sábado, janeiro 14, 2006


Guitarrilha de Coimbra Posted by Picasa
Grácil e elegante Guitarrilha de Coimbra, proveniente da oficina conimbricense de Augusto Nunes dos Santos. Pertence ao Dr. Moreira de Figueiredo que a herdou de seu sogro, antigo estudante da UC e tocador de guitarra no período 1910-1916. Madeiras baratas, escala longa de 17 pontos, ilhargas rebaixadas, decoração muito austera, chapa de leque e voluta oval. A caixa tem 32 cms de largura e 34 cms de comprimento. O modelo é exactamente idêntico à Guitarrilha do Dr. Francisco Menano, oriunda da mesma oficina, com data de 1905, depositada no Museu Académico. A ilharga tem 5,3 cms junto ao cepo e 6,5 cms ao atadilho. O modelo em questão, com voluta oval documentada pelo menos desde 1905, embora continuassem a fabricar-se variantes com florão até à década de 1920, confirma os dados avançados pelo estudioso Armando Simões sobre a origem da Guitarra de Coimbra. Foi a partir de um processo de fusão/adaptação feito pelos guitarreiros locais Armando Neves e Augusto Nunes dos Santos sobre a guitarrilha de tipo Lisboa derradeiramente tangida por Hilário e dos modelos da antiga Guitarra Inglesa+Guitarra do Porto que entre 1895-1905 se desenrolaram as diversas experiências convergentes que conduziram a uma definição estável do 1º tipo Coimbra. Digamos que se definiu o modelo, mas não o respectivo código genético que alimenta as estruturas antropológicas do imaginário. O ADN só apareceu com Artur Paredes, uma vez neutralizados e ultrapassados elementos inibitórios como a afinação natural e o esquema convencional de dedilhação.
Imagem: José Alberto Sardinha, "Tradições Musicais da Estremadura", Vila Verde, Tradisom, 2000, pág. 441.
AMNunes


Guitarrilhas Posted by Picasa
Guitarrilhas de configuração típica do período 1880-1890-1910 até finais da Grande Guerra. Instrumentos pertencentes a José Craveiro, de Tentúgal, Montemor-o-Velho. A 1ª, de voluta em caracol, corresponde à guitarrilha do tipo Lisboa, sendo proveniente da oficina do construtor Augusto Vieira (ano de 1916). Pena é a chapa aplicada em restauro mal jeitoso, com as tarrachas, muito posteriores, a encobrir a delicada voluta em caracoleta que se foi copiar aos violinos. A 2ª corresponde ao tipo do Porto, fabricada pelo afamado construtor António Duarte, cuja oficina abastecia regularmente Coimbra.
Imagem: José Alberto Sardinha, "Tradições Musicais da Estremadura", Vila Verde, Tradisom, 2000, pág. 422.
AMNunes


Música Tradicional da Estremadura Posted by Picasa
Rosto cartonado e ilustrado da monumental, erudita e exaustiva monografia dedicada por José Alberto Sardinha às práticas musicais do povo estremenho. "Tradições Musicais da Estremadura", Vila Verde, Tradisom, 2000, contém 638 páginas, centenas de ilustrações e 3 cds de recolhas da tradição oral. Se o livro é pesado ao toque (vários quilos, contrariando as edições light em voga), não o é menos em conhecimento pois levou nada mais nada menos do que 20 anos a fazer. O etnomusicólogo JAS preenche uma lacuna no campo dos estudos musicais regionais, pois até 2000 podemos dizer que a Estremadura e a Beira Litoral eram as parentes pobres da etnomusicologia portuguesa. Para além do muito que se pode aprender através da leitura desta arejada monografia feita com base em trabalhos de campo (bem escrita, bem ilustrada, de leitura agradável, solidamente documentada), complementados por demoradas incursões arquivísticas, recomenda-se o sólido subcapítulo dedicado à "Implantação da Cítara Popular" (págs. 410-444), onde JAS corrobora as hipóteses formuladas por Pedro Caldeira Cabral quanto a um enventual encontro entre Cítara/Guitarra Inglesa.
AMNunes


Guitarra para o Guinness Posted by Picasa
Em 2001 o jovem guitarreiro José Amorim construiu uma guitarra gigante nas instalações do Parque de Exposições da Associação Empresarial de Paços de Ferreira. Utilizou 4 toneladas de madeira, distribuídas por 68 metros quadrados. Para a encordoação recorreu a cordas de piano. Candidato ao galardão do Guinness Book of Records, Amorim apresentou o seu projecto à programação da Porto Capital Europeia da Cultura 2001. Homologado o projecto pelo programador Pedro Burmester, previa-se a respectiva colocação no Largo da Sé do Porto, com apresentação oficial a 30/06/2001 e instalação no espaço até 16/09/2001. O projecto foi inaugurado oficialmente pelo Ministro da Cultura do Governo Socialista de António Guterres, Augusto Santos Silva, que de acordo com Armando Luís de Carvalho Homem se passeou no interior da instalação. Efectivamente os espaços interiores acolheram uma exposição sobre os usos das guitarras em Portugal, ali tendo figurado duas expressamente pedidas a Coimbra, uma ao Museu Académico (de Hylario) e outra ao Museu do Instituto de Antropologia da UC.
Curiosamente, o autor da ideia, José Amorim, não deixava de criticar o inglório esquecimento da Guitarra do Porto e a tendência para a fusão de estilos e de tipos organológicos que então já se estava a observar a ritmo galopante por parte de mais de 50% dos fadistas relativamente ao género artístico coimbrão. Amorim também não ocultou que o tipo de guitarra que estava construir era de clara sugerência coimbrã.
Em nossa opinião, o jovem guitarreiro punha directamente o dedo na ferida. O século XX foi por excelência um tempo de fusões artísticas, confusões e desconstruções. A esse propósito, não vale a pena continuar a perder tempo com a falsa questão da tão reclamada quanto falsa pureza das artes. Mas, reconhecer que não há artes imaculadas nem imunes a contaminações não é de todo equivalente a corroborar passivamente as mais ignóbeis predacções da Galáxia Sonora Coimbrã, cujos fautores despudorada e cuidadosamente omitem quaisquer alusões à origem.
Imagem: foto de Sérgio Granadeiro, anexa à reportagem de Angélica Santos, "Guitarra maior", EXPRESSO/VIDAS, Nº 1495, de 23 de Junho de 2001, págs. 22-23.
AMNunes


Serenata Monumental da Queimas das Fitas de 1989 Posted by Picasa
Grande destaque de Mário Martins à apresentação radiofónica (e RTP?) da Serenata Monumental da Queima das Fitas de Maio de 1989 por Sansão Coelho, e às vozes dos novos divos da CC, Rui Moreira pelos Praxis Nova e Rui Lucas pelos Toada Coimbrã. À data, nenhum dos cantores era desconhecido nos meandros académicos. Rui Lucas aparecia habitualmente em eventos musicais pelo menos desde 1987 com o núcleo original dos Toada Coimbrã. Em 1985 integrara o Grupo Oficial da Secção de Fado da AAC, com Luís Alcoforado, Carlos Costa, José Ourives e João Carvalho. Rui Moreira já fora aparecendo com o Praxis Nova e dera que falar na Sé Velha com uma notável interpretação do tema "Rua Larga".
Em Maio de 1989 a RTP transmitiu em directo uma parte do Cortejo da Queima das Fitas e creio que também a Serenata Monumental. O apresentador de serviço foi uma vez mais o experimentado Sansão Coelho, ligado a programas radiofónicos, televisivos, e espectáculos de CC desde a década de 1960. Das novas baladas de despedida de quintanistas desse ano, fez furor nos solos Rui Lucas no tema "Balada da Despedida do 5º Ano Jurídico de 1988/1989 (Sentes que um tempo acabou). Os Toada Coimbrã apostaram forte e ganharam a parada. A balada tinha todos os ingredientes adequados: melodia trauteável, letra tributária dos mitos e representações caras aos quintanistas que lacrimosamente se despedem da Alma Mater, o convidativo coro, a voz sedutora e envolvente de Rui Lucas.
No imediato esta balada originou a gravação de um ep, por sinal o último de uma longa linhagem que se iniciara no já distante ano de 1956. Foi o adeus ao vinil em 45 rpm. Paz à sua alma!
Imagem: destaque de uma alargada reportagem com textos e fotografias editada pelo JORNAL DE COIMBRA, ANO II, Nº 85, 10 a 16 de Maio de 1989, pág. 6.
(Por gralha, na 1ª edição deste texto constava erradamente o ano de "1999", lapso corrigido após amável advertência do Dr. João Paulo Sousa)
AMNunes


José Afonso na História Posted by Picasa
Página de abertura de um dos capítulos da obra colectiva coordenada por António Reis, "Portugal Contemprâneo (1958-1974)", Volume 5, Lisboa, Publicações Alfa, 1990, pág. 337. Trata-se de uma obra muito desigual e fragmentária, dependendo a valia de cada capítulo do engenho e arte de cada um dos articulistas convidados. De facto, esta obra tem os seus historiadores, os seus curiosos, os seus articulistas e os seus croniqueiros. Não obstante alguns erros desculpáveis (mormente, 1ª coluna central, linhas 3-5), pela pena de António Duarte, José Afonso entra timidamente na História de Portugal.
Em termos de obras especializadas e de monografias, José Afonso sabe a pouco nas bibliotecas escolares portuguesas. Todas as vezes que se aproximam as comemorações da Revolução de 1974 e do Feriado de 25 de Abril, os alunos de História de 9º Ano em vão pedem a biografia de José Afonso e um "livro de letras" com a "Grândola". Pois sim! O que nos vai valendo é o site da Associação José Afonso.
AMNunes


Viola de seis ordens Posted by Picasa
Cordofone de luxo, com embutidos na pá e escala, e aplicação de rosácea sob a boca redonda. Proveniente da oficina do violeiro Tomás Hulinsky (1731-1788), da cidade de Praga, com data de 1754. Encontra-se depositada no Museu Nacional da Música, cidade de Praga. Tem escala de 12 pontos e pá de madeira para seis cravelhas onde atarracham seis cordas singelas. Parece corresponder ao tipo de instrumento em voga na Europa entre a 2ª metade do século XVIII e a 1ª metade do século XX , mais tarde designado "violão", "violão francês", "guitarra", já descrito neste blog por Flávio Pinho.
Imagem: B. Cizek, "Instruments de Musique", Paris, Grund, 2003, pág. 35, doc. 20.
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Viola Barroca Posted by Picasa
Magnífica construção de luxo, com embutidos vegetalistas estilizados e madrepérola, no braço, pá, costilhas e fundo. Tampos planos, escala de 12 pontos, pá de madeira com 6 cravelhas correspondentes a 6 cordas singelas. Instrumento proveniente de George Sellas, cidade de Veneza, inícios do século XVII. Encontra-se no Museu Nacional da Música, cidade de Praga. Este instrumento não deixa de nos fazer lembrar alguns modelos de violas de arame regionais portuguesas (caixa da Braguesa com boca redonda; pontos suplementares sobre o tampo na Amarantina e na Campaniça; escala de 12 pontos na Viola da Terra).
Imagem: B. Cizek, "Instruments de Musique", Paris, Grund, , 2003, pág. 33, docs. 15 e 16.
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Vergílio Ferreira Posted by Picasa
Três fotografias relativas ao período em que o escritor Vergílio Ferreira estudou no Liceu Afonso de Albuquerque, da cidade da Guarda, entre 1933-1935. As duas imagens superiores reportam-se ao ano de 1933. A fotografia de baixo, também de 1933, mostra Vergílio Ferreira a fumar, caloiro, no centro da viatura que abrilhanta o Cortejo do Baptismo dos Caloiros.
Mais tarde, em Coimbra, embora desdenhado de uma certa "coimbrice", VF foi notável violino na TAUC, amante da CC e aprendiz de Guitarra de Coimbra. Mas deixemos essa faceta para um oportuno "retrato de família".
Imagens: Helder Godinho e Serafim Ferreira, "Vergílio Ferreira. Fotobiografia", Lisboa, Bertrand Editora, 1993, pág. 42.
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As Praxes Académicas da UCoimbra Posted by Picasa
Edição impressa de uma comunicação apresentada no Instituto Piaget, Viseu, durante as "Primeiras Jornadas As Praxes Académicas. Sentido actual e perspectivas. 29 e 30 de Abril de 2003", evento que reuniu alguns especialistas como Albertino Gonçalves (UMinho) e o fascinante Michel Maffesoli, ponta de lança em estudos menos tributários do racionalismo iluminista, porquanto próximo de Mircea Eliad, Gilbert Durand, Edgar Morin e Carl Jung.
Edição na revista da Universidade do Minho/Instituto de Ciências Sociais, "Cadernos do Noroeste" Volume 22, 2004.
AMNunes


Costumes estudantis em Braga Posted by Picasa
Albertino Gonçalves é Doutor em Sociologia, docente e investigador da Universidade do Minho. Neste breve artigo, editado em 2001, o autor interroga os costumes académicos vivenciados no Pólo de Braga da Universidade do Minho, valorizando aspectos como a celebração orgiástica do caos, a inversão da ordem social e o lado grotesco de alguns rituais e tradições.
As "tradições académicas" na UM são recentes (isto é, posteriores à fundação da instituição), pese embora pontualmente inspiradas em alguns velhos costumes praticados no antigo Liceu Sá de Miranda (Liceu de Braga). Estamos em presença de "tradições inventadas", ou "reinventadas" a partir de determinados arquétipos reais ou imaginados, no sentido que lhes emprestou Eric Hobsbawm. As tradições universitárias bracarenses são olhadas pela Universidade do Minho com elevado grau de seriedade. A própria Reitoria tem dinamizado comissões de estudo e de acompanhamento da prática e das vivências costumeiras, por forma a tentar aferir do grau de integração dos alunos, do seu bem estar e do seu aproveitamento escolar. Tolices? A UMinho não figura propriamente na carruagem traseira do combóio das universidades portuguesas.
Dos estudos e publicações levados a cabo sobre tradições estudantis na UM salientemos Albertino Gonçalves, "Dioníso na Universidade: a praxe como rito de passagem", UM Boletim nº 45, 1997; Henrique Nunes/Helena Cunha/Nuno Pinto, "As Tradições Académicas de Braga", Braga, Edição da Associação Académica da UM, 2001 (estudos sobre as Nicolinas, Enterro da Gata, Trajo Tricórnio, etc.); Rita Ribeiro, "As lições dos aprendizes. As praxes académicas da UM", Braga, Edição da UM, 2001; Albertino Gonçalves, "O sentido da comunidade num mundo às avessas: o imaginário grotesco nas tradições académicas de Braga", Braga, Forum nº 30, 2001.
No antigo Liceu de Braga se desenvolveram desde o último quartel do século XIX variegadas "tradições" inspiradas no paradigma coimbrão, como o uso da Capa e Batina, récitas de despedida de finalistas, baladas de despedida, prática da guitarra (ex: António Carvalhal começou a tocar guitarra neste Liceu), festividades de encerramento do ano escolar (Enterro da Gata). No Liceu de Gimarães, a festividades eram radicalmente originais, celebrando o patrono dos estudantes, São Nicolau (Nicolinas). Tais festas ainda se realizam anualmente no dia um de Dezembro. Delas tomei conhecimento à roda de 1990-1991, por intermédio do estudante e talentoso guitarrista Pedro Paredes.
"Tradições" havia-as em quase todos os antigos liceus. Na Páscoa de 1986, durante uma digressão do Coro da Capela da UC à Guarda, Covilhã e Serra da Estrela, serviu-nos de guia pelas ruas friorentas da Guarda um antigo aluno do liceu. Contou o guia que noutros tempos os alunos do Liceu da Guarda não só tinham usado Capa e Batina, como faziam umas curiosas praxes que consistiam em organizar um Cortejo de Caloiros que ia desde o portão do Liceu até um fontanário onde os iniciados eram "baptizados". Confirmando estes dados, Helder Godinho e Serafim Ferreira, in "Vergílio Ferreira. Fotobiografia", Lisboa, Bertrand, 1993, apresentam fotografias dos anos de 1931, 1932, 1933, no Liceu Afonso de Albuquerque da cidade da Guarda, nas quais se podem ver Vergílio Ferreira de Capa e Batina e um trecho de um Cortejo do Baptismo dos Caloiros (foto do ano de 1933, pág. 42).
Quanto ao Liceu Antero de Quental, de Ponta Delgada, que frequentei entre 1982-1985, ouvi relatos soltos de antigos alunos sobre uso da Capa e Batina, bailes de finalistas, saraus culturais, serenata no adro da Igreja Matriz de Ponta Delgada (anos de 1940-1950??) e festividades de abertura e fecho do ano escolar. O ano abria sempre com um luzidio discurso solene do Reitor na estonteante Biblioteca do Liceu (antigo salão de baile do Palacete do Barão das Laranjeiras).
Cá fora, os alunos mais velhos pintavam os caloiros, davam-lhos empurrões e pontapés e, procediam à eleição do Rei dos Caloiros. Eleito o Rei, formava-se a Procissão dos Caloiros, com alas de estudantes e um andor sobre o qual serpenteava o Rei dos Caloiros muito pintado e em tanga. A Procissão dos Caloiros ia desde o portão principal do Liceu até um fontanário existente na Baixa, junto aos Paços do Concelho, onde terminava o ritual como o solene Baptismo da caloirada. Esta eleição, desfile em andor e cortejo, eram alvo de violentíssimas críticas moralistas de escaldalizados pais e mães da fina flor micaelense que queriam interditar essas "sem-vergonhices". Lembro-me de sanguinários artigos publicados por melindrados pais nas páginas de o Açoriano Oriental, pedindo a cabeça dos organizadores e a imediata interdição do ritual.
Ainda se fará esta antiga e rara praxe?
Para terminar o ano em beleza, havia o Enterro da Bicha, muito semelhante em estrutura ao Enterro do Ano (Aveiro) e Enterro da Gata (Braga), com cortejo fúnebre, testamento (?), caixão e enterramento (seria enterramento ou lançamento ao mar??). Na segunda metade da década de 80 ainda tentei recolher um relato destas velhas tradições junto do Doutor Almeida Pavão, antigo Reitor do Liceu de Ponta Delgada e à data lente aposentado da Universidade dos Açores. A resposta foi decepcionante, pois Almeida Pavão declarou desconhecer tais práticas (como poderia desconhecê-las para mais tendo sido Reitor do Liceu antes de 1974?). Hoje tenho pena de não ter aprofundado o assunto com o Dr. Eduardo Tavares de Melo, antigo aluno daquele estebelecimento de ensino.
Para terminar: a Capa e Batina desaparecera por completo do Liceu de Ponta Delgada após a Revolução de 1974. Porém, permanecia uma reminiscência: todos os anos em Maio, na procissão do Santo Cristo dos Milagres havia um lugar certo para a delegação do Liceu com Capa e Batina (e não da Universidade que então se começara a afirmar com o Julgamento dos Caloiros, e mais tarde com translado da Queima das Fitas e "serenatas monumentais" estilo Coimbra no adro da Igreja do Colégio de Jesus).
Texto: AMNunes


Costumes Estudantis de Coimbra Posted by Picasa
Consideradas produto cultural "menor", ou mais frequentemente "coisas dos senhores estudantes", as Tradições Académicas de Coimbra nunca gozaram de favores investigativos junto da comunidade professoral da UC. Como dizem os meus alunos em vernáculo, "não dão pica". Não obstante a criação de uma Cadeira de História da UC, facultativa, na Faculdade de Letras, à roda de 1992-1993, as costumes estudantis foram e continuam a ser olhados com sobranceria. Tanta tese de mestrado, tanto seminário de licenciatura, tanto trabalho de pesquisa para determinadas cadeiras de curso (quantas e quantas vezes versando "assuntinhos"), sem que vejamos a temática dos costumes estudantis transformada em objecto académico em áreas como a História, a Antroplogia e a Sociologia.
Não pensava assim o lente Teixeira Bastos quando em 29 e 30 de Abril de 1920 abordou a temática saborosamente, pese embora o pesado travo positivista em moda, na sede da Associação Cristã de Estudantes. Não deixou de rematar o longo escurso com uma exortação de pendor higienista, falando longamente da educação física e dos benefícios do exercício físico para os estudantes. E lá por falar de tradições estudantis, Teixeira Bastos não era menos gente do ponto de vista científico e profissional, conforme atestam os seus alargados horizontes e o actualizado conhecimento que revela quanto à implementação da ginástica juvenil noutros países.
AMNunes


"Orféon Academico de Vizeu". Página da Illustração Portugueza, II série, n.º 572, de 5 de Fevereiro de 1917.
Pelo que se vê nas fotos, ao tempo, o Liceu Central de Vizeu funcionava junto à Sé, onde hoje está instalado o Museu Grão Vasco.
Sabendo que sou viseense, João Caramalho teve a gentileza de me mandar esta página da Illustração Portugueza. Fico-lhe muito grato pela lembrança.
Fez-me lembrar que quando era criança, existia em minha casa um volume com alguns números da Illustração Portugueza, encadernados. Era um dos meus "brinquedos" preferidos, desfolhar e olhar aquelas imagens magníficas, como se pode ver por este exemplo.
Estávamos então nos anos quarenta, em plena II Guerra Mundial. Lembro-me que uma das revistas foi editada após o assassinato do rei D. Carlos. O acto, logicamente, não foi fotografado, mas havia várias imagens desenhadas por quem a ele assistiu. Ficava sempre muito impressionado ao ver esses desenhos, bastante realistas.
Claro está que tal livro não chegou aos nossos dias, pois as mãos de uma criança não lhe poderiam dar saúde. Tanto foi desfolhado que acabou todo rasgadoPosted by Picasa

sexta-feira, janeiro 13, 2006


Lembrando José Afonso Posted by Picasa
Rosto da interessante brochura de partituras musicais transcritas pelo antigo sócio da TAUC António Carrilho Rosado Garcia ("Cantares de José Afonso. Acompanhamentos para viola", Évora, Edição do Autor, 1998. Nesta obra encontram-se transcritas as seguintes composições: Menino d'Oiro, Menino do Bairro Negro, Canção de Embalar, O Cavaleiro e o Anjo, Balada do Sino, As Pombas, Endechas a Bárbara Escrava, No Lago do Breu, Tecto na Montanha e A Mulher da Erva.
Aproveitamos para lembrar aos nossos cibernautas mais assíduos que no dia 23 de Fevereiro se completarão 19 anos sobre o falecimento de José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos ( Aveiro, 2/08/1929; Setúbal, 23/02/1987). Pontualmente regravado por cantores como Luís Alcoforado (1991), Victor de Almeida e Silva (1994), Serra Leitão (2000) e António Dinis do grupo Verdes Anos (2001), José Afonso continua a aguardar da parte das instituições coimbrãs iniciativas como jornadas literárias, exposição documental, reedição discográfica integral na parte respeitante à História da CC, transcrições musicais das obras emblemáticas do Movimento da Balada, estudo circunstanciado do que foi o Movimento da Balada e dos seus contributos para o alargamento dos horizontes artísticos da CC, ensaio desse repertório e sua apresentação em espectáculo de pública homenagem. Eis um cantor/autor a (re)descobrir, sem que esteja ainda cauterizado o eterno e insanável debate entre os teóricos do "isto é" e "isto não é" de Coimbra. De nossa parte, faríamos nossas as prudentes palavras de José Manuel Beato quando no "I Forum Canção de Coimbra. Coimbra, 17 de Maio de 2003" enunciou: "hoje nenhum estudioso de estética se atreve a categorizar o que seja a obra de arte. Quando muito, caracteriza o que a arte foi sendo em cada momento".
Imagem: brochura da colecção particular do Coronel José Anjos de Carvalho
AMNunes

Comentário de M Marques Inácio

Meu caro J. Caramalho Domingues

Em boa hora o Prof. A. Carvalho Homem lhe recomendou o Blog, pois as suas contribuições, são uma mais valia significativa. Já tinha apanhado alguns escritos seus na WEB antes do aparecimento "nosso" Blog. Sobre esta questão do hábito talar e vida académica no liceu de Évora, certamente leu um artigo aqui no blog do Coronel José Anjos de Carvalho, em que também aborda este tema. Escreve com a propriedade de ser um antigo aluno do liceu de Évora e um investigador, cultor da discografia de Coimbra, da mais pura água. Essa contribuição foi escrita, na sequência de entre outras coisas certamente, duma conversa que tive com o meu amigo José Anjos de Carvalho, do que foi a vida académica nos liceus, do Minho ao Algarve, a propósito dum artigo do Prof. A. Carvalho Homem, de quem sou um atento e profundo admirador. Ainda sob o liceu de Évora, certamente já viu (vem no site da Associação dos Antigos Alunos, o Edital datado de 18 de Julho de 1861, durante o reinado de D. Pedro V, com a obrigatoriedade do uso do hábito talar.
Até no Algarve, concretamente no Liceu de Faro (onde nunca andei) mas disso sou testemunha, existia uma vida académica notável, com Orfeon, Tuna e Grupo de Serenatas de Coimbra. Esse incremento pelo anos talvez 40, 50 e 60 deveu-se muitíssimo a um Reitor extraordinário ainda hoje lembrado: O Dr.Joaquim de Magalhães, pai do nosso Prof. Joaquim Romero de Magalhães, ilustre professor e historiador, homem de Coimbra, nascido em Faro. Um tio meu, fazia parte do grupo que com o Dr. Joaquim de Magalhães, Tossan e outros, fizeram a recolha das poesias do poeta Aleixo.
Não estou com o Prof. Joaquim Romero de Magalhães há talvez uns 4 meses, mas quero-lhe pedir o favor de nos brindar, até como antigo aluno do liceu de Faro, umas notas sobre as tradições académicas e o culto da canção e da música de Coimbra em Faro.
A conversa já vai longa, mas o tema é uma doce "tentação". Obrigado.

Manuel Marques Inácio


Actuação no Teatro Gil Vicente, em Coimbra, no sábado passado, para encerramento das comemorações do Ano Inesiano. Foto extraída do Diário das Beiras de hoje. Posted by Picasa


Concerto de Ano Novo. Anúncio do Diário das Beiras de ontem. Posted by Picasa

quinta-feira, janeiro 12, 2006


António M Nunes na minha casa de Coimbra, na terça-feira passada, com a sua máquina fotográfica , pronto a perpetuar pela imagem o que de melhor se vai fazendo por este país fora em prol da Canção de Coimbra e das Tradições Académicas. É o maior colaborador deste Blog, pelo que todos lhe estamos muito gratos pela sua disponibilidade em divulgar os seus escritos e não os guardar ciosamente numa gaveta à espera de um D. Sebastião. Posted by Picasa


Encerramento das comemorações do Ano Inesiano em Montemor-o-Velho. Notícia do Diário de Coimbra de hoje. Posted by Picasa

Partitura de Josezito





































Partitura de "Josezito" para guitarra de Coimbra, com arranjo de Octávio Sérgio, adaptada de uma canção popular muito conhecida. A sua estrutura faz lembrar o tema daquela, embora se afaste bastante do original.

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quarta-feira, janeiro 11, 2006


Canções tradicionais Posted by Picasa

Para quem se interessa por música tradicional portuguesa, vale a pena conhecer a autora desta obra, Rosa Maria Torres. Antiga professora do ensino primário, docente de Música no Conservatório Gulbenkian de Braga desde 1983, pós graduou-se na Universidade do Minho (1994: Curso de Estudos Superiores em Educação Musical), com especialização na Hungria. Neste país, Rosa Torres frequentou o Instituto de Pedagogia Musical Zoltán Kodály. O livro editado pela Caminho em 1998 é fruto de uma adaptação da dissertação apresentada em 1994, na qual a autora interpela os potenciais contributos da música tradicional portuguesa para a formação das crianças, com utilização da Metodologia Kodály. Embora não individualize a Beira Litoral no "mapa musical de Portugal", Rosa Torres acaba por incluir no trabalho peças extraídas das recolhas de Pedro Fernando Tomás, nem sempre devidamente sinalizadas, mas cujo lastro coimbrão não oferece dúvidas, além de outras que por lá foram entoadas:
-Torradinhas com Manteiga, assinalado nos Açores por Júlio Andrade e na Coimbra da 1ª metade do século XIX (2/4, Dó Maior, pág. 126);
-Lundum da Figueira da Foz, assinalado em Coimbra e na Figueira, anterior a 1840 (2/4, Fá Maior, pág. 127);
-O Manuel Ceguinho, anterior ao século XIX, obra maior das Fogueiras de São João, com proliferações nos povoados vizinhos de Coimbra (2/4, Sol Maior, págs. 154-155. Na Viola Toeira usavam-se nas coplas Ré/Lá 7ª e no refrão Ré/Lá 7ª/Ré/Sol/Lá 7ª/Ré).
Algumas destas velhas modas e danças já se encontravam salvaguardadas nas obras raras de Adelino das Neves e Melo (não citado pela autora, nem incluído na bibliografia) e de César das Neves (referenciado na bibliografia).
AMNunes


Partitura de "Variações em Lá menor" (1) de João Bagão. Posted by Picasa


Partitura de "Variações em Lá menor" (2) de João Bagão. Posted by Picasa


Partitura de "Variações em Lá menor" (3) de João Bagão. Peça das mais tocadas em Coimbra, ao longo dos tempos, segundo creio. Bem construída, de belo efeito, dificuldade média, tem todos os ingredientes para ser sempre muito aplaudida se tocada com vigor.

terça-feira, janeiro 10, 2006


Site "Porto Académico" de João Caramalho Domingues (na foto). Este Blog ficou enriquecido com a inclusão deste site na rubrica LINKS. É mais um contributo para a divulgação do nosso património cultural académico.
Aqui fica também o endereço:

segunda-feira, janeiro 09, 2006


Oficialização do "Trajo Académico Feminino" em Coimbra (1954) Posted by Picasa

A instauração do uso oficial do "Fato/Saia/Casaco" pretos+Capa por decreto do Conselho de Veteranos da Academia de Coimbra, em finais de Maio (?)/Junho (?) de 1954, com efeitos a partir das Latadas das Faculdades e Imposições de Insígnias de Quartanistas e Quintanistas da UC, esteve longe de constituir uma decisão de pacífica aceitação. Um dos actos de "rebeldia" consistiu em não trazer meias cor de "carne", ou fingi-las, para tanto desenhando a lápis na perna um traço grosso que imitava a respectiva costura.
O assunto originou a capa da revista FLAMA, Nº 353, Ano XI, de 1o de Dezembro de 1954. Em rectângulo destacado na capa, escreveu-se: "Sensação em Coimbra. A praxe académica exige que as insígnias das quartanistas e quintanistas não possam de futuro ser usadas à paisana!"
Imagem extraída de Luís Reis Torgal, "A Universidade e o Estado Novo. O caso de Coimbra (1926-1961)", Coimbra, Minerva, 1999, pág. 208.
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Traje Académico Feminino no Orfeon da UP Posted by Picasa

Um grupo de orfeonistas (do Orfeão Universitário do Porto) em 1946/47. Fotografia cedida em 1995 pelo Dr. Álvaro Andrade (atrás na foto) a João Caramalho Domingues. Refira-se que o Dr. Álvaro Andrade, além de solista da Orquestra de Tangos do OUP (e mais tarde, e até aos anos 90, da Assoc. dos Antigos Orfeonistas da UP), cantava fados de Coimbra. Ao contrário do que se faz muitas vezes crer, o Orfeão Académico da Universidade do Porto (re)organizado em 1937 teve duração efémera (talvez uns dois anos). A chamada "reorganização definitiva" do Orfeão Universitário do Porto só se deu no ano lectivo 1942/43, por iniciativa dos estudantes René Guimarães, Mário Vieira de Castro e Joaquim Barros. O OUP "definitivo" era mais uma vez regido por Afonso Valentim, mas era agora exclusivamente masculino! A possibilidade de aceitar raparigas colocou-se mais tarde (1944?) e só se concretizou depois de algumas dificuldades (há um artigo publicado no Comércio do Porto na primeira metade dos anos 90 que conta esta história, e que tenho de tentar relocalizar). É só então, na segunda vez que as raparigas passam a ser aceites como orfeonistas, que é adoptado o "traje académico feminino" que se pode ver na imagem (fato saia-casaco preto, capa preta, camisa branca, gravata ou laço preto) - com um pormenor que daria origem a décadas de discussões: as meias cor de pele! Questões mais difíceis: saber quando é que algumas estudantes não orfeonistas começaram a usar traje académico (só para a Queima das Fitas, com certeza); e porque é que adoptaram meias pretas (influência de Coimbra?).

Foto e texto: João Caramalho Domingues

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