sábado, abril 14, 2007

Trajes e Insígnias da Universidade de Pádua

Universidade de Pádua (1)
Laurea h.c. em Engenharia Química do Prof. John Prausnitz, com longa carreira na Univ. de Berkeley (16/04/2004). Veste toga preta, murça aberta, de arminhos, medalha pendente de fita vermelha, pequena romeira preta (funciona como gola da toga) e pouco comum barrete negro quadrangular.
Embora a Univ. de Pádua pertença ao pelotão das mais antigas da Europa, as únicas peças de vestuário (consideradas e usadas como insígnias), verdadeiramente coevas são as murças de peles: a dos lentes doutorados, sempre em arminho branco com rabinhos negros; a do reitor em pelagem castanha. O modelo aberto era mais utilizado pela nobreza italiana (doges de Veneza e outros), sendo a murça "çarrada" (inteiriça, com capuz dorsal) o tipo mais adoptado nas universidades medievais e hierarquias católicas.
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Universidade de Pádua (2)
Laurea h.c. do Prof. Ekmeleddin Ihsanoglu em Filosofia (12712/2006). Natural do Egipto, especialista em História da Literatura do Império Otomano, Ihsanoglu fundou e dirigiu na Fac. de Letras da Univ. de Istambul, Turquia, o Departamento de História da Ciência.
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Universidade de Pádua (3)
Laurea h.c. do Prof. da Univ. de Kioto, Japão, Koichi Tanaka, em Medicina e Cirurgia (30/11/2006). Momento da ssinatura do livro de actos, acompanhado pelo reitor. A fotografia permite visualizar o barrete quadrangular, cujos rebordos superiores são marcados por quatro exóticos dorsais. Parece trata-se de um caso único, ou pelo menos pouco frequente, no contexto italiano e europeu.
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Universidade de Pádua (4)
Laurea h.c. de Samuel Pisar em Direito da Integração Europeia (toga preto-roxa). Jurista oriundo da Polónia, Pisar é acompanhado pelo Pró-Reitor Giuseppe Zaccaria (06/06/2006).
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Universidade de Pádua (5)
Laurea h.c. do Prof. Carlo Morelli em Ciências Geológicas (toga preto-verde), realizada em 03/12/2004.
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Universidade de Pádua (6)
Laurea h.c. de Willem Levelt pela Fac. de Psicologia (toga preto-róseo), em 03/12/2004, originariamente formado pela Univ. de Leiden. Levelt é acompanhado pelo Magnífico Reitor Vincenzo Milanesi, com murça de pelagem castanha.
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Universidade de Pádua (7)
Laurea h.c. de Arvid Carlsson em Medicina Cirúrgica: toga talar preto-vermelha, complementada com barrete, murça de arminhos, romeira preta e medalha peitoral(27/10/2004).
O laureado, formado em Lund, docente de Farmácia de reconhecido mérito em Lund e Gothenburg, faz-se acompanhar pelo Pró-Reitor Guiseppe Zacaria e pela Confraria Goliarda da UPádua.
Fonte: "Università degli Studi di Padova. Lauree Honoris Causa", http://www.unipd.it/.
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Tradições Vestimentárias oriundas do Mundo Bizantino


Fotografia de Durão Barroso como d.h.c. em Ciências Políticas pela Universidade Católica de Milão (18/01/2007?). Registo pormenorizado do "Pileus Quadratus" preto, ornado de pompom vermelho, herdado da tradição greco-bizantina.
Este tipo de barrete já havia sido editado no Blog por Armando de Carvalho Homem, em foto relativa à Universidade de Roma, com data de 15/12/2006.
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Retrato do lente de Medicina e investigador anatomista da Universidade de Pádua Gabrielle Fallopio (1523-1562): toga forrada e debruada a peles castanhas nas bandas e gola; "pileus quadratus" da tradição greco-bizantina.
Fonte: "Museo di Storia della Medicina e della Salute in Padova", http://www.unipd.it/.
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«Kameloukion» consagrado pelo clero cristão ortodoxo da Ásia Menor, particularmente nos espaços afectos a Antioquia e Síria. Retrato do Cardeal Inácio Moussa Daoud, Síria.
Relativamente a estes barretes clericais oriundos da tradição bizantina e ortodoxa oriental, importa precisar que, caso os seus portadores configurem situações de docência ou de láureas honoríficas nas antigas Univs. de Coimbra ou Salamanca, os seus chapéus são considerados com plenos efeitos barretes doutorais.
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Comparação entre o «Kameloukion" grego (variante de copa abaulada, mais próxima do modelo Antioquia/Síria) e o «Klobuk» russo.
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O «Kameloukion» de "estilo grego", ainda usado pelos bispos ortodoxos de tradição oriental-bizantina.
Fonte: "Vestiduras, ornamentos e insignias liturgicas da tradicion bizantina", http://www.geocities.com/pro_ortodoxia/09/bizanti.htm-50k.
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Mosteiro macedónio de Markovi (sécs. XIII-XIV): três nobres bizantinos com o "pileus quadratus", cujo modelo viria a ser consagrado nos tribunais e universidades italianas.
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Mosteiro macedónio de Markovi (sécs. XIII-XIV): nobre bizantino com "Pileus Quadratus" de base cilindriforme e copa quadrada. Parecem não restar dúvidas quanto ao facto de este barrete estar na origem directa da "Beretta Quadrata" usada em universidades e tribunais italianos. Fotos elucidativas dessa herança foram anteriormente ditadas no Blog: Univ. de Pavia, a 13/12/2006, Univ. de Perugia, em 28/12/2006; Armando de Carvalho Homem para a Univ. de Roma, 12/12/2006.
Este e outros tipos de barretes podem ser visualizados no catálogo da casa italiana Manufattura Scaelella/Toghe Accademichi/Beretta, http://www.scaelella.it/.
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Mosteiro macedónio de Markovi: nobre bizantino com "Pileus Rotundus", barrete cilindriforme de copa circular e rebordo saliente (sécs. XIII-XIV). Parecem radicar neste modelo os barretes clericais ortodoxos gregos (Kameloukion) e a "toque" ou "beretta" redonda assinalada em tribunais de Itália, França e Bélgica, nas universidades francesas e belgas, nalgumas instituições germânicas e romenas ("Barrete Bayern"; Univ. Bucareste, fotos editadas no Blog por Armando de Carvalho Homem, 15/01/2007).
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Mosteiro macedónio de Markovi: representação da Virgem Maria com barrete nobiliárquico bizantino de configuração poligonal (sécs. XIII-XIV). A estrutura é a mesma que se conhece para os barretes judiciários de armação rígida, com a 6 a 8 faces e eventuais dorsais+borla, tradicionalmente usados pelos advogados portugueses e espanhóis (oficializado em 1850 como barrete dos bacharéis, licenciados e doutores espanhóis).
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Barrete nobiliárquico cilindriforme (Pileus Rotundus) oriundo do mundo Bizantino. Integra um conjunto de frescos existentes no Mosteiro de Markovi, Macedónia, que se julgam remontar aos séculos XIII-XIV. A semelhança com o barrete cilindriforme franco-italiano, posteriormente consagrado nos mundos nobiliárquico, universitário e judiciário, é inegável.
As repúblicas italianas dos séculos XIV e XV mantiveram próximos e continuados contactos com o Império Bizantino e com a sua cobiçada sumptuária nobiliárquica e clerical ortodoxa. A "toque de gomos", ou "berretta" de tronco liso e guarnecida de tecido "plissettato" e pompom ocorre com alguma frequência na pintura italiana do século XV (retrato de Frederigo da Montefeltro, por Piero della Francesca, frescos assinados por Andrea Mantegna, obras de Filipo Lippi). Uma variante deste barrete, seguramente mais próxima do original medieval, é o Kameloukion preto dos bispos ortodoxos gregos.
Fonte: http://users.stlcc.edu/mfuuller/MonMarkoviMedieval.html-10k.
AMNunes

sexta-feira, abril 13, 2007






Partitura de "Valsa em Sol" de Fernando Xavier, primeira peça do seu livro de partituras "Recordações de Coimbra - Peças para Guitarra".




Capa e prefácios do livro de Fernando Xavier "Recordações de Coimbra - Peças para Guitarra", com dez partituras de outras tantas Guitarradas de Coimbra do autor.
Nunca as ouvi tocadas em guitarra, apenas as ouvi em som MIDI, o que não é, nem por aproximação, o mesmo. Mas mesmo assim achei-as muito interessantes. Fico à espera que alguém as venha a tocar para poder apreciar realmente a sua valia. Brevemente irei colocar neste Blog, com autorização do autor, algumas destas partituras.

quinta-feira, abril 12, 2007

Tradições Musicais do Brasil

Viola Tropeira
Rosto do CD "Ricardo Anastácio. Viola Tropeira", com 20 peças instrumentais interpretadas na técnica do ponteio tradicional e 3 composições cantadas.
Agradecemos ao autor a amabilíssima oferta de três exemplares.
Esperemos que nos próximos anos seja possível realizar em Portugal um encontro de tocadores de violas tradicionais de arame onde Ricardo Anastácio possa exibir ao vivo a sua arte.
***
«No Cd Viola Tropeira o violeiro Ricardo Anastácio gravou vinte ponteados em diversos ritmos : polca, pagode, recortado, toadas e cateretê guaranis. O Cd traz uma homenagem aos violeiros Florêncio, ao grande Bambico, este que fez diversas gravações em que criou várias introduções para Jacó e Jacozinho, Cacique e Pajé e para o mestre Tião Carreiro. Gravou ainda dois "arrasta pé" em homenagem ao sanfoneiro Mario Zan.
O Cd contém também as músicas "Quebra Canoa" e "Choro na Floresta" que participaram das duas edições do Prêmio Syngenta de Viola Instrumental, realizado por Ivan Vilela. E ainda possui também três músicas cantadas.Faixas 12, 19, 23 cantadas. Demais faixas - Instrumentais. E também temos o método de viola, que contém a introdução de de músicas como: Boiadeiro Errante, Pagode em Brasília e Menino da Porteira. Escalas, ponteados, técnica, passo a passo, para iniciante e avançado. O CD Viola Tropeira custa R$18,00+ postagens. O método de estudos custa R$39,00 + postagens.
Abraços do violeiro Ricardo Anastacio. Nosso sítio Viola Tropeira 'gradece' a visita, vamos tentar responder seu e-mail, mande sempre notícias da viola, causos, artistas que mais gosta, o site é seu e da família da viola... inté».
Ricardo Anastácio
Site e contactos:
Ouvir na net os sons das Violas Tradicionais Portuguesas:
-«THESAURUS-VIOLA» (recolhas de Ernesto Veiga de Oliveira, década de 1960)
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quarta-feira, abril 11, 2007

CARLOS COUCEIRO


O GUITARRISTA FILÓSOFO

CONHECI-O EM 1996, NUM MÊS QUE DEDICÁMOS AO FADO NO ALGARVE, EM FARO.
VEIO COM O GRUPO "PORTA FÉRREA". UMA TRUPE GENEROSA, ENCERRAR UM MÊS DE ACTIVIDADES DEDICADAS À "CANÇÃO NACIONAL".
DAÍ PARA CÁ TRAVÁMOS AMIZADE E FUI MUITAS VEZES VISITÁ-LO COM A MINHA BANZA A VILAMOURA.
APRENDI IMENSO COM ELE.
GOSTAVA DE OUVI-LO DISSERTAR SOBRE COIMBRA, A VIDA, O COSMOS (PELA PRIMEIRA VEZ OUVI FALAR NA POLÉMICA TEORIA DAS CORDAS) E DAS SUAS FÁBULAS "DE ESQUERDA" ONDE ME SENTI VINGADO AO OUVI-LO (E DEPOIS LÊ-LO) RECUPERAR A CIGARRA - ENTRE OUTROS BICHINHOS - E PÔR A FORMIGA NO SEU DEVIDO LUGAR!!!
CARLOS COUCEIRO É PARA MIM, QUE OIÇO GUITARRAS DE COIMBRA, HÁ MUITOS ANOS QUEM DE MELHOR INTERPRETA AQUELE "BALANÇO" QUE SÓ MUITOS POUCOS SABEM ARRANCAR AO INSTRUMENTO.
DAQUI, PARA ELE UM BEM HAJA AMIGO E OBRIGADO POR ME TER FRANQUEADO AS PORTAS E OS HORIZONTES DA SUA SÁBIA AMIZADE.

JOSÉ MARIA OLIVEIRA

Carlos Candal e Teresa Portugal falam da crise académica de 1962 no Diário de Coimbra de 24-3-2007


Ricardo Anastácio com a Viola Tropeira, aqui integrado numa Folia do Divino Espírito Santo (SESC Interlagos, sem data).
=§=
No dia 30 de Junho de 2006 fizémos inserir no Blog GuitarradeCoimbra uma pequena notícia sobre violas de arame tradicionalizadas no Brasil, colocando em destaque a actividade desenvolvida pelo tocador e ensinante Ricardo Anastácio.
Também se adiantava nessa breve informação que José Alberto Sardinha, na obra monográfica VIOLA CAMPANIÇA. O OUTRO ALENTEJO, Vila Verde, Tradisom, 2001, Capítulo VI, pp. 79-85, reportara importantes dados que pela primeira vez vieram permitir comparar as violas tradicionais portuguesas de cordas de arame duplas e triplas com as suas irmãs brasileiras.
Ricardo Anastácio responde amavelmente, em correio de 27 de Março de 2007, a uma nossa mensagem. A prospectos de espectáculos e recortes de jornais, junta três discos de oferta. Aqui fica a nossa palavra de agradecimento. Além do disco aqui divulgado, onde constam 23 composiçoes de Ricardo Anastácio, quase todas incidindo em instrumentais ponteados, faremos chegar os outros dois a José Moças e a José Alberto Sardinha, em cujas mãos, por certo, conhecerão a melhor divulgação.
Contactos e informações:
-"Viola Tropeira",
AMNunes


Entrevista a Joel Vasconcelos no Diário de Coimbra de 24-3-2007, dirigida por Patrícia Isabel Silva, com foto de Figueiredo. Como as datas do programa estão imperceptíveis, aqui vão elas. A primeira barra azul indica hoje. Seguem-se: 9, 12, 17 e 25 de Abril; 22 a 26 de Maio; 25 de Agosto; Setembro; 20 de Outubro; 3 de Novembro.

terça-feira, abril 10, 2007

Associação Académica de Coimbra comemora os seus 120 anos. Diário de Coimbra de 24-3-2007, com texto de João Luís Campos.

segunda-feira, abril 09, 2007

Adriano Correia de Oliveira faria hoje 65 anos se a morte o não tivesse surpreendido quando ainda tinha tanto para dar a todos nós. Aqui fica o testemunho de Louzã Henriques, no Diário as Beiras, com texto de Patrícia Cruz Almeida e foto de Luís Carregã.



Aniversário de Adriano

A 9 de Abril de 1942 nasceu no Porto um rapaz a quem deram o nome de Adriano Correia de Oliveira. Cedo foi para a terra dos pais, Avintes, nas margens do Douro.
Fez o Liceu no Porto e, quando o terminou, os pais oferecerem-lhe uma «Guitarra». Em 1959 desembarcou em Coimbra, diz-se, de viola ao ombro para frequentar Direito (legenda e foto remetidas por RUI LOPES).

Estão retratados na imagem Adriano Correia de Oliveira (de pé), Octávio Sérgio (g), António Portugal (g) e Rui Pato (v).

AMNunes

domingo, abril 08, 2007

7 Poemas para Carlos Paredes

As Palavras Possíveis*
É preciso pararmos um momento a ouvir o silêncio. Nesse espaço povoado, teremos de saber marcar encontro com as coisas maiores, vestirmos lenta e suavemente cada uma das palavras escutadas, os sons corporizados de alguns mistérios, a inquietação e a paz do reencontro com as formas mais elevadas da criação artística.
De um lado um poeta, voz contida e atormentada na incessante busca da exactidão, cinzelando, palavra a palavra, em crescimento com e contra o silêncio e as sombras, o poema, corpo definitivo para a vivificante fruição do prazer.
Do outro, uma guitarra geracional e ímpar, corpo intemporal em gritos de um sonambulismo vigil, inquieta respiração do génio que fulgurava na lira de Orfeu.
Humanizados, fundem-se num tempo único a voz do poeta e os acordes multiformes da guitarra, ganham dimensão e elevam-se ao mais alto patamar do refazer ontológico, batem contra o tempo, revelam-se no refinamento solitário e nu, cingidos à própria realidade. É o Homem revelado, messias de todas as esperanças redentoras, porque só os que encontram a Arte podem ser redimidos.
Felizes os que sabem ouvir os choros que pela noite ferem os momentos e ficam sentados à porta do sonho, com a luz em sofrimento , presos dos mistérios e silêncios, a ouvir uma guitarra sobre o pranto.
Não uma guitarra qualquer, um qualquer dedilhar trilhado de melancolias de noites de suor e bafio, de desencontros amorosos, de jogo de cartas marcadas nas esquinas suspeitas da noite.
Mas a outra, a que ganhou um outro corpo e outra voz para subir em noites estelares às janelas de todo o desassossego, a guitarra de Coimbra, com outros olhares, outros sorrisos, pauta multímoda de signos e registos cromáticos projectados contra o tempo e o silêncio, Artur guardando ciosamente o Graal das harmonias universais.
Herdeiro do génio, reinventando todos os possíveis, Carlos, com asas nos dedos, leva definitivamente o ouro e o mistério da criação ao altar supremo da Arte, numa forma singular de nos fazer ouvir a reinvenção da guitarra, corpo onde acordam sonoridades coimbrãs metamorfoseadas em refinamento aristocrático de um universalismo sem tempo e sem lugar.
Desta dinastia dos Paredes, Artur e Carlos, príncipes desse reino poderoso e tangencial ao absoluto da criação, há em Carlos uma voz outra, humaníssima e perscrutadora, que passa de leve nos corredores do sonho para com mãos de semeador chegar ao indizível dos sons, numa celebração de guitarra longínqua que toca por dentro dos muros as palavras esquecidas do Passado.
Quem não souber ouvir essas sonoridades, quem não souber transportá-las para dentro de si e guardá-las em celebração eucarística, ou nunca passou em Coimbra o tempo de todos os encantamentos ou tem a alma fechada à secreta beleza que viaja o interior das coisas superiores e íntimas. Em tal deserto, cairá irremediavelmente condenado ao dissonante vazio de não saber que existe e porque existe.
O que tento dizer-vos, do que vos falo, franzido de terror porque nada ou pouco se sabe dizer do que se sente, é de um objecto rigoroso de criação poética que sobrevive da inteligência e sensibilidade de Carlos Carranca, manifesto poético que parece edificado em meditações jansenistas, que não acolhe porém a mais leve concessão, por isso hipostasia a beleza como categoria estética e nos aproxima, como leitores, do culto particular e silencioso das mais elevadas concelebrações da liturgia sensorial e da meditação ascética:
Pela noite secreta um som nos liberta...
Senhora, nossa senhora Guitarra sedutora!
É a guitarra de Carlos Paredes, canto maternal que nos acolhe e chama, ancoradouro de todas as tormentas, inesgotável seio de todas as fomes, que o poeta nos oferece como quem reza os salmos de um destino português, bordão de peregrino, vidente e nosso, Pascoaes visionário a tanger os mistérios da nossa condição, ser povo e ser universal, com a missão de destinar ao mundo, nos sons impossíveis de um instrumento plebeu, a voz de um país por dedilhar, feito de memórias e viagens, que Carlos Carranca, na exactidão do poema, afastando névoas e esconjurando fantasmas, dimensiona à escala redentora, quinto império da voz de um povo no corpo-coração-encordoado e na boca circular de madrepérola, o braço encimado por uma lágrima de marfim, guitarra cúmplice, guitarra mulher possuída em êxtase murmurante.
Quebradas todas as grilhetas, solta gritos prometaicos que roubam o fogo sagrado da mesa dos deuses, liberta corcéis deprazer ou raiva, ou simplesmente derrama sorrisos tomados de brisas primaveris, também a Liberdade em manifesto gritado aos quatro ventos da utopia, guitarra cravo de Abril a convocar-nos para a festiva soberania do Povo, finalmente senhor do seu destino:
Ó guitarra lusitana!
Ó harpa das loucas correrias!
salgado mar das fantasias...
É a voz do Povo que te chama!
Redentora e fraternal,
és tu quem anuncia
a hora da alegria
de ser de novo
o Povo, o Rei de Portugal.
Sete poemas, um só poema, corpo saído da persistência cinzelada que percorre a poética de Carlos Carranca, palavras exactas no lugar exacto, que ficam dentro de nós e nos aguardam, nos guardam e se demoram para essa experência maior do saber viver e criar em cio, que, no dizer de Rilke, era o caminho a percorrer, o atingível a perseguir. Sete poemas, um poema, a ler e reler incessante, penosamente, porque nada vale a pena se é fácil. Se o belo é o difícil, como diz Platão, saibamos merecê-lo na busca da perfeição que percorre os poemas deste livro.
Figueiredo Sobral não ilustra os poemas. Não é um sublinhar, é um corpo-a-corpo. Anda com eles por dentro dos gestos e avança na harmonia das formas e das cores toda a complementaridade que torna o livro um objecto-manifesto de Beleza.
Descontem e esqueçam tudo o que vos disse. Não vim apresentar um livro. Vim presentear-me e se me permitirem presentear-vos com o gesto despretencioso de apontá-lo.
De um lado o discurso poético, do outro o discurso pictórico. Ligados como uma trança de mulher em sagração de Primavera.
Convido-vos para a valsa lenta que há-de demorar-se em nós como recordação teimosa que o tempo não pode apagar. Ouçam a guitarra desse génio evocado nos poemas, sintam-lhe o corpo apetecível revelado nas pinturas de Figueiredo Sobral.
Leiam e olhem demoradamente. Procurem de novo uma e outra vez. Cada objecto, na sua multiplicidade unificável, será sempre outro e sempre novo. Partilhem os poemas e as pinturas, rosa a rosa, demorem na boca o gosto de ambos, vinho e pão consagrados para a epifania dos sentidos, também para o recolhimento, para a plena fruição deste belo e raro objecto que é o livro-lareira em torno do qual aquecemos hoje as mãos e confortamos as almas, neste fraternal encontro com a Poesia, espectáculo de exactidão.
José Henrique Dias
(professor jubilado da U.N.L. e Presidente do Conselho Científico do Instituto Superior Miguel Torga)
* Na cerimónia da abertura das comemorações dos 25 anos do 25 de Abril (Óbidos – 1999) presidida pelo Senhor Presidente da República Dr. Jorge Sampaio.
Do Blog de Carlos Carranca, Neste lugar sem portas

Cristina Branco está a gravar um disco com temas de José Afonso. O Coro dos Antigos Orfeonistas colaborou em um dos temas. Notícia do Diário de Coimbra de 6-4-2007.

Selo para José Afonso

Caros amigos
O Davide da Costa propôs o tema "José Afonso" para os selos de 2008. Existem outros a concorrer. O do Zeca vai em 10º. Distribuam o link pelos amigos.
Abraço
Miguel Gouveia
Caros amigos.
Vamos Homenagear José Afonso, figura ímpar da cultura portuguesa, que trilhou, desde sempre, um percurso de coerência. Na recusa permanente do caminho mais fácil, da acomodação, no combate ao fascismo salazarento, na denúncia dos oportunistas, dos "vampiros" que destroçaram abril. Para que Zeca Afonso seja un dos 20 temas dos selos de 2008. Votem. O link directo é:
Agradeço a vossa participação e enviem esta mansagem para todos os vossos contactos. É necessário chegarmos aos vinte primeiros. Conto com todos vós ... Passem a todos os vossos contactos. "Venham mais cinco"... Zeca para sempre.
Davide da Costa

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