sexta-feira, dezembro 08, 2006


Cerimonial em Salamanca Posted by Picasa
Após mais de um século de investidas laicizadoras e medidas nacionalizadoras/uniformizadoras no contexto do ensino superior espanhol, a Universidade de Salamanca reflecte sem complexos sobre o seu património simbólico de raízes medievais. Os anos posteriores à morte de Francisco Franco traduzem uma vontade de regresso ao cerimonial perdido, ao som da charamela, às imposições de insígnias e ao Victor. Reflexo desta vontade institucional são os trabalhos vindos a lume sobre a História da Universidade de Salamanca nas suas Ediciones Universidad, as monografias dedicadas ao protocolo e a criação oficial de um Gabinete de Protocolo.
"Cerimonias y Grados" é um precioso livrinho ilustrado, de 72 páginas, repartido entre dois especialistas. Juan Luis polo Rodriguez aborda a historia do cerimonial salmantino durante os séculos XVI a XVIII. Jerónimo de Castro, Chefe do Gabinete de Protocolo, trata do cerimonial e protocolo nos séculos XIX e XX.
Não sendo uma obra erudita, nem sequer marcada pela exaustiva citação de fontes, revela-se bastante eficaz enquanto instrumento turístico, informativo e documental.
Quanto a Coimbra, após abordagens pioneiras de António Garcia Ribeiro de Vasconcelos e Francisco da Silveira Morais (também guitarrista), o cerimonial universitário não conseguiu cativar estudiosos (a matéria não é fácil e pode ser vista como reaccionária. Em França, há quem associe praxes e cerimonial ao terrorismo islâmico). Contudo, não deixaremos de citar dois artigos assinados no crepúsculo do século XX por dois lentes da Faculdade de Letras (História), Luís Reis Torgal (1993) e Fernando Taveira da Fonseca (1989). Quer se goste quer não, quer se compreenda quer não, esta temática ocupa um lugar importante na construção da identidade da Universidade de Coimbra e da Universidade de Salamanca. O não ter "nascido ontem" não implica necessáriamente uma atitude conservantista, como também não é sinónimo imperioso de iconoclastia requentada. Como tal, julgo que o processo de candidatura da UC a Património da Unesco contemplou este aspecto e sobre ele terá feito produzir os devidos estudos de suporte e divulgação.
Fonte: Juan Luis Polo Rodriguez e Jerónimo Hernández de Castro, "Cerimonias y Grados en la Universidad de Salamanca. Una aproximación al protocolo académico", Salamanca, Ediciones Universidad de Salamanca, 2004, ISBN 84-7800-606-0, http://webeus.usal.es/
Agradecimentos: Jerónimo Hernández de Castro pela sua pronta amabilidade
AMNunes


UCádiz: Barrete Posted by Picasa
Barrete Doutoral relativo a uma cerimónia de imposição de insígnias na Universidade de Cádiz, Espanha. A fotografia mostra barretes hexagonais com borla central a todo o diâmetro da copa (nos bacharéis e licenciados a borla era apenas um pompom), com franjados pendentes. Também são perceptíveis os colares com as medalhas das Faculdades e as luvas, faltando os anéis e os livros da "Sabedoria".
Como havia escrito vai para mais de bem contados 15 anos, a semelhança entre o cerimonial e insígnias da Universidade de Coimbra e Universidade de Salamanca ao longo do Antigo Regime é flagrante. Por exemplo, para o século XVII, a mais proeminente diferença entre o Barrete Doutoral conimbricense e o salmantivo reside numa pega alteada (caso de Coimbra), elemento herdado de alguma arte de chapelaria quinhentista. Mas de Salamanca e de Coimbra se espera vir a falar após estreitamento de contactos com Jerónimo Hernández de Castro, do Gabinete de Protocolo da Universidade de Salamanca.
Fonte: "Traje Académico. Universidad de Cádiz", http://www.uca.es/
AMNunes


UCádiz: Capelos Posted by Picasa
Um aspecto dos capelos (mucetas) usados pelos membros do corpo docente da Universidade de Cádiz, Espanha. Este modelo de Barrete (Birrete hexagonal, com borla e franjas) e Capelo (muceta com cogula ou capuz e botões) promana da tradição salamantina, tendo sido nacionalizado pelo governo espanhol na década de 1850. O Vermelho, o Amarelo e o Azul escuro corresponde às cores oficiais da Universidade de Coimbra.
Fonte: "Traje Académico. Universidad de Cádiz", http://www.uca.es/
AMNunes


Trajo Doutoral (UNAMéxico) Posted by Picasa
A Universidade Nacional Autónoma do México tem desenvolvido uma forte campanha visando a recuperação do trajo e cerimonial universitários. Como se pode constatar, a Toga, o Capelo e o Barrete são influênciados directamente pela tradição espanhola. O Amarelo é a cor distintiva de Medicina e Enfermagem; o Verde Escuro designa Economia e Administração; o Vermelho está ligado a Direito e Ciências Ploíticas.
Fotografia: site da "Universidad Nacional Autónoma del México", http://www.unam.mx/
Mais informação: "Normatividad Académica", www.ordenjurido.gob.mex/
AMNunes


Toga universitária (EUA) Posted by Picasa
Por directa inspiração da tradição universitária britânica, a Toga, o Barrete e o Escapulário popularizaram-se nos estabelecimentos de ensino superior dos Estados Unidos da América, país onde permanece o costume da festa anual de graduação dos finalistas (mês de Maio).
Fotografia: exemplar existente no Museu MacCord, USA
AMNunes

quinta-feira, dezembro 07, 2006


Entrada do Jardim da Sereia Posted by Picasa
Postal enviado por Augusto Mota


Feira dos 23 Posted by Picasa
Postal enviado por Augusto Mota


Postal do Arco do Castelo Posted by Picasa
Ainda conheci o Arco do Castelo que fez, primitivamente, parte do conjunto dos Arcos do Jardim Botânico, fazendo com eles, neste local, um ângulo de 45 graus (+ ou -) e que "morria" encostado ao edifício dos H.U.C., que se vê um pouco por entre o Arco. A linha do eléctrico [inaugurada em 1911] passava por debaixo e seguia pela Rua Larga, descendo, depois, em frente ao Museu Machado de Castro. Isto são memórias dos 4 / 5 anos (?), porque na altura do Liceu já o eléctrico só ia até ao cimo das Escadas Monumentais e a linha do Museu ficou independente, por causa das demolições e obras da Fac. de Medicina.
A seguir a este Arco havia, à direita, a Farmácio do Castelo, cuja fachada era forrada de azulejo, com figuras alusivas à Medicina e aos trabalhos de manipulação de medicamentos (?). Outra coisa que me impressionava nesta Farmácia eram uns enormes "potes" de vidro, tipo urna, com tampa, que estavam em cima do balcão, cheios de líquido de cores diferentes. Não sei se seria só decoração, ou se era algum perfume para venda. Recordo-me, pelo menos, de um com líquido vermelho, outro com amarelo, e um com azul. É que todos os dias que ia do Terreiro da Péla aos HUC fazer uns tratamentos eléctricos, passava por esta Farmácia.
Postal e texto de Augusto Mota

quarta-feira, dezembro 06, 2006



Partitura de "5 de Outubro", incluída no livro que acompanha o CD "O Meu Lugar", lançado pelo grupo Os Quatro Elementos. Com poema de António Arnaut e música de Álvaro Aroso, esta peça fecha com chave de ouro um disco com excelentes poemas, composições e interpretações.


Veiga de Oliveira Posted by Picasa
Retrato de Ernesto Veiga de Oliveira (1910-1990), realizado por Valente Alves. Natural do Porto, o Dr. Veiga de Oliveira era diplomado em Direito (1932) e Histórico-Filosóficas (1947) pela Universidade de Coimbra. No ano em que terminou a 2ª formatura em Coimbra, ingressou como investigador no Centro de Estudos de Etnologia. É autor de uma obra singular e de vasta dimensão. Em 1984 a Universidade de Évora atribuiu-lhe o doutoramente honoris causa.
Não sendo um estudioso das tradições musicais de Coimbra, Veiga de Oliveira interessou-se por instrumentos como a gaita-de-foles, a Viola Toeira e a Guitarra de Coimbra na fase de recolha de elementos que estiveram na base da obra "Instrumentos Musicais Populares Portugueses" (1ª edição, 1966).
Entre 1960-1963 efectuou na Região de Coimbra gravações de gaiteiros e registou apontamentos de Viola Toeira na oficina do violeiro e tocador Raul Simões. A Veiga de Oliveira se devem os derradeiros fragmentos sonoros genuinos de Viola Toeira e as palavras de alerta para um cordofone em vias de extinção na Beira Litoral.
Irrelevante atenção prestaria o ilustre etnólogo à Guitarra de Coimbra, contextualizada em cerca de 20 linhas no livro de 1966, em termos manifestamente insuficientes. Nada se diz sobre as origens e evolução do cordofone em Coimbra. Reproduz-se acriticamente a falsa assertiva de Afonso Lopes Veira, transmitida a Armando Leça, segundo a qual a guitarra só teria entrado em Coimbra no ano de 1870 e vinda de Lisboa...(!?). Não se fazem quaisquer referências à guitarra como cordofone de palco, salão e folclore local. Não se assinala a paulatina passagem da Guitarra Toeira ao novo modelo parediano, optando o recolector pela divulgação de uma fotografia de 1945 onde João Bagão e Arménio Silva acompanham José Paradela de Oliveira (em 1966 este tipo caira em desuso em Coimbra). Mas estes reparos em nada diminuem a valia de uma das mais gradas figuras da etnografia portuguesa do século XX, sobretudo quando se sabe de antemão que a monografia de 1966 não poderia privilegiar o aprofundamento de nenhum instrumento musical em particular.
Uma breve amostra das recolhas de Veiga de Oliveira para a Viola Toeira tocada por Raul Simões pode ouvir-se na internet, através da respectiva conversão em MP3 por Domingos Morais.
Fonte: "Arquivos Sonoros de Ernesto Veiga de Oliveira (1960-63)"
AMNunes

terça-feira, dezembro 05, 2006


O Grupo de Fados do Orfeon Académico de Coimbra na Suécia, em Março de 1963. Do jornal "O Orfeon", de 19 de Março de 1964, primeiro número.
Este jornal foi-me gentilmente oferecido pelo colega do Coro dos Antigos Orfeonistas, António Neves.

Posted by Picasa
Pois é meus amigos dado o grande sucesso do meu cd de Natal este ano vamos continuar no caminho da fama e vamos apresentar o cd na FNAC de Coimbra!!!!!

Apareçam no Sábado dia 9 de Dezembro pelas 22h na FNAC no centro comercial Fórum e curtam mais uma vez o belo som do Natal.....

Abraços e até sábado!!!!!!!!!!

Nuno Silva


Coro dos Antigos Orfeonistas em Praga. Diário as Beiras de ontem. Posted by Picasa

Homenagem a Luiz Goes

Muito estimada Dra Fátima Lencastre,

Muito obrigado pela oportunidade que me dá de poder participar concretamente na festa de homenagem ao nosso muito querido Dr. Luiz Goes. Como lhe disse pelo telefone, foi através da Canção de Coimbra que nos tornámos amigos inseparáveis. Aqui lhe envio o texto e o poema que fiz para fazer o favor de ler no próximo sábado na festa.

As minhas saudações a todos

Permitam de me associar a esta grande festa de homenagem ao nosso tão estimado Dr. Luiz Goes e, ao mesmo tempo, de unir a minha voz a todas as vossas para também celebrar e render a devida homenagem a este magnífico Coro e instrumentistas, os Antigos Estudantes do Orfeon Académico de Coimbra.
Mesmo se o conhecimento pessoal do nosso tão estimado homenageado é relativamente recente - devo esse privilégio ao meu caríssimo amigo, Dr. Nuno Tavares que saúdo com um abraço fraterno, - não posso deixar de sublinhar que a Canção e a Alma de Coimbra foram e são o nosso elo de ligação. Fizeram de nós amigos inseparáveis!
Quero, em primeiro de tudo, desejar pronto restabelecimento ao Dr. Luiz Goes, pelo seu acidente, e dizer-lhe que estamos ansiosos que volte a fazer ouvir a sua voz; ela faz vibrar todas as nossas cordas sensíveis! A sua eterna juventude é a nossa garantia. A Cidade de Coimbra, a Lusa Atenas e Portugal devem orgulhar-se por ter um filho, um antigo estudante e um cidadão tão digno e tão distinto, pois tem dado a conhecer ao Mundo a ALMA e a CANÇÃO de COIMBRA(!), que afinal é a ALMA LUSITANA. Oiçam-no, cantem-no,... a sua voz é oxigénio para a alma coimbrã e para a cultura portuguesa.
Cá, deste lado do Atlântico (ali quasi em frente!...), levanto o meu cálice à saúde do meu e nosso tão estimado Dr.Luiz Goes e convosco canto em uníssono «Coimbra, tem mais encanto...»

Poema para o Dr. Luiz Goes:

Voz frescura
tudo se pode imaginar
o vento leva aventura
só o tempo pode lembrar.

Caravela na espuma
veleiro no mar
poema movimento
voz... poesia a navegar.

Bruma no vento
espírito no pensar
doçura no momento
a imaginar... a inventar...

Choupal, penedo...
...silêncio!
Luiz Goes a cantar!...
ternura no lamento,
Mondego a recordar,
a sonhar!...

Filipe Batista
Montréal, 25 de Novembro de 2006

PS.
Podem ler o meu artigo sobre o magnífico trabalho do Dr. Luiz Goes,
Espírito e Raíz, no http://www.coimbraxxi.pt/, no blog du Professor C. Carranca, ccarranca.blogspot.com ou no blog de Octávio Sérgio cantodecoimbra.blogspot.com

Uma vez mais, muito obrigado pela oportunidade que me dá de participar na vossa festa em homenagem ao nosso muito estimado Dr. Luiz Goes.
Receba, estimada Doutora Fátima Lencastre, toda a minha estima

Filipe Batista, prof. de Filosofia.
Tel.(450)443-1306
internet : f.batista@videotron.ca

segunda-feira, dezembro 04, 2006


Isabelinha Posted by Picasa

O Dr. Gonçalves Isabelinha faz 98 anos de idade no dia 05 de Dezembro

O Dr. Isabelinha nasceu em Almeirim a 5 de Dezembro de 1908 tendo frequentado o Liceu de Santarém, onde jogou na Académica de Santarém. Terminado o Liceu, foi estudar Medicina para Coimbra nos anos 30, ao mesmo tempo que jogava na Briosa onde ficaria uma lenda, terminando o Curso em 1938. Falhou a final da primeira Taça Portugal que houve em jogo e a Briosa ganhou. Foi aluno de mestres como Maximino Correia, Morais Zamith, Bissaya Barreto, Elísio de Moura, entre muitos outros.
O Dr. Isabelinha tirou a especialidade de Oftalmologia e durante muitos anos exerceu a actividade em Santarém, no Largo Sá da Bandeira, onde ainda hoje vive. Destacando-se por ser um "médico dos pobres", tinha sempre o consultório cheio e quem não tivesse possibilidade de pagar, o Dr. Isabelinha não cobrava. Fez milhares de consultas e operações grátis.
Quando quero esclarecer qualquer assundo de Coimbra dos anos 30, é sempre o Dr. Isabelinha que contacto, pois com 98 anos, tem ainda uma memória invejável e lembra-se de tudo daquele tempo... foi também contemporâneo e amigo do Dr. Divaldo de Freitas (o Brasileiro que tirou Medicina em Coimbra e que no Brasil foi o principal activista da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Brasil). Trocaram correspondência até praticamente o Dr. Divaldo falecer em 2002 com 90 anos em S. Paulo.
O Dr. Isabelinha, além de ser o jogador mais antigo da Briosa vivo, é também uma lenda tanto de Santarém como de Coimbra, por isso, amanhã, dia 5 de Dezembro os parabéns ao Dr. Isabelinha, que até há bem pouco tempo ainda dava consulta diariamente, além de manter a sua faceta humanitária, não cobrando nada pelas consultas e ainda dando dinheiro aos doentes mais necessitados para levantarem os medicamentos na Farmácia.

Rui Lopes


Belisário Pimenta Posted by Picasa
O Coronel Belisário Pimenta (1902-1969) no seu gabinete, pelos finais da década de 1950. Arguto observador e activo espectador, Belisário Pimenta auto-revela no seu "Diário" bem mais do que deixou antever quando em finais da década de 1950 prestou colaboração à revista "Rua Larga" a pretexto da História dos Batalhões Académicos. Sobre Vitorino Nemésio destila finíssima poeira de ironia, revelando o homem e as suas circunstâncias.
Foto: imagem editado por Nuno Rosmaninho na "Revista da Universidade de Aveiro", 19/20 (2002-2003), p. 321.
AMNunes

VITORINO NEMÉSIO
NO DIÁRIO DE BELISÁRIO PIMENTA
Páginas inéditas


Belisário Pimenta é, hoje, um desconhecido. Natural de Coimbra, onde nasceu em 1879, seguiu a carreira militar, ingressando na Arma de Infantaria em 1902, depois de cumprir o curso da Escola do Exército. Passou à reserva no posto de coronel em 1939. Faleceu em 1969.
A sua longa vida ficou marcada pela formação anarquista, adquirida na tipografia da família, localizada na Praça Velha, e por um inamovível anticlericalismo, que nem o Estado Novo refreou. Aos oitenta anos, considerou determinantes, ao longo da sua vida, a aprendizagem libertária no seio do operariado tipográfico, a «preocupação patriótica» e «a repulsa pelo ultramontanismo fosse ele religioso, civil ou militar», embora a Companhia de Jesus constituísse «o alvo principal de todos os ataques»[1]. Militou nas hostes republicanas, no partido de António José de Almeida, e foi comissário da polícia de Coimbra em 1910 e 1911. Nunca aderiu à situação política criada pelo 28 de Maio de 1926 e a essa circunstância atribuiu Belisário Pimenta o facto de não ter alcançado o posto de general.
Dedicou-se aos estudos de história militar, área em que a sua erudição e rigor lhe granjearam admiração, e de história local, publicando vários artigos sobre Miranda do Corvo. Foi um observador atento da vida política e social. E é esta última qualidade, plasmada num diário de mais de sete mil páginas, mantido durante sessenta anos, que o torna uma figura digna de atenção por quem se dedica ao estudo do século XX. Pelos dezanove volumes, cuidadosamente passados a limpo e providos de índices onomástico e analítico, passam inúmeras figuras da nossa história recente. Esperamos encetar a sua publicação, centrando-nos, para já, nos dois volumes iniciais, que não são de diário mas de memórias.
O espólio de Belisário Pimenta, constituído pelo diário e por epistolografia e documentos diversos (relacionados com o centenário de António Augusto Gonçalves, palestras, estudos, etc.) foi doado à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, tendo sido aberto à consulta há cerca de quatro anos.[2] Entre as inúmeras figuras de relevo nacional, sujeitas ao seu olhar atento, conta-se Vitorino Nemésio, que o coronel conheceu, muito jovem, em meados dos anos vinte, e cuja carreira seguiu, nem sempre com agrado. Os contactos pessoais resultaram das relações que Belisário Pimenta mantinha com o sogro do escritor, Francisco Gomes.
Nemésio instalou-se em Coimbra, em Outubro de 1921, para concluir os estudos secundários, aqui vivendo regularmente na década seguinte. No Verão de 1922, fez os exames do 7.º ano no Liceu José Falcão, tornando-se, nessa época, revisor da Imprensa da Universidade. Em Abril de 1923, foi admitido na loja maçónica A Revolta. No meio de grande actividade literária, frequentou os cursos de Direito e de História e Geografia, antes de enveredar, em Outubro de 1926, pelo de Filologia Românica. Entretanto, a 12 de Fevereiro deste último ano, casara com Gabriela Monjardino de Azevedo Gomes. Em Dezembro de 1927, foi eleito presidente do Centro Republicano Académico e no mês seguinte assumiu sozinho a direcção do periódico Gente Nova, órgão do Centro. Como líder dos estudantes democratas, entrou em polémica com o jornal Vanguarda e com Cabral Moncada, professor de Direito e monárquico. No paroxismo da sua actividade académica, foi, em final de 1928, candidato derrotado em eleições consideradas ilegais ao cargo de representante dos estudantes no Senado universitário. Por se considerar mal classificado em Coimbra, decidiu transferir-se para a Faculdade de Letras de Lisboa em 1929, aqui concluindo o curso dois anos depois.[3]
Vitorino Nemésio aparece pela primeira vez no espólio de Belisário Pimenta em 3 de Outubro de 1926, subscrevendo, com a esposa e os sogros, um postal de parabéns por um facto que desconhecemos, uma vez que o volume do diário correspondente aos anos de 1921 a 1928 não se encontra depositado na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Mas só três anos decorridos os contactos se estreitam, por causa das comemorações do primeiro centenário da vitória liberal na Ilha Terceira, em 11 de Agosto de 1829. Disso nos dá conta uma carta de Vitorino Nemésio de 1 de Agosto de 1929 e, sobretudo, as páginas do diário de Belisário Pimenta escritas em 10 de Setembro desse ano.
Vitorino Nemésio «regressa» ao diário em final de 1931, quando se preparava para estudar Alexandre Herculano, no âmbito da dissertação de doutoramento. Belisário Pimenta encontrava-se desagradado por ter tido conhecimento de que o escritor e a esposa debicavam, segundo as suas palavras, «na minha pobre pessoa fazendo, até, um pouco de troça do que eles chamam a minha cultura e a minha erudição». E resolveu responder ao pedido de elementos sobre Herculano, facultando uma soma de verbetes que terá deixado Nemésio surpreendido. Desta fase das relações dão conta várias passagens do diário e uma carta de Vitorino Nemésio de Abril de 1933.
As páginas mais significativas para o conhecimento da biografia do autor de Mau Tempo no Canal foram escritas por Belisário Pimenta em 5 de Junho de 1937, quando a vida de Vitorino Nemésio se encontrava num momento de indefinição, devido às dificuldades sentidas em ingressar na carreira universitária. E é desta circunstância que nasce a longa conversa entre os dois, na casa da Quinta das Albergarias, no Largo da Cruz de Celas. Belisário Pimenta fora ali falar com o seu velho amigo e é surpreendido por uma extensa confissão de Vitorino Nemésio, desiludido com os entraves que se lhe estavam antepondo. Belisário Pimenta, com o seu espírito metódico, registou minuciosamente o diálogo, à semelhança, aliás do que fizera em 19 de Agosto de 1937, ao visitar Afonso Lopes Vieira em S. Pedro de Muel.
Um dos traços mais distintivos do monumental diário de Belisário Pimenta é a tendência para realizar avaliações globais das personalidades com que se cruza. O outro, daqui decorrente, é a atitude, não diremos desconfiada, mas cautelosa, estabelecida nos primeiros contactos. Um terceiro é a rara admiração que vota a algumas pessoas, com destaque para a figura do artista e do republicano António Augusto Gonçalves. Assim, não surpreende a reserva com que acolhe a inesperada confissão de Vitorino Nemésio.
Belisário Pimenta tinha razões para nutrir simpatia pelo jovem Vitorino Nemésio. Como republicano convicto, não lhe era indiferente a actividade política do futuro estudioso de A Mocidade de Herculano. No entanto, vendo em algumas atitudes de Vitorino Nemésio oportunismo político, praticado com a intenção de penetrar na carreira universitária, Belisário Pimenta acaba por manifestar uma desconfiança crescente, traduzida em referências diarísticas mais ou menos duras ao escritor, apesar das relações epistolares amistosas.
A «conversão ao catolicismo», com estada num convento belga, e a multiplicação de contactos políticos com o regime, observadas em 1949, causam-lhe profunda decepção e levam-no, no meio de cartas protocolares, a desprezar a conduta e o carácter de Vitorino Nemésio. Que o escritor chegue, por fim, nos anos cinquenta, «a exaltar Santo Inácio de Loyola é», como escreve Belisário Pimenta, «um destes casos que se não comenta», vindo de alguém que conhecera «estudante em Coimbra há bons trinta anos, revolucionário ou coisa parecida». Não obstante, na carta de Abril de 1933, Nemésio escrevera: «Sou cristão, e talvez seja católico-apostólico, mas cada vez mais entranhada e figadalmente anti-romano.»
Aparentemente, foi por volta deste ano que Belisário Pimenta deixou de ler Vitorino Nemésio. Homem sumamente organizado e minucioso, anotou todas as leituras realizadas durante mais de sessenta anos, entre 1898 e c. 1959: 3462 livros, lidos em português, castelhano e francês. Através dessa extensa lista, ficamos a saber que leu Camilo em 1925, Varanda de Pilatos (1926) em 1927, Paço do Milhafre (1924) e A Terceira Durante a Regência em 1929, Sob os Signos de Agora em 1932, no ano da sua publicação, A Mocidade de Herculano em 1934, igualmente assim que foi publicado, Isabel de Aragão em 1936, ano também da sua edição, A Casa Fechada (1937) em 1941, Gil Vicente, Floresta de Enganos (1941) em 1942, Ondas Médias em 1945, ano do seu aparecimento, Exilados em 1946 e Mau Tempo no Canal em 1948, quatro anos depois de ter sido editado. Assim se vê que Belisário Pimenta leu assiduamente os estudos biográficos e críticos, toda a ficção publicada até Mau Tempo no Canal e nenhuma poesia. Por aqui se observa, também, que entre 1948 e 1959, data em que a lista foi elaborada, não leu qualquer outro livro de Vitorino Nemésio. Dos últimos dez anos de vida, ainda não encontrámos notícia.
Em Novembro de 1954, foi ouvir uma conferência de Vitorino Nemésio sobre Garrett no Instituto Inglês e gostou da conversa variada que o escritor teceu, embora «sem dar novidades ou apresentar aspectos novos». Mas, não pôde deixar de registar a sua «péssima reputação como professor», que teria já dado origem a reclamações, resolvidas com discrição.
Nos últimos anos do diário, a «aventura» como toureiro numa corrida em Angra do Heroísmo, em Setembro de 1956, tratada com ironia num suelto do jornal A República, levou Belisário Pimenta a exarar epigramaticamente: «O Nemésio está colhendo os frutos da sua falta de carácter.» E com este assunto, conversado em Mafra com o professor Rebelo Gonçalves e o conselheiro Nunes da Rica, terminam as referências a Vitorino Nemésio.
É notório, neste conjunto de registos, o respeito e, mesmo, a admiração pelas qualidades intelectuais de Nemésio e o desgosto, volvido quase desprezo, pelo transcurso político e ideológico do escritor, desde a juventude maçónica e republicana até à maturidade católica e «salazarista».
A menos de dois anos de falecer, tendo já 88 anos de idade, Belisário Pimenta recebeu, em Janeiro de 1968, os votos de Ano Bom de Vitorino Nemésio e da filha do seu saudoso amigo Francisco Gomes. O que pensou do bilhete-postal, não sabemos. Há oito anos que abandonara a escrita do diário.
É este conjunto significativo de cartas e de referências diarísticas que agora publicamos. Na transcrição, procedemos à actualização da ortografia, mas respeitámos integralmente a pontuação, o uso de maiúsculas e minúsculas, as variações na utilização dos sublinhados (que convertemos em itálicos) e das aspas, e as opções de hifenação dos autores. As interpolações e o desdobramento das abreviaturas encontram-se entre parênteses rectos.


DOCUMENTOS

1
Postal de Vitorino Nemésio (3-10-1926)

Coimbra 3-10-926
Um grande abraço do seu amigo
--Francisco Gomes
--Georgina Gomes
Afectuosos parabéns.
--Vitorino Nemésio.
--Gabriela Nemésio.

2
Carta de Vitorino Nemésio (1-8-1929)
Cruz de Celas, 1.8.29
Meu querido Am.º

Perdoe o papel, primeiro q[ue] encontro à mão.
Também ontem recebi ultimatum… Aí vão os livros. Dentro dos Quadros Açóricos vai a fotogr[afi]a do monumento, q[ue] me é pedida com instância. Quanto à estampa do Duque, mandá-la hei entre papelões, à parte, p[ar]a não desacomodar o seu embrulho. Irá o exemplar p[ar]a o Presidente da República, visto q[ue] aquilo não é meu, mas da Câmara. Também…
E m[ui]to obrigado.
Seu ad.dor e am.º
Vitorino Nemésio.

3
Diário de Belisário Pimenta (10-9-1929)

Setembro: 10.
Em fins de Dezembro do ano passado vieram a m[inha]a casa, uma noite, o coronel Franc[isc]o Gomes e o genro, o Vitorino Nemésio.
Conversa para aqui, conversa para acolá, o Nemésio veio a dizer que da Ilha Terceira lhe escreveram lembrando a conveniência de celebrar o 1.º Centenário da acção de 11 de Agosto de 1829 e insinuando-lhe que se poderia fazer um livro em que resumidam[en]te se falasse da história do concelho da Praia e em especial da acção militar que ali se deu.
O Nemésio, depois de me expor o seu plano da publicação de um Memorial, aludiu à dificuld[dad]e da monografia militar e ao facto de não ver quem fosse capaz de a fazer com êxito; de subtileza em subtileza, veio a descobrir o jogo que, com franqueza, eu já pressentira: – o de ser eu o autor almejado para a monografia da acção memorável.
Fez porém esses «approches» com tal habilidade e tal finura que eu estava quase encantado de o ouvir…
Se bem que me agradasse a incumbência e, até certo ponto, me lisonjeasse o convite por vir de quem, segundo julgo, me costuma desdenhar e possivelmente diminuir, cortei cerce e disse que não.
À minha recusa, vi que ficou contrariado; fez um gesto de desolação e disse vagamente:
– Então terei eu de a fazer… Vai ficar uma banalidade… Paciência.
Eu então expliquei: via adiante de mim pouco tempo, uns 4 ou 5 meses; conhecia ligeiramente os acontecimentos; necessitava de uma investigação minuciosa e isso levaria muito tempo; eu não trabalho depressa nestes assuntos; só dispunha das noites e dos domingos; – o encargo era, pois, de responsabilid[dad]e e eu não queria sujeitar o meu nome a um desaire (o que seria pouco) e a comemoração a um desastre (o que era tudo).
O Nemésio, com o seu ar acanhado, parecia resignar-se; olhava p[ar]a o chão e p[ar]a os lados sem destruir os meus argumentos ou as m[inh]as desculpas. O coronel Francisco Gomes, porém, mais positivo e mais Portugal-Velho, calado até aí, ouvindo apenas os dois, nesta altura tomou a palavra, quase bruscamente, e com a franqueza que lhe é peculiar diz-me:
– Ora adeus!... Tudo isso tem remédio. O Pimenta pode muito bem fazer a memória. É querer!
Achei graça ao tom de sinceridade e boa amizade com que o coronel cortou a discussão. Eu quis então explicar melhor as m[inh]as dúvidas, mas ele atalhou logo, ao fazer menção de se levantar:
– Você faz isso com uma perna às costas!
E voltando-se para o genro:
– Deixa-o falar. Ele vai fazer o capítulo que tu queres… O Pimenta faz isso num instante.
Rimo-nos todos. Eu, de momento, não encontrei mais objecções. Tive de transigir porque compreendi então que coronel acompanhara o genro para o apoiar em caso de recusa.
Para dar, porém, tempo, disse-lhes:
– Desejo provar que não é por não querer fazer a memória que me estou a recusar; vou ver o que tenho aí sobre o acontecimento, o que há na biblioteca da Universid[ad]e e na da Câmara; escrevo para o Arquivo Militar para saber o que lá há – e depois direi de minha justiça.
O coronel ficou radiante. Apertou-me a mão com as duas dele e disse-me:
– Pois é claro, homem! Você vai fazer isso num instante!
O Nemésio teve uma expressão de alívio e prometeu fotografias da baía da Vila da Praia, dos fortes da vila, etc. para eu fazer alguma ideia do cenário da acção; prometeu também deixar-me em casa com autorização do director da Biblioteca universitária, todos os livros que lá houvesse sobre o assunto; e tendo a delicadeza de me não insinuar qualquer espécie de plano, agradeceu muito – e saiu com o sogro visivelm[ent]e satisfeito.
Fiquei, pois, investido no cargo de cronista da acção da Vila da Praia da Terceira em 11 de Agosto de 1829 – e devo confessar com certa satisfação.
Comecei, pois, por percorrer os meus verbetes e trazer p[ar]a cima da mesa de trabalho toda a livraria e notas que encontrei; daí a dias o Nemésio trouxe-me os livros da Universid[ad]e onde li o que se passou nesse dia notável; e quando recebi resposta do Ferreira Lima em que me diz haver coisas inéditas no Arquivo acerca da acção[,] especialmente o diário de bordo da esquadra miguelista e o registo da correspond[ênci]a do almirante – então mergulhei de cabeça e corri a dizer ao Nemésio:
– Aceito a incumbência. Vou trabalhar na memória. Pode contar com ela até Abril.[4]
E nisto entrou este ano de 1929 que para mim começou bem mas está correndo o pior possível.
Aí por Janeiro vieram fotografias da Terceira e em especial da V[il]a da Praia; com elas e com cartas topográficas que encontrei em livro, comecei a fazer ideia do terreno em que se passou a acção. E depois de ler a documentação arranjada, lancei-me ao trabalho com certa vontade de fazer alguma coisa com jeito.
De vez em quando, o Nemésio aparecia por m[inh]a casa e eu tinha a impressão de que vinha cheirar, isto é, vinha ver se podia perceber como ia a obra.
É claro que falávamos no assunto mas eu nunca lhe mostrei o que estava feito: não admiti a hipótese duma fiscalização. E com o andar do tempo eu divisava nele certa inquietação pelo resultado, uma vaga dúvida sobre o valor do capítulo que me confiou… E eu, francamente, deixei correr.
Depois, fins de Março, o Ferreira Lima levou a amabilid[ad]e ao ponto de me trazer a Coimbra (numa vinda por conta da Assoc[iaç]ão dos Arqueólogos) os dois volumes inéditos do Arquivo além de cópias de documentos soltos que ele mandou tirar.
A pequena monografia crescia a olhos vistos e, contra o que normalmente me acontece, não desgostava do trabalho.
Foi feito aos poucos, pois só depois das 9 h[oras] da noite é que me podia dedicar a isso; excepcionalm[en]te, aos domingos à tarde, alguma coisa escrevia; e à noite o trabalho não ia m[ui]to adiante da meia-noite[5] porq[ue] me tinha de levantar cedo para ir para a Tipografia.
Na verdade, foi uma lança em África o eu conseguir, com a m[inh]a preguiça intelectual, completar a obra dentro do prazo marcado.
E não foi sem alegria que eu, em 8 de Maio, escrevi a última linha.
Era tempo. O Nemésio anunciou-me que era a altura de o original ir para a Imprensa; e a doença de meu Pai agravando-se e obrigando-me a perder noites, ia talvez impossibilitar o cumprimento da promessa. Mas, enfim, tudo se conseguiu e num dia de Maio dei o original ao Nemésio; deixei-o em casa de meu Pai onde ele o foi pedir, numa manhã.
Contou-me ele depois que foi, ansioso, direito ao Jardim Botânico e sentou-se na alameda a ler; e contou-me o Sogro, passado certo tempo, que nesse dia, ao almoço o Nemésio chegou radiante e dissera que o meu trabalho «estava uma beleza!»[,] que eu fizera uma descrição da Vila da Praia e da baía como se lá tivesse ido!... Etc. etc.
Ainda bem.
Foi depois disto que ele escreveu a carta com que abriu o Memorial e na qual me chamava mestre de historiografia local e militar.
E é curioso que estranhando-lhe eu o louvor quando li umas provas q[ue] me mostrou em m[inh]a casa, ele fez um gesto vago que poderia ter várias interpretações e respondeu com ar desprendido e a olhar para o ar sem fixar os olhos:
– Também… repare que lhe não chamo grandes cousas…
Eu ri-me porq[ue], na verdade, achei-lhe graça. Entendia ele, por consequência, que a historiografia local e a militar eram coisas de tão somenos importância que ser-se mestre nelas não constituía motivo p[ar]a sobressalto.
Estes homens de letras têm a sua graça…

Em fins de Julho o volume estava pronto e lá foi para a Terceira no paquete a tempo de assistir à comemoração.
Ficou volume curioso e que não destoa do facto comemorado; eu recebi um exemplar em papel de linho com amável dedicatória e o brinde de 25 exemplares da separata da m[inh]a monografia: 20 em papel de algodão e 5 em linho.
Depois, a imprensa deu sinal.
Começou, em 10 de Agosto, pelo Diário de Lisboa em cujo n.º 2558, na pág[in]a da frente, o Nemésio deixou um artigo ligeiro sobre o acontecim[e]to.
Em 11 de Agosto o Diário de Notícias, de Lisboa[6], publicou uma ligeira notícia com o título A derrota da esquadra miguelista, com o retrato do Duque da Terceira; transcreve um período de Oliveira Martins e nada diz acerca da comemoração…
O Século, porém, é que deitou página comemorativa com gravuras e louvores, da autoria de Jaime Brasil, natural da Vila da Praia. Lá vem uma notícia circunstanciada sobre o Memorial em que eu sou tratado com muita amabilidade.
A 12 de Agosto é que o Diário de Notícias, na secção Bibliografia, dá conta da saída do Memorial, mas laconicamente.
Creio que entre os dois jornais houve rivalidades suscitadas por o Jaime Brasil tomar a iniciativa, anteriormente, da página comemorativa.
Porcarias da nossa imprensa.
Paralelam[en]te em Ponta Delgada o Correio dos Açores publicou em 9 de Agosto, no n.º 2667, um artigo do Luís da Silva Ribeiro em que eu sou excelentemente tratado.
E em 13 do mesmo mês, o Ferreira Lima conseguiu inaugurar uma exposição bibliográfica relativa à acção de 11 de Agosto numa das salas do Museu de Artilharia.
Da comemoração foi esta exposição o que mais conhecido se tornou e isto porque o Ferreira Lima sabe mexer os cordelinhos da Imprensa, dessa grande Alavanca do Progresso e da Civilização, etc. etc.
De mais… creio que ninguém deu por tal.
O Nemésio ainda publicou em 16 de Agosto, no n.º 88 da Ilustração, de Lisboa, um artigo de 2 pág[in]as, com gravuras, relativo à acção; mas é interessante que nem uma citação à m[inh]a monografia apesar de se apoiar nela…
Lapsos dos homens de letras.
[…]

4
Diário de Belisário Pimenta (20-12-1931)

Dezembro: 20.
Há tempo, o Vitorino Nemésio que se prepara para o doutoramento em Letras, disse-me que estava a preparar a sua dissertação acerca de Alexandre Herculano e pediu-me para eu lhe dar uma ou outra indicação de fontes onde estudar o assunto.
Disse-lhe que sim – e fui ver os verbetes respectivos: havia neles grande quantid[ad]e de fontes. E como ele, Nemésio e a mulher têm debicado na minha pobre pessoa fazendo, até, um pouco de troça do que eles chamam a m[inh]a cultura e a minha erudição – resolvi dar-lhe todas as notas que tinha pois o obrigaria assim, naturalmente, a dar a saber e possivelmente a consignar na obra o auxílio que lhe dera.[7]
Meu dito, meu feito.
Ontem esteve cá em casa. Mostrei-lhe os verbetes e desenrolei-lhe a série de nomes: Camilo, Fialho, Ramalho Ortigão, Eça de Queiroz, Oliv[eir]a Martins, Antero, etc. etc.; revistas, as melhores de há 50 anos para cá; estrangeiros como Cossío, Menendez y Pelaio, Gonçalves Dias, etc. etc. – tudo com as indicações de páginas e capítulos, edições, etc. bem explicado.
Ele, ao começo interessado, deixou escapar a sua admiração e por fim, com gesto desalentado chegou a dizer:
– Não tenho direito a aceitar tanta coisa!
– Porquê? perguntei eu.
– Porque esses elementos são de tal modo importantes que chegam a ser colaboração íntima… E eu não quero abusar da sua franqueza e da sua generosidade.
Tive a impressão de que ele recuava para me não ligar muito intimamente à sua obra; e isso seria um pouco desairoso para os seus brios de homem de letras e de futuro professor universitário. Pensei rapidamente que seriam estes escrúpulos que o fariam hesitar – e então resolvi tirar uma vingançazinha e disse-lhe muito naturalmente mas a rir:
– O sr. Nemésio leva tudo isto e eu prometo guardar segredo…
Ele compreendeu muito bem a ironia e talvez percebesse a intenção de vingança; mas respondeu com ar calmo:
– Pois bem!... mas o sr. fica ligado à dissertação e eu tenho obrigação de o deixar consignado.
– Não é necessário, observei. Creia que não tenho ambições e muito menos literárias. Pode levar tudo e aproveitar o que lhe parecer.
Ele, depois de ver com atenção as indicações dos verbetes, disse com pausa:
– Isto altera-me um pouco o plano, vai até dar-me mais um capítulo que não entrava nele, o relativo às opiniões dos homens de letras contemporâneos e posteriores a Herculano.[8]
– Ainda bem!... respondi. Para alguma coisa serviram as minhas leituras e o trabalho de compilar…
E com estes cumprimentos e ironias prometi a cópia de todas as referências e a de dois originais: uma carta de Herculano (autógrafa) e outra de Paulo de Morais p[ar]a ele (cópia).
Amanhã ou depois levar-lhe-ei tudo; e aqui está como ele se enganou e veio a cair na esparrela.
Vamos a ver o que ele fará depois.

5
Diário de Belisário Pimenta (26-12-1931)

Dezembro: 26.
Fui entregar ao Vitorino Nemésio a série de notas bibliográficas que lhe prometera acerca de Alexandre Herculano. Agradeceu muito e depois de uns momentos de silêncio em q[ue] parecia pensar, disse-me que os elementos bibliográficos eram tantos que estava resolvido juntar ao livro um apêndice bibliográf[ic]o com as m[inh]as notas porque – acrescentou – embora se não utilize de todos os elementos dados, poderiam estes aproveitar a outros que se dedicassem ao estudo de Herculano.
Disse-lhe, de novo, que se não preocupasse comigo; que aproveitasse o que quisesse e rasgasse o resto. Quis-me parecer, pois, que, com o tempo, meditou sobre o caso e anda a procurar maneira de mostrar ao respeitável público que os meus elementos lhe serviram para pouco e simplesmente serve de intermediário para os estudiosos.
Será assim? Estes homens de letras valem um dinheirão.

6
Carta de Vitorino Nemésio (Abril de 1933)

Coimbra,
Cruz de Celas,
Abril de 1933.
Meu Ex.mo Amigo

Aproveito uma pausa na lavra do Herculano p[ar]a lhe agradecer vivamente a oferta do Nunálvares e a nova remessa de verbetes bibliográficos que me interessam.
A sua conferência, tanto quanto me é dado vê-la pelo lado técnico militar, pareceu-me cheia de solidez e de novidade. No resto, – no arranjo formal e na crítica histórica, – já mais facilmente pude ver que era excelente, e só lhe digo que é pena que não quebre mais vezes o seu silêncio para nos dar páginas como essas.
Mas esta carta não é de simples agradecimento ao que me deu agora. A bibliografia e o opúsculo foram apenas pretexto para lhe dizer que tenho sentido a sua ausência. Cada vez mais me confino, nesta Coimbra matriz de messias maiores e menores, ao meu esboroado e suave canto de Celas. A Baixa é para o Ponney; quando muito, para lá irmos pescar o jornal e alguns livros. Depois, pouco a pouco foram fugindo daqui os amigos com quem antigamente falava. Os rapazes vão-se formando enquanto a gente se reforma.
Quisera sobretudo tê-lo aqui para o maçar com a leitura dos capítulos já redigidos do Herculano, e que giram sobre eixos do nosso comum interesse: a emigração, o Mindelo e o cerco. Será mais tarde.
Desejo-lhe paz de espírito nessa Pena-Fidelis, que oxalá não desdiga de sua graça. Às vezes lamento que os fados me venham encaminhando para as pseudo-grandes cidades, e penso que a vida seria talvez menos perra se me decorresse por Angra, com pacatez, sargaços e uns chinelos. Mas eis que o meu saudosismo me levou por estes dias à leitura da União, diário dos meus sítios, e fiquei horrorizado com uma espécie de Voz para pior, para mais carregado… Imagine o que não seria se esta União tivesse de ser por força o meu Diário de Notícias, entre quatro paredes de lava e cagarros no ar e em terra, – em terra com as asas cortadas no alfaiate e sob o disfarce de batinas! Sou cristão, e talvez seja católico-apostólico, mas cada vez mais entranhada e figadalmente anti-romano.
Creia na muita consideração e estima
Do seu
Velho adm.dor e am.º

Vitorino Nemésio

7
Diário de Belisário Pimenta (1-1-1934)

Coimbra.
Janeiro: 1.
[…]
Agora, à noite, p[ar]a compensar, tive a visita do Vitorino Nemésio que me veio ler o prefácio do seu novo livro sobre Herculano (que será a dissertação p[ar]a o doutoramento) e o dum outro em que publica uns inéditos do historiador.
Pareceram-me bem feitos, tanto quanto a má leitura do autor me deixou compreender. O rapaz tem merecimentos; o retrato de Herculano feito através dos testemunhos coevos parece-me bem feito. E foi o que me valeu, neste começo de ano.
Posso ir dormir mais satisfeito embora sem Liberdade…[9]

8
Diário de Belisário Pimenta (20-6-1937)

Coimbra.
Junho: 20.
Fui hoje visitar o meu velho amigo Francisco Gomes. Não o encontrei em casa, mas em compensação topei com o genro, o Vitorino Nemésio que me fez entrar para o seu escritório e manteve, comigo, larga conversa de quase duas horas.
E pode dizer-se que, da conversa, saiu uma confissão geral…
Eu, é claro, fui ouvindo e registei. E aqui fica.
O Nemésio tem estado em Bruxelas, depois de dois anos em Montpellier; vem por consequência e justamente, com o arejamento que é natural em quem por lá anda e sabe ver. Ao voltar à terra, veio encontrar esta pequenez lusitana, com todas as mesquinhas questiúnculas de igrejas literárias e pedantismos catedráticos, sem contar com a actual feição política impeditiva p[ar]a cérebros de certo alcance. É pois lógico que se sinta irritado, tanto mais que andam, segundo diz, a jogar com o seu concurso p[ar]a a Faculd[ad]e de Letras de maneira esquisita e, por vezes, jesuítica.
E assim, a conversa, muito à vontade, foi caindo em desabafo; e do desabafo à confissão franca, sem rebuços – pois que, falando diante de mim, dizia ele, sabia que falava com segurança e era compreendido. O que ia dizendo, não o diria a duas ou três pessoas mais.
O Nemésio, mesmo nos seus primeiros tempos de estudante, e principiante nas Letras, não se conformava muito com a subalternidade a que era, naturalmente obrigado; debaixo da modéstia que apresentava, sentia-se que o rapaz tentava largar as asas para voos maiores. Soube, porém, sempre manter atitude concertada e cautelosa se bem que, na intimidade, rompessem as faúlhas facilmente.
Agora, porém, ao sentir-se preterido para a Faculdade, já homem feito e com certos triunfos lá fora, é natural que surja o azedume, como aliás é de razão. E desse azedume saíram apreciações e comentários, já eivados de certa vaidade ferida, tudo em conjunto que me não admirou (porque o conheço) mas que nunca imaginei concretizasse tão facilmente.
Assim, correndo as duas Faculd[ade]s de Letras, não poupou ninguém, até os seus amigos ou que eu julgava seus amigos, como o Hernâni Cidade, o João da Silva Correia, há dias falecido, e até o Carlos Simões Ventura a quem dedicou a sua dissertação de doutoramento.
É claro que teve para mentalidades inferiores como o Matos Romão, o José Simões Neves, o Providência e Costa, o Agostinho Fortes, o Ferrand de Almeida, comentários rudes embora de certa justiça que os colocaram no seu devido pé perante os problemas do ensino superior.
Mas o que eu estranhei foram as apreciações acerca dos outros, dos que eu imaginava amigos e que ele, se bem que debaixo de confidência, inferiorizou a ponto de quase lhes não dar a craveira necessária p[ar]a o cargo que exercem.
É certo que ele distingue nas Faculdades de Letras duas espécies de cadeiras: as que têm cunho científico e as que dependem da livre crítica e, por consequência, necessitam de temperamentos dotados de capacidade e sensibilidade literárias ou filosóficas para as ensinar.
Eu nada percebo do assunto mas confesso que, na generalid[ad]e, lhe achei certa razão.
E com esse critério diz o Nemésio que o Carlos Simões Ventura, capaz de ser profundo como é, na cadeira de latim e grego, é incapaz de compreender Cícero ou Hesíodo como homens de letras no seu tempo, no ambiente e nas intenções, saber colocá-los no ponto exacto da evolução, etc. O Hernâni Cidade e o Rodrigues Lapa capazes, como são, de produzirem obras valiosas sobre assuntos já arrumados (sic) e acerca dos quais já há ideias assentes ou até controversas, são incapazes de se revelarem ou compreenderem qualquer fenómeno literário ou artístico quando contemporâneos e quando saem fora das formas estabelecidas.[10]
Assim, o Simões Ventura apenas erudito, não tem capacid[ad]e para abranger uma história literária; os outros, embora tenham essa capacidade para a história literária passada, não têm qualidades para compreender os fenómenos apanhados na sua contemporaneidade (sic). Falta não só de certa cultura filosófica e geral para uns, falta de sensibilidade literária, receptividade perante os fenómenos recentes para outros.
É possível que isto não deixe de ter suas razões; mas eu sentia que, por debaixo destes argumentos inteligentes e com certa lógica, havia azedume mal contido e vaidade de certo modo irritada – o que é humano.
E em crescendo, e sempre num à vontade curioso, chegou a dizer que, perante as mediocridades que se assenhorearam dos lugares superiores do ensino, ficavam à espera aqueles que tinham valor como o Paulo Quintela em Coimbra e outros em Lisboa e até aqueles que se sentem com «o mínimo das qualidades para o ensino superior» (sic), com conhecimento das correntes modernas estrangeiras e o impulso íntimo que as provoca.
Aqui, evidentemente, classificou-se ele, quase sem rebuço… Não há dúvida que ele terá razões e as preterições têm-no irritado. Mas…
No final da conversa, confessou abertamente: vê-se obrigado a retrair-se; raramente comunica as suas ideias sobre o assunto tratado; não quer que o digam despeitado. De modo que, sem querer, ao falar livremente diante de mim, deixou-se levar pelas suas opiniões íntimas e… desabafou!
Eu fingi que não compreendi e melhor ou pior desviei a conversa para que ele se não aborrecesse de ter falado tão claro. E aqui está como eu, sem esperar, ouvi falar um homem de letras, no seu natural reservado – mas a quem o espinho do azedume obrigou a falar à solta como qualquer ingénuo.
Por onde é certo dizer-se que os homens, afinal, são todos pequenos…

9
Diário de Belisário Pimenta (20-11-1939)

Coimbra.
Novembro: 20.
O Vitorino Nemésio lá foi nomeado professor da Faculd[ad]e de Letras de Lisboa. Não sei se ele entraria com a espinha direita e pela porta principal. Há certo tempo para cá ando a desconfiar dele.
Mas, vá lá! Como os meus juízos podem não ser certos, escrevi-lhe uma carta sóbria e protocolar de parabéns.
Carta que pode dar p[ar]a as duas hipóteses…

10
Carta de Vitorino Nemésio (24-2-1940)[11]

Av.da Ten[en]te Valadim, 357, 4.º D.to
24 de Fevereiro de 1940.

Ex.mo Senhor Coronel Belisário Pimenta,
Meu ilustre Amigo,

Só a sua muita benevolência lhe ditaria uma carta de parabéns pela minha nomeação quando abalei daí sem me despedir. Não me despedi de ninguém expressamente. Preferi correr riscos de ingratidão a aumentar a mágoa de me separar de Coimbra. E, como lá deixo meu sogro e até trastes e papéis meus no Tovim, iludo-me. Tencionamos lá ir passar a Páscoa.
Mas, mesmo desta maneira fria que é a carta, tenho muito empenho em dizer que V. Ex.ª é das raras pessoas de Coimbra que traduziam para mim a gentileza da terra. Do bicho lente, como é de supor, não trago muito boas recordações. O bicho lente rói e estraga isso. Bem bom, que lhe dá pitoresco.
Nunca me esquecerei dos nossos agradáveis verões de Celas e da rua Venâncio Rodrigues, no clássico cenário de meu sogro (espigas de milho e sonolência) ou no repouso e na ordem do escritório de V. Ex.ª Isso e todas as finezas que recebi de si.
Minha Mulher, que estima V. Ex.ª como eu mesmo, pede-me muitos cumprimentos para V. Ex.ª Cumprimentos a sua Ex.ma Família.
Amigo m.to grato
Vitorino Nemésio.

11
Diário de Belisário Pimenta (8-9-1942)

Caldelas:
Setembro: 8.
Como vem nos jornais a notícia da nomeação de Vitorino Nemésio para professor da Faculd[ad]e de Letras de Lisboa, mandei-lhe uma carta de felicitações, mas carta quase cerimoniosa, por causa das dúvidas.
O homem subiu; é capaz de, agora, já não olhar m[ui]to para baixo.
Vamos a ver. Tudo pode ser.

12
Carta de Vitorino Nemésio (12-4-1944)

FACULDADE DE LETRAS DE LISBOA[12]
(R. Sociedade Farmacêutica, 56, 4.º).
12.IV.1944.

Ex.mo Senhor Coronel Belisário Pimenta,
meu prezado Amigo

Por estarmos em férias, não costumo ir à Faculdade; de modo que só agora recebi a carta de V. Ex.ª datada de 28 de Março! V. Ex.ª desculpe-me pelo tempo que retive o Dicionário[13], que, embora me tenha prestado inestimáveis serviços nas minhas devassas herculanianas, há muito ali estava intacto. O exemplar, creio que vinha um pouco descosido. Com o manusear, ficou ainda mais. Ainda pensei em mandá-lo, pelo menos, brochar; mas, para não o demorar mais, agora vai assim.
Não tenho ideia das Curiosidades do Dr. Moreira de Azevedo; mas é possível que as tenha. Sou infelizmente bastante descuidado nisto de livros e papéis. Darei uma volta ao meu caos e, se encontrar esse livro, enviá-lo-ei a V. Ex.ª
A Georgina e o Manuel estão para Coimbra; os outros dois connosco[14]. Bastante cábulas, vamos… Mas crescidos e não de todo maus rapazes.
Espero passar Junho em Coimbra, antes das licenciaturas. Então nos veremos finalmente com o vagar devido a uma velha amizade que me apraz que V. Ex.ª recorde, que me honra muito e me lembra tempos e pessoas que não voltam.
Minha Mulher pede-me que a recomende afectuosamente e, desculpando-me, creia V. Ex.ª no respeito e consideração
Do seu velho
Amigo grato
Vitorino Nemésio
P.S. Dentro de poucas semanas terei o prazer de lhe mandar a edição crítica do Eurico.

13
Diário de Belisário Pimenta (13-7-1949)

Paz: Mafra.
Julho: 13.
Aqui estou, outra vez, nesta incomparável pasmaceira e, neste momento, a pensar nas novidades colhidas há dias em Coimbra.
Trata-se, nem mais nem menos, do que da conversão ao catolicismo do Vitorino Nemésio, da retractação do Sílvio Lima e da possível evolução num ou noutro sentido do Paulo Quintela.
Três novidades que me deixaram abalado e, verdade, verdadinha, um bocadinho admirado. Com franqueza, estava longe destes desenlaces…
Ingenuidade minha?
Boa-fé?
Talvez um pouco de tudo.
Mas vamos lá resumir o que apreendi, de origem séria e bem informada.
O Vitorino Nemésio, há anos, depois do seu doutoramento, vendo que não ia a professor da Faculd[ad]e de Letras e aproveitando a estada na Bélgica como leitor, internou-se num convento e fez a sua conversão à Igreja Católica, Apostólica, etc. Durante esse tempo de recolhimento escrevia para Lisboa, para o Ministério, para a Junta da Educação e para conhecidos, em papel com timbre do convento para mostrar bem onde estava residindo e dar sinal da sua reviravolta.
Um amigo, ou pelo menos indivíduo com quem mantinha as melhores relações literárias, procurou, ainda na Bélgica onde se encontrava, evitar o acto. Fez-lhe ver o que esse acto tinha de desagradável; chegou a dizer-lhe que se realmente ele, Nemésio, encontrou a sua estrada de Damasco, evitasse os intermediários p[ar]a a reconciliação, que se dirigisse a Deus directamente, que não profanasse essa reconciliação com intervenções de gente que poderia não compreender o que havia de sério no seu intuito nem desse espectáculo externo que redundaria em gáudio para os malévolos.
Estas solicitações feitas afinal por um livre-pensador[15] não deram efeito. O Nemésio fez a abjuração solene dos seus erros e converteu-se à Fé Católica.
Foi então, depois disto, que veio a nomeação para professor da Faculd[ad]e creio até que logo para catedrático.
O bom do coronel Francisco Gomes, sogro do convertido, não sei se teria conhecimento de tudo isto; era, porém, naturalíssimo que o soubesse. Lembro-me de que um dia, ele me disse que o Nemésio ao ver a preterição em que estava, escrevera uma carta ao Salazar a expor a situação em que o colocaram com a ilegalid[ad]e de certas medidas; nessa carta fazia ver a verdade e reclamava o cumprimento da Lei. E o bom do cor[on]el Gomes terminava dizendo que o Salazar não respondera mas mandara fazer o despacho, dando assim razão à reclamação.
Pobre cor[on]el Francisco Gomes!
A carta dirigida ao Salazar vejo agora o que seria. O bom do sogro ou quis explicar honestamente o acto p[ar]a que eu não ficasse fazendo a má ideia que naturalmente faria do genro ou acreditou q[ue] a nomeação fosse resultante da atitude justiceira do sombrio ditador jesuíta.
O certo é que o Nemésio foi nomeado. E como professor já mostrou que sabia pagar a nomeação… O Magalhães Godinho, por ex[empl]o, foi afastado da Faculd[ad]e por ele e um outro cujo nome me não ocorre, foi igualmente afastado.
Vê-se ao menos q[ue] é agradecido.
Agora o Sílvio Lima.
Este, por várias vezes já (sei-o eu) tentou ser readmitido na Faculdade de Letras de Coimbra. Quis meter nisso, como era natural, o cunhado ministro, Adriano Vaz Serra – mas nada!
Lastimava-se, carpia-se, mas não conseguia coisa que se visse. Até que um dia…
Esse dia chega sempre.
O sogro, o velho José Antunes Vaz Serra, impôs-lhe a assinatura num largo estendal de papel selado, nem mais nem menos do q[ue] uma retractação formal de tudo quanto dissera contra a Igreja Católica e em especial contra o cardeal Cerejeira. A prosa[,] segundo parece, era tão dura de roer que o Sílvio teve um assomo de pudor…
Não! não assinava tanto! Com modificações, vá lá! talvez…
Porém o sogro, com intimativa:
– Assine, já lhe disse! O que é necessário é que o sr. tenha, no fim do mês, com que mandar comprar couves para a mulher e para os filhos.
O Sílvio, então, sucumbido, assinou o papel que foi, por causa das dúvidas, reconhecido devidam[ent]e pelo notário.
A nomeação veio pouco depois; e o Sílvio Lima lá está professor, vai vulgarmente à missa, há até quem diga que vai muito regularmente, e nesta última Semana Santa andou a visitar as igrejas com a esposa e os filhos, às claras, com solenidade…
Quanto ao Paulo Quintela…
Com este há dúvidas, ainda, e poderá ser que tudo não passe de suspeitas e possivelmente um pouco de má língua.
É certo que tenho notado não sei o quê, há algum tempo p[ar]a cá, certa frieza na maneira de me falar e constante companhia com o Manuel Lopes de Almeida. Isto depois do doutoramento – o que pode ser explicado pelo facto do capelo lhe subir à cabeça…
Contudo, já me disseram que alguma coisa há desde então: é que se afirma que a nomeação p[ar]a professor efectivo não se faria sem condições.
Será?... Não será?
Fica em suspenso, honestamente, o julgamento. Até ver.
Mas que tristeza isto causa!
É claro que não acredito na sinceridade dos dois primeiramente apontados: nem o Nemésio se converteu nem o Sílvio Lima se desconvenceu… Simplesmente o interesse, a falta de firmeza de carácter, os levaram àqueles actos falsos e bem degradantes.
Uma tristeza!

14
Diário de Belisário Pimenta (9-8-1949)

Paz: Mafra.
Agosto: 9.
Hoje, duas cartas, nem mais nem menos. A primeira é p[ar]a o Vitorino Nemésio do qual quero provocar uma resposta qualquer… É madureza como outra qualquer mas não ofende ninguém
«…. Li há dias no Diário de Notícias o seu artigo acerca do Turismo interno. A leitura fez-me lembrar o nosso encontro em Serpins, em Abril, e a promessa de V… em falar da desconhecida Miranda do Corvo em outro artigo de uma série q[ue], se me não engano, intitularia Itinerários obscuros.
«Mas as recordações também são como as cerejas. Atrás do artigo lido veio sem querer e agradavelmente, a lembrança do mês de Agosto de há 20 anos, época em q[ue] V… andava alvoroçado com o centenário do desembarque miguelista na Vila da Praia e a organização do Memorial.
«Depois de amanhã passam 20 anos – quase uma vida!
«Tudo isto me fez escrever esta carta como desabafo de velho.
«Vinte anos! Vinte anos!... Desculpe o tempo que lhe tomo, etc. etc.»
[…]


15
Carta de Vitorino Nemésio (11-8-1949)[16]

Lisboa, 11 de Ag[os]to 1949.
56, 4.º, Soc.de Farmacêutica.

Meu querido Amigo e Exm.º Senhor
Coronel Belisário Pimenta

Segundos depois de ter lido a sua carta respondo-lhe do coração. Gestos de pura amizade, como esse, só com outros gestos assim espontâneos se podem de algum modo pagar.
Eu nunca esqueci o nosso convívio de tantos anos, começado à sombra daquele pardieiro da Cruz de Celas, sob os gestos tão lhanos e os cabelos brancos do Coronel Gomes – tudo já sombras que só a saudade prende. Daí para cá tenho semeado muita cinza e colhido outra tanto (da que semeio e da que não semeio, claro!...). E, talvez por isso, também pela minha invencível inibição para pontualidades, o certo é que nos temos mantido ao longe – mas pelo que se vê e eu já sabia, perto do pensamento.
Não imagina como a sua carta veio a tempo! O que eu preciso de amizades dessas, em que já se medem as coisas a galgões de vinte anos! Pois parece que foi ontem, o tal centenário da Vitória da Vila da Praia… Vejo ainda a minúcia, o saber, a intuição com que o Senhor Coronel pôs de pé aquelas horas de combate, os fortes, os comandos, as intrigas. Santos tempos em que eu folgava e me entregava à vida com confiança!
Pois deixe estar que um dia destes meto à máquina uma folha sobre Miranda do Corvo – e com que gosto! Assim encontre o apontamento que de lá trouxe com as coisas que mais me impressionaram.
Agora, sabe o Senhor Coronel uma novidade?[17] Sou sogro há quase 15 dias! Confesso que, apesar de longamente preparado p[ar]a esta mudança de estado, estremeci perante o facto consumado. Daqui a avô são dois passos. Como vê, expressões como a sua – «desabafos de velho» – já me não são de todo estranhas, embora o físico teime em me inculcar juvanceau. Questão de pigmentação capila[r]: Tenho uma linha ascendente de cabelos pretos – o que não impediu que três fiapos teimosamente argênteos viessem acidentar a minha marrafa esquerda…
Bem haja uma vez mais, meu querido Amigo, pelo seu gesto tão espontâneo e indulgente. Repito que considero heróicos aqueles recuados tempos da azinhaga de Vale Meão, em que os filhos ainda eram implumes e o cinzeiral não começara a invadir as terras cultas. Mas também há flores na cinza, ao que parece, e nisso estou fiado.
A Gabriela está um pouco triste com a saída da morgadita, mas ao mesmo tempo contente com o motivo, pois o rapaz é simpático e sério – e é quanto basta.
Os meus respeitos a sua Ex.ma Esposa. Um vivo abraço do velho Amigo m.to grato
Vitorino Nemésio

P.S. Ando empenhado (aqui p[ar]a nós) numa… utopia. Gostava de arranjar um casinhoto, quintarola ou como se lhe queira chamar, não longe de Lisboa, coisa no género fim de semana, mas onde um maduro semi-solitário pudesse eventualmente instalar-se com um mínimo de conforto e uma criada velha, ao menos por temporadas. Coisa que me não levasse mais de uns 400$00 por mês, pouco mais ou menos.
O meu querido amigo, que conhece tão bem esses alfozes de Mafra e Ericeira, não poderá descobrir-me ou sugerir-me algo assim? Basta que tenha camionete p[ar]a Lisboa e um quarto de hora de pé…

16
Diário de Belisário Pimenta (15-8-1949)

Paz: Mafra.
Agosto: 15.
O Nemésio respondeu logo à m[inh]a carta de 9 do corrente que atrás deixei copiada. E depois de cumprimentos não sei se sinceros e agradecimentos pela m[inh]a lembrança, pede-me que lhe arranje por aqui algures um «casinhoto» onde se refugie nalgum fim de semana, com «uma criada velha.»
Ora nos últimos tempos, toda a gente que o conhece sabe das suas aventuras com uma prima da esposa, com quem viaja e quase vive diariamente. Este «casinhoto» que ele me solicita não será antes um ninho para o qual leve a amante por 24 ou 48 horas?
Lembrou-se ele de mim para ajudar a encobrir a maroteira?
Pode bem ser que não; mas também pode ser que sim.
Por causa das dúvidas respondi-lhe com a seguinte carta que me parece modesto modelo para quem se quer livrar de velhacadas.
Quis provocar-lhe uma resposta que valesse e afinal fiquei comido…
Aqui vai a carta:

«…. Não respondi logo à sua tão bela carta porque me quis informar acerca do seu pedido do Post-scriptum; e quer por causa do calor quer por não passar ultimam[ent]e muito bem de saúde, não tenho saído daqui há bastante tempo.
«Nestes arredores mais próximos não há casinhoto nos termos desejados nem noutros termos porque está tudo ocupado; e numa área mais afastada, dizem-me que igualmente não há. Contudo, informam-me de que na estrada de Pinheiro de Loures a Lousa, já no concelho de Loures, vizinho de L[isbo]a, nos aglomerados novos de Boticas e Guerreiros poderá haver uma ou outra habitação moderna alugável com a vantagem de ter à porta algumas dezenas de caminhetas de carreira e ficar a escassos quilómetros da capital. Lembro-me de há tempo lá passar e notar escritos numa ou noutra.
«V… num salto, poderá daí ir verificar ou informar-se com a secção de turismo da Câmara de Loures que julgo atender tais solicitações.
«Já sabia, por indiscrição dos jornais que era sogro e, muito naturalmente, com o andar dos tempos, a caminho de avô. Mas que quer? é assim mesmo… Aqui, onde me vê, chego dentro de pouco àquele limite que o Estado impõe a todo o funcionário, limite além do qual vem o esquecimento oficial e, muitas vezes, o extra-oficial.
«Não sentirei diferença porque há muitos anos estou nesse esquecimento; mas sempre a Ordem do Exército dá a conhecer urbi et orbi que entro definitivam[ent]e na Reforma.
«Pois sr. Dr. creia, etc. etc.»

Uf!... Que vá para o Diabo… O que aí fica é tudo forçado e é possível q[ue] o destinatário perceba o que está por debaixo das amabilidades. Mas não importa.
O principal é eu não estar disposto para ajudar a tratantada.

17
Diário de Belisário Pimenta (10-9-1952)

Paz. Mafra.
Setembro: 10.
Já por várias vezes aqui tenho falado no Vitorino Nemésio, actualmente convertido à boa doutrina e entrado no bom caminho.
Ora hoje, no Diário de Notícias, vem um artigo de fundo da sua autoria em que fala do Brasil onde agora gozou uns meses de regabofe. Descreve paisagens e refere-se a várias coisas q[ue] não vêm para aqui; a razão desta nota é o seguinte passo do artigo: «…Quando, à hora de laudes, no claustro de S. Bento do Rio, saindo com os monges do coro, ouvíamos um passaredo que se abatia nas amendoeiras, etc. etc.»
Por este passo vê-se que o cavalheiro esteve no mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro, e acompanhou os monges ao coro à hora de laudes… Quero crer, mesmo, que seria no mosteiro beneditino que ele se hospedou p[ar]a economia da bolsa e edificação da alma – pois ainda deve andar muito sarro de heresia no interior daquelas magras aduelas…
Enfim, não tenho nada com o que faz o Vitorino Nemésio. Tenho, porém, o direito de deixar aqui esta simples nota.
E cá fica.

18
Diário de Belisário Pimenta (4-12-1953)

Lisboa
Dezembro: 4
[…] Ontem, às 21,5 horas, o Nemésio lançou pela Emissora Nacional, a sua costumada palestra das 5.as feiras. Às vezes oiço com interesse, outras vezes aborrece-me o tom monótono com q[ue] fala e mudo de estação.
Mas ontem, casualmente, em casa de m[inh]a Filha, ouvi a locutora anunciar a palestra e o Vitorino Nemésio começar… E começar como? A propósito de ser dia de S. Franc[isc]o Xavier, começou por evocar Inácio de Loiola[18], um dos grandes homens do séc.º XVI; e dispôs-se a biografar e enaltecer o fundador da Companhia…
Se estivesse em m[inh]a casa ou fechava o rádio ou mudava de estação; felizmente a conversa da família cortava a parlenda e só de vez em quando se ouvia a voz monótona do Nemésio repisando as excelências do solitário de Manresa. E eu, para comigo, ia pensando nas voltas do Mundo…
O Nemésio que eu conheci estudante em Coimbra há bons 30 anos, revolucionário, ateu ou coisa parecida, não encontrou assunto melhor para a palestra de ontem além de Inácio de Loiola – que pareceu-me merecer-lhe certos encómios.
O Vitorino Nemésio a exaltar S.to Inácio de Loiola é um destes casos que se não comenta. Apenas se regista p[ar]a acrescentar a notas que aqui deixei há tempos e que agora infelizmente recordo.
Muito se aprende com o tempo e com a idade! E eu já tenho certa conta de anos que dá direito a saber alguma coisa.

19
Diário de Belisário Pimenta (10-9-1954)

Paz (Mafra)
Setembro: 10
O Vitorino Nemésio publicou agora um livro com o título O Campo de S. Paulo que é trabalho histórico relativo à fundação da cidade de S. Paulo, do Brasil.
Tive conhecim[ent]o disso pela página Das Artes. Das Letras do n[úmer]o de anteontem do Primeiro de Janeiro organizada pelo Jaime Brasil, conterrâneo e antigo amigo do Nemésio. E digo «antigo amigo» porque não [conheço] as relações q[ue] actualmente mantêm.
Ora pela crítica à obra que parece querer ser amável, conclui-se que o autor[,] «que não é um historiador profissional»[,] pois «outras musas o fadaram que não Clio»[,] quis apenas exaltar a acção da Companhia de Jesus não só através da acção do Padre Manuel da Nóbrega mas também a do próprio Inácio de Loiola com o qual gasta grande parte do volume.
O Nemésio, agora, inclina as suas simpatias para a Companhia de Jesus. Na crítica diz até: «Estudou com devoção a vida de Inácio de Loiola…»
Com devoção…
Que grande maroto!
[…]

20
Diário de Belisário Pimenta (25-11-1954)

Lisboa
Novembro: 25.
Ontem, no Instituto Inglês, o Nemésio fez uma conferência acerca de Garrett. Assistência numerosa, em especial de raparigas da Faculd[ad]e de Letras. Ambiente simpático.
A conferência foi uma conversa e devo dizer que agradável. O Nemésio tem sempre palestra agradável, variada, quando aborda assunto em que está à vontade; e neste caso pode dizer-se que fez variações sobre um tema conhecido e que, sem dar novidades ou apresentar aspectos novos, entreteve o auditório durante uma hora e tal sem cansaço ou bocejos. Pelo que me toca, devo dizer que gostei de o ouvir e que somente lastimei que as qualidades de carácter não correspondam ao seu valor intelectual. Mas, enfim, como diz o Povo: honra e proveito não cabem num saco.
E já que falo sempre do Nemésio sempre registarei que está, na Faculdade, com péssima reputação como professor. Pondo de lado a sua adaptação ou até adesão ao Estado Novo e a conversão à Igreja de Roma, o que o tem levado a actos que o não dignificam, parece que, como professor, é de extrema irregularidade, não liga a devida atenção às lições e nem lê os trabalhos dos alunos a ponto de argumentar nos exames de modo que se vê nitidamente que ignora o que está escrito.
Parece que tem havido reclamações bem fundamentadas; mas… em nome do prestígio universitário, tudo se encobre e se arruma sem escândalo.
Vantagens do regime em que vivemos. Com liberd[dad]e de Imprensa, onde estaria o trono do Nemésio?
E assim se vai vivendo.
Ora desta conferência ou conversa sobre Garrett, trago uma recordação curiosa: conheci pessoalmente o escritor Joaquim Paço de Arcos, o romancista da Ana Paula tão lido pelas mulheres.
Eu estava com o Pires Monteiro, na terceira fila de cadeiras; o Paço de Arcos, como genro do falecido comand[an]te Moura Braz é conhecido daquele e veio falar-lhe, afavelm[en]te, com deferências de pessoa educada. O Pires Monteiro apresentou-me e o Paço de Arcos desfez-se em atenções para comigo, lembrando a carta que eu escrevi à sogra quando lhe morreu o marido. Vejo que a minha carta deu no goto à família; possivelm[en]te seria o documento mais sincero que apareceu no momento do desgosto.
Achei o romancista pessoa fina, bem educada, com hábitos de sociedade; a voz um bocado fanhosa é que torna desagradável e lhe dá uma vaga impressão de maneiras efeminadas. Honny soit, porém, qui mal y pense.

21
Diário de Belisário Pimenta (27-9-1956)

Paz (Mafra):
Setembro: 27.
No jornal República de ontem, na secção Correio de ontem, vem a seguinte local que não posso deixar de arquivar:

Atenção, empresários de toiros!
Lemos nos jornais que o professor universitário dr. Vitorino Nemésio toireou numa «tente», em Angra do Heroísmo, de tal modo que o grande Carlos Arruza, que com ele alternou, exclamou, cheio de entusiasmo:
– Hombre, que bien torea el professor!
Alegra-nos a notícia. Já sabíamos que o professor Nemésio era aficionado dos toiros e tinha feito algumas «faenas», ainda que não do agrado total do público.
Vemos, porém, a julgar pela opinião de «El Ciclón», que as evoluções tauromáquicas do ilustre catedrático atingiram tal grau de depuração que não será de surpreender que o vejamos na próxima época no Campo Pequeno…
- Olé por los toreros de verguenza![19]

O Nemésio está colhendo os frutos da sua falta de carácter.

22
Diário de Belisário Pimenta (28-9-1956)

Paz (Mafra)
Setembro: 28:
O dr. Rebelo Gonçalves há m[uit]o que me convidou para uma tarde de palestra na sua casa do Pinheiro juntam[en]te com o conselheiro aposentado dr. Nunes da Rica, actualmente com residência fixa em Mafra. Calhou hoje e lá fui. Tarde bem passada. A casa está arranjada com m[ui]to gosto e no 1.º andar tem uma larga varanda voltada p[ar]a poente, coberta, onde se passou o resto da tarde perante um magnífico pôr-do-sol.
O dr. Rebelo Gonçalves[20] a quem contei a local na República relativa ao Nemésio ficou um tanto ou quanto aborrecido, segundo me pareceu. Tratava-se dum colega e por muito indiferente que se queira ser, sempre esses remoques lhe tocam um pouco pela porta, isto é, sempre vão ferir o prestígio do cargo e da própria faculd[ad]e. Em todo o caso… o Rebelo Gonçalves[21] confessou que não gostara da evolução nas ideias do colega e disse que, na verd[ad]e, se lembrava de ele lhe ter dito, em tempos, que na sua mocid[dad]e ainda na Vila da Praia muitas vezes ajudara à missa na freguesia. Voltara, pois, aos seus primeiros amores…
E não se falou mais no caso.
[…]

23
Bilhete-postal de Vitorino Nemésio (1-1-1968)

Lisboa, 1 de Janeiro de 1968.
Meu querido Amigo

Q[ue] ao menos num postal eu exprima os nossos sinceros desejos de Ano Bom (meus e da Gabriela)! O tempo das Pressas atómicas tudo tritura e leva; mas, apesar das minhas omissões, não esqueço (nem a Gabriela) a amizade antiga – a dos bons tempos, – e as suas gentilezas connosco[22].
Seu m.to grato amigo
Vitorino Nemésio

Anotações
[1] Belisário Pimenta, Memórias. I – 1879-1902, p. 19, manuscrito 3363 da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.
[2] O fundo de manuscritos do coronel Belisário Pimenta encontra-se arquivado com os números 3343 a 3365. As Memórias: diário ao correr da pena correspondem ao manuscrito 3363 e a correspondência recebida e enviada ao 3352.
[3] Críticas Sobre Vitorino Nemésio, Lisboa, Livraria Bertrand, 1974; José Martins Garcia, Vitorino Nemésio, Lisboa, Vega, 1988 (copyright); Luís Reis Torgal, A Universidade e o Estado Novo. Coimbra, Livraria Minerva Coimbra, 1999, pp. 78, 80 e 84; Carlos Santarém Andrade, A Envolvência Coimbrã de Régio e Nemésio, Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, 2001.
[4] No original: «abril».
[5] No original: «meia noite».
[6] Belisário Pimenta grafou «Lx.ª»
[7] Isso veio, efectivamente, a acontecer. No post-scriptum do prefácio, manifestou o seu débito de gratidão nos seguintes termos: «As indicações bibliográficas que me forneceu o meu respeitável amigo Sr. Tenente-Coronel Belisário Pimenta, bem como uma carta inédita e muitas outras achegas, foram inestimáveis.» (Vitorino Nemésio, A Mocidade de Herculano: 1810-1832. 2.ª ed. Amadora, Livraria Bertrand, 1978, p. 50.)
[8] O primeiro capítulo de A Mocidade de Herculano tem, efectivamente, esse teor.
[9] Neste contraponto, Belisário Pimenta alude à primeira parte do registo, onde refere os cortes censórios que o general Teixeira Botelho realizou num artigo para a Revista Militar, retirando duas vezes a palavra «Liberdade».
[10] Esta opinião encontra-se reiterada no diário escrito em Bruxelas, a 15 de Março de 1937: «O Lapa é um rapaz cultíssimo, um romanista inteligente e um historiador da literatura cheio de medida, mas vê tudo por um ângulo rigidamente formal, de gosto velho. Parece aplicar à literatura contemporânea a bitola dos refrãs e dos lais.» (Ver página facsimilada em Vitorino Nemésio Vinte Anos Depois, Lisboa, Edições Cosmos, 1998, ilustração 15.)
[11] Carta escrita em papel com o timbre da Faculdade de Letras de Lisboa.
[12] Timbre da Faculdade de Letras de Lisboa.
[13] No original: «Diccionário»
[14] No original: «conosco».
[15] No original: «livre pensador».
[16] Carta parcialmente dactilografada.
[17] Termina aqui a parte dactilografada da carta.
[18] Sic.
[19] Belisário Pimenta apresenta esta notícia através de um recorte colado no volume manuscrito do seu diário.
[20] Belisário Pimenta usa, neste ponto, a abreviatura «Glz.»
[21] Idem.
[22] Vitorino Nemésio grafa, como já fez em carta anterior, conosco.
Nuno Rosmaninho
Universidade de Aveiro
[artigo primeiramente publicado na "Revista da Universidade de Aveiro-Letras", 19/20 (2002-2003), pp. 317-343. A edição on line foi expressamente autorizada pelo autor, Prof. Doutor António Nuno Rosmaninho Rolo, cuja apresentação foi feita neste Blog em Novembro de 2006. AMNunes]

ANTÓNIO MENANO
(Fornos de Algodres, 05/05/1895; Lisboa, 11/05/1969)
IV - DISCOGRAFIA DE ANTÓNIO MENANO
IV.1 – As Sessões Fonográficas
José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes

IV.1.1 – REGISTOS FONOGRÁFICOS DE PARIS
Gravações efectuadas nos estúdios da Odeon em Paris, no mês de Maio de 1927, sendo o cantor acompanhado em Guitarra de Coimbra de 17 pontos, afinada ao natural, por Flávio Rodrigues da Silva (1902-1950), e no violão de cordas de aço por Augusto da Silva Louro (1902-1927). António Manuel Nunes e José dos Santos Paulo, in “Flávio Rodrigues da Silva. Fragmentos para uma Guitarra”, Coimbra, Minerva, 2002, pp. 19-20, confrontandos com a escassez de elementos não se atreveram a escrever que o guitarrista das gravações de Paris fora Flávio Rodrigues. Novos dados surgidos a partir de 2002 permitem superar essa cautela e confirmar a participação do duo Flávio Rodrigues/Augusto Louro nos registos efectuados por António Menano na Odeon de Paris.
As matrizes fonográficas foram comercializadas nos mercados português, europeu, brasileiro e estado-unidense, num total de 9 discos de duas faces, contendo 18 composições. De acordo com o contrato assinado em 1926, o cantor ficava obrigado a gravar material bastante para 10 discos de duas faces (=20 canções). Admite-se que tenha sido gravado material sonoro para dez discos, mas um não chegou a ser comercializado, possivelmente devido a problemas técnicos. Como que a tentar recuperar o disco em falta, na sessão seguinte, feita em Lisboa, o cantor registou material para 11 discos.
Nesta 1ª sessão somos confrontados com 16 temas posicionáveis no estilo de Coimbra e 2 mais vincadamente do campo estético do Fado de Lisboa (“Fases da Lua” e “Fado Hespanhol”). A família Menano está presente em metade do reportório: 7 temas são da lavra de António Menano e pelo menos 2 trazem assinatura de Francisco Menano. Alexandre Rezende fornece 2 composições, Manassés de Lacerda 1, Rui Coelho 1 e José Coutinho de Oliveira 1. Os 18 temas gravados são esmagadoramente do primeiro quartel do século XX, primando isoladamente neste conspecto o oitocentista “Fado Serenata”. No trabalho de inventariação, as composições editadas vão precedidas das respectivas matrizes.

Og 572: FADO DO ALENTEJO (Maria, teu lindo nome)
Og 573: FADO DO CHOUPAL (Minha mãe, quando eu morrer)
Og 574: FADO DOS PASSARINHOS (Passarinho da ribeira)
Og 575: FAZES DA LUA (O amor é como a lua)
Og 576: FADO HESPANHOL (Gosto de cantar o fado)
Og 577: O BEIJO (À minha amada, na praia)
Og 583: FADO DA MENTIRA (Ninguém conhece no rosto)
Og 584: FADO SERENATA (Saudades, ai as saudades)
Og 593: SOLITÁRIO (Dizem que as mães querem mais)
Og 594: O MEU MENINO (O meu filho é pequenino)
Og 595: CARTA D’ALDEIA (Minha querida Maria)
Og 603: FADO MANASSÉS (Trago comigo um pecado)
Og 604: FADO DA PRAIA (Vai tão longe a mocidade)
Og 605: FADO DAS ROMARIAS (Bendita seja a candeia)
Og 606: FADO DO BUSSACO (Dois beijos tiveste um dia)
Og 607: FADO DA SÉ VELHA (Se eu tivesse uns olhos assim)
Og 608: BALADA (Perguntas-me o que é morrer)
Og 609: CANÇÃO DOS MALMEQUERES (Um amigo meu mandou-me)

IV.1.2 – REGISTOS FONOGRÁFICOS DE LISBOA
Gravações concretizadas na cidade de Lisboa, durante a Primavera de 1928. Não está identificado o local onde decorreram as gravações, nem são conhecidos os instrumentistas intervenientes.
De acordo com os relatos orais mantidos pelos familiares de Flávio Rodrigues e Augusto Louro, estes instrumentistas conimbricenses de guitarra e violão apenas participaram na sessão de Paris. A agravar a situação, o guitarrista activo nas gravações de Lisboa apresenta um estilo semelhante ao de Flávio Rodrigues. Admite-se que tenha sido algum guitarrista ligado ao Fado de Lisboa, indicado ao cantor pela Odeon, mas não se sabe quem seja. Competia à editora recrutar os instrumentistas que bem entendesse, não ficando obrigada a aceitar as sugestões de António Menano, facto que explica que Paulo de Sá não tenha podido gravar com António Menano, quando cantor e guitarrista o desejavam. Tão espesso silêncio sobre o guitarrista da sessão Lisboa-1928 pode ocultar propositadamente um nome que não desejava ser publicamente revelado.
Na sessão de Lisboa estão documentados 11 discos de duas faces, num total de 22 faixas sonoras. Em geral são composições do primeiro quartel do século XX, popularizadas em Coimbra, no contexto do Fado de Lisboa e nos palcos dos teatros. Quanto ao reportório no estilo de Lisboa, destacam-se mais vincadamente três composições (“Fado do Ceguinho”, “Fado Antigo” e “Fado Maria Vitória”). “Fado Antigo” parece ser uma composição oitocentista, enquanto o “Fado Triste” (Minha mãe é pobrezinha), de Alexandre Rezende, se apresenta como obra híbrida. Seis composições são dos Irmãos Menanos, quatro de Paulo de Sá, três de Alexandre Rezende e outras de Reynaldo Varela, Augusto Hylario, Vasco Borges, maestros Alves Coelho, Filipe Duarte e outros. As matrizes de “Fado das Fogueiras” e “Carta de Longe são precedidas de “xx”, dado tratar-se de um disco de 30 cms.

Og 652: FADO DA MORENA (Esse teu rosto moreno)
Og 653: FADO DO CEGUINHO (Sou ceguinho de nascença)
Og 654: FADO DO HILÁRIO (A minha capa velhinha)
Og 655: FADO SAUDADES (Ter saudades é viver)
Og 656: FADO PATRIÓTICO (Já se ouviu de serra em serra)
Og 657: FADO D’ANTO (O sino da Velha Torre)
Og 670: AS MENINAS DOS MEUS OLHOS (As meninas dos meus olhos)
Og 671: FADO ANTIGO (Maria, minha Maria)
Og 672: A MAIOR DOR (Sou pobre valha-me Deus)
Og 673: UM FADO (Tenho tantas saudades)
xxOg 674: FADO DAS FOGUEIRAS (entraste com ar cansado)
xxOg 675: CARTA DE LONGE (Minha adorada mulher)
Og 688: FADO DOS NAMORADOS (Não digas não, dize sim)
Og 689: FADO TRISTE (Minha mãe é pobrezinha)
Og 690: CANÇÃO DA BEIRA (Dava a vida de bom grado)
Og 691: FADO DA MÁGUA (Fiz uma cova na areia)
Og 692: FADO DO EMIGRANTE (Vou-me embora, vou deixar-te)
Og 693: FADO DAS TRÊS HORAS (Passei-te rente ao mirante)
Og 694: FADO QUINTO ANO (Nossas mágoas são o fruto)
Og 695: FADO MARIA VICTÓRIA (Em má hora nasci)
Og 696: FADO D’AVEIRO (Se julgas que eu perco muito)
Og 697: FADO DE FORNOS (Quem me dera dar um beijo)

IV.1.3 – REGISTOS FONOGRÁFICOS DE BERLIM
A terceira série fonográfica, ou registos berlinenses, ocorreu entre 11 e 28 de Dezembro de 1928, quase cinco meses após as gravações de Lisboa. O duo de guitarra e violão era formado por instrumentista do Fado de Lisboa, João Fernandes (g) e Mário Marques (v). Em algumas peças, que assinalaremos com asterisco no inventário, António Menano foi acompanhado ao piano por Afonso Correia Leite.
Desta sessão foram comercializados 18 discos de 78 rpm, distribuídos por 36 faixas sonoras. Parecem no entanto faltar 2 discos nesta série, o que elevaria o montante de discos para 20 e as faixas sonoras para 40.
Na sessão de Berlim António Menano diversificou bastante o reportório fonográfico a comercializar, em cumprimento das normas estipuladas no contrato de gravação assinado em 1926. Há pelo menos 9 fados no estilo de Lisboa, 7 canções populares ligadas ao reportório do Orfeon Académico de António Joyce e Elias de Aguiar, 4 composições próximas da cultura de salão/e palco e uns 17 temas mais vincadamente conimbricenses. Porém, a diversificação apontada não oculta o ímpeto massificador da Odeon, uma vez que 16 composições gravadas em Berlim já haviam sido editadas em discos provenientes das sessões de Paris e de Berlim. Da sessão Berlim também foram comercializados diversos discos de 30 cms, assinalados no inventário com “xx”.

Og 1000: AS VELAS (As velas vão partindo)*
Og 1001: CANÇÃO DOS PASTORES (Lá vem, lá vem a raposa)*
Og 1002: DONA INFANTA (Dona Infanta, Dona Infanta)*
Og 1003: CONTO D’AMOR (Era uma vez um pastor)*
Og 1005: FADO DO EMIGRANTE (Vou-me embora, vou deixar-te)
Og 1006: O MEU MENINO (O meu filho é pequenino)
Og 1007: MENINA E MOÇA (É preciso ter sofrido)*
Og 1009: FADO DOS PASSARINHOS (Passarinho da ribeira)
Og 1011: FADO DO ALEMTEJO (Maria, teu lindo nome)
Og 1012: FADO DO CHOUPAL (Minha mãe, quando eu morrer)
Og 1013: FADO DO CEGUINHO (Sou ceguinho de nascença)
Og 1014: FADO HESPANHOL (Gosto de cantar o fado)
Og 1015: CARTA DAS TRINCHEIRAS (Vida do meu coração)
Og 1016: FADO DOS DOIS TONS (Ser mutilado é ter jus)
Og 1017: FADO MANASSÉS (Trago comigo um pecado)
Og 1018: FADO TRISTE (Minha mãe é pobrezinha)
Og 1019: FAZES DA LUA (O amor é como a lua)
Og 1020: FADO FRANKLIN (Não me queres, não admira)
Og 1023: FADO SOLITÁRIO (Dizem que as mães querem mais)
Og 1024: FADO PATRIÓTICO (Já se ouviu de serra em serra)
Og 1025: FADO DA ANCIEDADE (O mundo dá tanta volta)
Og 1030: CASINHA DA COLINA (Você sabe de onde eu venho)*
Og 1031: LENDA (Dizem que a Lua é uma princesa errante)*
Og 1034: FADO DE SANTA CRUZ (Quando estavas na igreja)
Og 1035: CANÇÕES ALENTEJANAS (O meu pai não quer/É que eu case contigo)*
Og 1036: CANÇÃO DO CIGANO (Eu dou-vos o meu cavalo)*
Og 1037: CARTA D’ALDEIA (Minha querida Maria/Desejo saber)*
Og 1038: CANÇÃO DO LUAR (Luar que contornas/O cimo dos montes)*
xxOg 1039: NOVE D’ABRIL (Ao escrever-te estas linhas)*
xxOg 1040: CARTA DE LONGE (Minha adorada mulher)*
xxOg 1041: GAROTO DOS JORNAIS (…?...)
xxOg 1042: CANÇÃO DE FORNOS (Moro em vila de Fornos)*
xxOg 1044: VIDA (…?...)
xxOg 1045: MOTIVOS ALENTEJANOS (Lá vai Serpa, lá vai Moura)*
Og……..: FADO DA PRAIA (Vai tão longe a mocidade)
Og……..: FADO DAS ROMARIAS (Bendita seja a candeia)

IV.1.4 – REGISTOS FONOGRÁFICOS DE MADRID
Derradeira sessão fonográfica concretizada na cidade de Madrid, em 1930. Sem qualquer apoio documental, não deixamos de encarar como aceitável que as derradeiras gravações concretizadas por António Menano visassem colmatar os dois discos (4 faixas) que nos parecem faltar na sessão de Barlim. O cantor foi acompanhado em algumas canções pelo pianista Afonso Correia Leite e em Guitarra de Lisboa e violão pelos instrumentistas do Fado de Lisboa Armandinho (g) e Georgino de Sousa (v). Esta derradeira sessão não contempla temas de Coimbra. Os discos antecedidos de “xx” são de 30 cms. Nos discos de desgarradas abaixo indicados, António Menano participa no xxOg 1087, com Joaquim Campos e Ercília Costa, mas não no xxOg 1090 (intervenção de Alfredo Marceneiro e Ercília Costa).

Og 1082: EU BEIJO AS TUAS MÃOS, SENHORA (Eu beijo as tuas mãos, senhora)*
Og 1083: RAMONA (Essa mulher que é perdida)*
xxOg 1084: RESPOSTA À CARTA NOVE DE ABRIL (Meu adorado Manuel)*
xxOg 1087: À DESGARRADA (Há no coração de um homem)
xxOg 1090: DESGARRADA D’AMOR (As fontes da minha aldeia)
xxOg 1091: O MAIS TRISTE FADO (Eu tive uma paixão querida)*

IV.1.5 – COMPOSIÇÕES DA AUTORIA DE ANTÓNIO MENANO GRAVADAS NA MESMA ÉPOCA POR OUTROS ARTISTAS
-FADO MONDEGO, por D. Luiza Baranham, mezzo-soprano, em Lisboa, editora Columbia, Maio de 1927 (78 rpm Columbia J 799), cuja melodia é de "Fado dos Passarinhos";
-FADO DO CHOUPAL, pelo fadista Alberto Costa, em Lisboa, editora Columbia, Agosto de 1926 (78 rpm Columbia J 629);
-FADO DA GRANJA, pelo fadista Alberto Costa, em Lisboa, editora Columbia, Agosto de 1926 (78 rpm Columbia J 636);
-FADO DOS PASSARINHOS, pelo fadista Alberto Costa, em Lisboa, editora Columbia, Agosto de 1926 (78 rpm Columbia J 631);
-FADO DAS ROMARIAS, pelo fadista Alberto Costa, em Lisboa, editora Columbia, Agosto de 1926;
-FADO DAS ROMARIAS, pela soprano e fadista Adelina Fernandes, em Lisboa, na sessão de Julho-Agosto de 1926, editora Columbia (78 rpm Columbia J 628);
-FADO DAS ROMARIAS, pela soprano e fadista Adelina Fernandes, em Lisboa, editora Odeon (A 136.272)
-FADO DOS PASSARINHOS, pela soprano e fadista Adelina Fernandes, em Lisboa, editora Columbia, sessão de Julho-Agosto de 1926 (78 rpm Columbia J 647);
-FADO DOS PASSARINHOS, pela soprano e fadista Adelina Fernandes, em Lisboa, editora His Master’s Voice, sessão de Maio de 1927 (78 rpm HMV EQ 65);
-FADO MONDEGO, pelo cantor activo em Lisboa (?) Luiz Macieira, Lisboa, editora Odeon, anos de 1925-1926 (78 rpm Odeon 136.270, master Og 538), cuja melodia é a de Fado dos Passarinhos. Luiz Macieira também gravou um "Fado dos Passarinhos" no disco Odeon 123.318, mas neste cas não garantimos que seja a composição de António Menano, pois no Fado de Lisboa também havia um fado que vinha pelo menos de ca. 1912, intitulado "Fado dos Passarinhos";
-FADO DOS PASSARINHOS, pelo estudante Lucas Rodrigues Junot, em Londres, editora Columbia, sessão de Maio de 1927 (78 rpm Columbia J 8103)
-FADO DOS PASSARINHOS, pela fadista Margarida de Oliveira, Lisboa, editora Columbia, Maio de 1927 (78 rpm Columbia J 795);
-FADO DO CHOUPAL, pela fadista Margarida Oliveira, Lisboa, editora Columbia, Maio de 1927 (78 rpm Columbia J 794).

relojes web gratis