o Orfeon, conjuntamente com a Tuna e a Oficina de Teatro, passa a ser um bloco que os estudantes apelidam de fascizante, em confrontação com a vontade maioritária académica. Estão assim criadas condições para o seu isolamento e quebra de respeitabilidade.
Em 1970, o Orfeon, a convite do Governo, representa Portugal no Japão, na Feira Internacional de Osaca, em espectáculo que contou também com a colaboração de Carlos Paredes.
Na Páscoa de 1971 o Orfeon visita a Suiça, a França e o Luxemburgo e, em Dezembro do mesmo ano, a Inglaterra, a França e a Holanda.
Em 1972 tem como ponto alto das suas actividades a gravação do 2º disco de longa duração com o título ''Cantando espalharei por toda a parte...'' e manda ainda gravar uma medalha em cerâmica, em comemoração dos seus 90 anos de existência.
Em 1973 abraça um grande projecto que é a organização do Iº Festival Internacional de Coros Universitários, convidando para seus directores artísticos o maestro Fernando Lopes Graça e o Dr. Francisco Faria. Ambos viriam a declinar o convite, já depois de aceite, por incompatibilidades ideológicas e políticas, cabendo finalmente a direcção ao jovem maestro Fernando Eldoro.
O esforço que a realização deste festival requerera, acrescido do desgaste político que o confronto constante determinava e ainda as dificuldades de entendimento global com a ''irresponsabilidade académica'' decidiram Joel Canhão, visivelmente exausto, a retirar-se da liderança artística do Orfeon, o que veio a acontecer em Julho de 1973.
Num balanço rápido destes seis anos de actividade, poder-se-á dizer que eles foram extraordinariamente ricos no plano da produção artística, fruto do cunho personalizante incutido por Joel Canhão (um perfeccionista ao tempo não compreendido), mas obscurecidos pela desidentidade ideológica com a maioria académica, situação que só o 25 de Abril de 1974 viria a corrigir.

Período de Cândido de Lima
1973 - 1975
Ao tomar posse do lugar de maestro em Outubro de 1973, Cândido Lima chama a si o encargo de viajar entre o Porto, cidade onde vive, e Coimbra, para cumprir as suas múltiplas funções profissionais.
Era uma experiência nova, para ele, a desta área de direcção coral; e nela se embrenha com entusiasmo, procurando enriquecer o reportório do Orfeon com obras da sua autoria, especialmente escritas para este grupo coral e que de imediato põe em execução.
Pela primeira vez nasce, neste organismo, a vontade de se lançar a realizações de maiores proporções e, neste sentido, Cândido Lima escreve a Missa Medieval, para ser cantada no dia da Universidade, em 1 de Março de 1974. Por dificuldades resultantes de atrasos nos ensaios, apenas pôde ser montado o Kyrie e o Sanctus.
O 25 de Abril de 74 apanha o Orfeon a meio deste projecto e não o deixa concluir, por considerar bem mais urgente a solução de muitas outras situações de relacionamento, mantidas em conflito desde Abril de 1969.
O Orfeon actual é desmembrado, os seus membros são saneados e é nomeada uma comissão de gestão, formada por elementos de outros organismos, com especial participação do C.E.L.U.C. (Coral dos Estudantes de Letras da Universidade de Coimbra), comissão que tem por objectivo reorganizar o Orfeon, purgando-o do ''espírito fascista que o emblema''[37].
A actividade coral tem que ser toda reorganizada, já que em assembleia geral, convocada pela comissão, se decidira transformar o Orfeon num grupo coral misto, abrindo as fileiras à participação feminina, tal como acontecia com o Coral das Letras e o Coro Misto da Universidade. Transformou-se assim o Orfeon num grupo com iguais características às dos outros dois que já existiam e que eram mais que suficientes para dar resposta às solicitações femininas !. Erro histórico, quiçá irreversível !
Por todo o ano de 1975, o fervor militante não permitiu, praticamente, nada que não fosse o ajuste de contas inter-universitários e a proclamação desbocada dos grandes ideais da proletarização dos bens culturais.
A esta dinâmica nem o inteligente Cândido Lima conseguiu resistir, cansado de tentar conciliar, em termos artísticos, o inconciliável. Pediu a sua demissão ainda em 75, e foi substituído por Manuel Carlos Brito, um musicólogo vindo de Lisboa.
O processo revolucionário delapida também as boas intenções deste homem e obriga-o a resignar no final do ano académico de 75-76.
A actividade musical de todo este período é obviamente, bastante conturbada, a sua qualidade duvidosa, por falta de tranquilidade para o trabalho artístico, e os espectáculos são quase todos orientados no sentido de ''dinamização cultural'', e concretizados pela voz de duas dezenas, mal contadas, de militantes.

Período de Artur Carneiro
1976 - 1982
Com a chegada de Artur Carneiro, vindo de Lisboa, onde cantava no Coro Gulbenkian, o Orfeon ganhou uma nova dimensão, consequência, por certo, mais da experiência coral deste novo regente do que propriamente do enquadramento social da época que continuava pouco propícia à prática tranquila da música coral.
Os anos de 1976 e 1977 foram ainda de grande dificuldade no recrutamento de coralistas. As represálias políticas eram ainda pesadas, e a transformação do Orfeon em coro misto criava confrontos de identidade orgânica, só não sentida por quem vivia esta realidade de fora ou a passou apenas a viver após o 25 de Abril.[38]
A partir da transformação em coro misto e de acordo com os ''ventos dominantes'', também o ''Amen'' da Danação de Fausto de Berlioz foi abandonado como obra de congregação de todas as gerações orfeónicas e sempre cantado no final dos concertos, para dar a vez ao ''Acordai'' de Lopes Graça, obra com palavras de José Gomes Ferreira. Às gerações ''reaccionárias'' do ''Amen'' sucediam as gerações ''progressistas'' do ''Acordai''.
Os espectáculos passaram a ter apoio audio-visual, por norma ''slides'', que ilustravam a realidade social portuguesa e que se combinavam com a música coral, quase toda ela constituída por canções renascentistas ou cantigas populares portuguesas harmonizadas, com predomínio exclusivo de Lopes Graça.
Ainda no ano de 1977, o Orfeon deu concertos no Porto, Póvoa do Varzim, Figueira da Foz, Soure, Mangualde e Covilhã. Para além disso, colaborou na realização de outros concertos promovidos pela Inatel, Associação Académica e Alemanha Democrática, (concretamente na ''Semana da RDA'').
Em 1978 colabora nas comemorações do 1º centenário de Afonso Lopes Vieira, em Leiria; homenageia, a 4 de Maio, Fernando Lopes Graça, no Teatro de Gil Vicente, estando o compositor presente; organiza o ''1º Ciclo de Música e Arte Popular'' que traz a Coimbra, para além de Lopes Graça, o Octeto dos Madrigalistas de Lisboa, a Banda da Armada, o Coral Públia Hortênsia de Lisboa, a Orquestra Sinfónica Juvenil, o Quarteto Zimarlino, o Coral Phydellius de Torres Novas, a Orquestra Sinfónica Popular, dirigida por Álvaro Salazar, e ainda conferencistas como João de Freitas Branco, António Victorino de Almeida e Mário Vieira de Carvalho.
Em 1979, o número dos concertos dados era já considerável. E embora a maior parte destes coubesse à região de Coimbra, verdade é que o Orfeon se deslocou também a Braga, Évora, Régua, Vila Real, Chaves e Viana do Castelo.
Com a chegada de 1980, o Orfeon atingiu a época de maior projecção artística durante este período. São essencialmente três as razões que dão azo a esta projecção: a digressão realizada à Áustria e Polónia, as comemorações dos 100 anos do Organismo, e o 1º Encontro Nacional de Coros Amadores, integrado nestas comemorações.
A digressão decorre de 23 de Março a 7 de Abril e dela diz a imprensa diária: ''O Orfeon Académico de Coimbra fará uma <> pela Europa, dando concertos na Austria, Hungria, Polónia e Checoslováquia. No primeiro daqueles países, aonde se desloca a convite do adido cultural português António Victorino de Almeida, o Orfeon actuará em Viena, Salzburgo e Graz.''[39] De facto, nem a Hungria nem a Checoslováquia são visitadas e a Polónia deixou tristes recordações aos orfeonistas, pela desorganização em que se processou todo o projecto da viagem.
Em Maio deste mesmo ano o Orfeon desloca-se a Santiago de Compostela, retribuindo o convite da Tuna Compostelana.
O 1º Encontro de Coros Amadores teve lugar nos dias 28 e 29 de Junho, integrado nas Comemorações do Centenário do Orfeon. Foi uma realização de grande projecção, em razão do número de coros que movimentou: 75, presentes, dos 90 inscritos, num total de cerca de 2500 coralistas. O encontro encerrou com um espectáculo no Pátio da Universidade, com os 75 coros presentes e cantando em conjunto duas obras - ''Cum facis elemosinem" de D. D. Mélgaz e ''Os Homens que vão p'rá Guerra'' de Lopes Graça -dirigidas por Artur Carneiro.
Quanto às comemorações centenárias, em si, foram estas centradas nos dias 13 e 14 de Dezembro com o seguinte programa:
Dia 13: -10h-Concentração na Porta Férrea
-11h-Cumprimentos ao Magnífico Reitor
-12h-Visita ao Jardim Escola João de Deus
-13h-Visita à Câmara Municipal e almoço
-15h-Visita à Casa dos Pobres
-16h-Visita ao Diário de Coimbra
-15h-Actuação para Coimbra nas escadas de Santiago
-18h30-Visita à A.A.C., seguido de Ensaio Geral
-21h30-Sarau no Teatro Gil Vicente
-24h-Serenata no Jardim da Sereia
Dia 14: -10h-Romagem à campa de Raposo Marques
-11h-Visita ao Asilo Dr. Elísio de Moura
-12h-Missa na Capela da Universidade
-13h-Fotografia na Via Latina
-14h-Almoço de confraternização e despedida
A imprensa nacional noticiou profusamente estas Comemorações.
O sarau, ponto artisticamente mais alto do programa, não desiludiu as expectativas. Num Gil Vicente repleto, reuniram-se antigos e actuais orfeonistas, num espectáculo prolongado que, para além do Orfeon Académico de Coimbra, contou ainda com um acto de Variedades e a colaboração do novo Coro dos Antigos Orfeonistas do Orfeon Académico de Coimbra, constituído para abrilhantar as referidas comemorações e que, posteriormente a elas, tem vindo a acumular, no seu curto passado, os testemunhos de excelentes prestações artísticas.
Noite alta, e em fim de sarau, antigos e actuais orfeonistas uniram-se de novo ao som do ''Amen'' de Berlioz. Foi a apoteose!
Para as Comemorações foi feito um ''crachá'' e gravada uma medalha em bronze, tendo esta de um lado a esfinge de João Arroio e do outro o actual emblema do Orfeon.
Os dois últimos anos de permanência de Artur Carneiro no Orfeon quase que podem ser entendidos como o tempo necessário para a desaceleração de todo este processo comemorativo. A sua disponibilidade diminuiu e o ritmo de trabalho ressentiu-se na mesma proporção.
Os concertos foram todos realizados à escala nacional. Para além de uma digressão ao Alentejo, Algarve e Beira Alta em 1981 e de uma participação no 2º Encontro de coros da região de Coimbra, em 1982, nada mais de significativo aconteceu.
Ao período de Artur Carneiro compete, por direito, o mérito da realização de um trabalho especial. As condições sociais, como já foi dito, não eram ainda as ideais e a mudança para grupo misto obrigou a repensar toda a realidade coral.
A tudo isto vem juntar-se uma certa indisponibilidade dos universitários, mais voltados para outras linhas de actuação e a abertura, por força dos estatutos, a pessoas não universitárias, que acorreram ao organismo como forma de promoção e como porta de acesso ao meio estudantil.
Contudo, durante os seis anos deste período, o reportório foi bastante arejado, histórica e estilisticamente educativo, as organizações paralelas culturais aconteceram com frequência e, mais importante que tudo, o Orfeon conseguiu começar a reafirmar a sua imagem de dignidade académica.

Período de Virgílio Caseiro 1982 -
Com a chegada de Outubro de 1982, o Orfeon deu início a uma nova etapa da sua história, contratando o maestro Virgílio Caseiro.
Retomando uma dinâmica de recuperação artística que começara a sentir-se já em finais da década de 70, foi fácil incutir no Orfeon o desejo de um novo pensamento musical que respondesse polivalentemente às tarefas que ao organismo eram solicitadas: representar a Universidade sob o ponto de vista artístico, ter um papel pedagógico junto dos seus membros e ser um vector coral educativo para as populações mais carenciadas.
Logo no ano de 1983 foi recuperada a tradição do uso do traje académico,''Capa e Batina'', passando o Orfeon a actuar, de novo, vestido com as suas insígnias universitárias. Também neste ano se começou a pensar na idealização de espectáculos que, radicados no movimento e no apoio audio-visual, modificasse, por actualização, a mensagem musical, dimensionando-a a vários níveis da sensorialização, em última análise um espectáculo cénico-musical.
Isto foi realizado e apresentado em público já nesse mesmo ano, mas só no ano seguinte se pôde atingir a maturação pretendida.
Desde então, e com o aproveitamento dos períodos de férias, tem vindo sempre a manter-se a vontade do Orfeon de seguir numa linha mais ou menos itinerante, como factor de projecção universitária a nível artístico. E assim, ainda nesse ano de 1983, realizou-se na Páscoa uma digressão a Espanha, à cidade de Salamanca, depois de, durante as férias de Natal, se ter estado já no Alentejo.
A partir de 1984, começou a grande odisseia europeia do Orfeon. Todos os anos tem tido lugar uma digressão à Europa, e algumas vezes duas.
Em 1984 o Orfeon visitou a França, onde apresentou o seu espectáculo encenado. Ainda neste ano, fundou duas secções paralelas e subsidiárias do coro: uma escola de fado de Coimbra, onde se formassem os cantores e instrumentistas necessários à serenata de encerramento dos concertos e um grupo de música popular para complementarização dos mesmos. Estes grupos continuaram em actividade constante durante toda a década de 80 e permanecem ainda em plena actividade.
Em 1985 iniciam-se os ciclos denominados ''Hora e Meia com a Música'', que têm por objectivo a realização de conferências e palestras com individualidades de renome no panorama musical nacional e que se irão prolongar até 1989. Estes ciclos trazem de novo a Coimbra figuras como Fernando Lopes Graça, António Victorino de Almeida, Bernardo Sá Machado, João de Freitas Branco, Mário Vieira de Carvalho, e outros.
Neste ano o Orfeon volta à Europa. Visita a Espanha - Valência e Sueca -, e, mais tarde, a França - S. Etienne, Lyon e Saint Dié - e a Alemanha - Frankfurt, Wiesbaden e Babenhausen.
Em 1986, o Orfeon organiza um curso de direcção coral para não-iniciados, numa tentativa de colaborar no incremento da qualificação dos novos maestros regionais.
Na sequência deste espírito, é também criado um Grupo de Câmara Vocal, formado por 4 elementos por naipe e tendo por objectivo a abordagem de reportório musical de difícil acesso ou de características estilísticas desaconselhadas à totalidade do Orfeon. Este grupo manteve-se até à actualidade, com boas perspectivas de continuação.
A França e o Luxemburgo são os países visitados nas férias da Páscoa deste ano.
Ainda em 1986, dão-se os primeiros passos no sentido da criação de um coro de câmara com orfeonistas.
Entretanto, em todos estes anos, os concertos nacionais continuavam a acontecer, bem como as participações constantes em saraus académicos. As férias do Natal eram aproveitadas em geral para digressões internas. Nesta quadra, o Orfeon visitou o Alentejo em 1983, Trás-os-Montes em 1984, de novo o Alentejo em 1985 e o Algarve em 1986.
Em 1987, por entendimento e sensibilização artística, o Orfeon começou a ensaiar obras de dimensão mais vasta que, por um lado, entusiasmassem os orfeonistas no sentido de um maior empenhamento e, por outro, lhes trouxessem um maior benefício de carácter educativo. A primeira obra escolhida ao abrigo deste critério foi a ''Missa Brevis'' K 259 de Mozart, apresentada a público com acompanhamento de órgão e pequeno grupo de cordas.
A Itália e a França foram os países contemplados na digressão da Páscoa deste ano.
Em 1988, outras realizações ocorreram, marcadas pela sua importância e com novidade: a gravação de uma cassete com o reportório do Orfeon, destinada a comercialização; o início dos ensaios do Glória de Vivaldi, para ser executado em parceria com a Tuna Académica e com a colaboração de solistas profissionais; a cunhagem de uma nova medalha em bronze e a preparação da 1ª Mostra Internacional de Coros Universitários.
A digressão da Páscoa teve de novo por objectivo a França, em seguida a Bélgica e depois a Alemanha Federal.
Um ano mais tarde, a viagem à Holanda, à Suíça e à Alemanha, assinalou o ponto mais alto da actividade coral deste ano.
Em 1990 entrou em ensaios a ''Missa Beatae Virginae Mariae'' de Filipe de Magalhães. Também nesta data o Orfeon representou a Academia de Coimbra na Unesco, em Paris, por ocasião da Abertura das Comemorações dos 700 anos da Universidade de Coimbra.
Actualmente está a ser trabalhado um novo projecto de realização do Glória de Vivaldi, desta vez em conjunto com a Nova Filarmonia Portuguesa e a integrar no sarau de encerramento dos 700 anos da Universidade ...


... Algumas considerações sobre o reportório
Tendo em linha de conta o número de obras por maestro e o número de anos de permanência de cada um deles no Organismo, verifica-se que há tendência para uma média de 6 a 8 obras montadas por ano. Os períodos de produção mais baixa, fazem, contudo, cair esta tendência sob o ponto de vista estatístico.
Se atendermos globalmente ao tempo total de funcionamento do Orfeon - 83 anos reais de actividade - teremos cerca de 3 a 4 obras novas por ano. Mas este número não tem significado real, já que ele obscurece, por diluição, as épocas de maior incremento artístico e cultural em favor daquelas em que se sentiu um nítido atavismo produtivo.
Por seu lado a enunciação das obras é importante já que da análise destas se poderão deduzir dados sobre o seu grau de dificuldade, as principais preocupações artísticas dos vários períodos, e até concluir sobre o papel educativo do Organismo ao longo dos tempos.
Assim, não deixa de ser representativo o facto de ainda em pleno séc. XIX aparecer um grupo coral que de imediato se propõe realizar música contemporânea e dar uma importância relativamente grande a românticos alemães como Wagner, Weber e Meyerbeer. Obviamente, poder-se-á concluir que ao grupo e ao seu regente assistia uma forte sensibilização à modernidade, complementarizada pelo contributo de poetas da mesma época como João de Deus e Guerra Junqueiro.
Chegado o tempo de António Joyce, esta preocupação dinâmica de mensagem musical nova não esmorece, revelando a tendência actualizante de quem continuava a presidir aos destinos artísticos do Orfeon. Agora, neste princípio de século, o O. A. C. dava a conhecer ao público académico, e ao da cidade, reportório (algum dele inédito) de um grande número de compositores românticos - Berlioz, Brahms, Grieg, Massenet, etc. - e continuava a ponderar como importante a inclusão de Wagner (quatro obras).
Com Elias de Aguiar e Raposo Marques, esta tendência mantem-se e o reportório passa a incluir também algumas obras determinadas pela necessidade e exigência dos espectáculos e digressões realizados. A música portuguesa harmonizada ganha dimensão e aumenta em número.
Com Joel Canhão, atinge-se um período de maturação orfeónica e verifica-se uma tendência para o abandono prioritário dos grandes ''clássicos'' europeus. A atenção centraliza-se agora nos compositores nacionais. Esta tendência, embora já presente em Raposo Marques, acentua-se com Joel Canhão. A abertura é agora mais ampla e o leque de compositores nacionais representados alarga-se.
Depois das passagens meteóricas de Cândido Lima e Carlos Brito, não tendo qualquer deles residido tempo suficiente para imprimir ao organismo um cunho artístico pessoal, é, com Artur Carneiro, verdadeiramente o primeiro regente orfeónico pós 25 de Abril de 74, que se nota uma tendência para a divulgação do reportório renascentista, num Orfeon que, fruto das circunstâncias, se encontrava agora constituido como coro misto, depois de ter existido durante décadas exclusivamente como coro masculino. Esta alteração das características constituintes do Orfeon é determinante para a procura de novos reportórios.
Saído que foi Artur Carneiro, entrou no Organismo Virgílio Caseiro, que tem vindo a assegurar a direcção artística até à actualidade. O reportório ganhou agora uma dimensão ecléctica, histórica e pedagógica. Tem como objectivo dar uma panorâmica das várias correntes musicais e actuar como elemento de entrosamento lúdico-didáctico, sempre condicionado por uma intenção de carácter formativo e de abertura ao progresso. Começou a notar-se uma certa preocupação com obras de maior dimensão e folgo técnico mais arrojado.
Pode assim concluir-se que, o Orfeon Académico de Coimbra sempre teve em vista um objectivo de intervenção cultural na cidade e na população académica a quem serve, não descurando nunca a sua valência artística, representativa da Universidade em que está inserido em simultâneo com uma intenção de militância artístico-pedagógica junto dos académicos. Actua portanto como elemento de transformação e melhoramento do gosto musical e refinamento estético e estilístico destes.
Os anos têm vindo a demonstrar ser substancial a diferença de opinião e sua fundamentação artística entre um orfeonista recentemente admitido ( geralmente atraído por obras de impacto, ainda que de gosto duvidoso) e um outro já experiente, com vários anos de prática coral muito mais sensibilizado, portanto, para a especificidade desta música coral (polifonia, contraponto, harmonia) e para o entendimento e a absorção das suas subtilezas. As dissonâncias e as soluções harmónicas mais complexas começam a encantá-lo.
O Orfeon como centro actual de projecção e formação artística no meio académico e na cidade
O Orfeon Académico de Coimbra não pode deixar de considerar os seus 111 anos de história, como um somatório de dedicação contínua e transmitida de geração em geração, anos manifestados por factos e atitudes beneficentes, aliados sempre à expressão de uma mensagem musical e educativa, construida, é certo, dentro das suas paredes físicas, mas projectando-se a todo o meio académico e não-académico, ou seja, ''futrica''[40].
Ao falar de Coimbra e da sua Academia, três ou quatro entidades, para além da própria Associação Académica, emergem como pontos fortes de união: o Futebol, os Fados, a Queima das Fitas e também o Orfeon Académico.
Ponto de encontro associativo inegável, este foi, ao longo dos tempos, tribuna de defesa da causa estudantil e um dos elementos responsáveis pela sua congregação.[41]
Por ele passaram centenas de estudantes que mais tarde foram e são responsáveis por altos cargos políticos, culturais, artísticos, religiosos e governamentais no país.
Justifica-se, por isso, este olhar retrospectivo que, partindo da sua história, da sua actividade e do seu reportório, pretende avaliar o contributo efectivo que o organismo deu à população académica, à cidade e mesmo até ao país.
Como base de apoio, elaboraram-se dois sucintos inquéritos dirigidos a cidadãos antigos orfeonistas e a cidadãos não orfeonistas, com o objectivo de recolher, tão somente, as respectivas opiniões em relação ao Orfeon Académico de Coimbra ou ao seu conhecimento. Esses inquéritos incluiram propositadamente a identificação dos inquiridos, já que a temática não é polémica, e da identificação podem advir vantagens para um posterior diálogo e análise.

Actividade Musical
Ao ter sido e continuar a ser, de facto, um coro universitário, o Orfeon dá à música, e dentro desta à música coral, o principal enfoque de actividade, partindo dela e a ela chegando como razão de ser das suas organizações, concertos e demais manifestações.
Para a análise da função social e formativa do organismo, três pontos deverão ser tomados em linha de conta na definição dos vectores de valor. São eles concretamente: a importância do reportório, o trabalho desenvolvido pela Direcção e a lucidez artística do regente. Mas, será ainda indispensável não esquecer que a função actual, artística e cultural deste organismo radica no legado histórico deixado pelas anteriores gerações, pois que estas, ao condicionarem por tradição o organismo, lhe dão continuidade, coerência e vínculo personalizante. Este espírito, aliás, é por demais importante nesta cidade de Coimbra, e disso todos têm a necessária consciência.
É por força deste factor, que se entendeu tentar encontrar primeiro, no passado, as principais linhas de actuação, para depois elas se relacionarem com o presente e se inferir então da continuidade ou não dos seus rumos.
Musicalmente, parece indiscutível o carácter positivo da acção exercida pelo Orfeon ao longo dos tempos e do contributo que ele deu à formação das populações a quem serviu e serve. São prova disso o prestígio de que o organismo goza, o vigor das descrições feitas por estudantes das várias épocas, e ainda a análise dos tipos de reportório que têm sido os seus.
Quanto ao prestígio, são dele prova quer os diplomas de mérito conquistados e já anteriormente enumerados, quer a frequência com que era chamado a representar a Universidade no país e no estrangeiro, quer ainda a assiduidade com que era convidado como principal elemento das mais variadas manifestações académicas, e não só.
Quanto às descrições feitas por antigos estudantes, em livros de memórias ou em relatos em orgãos de imprensa, onde ressalta de imediato o seu envolvimento afectivo com o Orfeon e a maneira como este o promoveu cultural e esteticamente (ainda que não pertencendo realmente às suas hostes), são também inúmeras as provas, e todas elas consensualmente abonatórias[42].
Por último, será o reportório o mais transparente juiz do mérito artístico do Orfeon e do papel que, através daquele, este poderá ter tido. Cabe por isso ao reportório o privilégio duma atenção preferencial, que demonstre ou não a militância cultural da sua estruturação.
Nesta linha de acção, não pode deixar de se referir, ter sido o Orfeon o primeiro grupo a executar em Portugal, logo no ano da sua criação, música do contemporâneo Wagner. E a música deste compositor jamais deixou de fazer parte do reportório durante vários dos anos seguintes.
Significativo também foi o facto de o Orfeon ter sempre tentado dar a conhecer reportório musical internacional, mesmo numa altura em que o gosto pela música coral não era ainda em Portugal um dado adquirido.
Com o evoluir dos anos, a participação de obras compostas ou harmonizadas pelo própria mão do regente aumentou, e neste campo foi com Raposo Marques que a situação atingiu a sua maior dimensão.
Na selecção do reportório, notam-se ainda duas tendências determinantes: uma, até Raposo Marques, que pretende dar a conhecer obras de grande impacto coral -coros de óperas- com principal preferência por compositores românticos; outra, a partir de Joel Canhão, em que se dá maior importância à música renascentista -com realce para os compositores portugueses- durante a qual se esbate a opção pela ópera em favor de obras de maior recato estilístico.
Actualmente observa-se uma tendência para um reportório ecléctico, ora de intenção histórica, ora de sentido pedagógico. Em simultâneo, há a preocupação de se abordarem obras de maior envergadura do que as que a prática tradicional anterior aconselhava, tentando levar os orfeonistas a um contacto mais intenso e mais participativo com a música. São exemplos desta tendência obras como o Glória de Vivaldi, A Missa Brevis K.259 de Mozart ou a Missa Beatae Virgine Mariae de Filipe de Magalhães.
O facto de no Orfeon, ao longo do tempo, se ter sempre dado abertura à prática paralela de actividades musicais complementares à coral, e em si mesmas enriquecedoras, como é o caso da inicial Orquestra Ligeira, do Grupo de Jazz, do Grupo de Variedades, do Grupo de Música de Câmara, do Grupo de Música Popular e do Grupo de Fados, permitiu-lhe organizar concertos com um leque de hipóteses, à altura de dar o tipo de respostas que um determinado público estaria mais interessado em escutar.
Este facto e esta estratégia teve como resultado que aos concertos dados pelo Orfeon Académico nunca faltasse público, e nos relatos feitos é constante a indicação de que as salas estavam completamente cheias. É que, aos concertos, convergiam dois tipos de espectadores: os que gostavam de música coral, e por isso a iam ouvir, e os que, não gostando dela ainda, a suportavam e digeriam à espera do que queriam ouvir a seguir: o humor revisteiro das Variedades, complementarizado pelo eterno ponto final dos concertos académicos, a Serenata de Coimbra.
De tudo o que acima fica exposto poder-se-á agora partir para uma melhor compreensão da actual actividade musical do organismo. Esta pretende ser uma dádiva musical, sempre renovada, no âmbito de toda uma evolução histórica da produção musical, tendo particularmente em vista os valores formativos capazes de congregar e fortalecer os laços que devem enformar o espírito da família orfeónica, mantendo-o vivo.
Mas não só a população universitária beneficiou ou beneficia da actividade musical do Orfeon Académico de Coimbra. A própria cidade muito deve ao organismo, pelo trabalho cultural, que tem vindo a desenvolver. Coimbra não tem, ainda hoje, uma resposta de projecção musical profissional patrocinada pelas entidades oficiais responsáveis - Governo e Autarquia - e tudo, ou quase, o que se fez no passado e se continua a fazer no presente tem passado pela criatividade e acção dos organismos académicos, e entre estes do Orfeon.
Assim, e exclusivamente circunscrito agora à actualidade, poder-se-á concluir que ao Orfeon continua a caber uma quota parte importante no papel de divulgador da música coral, e que é através dele, quer em saraus académicos, quer em concertos públicos assiduamente dados, quer ainda em organizações de ciclos de espectáculos, que a cidade tem acesso à audição de obras corais de vários estílos e épocas[43].

Acção Educativa
O objectivo de carácter educativo em matéria de música, que o Orfeon tem vindo a ter sempre em vista ao longo dos tempos, sugeriu a ideia de se apurar, através de inquéritos, qual a acção que, neste contexto, o Orfeon exerceu também no futuro comportamento cultural dos antigos orfeonistas. E neste sentido foram enviadas, a alguns deles, folhas de perguntas que obtiveram respostas mais ou menos coincidentes.
Verificou-se assim que há todo um conjunto de factores que, então, como hoje, contribuiu e contribui para a prossecução do objectivo educativo acima referido. São eles: o aprender a cantar e o cantar, a convivência com vários tipos de música, o discernir das suas diferentes correntes e estilos, a identificação com um protocolo artístico de concerto, o contacto com outras cidades e países e, por sobre tudo isto - e não com menor relevância- a auto disciplina e a consolidação do valor da fraternidade social. Enfim, todo um conjunto de vectores que contribuem para uma melhor formação do homem em sociedade.
Para além da sua actuação prática na convivência do coro, o Orfeon tem vindo a oferecer, aos seus membros, cursos intensivos de técnica vocal e de dicção, que não poderão deixar de ser proveitosos na sua futura vida profissional.
Por outro lado, o contacto com os diferentes tipos de linguagem musical constitui um forte contributo para o alargamento da cultura artística de cada um.
Ao "mexerem" na música por dentro e ao executarem-na em conjunto, os orfeonistas estão na sua maior parte, e ao cabo de poucos anos de permanência nas fileiras, à altura de destrinçar épocas e estilos e, consequentemente, de adquirir um gosto musical mais requintado e mais aberto a todo o género de música, mesmo à mais complexa. A uma preferência inicial pela simplicidade melódica e harmónica, vai sucedendo, aos poucos, um alargamento de receptividade estética, que vai até à aceitação do que fora radicalmente regeitado ao princípio: a música contemporânea.
Um outro factor de aprendizagem é indiscutidamente a auto-disciplina. Através da prática coral e das realizações musicais colectivas, o espírito de responsabilidade vai-se desenvolvendo e, mais que isso, vai sendo aprendida a maneira de rentabilizar a disciplina, coordenando os dados que para ela contribuem e conjugando, com ela, o habitual espírito de irreverência académica. Por último, a identificação de grupo que o espírito orfeónico traz consigo, determina uma corrente fraterna duma durabilidade perene, que ressalta logo que se dialoga com qualquer actual ou antigo orfeonista. A própria prática de ter ''obrigado'' o Orfeon a manter no reportório uma obra de ligação (desde 5/3/1910 o Amen da ''Danação de Fausto'' de Berlioz e, a partir de 1974, o ''Acordai'' de Lopes Graça), prática que possibilita às anteriores gerações poderem cantar com as actuais, muito contribuíu pelo menos nesse caso pontual, para a manutenção desta união fraterna. Assim, no final de qualquer concerto, continua a ser possível chamar ao palco todos os antigos orfeonistas e cantar com todos em conjunto.
Desde 1984 que o Orfeon tem em reportório, de novo, o ''Amen'', que executa em conjunto com o ''Acordai'', respondendo deste modo aos desejos tradicionalistas das gerações antes e após o 25 de Abril de 1974 ...


... De facto, o Orfeon foi elemento interventor e modificador na vida de cada um dos seus membros, deixando-lhe fios de conduta que os acompanham e condicionam pelo resto dos seus dias.
Ultrapassando agora o âmbito universitário e caíndo na cidade de Coimbra, verifica-se não ser também aqui para desprezar a acção educativa que o Orfeon nela tem vindo a exercer.
Não só pela via musical, mas também por meio de todas as outras actividades de desenvolvimento cultural - conferências, ciclos, concertos, festivais, cursos, acções de formação, debates - pôde a cidade anónima ter acesso a uma forma complementar e actualizada de cultura.
Por último, o simples facto de ainda hoje, e não obstante a quantidade brutal de concorrentes culturais, ser reservado ao Orfeon um posicionamento de preferência dentro dos organismos culturais da cidade, e de a sua presença ser obrigatória aquando da organização de qualquer manifestação cultural, pelo contributo qualitativo e beneficente que está disponível para fornecer, é prova do que a cidade dele espera, e por outro lado o que a mesma cidade dele continua a pretender.
Não pode deixar de ser referido, também, o facto de várias vezes por ano chegarem à direcção convites para espectáculos, quer no país quer no estrangeiro; e se é verdade que em relação aos convites nacionais eles decorrem fruto do conhecimento do organismo e do conhecimento da sua qualidade artística, muitas vezes, em relação aos convites vindos de países estrangeiros, eles aparecem tão somente motivados pelo conhecimento da existência do Orfeon, dada por orgãos oficiais, - o que é prova do seu reconhecimento e valor - ou pelo relato pessoal de alguns (e muitos são) que transportam, sem esquecimento, para o estrangeiro, notícias, relatos e bocados de saudade do seu querido Orfeon.

Os Inquéritos
Apesar de o inquérito realizado não ter sido feito como acima se disse, com qualquer objectivo de carácter estatístico, nem por isso deixa de ter interesse dar aqui, sob a forma de quadros, a síntese dos dados recolhidos.
As respostas dadas por antigos orfeonistas e por cidadãos não diferenciados - grupos que se procurou que estivessem dentro de uma mesma zona profissional e etária - levaram à conclusão de que é diferente o posicionamento destes dois estratos sociais, como consequência de vivências diferentes e de diferentes oportunidades de prática artística.
Entre os inquiridos, não orfeonistas, só 24 tinham pertencido, na sua juventude, a algum clube, quase sempre desportivo, e só 8 colaboram na actualidade com clubes ou associações.
Os resultados aconselham a poder adiantar que, de facto, o ter pertencido ao Orfeon Académico de Coimbra deixou um resíduo cultural e educativo que predispôs à aceitação e convivência, mais ou menos assídua, com a arte e muito particularmente com a música.
Por isso se nota uma resposta globalmente afirmativa à assistência a espectáculos, caso que não se passa com o outro universo inquirido, bem assim como uma preferência nítida pelos concertos musicais, tendo como segunda alternativa o desporto; no caso dos não orfeonistas já a primeira opção é o desporto e a segunda o cinema.
Nota-se, também, por parte dos antigos orfeonistas, uma maior predisposição para os programas televisivos de carácter cultural e em termos gerais sente-se a tendência para o facto de serem espectadores do pequeno ecrãn menos habituais.
Por último e decorrente do gráfico ''Primeira preferência em espectáculos'' a música lidera indiscutidamente o gosto, coisa que não acontece já com os ''outros cidadãos''.
Da comparação genérica dos dois grupos inquiridos, conclui-se que neles estão criados hábitos, práticas e gostos diferenciados. Muitos factores poderão contribuir para tal constatação. Contudo, o verificar-se que pelo menos um dado - ser orfeonistas - pesa num dos grupos e no outro não, pode e deve alertar os observadores para uma leitura de causa e efeito que responsabilize, pela positiva, o papel educativo e valor formativo que coube ao Orfeon Académico de Coimbra.

Conclusões
Ao delinear este trabalho, teve-se particularmente em conta dar uma visão sistemática das linhas de evolução seguidas pelo Orfeon, ligando épocas e criando a continuidade histórica que ao organismo não tinha ainda sido dada.
Daqui ressaltou, por certo, o valor do Orfeon como instituição académica, a nível citadido, e até mesmo à escala nacional, valor reforçado ainda pela acção que tem vindo a exercer no país e também no estrangeiro, como elemento representativo da universidade a que pertence. Hoje, e como consequência de 111 anos de actividade musical, social e cultural, o Orfeon colhe o prestígio que lhe advem de um longo posicionamento artístico e académico, e é um dos principais interlocutores culturais da Universidade de Coimbra.
Outro aspecto que necessita ainda de ser estudado, consiste em se saber até que ponto as modificações operadas após o 25 de Abril de 1974, transformando o Orfeon Académico em mais um coro misto da Academia, terão sido benéficas para o seu prestígio e reconhecimento, ou terão sido e continuam a ser um entrave para a identidade que a sua constituição, inicialmente apenas masculina, lhe imprimiu desde a fundação. E é lícito perguntar-se se a transformação operada, muito para além de trair a própria designação histórica de orfeon, não terá diminuido o campo de manobra e de aceitação do organismo, sempre possível de contestação por parte dos tradicionalistas, e diluindo-o na massa vasta dos coros mistos que o país já possui.
Ao Orfeon cabem, neste momento, 94 anos de história como coro masculino e 17 como coro misto. Numa altura e numa Universidade em que a população feminina é superior em número à masculina, e com tendências para assim continuar, poderá este factor ser determinante para apreciação, no encontro entre as duas diferentes correntes e consequentes tomadas de posição, já que é favorável ao actual estado de coisas.
Outro fenómeno que tem vindo a interferir na vida orfeónica e a tem vindo também a modificar subrepticiamente é a modificação das cargas curriculares, alterando a duração dos cursos universitários, muitos deles reduzidos a 4 anos. Por outro lado, o espírito de competitividade imposto ao sistema, fazendo das classificações a porta de saída para o mercado de trabalho, faz sentir também o seu peso. Como consequência destas duas situações a vida associativa tem-se vindo a modificar, e a rentabilização do tempo é hoje um factor que não pode escapar a qualquer estudante, impedindo-o, tantas vezes, de dar o seu contributo a actividades que, embora desejadas, brigam parcelarmente com o aproveitamento escolar.
O Orfeon sente, obviamente, a força deste enquadramento no actual sistema e a disponibilidade de dádiva dos seus membros tem vindo a diminuir, chegando-se mesmo ao ponto de, para lugares directivos - postos antigamente pretendidos e dignificantes, para além de promotores, - ser difícil encontrar pessoas disponíveis. As Direcções têm vindo a ser preenchidas, quase sempre, por lista única e, em última instância, já em Outubro, quando os estatutos prevêm as eleições em Junho. Tal situação cria condições de descontinuidade que impossibilitam, por vezes, a elaboração de projectos sérios e inconsequencializam linhas de rumo a médio e longo prazo.
Positiva é, contudo, a mudança que se tem vindo a fazer sentir na qualidade musical possível de se atingir. Talvez fruto de uma educação musical mais esclarecida nas escolas do Ciclo Preparatório, ou de um maior interesse e procura de formação musical para os mais novos, vão chegando à Universidade jovens cada vez mais disponíveis para a música e capazes de concretizar projectos musicais mais arrojados.
Prova do real valor educativo do Orfeon Académico de Coimbra e do peso do seu prestígio a nível histórico, tradicional e estudantil é, sem margem para dúvidas, a existência do Coro dos Antigos Orfeonistas do Orfeon Académico de Coimbra. Se o Orfeon não tivesse sido, e não fosse, nunca este grupo teria tido espaço de existência.
O Coro dos Antigos Orfeonistas é hoje ponto de encontro das mais díspares gerações orfeónicas, com oscilações de idade que vão dos vinte e poucos anos até aos oitenta e muitos, e onde os seus elementos, conscientes do que o ''Pai Orfeon'' lhes deu de positivo para a sua formação e vida, ali vão refrescar saudades e matar a sede que um dia a dia competitivo e profissionalmente delapidador causou.
A concluir, aqui ficam algumas das palavras que mais repetidamente foram referidas, precisamente por estes antigos orfeonistas, quando, inquiridos sobre a imagem que deste organismo lhes ficara, a expressaram através de uma só palavra, sempre do domínio afectivo: SAUDADE, AMIZADE, FRATERNIDADE, FAMÍLIA, AMOR.

[1]- Esta seriação obedece a uma ordem decrescente de valor.
[2]- Trindade Coelho, ''In illo Tempore'', pág. 43.
[3]- ''A Velha Alta Desconhecida'', Album comemorativo das Bodas de Prata da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, 1984. Este monumento acabaria por ser removido do seu local inicial aquando das obras de construção da actual Faculdade de letras em 1948. Mais tarde, o leão passou a embelezar os jardins da A.A.C. e, por último, o monumento foi reconstruido no local onde hoje se encontra - traseira da Faculdade de Físico-Química, junto ao edifício do C.A.D.C.
[4]- O Teatro Académico foi fundado em 1838 por José de Serpa. Herdeiro da anterior Nova Academia Dramática, estava situado na antiga Rua Larga, no local onde é actualmente a Biblioteca Geral. Inaugurado em 1839, resistiu com vida até 1888, começando a sua demolição em 1889, para nesse local se edificar um novo teatro. Tal projecto jamais se concretizou.
[5]- Trindade Coelho,''In Illo Tempore '', pág. 43 a 46.
[6]- Ibidem, pág. 43 a 46.
[7]-Ibidem, pág 44
[8]- Ibidem, pág 44
[9]- Festas promovidas pela academia, em honra da Sebenta, tentando parodiar o número exagerado de comemorações centenárias realizadas neste final de século - Camões, Caminho Marítimo para a Índia, Marquês de Pombal, Santo António, Infante D. Henrique e Almeida Garret.Foram promotores das comemorações Alberto Costa, ''Pad-Zé'', Alexandre de Albuquerque, João Eloy e D. Vicente da Câmara. Os cartazes e postais foram realizados por Álvaro Viana de Lemos.

[10]- O Teatro Circo viria a designar-se, mais tarde, por Teatro Príncipe Real e ainda, depois, por Teatro Avenida. Este foi demolido em finais da década de 1980 e substituído por galerias comerciais , salas de cinema e teatro. Ficava situado na Avenida Sá da Bandeira.
[11]- A cópia da acta desta assembleia encontra-se em anexo final.
[12]- A Igreja de S. Bento era contígua ao actual Instituto Botânico, junto aos Arcos do Jardim. Já em ruínas nesta época, viria a ser demolida bastante mais tarde ao abrigo do projecto de reconstrução da cidade universitária.
[13]- Luiz Gonzaga in ''O Commercio de Vizeu'' de 24/2/910.
[14]- Hino composto em 1851, com música de Dr. José Cristiano Medeiros e letra de Dr José Sanches da Gama.
[15]- Fernando Correia, ''Vida Errada'', 1933, págs 78 a 82.
[16]- Construido ao fundo da Alameda do Dr Júlio Henriques, junto ao Seminário Maior, sob projecto do arquitecto Raul Lino.
[17]- No tocante a descrições exaustivas e circunstanciais da vida orfeónica, deve o leitor remeter-se à leitura das obras indicadas na bibliografia geral, porque estas, enquanto incidentes sobre um só período do Orfeon (por exemplo, Viagem a Paris, Ida à Guarda, etc,), conservam a memória de quem, como e quando deu o melhor do seu contributo ao organismo.
[18]- Carta ao O.A.C. do antigo orfeonista Augusto Morna - tenor - e publicada no livro "Bodas de Diamante do Orfeon Académico de Coimbra-1955".
[19]- In''Comemorações das Bodas de Diamante'', Coimbra,1955.
[20]- De acordo com programa em arquivo no O.A.C.
[21]- Tal como viria a acontecer, mais tarde, com Raposo Marques, D. José Pais foi regente substituto várias vezes durante o período de Elias de Aguiar. D. José Pais, depois de engenheiro, foi regente do Orfeão de Leiria, substituíndo Rui Barral. Este coro, tal como o O.A.C., era exclusivamente masculino, e continua ainda a sê-lo hoje.
[22]- Armando Ribeiro Cardoso, médico em Gouveia, e orfeonista de 20 a 24, em carta enviada ao Orfeon para as comemorações das Bodas de Diamante.
[23]- Segundo António José Soares, no seu livro Saudades de Coimbra 1917-33, a 1ª vez que <> substituiu Elias de Aguiar foi em 1926 num dos três espectáculos que o Orfeon realizou no Coliseu dos Recreios em Lisboa.
[24]- Falcão Machado, Comemorações das Bodas de Diamante do O.A.C., 1956.
[25]- António de Almeida Santos, ''Coimbra em África'', 2ª ed.pág 95.
[26]- Ibidem, pág. 283.
[27]- Este campo, já referido desde o tempo Crúzio, fica localizado junto à porta poente do Parque e voltado para a actual Praça da República.
[28]- No jornal ''A União'' de 23 de Abril de 1960.
[29]- Diário de Lisboa de 22 de Junho de 1962.
[30]- Diário da Manhã de 30 de Outubro de 1962.
[31]- Diário de Notícias de 16 de Outubro de 1962.
[32]- Diário Ilustrado de 20 de Novembro de 1962.
[33]- Instalações actuais da Associação Académica de Coimbra desde 1961.
[34]- Até aqui os ensaios decorriam no Palácio dos Grilos, anterior sede da A.A.C., em salas esconsas e quase ocasionais, algumas vezes, até, nos próprios corredores.
[35]- Esta estrutura de espectáculo, ressalvada que seja a 2ª parte, era a estrutura mais habitual aos espectáculos do Orfeon, ou seja, uma 1ª parte com 7 ou 8 peças, uma 2ª parte com o mesmo número de obras, quase sempre harmonizações de canções populares portuguesas, e uma 3ª parte de variedades com rábulas, canções, imitações, ilusionismo, noticiário humorístico de carácter local, etc(dependendo um pouco das capacidades criativas momentâneas dos orfeonistas da época) e terminando sempre com uma serenata de Coimbra.
[36]- Sobre esta temática consultar Celso Cruzeiro no livro ''Coimbra,1969, a crise académica, o debate das ideias e a prática, ontem e hoje'', Ed. Afrontamento, Coimbra,1989.
[37]- Expressão recolhida num dos muitos comunicados divulgados na época e conservados no arquivado do O.A.C.
[38]- É ainda no ano de 1976 que, pela primeira vez, se realiza um convívio de antigos orfeonistas, que pretendem recordar velhos tempos de boémia e analisar a situação do Orfeon decorrente da sua transformação em grupo misto. A reunião foi em Lisboa, no restaurante ''O Peixe'', em Belém. Novos encontros ficaram marcados para o Porto e Coimbra, e deste espírito, congregado com a ocasião propícia - os 100 anos do Orfeon - acabou por nascer o Coro dos Antigos Orfeonistas, em 1980.
[39]- ''O Diário'' de 23 de Fevereiro de 1980.
[40]- Na gíria académica de Coimbra todo o indivíduo que não é estudante ou académico é adjectivado de "futrica".
[41]- A crise de 1969 foi caso único dentro do organismo. O posicionamento, posterior à crise, pró-governamental, não pode deixar de ser entendido como pontual e sem antecedentes, fruto de um contexto de manipulação mais vasto e envolvendo outros organismos. Tal posição foi contrária aos interesses militantes da academia e o próprio Orfeon, na sequência do 25 de Abril de 1974, sofreu o preço de do seu posicionamento, com o desmembramento das suas fileiras e a posterior transformação em coro misto, que se manteve até à actualidade. De referir, contudo, que quer na crise académica de 1907, quer na de 1961/62, o Orfeon sempre esteve ao lado das massas estudantis, lutando pela legitimidade dos seus direitos.
[42]- A este nível, podem ser entendidos vários tipos de relato: o romanceado - servindo como exemplo o deixado por Trindade Coelho ou Fernando Correia; o descritivo - o caso de Almeida Santos ou P. Manuel Pardinhas; o analítico - Falcão Machado ou Celso Cruzeiro; o humorístico - Diamantino Calixto ou Afonso de Sousa.
[43]- Há que fazer aqui referência a outros grupos de música coral , embora muito mais recentes que o Orfeon, que têm contribuído com igual dedicação para a prossecução deste objectivo, como seja o Coro Misto da Universidade de Coimbra e o extinto Coral de Letras da Universidade de Coimbra. Fora da Universidade, mas solidários com a divulgação da Música Coral, é de referir ainda o Choral Poliphonico de Coimbra, o Coro D. Pedro de Cristo e o Coro dos Professores de Coimbra.

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