sábado, abril 22, 2006


O Fado no Alentejo Posted by Picasa
Paulo LIMA, posicionado na esteira de plurímos recolectores e investigadores que pacientemente colectaram amostras da produção poética oral popular, aventurou-se no Alentejo da 2ª metade do século XIX e 1ª metade da centúria de XX em busca de fragmentos do Fado. Encontrou-os, proliferantes, no fado narrativo em décimas produzido localmente ou transladado da literatura de cordel impressa, enquanto forma de construção da identidade e projecto de ilustração cultural do operariado e campesinato local.
Largamente apoiado nos ricos fundos documentais do Centro de Tradições Populares da Universidade de Lisboa (ver prefácio de Maria Aliete Galhoz, pp. 15-17), na releitura crítica das monografias clássicas dedicadas ao Fado, na visitação da imprensa periódica de época, em arquivos municipais e recolhas orais ao vivo junto de protagonistas como Manuel José Santinhos, Paulo Lima assina uma obra que tem tanto de surpreendente como de cientificamente inovadora.
Não sendo um trabalho voltado para os referentes da Galáxia Sonora Coimbrã, a obra de Paulo Lima faculta pistas muito úteis para a contextualização da prática do Fado na Região de Coimbra em desempenhos de figuras como Manuel Alves ("o Cavador", Anadia), Adelino Veiga (Coimbra), Francisco Caetano (Coimbra) e seus irmãos, ou mesmo Rosa do Regimento. Um futuro estudo de fundo, centrado sobre os nomes apontados, permitiria clarificar com maior rigor a produção de dois universos culturais que sendo distintos, permutaram, influenciaram-se e tenderam a confundir-se em determinados contextos: o Fado "propriamente dito" (Afonso de Sousa dixit) e a Canção de Coimbra (vulgarmente rotulada de "Fado de Coimbra").
Lentamente, aliás com exasperante lentidão, começam a vir à tona novos e importantes dados sobre as origens e radicações geográficas do FADO. Se há 110 anos um ilustre e conceituado musicólogo como Ernesto Vieira podia escrever tolices sem contestação, tipo que o Fado nascera em Lisboa e de Lisboa migrara para Coimbra pela mão dos estudantes, hoje ninguém se surpreende ante descobertas que contraditam substancialmente os escritos fadógrafos clássicos.
Mas não foi apenas em Lisboa, Alentejo e Coimbra que o Fado serviu de elemento estruturante da identidade operária e de franjas do campesinato rural. Comparativamente importará estudar a cidade do Porto para a mesma época, da qual pouco ou nada se sabe. Sabe-se, no entanto, que não obstante as manobras de ocultamento intentadas por Alberto Pimentel na sua "A triste canção do sul", de 1904, o Fado era bem conhecido e de longa data praticado na cidade do Porto. No caso de São Miguel, Açores, o Centro de Tradições Populares da Universidade de Lisboa conseguiu recolher importantes textos oriundos daquela ilha, datáveis do 1º quartel do século XX, ilha onde o fado coreográfico também conheceu importante prática com auxílio da Viola da Terra. Sabido isto, não deixam de causar perplexidade dois importantes pormenores correlacionados com esta matéria: a) em 1994 o guitarrista natural da Ilha de São Miguel, José Pracana, organizou na RTP-Açores um longo programa sobre o Fado em São Miguel, tendo convidado para interlocutor José de Almeida Pavão. Almeida Pavão, lente da Universidade dos Açores, com doutoramento feito na área da literatura popular e com ligações científicas aos docentes do Centro de Tradições da Universidade de Lisboa, mostrou-se totalmente amnésico em relação à questão da produção do fado (em particular do fado operário) na Ilha de São Miguel. Por seu turno, José Pracana, limitou-se a acompanhar nesse programa fados com a Guitarra de Fado e nem por um momento lhe ocorreu que deveria convidar um tocador local de Viola da Terra para solar variações sobre fado e acompanhar pelo menos um fado cantado; b) passados 10 anos sobre estes acontecimentos, em 2004, o jornal o "Público" e a editora Corda Seca fizeram sair uma pomposa e muito discutível colecção de discos de fados, projecto que contou com a colaboração iconográfica de José Pracana. Mesmo aceitando que a responsabilidade da selecção sonora não passou pelas mãos de José Pracana, será que o guitarista informou devidamente a equipa promotora para a necessidade de conferir visibilidade à pratica diferenciada do Fado nos Açores? Não escrevo estas palavras de ânimo leve, pois o meu avô materno, Francisco Paulo Martins (1913-1973), cantava melodias de fados vulgarizadas e para elas improvisava "trovas" de sua autoria pelos anos de 1930 a 1950. Na década de 1960 chegou a frequentar os meios fadísticos lisboetas como boieiro da marinha mercante. Em 2005 consegui finalmente arranjar cópia de um caderno manuscrito onde constam alguns dos fados que acabo de referir. Alguém ficará minimamente surpreendido se eu disser que no meio das cantorias estava a letra completa da balada Ultra-Romântica "O Noivado do Sepulcro", peça que inspirou longa genealogia de "fados à campa", também detectada no Alentejo por Paulo Lima, cuja origem não é Lisboa, nem Coimbra, mas sim o Ultra-Romântico Porto da década de 1850?
Paulo Lima transcreve exaustivamente letras, reproduz raros folhetos de cordel que outrora os quiosques e os almocreves vendiam a pataco como alguns que cheguei a conhecer num recanto de gaveta de família com prantos à morte do Rei D. Carlos e as eternas desgraças de Inês de Castro, havendo ainda lugar a dois cds com amostragens sonoras.
Para saber mais: Paulo LIMA, "O Fado Operário no Alentejo. Séculos XIX-XX. O contexto do profanista Manuel José Santinhos", Vila Verde, Tradisom, 2004.
Agradecimentos: José Moças, pela oferta e pelo inovador trabalho
AMNunes


Lamego e a luta contra o cancro. Jantar de solidariedade, no Hotel de Lamego, realizado ontem. Na foto, um ensaio, antes do espectáculo com canções de Coimbra. Cantores: Archer de Carvalho, Henrique Veiga, Napoleão Amorim e Lacerda e Megre; violas: Campos Costa e Aureliano Veloso (pai do Rui Veloso); guitarras: António Moniz e Octávio Sérgio. Posted by Picasa


Lamego e a luta contra o cancro. Jantar de solidariedade, no Hotel de Lamego, realizado ontem. Na foto, um ensaio, antes do espectáculo com canções de Coimbra. Cantam Lacerda e Megre e Archer de Carvalho; violas: Campos Costa e Aureliano Veloso ; guitarras: António Moniz e Octávio Sérgio. Posted by Picasa


Lamego e a luta contra o cancro. Jantar de solidariedade, no Hotel de Lamego, realizado ontem. Na foto, um ensaio, antes do Espectáculo com canções de Coimbra. Canta Henrique Veiga; violas: Campos Costa e Aureliano Veloso; guitarras: António Moniz e Octávio Sérgio. Posted by Picasa


Lamego e a luta contra o cancro. Jantar de solidariedade, no Hotel de Lamego, realizado ontem. Na foto, um ensaio, antes do espectáculo com canções de Coimbra. Canta Napoleão Amorim. Violas: Campos Costa e Aureliano Veloso; guitarras: António Moniz e Octávio Sérgio. Posted by Picasa

quinta-feira, abril 20, 2006

Serenata em Santarém

Caros Amigos e Amigas.
Para quem gosta de Fado de Coimbra, informo que no próximo dia 20 de Maio à noite, haverá a "Serenata Tradicional" em Santarém, organizada pelo Grupo de Fados de Coimbra de Santarém, na escadaria do Seminário (Largo do Seminário), também conhecido por Praça Sá da Bandeira (Largo onde está a Estátua do General Sá da Bandeira).
Este ano, para além de ser a Serenata Tradicional, será também uma homenagem a um dos grandes nomes da Canção de Coimbra dos anos 40 ainda entre nós, o médico Dr. Ângelo de Araújo que escreveu a letra e musicou muitos Fados de Coimbra conhecidos, como por exemplo: Contos Velhinhos d' amor, Suspiro que nasce d'alma, Feiticeira (do Filme "Capas Negras"), entre muitos outros.
Se gostam de Fado de Coimbra não faltem em Santarém dia 20 de Maio à noite.
Rui Moreira Lopes

José Afonso em Matosinhos | 25 de Abril 2006



A AJANORTE (Núcleo do Norte da Associação José Afonso), a Associação 25 de Abril e a Câmara Municipal de Matosinhos vão levar, no 25 de Abril de 2006, JOSÉ AFONSO a MATOSINHOS.
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Programa
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24 ABRIL 21H30
SALÃO NOBRE CÂMARA MUNICIPAL DE MATOSINHOS
CONCERTO: SEGUE-ME À CAPELA (PORTUGAL) DE OUTRA MARGEM (GALIZA)
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25 ABRIL 11 HORAS
CÂMARA MUNICIPAL DE MATOSINHOS
VISITA GUIADA À EXPOSIÇÃO SOBRE JOSÉ AFONSO ORGANIZADA PELA A.J.A, QUE SE MANTERÁ ATÉ 7 DE MAIO.
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21H30
SALÃO NOBRE DA CÂMARA MUNICIPAL DE MATOSINHOS
ACTUAÇÃO DO GRUPO “AJAFORÇA”.
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CONVERSAS SOBRE JOSÉ AFONSO COM:
ALÍPIO DE FREITAS ELFRIEDE ENGELMAYER JORGE RIBEIRO MODERAÇÃO- AJANORTE
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Do Blog da Associação José Afonso Posted by Picasa


Queima em digressão por todo o país. Diário das Beiras de ontem, com texto de Patrícia Cruz Almeida e foto de Lobo. Posted by Picasa

quarta-feira, abril 19, 2006

Canção de Coimbra /Reflexões ( V I )


Legenda da Composição Fotográfica:

Memória /Momentos : “A Canção de Coimbra e o Coro dos Antigos Orfeonistas da U.C. “ Fundado em 1980 por antigos estudantes –Orfeonistas, que então comemoravam o centenário do Orfeon Académico de Coimbra, este Coro nasceu com duas motivações fundamentais: o gosto de cantar e o desejo de reavivar e continuar a cultivar os sentimentos de fraternidade e sã camaradagem que sempre foram apanágio deste Organismo Académico (“espírito orfeónico”).
O projecto cresceu, nos seus desígnios e legítimas ambições, sendo actualmente uma realidade cultural inquestionável na nossa cidade e no Pais. Como corolário natural desta realidade, o “Coro dos Antigos Orfeonistas”, hoje, assume-se e é justamente considerado como um digno e prestigiado “embaixador” da Lusa Atenas, da sua Universidade e das tradições que, no contexto universitário da Europa e do Mundo, enriquecem a sua História, já longa de mais de sete séculos...
A “Canção de Coimbra”, ocupando um lugar de relevo nestas tradições, sempre foi e continua a ser “acarinhada” pelo Coro dos Antigos Orfeonistas que, através do seu Grupo de Fados , assegura a divulgação desta faceta tão característica e prestigiante da música portuguesa, seja em concertos “normais”, seja em Momentos de “charme e/ou Solenidades”como os que são ilustrados pelas fotos : (A) Lisboa ( Palácio de Belém /Presidência da República, ) (1988) ; (B) Viena/Áustria ( Palácio dos Habsburgos, Baile das Debutantes ) (1998) ; (C) New York/U.S.A. (Sede das Nações Unidas -O.N.U.-Despedida do Seccretário Geral, Prof. Freitas do Amaral) (1996) ; (D) Hannover/Alemanha ( Feira Mundial-Dia de Portugal (2000).

José Mesquita*

Canção de Coimbra : “Um modo de cantar”…

Falávamos, no último artigo, de : “matriz ou raiz coimbrã da nossa Canção que ninguém definiu objectivamente…, e ainda bem !...”

Contudo, e apesar da “árdua definibilidade da Canção de Coimbra “ de que, muito acertadamente, fala Armando Carvalho Homem (12), não nos abstemos de referir alguns dos “ingredientes” que, na nossa perspectiva, ( e sublinhamos : na nossa perspectiva e sem quaisquer intuitos “doutrinários” ) contribuem para uma matriz genuinamente Coimbrã . Diremos então que, nesta matriz, pode sobressair a saudade, mas sem saudosismo ; a alegria sadia do canto popular, mas sem tiques de cançonetismo populista ; a melancolia ou mesmo tristeza, mas sem “ nuances” mórbidas ; o espírito de luta, revolta ou crítica social, mas sem agressividades descabidas ou pseudo-revolucionárias ; o dramatismo natural, porque profundamente sentido, mas sem expressões ensaiadas e ridículas; mas, acima de tudo, e acentuamos, acima de tudo, estará o lirismo, o romantismo, portadores de doce enlevo, arrebatamento ou paixão, que ora se alternam ora se conjugam num canto amoroso e “enxuto”, saudavelmente assumido pelo intérprete, e onde, portanto, não caberão eventuais “trejeitos adocicados” ou outras “pirosices” de gosto duvidoso… ou não fosse a influência trovadoresca, uma das mais credíveis na complexa polémica das origens da nossa canção…

– A matriz ou raiz coimbrã será então a pedra basilar em que assenta toda a “Canção de Coimbra”… Nesta matriz, porém, caberão timbres vocais, versões interpretativas e “formas poéticas” muito diferentes umas das outras. A sua riqueza reside precisamente nessa diversidade de expressão a que os intérpretes podem recorrer para exteriorizar emoções, transmitir mensagens, enfim, corporizar no canto os seus “estados de alma”…
Em concordância com esta linha de pensamento, uma vez apreendida a matriz, todas as suas novas expressões, já divulgadas ou que venham a surgir (como consequência natural do dinamismo do meio académico) serão contributos válidos para o enriquecimento da “Galáxia Sonora da Canção Coimbrã”( 12 )… porventura, bem mais meritórios do que repetições monótonas e estéreis ( com ilusórias potencialidades pedagógicas) de “estereótipos”, tantas vezes, apelidados como únicos e legítimos representantes do “genuíno”, do “verdadeiro” fado de Coimbra !...
Saliente-se que há muito defendemos esta visão dinâmica da Canção de Coimbra, pois já em 1983 escrevíamos, em jeito de apelo aos jovens estudantes :…” O futuro da Canção de Coimbra está nas vossas mãos : escutai as antigas melodias para captar as “raízes” e, a partir daí, de “jeans” ou de capa, com guitarra ou viola, dai largas à vossa sensibilidade, deixai “voar” a imaginação na escolha dos poemas ou na criação dos temas musicais e estou certo que a nossa, a vossa canção, não morrerá…” (sic) ( 3 ).
Diga-se ainda que, ao contrário do que por vezes se quer fazer crer, a riqueza interpretativa da Canção de Coimbra que aqui defendemos não é uma “modernice intempestiva”, mas, muito pelo contrário vem de muito longe!... Basta lembrar António Menano e a geração de ouro que se lhe seguiu (anos 20-30), na qual, para além de E. Bettencourt (com características únicas e muito peculiares) sobressaíram Armando Goes, Paradela de Oliveira e Lucas Junot os quais, no dizer do seu companheiro Afonso de Sousa (e confirmado nos registos discográficos que nos chegaram) eram três cantores fortemente personalizados, com timbres e formas de interpretação muito diferentes. Isto, para não falar das vozes abaritonadas de Serrano Baptista e Almeida d’Eça que foram seus contemporâneos e se lhe seguiram. Muitos outros exemplos, mais próximos de nós (anos 50 e 60), ilustrariam igualmente bem esta diversidade de formas de expressão na “Canção de Coimbra”. Pelo seu maior impacto, relembramos apenas três dos maiores vultos da nossa canção na segunda metade do séc. XX – Machado Soares, José Afonso (1.º fase – 1958/1966) e Luís Goes – que produziram música e personificaram interpretações aparentemente tão diferentes umas das outras, mas, simultaneamente, tão próximas na sua matriz de “ sabor Coimbrão”!...
Por isso, em nossa opinião, não há que ter receio da diversidade, da heterodoxia, pois a “matriz da canção coimbrã”, ao longo da sua História, já provou ser suficientemente abrangente para assimilar “propostas”, por vezes, bem diferentes dos modelos ditos tradicionais.
Neste contexto, não consideramos vantajosas, nem sequer saudáveis , para a “nossa canção”, quaisquer atitudes de cariz reducionista tendentes a “entronizar” eventuais paradigmas ou “estigmatizar” outros…Assim, não nos parecem suficientemente fundamentadas as críticas, vindas a lume recentemente, sobre a introdução de novos instrumentos no acompanhamento da “Canção de Coimbra”…Além do mais, nem sequer se trata de um grande “desvio” da tradição, na “vertente académica “ do fado de Coimbra, pois já António Menano o tinha feito há quase um século !...Aliás, estamos convictos de que as novas sonoridades e/ou “ambiências” que esses instrumentos ( desde que criteriosamente seleccionados e utilizados…) poderão vir a proporcionar à “Canção de Coimbra”, serão bem mais determinantes e eficazes na sua almejada renovação, do que a procura “obsessiva” de “soluções musicais” complexas, não raro, claramente desajustadas à “matriz” atrás referida…
A este propósito, parece-nos pertinente referir Ruben de Carvalho ( 13 ) que no seu livro sobre o fado lisboeta escreve, e passamos a citar: “o Fado é, antes de tudo o mais, uma forma de cantar que utiliza um tipo determinado de vocalizações e recursos do canto (trinado, glissando e rubato) para interpretar um texto, improvisando uma melodia (estilar) sobre uma base harmónica fornecida pela guitarra e pela «viola”…Então, as inquestionáveis diferenças entre fados de Lisboa e de Coimbra, não estarão tanto nos temas, nas melodias, nas construções musicais das peças cantadas, mas sim no modo como são cantadas e interpretadas… teremos assim o Modo Lisboa vs Modo Coimbra.

Em suma: a Canção de Coimbra é tão somente um modo de cantar…

Então, para finalizar, uma última questão poderia ser levantada: Quais os pré-requisitos ou condições para captar este “modo de cantar”?! Durante muito tempo pensámos, como tantos outros, que a vivência em Coimbra era absolutamente imprescindível a essa “captação”. Actualmente, porém, sem negarmos o papel positivo desta vivência, pensamos que , com a acentuada mudança da realidade no meio académico coimbrão, a sua influência é, certamente, muito menos decisiva … Correndo o risco, embora, de contrariar a «costela coimbrinha» de quantos, como nós, se sentem sentimentalmente e por vezes acriticamente ligados à nossa cidade e em abono do que consideramos a verdade dos factos, diremos: para “assimilar o espírito do canto coimbrão” não basta viver ou ter vivido em Coimbra … e o inverso também é verdade ou seja: não viver ou não ter vivido em Coimbra não será óbice absoluto a essa capacidade… Na Historia do fado de Coimbra (vertente académica), aliás, não faltam exemplos que apoiam esta asserção, seja na faceta interpretativa, seja na componente poético-literária…
O que importa é não esquecer que o “Fado/Canção” ( seja no “modo-Lisboa”, seja no “modo-Coimbra”) é, antes do mais, a expressão de sensibilidades, a exteriorização de emoções que, por serem subjectivas, serão necessariamente diferentes umas das outras…É esta característica fundamental, esta riqueza emocional, que o individualiza, relativamente a outros géneros musicais, e explica o seu sucesso, cada vez maior, no âmbito da “world music”.

* Cultor da Canção de Coimbra ( canto e composição ).

Bibliografia
(1) In”História do Fado de Coimbra” ( DVD ) estem LOSANGO 2004.
(2) « Diário de Coimbra, 7/6/1999
(3) « Semanário “O Jornal “ ( Supl. Educação ), 12/1983
(4) « Semanário “O Jornal”,8/3/1985
(5) « Expresso ( Única ),nº 1703, 18/6/2005
(6) « Separ./Comissão Municipal de Turismo ( 1981)
(7) «”Diário As Beiras”( 21/9/05 )
(8) «”Diário As Beiras” ( 17/04/2001 )
(9) «”Jornal de Coimbra” ( 21/05/1997 )
(10) «”O Fado do Público,nº7,Fados e Baladas de Coimbra”,Ed.Arte,S.A.
(11) «”Cadernos de Reportagem nº 2, Edições Relógio d’Água,Ltd
(12) «”Coimbra dos Poetas…(duplo Cd/ José Mesquita, dist. Loja da Música /folheto) ( 1999)


Luís Carvalhal Posted by Picasa
Retrato de Luís Abreu de Almeida Carvalhal (1913-1995), opositor ao regime de Salazar, discreta presença na Canção de Coimbra (violão), anónimo protagonista do boicote à exposição pró-mussoliniana promovida pela Faculdade de Letras em 19/05/1939, sócio da TAUC e seu elemento directivo em 1938, 1939 e 1940. Imagem extraída da obra de Luís Carvalhal, "A verdade sobre Humberto Delgado no Brasil", São Paulo, 1986. Luís Carvalhal interrompeu o curso de Histórico-Filosóficas por motivos de serviço militar efectivamente prestado em Cabo Verde durante a 2ª Guerra Mundial. Terminado o curso, trabalhou em colégios particulares de Tomar e Esposende. O envolvimento na campanha presidencial de Norton de Matos e a suspeição de participação em manobras subversivas (verídicas, mas não provadas), estiveram na origem de processos disciplinares que conduziram Luís Carvalhal ao Brasil em 1950. O generoso apoio enconómico e humano prestado a Humberto Delgado rapidamente esfriou ante os tiques castrenses do general e os inconciliáveis diferendos ideológicos. Democrata à maneira britânica, Luís Carvalhal era um anticomunista ardoroso e não aceitava o discurso de emancipação das colónias. A este antigo estudante de Coimbra, embora epidermicamente, se refere Heloísa Paulo em "Aqui também é Portugal. A Colónia Portuguesa do Brasil e o Salazarismo", Coimbra, 2000. Luís Carvalhal visitou Portugal na época da governação de Vasco Gonçalves. Feliz com o 25 de Abril de 1974, o que viu fê-lo regressar desiludido ao Brasil.
AMNunes


Eugénio de Castro Posted by Picasa
Conhecido retrato do poeta e professor Eugénio de Castro e Almeida (Coimbra, 4/03/1869; idem, 17/07/1944), possivelmente realizado em 11 de Maio de 1938, data em que foi alvo de luzidia homenagem na Sala dos Capelos da UC. Enverga Toga professoral francesa, de seda amarela, cinta, Barrete e Epitógio. Castro era diplomado pelo Curso Superior de Letras de Lisboa, instituição que frequentara entre 1885-1888. De 1889 a 1930 integrou o quadro docente da Escola Industrial e Comercial de Avelar Brotero (Coimbra). No ano de 1889 foi oficialmente nomeado Adido à Legação de Portugal em Viena de Áustria, cargo que viria a abandonar poucos anos volvidos, pois em 1894 fixou duradouramente domicílio em Coimbra.
Continuando vinculado ao ensino secundário, o Decreto de 10 de Outubro de 1914 nomeou-o Professor Extraordinário de Língua e Literatura Francesa da Faculdade de Letras da UC, com dispensa de prestação de quaisquer provas científicas. Por Decreto de 13 de Junho de 1916 ascendeu a Professor Ordenário e, no decurso do mesmo ano, a catedrático.
A nomeação de 1914 mereceu alguns remoques locais, com ecos na imprensa, adivinhamos que provenientes de colegas doutorados (escrevemos isto sem provas), e de alunos que se queixaram ao Reitor de então. Castro era apontado como "monárquico" e homem de insignificante "obra científica" (crítica desagradável, contudo verdadeira). Só uma análise detalhada do seu registo biográfico permitiria assacar se na Áustria ou em França arranjara habilitações superiores às adquiridas no Curso Superior de Letras. Tais críticas não impediram que em 1916 recebesse a equiparação a doutor, mediante resolução do Conselho Científico da Faculdade de Letras, pelo que passou a envergar nas cerimónias Hábito Talar reformado e Borla e Capelo. Em 1923 recebeu doutoramento "honoris causa" pela Universidade de Estrasburgo. Num retrato a óleo de 1923, da autoria do pintor Carlos Reis, existente na Faculdade de Letras da UC, posterior à láurea conferida por Estrasburgo, Eugénio de Castro figura de Hábito Talar, Borla e Capelo de Letras, condecorações e Epitógio. Ao longo da sua vida, Eugénio de Castro receberia mais dois doutoramentos "honoris causa": em 1929 pela Universidade de Lyon e em 1934 pela Universidade de Salamanca.
AMNunes

terça-feira, abril 18, 2006

Tema de La Molinaria com Variações

Música original: Giovanni Paisiello (1788)
Variações: João Paulo Pereira
Data: 1ª metade do século XIX
Transcrição: Octávio Sérgio (2006)





















Esta peça para 1ª e 2ª "guitarras inglesas" é constituída pelo tema - extraído de LA MOLINARIA, ou "L'Amor Contrastato", obra composta por Paisiello em 1788 - e sete variações de João Paulo Pereira, autor cuja biografia desconhecemos. Só uma paciente pesquisa nos livros de matrículas da UC nos revelaria se foi ou não estudante. Trata-se de uma peça em compasso 6/8, escrita na tonalidade de Dó maior. Giovanni PAISIELLO nasceu em Taranto, Itália (9/05/1741) e faleceu na cidade de Nápoles (5/06/1816). Foi conhecido em Portugal através de partituras impressas e de peças representadas no Teatro de São Carlos.
O translado, efectuado por Octávio Sérgio a partir da solfa manuscrita existente na BGUC/Secção de Música (M.M. 663), abrange apenas as primeiras 10 folhas. As restante 5 folhas são ocupadas com 8 composições tocadas em Guitarra Inglesa por Jão Paulo Pereira. São "valsas" e "inglesas", explicitando o título da 5ª peça "Filha mal Guardada". A ocorrência destas valsas conduz-nos a situar este manuscrito na 1ª metade do século XIX, mas em data posterior à Revolução Liberal de 1820. Logo que nos seja possível tentaremos dar notícia das restantes composições do manuscrito.
Recolha de António M Nunes.


Variação 1, sobre um tema de Giovanni Paisiello, de João Paulo Pereira. Posted by Picasa


Variação 2, sobre um tema de Giovanni Paisiello, de João Paulo Pereira. Posted by Picasa


Variação 3, sobre um tema de Giovanni Paisiello, de João Paulo Pereira. Posted by Picasa


Variação 4, sobre um tema de Giovanni Paisiello, de João Paulo Pereira. Posted by Picasa


Variação 5, sobre um tema de Giovanni Paisiello, de João Paulo Pereira. Posted by Picasa


Variação 6, sobre um tema de Giovanni Paisiello, de João Paulo Pereira. Posted by Picasa


Variação 7, sobre um tema de Giovanni Paisiello, de João Paulo Pereira. Posted by Picasa


Crise Académica de 1969 Posted by Picasa
Página de abertura do álbum fotográfico comemorativo "Coimbra, 17 de Abril de 1969. A Crise Académica", Coimbra, Edição da Câmara Municipal de Coimbra, 1999. Foi na Academia de Coimbra que mais profunda e duradouramente se fizeram sentir os efeitos do Maio de 1968, das ideologias de esquerda e das utopias libertárias associadas ao sindicalismo estudantil.
Motivo de ira para os simpatizantes do regime de então, legado incómodo aos olhos dos neo-tradicionalistas pós-1974 (afinal a Crise aboliu a praxe, as tradições e a Queima das Fitas), herança orgulhosamente reinvindicada pelo associativismo de esquerda (herança ainda hoje viva nos discursos anti-propinas), a Crise Académica de 1969 pede os seus historiadores e sociólogos.
Na fotografia, destaque para Celso Cruzeiro (advogado em Aveiro, de costas) e Alberto Martins (de pé, com Capa e Batina).
É compreensível que num exercício comparativo entre o parlamentar de hoje e o estudante de ontem os nossos jovens digam que não se trata da mesma pessoa. Diríamos que a verdade está na voz dos jovens amargurados com as poltronas onde se vieram sentar muitos dos ídolos dos sixties. A derrota de Manuel Alegre na pugna presidencial apurada em Janeiro de 2006 representou o canto do cisne das ideologias estudantis coimbrãs onde nidificaram e sonharam para além do tempo muitas gerações. Um tempo, um modo de estar na vida, uma forma de conceber a sociedade e a gestão da "res publica" que chegaram ao fim da pior maneira possível. Manuel Alegre como que soube intuir premonitoriamente um tal desfecho quando em 1999 anteviu duríssima arrogância discursiva na questão da co-incineração da cimenteira de Souselas. Decorridos escassos 6 anos, os professores portugueses, estupefactos, tomaram o gosto do férulo letago do seu eleito "iron maiden" na greve aos exames, corria Junho de 2005. Eram chegados os tempos da ressurreição de velhos estilos, em nome da omnipotente boa razão do Estado, que só a crédula ingenuidade julgava banidos das ribaltas civilizacionais.
Os contestatários de ontem passaram a sacrificar sem pudor à morte do Estado Providência, entronizando o neo-liberalismo mais primário e feroz pregado pelas governações Ronald Regan (1981-1989), Margaret Thatcher (1979-1990), Tony Blair e pseudo cientistas sociais como Charles Murray e Lawrence Mead. Cínicos e serenos, como que fulminados por estranha e oportunista amnésia, aplaudem as demenciais medidas neo-totalitárias de um qualquer "tiranossaurus-esse-covilhanensis" que à direita colhem louvores e nas esferas da velha esquerda provocam sofridas arritmias:
-a impune redução dos elementares direitos dos trabalhadores;
-a crescente usurpação de competências parlamentares por via da emissão de proclamações do Conselho de Ministros e de sinistros despachos urgentes provindos de gabinetes ministeriais e de secretários de Estado, mediante os quais se derrogam por tempo indeterminado as leis constitucionais;
-o prolongado e incómodo silêncio do Parlamento e do Tribunal Constitucional perante a suspensão por tempo indeterminado dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos;
-a campanha estatal de culpabilização dos funcionários públicos por todos as maleitas orçamentais, num país onde o estigmatizado judeu de outrora apenas muda de nome, para manifesto gáudio de todos os portugueses malsinantes que invejam e odeiam quem recebe o subsídio de férias ou ou 13º mês;
-a passiva desculpabilização de todos os ex-ministros e ex-secretários de Estado que tendo sido directamente responsáveis pela situação calamitosa que se vive em muitos dos serviços públicos, não só não são responsabilizados, como ocupam tranquilamente mandarinatos que são vistos como "prémios" pelas "altas funções desempenhadas";
-o regresso das liturgias demagógicas centradas na figura do 1º ministro, que em vez dos palcos de Nuremberga se serve das televisões e da tribuna parlamentar;
-a progressiva diabolização das greves e dos funcionários públicos grevistas;
-a invenção arbitrária e ilegal de um novo conceito de "serviços mínimos";
-a insidiosa campanha de desacreditação e desmantelamento das forças sindicais;
-o assassino descrédito e o supremo desprezo com que se fulminam todos os argumentos das oposições democráticas (partidárias, sindicais, associativas, cívicas), rotulados de inúteis, ou de menor valia, com base numa retórica autofágica exercida no pior estilo dos déspotas esclarecidos de antanho;
-a sibilina manipulação de certa comunicação social que, acriticamente alinhada pela cruzada política do momento, serve de instrumento de aclamação e legitimação das medidas apresentadas como as "únicas" possíveis;
-o perigoso e anticonstitucional primado do Executivo sobre os restantes poderes de Estado;
- a redução do serviço nacional de saúde num país onde há 30 anos as pessoas nasciam e morriam em casa;
-a pregação fanática da "tolerância zero" contra os professores, juizes, médicos e polícias, com correlativa instauração de trabalhos forçados gratuitos em prol da comunidade, ameaços de processos disciplinares e congelamento de progressão nas carreiras;
-o retorno do Estado Forte no estilo Pombal/Salazar;
-a ressurreição das inquietantes razões do primeiro ministro (os "Fuhrerprinzip" de 2/08/1934);
-vigilância informatizada dos cidadãos, vendida como admirável progresso tecnológico;
-a leviatânica concentração de poderes nas mãos do Ministro das Finanças, típica de um país que continua a esperar o seu messias político;
-o irracional e parolo apelo à mística da união da população em torno da chefatura messiânica de um líder omnisciente e autoproclamado capaz de salvar o país da crise económica, cujo apostolado tem sido acriticamente desempenhado por jornalistas e opinion-makers que confundem a sua profissão com a de pastores de uma qualquer seita conservadora norte-americana;
-a abusiva invocação da necessidade do sacrifício nacional, velho preceito judaico-cristão tão caro aos portugueses durante séculos, lançada sobre milhares de descendentes de emigrantes sacrificados no Brasil, França e EUA, os retornados de África e os filhos de camponeses analfabetos que há cerca de 30 anos viviam em condição de servidão agrícola e se confundiam com o gado e o estrume;
-a desonesta e sistemática campanha de promoção de valores autoritários, realizada por jornalistas coniventes com a febre leviatânica, para tanto colocando no topo das figuras da semana dos seus jornais os políticos que reputam de "corajosos";
-a deportação/confinamento forçado de milhares de portugueses por via da extinção de maternidades, deslocação de sedes de escolas primárias e encurralamento dos concursos professorais.
Não nos admiremos se virmos heróis das barricadas sixties a encolherem cinicamente os ombros perante "utopias" que apenas ficam muito bem nos álbuns das recordações. Eles queriam o "poder já" e já o conquistaram. Em nome dos que foram ficando e não se renderam... acode-nos agora aquela palavra tão dita e mil vezes escrita aos fura-greve dos exames de 1969. Os políticos são como as pombas, chegam e partem. Os portugueses ficam e adivinham os insidiosos segredos que navegam na frouxidão dos actos comemorativos. Já conheceram outros filofascistas sobre os quais se abateu a ira de Némesis.
Aqui jaz o "espírito" do 17 de Abril de 1969?
Dedico esta crónica à memória do Dr. Afonso de Sousa, nascido em Maceira, arredores de Leiria, no dia 24 de Junho de 1906, cujo centenário celebramos comovidamente, por estas e por outras legítimas inquietações que ficam sem resposta.
AMNunes

segunda-feira, abril 17, 2006


Retrato de Joaquim Correia Posted by Picasa
Joaquim Manuel Correia nasceu em Ruvina, Sabugal, a 21 de Março de 1858. Formado em Direito no ano de 1888, veio a falecer nas Caldas da Rainha no dia 10 de Outubro de 1945. Destacou-se como advogado no Sabugal e nas Caldas da Rainha. Foi ainda Presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha e Conservador do Registo Civil de Leiria. Distinguiu-se no campo da história local.
AMNunes


A TAUC em desfile Posted by Picasa
Gravura divulgada na "Rua Larga. Revista dos Antigos Estudantes de Coimbra", Nº 27, 1 de Junho de 1959, pág. 199. A Estudantina Universitária de Coimbra, fundada em 1985, instituiu como prática de representação em palco um visual mais próximo deste tipo de arruadas oitocentistas que foram prática comum nos grupos conimbricenses até à entrada da década de 1930. Entre finais do século XIX e o primeiro quartel do século XX tornou-se hábito as tunas sublinharam as suas entradas festivas em determinadas localidades com peças improvisadas de fresco, via de regra dedicadas "às gentis damas de".
AMNunes


Congresso em Coimbra com o tema: "O artista como intelectual. No centenário de Fernando Lopes-Graça". Diário das Beiras de hoje. Posted by Picasa


Luta dos estudantes da Universidade de Coimbra há 37 anos (1). Comunicados da AAC. Posted by Picasa


Luta dos estudantes da Universidade de Coimbra há 37 anos (2). Artigo de Patrícia Cruz Almeida, no Diário das Beiras de hoje. Posted by Picasa


Luta dos estudantes da Universidade de Coimbra há 37 anos (3). Artigo de Patrícia Cruz Almeida, no Diário das Beiras de hoje. Na foto, Manuela Cruzeiro. Posted by Picasa


Luta dos estudantes da Universidade de Coimbra há 37 anos (4). Artigo de Patrícia Cruz Almeida, no Diário das Beiras de hoje. Posted by Picasa

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