sábado, outubro 01, 2005

TRADIÇÕES ACADÉMICAS NO LICEU DE ÉVORA

Por José Anjos de Carvalho

1. Da criação do liceu e outros informes
A criação do Liceu de Évora provém do Decreto de 17 de Novembro de 1836, o qual teve por base o Plano dos Liceus Nacionais, da autoria do Vice-Reitor da Universidade de Coimbra, Doutor José Alexandre de Campos, na sequência da Reforma Geral do Ensino então empreendida (a Reforma do Ensino Secundário, chamada oficialmente Regulamento para os Liceus Nacionais, estabelecia uma estruturação curricular de apenas cinco anos e dividia os liceus por categorias, de acordo com as suas condições, em liceus de primeira e liceus de segunda).
O Liceu Nacional de Évora, foi instalado no “Colégio do Espírito Santo”, antiga Universidade de Évora, oito décadas depois do encerramento desta, tendo as aulas começado a funcionar com apenas 3 professores, em 18 de Outubro de 1841, (a Universidade de Évora fora fundada pelo Cardeal D. Henrique e funcionara ininterruptamente durante 208 anos, desde 1551 a 1759).
O ensino principiou com três cadeiras exclusivamente literárias, 1ª, 3ª e 10ª Cadeiras[1] e 17 alunos.
A primeira visita real que teve o Liceu foi a da Rainha D. Maria II, em 7 de Outubro de 1843, dois anos depois da sua fundação, durante uma visita que fez ao Alentejo.
O liceu passou a misto no ano lectivo de 1888-1889, com a matrícula de duas raparigas, número que subiu para a dezena em 1909-1910, quando Florbela Espanca era lá aluna, altura em que o nome do Liceu já tinha mudado para Liceu Central de André de Gouveia (o ensino secundário foi objecto de uma dúzia de reformas durante a existência do Liceu).
A partir de 1978 o Liceu Nacional de André de Gouveia passou a chamar-se Escola Secundária André de Gouveia e, no ano lectivo de 1979-1980, deixou o edifício da antiga Universidade de Évora e mudou-se para as actuais instalações, no Bairro de Nossa Senhora da Glória, em Évora.

2. Do uso do traje talar académico
Após a visita de D. Pedro V ao Alentejo, por Portaria do Ministério do Reino de 27 de Outubro de 1860, foi concedido o uso de capa e batina aos alunos do Liceu Nacional de Évora.
O Edital de 18 de Julho de 1861, publicado no jornal quinzenário «Scholastico Eborense» de 1 de Outubro de 1861, refere expressamente o seguinte: “Os alunos do Liceu Nacional desta cidade são obrigados a apresentar-se em todos os actos escolares com o vestido talar académico, cujo uso lhes foi concedido pela Portaria do Ministério do Reino de 27 de Outubro de 1860, sob pena de serem riscados do livro de matrícula os contraventores.”
A concessão do traje talar era até então (1860) exclusiva dos estudantes da Universidade de Coimbra (e, por extensão, aos alunos do Liceu de Coimbra), e só deles. No meu tempo ainda havia batinas com bandas de cetim e era frequente o uso do laço em vez de gravata.
Desde que o Liceu passou a ser misto (1888-1889), as raparigas começaram a usar também o traje talar (naquele tempo, a saia era comprida, até aos pés).
Na década de 40, havia raparigas que ainda usavam o “gorro”, no Inverno, claro. Alguns rapazes, muito raros, usavam como cobertura de cabeça aquilo a que chamávamos o “tacho”, que já se usava no séc. XIX.

3. Do Hino dos Estudantes do Liceu de Évora
O HINO DOS ESTUDANTES DO LICEU DE ÉVORA, de que se apresenta a respectiva partitura e letras, data de 1861 e é possível que exista alguma conexão com a concessão do uso do traje talar. A música é de Joaquim Sebastião Limpo Esquível e das duas letras do Hino, a que prevaleceu foi a de Martiniano Marrecas, ao que julgo.
O Hino dos Estudantes do Liceu de Évora, embora um pouco mais recente que o HINO ACADÉMICO DE COIMBRA (1853), de Cristiano de Medeiros e Sanches da Gama, é mais antigo que o chamado NOVO HINO ACADÉMICO (Oh vós, que sois sempre nobres), música de A. X. S. M. (desconheço quem seja), letra de José Nunes da Ponte (Medicina, 1879).
O Hino Académico, como lhe chamávamos, faz parte do repertório da Tuna Académica e, pelo menos do meu tempo para cá, é respeitosamente ouvido, sempre de pé, tal como o Hino Nacional, quando tocado. Isso mesmo aconteceu recentemente, na Récita do 1º de Dezembro de 2002, no Teatro Garcia de Resende, em que se comemorou também o 1º Centenário do Tuna Académica (1902-2002) e onde uma vez mais tive oportunidade de presenciar o facto.
Desconheço se há mais algum Liceus que tenha Hino Académico próprio.

4. Das associações da Academia

Associação Filantrópica Eborense
Foi criada em 1890 por estudantes desse tempo que, após a conclusão dos seus estudos, a mantiveram fora das actividades do Liceu.
O seu objectivo principal era o de ajudar os estudantes pobres mas a sua relação com a vida escolar foi diminuindo a pouco e pouco e, em 1910, com a implantação da República, o Governo Civil de Évora dissolveu esta associação, provavelmente por motivos políticos (a Associação Filantrópica coimbrã, criada em 1850, teve igual destino com o advento da Primeira República mas viria a ser restaurada poucos anos depois, em 1918, no tempo de Sidónio Pais).

Associação da Tuna Académica.
Nasce da anterior associação. Tem um carácter um pouco precário, reunia com o fim de realizar espectáculos musicais para angariar fundos destinados a custear as excursões anuais de estudantes, que normalmente se realizavam na época de Natal (no meu tempo, anos 40, havia anualmente, em Fevereiro ou Março, a chamada Excursão dos Finalistas, mas não era financiada).

Orfeon Académico.
O Orfeon foi criado no ano lectivo de 1912-1913. No meu tempo, o Orfeon era misto, constituído por 5 naipes (tenores, barítonos, baixos, sopranos e contraltos) e tinha mais de uma centena de elementos. Nele só se entrava a partir do 4º ano.
Nas apresentações em público do Orfeon era obrigatório para as raparigas o uso de vestido branco, comprido, e, para os rapazes, capa e batina.
O repertório era modesto. Em Junho de 1948, na Récita das Festas da Primavera, o Orfeon cantou o Hino Nacional, A Portugal, Costureirinha, Nasce o Dia, Coro dos Caçadores, Rapsódia Portuguesa e o Hino Académico do Liceu. Nas Récitas do 1º de Dezembro, por exemplo, o Adeste Fideles era sempre peça obrigatória.
Junta-se uma fotografia do Orfeon na Récita da Primavera de 09 de Junho de 1949, que por engano está invertida, vendo-se nela os tenores e os sopranos do lado direito quando, na realidade, estávamos à esquerda.

Associação Académica do Liceu Central de André de Gouveia.
Foi criada em 28 de Fevereiro de 1920, substituindo as anteriores. Tinha carácter cultural e filantrópico (existia ainda no início dos anos 40, quando entrei para o Liceu mas foi extinta uns dois anos depois e substituída pela Organização Nacional da Mocidade Portuguesa).

5. Dos jornais e revistas
Os alunos, ou grupos de alunos, do liceu e bem assim a Associação Académica do Liceu de Évora tiveram vários jornais e revistas, nos quais também participavam professores e antigos alunos.
Designados por Semanários:
* CORREIO ACADÉMICO (1884)
* ÉVORA ACADÉMICA (1888)
* ACADEMIA (1893-1904)
* ALVORADAS (1909-1910)
* ALMA ACADÉMICA (1913)
* GERMINAR (1913)
Designados por Quinzenários:
* SCHOLASTICO EBORENSE(1861-1863)
* O ACADÉMICO (1914-1915)
* REVISTA ACADÉMICA(1919-1920)
* O LYCEO(1920)
* O CORVO(1921- até à actualidade)
* O RENASCIMENTO(1929-1933)

O Corvo, “nome que surgiu da semelhança entre a plumagem negra do pássaro e o vestuário talar dos estudantes”, é o único jornal do meu tempo. Surgiu no 1º de Dezembro de 1921, com a criação da Associação Académica do Liceu Central de André de Gouveia e foi a publicação que se manteve activa durante mais tempo, mas períodos houve em que também não saiu.
No meu tempo só saíam apenas dois ou três números por ano lectivo. Considerá-lo como quinzenário, só por talvez o ter sido durante os primeiros tempos da sua existência, é título pretensioso que de forma alguma se coaduna com a realidade.
Lembro-me de haver também números de parede, num placard que havia nos claustros, junto à sineta das aulas, chamado O Corvo de Parede, ao que julgo.
Pelo que fica dito, presumo que os semanários só o seriam no título, sobretudo na semana em que saíam e presumo que essas saídas semanais seriam proteladas com alguma frequência. Outro tanto aconteceria com os quinzenários, tal e qual como em Coimbra.

6. Da Tuna Académica do Liceu de Évora
No Alentejo, a constituição de Tunas é tradição muito antiga. A Tuna Académica está bastante ligada às comemorações do 1º de Dezembro. A rebelião de 21 de Agosto de 1637, em Évora, deve ter contribuído para o grande entusiasmo de que se revestiam ainda no meu tempo as comemorações do Dia da Restauração Nacional.
Os primórdios da Tuna remontam ao séc. XIX. Datam do último decénio desse século tunas académicas efémeras organizadas para comemorar o 1º de Dezembro.
A Tuna Académica Eborense, assim chamada, actua pela primeira vez no 1º de Dezembro de 1900, acordando a população com o Hino da Restauração, ao percorrer as ruas da cidade ao romper da alvorada. Meses depois, em Fevereiro de 1901, dá o 1º espectáculo em benefício da Associação Filantrópica da Academia Eborense, que constitui também a sua 1ª digressão por vilas alentejanas, no caso Reguengos de Monsaraz.
No mês seguinte nova digressão, agora a Montemor-o-Novo, depois foi a vez de Badajoz e de Mérida.
A Tuna Académica do Liceu de Évora é fundada em 1902, no 1º de Dezembro, claro, e um dos seus objectivos é comemorar o 1º de Dezembro e realizar espectáculos para obter fundos para a Associação Filantrópica.
No meu tempo, no 1º de Dezembro, também percorríamos as ruas de Évora ao romper da alvorada, com o estandarte da Tuna, na companhia de muitos e muitos outros colegas que faziam algazarra. Após a saída do Liceu a primeira paragem da Tuna era sempre frente à casa do Reitor, Dr. Bartolomeu Gromicho, e depois de tocarmos o Hino Académico havia sempre ruidosos Efe-Erre-Ás. Seguidamente rompíamos a tocar pela rua, rumo às Portas de Moura, Praça do Giraldo, Jardim das Canas, etc., com paragens aqui e ali e muita algazarra, e regressávamos ao Liceu.
O repertório, não mais que oito a dez peças, incluía sempre o Hino Nacional, e o Hino da Restauração. No meu tempo, faziam parte do repertório, por exemplo, o Momento Musical e a Marcha Militar do Schubert, que me lembre, passados que são quase 60 anos que deixei o Liceu.
Junta-se uma fotografia da tuna actuando na escadaria dos claustros, por ocasião das comemorações do 1º centenário do Liceu, em 1941, e uma outra actuando no Teatro Garcia de Resende, no 1º de Dezembro de 2002, nas comemorações do seu 1º centenário.

7. Das récitas
Na década de 40, quando por lá andei, havia sempre duas récitas anuais, a do 1º de Dezembro e a das Festas da Primavera, em 9 ou 10 de Junho.
Nessas récitas havia sempre uma peça de teatro, regra geral em um acto e sobre o jocoso, actuações do Orfeon e da Tuna e, a encerrar, um acto de variedades com canções em voga, fados, tangos, boleros e por vezes poesia e/ou um monólogo também.
No acto de variedades do 1º de Dezembro de 1948, lembro-me de ter cantado a FEITICEIRA e, no das Festas da Primavera, A ÁGUA DA FONTE, fado que estava bastante na berra nessa altura. Este último, na sua versão original, é o FADO DO MAR LARGO (Ó mar largo, ó mar largo), música de Paulo de Sá, dedicada ao Paradela de Oliveira, e que foi gravado em 1927 por Elísio de Matos, acompanhado à guitarra pelo próprio Paulo de Sá e, à viola, pelo Prof. Dr. José Carlos Moreira.

8. Da praxe académica
No meu tempo havia alguma «praxe», era-se caloiro até ao 1º de Dezembro do ano seguinte.
Quem entrava para o 2º ciclo também era praxado mas só até ao 1º de Dezembro do próprio ano de entrada.
Havia eleições para a Direcção da Associação Académica, direcção que era constituída exclusivamente por estudantes, mas os caloiros não podiam votar.
Havia baptismos também, no fontanário que existe no jardim dos claustros e, ás vezes, o caloiro ia mesmo para dentro do lago.
Por vezes havia o seu corte de cabelo, muito pouco e, sobretudo, muito raro. Os rasgões na base da capa eram uma prática bastante habitual.
Talvez por não ter sido praxista, a ideia que tenho é que se tratava essencialmente de chacota, sem propriamente achincalhar os novos colegas, e se havia eventualmente violência certamente que o praxado teria muita culpa.
Até ao ano lectivo de 1939-40 era tradição, promovida pela Associação Académica, os estudantes do liceu, de capa e batina e com o Estandarte da Academia à frente, deslocarem-se em preito e romagem de saudade ao cemitério de Évora, ao Talhão dos Combatentes da 1ª Grande Guerra, no dia do Armistício (11 de Novembro).

9. Das serenatas e serenateiros
O primeiro cantor de Fados de Coimbra que terá tido o meu Liceu foi António Marques Batoque (1901-1971), natural de Évora, que se matriculou em Direito, em Coimbra, no início da década de 20, curso que concluiu em 1927, e que, sendo ainda universitário, gravou três discos de Fados de Coimbra para a COLUMBIA. Contudo, na década de 20 o que se tocava e cantava nas serenatas era essencialmente repertório regional do Alentejo e, não propriamente, Fado de Coimbra.
O cantor de maior nomeada na década de 20 teria sido José Cutileiro, depois médico militar, pai do diplomata do mesmo nome, tendo como acompanhante à guitarra Fernando Batalha, que se formaria em arquitectura.
Quando entrei para o Liceu o grande cantor e serenateiro era o Chico Carvalho (ou Chico Zé), que mais tarde, como cantor profissional, tomou o nome artístico de Francisco José.
A partir do meu 5º ano formámos um grupo de entusiásticos serenateiros (e noctívagos), só com repertório de Fados de Coimbra, grupo que se manteve até à saída do Liceu e muitas foram as serenatas que a altas horas da noite fizemos por essas ruas de Évora, às colegas e outras raparigas bonitas, sobretudo durante os nossos dois últimos anos do Liceu.
Quando no final de 1946 a antiga Emissora Nacional começou a transmitir o programa Serenata de Coimbra, aos domingos com repetição à sexta-feira, nós nunca perdíamos tal oportunidade, tal o entusiasmo que tínhamos.
As nossas guitarras eram do chamado tipo de Lisboa, embora o que cantássemos fossem Fados de Coimbra. Eu, pessoalmente, conhecia um repertório muito vasto, de várias dezenas de fados que haviam sido gravados na década de 20 (Menano, Bettencourt, Junot, Goes e Paradela).
A ideia que tenho é que, depois da saída do meu grupo, o Fado de Coimbra começou a perder cultores entre os estudantes do liceu, e esta minha asserção advém do seguinte:
Nas comemorações do 150º Aniversário da criação do Liceu (1º de Dezembro de 1991), na récita que houve no Teatro Garcia de Rezende, em que participaram também antigos estudantes só se cantaram dois Fados de Coimbra (Canção das Lágrimas e É tão lindo o teu Olhar) e quem os cantou fui eu, que deixara o Liceu havia quase meio século.
Uma dezena de anos depois, nas comemorações do 1º Centenário da Tuna Académica (1º de Dezembro de 2002), na récita realizada no Teatro Garcia de Rezende, houve fado mas fado de Lisboa e só de Lisboa (António Pinto Bastos).
Eu era para participar e até teria um acompanhante de luxo à guitarra, o António José Moreira, que muito amavelmente se prontificou a acompanhar-me, mas houve um equívoco de datas, de que fui o culpado, e a actuação não se concretizou. Daqui testemunho o meu muito apreço e profunda gratidão ao António José Moreira pela sua disponibilidade e extrema gentileza.
Sugeriram-me então dois outros acompanhantes, mas essa experiência não resultou, pelo que optei por ficar na assistência para não correr o risco de um possível fiasco.
(Estes dois factos afiguram-se sintomáticos de uma crise mais geral e profunda. Substituindo a expressão, presentemente muito controversa, de Fado de Coimbra, pela designação perfeitamente pacífica de O Canto e Guitarra de Coimbra, eu diria que o Canto entrou em decadência).

Nota Final:
Para maiores detalhes consultar: MEMÓRIA DO LICEU, de J. M. Monarca Pinheiro, Évora, 1991, e GUITARRA PORTUGUESA – da Torre de Belém às ruas e associações do Redondo e Évora, de Lino Rodrigo e Teotónio Xavier, in A Guitarra Portuguesa – Actas do Simpósio Internacional realizado na Universidade de Évora em 7, 8 e 9 de Setembro de 2001, Editora Estar, Lisboa, 2002.

Lisboa, 30 de Setembro de 2005

[1] As cadeiras eram as seguintes: Gramática Portuguesa e Latina, Clássicos Portugueses e Latinos (1ª Cadeira), Ideologia, Gramática geral e Lógica (3ª Cadeira) e Oratória, Poética e Literatura Clássica, especialmente a Portuguesa (10ª Cadeira).

sexta-feira, setembro 30, 2005


Capa do EP "Armando Marta - 4 Canções de Coimbra", da etiqueta Zip-Zip, saído em 1972. Canta Armando Marta, acompanhado à guitarra por António Andias e à viola por Durval Moreirinhas. Aqui, a bonita voz de Armando Marta encontra-se no seu apogeu.Posted by Picasa


Contracapa do EP "Armando Marta - 4 Canções de Coimbra", da etiqueta Zip-Zip, saído em 1972. Canta Armando Marta, acompanhado à guitarra por António Andias e à viola por Durval Moreirinhas. É um disco com canções de Coimbra a fugir ao tradicional, tanto no que respeita à letra, esta de Armando Marta, como à música, da autoria de Durval Moreirinhas. São quatro peças de grande beleza. Os acompanhamentos de António Andias, especialmente na peça "Canção ao meu Menino", mostram já uma grande evolução, além de serem magníficos. Lamenta-se que este disco tenha caído no esquecimento!Posted by Picasa


Luís Baptis Posted by Picasa



LUÍS BAPTIS LANÇA NOVO CD "VIOLA TOEIRA"
Pela 1ª vez um álbum dedicado exclusivamente à viola Toeira.
«(...) o objectivo deste trabalho (como foi nos anteriores e provavelmente irá ser nos próximos)
é o de expor de uma forma bem clara a característica sonoridade desta guitarra e todos os seus segredos, e aí Luís realmente alcançou todo o sucesso! E, mais uma vez, (...) Isto é arte!»
in ProgCD, Dez. 2004
Este novo trabalho gravado de novo a solo e sem dobragem, dá assim ao público a oportunidade única de descobrir o timbre, o som, a harmonia peculiar deste cordofone português da região da Beira Litoral.
Os 17 temas integrados neste CD foram compostos por Luís Baptis exclusivamente para a Viola Toeira. Um trabalho inédito no panorama musical nacional e internacional, que uma vez mais dá a conhecer ao público, de forma original, acessível e pedagógica, a riqueza deste instrumento português.
"Viola Toeira" é o 1º disco de uma série de trabalhos a editar proximamente por Luís Baptis dedicados a cada um dos cordofones portugueses.
Respeitando a técnica e a afinação específica a cada instrumento Luís Baptis compõe para cada uma das violas portuguesas novas peças, desenvolvendo assim as potencialidades de cada cordofone.
Luís Baptis é o único guitarrista a tocar em palco todas as violas portuguesas, além da guitarra clássica e da guitarra eléctrica. Em concerto, oferece ao público um espectáculo totalmente original onde se funde a diversidade dos instrumentos - guitarra clássica, bandolim, guitarra portuguesa, braguesa, cavaquinhos, viola da terra, viola beiroa, viola toeira, viola campaniça, viola da terceira, rajão, viola de arame e guitarra eléctrica - e os géneros musicais tradicional, clássico e contemporâneo.
Com um repertorio inovador e ecléctico, que pertence à Música do Mundo, LUÍS BAPTIS, torna a sua música acessível a todo o tipo de público, idades e gostos confundidos.
Músico, compositor e professor de música, Luís Baptis criou um projecto musical único que divulga e promove os cordofones tradicionais portugueses e no âmbito do qual este realiza concertos, workshops e sessões pedagógicas, em redor das violas tradicionais e dos temas populares reunidos por Michel Giacometti. Posted by Picasa

quinta-feira, setembro 29, 2005

Sugestões de Adamo Caetano
(Criação de uma base de dados)

Ainda há bem pouco tempo creio ter referido, numa troca de email com o Octávio Sérgio, a possibilidade de colocar todo este manancial de informação numa base de dados acessível on-line, ou seja, disponibilizar a informação sob uma forma estruturada que possibilite buscas mais dirigidas. Falei nisso porque o software que suporta o blog não oferece grande flexibilidade nas buscas de determinado assunto, mas esta ideia já é antiga - lembro-me de a ter sugerido também em relação às páginas mantidas pelo José Rabaça - mas acho que ainda ninguém a colocou em prática. Obviamente é algo que requer trabalho e investimento mas independentemente das dificuldades, isto é um PROJECTO perfeitamente realizável. Já várias vezes lancei o desafio a mim mesmo mas o tempo escasseia (especialmente tempo para estudo e programação). Seja como for, exponho o meu esquema de sistematização da informação em 5 TABELAS para uma BASE de DADOS referente à Canção de Coimbra, pois pode ser um ponto de partida para um projecto interessante que venha a envolver e unir um conjunto vasto de pessoas.
Proposta: 5 Tabelas para uma BASE de DADOS referente à Canção de Coimbra
1 - Pessoas
2 - Registos áudio/viídeo
3 - Temas (fados, canções, baladas, guitarradas, etc)
4 - Documentos escritos (artigos jornal e revistas, livros, etc)
5 - Grupos de intérpretes
eis também os CAMPOS DAS TABELAS (a ordem dos campos é irrelevante; poderão ser adicionados mais campos):
Pessoas:
(ID)/Nome/Data_Nascimento/Data_Morte/Actividade_rel_CC(cantor;guitarra;viola;poeta;compositor,etc)/Grupo(s)/Biografia(s)/Discografia(link_tabela_discos)/Foto(s)
Registos(discos):
(ID)/Título/Referência/Ano/Editora/Lista_Temas(link_tabela_temas)/Participantes(link_tabela_pessoas)/Texto(s)/Fotos_capas/Áudio(link_tabela_discos)
Temas:
(ID)/Título/Alias(outros nomes)/Autor_música/Partituras/
Autor_letra /Letra/Autor_arranjo /Registo(s)_áudio (versões_link_tabela_discos) /Anotações
Documentos escritos: (ID)/Título/Autor (link_pessoas) /Editora/Referência/Tipo (artigo, livro, etc) /Nome_publicação(revista;jornal)/Texto_integral_se_possível(formatos?)
Grupos:
(ID)/Nome_grupo/Elementos(link_pessoas)/Data_Fundação/Data_Extinção/Historial/ Discografia_publicada/Notas_várias(ex.evolução da formação)
As tabelas, independentemente do sistema que se possa construir para fazer uso delas, traduzem logo à partida a intenção de interligar a informação.
Porque uma mesma pessoa pode fazer parte de vários grupos e os mesmos temas foram gravados em discos diferentes (por vezes com nomes diferentes), etc, a estrutura das tabelas não poderá fugir muito a este esquema embora possa ser mais elaborado.Por exemplo, pode-se criar outra tabela para as diferentes versões de músicas gravadas por outras formações com outras letras, etc:
Versões
(ID_versão)/(ID_Temas)/[desnecessário repetir campos autores]/Letra_ versão/Registo _áudio_link/Notas(ex. autorias indicadas erradamente)
Pormenores para quem eventualmente se interessar pela ideia e quiser avançar para a concretização:
1 - Organizar a informação numa base de dados exige alguns cuidados para que quaisquer necessidades futuras sejam facilitadas...
2 - Por mais trabalho que represente fazer uma base de dados e um sistema que permita o acesso interactivo via web, a parte fundamental do sistema assenta na participação no contributo de quem escreve. Um tal sistema poderá estar acessível a todos e aberto à participação de todos (com regras). Para impedir quaisquer tentativas de apropriação indevida da informação, poderia ser criada uma associação para salvaguardar o acesso livre à informação gerada e disponibilizada.
3 - Se repararem, os campos das tabelas propostas não têm informação perecível (moradas, telefones, email, url). Tabelas com contactos de actuais cultores no "activo" e links para páginas pessoais e de grupos seria para "outro campeonato" por razões que nem me dou ao trabalho de explicar!
4 - Os formatos da informação são um problema. Numa primeira análise poderíamos pensar: html e pdf para texto; jpg para imagens e partituras; mp3 para som. Isto não é nada linear e há várias considerações a fazer. Por exemplo eu sugeriria texto puro, latex ou xml para os textos (e depois mecanismos de geração automático de pdf); png ou jpg para imagens e partituras (eventualmente xml e ou midi também); ogg vorbis para o arquivo de áudio.
5 - Obviamente, em relação a alguma da informação, proposta para figurar na baptizada "Base de Dados da dita CC", há a questão dos direitos de autor. Especialmente em relação aos registos áudio que não poderiam estar disponíveis livremente on-line.
De modo prático, esta base de dados, feita por ex. em MySQL e movida por um sistema em PHP, poderia permitir um acesso estruturado a muita informação (fotos, textos e partituras) já actualmente disponibilizada de forma graciosa por várias pessoas ligadas a este meio. E poderia ser um incentivo para um aumento de produção e divulgação de mais textos, partituras, etc. De modo ideal poderia ainda permitir o acesso imediato a arquivos áudio especialmente de gravações inacessíveis... Obviamente nestes últimos anos os computadores entraram em muitas casas e muitas pessoas enveredaram pela total digitalização das suas discotecas privadas, tendo algumas implementado o acesso remoto às mesmas em computadores servidores domésticos. Creio que todos conhecemos os limites legais, o que se pode e não pode fazer. Apesar disso ainda sobra algum espaço para as gravações amadoras (claro que não é a mesma coisa). O acesso aos ficheiros digitais faria sentido na audioteca de uma instituição pública... e sobre isto podemos falar muito! Tenho esperança que algo deste género possa nascer na CMCoimbra mas até lá ... quem quiser falar e fazer algo, fique desde já sabendo que eu também alinho!
Adamo Caetano

LEVANTAMENTO DE BIOGRAFIAS DE CULTORES, ESTUDIOSOS E COLECCIONADORES DA CANÇÃO DE COIMBRA

Embora o Blog Guitarra de Coimbra não tenha carácter enciclopédico, conta já com a edição on line de algumas biografias de agentes da CC menos dicionarizados ou sublimados pelo imaginário. Surge agora a possibilidade de concretizar um levantamento de maior envergadura, apostado na salvaguarda da(s) memória(s) da CC enquanto património cultural e identitário singular. Assim, importa reler as biografias já publicadas, no sentido de as manter como estão ou de enriquecê-las com novos informes; editar biografias de agentes, panfletaristas, estudiosos, coleccionadores e memorialistas, cujo interesse é manifesto para soturar alguns dos "buracos negros" que desde há mais de 150 anos afligem a História da Canção de Coimbra.
O "método biográfico" é velho na tessitura narrativa da CC, tendo em conta a repetitividade com que foram sendo selectivamente enunciados protagonistas míticos como um Augusto Hilário, um António Menano, um Artur Paredes, um Jorge Tuna, um Luiz Goes, um João Bagão, um José Afonso ou um Adriano Correia de Oliveira. Já foi usado exaustivamente em obras assinadas por Divaldo Gaspar de Freitas (1972), Afonso de Sousa (1955), José Niza (1999), António M. Nunes (1999, 2002) e Armando Luís de Carvalho Homem. E mesmo num exemplo mais contemporâneo ensaiado por Jorge Cravo/José Manuel Beato/António M. Nunes, os protagonistas puderam falar na primeira pessoa ("Testemunhos Vivos", 2002).
Claro que biografias "há muitas", para além de Hilários e Menanos! A lista é longa e surpreendente! Então quem são os outros e como aceder-lhes? Para respondermos satisfatoriamente a esta e a outras questões prementes torna-se necessário solicitar aos cibernautas do nosso Blog Guitarra de Coimbra o preenchimento de um inquérito (cuja estrutura é flexível). As respostas devem ser remetidas por e-mail, em texto word, para leitura crítica, ficando sujeitos a esclarecimentos e preenchimento de lacunas que se afigurem pertinentes no tocante a nomes, títulos e datas (ex: um colaborador pode referir que gravou um determinado disco, sem mais informações, sendo necessário acrescentar dados mais concretos sobre tal ocorrência). O texto deverá conter uma ou mais fotografias/imagens relevantes, devidamente identificadas e legendadas.
O nosso endereço é: octavioazevedo@sapo.pt

Tópicos de orientação para a elaboração das auto e heterobiografias:

1 - Identificação completa (nome, alcunhas, filiação, naturalidade, profissão);
2 - Papel desempenhado no universo da CC (guitarrista, violista, compositor musical, letrista, cantor, coleccionador, estudioso, jornalista divulgador, editor fonográfico, outro);
3 - Formação Académica (estudos secundários, Universidade de Coimbra, escola politécnica, outros estabelecimentos de ensino);
4 - Início da aprendizagem (onde iniciou a aprendizagem; com que idade; mestres formadores; discos escutados relevantes; motivos da iniciação; evolução e consolidação da formação);
5 - Formações que fundou, liderou ou de que fez parte (datas, locais, identificação dos grupos e seus elementos);
6 - Identificação dos seus cantores de referência;
7 - Identificação dos seus instrumentistas de referência;
8 - Referência a obras vocais e instrumentais que considera paradigmáticas para a sua formação e gosto pessoal;
9 - Que tipo de repertório executa mais frequentemente (exemplos);
10 - Formação musical (amador, solfejo, sabe ler uma partitura, etc.);
11 -Refira alguma obra ou autor que tenha lido para fundamentação daquilo que pensa que é a CC;
12 - Apresente uma breve definição da CC e da sua evolução, indicando a sua eventual origem histórica;
13 - Diga que elementos distinguem a CC de outros géneros musicais;
15 - Dê exemplos de discos que existiam na sua casa de família ou que tem comprado, ligados à CC (títulos, cantores, instrumentistas);
14 - Trabalhos de gravação que tenha efectuado (vinil, cd, dvd, vídeo, outros);
15 - Outros (campo livre, destinado a recordações pessoais/familiares relevantes, elementos desconhecidos, etc.).

Quaisquer dúvidas poderão ser esclarecidas directamente para o endereço acima indicado.
Os organizadores: Octávio Sérgio e António M. Nunes

quarta-feira, setembro 28, 2005


Partitura de "Tempo sem sombras" (1) de Octávio Sérgio. Posted by Picasa

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Partitura de "Tempo sem sombras" (5) de Octávio Sérgio. Peça ainda não executada em público. Posted by Picasa

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DISCOGRAFIA DE ELISIO DE MATTOS E RESPECTIVAS LETRAS
Por José Anjos de Carvalho

Elísio da Silva Matos (Ovar, 26-06-1893; m. 18-07-1978) concluiu o curso dos Liceus no Porto, em 1912, ano da sua matrícula em Direito na Universidade de Coimbra, cujo curso frequenta até ao 4º ano. Transferiu-se seguidamente para Lisboa onde se licenciou.
Manifestou acentuado gosto pela música desde tenra idade. Aprendeu violino e, depois da vinda para Lisboa, canto. Foi cantor solista e desempenhou destacados papéis em diversas óperas no Teatro Nacional de São Carlos.
Gravou apenas 3 discos de 78 rpm para a His Master´s Voice, no Verão de 1928, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, à viola, pelo Professor Doutor José Carlos Moreira. Nos discos consta apenas o nome de Paulo de Sá como instrumentista, porque o acompanhante à viola preferiu que o seu nome não figurasse nos discos.
Elísio de Matos é autor da letra e da música de um único fado, o fado-canção O Meu Filho (Tive um amor pequenino), cuja letra e outros informes se transmitem no final do texto.

1. DISCOGRAFIA:

Disco His Master’s Voice, E.Q. 149
7-62210 – Fado das Alminhas (Pelas alminhas te peço)
7-62211 – Fado do Abandono (Se tu tens que me deixar)

Disco His Master’s Voice, E.Q. 159
7-62215 – Fado da Cruz (Não há nunca amor perfeito)
7-62216 – Fado de Portugal (Há um cantinho que encerra)

Disco His Master’s Voice, E.Q. 259
30-2379 – Fado do Mar Largo (Ó mar largo, ó mar largo)
30-2380 – Fado das Cotovias (Por eu ser pobre sorrias)


Pelo menos um desses três discos de 78 rpm veio a ser editado nos EUA, sob etiqueta Victor:
Disco Victor, 33002
7-62210 – Fado of the Purgatory (Pelas alminhas te peço)
7-62211 – Fado of the Abandoned (Se tu tens que me deixar)

2. LETRAS:

FADO DAS ALMINHAS
Música: Paulo de Sá, dedicada “Ao Nuno Quental
Letra: Popular (1ª <1903;>copyright de 1929.
I
Pelas alminhas te peço,
Dá devagar os teus passos,
Que debaixo dos teus pés
Anda a minh’alma em pedaços!
II
Ando triste como a noite,
Nada me alegra o sentido…
Ninguém sabe o bem que perde
Senão depois de perdido.
.
Informação complementar:
A quadra «Pelas alminhas te peço» já era considerada popular em 1903, data da 1ª edição do livro “Mil Trovas Populares Portuguesas”, coleccionadas por Agostinho de Campos e Alberto de Oliveira e por estes dedicadas “Às Senhoras Portuguesas”, fonte que constitui a mais antiga de que disponho para o efeito. Encontramo-la também na Enciclopédia das Famílias (Ano XXI, Nº 247, de 1907, pág. 536) e no livro de Jaime Cortesão, “O que o Povo canta em Portugal”, pág. 225.
A Quadra «Ando triste como a noite» já era popular em 1893, data do I volume do “Cancioneiro de Músicas Populares”, de César das Neves. Encontramo-la também em Mil Trovas, Cancioneiro Geral dos Açores (3º volume), Cancioneiro Transmontano e Alto Duriense, Cancioneiro Popular Português e Brasileiro, de Nuno Catarino Cardoso, etc.
.
FADO DO ABANDONO
Música: J. Nunes Pinto
Letra: (?)
Edição musical: Desconheço a sua existência.
I
Se tu tens que me deixar,
Deus eternize o meu sonho,
Mas que nem mesmo a sonhar
Eu sinta o teu abandono.
II
Já que todos os meus ais
Se encerram no teu caminho,
Por alma de quem lá tens
Não me deixes pobrezinho.

FADO DA CRUZ
Música: Paulo de Sá, dedicada “Ao D. Bernardo da Costa”
Letra: Augusto Gil (O Craveiro da Janela, 1920 e Versos, 1898)
Edição Musical: Sassetti & C.ª, copyright de 1929.
I
Não há nunca amor-perfeito
Sem tortura e sem cuidado.
Amar é trazer Deus no peito
Outra vez crucificado…
II
Amas a Nosso Senhor
Que morreu por toda a gente,
Só a mim não tens amor
Que morro por ti somente!

Informação complementar:
A 2ª quadra foi ligeiramente modificada no 3º verso, presumo que por razões de melhoria da prosódia, pois o seu 3º verso, na versão original, é “E a mim não me tens amor”.

FADO DE PORTUGAL
Música: Paulo de Sá, dedicada “Ao Elysio de Mattos”
Letra: Augusto Gil (O Craveiro da Janela, 1920)
Edição Musical: Sassetti & C.ª, copyright de 1929.
I
Há um cantinho que encerra
O segredo d’amar bem.
É Portugal, minha terra,
Minha terra e minha mãe!
I
Rola que estás arrulhando
À beira do poço fundo,
Eu também sofro e não ando,
A queixar-me a todo o mundo.

Informação complementar:
O Fado de Portugal veio depois a ser gravado sob o título “Nossa Terra”, em 1995, por Augusto Camacho acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Luis Filipe Roxo Ferreira, mas substituiu a 2ª quadra de Augusto Gil por uma outra – “Do Choupal até à Lapa” – de António de Sousa (CD Dr. Camacho VieiraColectânea de Fados, Discossete, 1014-2).

FADO DO MAR LARGO
Música: Paulo de Sá, dedicada “Ao José Paradela
Letra: Popular (1ª <1903;>
Edição Musical: Sassetti & C.ª, copyright de 1929.
I
Ó mar largo, ó mar largo,
Ó mar largo sem ter fundo,
Mais vale andar no mar largo
Que andar nas bocas do mundo.
II
A sereia quando canta,
Canta no meio do mar;
Quantos navios se perdem
Por causa do seu cantar.
.
Informação complementar:
A quadra «Ó mar largo, ó mar largo» já era considerada popular em 1903, data da 1ª edição do livro “Mil Trovas Populares Portuguesas”, coleccionadas por Agostinho de Campos e Alberto de Oliveira e por estes dedicadas “Às Senhoras Portuguesas”, fonte que constitui a mais antiga de que disponho para o efeito. Encontramo-la também no Romanceiro e Cancioneiro do Algarve, de Francisco de Ataíde Oliveira (1905), pág. 217, Cancioneiro Popular Português, de Leite de Vasconcelos (II Volume), pág.54, Cancioneiro de Entre Douro e Mondego, de Arlindo de Sousa, etc., etc. A quadra «A sereia quando canta» já era tida como popular em 1882, data da publicação de Tradições Populares de Portugal, de J. Leite de Vasconcelos. Encontramo-la também em mais uma dúzia de cancioneiros, entre os quais, o C. Geral dos Açores, C. Popular Português, Cantos Populares Portugueses, de Tomás Pires, C. Entre Douro e Mondego, etc., etc.
No início da década de 40 estava na berra o fado intitulado A Água da Fonte (A água da fonte é louca) cuja música original é a do Fado do Mar Largo. Augusto Camacho, acompanhado à guitarra por Carlos Paredes e, à viola, por António Leão Ferreira Alves, veio a gravar “A Água da Fonte” em Setembro de 1957 (EP Fado de Coimbra – Dr. Augusto Camacho, Columbia, SLEM 2008, editado em 1958). Augusto Camacho voltou a gravar este mesmo fado em 1988, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, á viola, por Aurélio Reis (LP Cantar Coimbra, MBP 7010061) e depois em 1995, com os mesmos instrumentistas, aos quais se juntou Luis Filipe Roxo Ferreira (CD Dr. Camacho Vieira – Colectânea de Fados, Discossete, 1014-2). A letra cantada é ligeiramente diferente nas três gravações e, nas duas últimas, o título que figura é “Água da Fonte”, tout court.
José Afonso gravou o Fado do Mar Largo em 1956, acompanhado à guitarra por António Portugal e Jorge Godinho e, à viola, por Manuel Pepe e Levy Baptista (violões aço), mas a 1ª quadra que canta difere ligeiramente da quadra original do fado e substituiu a 2ª quadra, “A sereia quando canta”, por uma variante literária de uma quadra de Edmundo Bettencourt “Fosse o meu destino o teu”, do fado Mar Alto (EP José Afonso – Coimbra, Alvorada, MEP 60280, editado em 1971).
.
FADO DAS COTOVIAS
Música: Paulo de Sá, dedicada “Ao António Bernardo Ferreira
Letra: Augusto Gil (O Craveiro da Janela, 1920)
Edição Musical: Sassetti & C.ª, copyright de 1929.
I
Por eu ser pobre sorrias
Da minha má condição.
Voam alto as cotovias
– E fazem ninho no chão…
II
Lá por ser de gente fina,
Não me tire a mim do rol.
A Lua é bem pequenina
– E às vezes encobre o Sol.

Informação extra: O Fado de Elísio de Matos e outros informes

Sei, pelo filho, Rui Rodrigues de Matos, que seu pai apenas gravou 3 discos, que a gravação ocorreu entre Agosto e Setembro de 1928 e que quem o acompanhou à viola foi o Professor Doutor José Carlos Moreira, que não quis que o seu nome figurasse nos discos. Os três, Paulo de Sá, José Carlos Moreira e Elísio de Matos eram grandes amigos.
Por ele soube também que seu pai é o autor da música e da letra, de um fado-canção intitulado O Meu Filho (Tive um amor pequenino), único fado que compôs. É um fado bastante triste, feito por Elísio de Matos em memória de um seu filho, que morreu muito pequenino e cuja morte desse menino foi por ele muito sentida. Na biografia dos cantores (cidadevirtual.pt/fado Coimbra) vem a indicação de Elísio de Matos ser autor de um «Fado Triste» pelo que presumo ser o mesmo. A letra é a seguinte:

O MEU FILHO

Tive um amor pequenino
Que pouco tempo durou
E para meu desatino
Deus m’o deu, Deus m’o levou.

(estribilho)
Ter filhos para os perder
É sentir a maior dor,
Andar na vida e não ver,
É ter coração sem amor
.

Se não ter filhos é triste,
Pior é vê-los morrer;
Com filhos a gente existe,
Sem filhos não é viver.

(estribilho)
Ter filhos para os perder
É sentir a maior dor,
Andar na vida e não ver,
É ter coração sem amor.

Tive oportunidade de ouvir e gravar este fado numa sessão em minha casa, na noite de 14 de Março de 1997, cantado por Rui Rodrigues de Matos, acompanhado à guitarra por Carlos Couceiro e Teotónio Xavier e, à viola, por Durval Moreirinhas.

Lisboa, 27 de Setembro de 2005

terça-feira, setembro 27, 2005

Eterna Canção
Música: António Rodrigues Vianna (1868-1952)
Letra: Júlio Dantas (1876-1962)
Incipit: Olho as nuvens doiradas pelos ares
Origem: Porto?
Data: 1ª década do século XX





Olho as nuvens doiradas pelos ares,
Breves como a ventura que perdi...
Olho estrelas do céu, ondas dos mares,
E só te vejo a ti!...
.
Oiço os campos onde a água é um lamento,
E a voz d'oiro das aves canta e ri...
Oiço uivar os pinhais, gemer o vento
E só te escuto a ti!...

Tudo: nuvens, estrelas, céu profundo,
Tudo se me turvou, quando te vi...
E não hás-de ser tu todo o meu mundo,
Se eu só te adoro a ti!

Canta-se o 1º dístico e repete-se; canta-se o 2º dístico e apenas se bisa o último verso.
Canção musical de tipo estrófico, em compasso binário simples e tom de Ré Menor, onde o 4º verso de cada copla funciona como uma espécie de estribilho que o cantor bisa para acertar a métrica.
Esta canção foi editada na brochura "Canções Portuguezas. Versos escolhidos de Poetas Portuguezes. Musica de Antonio Vianna", Gand, A. de Vestel, sem data (2ª década do séc. XX?), integrada num lote onde figuravam "Regresso ao Lar", "Ao Rebentar das Seivas" e outras. Os poetas postos em música são Junqueiro, João de Deus, Alberto Bramão, Alfredo Guimarães, Casanova Pinto, Acúrsio Cardoso, Diogo Souto e Conde de Monsaraz.
O Dr. António Rodrigues Viana nasceu na cidade do Porto em 24 de Novembro de 1868, tendo falecido em Lisboa a 3 de Fevereiro de 1952. Formado pela Faculdade de Direito da UC em 1894, colaborou na parte musical da récita de quintanistas do seu curso, tendo-se dedicado à advocacia no Porto e em Lisboa, bem como à composição musical. Integrou os quadros dos jornais "O Século" e "Liberal", tendo produzido crítica musical no "República". Compositor prolíxo, deixou valsas conhecidas em Portugal e no Brasil. Numa primeira fase compôs valsas para a récita do seu curso ("O Senhor Pelides em Coimbra", estreada na noite de 5 de Maio de 1894). Numa segunda fase elaborou parte das canções editadas em solfas na Bélgica, correspondentes grosso modo ao caderno "Canções Portuguezas" I, II, III e IV. Nos finais da década de 1920, em 1928 e 1929, a cantora lírica Maria Emélia de Vasconcelos gravou na His Master's Voice grande parte do repertório de Viana. Em algumas das canções, Viana acompanha a sua cantora predilecta em violão de cordas de aço. Numa terceira fase, António Viana produziu canções com versos de sua própria autoria.
Como se pode facilmente constatar pelos títulos das composições e pelos textos seleccionados, Viana integra-se na corrente nacionalista/simbolista, de que fizeram parte homens da sua geração como António Nobre, Alberto de Oliveira e Antero da Veiga. A veia nacional-regionalista foi requentada pelos fervores gerados pelo Ultimato Britânico, dando origem a estas canções que pretendem afirmar-se como ternurentos bilhetes postais ilustrados onde desfilam camponeses, regressam emigrantes, chilreiam passarinhos, desabrocha a Primavera e se desfolha o milho. Eis um ideal estético ingenuamente regionalista que idealiza a vida rural (à época terrivelmente dura e sofrida, assente numa cultura de privações e numa economia de sobrevivência!), que teve traços comuns com os valores pregados pelo Estado Novo. Dizendo-se "portuguesas", no sentido em que pretendiam ser "regionais", estas canções são obviamente falsos produtos rústicos. O povo não vivia exactamente assim, conforme comprovam os estudos etnográficos coevos. As elites é que persistiam em querer ver o "povo" e o "popular" nestes produtos de fábrica urbana.
Os fascículos editados por Viana foram bem conhecidos em Coimbra, nomeadamente entre os serenateiros e no Orfeon regido pelo Padre Dr. Elias Luís de Aguiar. Um desses entusiastas era o barítono Artur Almeida d'Eça que também cantava "Pequenina", com versos de Álvaro de Castelões (Afonso de Sousa informa que Eça gravou essa canção que seria do próprio cantor. No entanto, a mesma figura na 2ª série de "Canções Portuguezas", Lisboa, Sassetti, seguramente dos anos 20, com capa de Stuart Carvalhais).
Júlio Dantas nasceu em Lagos, Algarve, a 19 de Maio de 1876 e faleceu na cidade de Lisboa no dia 25 de Maio de 1962. Formou-se em Medicina na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Trabalhou como médico militar, inspector de bibliotecas e arquivos, professor de Arte Dramática no Conservatório de Lisboa, Ministro da Instrução, Ministro dos Negócios Estrangeiros, jornalista, tendo-se ainda distinguido como cronista de fastos do século XVIII, poeta e dramaturgo. Foi autor dos famosos textos "A Severa" (1901) e "A Ceia dos Cardeais" (1902). Politicamente foi sendo de cada um dos regimes em que viveu: monárquico, republicano e adepto do salazarismo. Era visto como um literato petulante, cheio de tiques, e como tal foi alvo de feroz ataque pelos modernistas do Orfeu, com Almada Negreiros à cabeça. A letra desta canção aparece transladada numa mensagem manuscrita de um postal ilustrado de 1914, postal esse reproduzido por Joaquim Vieira, "Portugal. Século XX. 1910-1920. Crónica em Imagens", Lisboa, Círculo de Leitores, 1999, pág. 153.
"Eterna Canção" foi primeiramente gravada pela cantora lírica Maria Emélia de Vasconcelos, no 78 rpm His Master's Voice 7-63112, a 29 de Outubro de 1928, com acompanhamento de violão aço e de violino, em Lisboa. Porém, não conseguimos aceder a este disco.
Tema gravado ao estilo de Coimbra pelo barítono Artur Almeida d'Eça, no 78 rpm Polydor P42.128, possivelmente em Lisboa, já no segundo semestre de 1929, com 1ª guitarra de 17 trastos de Albano de Noronha e 2ª guitarra de Afonso de Sousa. O arranjo de acompanhamento é de Albano de Noronha, sendo o tema interpretado escorreitamente. O cantor não respeita integralmente o texto original (que foi aqui transcrito) e na etiqueta do disco figura erradamente como autor da letra o Conde de Monsaraz D. António de Macedo Papança.
Ouvimos este disco pela primeira vez em casa da Dra. Mariberta Carvalhal, colega de curso do escritor Virgílio Ferreira e irmã do guitarrista António Carvalhal. Feito o translado para cassete, a pesquisa foi desenvolvida conjuntamente com o Coronel José Anjos de Carvalho. Agradecemos ainda à Dra. Mariberta Carvalhal e a José Moças.
Transcrição e edição on line: Octávio Sérgio (2005)
Pesquisa e texto: António M. Nunes e José Anjos de Carvalho.


Japão 2005.
Depois da última actuação no restaurante, a foto da praxe, com o "staff" devidamente "uniformizado". Posted by Picasa


Japão 2005.
José Miguel Baptista com a sua boa disposição do costume, junto ao hotel em Tóquio. Posted by Picasa


Japão 2005.
O pessoal a purificar-se nesta fonte junto a um templo! Posted by Picasa


Japão 2005.
Octávio Sérgio, Miguel Baptista, Luís Ferreirinha, Casal anfitrião e José Miguel Baptista, à porta do hotel. Posted by Picasa


Japão 2005.
Actuação no restaurante de José Eduardo Baptista, com o anfitrião ao centro. Octávio Sérgio, guitarra; Luís Ferreirinha, viola; José Miguel Baptista e Nuno Silva a cantar.Posted by Picasa


Japão 2005.
O que se via da janela do hotel em Tóquio. Posted by Picasa

segunda-feira, setembro 26, 2005


Japão 2005.
Contrariando todas as praxes, tivemos que actuar de chinelos. Ninguém podia entrar no pavilhão com sapatos. Foto tirada após a actuação, com as flores que nos ofereceram, e já sem capas. Posted by Picasa


Japão 2005.
Cidade de Oharu, geminada com Nagoya. Final do almoço que precedeu a actuação do grupo, no dia 19, perante numerosa assistência de idosos japoneses. Ao centro o Comissário e a sub-comissária, Mónica Mendes. À frente e à esquerda, o irmão de José Miguel, José Eduardo Baptista. Posted by Picasa


Japão 2005.
Jantar com convívio, em Nagoya, com o Comissário Nacional da representação portuguesa da Feira Internacional. Toca viola e canta o Reitor da Universidade Agostinho Neto, de Angola. Nuno Silva e José Miguel Baptista escutam. Posted by Picasa


Japão 2005.
Um aspecto da Feira Internacional de Nagoya. Posted by Picasa


Japão 2005.
Actuação no pavilhão de Portugal. Nuno Silva a cantar, José Miguel Baptista a observar; Octávio Sérgio e Luís Ferreirinha na parte instrumental. Posted by Picasa


Japão 2005.
Actuação no pavilhão de Portugal. Nuno Silva e José Miguel Baptista a cantar; Octávio Sérgio e Luís Ferreirinha na parte instrumental. Posted by Picasa


Japão 2005.
Feira Internacional de Nagoya com o pavilhão português. Posted by Picasa


Japão 2005.
José Miguel Baptista junto a um cartaz a anunciar a Feira Internacional de Nagoya, com um pavilhão português. Posted by Picasa


Japão 2005.
Primeiro contacto com Nagoya. Três Baptistas, Miguel, José Eduardo e José Miguel; Octávio Sérgio no meio deles, e em baixo, Nuno Silva e Luís Ferreirinha. José Eduardo, irmão de José Miguel, foi o anfitrião. Posted by Picasa


Ida para o Japão, dia 15 de Setembro, com escala em Paris, no aeroporto Charles de Gaulle. Octávio Sérgio, Luís Ferreirinha, José Miguel Baptista e Nuno Silva. Boa disposição e a esperança de uma boa estadia de dez dias por terras nipónicas. Posted by Picasa

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