sábado, janeiro 27, 2007

A FNAC e o "Fado" de Coimbra em evidência. Notícia do Diário de Coimbra de hoje.

"Novembro 2003
Homenagem ao Professor A. H. de Oliveira Marques
No contexto da jubilação do Professor Doutor A. H. de Oliveira Marques realizaram-se na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em 26 de Novembro, os seguintes eventos:
- Conferência proferida pelo Professor A. H. de Oliveira Marques subordinada ao tema "Rumos da Historiografia Portuguesa".
- Lançamento do livro "Na jubilação Universitária de A. H. de Oliveira Marques", coordenado pelos Professores Maria Helena da Cruz Coelho e Armando Luís de Carvalho Homem.
- Exposição sobre a obra de A. H. de Oliveira Marques.
Estes eventos foram promovidos pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, pela Sociedade Portuguesa de Estudos Medievais e pelo Centro de História da Sociedade da Cultura."
[informação extraída do site do Centro de História da Sociedade e Cultura, Faculdade de Letras da UC, http://www.chsc.uc.pt/agenda/agenda.htm, AMNunes]

A última homenagem pública que A. H. de Oliveira Marques recebeu em vida

1. 2. 3.
4. 5.
Na Biblioteca-Museu República e Resistência: 2006/12/11

1. A. H. de Oliveira Marques: memórias e percursos

Maria Helena da Cruz COELHO
(Lente de História Medieval da FL/UC)

No ano de 1975 ou 1976 eu batia – expressão literal – à porta do Prof. Oliveira Marques da sua casa, na Rua Francisco de Andrade.
Era então Assistente da Faculdade de Letras de Coimbra e não tinha, ao tempo, qualquer Professor Doutorado em História Medieval que me pudesse orientar. Tinha apresentado, em 1971, um tese de licenciatura sobre O Mosteiro de Arouca e nela sentira um gosto muito particular pelo estudo do meio rural em que a instituição se inseria.
Queria, pois, realizar um doutoramento em História rural, tomando como campo de análise uma região no entorno conimbricense, que concretamente veio a ser a espacialidade entre Coimbra e a Foz do Mondego, a conhecida região do Baixo Mondego. Ora o único medievalista português que até àquele ano havia escrito um trabalho de fundo sobre a temática era o Prof. Oliveira Marques, que, em 1962, publicara a História da Agricultura em Portugal.
Com a afoiteza dos meus verdes anos, dirige-me pessoalmente a esse historiador, que até então só conhecia pela leitura. E a porta a que bati abriu-se-me completamente. O Mestre aceitou ser meu orientador e, o tempo o diria, viria a ser mesmo muito mais do que isso, um Amigo.

Pesquisar e reflectir sobre os dados recolhidos nessa investigação para doutoramento foi para mim um tempo feliz. Se eu era trabalhadora e metódica, o Prof. Oliveira Marques ultrapassava qualquer ser humano nessas qualidades. Logo o trabalho ia avançando a ritmo certo e programado. Claro que mais no tempo de investigar e trabalhar os dados, menos no de escrever, que é muito mais lento e subjectivo. Mas justamente quando, como acontece a qualquer um, o espaço dos nossos encontros se alongava, porque surgiam dúvidas sobre a pertinência do que estava a fazer ou a escrita emperrava, aí estava o telefone a tocar. Era o Prof. Oliveira Marques a incutir-me ânimo e a dar-me força.
Tive pois o melhor orientador possível – sabedor do tema que orientava e oferecendo-me todo o estímulo que eu precisava. As nossas sessões de trabalho eram uma alegria. Primeiro trabalhávamos a sério e sem pausa, mas depois, depois vinha o tempo de conversarmos sobre tudo. Não sei o que mais me enriquecia, se o aprofundamento da história rural medieval ou o conhecimento dos meios, dos homens, das vivências que o Prof. tinha adquirido e comigo partilhava. Sempre gostei de conversar, melhor direi, de escutar um bom conversador. Oliveira Marques, na sua assumida urbanidade, sabe, como poucos, transmitir o que pensa e apreende. E assim fui-me aproximando sempre e mais de um Mestre, e admirando um Homem. Mestre que acompanhou todas as provas e concursos da minha carreira universitária até eu chegar em 1991 a Professora Catedrática. Homem que sempre fui considerando pela frontalidade e verticalidade por que pautou a sua vida. Para finalmente ter ganho um Amigo, com quem venho partilhando, os bons e maus momentos, há mais de três décadas.
Por isso foi-me muito grato participar na Homenagem que lhe foi feita em 1982 e mais ainda recebê-lo, no fim da sua carreira, em Coimbra, numa das suas últimas lições, e de ter coordenado, juntamente com o meu Colega Carvalho Homem, a obra Na Jubilação Universitária de A. H. de Oliveira Marques, onde se condensam estudos sobre a sua polifacetada vida e obra.

E depois deste registo mais pessoal, era sobre essa obra, sobremaneira como medievalista, que me queria fixar por uns momentos.
Oliveira Marques foi muito precoce na sua produção científica. E produziu obras maiores fora do tempo. Mas que, depois do tempo, vieram a ser consagradas.
Nomeado 1º Assistente da Faculdade de Letras de Lisboa, a 17 de Outubro de 1960, entregou, a 10 de Maio de 1962, como dissertação, já impressa, a Introdução à História da Agricultura em Portugal. A questão cerealífera durante a Idade Média, para concurso a professor extraordinário, concurso que, por vicissitudes políticas várias, nunca se realizou, acabando mesmo Oliveira Marques por abandonar a Faculdade e a função pública, a 17 de Novembro de 1964, rumando como docente para os Estado Unidos da América.
A História da Agricultura aborda, com detalhe, aspectos da produção, circulação e comercialização dos cereais. Nas condições de produção o estudo trata dos importantes vectores do clima, solo arável e mão-de-obra, nas áreas de produção analisa o solo cultivado, os cereais produzidos e o quantitativo da produção, para nos meios de produção se deter sobre as técnicas agrárias, as formas de propriedade e as formas de exploração agrária e a panificação. A análise da circulação e distribuição interna dos cereais leva o Autor a estudar celeiros e covas, a organização do comércio interno e as vias de comunicação, para depois se fixar na importação e exportação no âmbito do comércio externo e ainda a precisar as técnicas comerciais e os movimentos dos preços e dos consumos. Compreende-se bem que, dada a abrangência e variedade dos temas estudados, esta obra se tenha tornado modelo para os investigadores que à história agrária, e mesmo à história económica, se vieram a dedicar.
Mas o impacto desta magna obra, porque o seu Autor, como se disse, sempre esteve adiantado em relação ao seu tempo, só se sentiu verdadeiramente nas décadas de setenta e oitenta nas teses de doutoramento sobre história rural que então se produziram. E a obra conta actualmente com três edições.
Dois anos depois, em 1964, saía à estampa o estudo A Sociedade em Portugal no séculos XII a XIV, obra que já conhece quatro edições, para além de um tradução inglesa.
O autor demonstrava, nos inícios do seu labor historiográfico, uma inequívoca propensão para a valorização dos temas sociais. Mas Oliveira Marques estava algo só. Verdadeiramente apenas na década de 80, depois de alguns trabalhos mais profundos sobre a clerezia e nobreza, se deu relevo a todas as valências dos diversos estratos que compunham a sociedade medieval portuguesa e se incidiu sobre os aspectos do seu quotidiano de viver, sentir e morrer. Então a obra de Oliveira Marques A Sociedade Medieval Portuguesa torna-se “uma Bíblia”. Não se pode discorrer sobre as funções e os ritmos de trabalho do homem medieval, sobre as suas condições de habitabilidade, higiene ou saúde, sobre as suas manifestações exteriores de vestuário e mesa, sobre os seus afectos e crenças, sobre os seus valores culturais ou distracções ou sobre os seus modos de encarar a morte, sem recorrer a essa obra fundamental. Sempre, assim o cremos, este estudo será uma referência para quem se dedique à história medieval. Esta a característica maior da obra dos grandes Mestres.
Ainda no mesmo ano de 1964 saía a público um outro trabalho de profundo impacto na comunidade historiográfica dos medievistas. Trata-se do Guia do Estudante de História Medieval Portuguesa, já com três edições. Nenhum estudioso do período medieval terá deixado de consultar esta obra, roteiro de fontes e bibliografia, mas também incentivadora da investigação medievística, na proposta de novas sendas de pesquisa e métodos de trabalhos.
Ainda na década de 60 (1965), em que este autor deixou marca maior na historiografia medieval, a par das monografias já referidas, acrescentam-se-lhe ainda estudos fundamentais, constituindo comunicações a congressos ou artigos de revista, que vieram depois a englobar-se na obra Ensaios de História Medieval Portuguesa, abordando-se na maioria dos trabalhos, como era timbre da época, a história económica. Sem esquecer que, entre 1963 e 1971, escrevia mais de oitenta artigos para o Dicionário de História de Portugal, grande parte deles dedicados a temas medievais.

Mas, por contraponto, o saber de Oliveira Marques não fez apenas renovar a história rural mas vivificar igualmente a história urbana. Esta talvez mesmo do maior gosto e interesse deste professor, um citadino por excelência, ainda que não tenha publicado até agora o trabalho de fundo que sempre sonhou, pela muita investigação desenvolvida, sobre Lisboa medieval. Nesta temática prevalecem os seus estudos mais particularizados, primeiro apresentados sob a forma de comunicações e depois reunidos em obra conjunta, o seu magistério e a sua orientação de teses de Mestrado e Doutoramento. Na colectânea Novos Ensaios de História Portuguesa, que me é afectivamente muito cara, pois, em gesto único de um grande Mestre e Amigo, o Autor ma dedicou, reúnem-se onze estudos sobre história urbana.
São artigos produzidos entre 1981 e 1987, período durante o qual Oliveira Marques regia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, no âmbito do Mestrado em História Medieval, o Seminário sobre “Cidades Medievais”, do qual resultaram muitas teses sobre grandes ou pequenas vilas e cidades, bem como um precioso roteiro sobre vários centros urbanos de Portugal. À leccionação de Oliveira Marques nesses Seminários e à sua devotada entrega como orientador científico se ficam a dever dissertações de Mestrado ou Doutoramento que particularizam o tecido urbano de centros como Ponte de Lima, Chaves, Guarda, Aveiro, Tomar, Óbidos, Alenquer, Santarém, Abrantes, Sintra, Setúbal, Évora e Silves. E como fruto desse mesmo Seminário, no ano lectivo de 1986-87, sob a sua coordenação sai a lume o Atlas de Cidades Medievais Portuguesas, que individualiza muitos centros urbanos espalhados pelas Comarcas de Entre Douro e Minho, Trás-os-Montes, Beira, Estremadura, Entre Tejo e Guadiana e Algarve, alcançando mesmo a Madeira. Ainda uma vez mais, e inequivocamente, esta significativa e valiosa produção sobre a história se deve ao pioneirismo e entrega de Oliveira Marques no desbravar de novas facetas do passado medieval.
Do mesmo modo que, consciente de que a história só se pode construir sobre alicerces seguros, no Centro de Investigação que criou naquela mesma Faculdade, o Centro de Estudos Históricos, tem vindo a dirigir uma equipa, a qual com grande empenho e regularidade, publicou já vários volumes de Chancelarias e Cortes Régias, edição de fontes que prestam um relevante serviço a toda a comunidade científica em Portugal e mesmo no estrangeiro.

Mas sem tudo poder abarcar nestas breves palavras, salientemos ainda o espírito de síntese e divulgação de Oliveira Marques.
Este vasto saber condensou-se, de pronto, em amplas sínteses e, no ano de 1972, publicou o primeiro volume de uma História de Portugal, que pretendia dar a conhecer o passado pátrio no estrangeiro, sendo por isso a obra simultaneamente publicada em Lisboa, Londres e Nova York. Obra que marcou um tempo. Nenhuma outra História de Portugal havia saído depois daquela que é conhecida como a História de Portugal de Barcelos. E esta, como sempre límpida na escrita e clara na sua arquitectura, abria-se às temáticas económicas e sociais que então inovavam. Com sucessivos aumentos, pois que de um volume chegou a três, e alcançando mesmo a história do tempo presente, tem já treze edições. Mais, para além da versão inglesa e portuguesa, foi traduzida para francês, japonês, castelhano e polaco. E a partir dela Oliveira Marques elaborou uma Breve História de Portugal que conhece versões em francês, inglês, chinês, romeno, alemão e italiano.
Mas em matéria de sínteses o sonho era mais alto. Entre 1981-82 lança-se no projecto da na publicação da Nova História de Portugal e a Nova História da Expansão Portuguesa. Saíram da primeira oito volumes e da segunda dez volumes. E nos últimos anos muito do seu melhor tempo, do seu contínuo esforço, da sua denodada vontade foram investidos nesta empresa. Amor e dor, alegria e tristeza, lhe têm vindo deste projecto. Mas a obra aí está para servir os historiadores. A Nova História assume-se como uma síntese eminentemente didáctica e informativa, mas também muito actualizada. Face ao desenvolvimento dos diversos campos históricos e a um saber especializado, cada volume tem o seu coordenador e por dentro dele colaboram os investigadores que particularmente se têm dedicado às diferentes temáticas. Mas a superior orientação dos volumes é do Prof. Oliveira Marques. Escreveu sozinho um dos volumes, o quarto, que envolvia os séculos XIV e XV, coordenou outros e escreveu capítulos em muitos mais, por gosto ou por necessidade de suprir faltas.
Estou bem por dentro deste Projecto. Porque muitos dos nossos diálogos decorreram em torno das expectativas e dos desânimos que esta obra carrega. Mais objectivamente coordenei, juntamente com o meu Colega Carvalho Homem, o volume III da Nova História. E sei bem como essa coordenação foi árdua para concertar tempos, limites de páginas e escritas de doze colaboradores, melhor compreendendo o labor geral do Mestre. Mas foi-me muito grato partilhar mais esta vivência com o Prof. Oliveira Marques.

Quem escreve a uma só mão uma História de Portugal, como a que saiu em 1972, domina a história toda. Para além de que o medievalista Oliveira Marques é também o historiador especialista da I República ou da história da maçonaria. Por isso a obra Na Jubilação de Oliveira Marques foi construída na base de análises das diversas linhas fortes da sua vastíssima produção científica.
Na história da história dos séculos a haver o nome de Oliveira Marques ficará para sempre gravado. E a memória histórica de Portugal e dos Portugueses, ontem, como hoje ou amanhã, será conhecida em países europeus como a Espanha, a França, a Inglaterra, a Itália, a Alemanha, a Polónia e a Roménia ou transcontinentais como os Estados Unidos da América e Brasil, onde também ensinou durante alguns anos, e mesmo ainda na China e no Japão, graças ao labor de Oliveira Marques.

Nestas palavras ficaram traços de uma obra. Sobre Oliveira Marques, o cidadão comprometido com a sociedade e a política do seu tempo, a ponto de conhecer o exílio, ou o homem frontal e de vontade firme, apoiante de causas e ideais, outros falarão melhor do que eu.
Mas, acreditem, também todas essas vertentes do seu carácter eu conheço e admiro E até outras mais. Gostos de músicas, de dança e de cinema, gostos de saborear boas iguarias e bebidas, gostos de bem parecer e de bem estar, gostos de viajar, gostos de mimar certos animais…Mas o íntimo e pessoal é de cada um de nós. E esse guardo-os por dentro de mim, como a relíquia de uma dedicatória.
(texto inédito)


2. A. H. de Oliveira Marques, Historiador e Cidadão

Armando Luís de Carvalho HOMEM

- Sr. Director da Biblioteca-Museu República e Resistência

- Sr. Moderador da Mesa
- Sr. Prof. Oliveira Marques
- Srs. Profs. Maria Helena da Cruz Coelho e Fernando de Almeida Catroga, igualmente intervenientes nesta sessão
- Colegas, Amigos, Senhoras e Senhores
:

Repetidamente tenho dito que, não tendo sido, no sentido escolar do termo, aluno de Oliveira Marques, o considero, no entanto, um dos Mestres que tive, um dos grandes responsáveis, além do mais, pela minha opção pela História Medieval quando, há cerca de três décadas e meia, houve que escolher tema para a tese de licenciatura, passo de carreira então existente nas Faculdades de Letras.
Tive o ensejo de frequentar a mais recente daquelas Escolas, a da UP, que na actual fase remonta ao ano lectivo de 1962/63. E acontece que iniciei o meu percurso discente pouco depois de alguns dos mais altamente classificados dos primeiros licenciados da Escola terem nela iniciado funções como Assistentes. Não estava nas tradições daquela juvenil Casa de jovens Mestres qualquer censura bibliográfica: citavam-se estrangeiros de claro perfil ideológico que alhures seria considerado, no mínimo, suspeito, de Marx/Engels a Proudhon, a Max Weber, a Émile Dürkheim ou a Werner Sombart nas Ciências Sociais e de Marc Bloch a Edward R. Palmer, a Earl J. Hamilton, a Georges Lefebvre, a Albert Soboul ou a Jacques Godechot, entre muitos outros, na Historiografia; e entre os nacionais podiam citar-se Mestres assumidamente desafectos ao Regime (caso de Luís de Albuquerque) ou historiadores que nunca foram professores universitários em Portugal (caso de José-Gentil da Silva), ou só mais tarde o vieram a ser (como Joel Serrão) ou então se encontravam ao tempo banidos do Ensino Superior do nosso País (casos de Magalhães Godinho ou de Oliveira Marques). Foi pois assim, Sr.as e Srs., que no ano lectivo de 1969/70 (o 2.º da licenciatura) pela primeira vez ouvi falar de ANTÓNIO HENRIQUE RODRIGO DE OLIVEIRA MARQUES, e logo em duas disciplinas: História Medieval de Portugal e História da Expansão Portuguesa.
A primeira, com esta designação que 1 ano antes substituíra a preexistente História de Portugal I, era ao tempo regida por um S. antigo aluno na FL/UL, que depois não seguiria carreira na Escola, ficando antes conhecido como longevo autarca, concretamente no município da Maia. Refiro-me ao já desaparecido Dr. José Vieira de Carvalho, que, faço questão de salientar, antes dessa sua viragem para a política autárquica foi indiscutivelmente um docente com méritos. Citou-nos o Guia do Estudante de História Medieval Portuguesa (de que corria a 1.ª ed.: 1964), A Sociedade Medieval Portuguesa (também em 1.ª ed. – 1964 – mas aparecendo a 2.ª logo em 1971) e os Ensaios de História Medieval (também em 1.ª ed.: 1965).
A segunda das mencionadas disciplinas tinha dois responsáveis: o Doutor Luís António de Oliveira Ramos – também lic.º pela FL/UL e aí tendo iniciado carreira em 1962 – e o Doutor Eugénio dos Santos; ambos fizeram carreira na Casa, estando o primeiro hoje aposentado depois de, entre outras coisas, ter sido, nos anos 80, Reitor da UP; e o 2.º é o actual decano do Departamento de História e jubilar-se-á dentro de meses. Os 2 incluíam na Bibliografia da disciplina em causa, a recente 2.ª ed. (1968) da Introdução à História da Agricultura em Portugal. A questão cerealífera durante a Idade Média. Posso dizer que, de entre as Obras de Oliveira Marques, foi esta então a mais decisiva em termos de influência exercida: pela simples razão de que, estando eu ao tempo particularmente motivado pela História Económica – sobretudo Rural –, via aquele livro abordar à nossa dimensão problemáticas que, em termos europeus ocidentais, eu encontrava tratados tal como nas Obras de um Marc Bloch, de um Michael M. Postan, de um Bernard H. Slicher van Bath, de um Édouard Perroy, de um Georges Duby, de um Robert Fossier ou de um Guy Fourquin, entre outros que, no mesmo ano, me foram referidos em História da Idade Média.
Acasos de escolha de tema acabaram por me conduzir não à História Rural da nossa Idade Média, mas antes à Diplomática Régia e à História dos Poderes. Mas Oliveira Marques – longos anos regente de Paleografia na FL/UL (1957-1964), autor da entrada «Diplomática» (e outras correlacionadas) do Dicionário de História de Portugal (1963) e co-autor de um Álbum de Paleografia (1987), recorde-se – permaneceu-me como essencial referência da nossa Historiografia. Só o conheci pessoalmente em Maio de 1974, por ocasião de uma conferência sobre Teófilo Braga que foi proferir numa Casa de nobres tradições intelectuais e cívicas como o Ateneu Comercial do Porto. Uma relação cordial se foi estabelecendo e, pela minha parte, de grande admiração, já não só pelo Intelectual, como pelo Cidadão e pela Individualidade, frontal sempre que indispensável: fosse na FL/UL nos anos 50 e 60; na Biblioteca Nacional, de que foi Director, nos idos de 74 e 75; ou na FCSH/UNL, que ajudou a fundar e que em mais de um momento dirigiu, dos anos 70 aos anos 90; para já não falar de inúmeras entrevistas que foi dando ao longo da sua carreira e que em mais que uma circunstância acabaram por ficar registadas em livro.
Para além de tudo isto, Oliveira Marques acabou por estar presente em praticamente todos os passos do meu percurso académico:

a) Foi membro do júri das minhas provas de doutoramento (1985) e arguente da tese;

b) pertenceu ao júri do meu concurso para professor associado (1989) e foi relator do CV;

c) esteve no júri das minhas provas de agregação (1994) e arguiu o meu currículo;

d) e apenas ponderosas razões de saúde o impediram de integrar, em 1997/ 98, o júri do meu concurso para professor catedrático.

Da admiração de um jovem estudante e depois assistente por um Mestre consagrado se foi evoluindo para a estima recíproca entre dois oficiais do mesmo ofício e da mesma família intelectual e cívica, ainda que pertencendo a gerações diferentes: 17 anos nos separam etariamente. Com toda a lógica colaborei nos dois volumes miscelânicos que em 1982 assinalaram os seus 25 anos de vida universitária; e ajudei a coordenar (com Maria Helena Coelho) o livro que em 2003 marcou a sua jubilação e onde, para além do percurso biográfico, se traçou o perfil do medievista, do paleógrafo, diplomatista e coordenador da edição de fontes documentais, do estudioso da nossa Expansão, das relações luso-alemãs, da Maçonaria, da I República, do autor de obras de síntese, do director de realizações colectivas, do Historiador da Historiografia ou, finalmente, do filatelista e estudioso da História da franquia postal; e de salientar que nesta Obra colaboraram dois Colegas espanhóis e um alemão.

Quando conhecemos e admiramos Alguém há bastante tempo – 32 anos, como é o meu caso para com Oliveira Marques –, poderemos às vezes julgar já saber tudo sobre a Pessoa em causa e sobre os seu modus agendi na vida pessoal, profissional e cívica. Mas às vezes surgem surpresas, como quando alguma fonte até então inédita nos confirma o retrato daquele que admiramos mas com umas cores acentuadamente mais intensas. A que quero referir-me ? O lente de Literatura Latina da FL/UL, antigo Reitor da UL (1979-1983) e antigo leader da CAP, deputado e eurodeputado Doutor Raul Miguel Oliveira Rosado Fernandes publicou há meses um volume que intitulou Memórias de um Rústico Erudito. Viagem à volta de lentes, terras e políticos
[1]. Apesar de ideologicamente distante, num sentido acentuadamente conservador, como já veremos, foi – e julgo que continua a ser – Amigo de Oliveira Marques, de quem foi também Colega na FL/UL nas décadas de 50 e de 60 (é alguns anos mais jovem); e refere-se-lhe com muita simpatia:

«Fui colega (…) de Oliveira Marques, discípulo de Kellenbenz, então em Würzburg, e que, como historiador medieval, abriu muitos caminhos para a compreensão da historiografia portuguesa. Fora sempre extremamente dotado, primeiro em Filatelia, imagine-se !; era metódico, com as ideias arrumadas e tinha uma capacidade de análise que, quando longe da paixão ideológica ou corporativo-maçónica [sic], era de uma imparcialidade digna de respeito. Veio a ser vítima das más vontades que se levantaram à sua volta, que lhe espiolharam a vida privada, e que por motivos ditos políticos, o levaram a ter de ir ensinar para Auburn, no Alabama» [fim de citação] [2].

Ora, tal como Oliveira Marques, também Rosado Fernandes, anos depois, em 1968, já doutorado, teve um grave dissabor profissional que lhe ditaria uma interrupção de 4 anos de exercício na FL/UL. No ano em causa, ao regressar de uma estadia de 3 anos como professor visitante numa Universidade norte-americana, nos termos de um protocolo que envolveu a dita Universidade, a UL e a Gulbenkian, e depois de ver a pessoa de quem academicamente dependia – um lente de Filologia Clássica que era ao tempo o único catedrático do Grupo em causa daquela Faculdade – começar a não responder às suas cartas, viu rescindido o contrato como 1.º assistente da ALMA MATER, isto por decisão do Conselho Escolar; a justificação do proponente – o lente em causa – era a prolongada ausência do País de Rosado Fernandes, num Grupo com falta de docentes; e quem propôs tal coisa soube aproveitar uma ausência de Lisboa de Orlando Ribeiro e de Lindley Cintra – que supostamente apoiariam a eventual vítima – e da cumplicidade de alguém que não perdoava a Rosado Fernandes a sua solidariedade com Oliveira Marques em 1964
[3]. Espantosamente, o Reitor da UL – um físico de renome – despachou sem mais, sem ouvir o atingido e esquecendo que a Reitoria tinha responsabilidades no ‘crime’, a estadia nos EUA por 3 anos e não por apenas 1, como inicialmente previsto.
Os absurdos da estória não ficam por aqui: o dito lente classicista reclamava-se de laico, desafecto ao Regime vigente e (pasmai, Senhores !) admirador de Afonso Costa !!!! Sem embargo, e independentemente dos seus méritos intelectuais, esteve sempre com as facções mais conservadoras e retrógradas da Universidade portuguesa. E era uma «fera», no trato com alunos e assistentes. Na década de 40 ensinara na FL/UC, de onde regressou em 1952. Não sei o que por lá se terá passado, mas o que sei é que não mais esta Escola o convidou para júris !...
É claro que Rosado Fernandes teve solidariedades: as esperadas de Lindley Cintra e de Orlando Ribeiro (que numa carta de 1967 se refere ao lente classicista como «o Bola de Unto») e também a de Oliveira Marques: numa carta expedida de Gainesville (Florida), onde então ensinava, este último escreveu, em Março de 1968:

«Dizes-me que tencionas lutar… Não o faças ! Em primeiro lugar, não vale a pena. Sempre que um catedrático se alça contra um assistente na Faculdade de Letras de Lisboa e lhe retira a sua “graça e mercê”, o assistente está liquidado e não volta, pelo menos até que o catedrático morra ou se reforme. Exemplos entre muitos: Saraiva contra Nemésio, Godinho contra Heleno, eu contra Rau, Irisalva contra Heleno, Morais Barbosa contra Cintra. Coimbra, se te desse qualquer apoio, seria apenas até determinado limite, porque para eles (como para os de Lisboa) acima de tudo está o respeito total, absoluto, pela hierarquia e pelo status quo. Sobre isso nunca nos devemos enganar» [4].

Como argumentação e como segurança de fundamentação esta passagem é de antologia ! E atenção, Sr.as e Srs., quem escreve não é nenhum veterano rabugento, é um jovem universitário de apenas 34 anos, mas já com 11 de experiência profissional e quase 8 decorridos sobre o seu doutoramento.
Oliveira Marques era assim ! Oliveira Marques é assim ! E «que nunca as mãos lhe doam», mormente pela escrita, neste chamar «os bois pelos nomes» quando as circunstâncias o exigem. A admiração extreme dos seus amigos indefectíveis pode passar também pelo conhecimento de tomadas de posição como esta, face aos «Bolas d'Unto» que continuem a existir nas nossas Universidades e na Vida Intelectual portuguesa em geral.

Muito Obrigado !

Lisboa e Biblioteca-Museu República e Resistência, 11 de Dezembro de 2006

Notas:

[1] Lisboa, Edições Cotovia, 2006.
[2] Op. cit. na n. anterior, p. 87.
[3] Op. cit. nas nn. anteriores, pp. 162-163.
[4] A. H. de Oliveira MARQUES, carta a Raul M. Rosado Fernandes, publ. em Op. cit. nas nn. anteriores, pp. 164-165. «O Bola d'Unto» aposentou-se prematuramente em 1970, por motivos de saúde. Em 1972 a UL abriu concurso para vagas de professor extraordinário de Filologia Clássica. Rosado Fernandes candidatou-se e foi aprovado («…até que o catedrático morra ou se reforme», escrevera Oliveira Marques…). Atingiu a cátedra em Dezembro de 1974. Foi Reitor da UL – o último de nomeação ministerial – de 1979 a 1983. O seu sucessor – o 1.º eleito na UL desde a I República – foi o Doutor José Manuel Gião Toscano Rico (lente de Medicina, Reitor 1983-1986).
(texto inicialmente colocado no blog em 2007/01/03).
Legenda das ilustrações:
1./4. Os volumes da Nova História de Portugal relativos à nossa Idade Média (II./V.) (Lisboa, Presença, 1987/1998).
5. A. H. de Oliveira Marques numa sessão de autógrafos (anos 90).

quinta-feira, janeiro 25, 2007



Esqueleto da cúpula da antiga Faculdade de Letras

Rara e magnífica fotografia de ca. 1930, mostrando o esqueleto da cúpula da Faculdade de Letras, em processo de assentamento sobre o grande vão que hoje é a Sala de Leitura da Biblioteca Geral da UC.

O antigo edifíco da Faculdade de Letras, ou Peneira, sito nos espaços ocupados pela actual Biblioteca Geral (Arqt. Alberto Pessoa, 1950-1956), começou por ser o Novo Teatro e AAC, projecto delineado pelo arquitecto italiano Nicolau Bigaglia nos alvores do século XX.

O edifício do Teatro Académico/AAC chegou a estar em construção entre 1907-1912, com paragens e exasperantes avanços. Em 1912 o Governo da República decidiu entregar o quarteirão à nóvel Faculdade de Letras (fundada em 1911), que se achava provisoriamente instalada no Colégio de São Pedro.

Definitivamente afastado o projecto Teatro/AAC, o arquitecto Augusto de Carvalho da Silva Pinto foi contratado para elaborar a memória do edifício destinado à Faculdade de Letras, cuja construção se arrastou de 1913 a 1932. De acordo com a tradição oral, Silva Pinto praticamente não teria mexido no grande vão central que hoje se mantém como Sala de Leitura da Biblioteca Geral. Destinou-o a Museu da Faculdade de Letras, dando continuidade à grande caixa do Teatro Académico que já vinha do projecto Bigaglia. Vozes há que vão mais longe, pretendendo que Bigaglia tinha respeitado a antiga caixa do Teatro Académico demolido em 1888. Respeito palmo a palmo, não direi. Agora que o vão da Sala de Leitura da BGU tem a configuração do antigo claustro do Teatro Académico, lá isso tem...

O novo edifício da Faculdade de Letras foi estreada em 22/11/1951, enquanto que a "velha" Peneira, após transformação em BGUC, teve galas inaugurais em 19/05/1956.

Fonte: para a cronologia e contextualização, as obras de António José Soares e Nuno Rosmaninho Rolo são imprescindíveis; para a fotografia, veja-se o site do Instituto de Língua e Literatura Portuguesa da Faculdade de Letras da UC/"Histórico", http://www.uc/pt/illp/.

AMNunes

Sarau de Arte (1)
AMNunes

Sarau de Arte (2)
Delido programa de um sarau de arte realizado no dia 02 de Março de 1942 no Teatro Avenida, em favor do Lactário de Nossa Senhora.
Na III parte, correspondente às "variedades", subiram ao palco nomes bem conhecidos da Galáxia Sonora Coimbrã:
-no grupo de Guitarras Hawainas aparecem nomes como Jorge da Cunha Gouveia, Manuel Simões Julião e José Maria Amaral;
-na formação Cow-Boys entraram Jorge da Cunha Gouveia Gouveia e José Maria Amaral;
-em "Fados e Canções" actuaram Jorge da Cunha Gouveia, Manuel Simões Julião, Mário Rosa e José Maria Amaral (g).
Prospecto impresso na Tipografia União, Coimbra, 02/03/1942, 650 exemplares.
AMNunes


Bodas de Diamante do Orfeon
O vasto e ambicioso programa celebrativo dos 75 anos da fundação do Orfeon Académico fez reunir em Coimbra dezenas de antigos estudantes entre 23 de Abril e 31 de Maio de 1955. Dos que participaram na Serenata Monumental na Sé Velha (30/04/1955) ainda estão vivos os violas e o cantor José Henrique Dias.
Afonso de Sousa deu à estampa uma pioneira memória sobre os cultores da CC da Década de Ouro, numa das publicações promovidas pela comissão organizadora.
AMNunes

1º Centenário de Hylario
Cartão-convite da AAEC para a Serenata do 1º Centenário do Nascimento de Augusto Hylario, ralizada no Pátio das Escolas, em 04 de Julho de 1964.
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Sarau do Enterro do Grau
Folha de rosto e verso concebidos por João Amaral, também autor de uma série de postais então comercializados. Trabalho realizado na Imprensa da UC, finais de Maio de 1905.
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Sarau do Enterro do Grau
Programa do Sarau do Enterro do Grau de Bacharel/Queima das Fitas, realizado no Teatro Avenida em 31 de Maio de 1905.
Dos vários momentos do programa destacamos:
-número de guitarradas pelo Grupo de Guitarras de Manuel Alegre, composto por Manuel Ribeiro Alegre (Direito)/Carlos Aráujo da Costa Chaves (Medicina)/João Lopes de Morais Silvano (Direito)/Henrique Luís Dória Corte-Real (Medicina) e Alfredo Adelino de Sá (Direito), com 5 guitarras no palco, tangidas sem acompanhamento algum de violão;
-momento de "fados", com Mário Henriques a cantar o "Fado do Grau", acompanhado à guitarra solo por Alfredo Adelino de Sá;
-actuação burlesca da Charanga Lamoureux, 1ª versão conhecida da Oxestra Pitagórica.
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Universidad del Valle (1)
Doutoramento h. c. de Lonnie Jones na UValle, Guatemala, em 23/07/2005. O Reitor, com insígnias em azul-claro (borla, sobrepeliz e estola) prepara-se para entregar o diploma ao laureado.
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Universidad del Valle (2)
Cerimónia de graduação de alunos recém-formados na UValle, Guatemala, 23/07/2005: o Director/Decano da Faculdade de que é oriundo o aluno, procede à imposição do barrete em presença do Reitor.
Fonte: http://kirika.uvg.edu.gt/.
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Universidad del Valle (3)
Cerimónia de gradução de estudantes em Ciências e Humanidades, Ciências Sociais e Educação e Engenharia, pela UValle, Gautemala, em 23/07/2005.
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Universidad del Valle (4)
Cerimónia de entrega de diplomas aos recém-formados na UV da Guatemala, em 24/03/2006, nas especialidades de Ciências e Humanidades e Ciências Sociais. O aluno de Física, Alvaro Osorio, fala com o Reitor em representação do seu curso. Nesta fotografia, o Reitor exibe uma estola azul-clara, da mesma cor do sobrepeliz e da borla.
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Universidad del Valle (5)
Discurso de Leslie Flores, da Faculdade de Educação, na cerimónia de entrega dos diplomas aos recém-graduados. UV, Guatemala, dia 24/03/2006. O trajo estudantil é em tudo idêntico ao dos lentes. Em termos de insígnias, o sobrepeliz parece simplificado e reforçado por uma fita com medalha pendente.
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Universidad del Valle (6)
Lição inaugural proferida por Fernando Quevedo na UValle, Guatemala, em 27/01/2006.
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Universidad del Valle (7)
Laureados h. c. pela U. Valle, Guatemala, em 27/01/2006. Os laureados envergam togas pretas de mangões, sobrepelizes de base preta com guarnição em vermelho e galões de setim prateado, e barretes poligonais pretos encimados por borla vermelha. O conjunto pode considerar-se equilibrado, na sua mistura de elementos evocativos de raízes ibéricas (o barrete), com outros de sugerência anglo-saxónica/norte-americana (sobrepeliz), encontrando-se muito próximo do consagrado na Universidad Galileo.
A imagem documenta Isabel de Bosch (Educação), Carlos Andrade (Educação), Roberto Goyri (Humanidades), Daniel Reinoso (Ciências Sociais), e Fernando Quevedo (Ciências).
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Honoris para Aznar
Sobrepeliz aberto, mostrando o tecido exterior da murça+capuz dorsal em preto, o debrum e o forro vermelho. Os lentes da Universidad Francisco Marroquín, Guatemala, têm direito ao porte de toga preta com canhões ornados da cor científica nas mangas, cor também aplicável no sobrepeliz.
Relativamente a outras instituições de ensino superior guatemaltecas:
-Universidad de San Carlos de Guatemala, fundada em 1676 (sem resultados);
-Universidad del Valle de Guatemala: iconografia disponível no site http://www.uvg.edu/gt, de que se dará notícia;
-Universidad Galileo: trajo semelhante ao da UValle, em suporte vídeo, http://medialab.galileo.edu/eventoses/;
-Universidad Rafael Landívar: trajo civil, cerimonial laico, protocolo de Estado, http://www.url.edu/gt/.
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Honoris para Aznar
Sobrepeliz adoptado na Universidad Francisco Marroquín, Guatemala, oriundo da tradição universitária anglo-saxónica, popularizado nos EUA e Canadá. Trata-se de uma peça de vestuário medieval, na sua origem remota comum ao povo.
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Honoris para Aznar
"Birrete" preto anglo-saxónico, muito simplificado, com modesta borla, próprio para as cerimónias de entrega de diplomas a recém-graduados na Universidad Francisco Marroquín, Guatemala.
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Honoris para Aznar
Não conseguimos aceder a fotografias do d. h. c. de José María Aznar na Universidad Francisco Marroquín, Guatemala (11/11/2006), instituição fundada em 1971.
O site desta universidade disponibiliza imagens sobre o trajo e insígnias oficiais, de que damos conta.
A fotografia mostra o modelo de toga preta adoptada nas cerimónias de entrega de diplomas a recém-graduados nos diversos cursos. Esta toga, de notória "marca" norte-americana, é acompanhada por sobrepeliz com debruns na cor científica e barrete preto.
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Honoris para Aznar

Fotografia relativa ao d. h. c. de José María Aznar pela Universidad Peruana de Ciências Aplicadas (02/10/2006).

Trajo composto por elementos vestimentários da tradição anglo-saxónica/norte-americana: toga, colar avermelhado (ou sobrepeliz de capuz dorsal?), barrete com borla colhida na tradição eclesiástica e universitária ibérica.

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Honoris para Aznar
O Primeiro Ministro de Espanha iniciou o périplo internacional dos honoris causa. De acordo com os dados disponibilizados pela comunicação social, recebeu em 02/10/2006 o galardão h. c. na Universidad Peruana de Ciências Aplicadas, seguindo-se a laurea h. c. na Universidad de Santiago del Chile (05/10/2006).
A fotografia supra documenta o doutoramento h. c. de José Maria Aznar e Romano Prodi pela Universidade do Sagrado Coração, de Milão, no dia 10/01/2007. São elementos bem visíveis as togas pretas talares; gravatas brancas à sécs. XVII-XVIII em plissado e renda; murças de luxo em arminhos com tufos negros e romeira preta; ao fundo vê-se pelo menos um barrete cilindriforme com galão ouro, comum na Europa Ocidental aos universos judiciário/universitário italiano, francês e belga.
O ar bem disposto de Aznar não esconde os punhos azulados da camisa, cor pouco de acordo com o uniforme adoptado para a solenidade.
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A. H. de Oliveira Marques (1933-2007): no adeus a um Mestre

A Ordem da Liberdade
(condecoração recebida em 1998/10/05, em cerimónia também agraciante de outros estudiosos da República e da ideia republicana: Raul Rego, Manuel Villaverde Cabral e Fernando Catroga; na imagem:
o PR Jorge Sampaio, o PM António Guterres e o Presidente do TC José Manuel Cardoso da Costa (da FD/UC)
No dia do último adeus a Oliveira Marques, aqui deixo uma imagem relativa a dia por certo inesquecível para quem agora parte do nosso convívio.
Obs. - Entre os «sites» com informes actualizados sobre o extinto, vejam-se: http://www.fcsh.unl.pt/sobre/oliveiramarques.asp; e http://oliveira_marques.tripod.com.
Informações e imagem colocadas por Armando Luís de Carvalho HOMEM

Manuel Ribeiro, guitarrista, em Oviedo com dois asturianos e um português. Convida-me a dizer quem é o português, mas não chego lá!. Se alguém souber!...

quarta-feira, janeiro 24, 2007



Carta de Joaquim Pinho, escrita em 1976, ao Presidente da Direcção da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra. Muito do que sugere vem a concretizar-se. Dois anos depois surge o "Primeiro Seminário sobre o Fado de Coimbra", a partir do qual o estado calamitoso em que se encontrava a Canção de Coimbra começa a desanuviar-se.
==/==
Apostila à legenda da Octávio Sérgio: precioso e desconhecido documento este, revelando o Dr. Joaquim Pinho em 06/04/1976 invulgares conhecimentos sobre tradições académicas em geral e Canção de Coimbra em particular. Não consigo tirar a limpo quem exercia a presidência da AAC a esse tempo. Seria António de Oliveira Martins, de Cências, representante da UEC? Clara C. Rocha, de Letras? Ou Henrique José Lopes Fernandes, de Direito, ligado à JS? Que eco poderiam encontrar as originais e pioneiras propostas de Joaquim Pinho junto dos jovens dirigentes associativos, numa conjuntura em que a CC era liminarmente rotulada de "fascista"? As preocupações patrimonialistas patenteadas pelo signatário face à delicada situação do Museu Académico, resultam da vandalização dos fundos e doações que tinha sido recolhidos até 1974? Não conheci, mas falei com académicos que dizem ter visto documentação do Museu Académico vandalizada nos jardins da AAC e objectos transformados em cinzeiros e mictórios.
O Dr. Joaquim Pinho é uma pessoa de grande valor e um apaixonado defensor de tudo quanto se relacione com a CC. Muito antes de o conhecer pessoalmente, já dele ouvira falar pela colaboração documental prestada à Escola Municipal do Chiado. Não sei até que ponto a sua vida familiar e profissional lho permitiriam, mas não deixo de pensar que foi uma pena o Dr. Joaquim Pinho não ter conseguido apoiar as sessões práticas iniciais da Escola Municipal do Chiado com módulos téoricos. E também penso que é uma pena nunca ter publicado nada, pois com o seu muito saber, poderia ajudar as jovens gerações de formandos na superação de velha e crónicas lacunas.
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Em busca de uma imagem: Universidade La Gran Colombia

A Universidade La Gran Colombia, instalada em 1951 e oficializada em 1953, não se tem acanhado da sua "juventude" para demandar a construção de um trajo, insígnias e cerimonial condizente.

Trata-se visivelmente um caso-exemplo de invenção de tradições, conduzido desde 2003 pela Secretaria Geral da UGC e seu representante, Carlos Alberto Pulido Barrantes. Na memória justificativa que suporta a instauração do cerimonial na UGC, Carlos Barrantes intenta um discurso legitimador ancorado nas "togas" romanas e nos exemplos plurisseculares das universidades medievais europeias.

O apelo ao discurso historicista não foi de molde a promover uma aproximação ostensiva da UGC à tradição universitária hispânica, à semelhança do que acontece na Universidade do México. A fotografia supra vinca bem a eclética fusão de elementos da tradição hispânica com outros anglo-saxónicos/universidades norte-americanas.

a) "Latoga", veste talar preta, com mangas largas. A fotografia não possibilita a caracterização;

b) "Muceta", capelo da cor científica, com bainha avivada. Herança salmantina/hispânica evidente;

c)"Birrete", não o hispânico mas o anglo-saxónico, com uma borla franjada, na cor científica;

d) "Beca", faixa de pano na cor científica de cada Faculdade da UGC, dobrada em V sobre o peito. Elemento oriundo da tradição universitária salmantina e conimbricenses (colégios laicos).

Segundo a tradição hispânica, o reitor da UGC tem privilégio de porte de barrete preto.

As cores científicas são as seguintes:

-Direito: vermelho (rojo)

-Arquitectura: cinzento (gris)

-Engenharia Civil: castanho (marrón)

-Ciências da Educação: azul celeste

-Contabilidade/Ciências Económicas (?): azul escuro.

Fontes:

"Universidad La Gran Colombia. Bogotá. Colombia", http://www.ulagrancolombia.edu/co/.

"prueba.gif. Cerimonial y protocolo en La Universidad La Gran Colombia", por Carlos Alberto Pulido Barrantes, http://www.ulagrancolombia.edu.co/.

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Um "manual" de protocolo universitário
D. Francisco Galino Nieto, Chefe de Protocolo na Universidade Complutense de Madrid desde 1984 recebeu o Prémio Internacional de Protocolo 2002*. É autor do livro galardoado Del Protocolo y Cerimonial Universitario y Complutense.
Esta obra de referência ibérica poderá ser adquirida através do site da reitoria da Complutense.
-/-
*Autor referido por Armando Luís de Carvalho Homem em post de 15/12/2006, neste Blog.
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Freis que iam ao estudo
Os "monges brancos", ou cistercienses de São Bernardo, mantiveram em Coimbra um colégio para escolares e lentes. Era o Colégio do Espírito Santo, ou de São Bernardo, na Rua da Sofia, aberto em 1545 e extinto em 1834.
Fonte: retrato de Bernard Clairvaux, por George Andreas Wasshuber (1650-1732), http://en.wikipedia.org/.
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Freis que iam a estudo
Nas imediações do Paço das Escolas houve até 1834 um modesto colégio para escolares e lentes da Província de Santo António de Portugal, ditos Franciscanos Reformados ou Frades Capuchos. Era o Colégio de Santo António da Pedreira, onde posteriormente se fez institucionalizar a Casa de Infância Elysio de Moura. Vê-se hábito talar castanho, da tradição franciscana, meia capa, saco de esmolar. Dentro deste figurino andaria o hábito dos Frades Franciscanos da Observância Recolectos, ou Capuchos, que habitaram o Colégio de Santo António da Estrela (cujos restolhos são o Governo Civil).
O frades capuchos eram figuras de culto no imaginário popular e académico. Cantava-se em Coimbra e no resto do país uma moda algo brejeira sobre estes monges, cuja solfa anda nos cancioneiros desde a 2ª metade do século XIX, o "Frade Capucho". Mas a cantoria não se quedava pelos capuchos, pois são bem conhecidas as solfas de "Freiras de Santa Clara", "Frei Paulino" e "Fradinhos da Graça" (os Eremitas Calçados de Santo Agostinho, ou Gracianos, tiveram seu Colégio de Nossa Senhora da Graça na Rua da Sofia).
Fonte: Ana Assunção, "Costumes Portugueses", 1999, gravura 39.
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Freis que iam ao estudo
Dois carmelitas, um com meia capa castanha, outro em branco pérola, ambos sem coberturas de cabeça.
Fonte: Ana Assunção, "Costumes Portugueses", 1999, gravura 40.
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Freis que iam ao estudo
Monge jeronimita, cuja comunidade implementou na Alta o Colégio de São Jerónimo. Extinto em 1834, serviu os Hospitais da UC até 1987, o Museu Académico, a Faculdade de Letras... túnica talar branca, cíngulo preto, escapulário e capelo pretos, tricórnio e guarda-chuva.
Fonte: Ana Assunção, "Costumes Portugueses", 1999, gravura 31.
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Freis que iam ao estudo
Monge beneditino, de que houve colégio na Alta até 1834.
Fonte: Ana Paula Assunção, "Costumes Portugueses", 1999, fig, 35.
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Freis que iam ao estudo
Figura Nº 17: monge franciscano com hábito talar castanho, cordão amarelo, meia capa, capelo, chapeirão de feltro e saco de esmolar. Os franciscanos tiveram em Coimbra seus colégios para estudantes e lentes. Os do Colégio de São Boaventura, à Rua da Sofia, eram inicialmente os Venturas ou Franciscanos Conventuais da Província de Portugal. Em 1616 sairam para a Alta, dando origem a um novo Colégio na Rua Larga. Vestiam hábito castanho, cingido por cordão de linho cru. O Colégio de São Boaventura da Baixa ficou habitado pelos Pimentas, que vestiam hábito talar preto, apertado com cíngulo amarelo. No Colégio de São Pedro dos Franciscanos Calçados, ou Borras (Rua da Sofia), habitaram os monges da 3ª Ordem Regular, trazendo em usança hábitos pardos;
Figura Nº 18: monge dominicano com hábito talar branco, cíngulo, escapulário branco descendo à meia perna, capa e capelo pretos e avantajado tricórnio (também usado de ordinário pelos lentes da Universidade de Salamanca). Estudantes e lentes da Ordem de São Domingos tiveram o seu colégio da Rua da Sofia, o Colégio de São Tomás de Aquino (actual Palácio da Justiça);
Figura Nº 19: monge carmelita, com hábito talar castanho, cíngulo de couro e rosário pendente, capa, capelo e chapeirão. Estudantes e lentes Carmelitas Calçados tiveram o seu Colégio de Nossa Senhora do Carmo na Rua da Sofia;
Figura Nº 20: monge da Ordem de São Bento, com túnica preta talar de farto plissado e mangões de boca de sino. Complemento de abeiro de feltro negro. Estudantes e lentes beneditinos tiveram o seu colégio na Alta, no espaço que hoje é o Departamento de Antropologia. De todos os hábitos visualizados nesta gravura, o beneditino é o menos completo, faltando-lhe o escapulário e capa. A omissão do escapulário é no mínimo estranha, tanto mais que S. Bento foi o primeiro a instituir o porte desta tira de pano que inicialmente servia de avental de trabalho aos monges ("scapulare propter opera"), com as suas abas peitoral e dorsal de apertar com atilhos.
Fonte: Albert Racinet, "Histoire du Costume", 1888, p. 299, relativa a Portugal.
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terça-feira, janeiro 23, 2007

VERDES SÃO OS CAMPOS
Música: José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (1929-1987)
Letra: mote de autor desconhecido; voltas de Luis Vaz de Camões (ca. 1524-1580)
Origem: Setúbal?
Data: 1970

Verdes são os campos
Da cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De erva vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

(...)
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Verdes são os campos
Da cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Informação complementar:
Canção de melodia singela e agradável efeito auditivo, em compasso quaternário (4/4), originariamente no tom de Fá# Maior, com uma espécie de refrão atípico. Na presente transcrição adopta-se a afinação de Coimbra, ficando a melodia em Lá Bemol Maior.
Uma das versões impressas mais recuada destas redondilhas com voltas e mote alheio, consta da edição de 1598, de Estêvão Lopes.
“Verdes são…” foi gravada por José Afonso em Londres no ano de 1970, nos estúdios Pye Records. Integrou o LP "Traz Outro Amigo Também", ORFEU STAT 055, do ano de 1970, tendo sido o cantor acampanhado em viola de cordas de nylon não por Rui Pato mas por Carlos Correia (Bóris).
Na letra, José Afonso socorre-se de um mote alheio (Verdes são os campos), glosado por Luís de Camões em duas "voltas" de oitavas.
O cantor pouco ou nada altera em termos de mote (quadra) e de 1ª volta. Contudo, nos versos dois e três do mote, moderniza “assi” para “assim” e toma “de” por “da”. Na 2ª volta suprime os primeiros quatros versos (Gados, que pasceis,/Com contentamento,/Vosso mantimento/Não o entendereis), construindo a oitava com os quatro versos finais da 1ª volta.
Após terminar a 2ª oitava, o cantor volta a repetir o texto, mantendo-se dentro da melodia.
Para acabar, canta apenas uma quadra (Isso que comeis), deixando incompleta a 2ª oitava. José Afonso segue uma dicção vincadamente conimbricense, merecendo destaque o dizer "ovêlhas".
Não se conhece notícia de cantores ligados à CC que tenham regravado este espécime, nem de translado em notação impressa. O seu repousado ar de salão como que se adequa a renovados tratamentos e a incursões de meias sopranos, possibilitando diversificações reportoriais. Embora o tema mais conhecido deste disco de 1970 seja “Traz Outro Amigo Também”, popularizado a partir de uma gravação feita ao vivo no Jardim de Santa Cruz de Coimbra em 1983 (com o grupo de António Portugal, disco “Zeca em Coimbra”, Fotosonoro SPA 83), pode considerar-se que o tema “Verdes são…” é a chave de encerramento do Movimento da Balada.
Original disponível no CD "Jose Afonso. Traz Outro Amigo Também", Lisboa, Movieplay, JA 8003, ano de 1996, faixa nº 9, com discutível transcrição da letra em 4 quadras.
Transcrição musical: Octávio Sérgio (2007)
Texto: José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes

Etiquetas:

Artigo sobre Cristina Cruz, saído no suplemento Fim-de-semana do Diário de Coimbra de sábado passado. Foi-me enviado por um amigo, pois não tinha tido conhecimento dele, uma vez que o Diário de Coimbra que me chegou às mãos não trazia o suplemento, o que já não é a primeira vez que acontece. As fotos são de Lobo e o texto de Silva Torres.


Trinitários: a Alta os viu
Monge da Ordem da S. Trindade, numa aguarela de inícios do século XIX: o trajo apresenta algumas variantes, nomeadamente a aplicação da cruz no capelo branco (e não preto). Os sapatos de chinelo guarnecidos de fivela de prata seguem a moda. Destaque para o tricórnio de feltro preto, comum aos jerónimos, dominicanos, monges de São Francisco de Paola e Ingleses de São Patrício.
Enormes abeiros de feltro, entre o preto e o castanho, também eram usados pelos beneditinos, franciscanos, monges de Santo Antão, carmelitas e frades de São Filipe de Nery, mas de figurino distinto do tricórnio.
O estabelecimento dos trinitários em Coimbra teve início no ano de 1555, graças aos bons ofícios de Frei Roque do Espírito Santo. As obras de edificação do colégio arrancaram em 1562, num vasto lote situado entre os colégios de São Paulo-o-Apóstolo, São Pedro e Couraça de Lisboa.
Extinto o colégio em 1834, serviu o edifício fins múltiplos: tribunal judicial da comarca de Coimbra, ginásio académico, sede provisória da AAC, carpintaria de móveis, taberna, albergue de retornados. Em Julho de 2006 a Faculdade de Direito da UC apresentou publicamente um projecto que visa adaptar o arruinado colégio a sede do Tribunal Judicial Universitário Europeu.
Fonte: aguarela de autor desconhecido, in Ana Paula Assunção, "Costumes Portugueses. Aguarelas Inéditas", Lisboa, Livraria Olisipo, 1999, figura 34.
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Trinitários: a Alta os viu

Imagem convencional do fundador, San Giovanni de Matha (1160-1223): a túnica talar branca incorpora mangas e aperta com cinta de couro, do qual pende um rosário; escapulário ornado com cruz distintiva em vermelho/azul; capa preta talar; capelo preto.
Fonte: http://www.trinitari.it/.
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Trinitários: a Alta os viu

Imagem convencional de São Felix de Valois (1127-1212), monge da Ordem da Santíssima Trindade Redentora dos Cativos da Terra Santa. Esta ordem teve o seu Colégio da S. Trindade na Alta, paredes meias com o Colégio de São Pedro e o Pátio das Escolas.

Trajo composto por túnica talar branca, com mangas incorporadas; escapulário de mesma cor, chegando à meia perna; capa preta talar; capelo preto com capuz costal; cruz vermelha e azul cosida no peito da túnica e na capa.

Com este trajo iam os estudantes trinitários aos estudos e os lentes do colégio às aulas, préstitos e cerimónias.

Fonte: http://www.catolicanet.com/.

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segunda-feira, janeiro 22, 2007

O Cerimonial Fúnebre Académico

Apontamentos e Interrogações

Armando Luís de Carvalho HOMEM

A participação no funeral do Doutor Ruy Manuel Côrte-Real de Albuquerque (1933-2007) – ontem à tarde – é a motivação imediata para este breve texto, com alguns dados e bastantes mais questionamentos.

Como é sabido, situações de luto – pessoal, institucional, académico… – traduzem-se imediatamente no quomodo do uso do traje estudantil: a capa passa a ser usada completamente desenrolada, eventualmente fechada com colchete – quando este aí exista [1] – e a batina (casaco de «tailleur» para as Senhoras) será igualmente fechada, encobrindo as bandas de cetim, e presa em cima com um colchete que suponho que aí continua a existir. Ou seja: um estudante trajando enlutadamente não fica muito diferente de um lente em hábito talar (ainda ontem me pude reaperceber disso): como antes de 1910…
Um lente coimbrão de luto enverga pois a sua farpela sem mais adornos; festivas que são, as insígnias não entram aqui [2], como não entram, em geral, em cerimónias religiosas [3]. E se usar luvas, estas podem passar do branco para o preto, como aquando do uso de fraque em cerimónias fúnebres [4]; mas podem manter-se brancas, se o paralelo se fizer em relação à casaca [5].
Lentes de outras U's portuguesas usarão então a toga / beca / hábito / batina / etc. que lhes competir, sem aquilo que normalmente é tido por insígnia e, como tal, festivo: uma medalha pendente de epitógio na cor da especialidade científica. É claro que o traje-base pode ter cores outras: o castanho de Évora; o azul-celeste dos canhões das mangas da U. Beira Interior e da U. Autónoma de Lisboa (UAL); o verde da U. Aveiro; as cores das especialidades científicas do capelo – indissociável aqui do traje-base – do ISCTE; o vermelho dos debruns do traje da U. Portucalense e dos canhões das mangas da U. Moderna, etc. Sem falar no caso dos lentes que usem polícromos hábitos de U's de outros Países, onde se tenham doutorado…

Um lente de Coimbra cujo funeral parta da capela de S. Miguel será aí velado por Colegas em «hábito talar sem insígnias» – com os necessários mutatis mutandis's relativamente aos Mestres de outras Escolas que presentes estejam; terá junto do caixão a sua borla, colocada sobre uma almofada; será esta transportada no saimento pelo dr. mais recente da s. especialidade; e no percurso até ao – e no – cemitério terá acompanhamento de archeiros e possivelmente do bedel da sua Faculdade; e poderá haver oração fúnebre, proferida por um Colega, aqui o mais antigo, o representante institucional da Escola, etc.
De tudo isto, o meu conhecimento directo é limitado: em Janeiro de 1992, em representação do Dep. de História da UAL, a que presidia, pude assistir ao saimento, do Arsenal da Marinha (ao Terreiro do Paço), do Doutor Luís Guilherme Mendonça de Albuquerque (n. 1916); na circunstância – e para além de numerosas individualidades dos meios políticos, culturais e militares – estavam presentes, em hábito talar, o Director da Biblioteca-Geral da UC – Doutor Aníbal Pinto de Castro, que em 1986 sucedera no cargo ao próprio Doutor Albuquerque – e dois ou três lentes de Matemática da FCT/UC, o mais novo dos quais transportou a borla no breve trajecto da capela do Arsenal à viatura funerária. Sei que depois, no cemitério de Sangalhos, estiveram numerosos lentes e estudantes, bem como a guarda de honra dos archeiros; mas isso já não presenciei.
Imagens televisivas retenho ainda de funerais de outros lentes e drs. da UC:

§ Salazar (1970), funeral de Estado com componente académica, sendo orador no cemitério de Vimieiro (Santa Comba Dão) o Doutor Afonso Queiró, Director da FD/UC;
§ Carlos Alberto da Mota Pinto (1985);
§ Paulo Quintela (1987), com oração fúnebre da Doutora Maria Helena Rocha Pereira;
§ Azeredo Perdigão e Vergílio Ferreira (1993 e 1996, respectivamente), drs. h.c. pela UC;
§ Francisco Lucas Pires (1998)…

E nas outras Instituições universitárias ?
Não tenho informações a este respeito no que concerne as U's nascidas no último quartel do século XX. Ainda que pequenas-médias urbes pudessem ser palco de cerimoniais com modelo na UC. Um exemplo vindo de uma outra área profissional mas, para o que aqui interessa, com pontos de contacto: em Viseu, há já algumas décadas, advogados houve acompanhados na sua última viagem pelos Colegas envergando toga… Mas no que às U's diz respeito nada sei de concreto.
Relativamente às U's da primeira metade do século XX:

§ Nada sei relativamente à U. Técnica de Lisboa (1930 ss.) e às Escolas que a precederam e nela se federaram;

§ Na UP, poucos funerais académicos terá havido; ainda assim recordo que os lentes Jayme Rios de Souza (1907-1971) – morto no exercício das funções de Director da FC/UP – e Ruy Luís Gomes (1905-1984) – antigo Reitor e portador do título honorífico de Reitor vitalício – foram velados na Fac. Ciências, no segundo caso em circunstâncias pura e simplesmente laicas; das circunstâncias do primeiro destes casos já não me recordo. Ulteriores tentativas de realização de funerais académicos geraram alguma controvérsia, com resultados particularmente revoltantes em 1989, aquando da morte do Doutor António Cruz (n. 1911), que muito deveria representar para os historiadores portuenses; particularmente polémica foi a posição de um ao tempo ex-Reitor com ALMA MATER na FL/UL, que se opôs frontalmente, com argumentos do tipo:
- Aqui não estamos em Coimbra !...
- Pois não, santinho ! Mas talvez alguma coisa vá mudar num futuro de curto ou médio prazo…

§ Pelo que nos resta a UL.

a) As Facs. Letras e Ciências (1911 ss.), com o 'laicismo' que enformava os preexistentes Curso Superior de Letras e Escola Politécnica, pouco ou nada terão praticado do estilo; e só tardiamente (anos 40 / 50) lá se usarão hábitos talares.

b) Nada sei das Facs. Medicina e Farmácia (1911 ss., a segunda como Escola anexa – 1911/1915 –, Escola Superior – 1915/1921 e 1928/1968 – e Faculdade – 1921/ 1928 e 1968 ss.) .

c) Resta-nos a Fac. Direito. Escola formada com diplomados pela UC, em múltiplos casos por lentes com formatura, licenciatura, doutoramento e concursos até ao topo da carreira, só com lentes inteiramente formados intra-muros a partir do início dos anos 20 (Armindo Monteiro e Marcello Caetano foram os primeiros), natural será que esta Escola tenha mantido múltiplas práticas da ALMA MATER, v.g., e ainda hoje, o uso de hábito talar com borla-e-capelo por parte significativa dos lentes, alguns dos quais de gerações jovens.

E aqui se enquadra o problema dos funerais académicos, e particularmente o do Doutor Ruy de Albuquerque, ontem ocorrido.
Um antecedente particularmente visível ocorrera em 2004, com o funeral do Doutor António Luciano de Sousa Franco, na sequência de um episódio surrealista na lota de Matosinhos, no decurso da campanha eleitoral para as eleições europeias desse ano. O funeral saiu da Basílica da Estrela para o Cemitério dos Prazeres, com transmissão televisiva; acompanhamento a pé por uma multidão onde se destacavam lentes da FD/UL (e, mais pontualmente, de outras U's e Escolas), em traje académico. No cemitério usaram da palavra um representante da Família e o então Reitor da UL, Doutor José Barata Moura. A organização coube ao Presidente interino do CD da FD/UL, o lente de História do Direito Doutor Eduardo Vera-Cruz-Pinto.
O mesmo lente, agora Vice-Presidente do mesmo órgão, repetiu a função. E foi assim:

§ Nos Jerónimos, lugares marcados para: Autoridades (destaque para o PGR, Conselheiro Pinto Monteiro); Familiares; Lentes (peso, naturalmente, da FD/UL e da FD/UC, com presenças pontuais da FL/UL, da FL/UC e da FL/UP; destaque ainda para a presença: dos antigos Reitores da UC e da UL, Doutor Rui de Alarcão e Doutor José Barata Moura, respectivamente; de membros de anteriores equipas reitorais da UL; e do antigo Director da Biblioteca-Geral da UC, Doutor Aníbal Pinto de Castro); Estudantes; junto do féretro a borla doutoral do extinto.

§ Pequenos cortejos dos lentes se formaram à entrada e à saída do templo; no da saída foi a borla transportada pelo decano dos drs. em Direito da UL (e não pelo benjamim, como em Coimbra), Doutor Pedro Soares Martínez.

§ Um dos concelebrantes foi o lente de Filologia Clássica da FL/UL Rev. Doutor Aires Augusto Nascimento.

§ Nos Jerónimos, no termo da missa, um breve elogio académico foi proferido pelo Doutor Jorge Miranda, Presidente do CC da FD/UL.

§ À entrada dos Prazeres, junto à capela central do largo de entrada, intervenção do Reitor da UL, Doutor António Sampaio de Nóvoa.

§ A borla doutoral continuou bem visível, no percurso até ao jazigo da Família.

O que aqui fica – já o disse e repito – é muito mais um conjunto de reflexões, partidas do que tenho observado ao longo de anos, e ontem muito directamente, do que um fazer História ou um ditar de normas protocolares. Outros mais informados do que eu aqui poderão deixar os seus contributos enriquecedores.

NOTAS:

[1] O Código da Praxe da Academia do Porto aboliu há anos os colchetes das capas portuenses. – Má estreia ! – como diria o sr. Afonso da Maia. Imagine-se alguém num funeral em dia de chuva e vento: a ausência de colchetes é um despoletador do voo da capa para longe dos ombros… - Mas está no Código !... – dizia-me há anos um aluno. – Ó homem, nem que estivesse na Constituição ! Os Códigos podem ser alterados de acordo com regras que eles próprios, ou a legislação geral, prevejam. Mais complicado era se estivesse na Bíblia… - redargui eu.
[2] Os convites para celebrações religiosas, fúnebres ou não, na Capela de S. Miguel referem explicitamente: «Hábito: talar sem insígnias». Há uma excepção histórica: o funeral de Sidónio Pais (1918), onde nos surgem imagens de lentes trajando hábito talar com borla-e-capelo. Há quem pense – caso do Doutor Luís Reis Torgal, e com toda a pertinência – que não se trata de lentes de Coimbra – onde trajes e insígnias, suspensos em 1910, só retomarão ca. 1920 –, mas de lentes de Direito da UL, com carreira iniciada (e por vezes levada ao topo) na UC. Mas, e a ser de facto assim, uma interrogação cobra pertinência: será que antes de 1910 se usavam insígnias nos funerais dos lentes da UC (coisa que Sidónio também fora) ?
[3] Não seria coisa algo profana o uso de insígnias doutorais ('laicas') num espaço religioso, de algum modo concorrenciando as alfaias e o vestuário litúrgicos ?
[4] Estou a pensar no funeral de Franco (1975) e no uso de fraque com gravata e luvas pretas pelos dignitários civis do Estado espanhol, imagens essas patentes na série televisiva A Transição (TVE, 1993, com transmissão em Portugal no Canal História da TVCABO em 1999); sobre esta série cf. Armando Luís de Carvalho HOMEM; Maria Isabel N. Miguéns de Carvalho HOMEM, «Utilização (A) de registos fílmicos e testemunhos orais em História do tempo presente. Algumas considerações em torno da série televisiva “A transição” (TVE, 1993)», Anais da UAL/série História, V-VI (2000-2001), pp. 389-404.
[5] Vejam-se as imagens do funeral de Carmona (1951) patentes em [Alberto] Franco NOGUEIRA, História de Portugal – 1933:1974 [vol. apresentado como II Suplemento à História de Portugal, dir. Damião PERES, qualificativo este desaparecido das reeds.], Porto, Livraria Civilização, 1981, p. 160; os civis ostentam condecorações; os oficiais do Exército, de farda cinzenta, também, ainda que com um «fumo» preto no braço esquerdo…


Os repúblicos da Bota Abaixo preparam-se para soprar o bolo do Centenário de 1989. Ao fundo, vê-se o retrato de José Afonso numa das pinturas murais pós-1974. Coincidência curiosa, o Centenário da casa celebra-se a 06 de Fevereiro e José Afonso faleceu a 27 de Fevereiro. O cantor pernoitou várias vezes nesta República nas suas idas a Coimbra pelos inícios da década de 1960. O motivo de capa do LP "Baladas e Canções", Ofir, 1964, mostra José Afonso sentado no interior de um quarto da Bota Abaixo, com viola na mão.
A Bota Abaixo foi a 1ª antiga República da Velha Alta a dignificar o regresso da Canção de Coimbra: no Centenário de 06/02/1988 promoveu uma serenata com as formações Praxis Nova e Tertúlia do Fado de Coimbra.
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