sábado, setembro 23, 2006


Leiria homenageia o poeta Marques da Cruz Posted by Picasa
Tendo acompanhado no Blog o nosso voto de pesar pela não realização de condignas homenagens a Afonso de Sousa e Armando Goes no primeiro Centenário de seus nascimentos, o Dr. Afonso de Oliveira Sousa teve a gentileza de nos enviar parte do programa concretizado pela Junta de Freguesia de Leiria no dia 13 de Junho de 2006 para assinalar a IV Comemoração do Dia da Freguesia. A Junta de Freguesia de Leiria levou a cabo uma sessão que elegeu como figura central o antigo estudante de Coimbra, poeta e professor José Marques da Cruz (1888-1958), cuja biografia foi apresentada num estojo ilustrado. Na mesma sessão foram também evocados Afonso de Sousa (1906-1993), Armando do Carmo Gois (1906-1967) e D. José Pais de Almeida e Silva (1889-1968), simultaneamente ligados à Canção de Coimbra e à produção cultural leiriense.
Os quatro temas referidos no prospecto foram interpretados pelos instrumentistas Ricardo Rocha/José Eduardo Rocha e pelo cantor Prof. Casimiro.
(nota: o prospecto onde foram impressos os textos contém erros de autorias)
AMNunes


Documentos de Lucas Junot Posted by Picasa
Após demorados esforços para encontrar os herdeiros de Lucas Junot no Brasil, Rui Lopes recebeu no dia 20 de Setembro a primeira remessa de documentos enviada pela filha do professor, cantor e guitarrista, Maria Adelaide Junot. Uma palavra de felicitação a Rui Lopes, pela sua persistência e pela vontade de partilhar com os leitores do Blog os primeiros frutos da sua pesquisa.
AMNunes

sexta-feira, setembro 22, 2006

ESTÓRIAS À LENTE (10)

XXXVI.

Por encargos que eventualmente tivesse ou pura e simplesmente por estar nos antípodas de uma atitude epicurista perante a vida, o facto é que o lente referido na estória anterior ostentou sempre um facies de grande modéstia material: a casa onde vivia, o vestuário que envergava, o deslocar-se a pé ou de eléctrico, etc. Solteiro até tarde, após a morte dos progenitores viveu longamente sozinho.
A estória tem justamente a ver com bilhetes de eléctrico, aqueles velhos papèizinhos que os mais antigos ainda recordarão, vendidos pelo cobrador/ revisor. Ora o Doutor M… guardava sistematicamente os bilhetes e era nas costas dos mesmos que escrevia o enunciado dos exercícios para as provas orais. Ao chegar à sala punha os bilhetes em cima da secretária e depois, ao correr das provas, lá os ia utilizando.
Numa tarde de muito calor foram abertas todas as janelas da sala. E o inevitável aconteceu: quando se abre a porta para dar passagem ao primeiro examinando, a corrente de ar fez voar os bilhetes, atrapalhadamente recolhidos pelo Doutor M… e demais membros do júri…


XXXVI.

Já aqui se falou (estória V.) no Padre G…, lente de Matemática da FC/ UP. Um dia uma oral sua estava a correr pouco bem; num dado momento diz o Padre G… ao examinando:

- Trace aí uma linha recta !

O aluno pegou no giz e lá foi traçando… até chegar ao limite do quadro negro.

- Continue – disse o Mestre.

E lá foi o aluno, parede adiante até chegar à porta.

- Continue – repetiu o Mestre.

Era um inequívoco sinal para sair: o exame teminara com uma reprovação…
Vem a época de Outubro. De novo o aluno se apresenta, de novo é admitido à oral. Ao entrar na sala, pergunta-lhe o Padre G…:

- Então, já acabou de traçar a linha recta ?

- Não, não Sr. Doutor, venho buscar mais giz…


Armando Luís de Carvalho HOMEM

quinta-feira, setembro 21, 2006

ESTÓRIAS À LENTE (9)

XXXV.

Esta estória poderia intitular-se «a lógica formal de um Matemático». Passa-se, uma vez mais num dos Grupos de Matemática da FC/UP e diz respeito a um lente de Mecânica Racional – também ele um sábio distraído (dos autênticos…) – que em dado momento dos anos 70 ou 80 do século findo, quando já não estava longe do limite de idade, se encontrou inesperadamente eleito Presidente do Conselho Científico (CC) da Casa. Não haveria cargo mais contra-indicado para o Mestre em causa. E as consequências não tardaram a manifestar-se: em poucas semanas o expediente ficou plenamente bloqueado e os assuntos que passavam pelo CC pura e simplesmente sem andamento.
Um dia há reunião plenária do CC. E um lente de outro Grupo começou imediatamente uma diatribe contra a desorganização de que aquele órgão gestionário estava a padecer. O Presidente foi ouvindo, aparentemente impassível; num dado momento, e enquanto o outro se mantinha no uso da palavra, levantou-se e começou a deslocar-se peripateticamente ao longo da mesa da Presidência. Quando a prédica terminou, o Presidente tomou a palavra para dizer:

- Bom, tendo em conta o que acaba de ser dito só há uma solução e eu avanço já para ela – proponho um voto de censura ao Presidente deste Conselho…


Armando Luís de Carvalho HOMEM


Doutor Manuel de Andrade Posted by Picasa
Estátua do Prof. Doutor Manuel A. D. de Andrade, um bronze da autoria do escultor Joaquim Correia (1986), assente no jardim fronteiro ao Tribunal Judicial de Estarreja. Manuel de Andrade nasceu em Canelas, Concelho de Estarreja, a 11 de Novembro de 1889 e faleceu na cidade de Coimbra em 19 de Dezembro de 1958. Ingressou no corpo docente da Faculdade de Direito da UC em 30 de Agosto de 1924, já licenciado em Direito, na categoria de assistente. Distinto lente de Direito Civil, assinou obras incontornáveis como "Ensaio sobre a Teoria da Interpretação das Leis" (1934) e "Teoria Geral da Relação Jurídica" (1ª parte, 1944).
Manuel de Andrade era um lente caricato no meio estudantil, conforme no-lo relembra o advogado Octávio Abrunhosa, in "Coimbra... ontem! Memórias de um estudante (1945-1951", Coimbra, Almedina, 2001, p. 115. Em amena cavaqueira com o Dr. Alberto Sousa Lamy, reputado estudioso de acontecimentos académicos, com banca de casuídico na comarca de Ovar, assentámos em que a alcunha "O Vacão" terá surgido ainda Manuel de Andrade era estudante. Nos séculos XVII, XVIII, XIX e começos da centúria de XX, os alunos da UC tratavam os camponeses dos arrabaldes da cidade por vacões, isto é, homens do campo que lidavam com o gado e os afazeres agrícolas. Não padecendo da falta de delicadeza apontada ao antigo lente da "casa", Manuel Rodrigues Júnior (1889-1946), transferido para a Faculdade de Direito da UL em 1928, Manuel de Andrade passeava-se pela cidade, entrava e saía da UC e ia às lições como vaqueiro que acaba de sair da ganadaria. Os óculos de lentes grossas, a voz monótona, o vestuário desmazelado e meio fora de moda, o trato simples, os botões quase a desprenderem-se do casaco, o sobretudo aberto e a descair para um dos lados, tudo isto conferia ao mestre um ar "campónio" que aparentemente lhe justificava a origem da alcunha.
Na opinião do Dr. Sousa Lamy, a estátua erecta em Estarreja retrata Manuel de Andrade na perfeição.
AMNunes

quarta-feira, setembro 20, 2006

ESTÓRIAS À LENTE (8)

XXXIV.

Esta passa-se há 40 e tal anos na FD/UC. No início de uma prova oral de Direito Comercial, o assistente encarregado da regência exibe uma caixa de fósforos e interroga o examinando:

- O que é isto ?

Surpreendido, o aluno responde:

- É uma caixa de fósforos !...

Réplica do examinador:

- Meu Caro Sr., isto é uma mercadoria ! Está terminado o seu exame…


Armando Luís de Carvalho HOMEM

ESTÓRIAS À LENTE (7)

XXXI.

Esta deu-se no final da década de 50. Um lente de Direito da UL passou por uma situação curiosa quando, In illo tempore, se apresentou à prova oral de Direito Corporativo. O Mestre respectivo era uma personagem dispéptica, ultramontana e de feitio complicado, que exercia um ensino à base da memorização. Na cadeira em causa adorava perguntar o que eram as «Casas do Povo» e as «Casas dos Pescadores» e quem lhes podia pertencer; em ambos os casos, a lista das potenciais pertenças era longa, bem longa; e memorizar tudo aquilo… imagine-se !...
O aluno que foi lente estava, obviamente, bem preparado. O Mestre começou por lhe perguntar o que eram as «Casas dos Pescadores» e quem lhes podia pertencer. E o aluno embala na resposta… mas a dado momento dá-se conta de que o que estava a dizer correspondia afinal às «Casas do Povo». Com um sangue-frio que depois nem ele saberia explicar, conseguiu dizer:

- Peço desculpa, Sr. Prof., V. Ex.ª perguntou-me quem pode pertencer às «Casas dos Pescadores» e eu acabo de me dar conta de que, por lapso, estou a dizer quem pode pertencer às «Casas do Povo». Se me permite vou até ao fim, e direi depois aquilo que de facto me foi perguntado.

O lente manteve-se esfíngico e o aluno prosseguiu; chegado ao fim das «Casas do Povo», disse o seguinte:

- Agora sim, vou dizer quem pode pertencer às «Casas dos Pescadores».

E lá disse, sem mais novidades. Sempre de fisionomia imperturbável, o lente foi depois fazendo mais perguntas, em sequência de prova, com o aluno a responder a pleno contento.
Até que a prova chegou ao seu termo. Cá fora o aluno viu-se rodeado por Colegas que lhe testemunhavam a admiração por quanto se passara.

- Como é que tu conseguiste ?! Foi fantástico ! etc.

As provas orais daquele dia foram prosseguindo. Chegadas ao fim e decorrido algum tempo, sai um contínuo a ler a pauta; o aluno em causa tivera nota alta. Logo depois sai o lente, com o Conselheiro-Presidente do júri. E cumprimenta o aluno, dizendo:

- Ai, gostei muito ! Mas por outro lado que pena ! Tinha sido um chumbinho tão bonito !...

XXXII.

No dito ano de 1967/68 tiveram lugar – em Janeiro – as provas de doutoramento de dois ilustres lentes de Direito: o já desaparecido Doutor Orlando Alves Pereira de Carvalho e o Doutor António Castanheira Neves.
Aí por Novembro já se falava desses actos. E alguns Mestres de cadeiras do 1.º ano – o de Introdução ao Estudo do Direito e o de Direito Romano – aconselharam os seus alunos a assistir às provas, até porque as teses dos dois candidatos eram obras que, a médio prazo, iríamos ter necessariamente de consultar.
Nos ditos dias de Janeiro lá fui à Sala dos Capelos. Na santa ignorância dos meus 17 anos recém-feitos (em 1967/12/12), que julgava eu que fossem umas provas de doutoramento ? Por ambiente familiar, eu tinha conhecimento dos actos solenes de imposição de insígnias. E em anos anteriores, visitas de chefes de Estado ou de Governo ao nosso País tinham incluído o doutoramento «honoris causa» na UC, de que a Televisão dera imagens [i]. Pensava assim eu, quando no primeiro dia entrei na Nobre Sala, que os doutorandos teriam por certo preparado os seus trabalhos ao longo de vários anos; que o júri, em sessão fechada, lhes teria avaliado os méritos; que o ir a «provas» era sinal de juízo positivo; e que as ditas seriam a exposição pelo candidato dos delineamentos da investigação culminante na tese e o relatório final do júri sobre a mesma; e, daí a algum tempo, a imposição solene das insígnias doutorais.
Era mesmo uma «santa ignorância». As duras interpelações que vi serem feitas aos candidatos, as ásperas e alongadas discussões entre Orlando de Carvalho / Ferrer Correia, Orlando de Carvalho / Pires de Lima e Castanheira Neves / Eduardo Correia (bem como os comentários dirigidos de Sebastião Cruz na sua argumentação a Castanheira Neves) foram algo que se me gravou profundamente na memória e que, a longo prazo, me ditaria uma linha de conduta, como candidato que também fui [ii] e como arguente que, desde 1988, em diversas ocasiões tenho sido.

Flashes desse distante Janeiro:

1) Primeiro dia, discussão da tese de Orlando de Carvalho: o arguente foi o Doutor António de Arruda Ferrer Correia; uma das críticas ao candidato esteve no «elevado número de notas» que o trabalho comportava, algumas das quais tão específicas e tão desenvolvidas que deveriam ter sido reduzidas ao mínimo e depois objecto de trabalho autónomo; e a nota tal da página tal parecia-lhe desnecessária. Orlando de Carvalho atacou esta questão de frente. Referiu a crítica ao montante das notas e particularmente à nota tal da página tal, «que V. Ex.ª creio que considerou desnecessária»…

- Totalmente desnecessária ! – precisou Ferrer Correia.
- Bem, esse «totalmente» é que eu não admito !...
- Mau, ó Dr. Orlando de Carvalho…

Mas este já interrompera. E seguiram-se, seguramente, três minutos, se não mais, com os dois a falar em simultâneo e em altos brados. Até que o Presidente do júri, Doutor Afonso Queiró (Director da Faculdade), bateu duas vezes com uma mão na outra e proclamou:
- Um de cada vez !...

2) Primeiro dia, discussão da tese de Castanheira Neves: o arguente foi o Doutor Eduardo Henriques da Silva Correia; já para o fim da prova, estiveram longos minutos a discutir o conceito de «pré-predicação jurídica»… Hoje em dia, qualquer antigo aluno do Doutor Castanheira Neves (jubilado há alguns anos) ou qualquer antigo ou actual aluno do seu discípulo Doutor Fernando Bronze saberá plenamente do que se trata; mas ao tempo, entre os estudantes na Sala – por maioria de razão se do 1.º ano –, a ininteligibilidade foi total…

3) Segundo dia, primeira prova de interrogatório de Orlando de Carvalho: foi no domínio do Direito Civil, arguente o Doutor Fernando de Andrade Pires de Lima; não poderia haver duas pessoas mais diferentes, cientificamente e não só; Pires de Lima conduziu a prova de forma por vezes acre; num dado momento interrompe o candidato e faz-lhe a seguinte observação:

- Vamos lá com calma, que já está para aí a meter água !...

4) Segundo dia, primeira prova de interrogatório de Castanheira Neves: foi no domínio do Direito Romano, arguente o Doutor Sebastião Costa Cruz; já se sabia que este ia dizer algo sobre o novo Código Civil, que entrara em vigor um ano antes; os Doutores Fernando Pires de Lima e João de Matos Antunes Varela (ambos no júri) andavam impantes, com o que consideravam ser um feito marcante da Escola civilística de Coimbra; mas Sebastião Cruz não ficara satisfeito: achava que algumas formulações legais não estavam perfeitas e que o recurso ao Direito Romano as poderia ter melhorado; e ali o disse, num dado momento da prova; está claro que os visados não ficaram propriamente de facies sorridente…

A fechar: Passe a (porventura) imodéstia, mas orgulho-me de saber o que se pode (e não pode) ou deve (e não deve) dizer em provas académicas; e terei começado a aprendê-lo na Sala Grande dos Actos, nesse tão distante Janeiro de 1968…


XXXIII.

In illo tempore, quando eu ingressei na licenciatura em História da FL/UP (1968), havia no 1.º Grupo da Faculdade de Ciências (Álgebra e Geometria, vulgo «Matemática Pura») [iii] um lente que destoava:

1. Era ultra-conservador, homem do Regime, dirigente da Mocidade Portuguesa e provavelmente ligado à Causa Monárquica, isto numa área do Saber onde boa parte das glórias científicas (v.g. Ruy Luís Gomes [1905-1984]) estava – ou tinha estado – ligada à Oposição de esquerda;
2. a sua Ciência parecia estar muito abaixo da média entre os seus pares: era considerado um marrão memorizador e praticava um ensino (v.g. em Geometria Descritiva ou em Análise Infinitesimal) desse quilate; chegava a reprovar nas orais alunos que lá chegavam bem classificados, por questões de minudência extrema; resultado: todos os anos migrava para Coimbra um bom contingente de reprovados na segunda disciplina mencionada, rumo ao ensino humanista de Luís de Albuquerque (1916-1992);
3. pessoa de trato ríspido, não seria, naturalmente, personagem simpática à generalidade dos alunos;
4. a juntar a tudo isto, não lhe faltavam características picarescas: a voz estrídula, quase de falsete; os litros de água de Colónia que sobre si derramava; as explicações que dava às vezes nas aulas sobre a sua vida pessoal, mormente as razões por que não casara e ficara celibatário[iv]; ou – the last but not the least – um pormenor de dicção que noutras circunstâncias passaria, mas que com ele era mais uma acha para a fogueira de laracha que o rodeava: pronunciava os ss como se do dígrafo inglês th (v.g. em three = três) se tratasse; a juntar a isto, um acentuado sotaque nortenho (nortâinho); daí que, por exemplo, a frase «Salvo raras excepções, os investigadores não nascem espontâneamente: é necessário criá-los e ampará-los !» [v] soasse mais ou menos como isto: «Thalvo rarath exthepthõeth, oth invethtigadoreth não nathem ethpontâneamente: é nethetrio criá-loth e ámpará-loth!»; entre os estudantes era conhecido pelo diminutivo do nome próprio, pronunciado à maneira
5. todavia, politiqueiro, ligado – via-Mocidade Portuguesa – a Marcello Caetano (!!!!!), com ligações também ao universo das empresas, lá se doutorou e foi fazendo carreira; chegou a Director da Faculdade; o pior foi o concurso para professor catedrático…

Foi na Primavera de 1962. O Salão Nobre da Faculdade de Ciências (aos Leões) abarrotava de gente, que compreendia uma multidão de alunos na expectativa da tourada que constava ir dar-se (ainda que não houvesse grandes dúvidas de que depois seria aprovado por unanimidade, como de facto aconteceu). O arguente do primeiro dia foi um velho e respeitado lente da Casa já jubilado, pessoa austera e tida como da Oposição. Como toda a gente esperava, arguição dura, para um candidato mostrar o que valia… se o conseguisse…
Dada a palavra ao candidato, este, claramente inseguro, começa com um discurso redondo, repleto de citações e paráfrases do próprio arguente («Votha Eithelênthia dithe, math depoith Votha Eithelênthia também dithe, e dithe maith athim e maith athado…). Ao fim de largos minutos o arguente perde a paciência e ‘atira-lhe’ (só…) com esta:

- Mas para que é que o Sr. está para aí btha-btha-btha-btha ? Ainda não disse nada de jeito !...

Post-scriptum: Este episódio foi-me narrado, há já cerca de 25 anos, pelo meu Velho Amigo Raul Barros Leite, antigo elemento do Orfeão Universitário do Porto (1955-1966) e actual Presidente da Direcção da Associação dos Antigos Orfeonistas da UP, que assistiu às provas do dito concurso.
NOTAS:

[i] Maxime aquando da visita do Presidente brasileiro Juscelino Kubitschek de Oliveira, integrada nas Comemorações Henriquinas (1960); sendo que, na reportagem da cerimónia coimbrã, um locutor da RTP se referiu à Via Latina como «Avenida Latina» !...
[ii] Doutoramento (1985) e agregação (1994).
[iii] Mecânica e Astronomia constituíam o 2.º Grupo, vulgo «Matemática Aplicada»; daí que nas Faculdades de Ciências os Grupos 1.º e 2.º fossem correntemente designados como «as Matemáticas».
[iv] Havia quem dissesse que lhe «puxava o pé para a chinela»…
[v] Da «oração de sapiência» que proferiu na abertura das aulas em Outubro de 1968, a que assisti.
Armando Luís de Carvalho HOMEM


Colégio da Trindade (6) Posted by Picasa
Vista dos escombros e da Couraça de Lisboa, captada a partir da porta de entrada para a antiga "loggia". A altura, a ventania, o chiar dos madeiramentos do telhado e a paredes caídas metiam medo. Algumas casas abaixo desta igreja morava o Doutor Salvador Arnaut que, tendo atingido a jubilação, se passeava todas as tardes com um canzarrão cinzento na Couraça, Rua da Traição e Praça D. Dinis. Por vezes ia à Faculdade de Letras visitar o Instituto de Expansão ou tratar de pós-graduações. Em encontrando alguma cara conhecida na sua passeata diária, era certo e seguro que o Doutor Arnaut metia conversa onde não faltavam episódios picarescos dos tempos em que fora estudante de Medicina e de História. Com a Couraça obstruída, o Doutor Arnaut queixava-se amargamente que agora tinha de subir e descer as nada convidativas escadas da Travessa da Trindade.
A derrocada da igreja da Trindade conduziu nos anos seguintes à evacuação dos derradeiros moradores. A mítica Taberna do Pratas onde D. Ana vendia traçados, queijos frescos, ovos cozidos, cervejas e tinto, com o seu ramo de louro à porta, fecharia as portas à roda de 1996-97 (diziam as más línguas que no Pratas os preços iam variando conforme a hora do dia. Assim, um ovo cozido podia começar por custar 20 escudos às 11h da matina, 22 escudos às 15h, e 25 escudos entre as 18 e as 20h). À semelhança da Tasca das Camelas, o Pratas estava pejado de escritos nas paredes, cartazes e papéis manuscritos, restos de gravatas de rasganços, tudo abençoado por uma "raposa" empalhada que parecia zombar dos bacantes e goliardos. Ali se deram afamadas festas de formatura, acaloradas discussões futebolísticas, carpimentos de chumbos e eloquentíssimas dissertações de caloiros.
AMNunes


Colégio da Trindade (5) Posted by Picasa
De acordo com os testemunhos oculares, a derrocada da igreja do colégio da Trindade apenas provocou danos em viaturas estacionadas nas imediações. Durante alguns dias a Couraça de Lisboa ficou cheia de escombros, não permitindo a circulação de peões nem de viaturas. Os serviços municipais fizeram-se demorados na activação de dispositivos de vigilância e protecção ao local do sinistro, pelo que durante a noite os escombros foram rapinados de ferros, cantarias e azulejos.
AMNunes


Colégio da Trindade (4) Posted by Picasa
Se a memória não atraiçoa, pelo Inverno de 1988 a igreja do Colégio da Trindade desabou aparatosamente sobre o calçadão da Couraça de Lisboa. No dia seguinte à derrocada visitei os escombros e realizei uma série de 13 fotografias com vistas exteriores e interiores do edifício. À data do desabamento a igreja estava completamente abandonada e em avançado estado de ruina. Nas alas voltadas à Rua de São Pedro e Rua da Trindade encontravam-se a Procuradoria da Universidade, diversas famílias de particulares, estudantes com quartos arrendados (ala superior do claustro) e a frequentadíssima Taberna do Pratas.
AMNunes


Colégio da Trindade (3) Posted by Picasa
"Loggia" ou varanda de estilo italiano renascença, edificada entre a cornija da fachada lateral e o arranque do telhado da igreja. Abria para sul, prodigalizando soberbas vistas sobre o Mondego e o Vale do Inferno. Possuía banqueta corrida, colunelos trabalhados, grades de ferro forjado, floreiras e tecto armado, sendo o muro ornado de azulejos de época. Na década de 1980 acedia-se a esta "loggia" por uma porta rasgada na Rua da Trindade, através da qual se fazia a ligação entre a ala do claustro, o altar mor da igreja e a varanda que permitia avançar até à cimalha do templo.
Fonte: António de Vasconcelos, op. cit.
AMNunes


Colégio da Trindade (2) Posted by Picasa
Vista da igreja do Colégio da Trindade (que foi tribunal e sede da AAC), com a fachada lateral directamente assente na Couraça de Lisboa e o pórtico aberto sobre pequeno adro na Travessa da Trindade. Sobre a cornija da fachada lateral erguia-se uma convidativa varanda à italiana.
Fonte: António de Vasconcelos, "Escritos Vários", Volume I, 2ª edição, Coimbra, AUC, 1987, Estampa XLVII (1ª edição de 1938).
AMNunes


Colégio da Trindade (1) Posted by Picasa
Planta do Colégio da Santíssima Trindade, fundado em 1552. A empreitada de construção teve início em 1562 e arrastou-se até meados do século XVII. O levantamento coloca em destaque a antiga igreja, o claustro, as alas residenciais o aprazível jardim.
Fonte: Pedro Dias, "Coimbra. Guia para uma visita", 2ª edição, Coimbra, Gráfica de Coimbra, 2002, p. 61.
AMNunes

terça-feira, setembro 19, 2006


A Alta no final do século XVIII Posted by Picasa
Levantamento da Alta de Coimbra efectuado em finais do século XVIII, na sequência da Reforma Pombalina de 1772. Ocorre em Pedro Dias, "Coimbra Arte e História", Porto, Paisagem Editora, 1983, p. 15, e no tomo das actas "Alta de Coimbra. História. Arte. Tradição. 1º Encontro Sobre a Alta de Coimbra, Coimbra, 23, 24, 25 e 28 de Outubro de 1987", Coimbra, GAAC, 1988, p. 93.
A verde claro assinalámos a "universidade velha", configurada na acrópole conimbricense pelo Paço Real das Escolas, Torre, Via Latina, Pátio das Escolas, Gerais, Real Capela de S. Miguel, Livraria (Biblioteca Joanina) e Escadas de Minerva. No Pátio das Escolas não está marcado o rectângulo do Observatório Astronómico, dado que numa primeira fase os arquitectos pombalinos tiveram em mente construí-lo sobre os alicerces do Castelo (daí a sua figuração a tracejado vermelho entre o Colégio dos Militares e o Colégio de S. Jerónimo).
No seguimento dos aposentos do Reitor, uma vez passada a Porta Férrea, erguia-se o Colégio de São Pedro (verde escuro). Este antigo colégio serviu de Conselho Superior de Instrução Pública (1845), aposentadoria da Casa Real (1855-1910), albergou precariamente a primitiva Faculdade de Letras, serviços anexos ao Laboratório Astronómico e a Secretaria Geral. Profundamente restaurado no Estado Novo, constitui uma extensão da Reitoria e da Faculdade de Direito.
Descendo da Rua de Entre-Colégios para a Rua da Trindade, vislumbrava-se o Colégio da Trindade (amarelo escuro), em cuja planta aparecem marcadas a igreja e o pátio-jardim mas não o pequeno claustro. Na igreja e claustro do Colégio da Trindade funcionou no século XIX o Tribunal Judicial de Coimbra (1835-1881). Instalado o Tribunal nos Paços do Concelho, a mesma igreja acolheu a AAC após a demolição da respectiva sede no ano de 1888, o ginásio académico e a marcenaria "Pereiras". Nesse igreja-salão viveu a Academia de Coimbra as turbulentas Assembleias Magnas do Ultimato Britânico e da Revolta de 31 de Janeiro, a tal ponto que o governo mandou "encerrar" a AAC. No plano de obras da Cidade Universitária o edifício esteve pensado como Residência Universitária Feminina, e posteriormente como Residência Masculina. O projecto ficaria abandonado e nos finais da década de 1980 a igreja desabou aparatosamente sobre a calçada da Couraça. Sem protecções nem vigilância, os azulejos e as cantarias esculpidas anoiteceram mas não amanheceram... O edifício está a vias de ser reconvertido na sede do Tribunal Judicial Universitário Europeu.
Continuando a descer a antiga Rua dos Grilos, na direcção dos actuais Serviços de Acção Social (casa do Doutor Guilherme Moreira) e Secretaria Geral, do lado oposto às Escadas de Minerva via-se o modesto Colégio de Santo António da Pedreira (azul claro), com a sua capela avançada, e novamente sem marcação do claustrim. Continua afecto à Casa de Infância Elysio de Moura, instituição duradouramente associada à filantropia estudantil.
Um pouco abaixo ficava o Colégio de Santa Rita, ou dos Padres Grilos, ainda hoje famoso por ali terem habitado Oliveira Salazar e o Cardeal Cerejeira. Chegou a ser pensado para Residência Universitária Feminina no plano de obras do Estado Novo. Na década de 1950 e anos iniciais de 60 (1949-1963), foi este colégio sede da Associação Académica e palco privilegiado de acontecimentos como a institucionalização do Museu Académico (21/05/1951), a Segunda Tomada da Bastilha (04/04/1954), fundação do CELUC (1954), fundação do CITAC (1956), fundação do Coro Misto (1955-56), a Contestação ao Decreto-Lei Nº 40.900, de 12 de Dezembro de 1956 (controlo da autonomia das associações estudantis), o apoio à Campanha de Humberto Delgado (31/05/1958), o triunfo da lista da oposição associativa liderada por Carlos Candal (31/10/1960), e a Crise Académica de 1962. Profundamente restaurado, serve de sede à Secretaria Geral da UC.
Voltando à Porta Férrea e lançando vistas à Rua Larga, aparece de imediato o Colégio de São Paulo-o-Apóstolo onde em 1838 se instalou Academia Dramática (vermelho) e o Teatro Académico. No interior do edifício, muito arruinado pelo Terramoto de 1755, existia um claustro de orientação rectangular, não desenhado na planta, onde se construiu em 1838-1839 o Teatro Académico. As confrontações estão bem demarcadas, identificando-se a fachada principal com a Rua Larga, e as restantes com a Rua de São Pedro, Rua das Parreiras (traseiras) e Rua de Entre-Colégios. Demolido em 1888, este edifício acolheu o Instituto de Coimbra, o Clube Académico (1861-1887), a Orquestra e Conservatório Musical do Teatro Académico e a jovem Associação Académica de Coimbra (1887).
A demolição do edifício originou um vasto terreiro onde por muitos anos se fizeram Fogueiras do S. João. No mesmo espaço seria edificada a primeira Faculdade de Letras (1913-1929), posteriormente transformada em Biblioteca Geral (1956). O quarteirão situado entre a Rua das Parreiras e o Colégio da Trindade seria aproveitado para a construção do Arquivo da UC (1948). Na Rua de Entre-Colégios, entre as traseiras da antiga Faculdade de Letras (Biblioteca Geral) e o Arquivo, existe um portão que dá serventia a um pequeno pátio. Este pátio corresponde ao troço da antiga Rua das Parreiras.
No tocante ao Colégio de São Paulo-o-Apóstolo, de tão ilustre e fugaz memória, importaria trazer à luz do dia a crónica da construção do Teatro Académico, o espólio do Conservatório Musical (identificado e em processo de estudo pelo Prof. Flávio Pinho) e o quotidiano do Clube Académico. Para aguçar um pouco o apetite aos amantes da pesquisa, a AAC foi uma agremiação estudantil inteiramente fundada de novo em 1887 pelos republicanos António Luís Gomes/Guilherme Moreira? Resultou de simples revisão dos estatutos da velha Academia Dramática conforme se escreveu e aceitou acriticamente desde 1887? Para além do choque ideológico entre o pendor pró-monárquico do Clube Académico e as tendências pró-republicanas da Associação Académica, que diferenças de fundo se poderão assinalar nessa 2ª metade do século XIX entre as duas colectividades estudanto-juvenis?
Quase a meio da Rua Larga pode identificar-se o Colégio de São Boaventura, em castanho escuro, onde se tornou necessário delimitar o claustro. Este edifício funcionou como escola primária, Prisão Académica (1855...) e Instituto de Antropologia (desde 1911). Seria demolido em 1949 para dar lugar ao projecto da nova Faculdade de Medicina. O mesmo aconteceria em relação ao Colégio dos Lóios (marcado a preto), gigantesco edifício dotado de claustro, que se espraiava entre a Rua Larga, a Rua dos Lóios e o Largo da Feira dos Estudantes (fachada principal). Até à respectiva demolição serviu de sede à Junta de Província da Beira Litoral, Governo Civil (1843-1943), Direcção de Finanças, Posto da PSP, Correios, Inspecção Escolar e Bombeiros da Alta. Na falta de melhor espaço, a TAUC esteve sedeada neste colégio pelo ano de 1912. Sucessivamente pensado para nova Faculdade de Letras, Departamento de Física e Química, Governo Civil, sofreria um violento incêndio em 17/11/1943. Demolido em 1944, cedeu lugar à Faculdade de Medicina inaugurada em 29/11/1956.
Do outro lado da Rua Larga, e deficientemente desenhado no mapa, marcámos a cor-de-rosa o rectângulo do Colégio de São Paulo-o-Eremita. Depósito de livros da UC durante décadas, casa mãe do Instituto de Coimbra (=Clube dos Lentes), este colégio preenhe um lugar mítico nas memórias académicas. A AAC ocupou-lhe o rés-do-chão entre 1913-1920 e os restantes pavimentos de 1920 até 1949. A ocupação plena do imóvel é conhecida pela designação de Tomada da Bastilha. O espaço demolido viria a ser aproveitado pelo Departamento de Química e Física da FCTUC.
Descendo em direcção ao Jardim Botânico, um círculo vermelho assinala com exactidão a implantação da Porta da Traição ou da Genicoca. O arco, em forma de ferradura, foi demolido em 1836 a mando da municipalidade. No prosseguimento da Rua da Traição, e bordejando o Jardim Botânico, adivinha-se a silhueta do Colégio/Igreja de São Bento (azul escuro). A igreja, que serviu de sede ao Orfeon Académico e de Ginásio ao Lyceu de Coimbra, viria a ser demolida em 1932. Substancialmente restaurado e remodelado, o Colégio de S. Bento acobertou os liceus de Coimbra, funcionando na actualidade como Instituto de Antropologia.
À frente do Colégio de S. Bento (claustro antigo omisso no desenho), corriam os pilares e arcos do Aqueduto de S. Sebastião e a Ladeira do Castelo (=do Lyceu, Martim de Freitas). Do lado oposto ao flanco norte da Igreja de S. Bento insinuava-se um robusto muro da antiga muralha. Sobre ele se erguia o mal conhecido Colégio dos Militares (lilás), dotado de claustro, que tendo servido de Hospital dos Lázaros, foi sacrificado aos projectos do Departamento de Matemática (17/04/1969) e parte da Praça D. Dinis. Colado ao Colégio dos Militares, um rectângulo a tracejado vermelho indica parte das fundações do Castelo de Coimbra, sobre as quais Pombal indicou a construção do Observatório Astronómico (não construído). Mais metro, menos metro, ali está o colossal D. Dinis.
Passando o Largo do Castelo e o Arco do Castelo (não assinalado), avistam-se o Colégio de S. Jerónimo (amarelo claro) que foi casa mãe dos Hospitais da UC até 1987, o Real Colégio das Artes (cor de laranja), sede do Lyceu de Coimbra e dos Hospitais (obras profundas em 1904), servindo no presente o Departamento de Arquitectura.
A verde claro assinalou-se o Colégio de Jesus, com o templo promovido a Sé Nova pelo Marquês de Pombal. Na sequência da reforma pombalina o edifício recebeu os Hospitais da UC e o Museu de História Natural.
AMNunes

segunda-feira, setembro 18, 2006

ESTÓRIAS À LENTE (6)

XXVIII.

In illo tempore, quando eu ingressei na licenciatura em História da FL/UP, regia a disciplina de Teoria da História e do Conhecimento Histórico um assistente do Grupo de Filosofia que se sabia ser numerário do Opus Dei. Algo tímido e introvertido, era, sem embargo boa pessoa, estudioso, dialogante. Deixou-me boas recordações. Na segunda metade dos anos 70 partiu para Itália, onde se doutorou e ordenou sacerdote. Em meados da década de 80 residia em Lisboa. Não tenho notícias dele desde então.
O caso passa-se no ano lectivo de 1968/69. A cadeira em causa era obrigatória tanto em História como em Filosofia. Acresce que a reforma de 1968 a mudara de ano curricular. Consequência inevitável: no ano em questão a turma era monstra, obrigando a que as aulas fossem dadas num anfiteatro, que normalmente enchia. Um dia entra uma aluna atrasada; vestia uma mini-saia bastante mini; já não havia lugares; e ela optou por fazer o mesmo que outros Colegas chegados pouco antes: sentar-se na beira do estrado. Só que, desiquilibrou-se, estatelou-se de lado… e a saia levantou, provocando o inevitável espectáculo… O Dr. S… precipitou-se para ela, mas não lhe perguntou de imediato se se tinha magoado; tratou, isso sim, de lhe pôr logo a saia para baixo…


XXIX.

Esta passa-se na Faculdade de Medicina / UL. O Doutor T…, lente hoje jubilado, doutorou-se em 1969 e prestou provas de concurso para professor extraordinário em 1972. Em ambas ocasiões envergou casaca, traje habitual – e que às vezes ainda se vê – em actos académicos nalgumas Escolas Superiores de Lisboa [1]: Medicina, Direito, pontualmente Letras, Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras [2] / UTL, Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina [3] / UTL
Em finais de 1973 apresentou-se como candidato a uma vaga de professor catedrático. Constituído o júri, foi o candidato admitido a concurso e marcadas as provas para… Julho de 1974…
É claro que, em tal conjuntura, começaram a multiplicar-se na Casa as interrogações sobre a concretização das provas, como é que júri e candidato se apresentariam, etc. O candidato decidiu logo apresentar-se como 5 e 2 anos antes; e quanto ao júri, o assunto não era com ele…

- No dia das provas – contou-me o Doutor T… muitos anos depois – quase todo o júri se apresentou de traje académico; a excepção foi o P…[4], que foi de fato cinzento e lacinho vermelho…


XXX.

In illo tempore, quando eu ingressei na licenciatura em História da FL/UP, havia lá um assistente que efémera carreira fez na Casa: três anos e meio (1966-1969). Muito, muito conservador, traduzia-se isso, por exemplo, no lugar que as Mulheres deviam ter na Sociedade: fadas do lar, pois claro, e quanto a estudar, a Instrução Primária bastaria… Uma vez saiu-se com esta:

- A minha Mulher, coitada, só tem a 4ª classe. Ah, mas faz uns bolinhos de bacalhau !... (e levava o polegar e o iindicador ao lóbulo da orelha, assim acompanhando uma expressão deliciada).

Está claro que isto deu para larachas quantum satis – mormente por ocasião da Queima das Fitas – enquanto o dito assistente lá permaneceu.
No meu 1.º ano, havia uma Colega já casada que chegava frequentmente com 10-15 minutos de atraso à aula das 9 h. E o Dr. R… um dia chamou-lhe a atenção; a aluna justificou-se:

- É que eu estou sem empregada, Sr. Dr., e tenho que arranjar o pequeno-almoço ao meu Marido…

- Ai tem que arranjar o pequeno-almoço ao seu Marido ? Pois olhe que a minha Mulher não se levanta para me arranjar o pequeno-almoço: sou eu que o arranjo ! O meu pequeno-almoço é um iogurte com açúcar ! A Sr.ª impinja um iogurte ao seu Marido e veja se chega a tempo às aulas !...


Armando Luís de Carvalho HOMEM


NOTAS:

[1] E mais ocasionalmente do Porto.
[2] Actual instituto Superior de Economia e Gestão / UTL.
[3] Actual instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas / UTL.
[4] Referia-se a um lente há muito jubilado e de avançada idade, muito amigo-do-coração e, em intervenções televisivas, muito severo nos seus conselhos dietéticos; ultimamente muito fundamentalisticamente anti-tabagista (note-se que não fumo nem nunca fumei); costuma de facto usar laço.

relojes web gratis