sábado, janeiro 06, 2007


Capa e contracapa do CD de Serrano Baptista, que gentilmente me foi oferecido por A. Albino, do grupo Tertúlia Coimbrã de Miratejo, em que Serrano Baptista (filho) está agora integrado. É um trabalho artesanal, com compilação de 7 peças gravadas em gravador de fita e passado para CD. São cinco guitarradas de Serrano Baptista e 2 Canções de Coimbra por ele cantadas. Voz agradável, que me surpreendeu, pois apenas o conhecia como guitarrista. As guitarradas seguem o estilo bem da época, mas com partes muito difíceis de executar. Pena que as Variações em Ré Maior estejam incompletas, pois a fita estava danificada no final. Gostava de ouvir o efeito dessa parte, já que conheço a partitura. Em outras duas tem trechos com dedilhações semelhantes à Fantasia de Artur Paredes, o que mostra que Serrano Baptista era dotado de uma técnica bastante evoluída. As peças ouvem-se com muito agrado. Pena é que nunca tenham sido gravadas em disco!
Segundo me disse A. Albino, uma fita com gravações de Serrano Baptista foi emprestada a António Portugal, nunca tendo sido devolvida, devido à sua morte prematura. O filho de S.B. pede encarecidamente a Teresa Portugal que procure no espólio de seu marido se tal fita ainda lá se encontra, pois pensa que pode incluir as Variações em Ré Maior, que estão incompletas neste disco, além de outras inéditas.



Honras dos arminhos, glórias da púrpura (1)

Tipografia parisiense em plena actividade nos alvores do século XVI, com dois humanistas de capelo e barrete.

AMNunes



Honras dos arminhos, glórias da púrpura (2)

Francisco Henriques: São Cosme, São Tomé e São Damião, ca. 1503-1508, Lisboa, Museu nacional de Arte Antiga.

Vistos como curandeiros das epidemias que assolavam a Europa e Portugal, S. Cosme e S. Damião são figurados com capelos de época. O capelo de S. Damião obedece a um modelo mais clássico, com forro de arminhos salpicado de tufos e capuz costal, assemelhando-se aos usados pelos cardeais romanos e docentes activos na Universidade de Paris.

AMNunes



Honra dos arminhos, glórias da púrpura (3)

Antonello da Messina: "São Jerónimo no escritório", ca. 1460, Londres, National Gallery.

São Jerónimo em vestes escarlates, com capelo pelos ombros, em pose reflexiva de "lente" estudioso, é um clássico da arte sacra ocidental.

AMNunes



Honras dos arminhos, glórias da púrpura (4)
Melozzo da Forlì (1438-1494): O Papa Sisto IV funda a Livraria do Vaticano em presença de seus sobrinhos e do Prefeito Bartolomeu Platina, ca. 1477, Roma, Vaticano.
A figura erecta ostenta longo capelo escarlate, descido pela linha dos cotovelos, com forro de arminhos e capuz deitado sobre o ombro direito.
AMNunes



Honras dos arminhos, glórias da púrpura (5)

Jean Hey: "Nativité du Cardinal Jean Rolin", ca. 1480, Autun, Musée Rolin.

Postura orante, com sotaina escarlate de abertura frontal e capelo de arminhos e veludo.

AMNunes


Honras dos arminhos, glórias da púrpura (6)

Rafael Sanzio: "Madona di Foligno", ca. 1512, Roma, Vaticano. Obra encomendada em 1511 por Sigimondo Conti (de barbas brancas na tela) para o altar da Igreja de Santa Maria, em Roma. O humanista Conti figura ao lado do purpurado São Jerónimo. Do lado oposto, Rafael dispôs São Francisco e São João Baptista.

AMNunes



Honras dos arminhos, glórias da púrpura (7)

"O Cardeal Albretch de Bradenburgo diante do Crucificado", pintura de Lucas Cranach, o Velho (1472-1553), feita entre 1520-1530, Munique.

Grande destaque para o capelo, com o capuz lançado sobre o ombro.

AMNunes



Honras dos arminhos, glórias da púrpura (8)

O Cardeal Albretch de Bradenburgo com barrete escarlate e pelote forrado a peles. Pintura de ca. 1526, existente em St. Petersburgo, Rússia

AMNunes



Honras dos arminhos, glórias da púrpura (9)

Retrato do Cardeal Nicola Albergati por Jan van Eyk, ca. 1432, Viena, Kunstistorisches Museum, com sotaina escarlate forrada a peles ricas. Trata-se de um retrato mais intimista, com o prelado a prescindir das insígnias respectivas.

AMNunes



Honras dos arminhos, glórias da púpura (10)

Figuração completa da indumentária de um cardeal da segunda metade do século XV: a) túnica branca; b) sotaina talar escarlate, sem mangas, com duas aberturas fendidas e embainhadas a arminhos; c) capelo de veludo Veneza, forrado de arminhos e capuz deitado pela cabeça; d) galero de estrutura rígida e cordões pendentes.

Fonte: volante de São Jerónimo, trabalho da autoria do pintor Michael Pacher (ca. 1435-1498), com o título "Padres da Igreja", de ca. 1483, Munique, Alte Pinakotheke.

AMNunes


Honras dos arminhos, glórias da púrpura (11)
A evolução da moda não deixou de afectar o gosto das altas esferas do mundo eclesiástico romano. Progressivamente abandonado, o galero medieval (nobilitado pelo Papa Bonifácio VIII), viu-se transformado em estilização heráldica aplicável em tectos, portões e pedras de armas, com os seus cordões de trinta borlas. Chegaria ao Concílio Vaticano II, confeccionado em feltro preto, com fita à volta da copa e discreta borla quase colada ao rebordo da aba.
A simplificação e laicização da vestimentária eclesiástica tentava adaptar-se às tendências da sociedade civil masculina que desde a Segunda Guerra Mundial praticamente abandonara o uso dos chapéus.
AMNunes

Honras dos arminhos, glórias da púrpura (12)
A compreensão e aprofundamento dos estudos dos uniformes e insígnias das universidades ocidentais pode ser enriquecido através do cotejo com os ainda mal conhecidos guarda-roupas judiciário e eclesiástico.
Na fotografia, tirada em Roma, Dezembro de 1929: Cardeal Eugénio Pacelli (1876-1958), entronizado Papa Pio XII em 1939, aqui com calção, cáligas de seda (meias), sapatos de fivela, volta branca e cabeção, batina talar, roquete de rendados, capa magna e murça de arminhos. Nas mãos são bem visíveis as insígnias: o anel e o barrete escarlate, de quartos, com dorsais, mas sem borla alguma na copa.
A sotaina de púrpura foi honorificamente concedida aos cardeais pelo Papa Bonifácio VIII em 1294. Esta véstia podia ser usada com capelo de veludo Veneza e arminhos no acto de investidura dos novos cardeais romanos, procedendo o Papa à colocação do galero de cordões e borlas na cabeça dos neófitos.
O visual descrito proliferou em pinturas dos séculos XIV e XV, refluindo no Renascimento. O galero como que passou de moda no Renascimento, progressivamente convertido em motivo heráldico dos cardeais, os quais deram mostras de preferir o barrete escarlate que lhes fora concedido em 1245 pelo Papa Inocêncio IV.
AMNunes

Duas décadas doutorais: uma celebração "de Reis" (I)

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4. Armando Luís de Carvalho HOMEM




Duas décadas doutorais: uma celebração "de Reis" (II)

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Armando Luís de Carvalho HOMEM

Duas décadas doutorais: uma celebração "de Reis" (III)

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Armando Luís de Carvalho HOMEM

Duas décadas doutorais: uma celebração "de Reis" (IV)

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Em 2005/12/18 passaram duas décadas sobre o meu doutoramento em Letras / História da Idade Média pela UP. Celebrando a efeméride, os meus Colegas doutores na especialidade pelo mesmo Studium Generale ofereceram-me um jantar e diversas lembranças: foi na «noite de Reis» (Jan.05) de há 1 ano. Foi mesmo uma «noite de Reis» !... Propus que, antes do jantar, se fizesse uma «pose de grupo» em hábitos académicos. Aqui fica uma pequena reportagem, no âmbito dos sucessivos posts que tenho vindo a colocar no blog sobre os trajes e as insígnias dos lentes universitários, do nosso País e de outros.

0. Montagem, por Flávio Miranda, de uma série de fotos desta comemoração.
1. Mesa grande da sala do Departamento de História e de Estudos Políticos e Internacionais (DHEPI) da FL/UP, antes da chegada dos lentes

2. Com a minha Mulher, Maria Isabel Miguéns de Carvalho Homem.

3. Idem.

4. Com uma das executivas do DHEPI, Dr.ª Idalina Azeredo Rodrigues.

5. Com os finalistas de História Flávio Miranda, Joana Sequeira e André Vitória, colaboradores da organização (disposição da sala, flores, fotografias, ulterior digitalização de imagens, etc.); estão hoje licenciados e a frequentar a post-graduação em História Medieval e do Renascimento.

6. 1.ª foto de grupo – 1.ª fila, da esq. para a dir.: Doutora Maria Cristina Almeida e Cunha (UP); Doutor José Augusto de Sotto-Mayor Pizarro (id.); eu próprio; Doutor Luís Adão da Fonseca (UP); Doutor Luís Miguel Duarte (id.); Doutora Isabel Morgado de Sousa e Silva (Centro de Investigação Histórica [CIH] – FLUP); e Doutora Paula Pinto Costa (UP); 2.ª fila, da esq. para a dir.: Mestre Luís Carlos Ferreira do Amaral (UP, prestes a doutorar-se); Doutora Isabel Rodrigues Ferreira (CIH – FLUP; professora do Ensino Secundário); Joana Sequeira (segurando uma almofada com o meu chapéu troncónico); Doutora Maria Cristina Pimenta Aguiar Pinto (CIH – FLUP); Doutora Judite Gonçalves de Freitas (CIH – FLUP; lente da U. Fernando Pessoa / Porto); Doutor António Pais de Matos Reis (CIH – FLUP; Director do Arquivo Distrital de Viana do Castelo); e Dr.ª Maria Fernanda M. Ferreira Santos (UP).

7. 2.ª foto de grupo – escassas diferenças em relação à foto anterior: saiu o Mestre Luís Carlos Amaral (teve uma aula) e chegou (de uma aula na U. Lusíada / Porto, de que é lente) o Doutor Joel Silva Ferreira Mata (2.ª fila, 2.º a contar da esquerda; também investigador do CIH – FLUP). Como se vê, há por aqui becas do modelo com origem em Oitocentos (1856-1857), nas Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e do Porto, hábitos talares (com os quais os que os envergam se apresentaram a provas de doutoramento) e um «traje doutoral» da UP, nos termos da reforma de 2003; a medalha usada é, sem excepção [a], a concebida pelo escultor JOÃO DA SILVA para o Centenário da Academia Politécnica e da Escola Médico-Cirúrgica (1937), adoptada como insígnia doutoral da UP em 1994; esta medalha pode pender de uma simples fita na cor da Unidade Orgânica (azul-escuro [b]) ou do escapulário previsto pela reforma do traje em 2003.

8. O levantar da mesa – da esq. para a dir.: Maria Cristina Cunha, Isabel Rodrigues Ferreira, José Augusto Pizarro, eu próprio, Joana Sequeira, Luís Adão da Fonseca e Cristina Pimenta.

9. Recarregando a máquina fotográfica.

10. Recebendo lembranças; é aqui visível a cor (azul-escuro) do pom-pom hemiesférico que encima o chapéu troncónico.

11. Com José Augusto Pizarro, que usa também a medalha do Instituto Português de Heráldica, a que pertence. A beca envergada por este meu Colega – tal como a de Luís Adão da Fonseca, a deste último algo mais discretamente – é um claro exemplo do modelo portuense de sugerência oitocentista: folhos levantados nos ombros [c]; grande profusão de pregas; faixa de cinta de duas voltas; abotoadura até á base [d]; para além dos botões, a peça fecha, na zona torácica, com quatro pares de alamares [e]; mangas de balão, dando ao conjunto apreciável volumetria [f]; a dupla borla de serigaria que pende da faixa de cintura tem frequentemente – como é aqui o caso [g] – a cor da Unidade Orgânica / especialidade científica. Quanto ao novo «traje doutoral» da UP (2003), trata-se se algo que se destina «(…) a ser usado pelos doutores pela Universidade do Porto e por professores jubilados e aposentados a quem seja conferido, para este efeito, um estatuto equivalente. Apresentando-se como uma simplificação do anterior, é constituído por uma túnica de côr preta, lisa na parte da frente e com um macho e duas pregas nas costas, com mangas lisas e largas na parte de baixo, levando um folho, à sua volta, no ombro. Como acessório, será usado um cinto de seda, com duas pontas a que se prendem duas borlas com as cores da faculdade ou, em alternativa, pretas [h]. Nas cerimónias em que haja lugar ao uso de insígnias, o traje doutoral será completado com um colar, tipo escapulário, da côr, ou cores, da faculdade e com a medalha da Universidade» [i]. Uso este traje com laço branco (na tradição das antigas Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e do Porto) e chapéu troncónico (também com origem no séc. XIX, mas só regulamentado muito tardiamente, para a UL nos Reitorados de Marcello Caetano [1960] e de José Barata Moura [2005], para a U. Açores no Regulamento fundacional do traje (Reitorado de António Machado Pires, 1990) e para a UNL no mandato do actual Prelado, Leopoldo Guimarães [ca. 2002]) com pom-pom hemiesférico na cor da Unidade Orgânica (azul-escuro).

12. Com os membros da Linha de Acção «As Ordens Religiosas e Militares na Idade Média Portuguesa» do CIH – FLUP (Unidade de I&D 746 da Fundação para a Ciência e a Tecnologia [FCT]), a que presido: da esq. para a dir. – Luís Adão da Fonseca, Paula Pinto Costa, Cristina Pimenta, Isabel Morgado, Joel Mata e eu próprio.

13. Com os membros da Linha de Acção «A Sociedade Política e os Poderes» do CIH – FLUP: da esq. para a dir. – José Augusto Pizarro, Cristina Cunha, eu próprio, Judite Gonçalves de Freitas e Luís Miguel Duarte.

14. «Jantar de Reis» (I): Pré-prandialmente…

15. «Jantar de Reis» (II): O verbo post-prandial…

A fechar, lembro antes de mais o único membro do meu júri já desaparecido: o Doutor Salvador Dias Arnaut (1913-1995), recentemente imortalizado na toponímia de Coimbra, facto dignamente registado no blog; nas provas de 1985 foi arguente do trabalho complementar [j]. Os restantes membros do dito júri foram:

· Doutor Cândido dos Santos, ao tempo Vice-Reitor da UP, Presidente do Júri (actualmente jubilado);

· Doutor António Henrique de Oliveira Marques, da UNL, actualmente jubilado; foi um dos arguentes da tese: Desembargo (O) Régio (1320-1433), publ. Porto, INIC / Centro de História da UP, 1990, 634 pp.;

· Doutor Humberto Baquero Moreno, da UP, actualmente aposentado; foi o meu orientador científico e, como tal, também arguente da tese;

· Doutor Luís António de Oliveira Ramos, da UP, actualmente aposentado;

· Doutor Luís Alberto Adão da Fonseca, da UP, actualmente aposentado;

· e Doutor José Marques, da UP, actualmente aposentado.

Direi também que motivos de saúde impediram a presença nesta comemoração do Doutor Humberto Baquero Moreno e que o Doutor José Marques apenas pôde comparecer no jantar.
A quem me fez esta bela «festa de Reis» só posso reiterar o meu Muito e Muito Obrigado !


Post-Scriptum – É curioso: por razões históricas quanto aos trajes em uso na UP, nestas imagens coexistem becas e hábitos talares; ou seja, e uma vez mais, «o eu» e «o outro»…


NOTAS:

[a] Ainda sobram lentes doutorados antes de 1994 que continuam a usar a anterior medalha, remontante à antiga Academia Politécnica.
[b] Mais ou menos…
[c] Em vez do agradável arredondamento para o antebraço, característico das da UL nos termos da reforma do Reitor Marcello Caetano [1960]; com pequenas adaptações, estoutro modelo passou para a UNL – até à reforma do traje ocorrida ca. 2002, mas não aceite, por ex., pela Fac. Ciências Médicas – e para a U. dos Açores [mas aqui com outras especificidades]; na UL o modelo foi consagrado com pequenas inovações em 2005, no reitorado de José Barata Moura.
[d] As de Lisboa e o novo «traje doutoral» portuense fazem terminar a abotoadura um pouco abaixo da cintura.
[e] De dimensões francamente superiores aos utilizados nas becas da UL, da UNL e da U. Açores.
[f] As da UL, da UNL e da U. Açores apresentam mangas de canhão, podendo este (mormente nos Açores) ser na cor da especialidade científica.
[g] Cf. ils. 12. e 13.
[h] É esta última a solução adoptada no caso patente.
[i] José Novais BARBOSA, «Posfácio», in A. L. de Carvalho HOMEM, Traje (O) dos lentes. Memória para História da Veste dos Universitários Portugueses (séculos XIX-XX), Porto, Fac. Letras / UP, 2006, p. 97 (col. «flup e-dita»; em breve no mercado).
[j] «Conselho Real ou Conselheiros do Rei ? A propósito dos “Privados” de D. João I», publ. em Revista da Faculdade de Letras [UP]. História, II sér., 4 (1987), pp. 9-68; reed. In A. L. de Carvalho HOMEM, Portugal nos Finais da Idade Média: Estado, Instituições, Sociedade Política, Lisboa, Livros Horizonte, 1990, pp. 221-278.
Armando Luís de Carvalho HOMEM

sexta-feira, janeiro 05, 2007



No 74º Aniversário de Luiz Goes

Antologia fonográfica abrangendo a produção balizada entre 1952-2002, com textos de Carlos Carranca, José Henrique Dias, Carlos Couceiro, Levy Baptista, Jorge Cravo, José Anjos de Carvalho e António Toscano.

A invulgar obra artística de LG é sem dúvida merecedora de exaustivos estudos e ensaios, continuando a faltar nos meios universitários aquele certo investigador a quem "morda o bichinho"... Pena é que numa Faculdade de Letras da UC não se acolham um LG ou a Canção de Coimbra com o mesmo entusiasmo que a Universidade de Aveiro tem vindo a consagrar ao Jazz.

Não serve de consolação, mas LG tem sido demoradamente estudado por Jorge Cravo. Esperemos que estes trabalhos, com uma primeira versão alinhavada em 2005, possam ver a luz do dia...

A antologia fonográfica de 2002 não esgota a globalidade das prestações goesianas. Posteriormente seria gravado um novo cd com o guitarrista João Moura e em arquivos radiofónicos e televisivos permanecem intervenções esquecidas.

AMNunes


Natalis Dies
O Dr. Joaquim Pinho convida os leitores do blog e os admiradores da obra artística de LUIZ GOES a comemorarem condignamente o aniversário desta figura magna da Canção de Coimbra (05/01/1933...).
Imagem: caricatura e poema de Luiz Goes na contracapa do livro orientado por Carlos Carranca, "Luiz Goes de Ontem e de Hoje", Lisboa, Universitária Editora, 1998.
AMNunes



Métodos (1)
Folha de rosto da 2ª edição do "Álbum do Guitarrista", de João Vitória, manual reportado à Guitarra de Fado, muito popular nas décadas de 1930-1940, com possibilidades de aquisição ao balcão e por encomenda postal na casa Olímpio Medina (Coimbra).
Desconhecemos se este manual teve alguma audiência em Coimbra, cidade onde a guitarra de Lisboa fora postergada. Mesmo assim, não deverá perder-se de vista que a Olímpio Medina fornecia clientes da Beira Litoral, Beira Alta e até Douro Litoral (encomendas de tunas rurais do Marão).
Imagem enviada por José Anjos de Carvalho
AMNunes





Métodos (2)
Outra página do manual "A guitarra sem mestre", de João Vitória, com selo da Olímpio Medina.
Merece reparo a publicidade algo enganosa, retomada por outros manualistas activos na passagem do século XX para o XXI, segundo os quais o "método" possuiria capacidades milagreiras...
Imagem enviada por José Anjos de Carvalho
AMNunes



Tons (1)
A edição do FADO DAS PENAS (solfa+memória), em 19 de Novembro de 2006, suscitou algumas interrogações no que toca ao fundamento do "esquema do acompanhamento" habitualmente utilizado nas nossas recolhas.
Trata-se de um dispositivo muito básico, conforme se constatou, contudo eficaz do ponto de vista da acessibilidade, com longa tradição em Portugal.
No caso de Coimbra, embora prevaleça a ideia de que os cantores interpretam as composições de memória, sabe-se que não raro os vocalistas recorriam a caderninhos onde colocavam à frente do títulos, ou sobre os versos, os tons (recorde-se a edição, neste blog, de um lote de letras habitualmente cantadas por Lucas Junot).
Estes esquemas são ainda muito utilizados por instrumentistas ligados a grupos folclóricos, animadores de retiros e acampamentos de escuteiros, convívios informais de soldados, encontros de jovens católicos, tunas académicas, tunas rurais e escolas de iniciação juvenil de viola.
Confirma as nossas palavras o "Método Instantâneo de Viola" (Tons I, II, III, IV e V), da autoria do prolixo músico activo em Lisboa, João Vitória, que nas décadas de 1930-40 se vendia na casa Olímpio Medina, Coimbra, e em lojas de música de outras cidades portuguesas. Compositor, recolector, manualista, João Vitória foi um músico profissional com larga audição em todo o Portugal rural e urbano. Pode ser considerado o Eurico Cebolo dos anos 30 e 40 do século XX. Além do método de viola, Vitória fez sair manuais para guitarra de fado, bandolim, flauta, saxofone, violino, etc. Comercializou um número impressionante de solfas de melodias portuguesas e estrangeiras, prontamente acolhidas por tunas rurais, filarmónicas, orquestras ligeiras, directores de grupos folclóricos e animadores espontâneos de grupos paroquiais de teatro. Por exemplo, no estudo que conseguimos fazer do espólio de Manuel Eliseu, pudémos constatar que este harmonizador utilizou frequentemente na sua orquestra, activa em Coimbra, solfas dos cancioneiros de João Vitória (ex: "Feixe de Melodias. 10ª Meia Dúzia de Músicas para Bandolim ou Violino com indicação dos tons de viola ou violão e os versos intercalados, por 1$00 [Dez tostões], Nova Edição, Catálogo Especificativo das Músicas de João Vitória, Lisboa, sem data). Deste mesmo tipo são as populares brochuras editadas nas décadas de 1990-2000 pelo músico residente em São João da Madeira Manuel Pereira Rezende (inúmeros cadernos "Melodias de Sempre", alguns com temas de Coimbra), com sucessivas reedições, à venda em Coimbra, Lisboa e Porto.
Imagem: documentos de José Anjos de Carvalho
AMNunes





Tons (2)
Folha do "Método de viola", de João Vitória, enviada por José Anjos de Carvalho.
AMNunes





Tons (3)
Folha do "Método de viola", de João Vitória, enviada por José Anjos de Carvalho.
AMNunes





Tons (4)
Outra folha do "Método de viola", de João Vitória, enviada por José Anjos de Carvalho.
AMNunes





Tons (5)
Folha do "Método de viola" do popular músico João Vitória, enviada por José Anjos de Carvalho.
AMNunes

Estive a pensar…


Noto que na maioria das pessoas em Portugal que sejam ouvintes da rádio ou espectadores de televisão, estão confrontadas com produções estrangeiras ou de matriz formatada nomeadamente em televisão, pois em todos os países da Europa que conheço, os programas televisivos são de formato idêntico, com a sua panóplia de artifícios comerciais com objectivo de controlar as tendências de gosto nomeadamente o musical.Como, de um modo geral, não se faz a mínima ideia do que se passa e se faz por detrás do pano, assim como dos interesses comerciais que nos forçam a assumir de forma a diminuir o gosto pelo que é português, pelo afunilamento das opções do pronto a ouvir e deseducando a opção do diferente, para não falar de questões de abuso e atentado à identidade cultural (se é que ainda se pode já tal afirmar) deste País.Cada geração tem referências culturais que enraízam numa infância e se tornam universais com o amadurecimento da vida. Quais serão as actuais referências que nós estamos a mostrar às nossas crianças? Esta pergunta talvez prove que estou a ficar um velho.No pouco que posso, tento inverter as tendências do espírito anti português que se vive não só na música portuguesa, assim como na cultura portuguesa em geral. Sei que muito pouco posso fazer. Sei que é uma tarefa gigantesca e é um trabalho de gerações, pois ainda não assumimos uma posição de auto estima que herdamos na vivência colectiva de um provincianismo teimoso.Passamos o tempo a dizer mal deste país, que no estrageiro, leia-se Europa, é que é, que isto aqui é uma bosta, etc. Mas quando me desloco ao estrangeiro, mal o avião começa a levantar sinto-me a aprender, reconheço, mas passado pouco tempo sinto uma necessidade em regressar urgentemente à bosta e beber do vinho das minhas referências culturais.
Texto e foto do Blog do Manel

quinta-feira, janeiro 04, 2007

O Dia da Universidade do Porto (Mar., 22) / 2006 (I)

A sessão solene (I):
Realizada este ano na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, marcou a inauguração oficial do novo edifício desta Escola (em utilização desde 2005, Out.). Na imagem, a zona do cortejo onde seguiam alguns dos mais antigos lentes da FL/UP aproximando-se do Grande Auditório. Ao fundo, junto à parede, entrevê-se a bandeira da UP, dominada pela figura de MINERVA, em rosa. Esta já foi a cor da UP, patente, por exemplo, na fita de que pendia a medalha reitoral. Desde 2004 que tal cor é o ouro-velho. Podem ver-se, da esq. para a dir.: Armando Luís de Carvalho Homem (História Medieval), «traje doutoral» da UP (modelo de 2003), com laço branco (na tradição das antigas Escolas Médico-Cirúrgicas), chapéu troncónico e medalha da UP (segundo a reforma de 1994), pendente de escapulário na cor da Escola (reforma de 2003); Rui Centeno (Arqueologia), hábito talar com medalha (1994) pendente de fita do modelo antigo; e Arnaldo Saraiva (Departamento de Estudos Portugueses e Românicos), beca do modelo remontante a 1857, sem qualquer reforma formal no século XX.
Armando Luís de Carvalho HOMEM

O Dia da Universidade do Porto (Mar., 22) / 2006 (II)




A sessão solene (II): vitrine de hábitos talares
Três lentes (Armando Luís de Carvalho Homem, Rui Centeno e Maria de Fátima Vieira - Estudos Anglo-Americanos; hábito talar com medalha pendente de fita do modelo antigo) percorrem a zona do Auditório entre a 1.ª fila e a Presidência, a caminho dos seus lugares. Na 1.ª fila, da dir. para a esq.: Maria Cândida Pacehco, lente jubilada de Filosofia; beca de origem oitocentista, com medalha pendente de fita do modelo antigo; um Vice-Reitor da U. Aveiro (1); um Vice-Reitor da U. Minho (2); um Pró-Reitor da UNL (3); e um Vice-Reitor da UL (4).
(1) Capa em tecido preto com escapulário, redondo à frente e de bicos atrás; carcela na frente e mangas quimono; tudo debruado a verde; presilha nas costas à altura da cinta; nos canhões das mangas, o verde é duplamente enquadrado pela cor da especialidade científica (Ciências Humanas).
(2) Beca talar simples, solta e ampla, sem gola, com decote redondo; mangas amplas, alargando para a extremidade (sem canhão); gorra doutoral em veludo, quadrilobada; pom-pom em serigaria a que se liga uma pequema borla com fios de cetim, na cor da especialidade científica (História e Ciências Sociais); capelo doutoral em veludo preto, sobrepondo-se a uma peça interior de cetim que se prolonga por mais 10 cm, na cor da especialidade científica.
(3)-(4) Becas oriundas das Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e do Porto (1856-1857), no modelo segundo a reforma, para a UL, do Reitor Marcello Caetano (1960, confirmada com retoques no reitorado de J. Barata Moura, 2005). O Pró-Reitor da UNL usa chapéu troncónico e medalha pendente de fita na cor da Faculdade (Ciências e Tecnologia, azul-claro), com duplo debrum na cor da Univertsidade (verde); o Vice-Reitor da UL usa medalha pendente de fita na cor da Reitoria (branco).
Fontes e Bibliografia:
- Boletim Trimestral da Universidade de Lisboa (1960, 3.º e 4.º trimestres), pp.165-168.
- «Deliberação do Senado da Universidade de Lisboa», DR, II sér. (2005/04/25), pp. 6.647-6.648.
- «Estatutos da Universidade de Aveiro», DR, I sér., n.º 140 (1989/08/31), pp. 2.403-2.410.
- HOMEM (Armando Luís de Carvalho), Traje (O) dos lentes: Memória para a História da Veste dos Universitários Portugueses (séculos XIX-XX), Porto, FL/UP, 2006, 104 pp. e um CD que retoma o texto + 74 ils. (em breve no mercado). Interessam concretamente as pp. 38-45, 52 e 56-57 e, no CD, as ils. 4, 6, 10, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 31, 33, 38, 41, 47, 51, 52, 53, 54, 55, 56 e 57.
Armando Luís de Carvalho HOMEM

O Dia da Universidade do Porto (Mar., 22) / 2006 (III)



Exposição bibliográfica e documental no edifício histórico da Faculdade de Ciências (aos «Leões»; doravante, de novo Reitoria e sede do conjunto de núcleos museológicos da UP)
Maria Isabel e Armando Luís de Carvalho Homem de visita a uma das salas da Exposição.
Armando Luís de Carvalho HOMEM

quarta-feira, janeiro 03, 2007

A herança possível d' "os Melos" na Guitarra de Coimbra: três temas de Álvaro Aroso (anos 70 / anos 80)

Nótulas sobre práticas de uma certa Arte de navegar *


Armando Luís de Carvalho HOMEM


0. Nota prévia (2006/12/27)

A recente edição do CD Meu (O) Lugar, compreendendo 10 poemas de António Arnaut musicalizados por Álvaro Aroso, Eduardo Aroso e José dos Santos Paulo, acrescidos de mais 5 poemas «na voz do Autor» (ed. TFC / Mastermix, 2006), coloca em bem outra longitude alguns executantes que conhecíamos, desde os anos 70-80, sob a etiqueta de «Tertúlia do Fado de Coimbra»; inclusive, diverso pode ser o papel que aqui desempenham os agora denominados «Quatro Elementos»:

a) Porque se Álvaro Aroso e seu Irmão Eduardo Aroso inalteradamente permanecem como executantes de Guitarra de Coimbra e de Viola de Acompanhamento, respectivamente,

b) já José Paulo, também um excelente Guitarrista e Violista (para além de Professor e Autor de um Método
a)), tem aqui uma performance exclusivamente vocal, explorando condignamente o seu não muito vulgar registo de 1.º tenor;

c) enquanto que José Carlos Teixeira, outrora um excelentíssimo partenaire guitarrístico de Álvaro Aroso
b), nos surge como Viola-Baixo.

Esta realização discográfica representa, como diria Thomas KUHN, uma mudança no que seria a «ciência normal» no Canto e na Guitarra de Coimbra: porque se nada nasce do nada, a verdade é que não se torna propriamente fácil encontrar antecedentes directos da prática musical aqui evidenciada; por outras palavras: passado musical que ouvintes reconheçam – e em que executantes se reconheçam.
Associar poemas líricos (v.g. «Falo do vento», faixa 2) a poemas de intenção social (maxime «5 de Outubro», faixa 15) não é propriamente novo; mas a interpretação dá-lhes algo de lied no primeiro caso e de marcha patriótica no segundo. E tudo isto, note-se, com peças literárias que não foram escritas para ser cantadas; julgo mesmo não haver antecedentes em matéria de musicalização de poemas de A. Arnaut. Por outro lado, os instrumentistas assumem-se claramente como trio de câmara, i.e., não há aqui propriamente uma Guitarra (isoladamente) solista trivialmente acompanhada por uma Viola em um Baixo acústico: há 3 músicos, tendo um com o seu «rôle».
Tudo isto daria pano para mangas; e talvez sobre este CD de Canto e Poesia eu aqui venha a escrever mais longamente. Mas para já, no momento em que a Obra surge no mercado, talvez seja oportuno revisitar os primeiros tempos d’Os Arosos / Tertúlia do Fado de Coimbra, em fase que era de novo take-off das Tradições Musicais
c). E assim aqui reedito – com algumas correcções / rectificações e um ou outro aditamento – um texto redigido em Fevereiro de 2005 e colocado neste blog em 25 de Março seguinte. Com as naturais felicitações aos participantes – Poeta, Cantor, Instrumentistas – e um Grande Abraço a Álvaro Aroso, que teve a amabilidade de me oferecer um exemplar do novo CD.


1. Contextualização

Foi pelo abrir de Janeiro de 1978 que a Comissão Municipal de Turismo de Coimbra organizou no complexo das piscinas um Colóquio sobre o folclore da Região. Entre os participantes, uma (relativa) surpresa: António Pinho de Brojo (1927-1999) [1], lente de Farmácia, nome cimeiro da Guitarra, apresentava uma comunicação sobre a influência do folclore da Região Centro na Canção de Coimbra. Extraordinariamente bem recebida e prolongada em longo e precioso diálogo [2], esta intervenção de António Brojo bem pode considerar-se como que o minuto zero do relançamento de todo um universo de práticas musicais. E autoridade para tanto não lhe faltava, a ele que, com António Portugal (1931-1994), Jorge Gomes, Aurélio Reis, Luís Filipe, Manuel Dourado, Alfredo Glória Correia, José Mesquita e António Bernardino (1942-1996), entre outros, passara os anos cinzentos de 1971/1973 mantendo alguma actividade [3]. À sua intervenção no dito Colóquio várias coisas vão seguir-se:

a) Uma reportagem no Expresso / Revista sobre «o silêncio dos rouxinóis» e porquê.

b) Uma série de programas televisivos (RTP/1, vários serões dominicais, real. Rui Ramos), num pequeno écran de onde desde Setembro de 1972 estavam ausentes os sons da galáxia coimbrã [4]. Participam Fernando Machado Soares – com António Brojo / António Portugal (gg.), Aurélio Reis / Luís Filipe (vv.) – Vítor Nunes, Nuno de Carvalho e Joaquim Matos – com Álvaro Aroso / José Carlos Teixeira (gg.), Eduardo Aroso (v.). Para esta formação – cujos alvores remontam a 1973 [5] – é a absoluta estreia televisiva 5a. Os traços de uma certa imaturidade são por enquanto indisfarçáveis.

c) Em Maio seguinte virá o memorável I Seminário sobre o Fado de Coimbra, culminado numa extraordinária [6] Serenata na Sé Velha [7], com transmissão radiofónica e – excepcionalmente – televisiva [8]. A formação liderada por Álvaro Aroso lá está e, coisa curiosa, parece ter evoluído sensivelmente desde os programas televisivos referidos na alínea anterior. As «Variações em Ré Maior» e o arranjo para «Nasce na Estrela o Mondego» [9] situam-se claramente na linha do discurso musical coimbrão mais avançado nos anos 60.

Nos dois anos subsequentes (Maio) participo no II e no III Seminários – acompanhando os guitarristas Armando de Carvalho Homem (1923-1991) e Mário Freitas – e tenho oportunidade de ver e ouvir e de pessoalmente conhecer os instrumentistas mencionados [10]. Para além das actuações na Sé Velha e nos claustros de Santa Cruz [11], o grupo acaba de fazer a sua estreia discográfica: um EP 45 RPM editado pela Comissão Municipal de Turismo, incluindo o Ré Maior estreado no ano anterior [12]. No tocante a processos de execução, Álvaro Aroso/José Carlos Teixeira estão sem dúvida a constituir uma dupla de relevo, com o segundo a utilizar frequentemente, como modus faciendi de acompanhamento, acordes graves nos bordões de lá e de si. E, por outro lado, não lhes faltam novidades nos temas cantados: «Arte de navegar» (Eugénio de Andrade / Álvaro Aroso) [13], «Madrugadas silentes» (João Anjo / José Miguel Baptista) [14], «Menina Feia» (Eduardo Aroso) [15] ou «Adeus choupos do Choupal» (Carlos Figueiredo Nunes [16] / Mário José de Castro [Filho]) [17], em interpretações, maxime, de José Miguel Baptista e de Joaquim Matos, acrescidos do (solidamente) outrossim veterano Vítor Nunes e do voluntarioso Nuno de Carvalho.
Por volta de 1981 o grupo passa a ostentar a designação Tertúlia do Fado de Coimbra [18], e com ela grava um LP (1981) [19] e se apresenta, no Verão do ano seguinte, em várias edições dos televisivos Cantos e Contos de Coimbra (RTP/2, coord. Sansão Coelho, real. Marques Vicente).
Em 1985 José Carlos [Gouveia] Teixeira, engenheiro-electrotécnico e assistente da FCT/UC, parte para a RFA a preparar o doutoramento. Novos rumos esperarão a Tertúlia.

- Melhores ?
- Piores ?
- Diferentes ! – direi.

É definitivamente um virar de página... A análise que se segue centra-se portanto nessa fase de presumível primeiro apogeu de um grupo ao tempo indelevelmente marcado pelo savoir faire de Álvaro Aroso/José Carlos Teixeira.

2. «Variações em Ré Maior»

Não é tom muito frequentado pelos criadores de ‘variações’ stricto sensu (vejam-se Artur Paredes [1899-1980], Carlos Paredes [1925-2004] ou Octávio Sérgio, por exemplo). A peça tem aliás uma estrutura de repetição que, em rigor, não faz dela umas variações, mas talvez antes uma «Dança em Ré Maior», até pelas sugerências campestres que patenteia. Analisemos:

I. Abertura em acorde simples de Ré M;

II. 1.º desenvolvimento, em Ré M, compasso quaternário; passagens por 1.ª e 2.ª de Ré M, 1.ª e 2.ª de si m, mi m; o dizer-base assenta essencialmente em grupos de 6 notas;

III. 2.º desenvolvimento, em ré m, compasso quaternário; passagens por ré m, 2.ª de lá, Fá M, 2.ª de lá; finalização num acorde de Fá M; o dizer-base assenta numa alternância de grupos de 3 com grupos de 5 notas;

IV. 3.º desenvolvimento, em ré m, compasso ternário
[20]; passagens por ré m, Fá M, sol m, 2.ª de lá (bis); o dizer-base consta de uma sucessão de 2 notas / 3 séries de 4 notas / 2 séries de 3 notas (bis);

V. 4.º desenvolvimento, em ré m, compasso ternário; passagens por ré m, 2.ª de lá, Fá M. Fá sustenido M, Ré M (bis); o dizer-base é como segue: 2 notas / duas séries de 4 notas
[21] / 1 série de 10 notas (bis); passagens por ré m, 2.ª de ré, Fá M, Fá sustenido M, Ré M (bis);

VI. Encerramento de V., desenvolvimento em ré m, compasso ternário; utilização de ré m, Fá M, Lá sustenido M, Fá M, 2.ª de Ré, Ré M; o dizer-base, qual perfeita aportação dos anos 60 (Jorge Tuna, Eduardo de Melo
[22]...), consta de grupos de 3 notas;

VII. repetição de II.;

VIII. repetição de III.;

IX. repetição de IV.;

X. repetição de V.;

XI. fecho: repetição de VI., com uma variante: o acorde final de VI. está aqui ‘transformado’ em ré m, ao que se segue uma passagem por Fá M e a finalização num acorde largo de Ré M.


3. «Variações sobre o tema Balada da Distância»

Luiz Goes gravou este tema de sua autoria em 1967, no LP Coimbra de ontem e de hoje [23]. Com o simples apoio da viola de João [Figueiredo] Gomes, utilizou o tom de Ré Maior natural ( = Mi Maior na afinação coimbrã). Numa digressão aos EUA em princípios de 1974, José Horácio Miranda, já licenciado em Química pela FCT/UC mas ainda 1.º tenor e solista do Orfeon Académico e com actividade vocal junto de diversos grupos de Canto e Guitarra (incluindo os então quase estreantes Álvaro Aroso / José Carlos Teixeira / Eduardo Aroso), pegou na peça, que, para se adaptar a um registo de tenor com grande extensão nos agudos, houve que subir 3 tons, ou seja, para o Sol M da afinação de Coimbra. Assim nasce, das mãos de Álvaro Aroso, a introdução que depois se desenvolveria nesta peça, estreada, como se disse, na Serenata do II Seminário sobre o Fado de Coimbra (1979) – com o título de «Variações em Sol Maior» [24] – e gravada em 1993 [25]. Procedamos à análise:

I. Tema «a priori» introdução para a peça de Luiz Goes; desenvolvimento em Sol M, compasso ternário, dizer em 2 + 2 + 2 + 5 (bis) + 3 notas + sequência de bordões de viola: Sol / fá sustenido / Fá / mi; sequência tonal: Sol M, mi m, lá m, 2.ª sol (bis), Sol M;

II. sequência de acordes, alternados por grupos de 3 notas, compasso ternário, sequência tonal: mi m, 2.ª de mi, Sol M, Fá sustenido m, Dó M, 2.ª de mi (pausa, seguida de ligação de 3 notas, bis);

III. frase em mi m, compasso ternário, dizer-base em grupos de 3 notas, passagem por mi m, lá m, 2.ª de Sol, Sol M, 2.ª de mi, mi m (bis), sequência para 2.ª de Sol, Dó M, Dó M de 6.ª, 2.ª de Fá (pausa);

IV. frase em Fá M, compasso ternário, dizer-base de 2 + 5 + 4 + 5 + 2 + 5 + 2 + 5 + 4 notas (pausa, bis, pausa); passagens por Fá M, ré m, Sol M, Lá M, 2.ª de mi;

V. repetição de I.;

VI. repetição de II.;

VII. repetição de III.;

VIII. repetição de IV.;

IX. nova repetição de I., para finalizar; passagens por Sol M, mi m, lá m, 2.ª sol (bis), Sol M, mi m, Sol M (final ex abrupto).


4. «Renascer» («Variações em fá sustenido menor»[26])

Esta peça teve ‘primeira audição mundial’ em Abril de 1981, no IV Seminário sobre o Fado de Coimbra [27]. Também apresentada numa das emissões de Cantos e Contos de Coimbra (no ano seguinte), teve aí a particularidade de a «2.ª guitarra» de José Carlos Teixeira ser substituída por uma bandola, instrumento que este último executara na Tuna Académica, a que pertencera: curiosíssimo – e inédito – feito (e efeito) !... Com o título «Renascer», será incluída no CD Amanhecer em Coimbra [28]. Vejamos a sua estrutura:

I. Frase em fá sustenido m, compasso ternário (com acompanhamento em dedilhados de viola), melodia – alternada por bordões no 5.º ponto da corda de ré e na corda de lá solta [29] – em grupos de 5 + 3 + 5 + 3 +3 +3 +3 notas (bis), passagens por fá sustenido m, Lá M, Ré M, lá sustenido m, si m;

II. sequência de acordes (conjuntos de 4), compasso ternário, passagens por fá sustenido m, 2.ª de fá sustenido, Ré M, Lá M, si m, 2.ª de Lá (bis, terminando em Lá M);

III. frase em Lá M, compasso ternário (acompanhamento em dedilhados de viola), dizer-base em grupos de 5 notas (em jeito de variante a I.), passagens por Lá M, dó sustenido m, 2.ª de si, si m, fá sustenido m, 2.ª de Lá, Lá M (bis, com variante no final);

IV. repetição de I., com variante melódica em bis: grupo inicial de 7 notas, passagens por fá sustenido m, Ré M, 2.ª de dó sustenido, finalização em dó sustenido m;

V. repetição de II.;

VI. repetição de III.;

VII. repetição de IV.; finalização em 3 acordes de dó sustenido m.


5. Conclusão

Já lá vão 20 anos. Em 1985, na ausência temporária de José Carlos Teixeira, a já então chamada Tertúlia do Fado de Coimbra ‘recruta’ o muito jovem e polivalente (formação musical, professor [inclusive de Guitarra, por música], cantor, guitarrista, violista) José dos Santos Paulo. O estilo altera-se, bem como a distribuição de papéis pelo cast (já que o entretanto regressado José Carlos Teixeira – hoje professor associado da FCT/UC – é também executante de viola e até de viola-baixo [30], o que aliás tem feito preferentemente nos últimos tempos [31]). E por muito valor que a Tertúlia tenha demonstrado nas duas últimas décadas – se bem que insistindo mais em repertório convencional do que na apresentação e gravação de temas inéditos [32] –, a verdade é que o estudioso conhecedor d’os Arosos desde as suas primícias não deixa de lamentar a não-perpetuação discográfica de trabalhos de há cerca de um quarto de século. Será que ainda ouviremos, gravadas ou regravadas – e a segunda e a terceira em moldes mais próximos dos originais –, as três peças para Guitarra aqui objecto de análise, acrescidas de temas como «Arte de navegar», «Madrugadas silentes», «Menina feia» ou «Adeus choupos do Choupal», por exemplo ?

Morelinho (Sintra), 14 de Fevereiro de 2005

(Revisto no Porto, 2006/12/27)


NOTAS:

* Referência ao título de um poema de Eugénio de Andrade, musicalizado por Álvaro Aroso (v. infra, maxime n. 13).
a) Já aqui objecto de apreciação crítica por parte do Dr. António M. M. Nunes (post de 2006/12 /22).
b) José Miguel Baptista escreveu há mais de 20 anos que José Carlos Teixeira funcionava ao tempo um pouco como, nos anos 60, Ernesto de Melo [Lucas Coelho] em relação a seu Irmão Eduardo.
c) Reporto-me à actividade do Grupo entre os alvores – ainda na 1.ª metade da década de 70 – e um momento datável de 1982-1983, no qual avultam as suas actuações nos 5 Seminários sobre o Fado de Coimbra (1978-1983) e as participações no programa televisivo Cantos e Contos de Coimbra (RTP/2, Verão de 1982; real. de Marques Vicente, com apresentação de Sansão Coelho). Com eles tocaram também Mário José de Castro e Vítor Morgado (vv.) e, pontualmente, Francisco Dias (g.) e Manuel Dourado (v.); e cantaram ainda Vítor Nunes, Joaquim Matos, Nuno de Carvalho e, pontualmente, Alcides Cruz.
[1] Para os dados bio-discográficos dos instrumentistas e cantores referidos neste texto v. por todos José NIZA, Um Século de Fado. Fado de Coimbra, II, Alfragide, EDICLUBE, 1999.
[2] Valho-me do que li ao tempo na Comunicação Social.
[3] Também, e já nos anos imediatamente subsequentes à mudança de Regime, António Portugal (com António Bernardino e Luís Filipe) actuará, nas campanhas eleitorais para a Assembleia Constituinte (1975) e para as primeiras eleições Legislativas (1976), em algumas sessões de esclarecimento do partido em que militou (o Partido Socialista), sob o lema do Contributo da Canção de Coimbra para o Canto de Intervenção.
[4] Nas décadas de 50 (1957 ss.) e de 60 a RTP transmitia normalmente uma Serenata de Coimbra por ano (no mínimo), gravada em estúdio. Após as crises de 1969 ss. a periodicidade espaçou-se, sendo as transmissões normalmente (e os antecedentes remontavam já à Primavera de 1968) objecto de contundentes críticas de Mário Castrim no Diário de Lisboa (excepção foi a participação de Luiz Goes – com João Bagão [g.] / João Gomes [v.] – no célebre ZIP-ZIP [1969]); tenho em arquivo a gravação audio de uma transmissão televisiva de Abr.68: cantam José Manuel Santos († 1989) e Fernando Gomes Alves – dois dos melhores intérpretes da Coimbra desse tempo – acompanhados por Manuel Borralho / José Ferraz de Oliveira (gg.), Rui Pato / Rui Borralho (vv.) –, uma esplêndida formação instrumental, note-se, e insusceptível, além do mais, de conotações com a ultra-direita, inclusivamente no plano musical: relembre-se, tão somente, que Rui Pato foi o primeiro acompanhante das baladas de José Afonso... Pois M. Castrim não arranjou melhor apreciação do que escrever que os dois cantores lhe faziam lembrar o tempo em que se achava que o melhor jogador de futebol era o capaz de atirar a bola mais alto... (o paralelismo aqui seria com os agudos dos dois tenores...). Infeliz Castrim, face a uma boa actuação ! Tanto talento de escritor e ensaísta submerso pelo fel de um facciosismo que a 30 e tal anos de distância só me suscita a pergunta: «Para quê ?». Curiosamente, o então crítico d’A Capital Correia da Fonseca (por sinal da mesma área ideológica) mostrava uma bem outra sensibilidade crítica face às sonoridades coimbrãs. A última Serenata de Coimbra antes de 1974 foi gravada em finais de 1971, transmitida nas férias do Natal desse ano e retransmitida em Setembro do ano seguinte. Participantes: Mário Veiga (voz e viola), José Adelino Leitão (voz), Hermínio Menino / António («Toni») Alves (gg.); quase todos estes intérpretes reapareceram a partir de 1978; a excepção é «Toni» Alves (que em 1997 me disseram estar a residir na Califórnia); de J. Adelino Leitão não tenho notícias nos últimos cerca de 15 anos.
[5] O grupo surgira no vazio criado pela saída de Coimbra de Hermínio Menino, Luís Plácido, Luís Almeida (gg.), António José Rocha (v.) ou o inenarrável Manuel Branquinho (1927-1995; g. e cantor, em simultâneo...), entre outros, ao mesmo tempo que as realidades do quotidiano faziam cessar a colaboração com os Organismos Académicos de executantes como Eduardo de Melo ou António Andias. Saliente-se no entanto que foi nesses anos de vazio que Jorge Gomes arrancou – no meio de inúmeras animosidades... – com a didáctica da Guitarra.
5a Estes programas foram retransmitidos, há de haver 1 ano, no Canal Memória da TV CABO.
[6] Mais pelo elenco de participantes do que pelo nível qualitativo médio.
[7] A primeira desde finais de 1968.
[8] Em diferido, repartindo-se o longo conteúdo por dois programas.
[9] Tema popular com arranjo de Eduardo Aroso, então interpretado por Nuno de Carvalho e mais tarde (1981) gravado por José Miguel Baptista.
[10] Com eles canta também agora o veterano José Miguel Baptista; na viola, o reforço de Mário José de Castro (Filho).
[11] Em ambas as ocasiões executaram a peça infra-analisada no ponto 3., ao tempo ostentando ainda o título «Variações em Sol Maior». Mas a verdade é que o motivo inicial surgira como introdução para a «Balada da Distância» (de Luiz Goes), em interpretação de José Horácio Miranda. Para além destas actuações, de outras fica memória, mormente na «PROVÍNCIA» (v.g. Moimenta da Serra), registadas pela RDP/Centro.
[12] Coimbra tem mais encanto…, Coimbra, Comissão Municipal de Turismo, s.d. [1979]; a peça instrumental está na face A, faixa 2.
[13] Cf. E. ANDRADE, Obscuro domínio, Porto, Inova, 1971, p. 146. Tema com desenvolvimento iniciado em lá m, seguindo-se passagens por Fá M, 2.ª de Lá sustenido, Lá sustenido M, ré m, Lá sustenido M, Fá M, ré m, sol m, Fá M, 2.ª de Lá, Lá M; a introdução começa em fá sustenido m, após o qual um desenvolvimento em Lá M, terminando na sequência lá m / Fá M / lá m; antes do re-ataque à introdução – levando à repetição do breve texto poético de Eugénio de Andrade –, depara-se-nos um entrecanto em Lá M, com utilização da dedilhação coordenada indicador/polegar. [Post-Scriptum de 2006, Dez.: No presente CD a melodia surge a envolver o poema «Deixem-me sonhar»; manteve-se a introdução outrora de «Arte de Navegar», com um breve alongamento final; mas não o entrecanto].
[14] Tema em Lá M, com acompanhamento em dedilhação coordenada.
[15] Tema em lá m, com uma complexa introdução, desenvolvida em ré m e finalizada num acorde de lá m; no acompanhamento da melodia encontram-se, por mais do que uma vez, passagens por Lá sustenido M.
[16] Antigo Presidente da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra.
[17] Tema em sol m, com introdução utilizando, no acompanhamento, descidas de bordão de meio-tom em meio-tom. No acompanhamento da melodia temos várias passagens por Sol sustenido M (sobre as sequências tonais referidas nesta nota e na anterior, cf. Armando Luís de Carvalho HOMEM, «Jorge Tuna: para uma abordagem ternária de um Mestre da Guitarra de Coimbra», Revista Portuguesa de História, XXXVI/2 (2002-2003), pp. 397-416). Note-se que nenhuma das quatro peças sumariamente analisadas nas nn. 13, 14, 15 e na presente se encontra registada em disco; sirvo-me de precárias gravações audio de actuações em Cantos e Contos de Coimbra (RTP/2, Ag.º/Set.1982).
[18] Epíteto colocado, segundo José Miguel Baptista, por um diplomata português que os ouviu além-fronteiras.
[19] Coimbra… terra de encanto, s.l., Edições Rossil ROSLP-12030, s.d. [1981].
[20] Reporto-me à gravação em EP (1979). Depois, entre 1982 e 1984, o grupo modificou o compasso desta passagem, adoptando o ternário lento com acompanhamento em dedilhados de viola; a sucessão ré m / Fá M / sol m / 2.ª de ré (bis) [que designaremos por α] passa a ser complementada por outra, Dó M / 2.ª de Dó / lá m / 2.ª de lá (bis) [que designaremos por β], seguindo-se o retorno a α (bis).
[21] Alternadas por bordões soltos de lá.
[22] Cf. A. L. de Carvalho HOMEM, «Art. cit.» supra, n. 17; e ID., «Guitarra (A) de Coimbra em tempos de fim-de-tempo (ca. 1965-ca. 1973). Apontamentos e rememorações», Anais da Universidade Autónoma de Lisboa/série História, V/VI (2000-2001), pp. 333-348.
[23] Reed. in Luiz GOES, Canções para quem vier. Integral: 1952-2002, Lisboa, Valentim de Carvalho, 2002, CD 2, faixa 8.
[24] Tal como a anterior, esta peça não tem estrutura de «variações». A adopção do título por que actualmente dá remonta ao Verão de 1982, no programa Cantos e Contos de Coimbra (RTP/2).
[25] No CD Amanhecer em Coimbra, Porto, EDISCO, s.d. [1993], faixa 2.
[26] Também este tema está longe de uma estrutura de «variações».
[27] Em sessão dedicada à apresentação de novos temas vocais e instrumentais.
[28] Cf. supra, n. 26, faixa 11.
[29] Ao jeito, paradigmático, de «Raiz-Dança», de Carlos Paredes (1925-2004).
[30] Uma novidade ultimamente difundida no seio de alguns grupos.
[31] Ainda que as fotos do grupo nos CD’s gravados na primeira metade da década de 90 (Amanhecer em Coimbra [cit. supra, n. 26; no pátio da Universidade] e Relíquias, Porto, EDISCO, s.d. [nas escadas do pórtico principal da Sé Velha]), no que têm de uma REPRESENTAÇÃO, inclusive de hierarquização por antiguidade, ostentem distribuições de papéis que acabam por se revelar redutoras: Álvaro Aroso / José Carlos Teixeira (gg.), Eduardo Aroso / José Paulo (vv.).
[32] Veja-se o conteúdo do CD Relíquias (cf. n. anterior).

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