sábado, março 18, 2006

LENTES "À FUTRICA"
Caro Doutor Armando Luís de Carvalho Homem:
louvando o seu texto sobre lentes à futrica, e sem qualquer reparo a fazer, gostaria de partilhar consigo os seguintes dados:
-Francisco Adolfo Coelho, embora afamado, tinha habilitações académicas muito baixas. Creio mesmo que nem o liceu tinha concluído... tal facto não implicava falta de saber ou menor competência, no caso vertente;
-Teófilo Braga defendeu doutoramento em Direito na UC, não tendo sido aceite como lente da FD (daí muito do seu ódio patológico a Coimbra). Como tal, poderia ter envergado Hábito Talar e Insígnias Doutorais de Direito... coisa que pelos vistos não fazia;
-Manuel de Arriaga, além de advogado com direito a uso da Toga profissional, foi nomeado em 1910 1º Procurador Geral da República. Nesta qualidade, e tendo em conta que o imediato antecessor Procurador Geral da Coroa era considerado Conselheiro e usava Beca+Capa de Juiz Conselheiro, poderia ter usado pelo menos durante o exercício do cargo o dito vestuário. O tempo era de laicismo, não constando que o tenha feito. Mas, também foi nomeado após a Revolução de 1910 Reitor da UC. Aliás tem retrato na Galeria dos Reitores da UC. No entanto não consigo tirar a limpo que trajo enverga nesse retrato a óleo.
Cumprimentos, e renovadas felicitações,
AMNunes
AINDA “OS LENTES SEM TRAJE”
(breves informes complementares)

Contava que o Dr. António M. Nunes já aqui tivesse colocado como «comment» uma missiva que me enviou com dados adicionais. De qualquer modo, aqui vai o que lhe respondi:

Caro Dr. António M. Nunes:
Porque é que não põe em "comment" o que me escreveu ? Até porque eu depois poderia acrescentar mais um ou outro dado:
1) O que diz sobre Adolpho Coelho é certo, mas a nível nacional; é que eu creio que ele - tal como Leite de Vasconcellos - obteve mais qualquer habilitação em Paris.
2) Teófilo possuía as insígnias de dr. em Direito... mas provavelmente só as terá usado na investidura; certo é que o capelo está referenciado no inventário «post-mortem» (cf. a tese de Amadeu Carvalho HOMEM, A ideia republicana em Portugal: o contributo de Teófilo Braga, Coimbra, Minerva, 1989, pp. 82-83) e houve uma velha nota de 1.000$00, 2.000$00 ou 5.000$00 (já não me lembro da quantia) que o representava encapelado; reprodução de algum retrato que para aí exista ?
3) Arriaga desempenhou de facto um cargo judicial e outro reitoral. Na galeria dos Reitores da UC julgo que é representado em traje de passeio; mas não tenho aqui à mão reprodução alguma. O que é curioso é que o laicismo destes 1.os anos da República se conjuga com vestuário de alta «toilette»: casaca, sobrecasa, fraque, sobretudos de cerimónia, chapéu alto (raramente coco), etc.
4) Manoel Maria de Oliveira Ramos, natural do Porto e irmão de João de Oliveira Ramos (jornalista e filantropo), foi oficial do Exército (atingiu pelo menos a patente de capitão) e professor de História e de Literatura Portuguesa do futuro rei D. Manuel II (cf. o recente volume de Cândida PROENÇA na col. de «Biografias Régias» do Círculo de Leitores).
5) O enciclopédico Agostinho Fortes, chefe de Gabinete de Teófilo no Governo Provisório, regeu 20 e muitas disciplinas em cerca de 3 décadas de carreira.
6) Sebastião Dalgado era sacerdote de uma congregação missionária (ainda que vista à civil, contrariamente a José Maria Rodrigues); viveu e trabalhou longamente no Médio Oriente, daí derivando a preparação glóssica que o elevou a lente de «Sânscrito».
7) Queiroz Vellozo era formado pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto mas nunca exerceu; foi jornalista, bibliotecário e professor do Magistério Primário (Évora) antes de ingressar no CSL.
8) José Maria Rodrigues possuía as insígnias de dr. em Teologia, e enverga-as numa foto muito mais tardia (anos 30 ?), publicada na Revista da Faculdade de Letras [UL] por altura da sua morte (2.ª sér., 8 / 1-2 [1942], extra-texto entre as pp. 6 e 7),
9) Finalmente, Silva Telles era formado pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e fez estudos post-graduados em Paris (em domínios como a Antropologia).
Um grande abraço e até breve
2006/03/17
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Armando Luís de Carvalho Homem.
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Post-Scriptum (2006/03/18): Estou em Lisboa e já pude examinar o retrato reitoral de Arriaga, tal como reproduzido em Manuel Augusto RODRIGUES, Universidade (A) de Coimbra e os seus Reitores: para uma História da Instituição, Coimbra, Arquivo da Universidade, 1990, p. 506. Com todas as limitações que sinto face a uma reprodução a preto-e-branco, parece-me que o retratado enverga uma veste talar preta (toga de advogado ?) com colarinhos altos.


Homenagens a Tóssan e a Carlos Couceiro na Casa da Académica em Lisboa. Foto de Lobo, na primeira página do Diário das Beiras de hoje. Almeida Santos abraça Carlos Couceiro. Posted by Picasa

Homenagens a Tóssan e a Carlos Couceiro na Casa da Académica em Lisboa. Fernando Pinto Simões faz o primeiro elogio. Posted by Picasa

Tóssan e Carlos Couceiro homenageados


Homenagens a Tóssan e a Carlos Couceiro na Casa da Académica em Lisboa (1). Texto de António Alves e fotos de Lobo, no Diário das Beiras de hoje.


Homenagens a Tóssan e a Carlos Couceiro, na Casa da Académica em Lisboa (2). Texto de António Alves e foto de Lobo, no Diário das Beiras de hoje. Na foto podemos ver Durval Moreirinhas, Teotónio Xavier, Carlos Couceiro, António Toscano e Soares da Costa. Posted by Picasa


Homenagem a Tóssan na Casa da Académica em Lisboa. Reportagem do Diário das Beiras de hoje. Ode ao Futebol, por Tóssan. Posted by Picasa


Homenagem a Tóssan na Casa da Académica em Lisboa. Fotos de Lobo no Diário das Beiras de hoje. Nas fotos, na sala Safira do Hotel Riviera em Carcavelos, vêem-se vários trabalhos executados por Tóssan.Posted by Picasa

Homenagem a Tossán

Notícia do Diário das Beiras de hoje. Uma reportagem dirigida por António Alves. Foto de Lobo.


Futebol: Académica - Penafiel. Xanana Gusmão ladeado por velhas glórias academistas: Vasco Gervásio, António Oliveira, Eduardo Simões e Victor Campos. Foto do Diário das Beiras de ontem. Posted by Picasa


Futebol: Académica - Penafiel. Xanana Gusmão ladeado por Nelo Vingada, Rui Alarcão, Almeida Santos e Eduardo Simões. Foto do Diário das Beiras de ontem.Posted by Picasa


Futebol: Académica - Penafiel. Nuno Tavares, colega do Coro dos Antigos Orfeonistas e Mário Wilson, velha glória academista, no intevalo do jogo, em que a Briosa venceu. Foto do Diário das Beiras de ontem. Posted by Picasa

sexta-feira, março 17, 2006


Joel Canhão, o maestro da crise no Orfeon Académico de Coimbra. Diário das Beiras de 31-1-2004, com texto de Paulo Marques. Espólio de José Miguel Baptista. Posted by Picasa

120 anos do Orfeon Académico de Coimbra (1). Diário de Coimbra de 26-10-2000. Texto de Carlos Santos. Espólio de José Miguel Baptista. Posted by Picasa


120 anos do Orfeon Académico de Coimbra (2). Diário de Coimbra de 26-10-2000. Texto de Carlos Santos e foto de João Carlos Santos. Espólio de José Miguel Baptista. Posted by Picasa


Luiz Goes no Orfeon Académico de Coimbra. Diário de Coimbra de 26-10-2000. Espólio de José Miguel Baptista. Posted by Picasa

quinta-feira, março 16, 2006

Casa da Académica homenageia Tóssan. Notícia do Diário de Coimbra de hoje. O Blog fica à espera de uma reportagem sobre este evento. Mandar para octavioazevedo@sapo.pt

quarta-feira, março 15, 2006

Doutores honoris causa pela Universidade do Porto

Ao comemorar 30 anos de existência, a Faculdade do Desporto[1] (FaD/ UP) investiu dois novos drs. h.c. pelo Studium Generale portuense (2006/03/ 06): os Mestres alemães Hans-Joachim APPELL e Eckhard MEINBERG, ambos da Deutsche Sporthochschule (Colónia), regulares e profícuos colaboradores com a Escola outorgante desde os finais da década de 80.

Com estas duas láureas, o número de drs. h.c. pela UP atinge 68 individualidades (1921 ss.).

1) No conjunto, destaque antes de mais para dois Mestres da ALMA MATER da Universidade Portuguesa:

a) O Doutor José Manuel Pereira de Oliveira, geógrafo, lente jubilado da FL/UC: dr. h.c. em Letras/UP, 2001/05/25;

b) e o Doutor Mário Júlio de Almeida Costa, historiador do Direito e civilista, lente jubilado da FD/UC[2]: dr. h.c. em Direito/UP, 2005/10 /06.


2) Outros destaques:

1. Marechal Joseph Joffre (francês),

2. Generalíssimo Armando Diaz (italiano)

3. e General H. Smith-Dorrien (Reino Unido), oficiais-generais das Potências Aliadas durante a Primeira Guerra Mundial: drs. h.c. em Ciências/UP, 1921/04/06 (o primeiro) e -04/11 (os restantes);

4. Contra-Almirante Carlos Viegas Gago Coutinho

5. e Capitão-de-Mar-e-Guerra Artur de Sacadura Cabral: drs. h.c. pela Fac. Técnica[3] / UP, 1922/10/24;

6. Doutor René Leriche: dr. h.c. em Medicina/UP, 1932/02/18;

7. Doutor Gregorio Marañon: dr. h.c. em Medicina/UP, 1946/11/13;

8. Dr. Augusto de Castro [Sampaio Côrte-Real], escritor, jornalista (longos anos Director do Diário de Notícias) e diplomata: dr. h.c. em Letras/UP, 1969/12/20;

9. Eng. Manuel Rocha, ao tempo Director do Laboratório Nacional de Eng.ª Civil (LNEC): dr. h.c. em Engenharia/UP, 1970/03/30[4];

10. Doutor Jean Delumeau, lente de História Moderna do Collège de France: dr. h.c. em Letras/UP, 1984/01/06[5];

11. Dr. José de Azeredo Perdigão, Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian: dr. h.c. por todas as Faculdades, 1987/04/04;

12. Dr. Victor de Sá Machado, Administrador e depois Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian: dr. h.c. em Medicina/UP, 1987/ 07/15;

13. Doutor Boris Alpern, geólogo francês: dr. h.c. em Ciências/UP, 1997/10/28.

14. Manoel de Oliveira: dr. h.c. em Arquitectura/UP, 1989/06/26;

15. Dr. Mário Soares, ao tempo Presidente da República: dr. h.c. em Letras/UP, 1990/06/19;

16. Doutor Jean Hamburger, lente do Collège de France: dr. h.c. em Medicina/UP, 1990/12/21;

17. Eng. Júlio Ferry Borges, antigo Director do LNEC: dr. h.c. em Engenharia/UP, 1991/05/21;

18. Doutor Fernando Henrique Cardoso, ao tempo Presidente da República do Brasil: dr. h.c. em Economia/UP, 1995/ 07/22;

19. Doutor James McGill Buchanan: dr. h.c. em Economia/UP, 1995/ 12/04;

20. Doutora Maria de Lourdes Belchior Pontes, ao tempo lente jubilada da FL/UL, antiga professora catedrática da FL/UP (1969-1970), primeira catedrática da UP: dr.ª h.c. em Letras/UP, 1996/ 05/15;

21. Monsieur Jacques Delors, ao tempo Presidente da Comissão Europeia: dr. h.c. em Economia/UP, 1999/03/10;

22. Doutora Marie-Louise Bastin, antropóloga: dr.ª h.c. em Letras/UP, 1999/06/28;

23. Doutora Jacqueline Hamesse, historiadora da Filosofia Medieval: dr.ª h.c. em Letras/UP, 1999/06/28;

24. Rev. Doutor Leonard Boyle, diplomatista. dr. h.c. em Letras/UP, 1999/06/28;

25. Xanana Gusmão,

26. D. Carlos Filipe Ximenes Belo (Bispo de Dili, Prémio Nobel da Paz 1996)

27. e Dr. José Ramos-Horta, também Prémio Nobel da Paz 1996: drs. h.c. em Letras/UP, 2000/10/31;

28. Doutora Suzanne Daveau, geógrafa, lente jubilada da FL/UL: dr.ª h.c. em Letras/UP, 2001/05/25;

29. Arq. Vittorio Gregotti

30. e Arq. Nuno Teotónio Pereira: drs. h.c. em Arquitectura/UP, 2003/ 01/22;

31. Doutor Hermanfrid Schubart, antigo Director do Instituto Arqueológico Alemão de Madrid: dr. h.c. em Letras/UP, 2005/01/ 31;

32. Poeta Eugénio de Andrade[6],

33. e Escritora Agustina Bessa-Luís: drs. h.c. em Letras/UP, 2005/ 03/22;

34. Doutor Jorge Miranda[7];

35. e Doutor Marcelo Rebelo de Sousa[8]: drs. h.c. em Direito/UP, 2005 /10/06;

36. Arq. Fernando Lanhas: dr. h.c. em Belas-Artes/UP, 2005/11/29.

Porto, 06 de Março de 2006

Armando Luís de Carvalho Homem
*
[1] Desde Setembro p.p. é esta a designação da anterior Fac. de Ciências do Desporto e de Educação Física (1989 ss.), antes designada como Instituto Superior de Educação Física (1975 ss.); este Instituto deu sequência, em termos de Ensino Superior, ao Curso de Instrutores de Educação Física (1964 ss.), depois Escola de Instrutores de Educação Física do Porto (1969 ss.), instituições do então Ensino Médio. A FaD/UP adoptou como cor o verde-claro, substituindo o anterior castanho.
[2] Antigo membro da Comissão Instaladora da Fac. Direito/UP.
[3] Fac. Engenharia desde 1926.
[4] Será Ministro do Equipamento Social e Ambiente no I Governo Provisório (1974).
[5] O «apresentante» foi S. E. Rev.ma D. António Ferreira Gomes, ao tempo bispo-resignatário do Porto.
[6] A escassos meses de nos deixar e estando gravemente doente, não pôde comparecer à cerimónia, na qual foi representado pelo lente de Letras/Departamento de Estudos Portugueses e Estudos Românicos Arnaldo Saraiva; na tarde do dia em questão o Reitor deslocou-se à sua residência, para fazer entrega das insígnias doutorais.
[7] V. supra, n. 2.
[8] V. supra, n. 2.

“Os lentes sem traje”


Manuel de Arriaga
(1840-1917),
recém-eleito Presidente da República, de visita ao Curso Superior de Letras (Agosto-Setembro de 1911)[1], Escola prestes a iniciar o seu primeiro ano lectivo (1911/1912) como Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
1.ª fila, da esq. para a dir.
: José Leite de Vasconcellos (1858-1941), Joaquim Maria da Silva Cordeiro (1850-1914), Manuel de Arriaga, José Maria Queiroz Vellozo (1860-1952) e Alfred Apell (?-?); 2.ª fila, da esq. para a dir.: Manuel Maria de Oliveira Ramos (1862-1931), Francisco Adolpho Coelho (1847-1919) e Agostinho José Fortes (1869-1940); 3.ª fila, da esq. para a dir.: Sebastião Rodolfo Dalgado (1865-1922), Francisco Xavier da Silva Telles (1850-1930), David de Mello Lopes (1867-1942) e José Maria Rodrigues (1857-1942).
FONTE: SERRA (João B.[onifácio]), Manuel de Arriaga, Lisboa, Museu da Presidência da República, 2006, p. 38[2] (col. «Presidentes de de Portugal – Fotobiografias»).

COMENTÁRIO:

Em 16 de Fevereiro p.p., no final de um «comment» a um post do Dr. António M. Nunes no presente blog, declarei cessar nessa data a minha intervenção em tal forum em matéria de vestes professorais, isto pelo menos até à publicação do meu livro Traje (O) dos Lentes: memória para a História da veste dos universitários portugueses (séculos XIX-XX), Porto, Fac. Letras/UP [no prelo[3]; col. «flup e-dita»]. Mas se portanto, e no imediato, aqui não falarei do traje dos lentes, em contrapartida nenhuma razão ficará para sobre uma outra situação – à partida não entrevista – deixar de escrever, a situação dos lentes sem traje, i.e., imagens de Escolas Superiores onde, por qualquer razão, só tardiamente se tenha criado tradição de porte de traje académico e insígnias (doutorais ou de cátedra) por parte dos Mestres respectivos: foi o caso, aqui patente, do Curso Superior de Letras (1859-1911) e da subsequente Faculdade de Letras / UL até, pelo menos, à década de 1940; foi também o caso da Escola Politécnica (EP) da Capital (1837-1911) e da subsequente Faculdade de Ciências / UL até momento que não saberei datar mas que cairá igualmente pelos meados de Novecentos. Quer dizer: nas Escolas do «Studium Generale» (re)estabelecido em Lisboa pelo Governo Provisório da República, um contraste irá manter-se durante décadas:

a) Os lentes da Escola Médico-Cirúrgica (1837-1911) e da subsequente Faculdade de Medicina / UL – bem como da anexa Escola de Farmácia, autonomizada em 1914 e ganhando estatuto de Faculdade em 1921 – eram utentes da beca para eles criada em 1856; por seu turno, Direito – Escola criada em 1913, inicialmente como «Faculdade de Estudos Sociais e de Direito» – configurou em larga medida o seu Corpo Docente com Mestres transferidos da UC ou com carreira – pelo menos ao nível da obtenção de graus académicos – lá iniciada; donde, a migração para a Capital também do hábito talar com borla-e-capelo.

b) Ao invés, a EP, como se disse, não criou qualquer tradição nesta matéria[4]. E o mesmo aconteceu – repito-o – com o Curso Superior de Letras (CSL), ainda que lá ensinassem desde o último quartel de Oitocentos dois drs. pela UC: Teófilo Braga (Direito) e José Maria Rodrigues (Teologia). Mas o CSL desde cedo terá tido uma filosofia ‘laica’, de menor comprometimento com a Instituição monárquica e com a Igreja Católica e de pouca simpatia para com as práticas vestimentais, rituais e cerimoniais coimbrãs; a hostilidade de um Teófilo, por exemplo, quando já lente em Lisboa, foi manifesta. E daí que os lentes sem traje da foto que aqui se comenta sejam algo perfeitamente explicável e enquadrável.

c) Acresce que as Escolas federadas em 1930 na Universidade Técnica de Lisboa (UTL)[5] terão em 1945[6] uma toga e uma insígnia (epitógio) próprias.

E será tempo de voltar à foto em causa, para pormenorizar alguns tópicos.

1. A data[7] – «Curso Superior de Letras» e «1912» sem mais, como na flébil legenda aposta por João Bonifácio SERRA na reprodução da foto, é uma impossibilidade: o CSL já fora – ainda que em funcionamento terminal, até 1914, a orgânica curricular de 1901 – e o que existe nesse ano é a FL/UL, em estreia de funcionamento como tal; acontece que – como veremos em 3. – a imagem nos patenteia os lentes da fase final do CSL, tão somente acrescidos dos dois limitados ‘reforços’ do ano lectivo de 1910/11: José Leite de Vasconcellos, ao tempo já senhor de uma Obra vasta e multímoda (Linguística, Arqueologia, Epigrafia, Antropologia Cultural, Antroponímia, Culturas Regionais...)[8] que dele viria a dar imagem de um SÁBIO no panorama cultural português das primeiras décadas de Novecentos; e Agostinho José Fortes, aprovado em mérito absoluto mas classificado em 3.º lugar num concurso realizado em 1904, de que resultara o ingresso de Queiroz Vellozo e Oliveira Ramos; foi depois logo recrutado em 1910, perante as imediatas perspectivas de crescimento e transformação da Escola; já regeu cadeira em 1910/11. Por outro lado, a partir de 1911/12 ingressam na Escola novos nomes, à medida que vão arrancando as licenciaturas criadas na Primavera do primeiro destes anos (reforma universitária de António José de Almeida, Ministro do Interior do Governo Provisório): num primeiro momento, Jean Jablonski (Filologia Românica, 1911/12 ss.) e Gustavo Cordeiro Ramos (Filologia Germânica, 1912/13 ss.). Por último, está ausente um dos ‘ícones’ da Casa: Teófilo Braga (1843-1924); o que poderá significar encontrar-se ainda em funções o Governo Provisório da República, a que presidiu[9]. Por tudo isto, a datação que criticamente se propõe para a foto é: entre 24 de Agosto de 1911 – eleição presidencial de Manuel de Arriaga pela Assembleia Constituinte e sua posse imediata – e 4 de Setembro do mesmo ano – investidura do I Governo Constitucional, presidido por João Chagas. O que direi no ponto seguinte só reforça a convicção com que proponho tal cronologia.

2. «A toilette de um Presidente da República» (Eça de QUEIROZ)[10] – Antes ou enquanto PR, Manuel de Arriaga sempre primou pelo apuro no vestir. O «corpus» fotográfico patente na Obra citada mostra-o invariavelmente de chapéu alto – tal como, aliás, parlamentares e membros do Executivo que o rodeiem – e envergando, nas mais das vezes, sobrecasaca – com bandas parcialmente de cetim – e calça e colete na cor, com complemento de laço preto e colarinhos altos; tudo isto em tecido também negro ou, pelo menos, cinzento muito, muito escuro[11]. Em ocasiões de especial solenidade (v.g. nas mensagens de Ano Novo de 1912 e 1914, lidas no Parlamento), Arriaga veste casaca com colete preto. Nos meses invernosos, casaca ou sobrecasaca levam por cima um sobretudo – na plena acepção... – invariavelmente de cerimónia, também preto ou cinza-antracite, umas vezes ornamentado com gola de veludo, outras com bandas – aqui completamente – de cetim. Apenas uma vez enverga um fraque, enquanto noutra parece ter a sobrecasaca (ou, eventualmente, a casaca) recoberta por uma capa com aparência de cinzento-escuro[12]. A sobrecasaca é portanto, repito, a opção claramente predominante. Mas, em 4 anos de mandato, não usará sempre a mesma peça concreta... E na foto em questão a peça é nitidamente a «dos primeiros tempos», das primeiras «aparições públicas»; a somar a isto, o significado do elenco dos Mestres de Letras presentes (ou ausentes; ou ainda não chegados à docência na Escola...), conforme se viu no ponto anterior.

3. O estabelecimento da legenda – Ao deparar-me pela primeira vez com a foto, eram-me já familiares algumas figuras (sete, mais concretamente), por prévio visionamento de outras imagens das mesmas:

3.1. Era o caso de Leite de Vasconcellos, Queiroz Vellozo, Oliveira Ramos, Adolpho Coelho, Silva Telles, David Lopes e José Maria Rodrigues; para além, obviamente, de Manuel de Arriaga.

3.2. Sobravam quatro, a cuja identificação consegui chegar conjugando os dados apresentados por Oliveira Marques na distribuição e cronologia das regências de disciplinas[13] com os dados biográficos constando de entradas de enciclopédias. Assim, o segundo a contar da esquerda na 1.ª fila afigurou-se-me logo, entre estes quatro, o mais idoso;\\\\\\\\\\ teria que ser Silva Cordeiro, Mestre do CSL desde 1901[14]; a figura alta e com o seu quê de germânica da 5.ª individualidade a contar da esquerda na mesma fila seria obviamente o alemão Alfred Apell, Mestre da trienal Língua e Literatura Alemã e Inglesa desde 1904; a 3.ª individualidade a contar da esquerda na 2.ª fila afigurava-se-me com nitidez a mais jovem: tal condição cabia indubitavelmente a Agostinho Fortes, que em 1910/11 regera História antiga, da idade média e moderna; faltava identificar o 1.º à esquerda na última fila: uma vez mais pelos dados de Oliveira Marques, só poderia ser Sebastião Rodolfo Dalgado, lente de Língua Sânscrita desde 1907.

O apurar do que aqui deixo deveria ter cabido ao Autor. Mas é evidente que a colecção em que a Obra se insere, para além da desigual qualidade dos volumes, está a publicar ilustração inédita e do maior interesse... com legendagem não raro incompleta ou mesmo inexistente !... No volume sobre Arriaga isso é bem nítido, em fotos cuja legendagem deixa em claro a presença, inclusivamente, de Chefes do Governo e de Ministros... Quando, afinal, um pouco mais de trabalho chegaria para preencher tais silêncios[15]. Mas a Senhora Dona Preguiça não será propriamente a companheira ideal para um historiador...

Texto de Armando Luís de Carvalho Homem
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[1] Data estabelecida criticamente, como se exporá.
[2] Foto publicada sem identificações e erradamente datada de 1912.
[3] Foram já corrigidas 2.as provas.
[4] Dependente do ministério da Guerra e não do do Reino, com uma componente mais forte de pré-preparação de candidatos à Escola do Exército, a EP não foi portanto instituição simétrica da Academia Politécnica do Porto (AP), que no domínio pré-militar apontou sempre mais para a Marinha e que contou entre os seus saberes domínios como o Direito, a Economia Política ou algumas Engenharias, permitindo que, logo à partida, a novel Fac. de Ciências/UP (1911 ss.) englobasse uma Escola de Engenharia, depois autonomizada como Faculdade Técnica (1914) e como Faculdade de Engenharia (1926). Os lentes da AP usaram a partir de 1902 a beca que em 1857 se estendera à Escola Médico-Cirúrgica portuense. (Obs.: Agradeço ao Dr. João Caramalho Domingos, ex-aluno e hoje docente da Escola, as informações transmitidas sobre estes pontos).
[5] A saber: o Instituto Superior Técnico, o Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, o Instituto Superior de Agronomia e a Escola Superior de Medicina Veterinária.
[6] Nos termos de portaria do ministro da Educação José Caeiro da Matta, ao tempo lente da FD/UL, depois de o ter sido da FD/UC.
[7] Para a redacção deste ponto e do 3. foram fundamentais os dados patentes em A. H. de Oliveira MARQUES, «Notícia histórica da Faculdade de Letras de Lisboa (1911-1961)», texto de 1970 reed. in IDEM, Ensaios de Historiografia Portuguesa, Lisboa, Palas, 1988, pp. 123-198.
[8] Que o seu diversificado ensino como lente de Filologia Clássica (1911-1929), nas licenciaturas em Filologia Clássica, Filologia Românica e Ciências Histórico-Geográficas, só parcelarmente traduz: Língua e Literatura Latina I, II e III, Filologia Portuguesa I e II, Gramática Comparada das Línguas Românicas, Língua e Literatura Francesa I e II, Arqueologia, Epigrafia, Numismática e Esfragística... Curiosamente – ou talvez não – nunca prestou serviço em cadeira alguma específica do grupo de Geografia, nomeadamente Geografia Humana ou Etnologia... Como aqueles Mestres se amavam !...
[9] Teófilo retomou o serviço em 1911/12, regendo, nesse ano e nos dois subsequentes, Literatura Nacional.
[10] Título de um texto queiroziano inserido no volume Cartas Familiares e Bilhetes de Paris, Porto, Lello & Irmão, s.d. (ed. do Centenário, 1945 ss.).
[11] As fotos são, naturalmente, a preto e branco.
[12] Creio que no «corpus» fotográfico em causa o vestuário escuro só será azul-marinho ou azul-noite quando se trate de uniformes militares, de forças militarizadas ou, pontualmente, de contínuos do Parlamento.
[13] Cf. «Art. cit.» supra, n. 7, maxime pp. 165 ss.
[14] O decano do Corpo Docente era entretanto Adolpho Coelho, docente desde 1878.
[15] E note-se que o autor deste texto é um medievista e de modo algum um especialista do século XX português... Posted by Picasa

terça-feira, março 14, 2006


X Mês do Fado no Café Santa Cruz. Notícia do Diário das Beiras de hoje. Por compromissos assumidos com o Coro dos Antigos Orfeonistas, não me é possível assistir ao espectáculo de hoje. Se houver alguém que se preste a tirar umas fotos e fazer a reportagem, os leitores do Blog agradecerão. Basta mandar para octavioazevedo@sapo.pt .


Palácio da Loucura Posted by Picasa
"Viver numa República de estudantes de Coimbra. Real República Palácio da Loucura (1960-1970)", Porto, Campo das Letras, 2004, condensa uma tese de mestrado em sociologia apresentada por Teresa CARREIRO à Universidade Nova de Lisboa sob orientação do Prof. Doutor João Ranita da Nazaré. A autora baseou-se na recolha de testemunhos de repúblicos posicionados em diversas gerações, imprensa periódica, documentação da antiga PIDE depositada na Torre do Tombo, bem como literatura disponível sobre as vivências estudantis de Coimbra.
Estamos em presença de um olhar distanciado, de quem não tendo vivido nem estudado em Coimbra se lançou num esforço de desvendamento e compreensão do objecto de análise. A aposta foi ganha. Teresa Caeiro faz investigação e maneja testemunhos orais com manifesta desenvoltura, descreve correctamente as tradições coimbrãs e interpela-as criticamente, reconstituindo o modus vivendi dos repúblicos que fizeram a Real República Palácio da Loucura na década de 1960. Talvez se possa resumir numa frase a questão central que percorre as 338 páginas do livro: o que era ser adolescente em Portugal e muito particularmente na UC antes deste segmento da vida humana ter conquistado em Portugal visibilidade sociológica?
A parte introdutória relativa às origens das repúblicas estudantis é a menos conseguida, do ponto de vista da abordagem teórica, pois um conhecimento mais aprofundado provaria que os mitos libertários das origens oitocentistas (r)entraram em erupção na década estudada. Os parágrafos dedicados à iniciação sexual dos adolescentes enfocados mereceria mais alongada pesquisa, tendo em conta os tradicionais silêncios neste particular campo e as mutações observadas nos sixties. Os deslizes de linguagem são insignificantes (ainda assim, de lamentar, na pág. 41, a derrapagem para "Direcção da mais vetusta Academia do país", sendo evidente a confusão entre Direcção Geral da Associação Académica e Academia de Coimbra).
Um dos colaboradores ligados a esta tese - Augusto Camacho Vieira - tinha-nos indicado este livro para leitura de horas mortas. Ler a tese de Teresa Carreiro e ficar a conhecer melhor as vivências estudantis numa República de Coimbra é tarefa bem empregue.
AMNunes

segunda-feira, março 13, 2006


Coro dos Antigos Orfeonistas em Cabo Verde, no ano de 1999. Notícia do Diário de Coimbra de 15-7-1999. Posted by Picasa

domingo, março 12, 2006


Xanana Gusmão presenteado com emblema de prata da Briosa. Notícia do Diário de Coimbra de hoje. Texto de Ricardo Busano e fotos de Figueiredo e Carlos Araújo. Posted by Picasa

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