sábado, fevereiro 17, 2007

Músicos mascarados em concerto de Carnaval, segunda-feira, no Pavilhão Centro de Portugal. É a Orquestra Clássica do Centro com o seu maestro Virgílio Caseiro. Texto de Patrícia Cruz Almeida e foto de Luís Carregã no Diário as Beiras de hoje.


O IV Encontro de Responsáveis pelo Protocolo e Cerimonial das Universidades Espanholas

Nos dias 07, 08 e 09 de Abril de 2005 a Universidade de Cantábria (Santander) acolheu o IV encontro de estudiosos e de responsáveis de protocolo universitário em Espanha.
Nas 138 páginas de actas persistem as reflexões sobre temáticas oriundas de encontros anteriores, com a abertura de portas a estudos historiográficos e a especificidades guardadas pelas universidades católicas onde se mantém a figura da autoridade suprema do Cancelário eclesiástico.
A “Questão das Precedências” continua a marcar a ordem do dia, a avaliarmos o espaço concedido aos títulos de algumas comunicações e ao enfoque detalhado no conflito Universidade La Laguna/Governo das Canárias. De acordo com a exposição feita por Javier Rasila, da U. Navarra, o Governo da Comunidade Autónoma das Canárias fez aprovar o Decreto 2002/1997, de 07 de Agosto, mediante o qual afirmava a primazia do Presidente do Governo sobre o Reitor em actos internos da vida universitária como a Abertura Solene ou a Investidura Reitoral. Após corte de relações, a Reitoria da U. La Laguna apresentou queixa junto do contencioso administrativo do Tribunal Superior das Canárias, solicitando a anulação do disposto no diploma regional. Por sentença de 14 de Junho de 2000, o referido órgão judicial declarava nulas as pretensões do Governo Autónomo, decisão que levou o Governo das Canárias a recorrer para o Tribunal Supremo. Em seu acórdão de 05 de Outubro de 2004, o Supremo veio declarar nula a reclamação/pretensão do Governo das Canárias, dada a manifesta falta de respeito pela autonomia da Universidade.
Para o caso português, a Lei das Precedências do Protocolo do Estado Português, Nº 40/2006, de 25 de Agosto, publicada no Diário da República, I Série, Nº 164, de 25/08/2006, não deixa de suscitar reservas quando coloca os Reitores das Universidades em 38º lugar, atrás das Academias, ou comina liminarmente a Presidência de actos académicos solenes ao Presidente da República (1º) e Presidente da Assembleia da República (2º), quando estes se achem presentes, não sendo suficientemente claro se a ausência destas autoridades delega poderes de representação no Primeiro Ministro ou mesmo no Ministro da Educação.
Algumas das disposições presentes no referido diploma geraram protestos dos presidentes de câmaras e Associação Nacional de Municípios Portugueses, manifestamente incomodados com o 49º lugar inicialmente previsto, atrás dos chefes dos gabinetes ministeriais. Na redacção final, os Presidentes de Câmara passaram a figurar em 41º lugar. As universidades públicas e privadas, bem como os policténicos, guardaram mutismo.
No que respeita à Universidade de Coimbra, instituição onde o Reitor concentra desde 1834 os títulos inerentes às funções de Cancelário e de Prelado, e desde 1910 as honras tradicionalmente tributadas ao Chefe de Estado enquanto Protector, não é pacífica a leitura de todos os artigos da Lei Nº 40/2006, de 25 de Agosto, dada a sua índole estatista/centralista.
Conteúdos:
-Bienvenida, por Federico Salcedo, Reitor da U. Cantábria
“Conferência Inaugural: Protocolo y Civilidade en la Idad Moderna”, por Ramón Villanueva, U. Cantabria
“Situación actual del responsable de Protocolo en las plantillas de las Universidades”, por José Andreu, U. Miguel de Elche
“Protocolo y Relaciones Institucionales. Una profesión del siglo XXI”, por Manuela Pinilla, U. Granada, Belén Menasanch, U. Alicant, Celina Campo, U. Cantabria
“Normativa en materia de protocolo en las Universidades”, José Reig, U. Huelva, e Francisca González, U. Córdova
“El mejor reglamento: el que no existe (el sentido común)”, por Joseph Oliveras, U. Oberta de Catalunya
“Formación de Presidencias en Actos Universitários. Supuestos práticos”, por F. Javier Rasilla, U. Navarra
“Precedencia del Presidente del Consejo Social de la Universidad”, por María Villa Sánchez, U. Complutense, e María Tersa Galino Mateos, U. Complutense
“Singularidades del Protocolo en las Universidades de la Iglesia”, pot Salvador Martínez, U. Católica de Santo Antonio de Murcia
“Implicaciones normativas del Código del buen gobierno del Gobierno en protocolo universitário”, por Daniel Blasco, U. Alcalá, e María Dolores Sanz, U. Carlos III
“optimización de tiepos en actos de entrega de distinciones. Aplicación prática de una base de datos”, por Jerónimo Hernández de Castro, U. Salamanca
“Conferencia de clausura. Base para una teoría del protocolo en el siglo XXI”, por María Teresa Alvarado. U. Sevilla
Mesas Coloquio
Conclusiones
Fonte: http://www.protocolouniversitario.ua.es/.
==/==
Anexo
Lei das precedências do Protocolo do Estado Português
(Lei n.º 40/2006, de 25 de Agosto)

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

(…)
Artigo 2.º
Âmbito de aplicação

A presente lei aplica-se em todo o território nacional e nas representações diplomáticas e consulares de Portugal no estrangeiro.
(…)
SECÇÃO II
Precedências
Artigo 7.º
Lista de precedências

Para efeitos protocolares, as altas entidades públicas hierarquizam-se pela ordem seguinte:

1) Presidente da República;

2) Presidente da Assembleia da República;

3) Primeiro-Ministro;

4) Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e Presidente do Tribunal Constitucional;

5) Presidente do Supremo Tribunal Administrativo e Presidente do Tribunal de Contas;

6) Antigos Presidentes da República;

7) Ministros;

8) Presidente ou secretário-geral do maior partido da oposição;

9) Vice-presidentes da Assembleia da República e presidentes dos grupos parlamentares;

10) Procurador-Geral da República;

11) Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas;

12) Provedor de Justiça;

13) Representantes da República para as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira;

14) Presidentes das Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas;

15) Presidentes dos Governos Regionais;

16) Presidentes ou secretários-gerais dos outros partidos com representação na Assembleia da República;

17) Antigos Presidentes da Assembleia da República e antigos Primeiros-Ministros;

18) Conselheiros de Estado;

19) Presidentes das comissões permanentes da Assembleia da República;

20) Secretários e subsecretários de Estado;

21) Chefes dos Estados-Maiores da Armada, do Exército e da Força Aérea;

22) Deputados à Assembleia da República;

23) Deputados ao Parlamento Europeu;

24) Almirantes da Armada e marechais;

25) Chefes da Casa Civil e Militar do Presidente da República;

26) Presidentes do Conselho Económico e Social, da Associação Nacional dos Municípios Portugueses e da Associação Nacional das Freguesias;

27) Governador do Banco de Portugal;

28) Chanceleres das Ordens Honoríficas Portuguesas;

29) Vice-presidente do Conselho Superior da Magistratura;

30) Juízes conselheiros do Tribunal Constitucional;

31) Juízes conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça, do Supremo Tribunal Administrativo e do Tribunal de Contas;

32) Secretários e subsecretários regionais dos Governos das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira;

33) Deputados às Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas;

34) Comandante-geral da Guarda Nacional Republicana e director nacional da Polícia de Segurança Pública;

35) Secretários-gerais da Presidência da República, da Assembleia da República, da Presidência do Conselho de Ministros e do Ministério dos Negócios Estrangeiros;

36) Chefe do Protocolo do Estado;

37) Presidentes dos tribunais da relação e tribunais equiparados, presidentes do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e do Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos, bastonários das ordens e presidentes das associações profissionais de direito público;

38) Presidentes da Academia Portuguesa da História e da Academia das Ciências de Lisboa, reitores das universidades e presidentes dos institutos politécnicos de direito público;

39) Membros dos conselhos das ordens honoríficas portuguesas;

40) Juízes desembargadores dos tribunais da relação e tribunais equiparados e procuradores-gerais-adjuntos, vice-reitores das universidades e vice-presidentes dos institutos politécnicos de direito público;

41) Presidentes das câmaras municipais;

42) Presidentes das assembleias municipais;

43) Governadores civis;

44) Chefes de gabinete do Presidente da República, do Presidente da Assembleia da República e do Primeiro-Ministro;

45) Presidentes, membros e secretários-gerais ou equivalente dos conselhos, conselhos nacionais, conselhos superiores, conselhos de fiscalização, comissões nacionais, altas autoridades, altos-comissários, entidades reguladoras, por ordem de antiguidade da respectiva instituição, directores-gerais e presidentes dos institutos públicos, pela ordem dos respectivos ministérios e dentro destes da respectiva lei orgânica, provedor da Misericórdia de Lisboa e presidente da Cruz Vermelha Portuguesa;

46) Almirantes e oficiais generais com funções de comando, conforme a respectiva hierarquia militar, comandantes operacionais e comandantes de zona militar, zona marítima e zona aérea, das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira;

47) Directores do Instituto de Defesa Nacional e do Instituto de Estudos Superiores Militares, comandantes da Escola Naval, da Academia Militar e da Academia da Força Aérea, almirantes e oficiais generais de 3 e 2 estrelas;

48) Chefes de gabinete dos membros do Governo;

49) Subdirectores-gerais e directores regionais;

50) Juízes de comarca e procuradores da República;

51) Vereadores das câmaras municipais;

52) Assessores, consultores e adjuntos do Presidente da República, do Presidente da Assembleia da República e do Primeiro-Ministro;

53) Presidentes das juntas de freguesia;

54) Membros das assembleias municipais;

55) Presidentes das assembleias de freguesia e membros das juntas e das assembleias de freguesia;

56) Directores de serviço;

57) Chefes de divisão;

58) Assessores e adjuntos dos membros do Governo.

Artigo 8.º
Equiparações

1 - As altas entidades públicas não expressamente mencionadas na lista constante do artigo anterior serão enquadradas nas posições daquelas cujas competências, material e territorial, mais se aproximem.

2 - Aos cônjuges das altas entidades públicas, ou a quem com elas viva em união de facto, desde que convidados para a cerimónia, é atribuído lugar equiparado às mesmas quando estejam a acompanhá-las.

Artigo 9.º
Eleição e antiguidade

1 - Entre as entidades de idêntica posição precede aquela cujo título resultar de eleição popular.

2 - Entre entidades com igual título precede aquela que tiver mais antiguidade no exercício do cargo, salvo se outra regra resultar do disposto na presente lei.

SECÇÃO III
Órgãos de soberania
Artigo 10.º
Presidente da República

1 - O Presidente da República tem precedência absoluta e preside em qualquer cerimónia oficial em que esteja pessoalmente presente, à excepção dos actos realizados na Assembleia da República.

2 - O Presidente da República é substituído, nos termos constitucionais, pelo Presidente da Assembleia da República, que goza então, como Presidente da República interino, do estatuto protocolar do Presidente da República.

3 - Para efeitos da presente lei, o Presidente da República não pode fazer-se representar por ninguém, não gozando, portanto, de precedência sobre entidades mais categorizadas qualquer delegado pessoal dele.

Artigo 11.º
Presidente da Assembleia da República

1 - Na Assembleia da República, o respectivo Presidente preside sempre, mesmo que esteja presente o Presidente da República.

2 - O Presidente da Assembleia da República preside a qualquer cerimónia oficial desde que não esteja pessoalmente presente o Presidente da República, excepto aos actos realizados no Supremo Tribunal de Justiça ou no Tribunal Constitucional.

(…)
Artigo 12.º
Primeiro-Ministro

1 - O Primeiro-Ministro preside àquelas cerimónias oficiais em que não estejam presentes nem o Presidente da República nem o Presidente da Assembleia da República.

2 - O Primeiro-Ministro pode fazer-se representar, na sua ausência ou impedimento, por um ministro da sua escolha, o qual goza então do respectivo estatuto protocolar.

Artigo 13.º
Presidentes do Supremo Tribunal de Justiça e do Tribunal Constitucional

O Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e o Presidente do Tribunal Constitucional presidem sempre nos respectivos tribunais, excepto estando presente o Presidente da República.

Artigo 14.º
Ministros

1 - Os ministros ordenam-se segundo o diploma orgânico do Governo.

2 - Nas cerimónias de natureza diplomática, o Ministro dos Negócios Estrangeiros precede todos os outros.

3 - Nas cerimónias de natureza militar, o Ministro da Defesa Nacional precede todos os outros, salvo nas que respeitem à Guarda Nacional Republicana, em que a precedência cabe ao Ministro da Administração Interna.

4 - Nas cerimónias do âmbito de cada ministério, o respectivo ministro tem a precedência.
(…)

Artigo 24.º
Altos magistrados

Os juízes conselheiros do Tribunal Constitucional, do Supremo Tribunal de Justiça, do Supremo Tribunal Administrativo e do Tribunal de Contas ordenam-se, dentro de cada uma das respectivas instituições, por antiguidade no exercício das funções, precedendo os vice-presidentes.
(…)

SECÇÃO V
Poder local
Artigo 31.º
Presidentes das câmaras municipais

1 - Os presidentes das câmaras municipais, no respectivo concelho, gozam do estatuto protocolar dos ministros.

2 - Os presidentes das câmaras municipais presidem a todos os actos realizados nos paços do concelho ou organizados pela respectiva câmara, excepto se estiverem presentes o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República ou o Primeiro-Ministro, nas Regiões Autónomas, têm ainda precedência o Representante da República, o Presidente da Assembleia Legislativa e o Presidente do Governo Regional.

3 - Em cerimónias nacionais realizadas no respectivo concelho, os presidentes das câmaras municipais seguem imediatamente a posição das entidades com estatuto de ministro e, se mesa houver, nela tomarão lugar, em termos apropriados.

4 - Em cerimónias das Regiões Autónomas realizadas no respectivo concelho, os presidentes das câmaras municipais seguem imediatamente a posição dos secretários regionais e, se mesa houver, nela tomarão lugar, em termos apropriados.
(…)

SECÇÃO VI
Outras entidades
Artigo 34.º
Altas entidades estrangeiras e internacionais

As altas entidades de Estados estrangeiros e de organizações internacionais têm tratamento protocolar equivalente às entidades nacionais homólogas.

Artigo 35.º
Altas entidades da União Europeia

1 - O Presidente do Parlamento Europeu, quando em Portugal, segue imediatamente o Presidente da Assembleia da República e as entidades parlamentares europeias as suas congéneres portuguesas.

2 - O Presidente do Conselho Europeu segue imediatamente o Primeiro-Ministro, excepto se for chefe de Estado, caso em que segue imediatamente o Presidente da República.

3 - O Presidente da Comissão Europeia segue imediatamente o Primeiro-Ministro e os comissários europeus os ministros portugueses homólogos.

4 - Às entidades judiciais e administrativas da União Europeia deverá ser dado tratamento análogo ao disposto nos números anteriores.

Artigo 36.º
Altas entidades diplomáticas

1 - Os embaixadores estrangeiros acreditados em Lisboa, quando não puder ser-lhes reservado lugar à parte, seguem imediatamente o secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, ordenando-se entre si por razão de antiguidade da apresentação das respectivas cartas-credenciais, salvaguardada a tradicional precedência do Núncio Apostólico, como decano do corpo diplomático.

Artigo 37.º
Familiares de chefes de Estado estrangeiros

Os familiares de chefes de Estado estrangeiros deverão ser tratados como convidados especiais do Presidente da República e colocados junto dele ou, não estando presente, de quem tiver, por virtude da mais alta precedência protocolar, a presidência.

Artigo 38.º
Autoridades religiosas

As autoridades religiosas, quando convidadas para cerimónias oficiais, recebem o tratamento adequado à dignidade e representatividade das funções que exercem, ordenando-se conforme a respectiva implantação na sociedade portuguesa.

Artigo 39.º
Autoridades universitárias

1 - Os reitores das universidades e os presidentes dos institutos politécnicos presidem aos actos realizados nas respectivas instituições, excepto quando estiverem presentes o Presidente da República ou o Presidente da Assembleia da República.

2 - As deputações dos claustros académicos que participem em cerimónias oficiais seguem imediatamente os respectivos reitores ou presidentes.


Artigo 41.º
Governadores civis

1 - Os governadores civis, no respectivo distrito, seguem imediatamente a posição do presidente da assembleia municipal do concelho onde se realizar a cerimónia, salvo quando se encontrarem em representação expressa de membro do Governo convidado para a presidir, caso em que assumirão a presidência.


SECÇÃO VII
Luto nacional
Artigo 42.º
Declaração

1 - O Governo declara o luto nacional, sua duração e âmbito, sob a forma de decreto.

2 - O luto nacional é declarado pelo falecimento do Presidente da República, do Presidente da Assembleia da República e do Primeiro-Ministro e ainda dos antigos Presidentes da República.

3 - O luto nacional é ainda declarado pelo falecimento de personalidade, ou ocorrência de evento, de excepcional relevância.
(…)
Aprovada em 20 de Julho de 2006.
O Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama.

Promulgada em 11 de Agosto de 2006.
Publique-se.
O Presidente da República, ANÍBAL CAVACO SILVA.

Referendada em 12 de Agosto de 2006.
O Primeiro-Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.
Fonte: http://www.portugal.gov.pt/.
António Manuel Nunes

A Orquestra Clássica do Centro está disposta a brincar ao Carnaval duma maneira séria. Segunda-feira todos ao Pavilhão Centro de Portugal.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Lembrança de César das Neves (1841-1920)

César Augusto Pereira das Neves, filho de Joaquim Manuel das Neves e de Teófila Amália Pereira de Carvalho nasceu na cidade de Lisboa a 27 de Junho de 1841. Faleceu no Porto, no dia 18 de Novembro de 1920.
Filho de um gravador, CN cedo tomou contacto com as tipografias. Radicada a família Neves no Porto, o jovem CN começou a aprender a arte de tipógrafo em 1854. Nas horas vagas dedicava-se afincadamente à aprendizagem da música e do violino, frequentando na década de 1850 as lições do maestro Baldoni. Posteriormente aprofundou os conhecimentos musicais, composição, harmonia e contraponto com o maestro Giovanni Franchini. Muito influenciado pelo seu mestre, CN fundou em 1868 na cidade do Porto uma conceituada oficina de impressão de música, que com o tempo foi mudando de mãos e de nome. Mas a cidade do Porto continuava a ressentir-se da falta de modernos caracteres musicais, pelo que à roda de 1874 CN e Franchini importaram de Londres punções e com eles fundiram localmente as matrizes de que tinham necessidade. Com este novo material dirigiu e editou CN a publicação musical “A Grinalda de Euterpe” (10 números, 1874-1875).
Entre a 2ª metade da década de 1860 e a 1ª de setenta, Teófilo Braga deslocou-se ao Porto com alguma regularidade, seja para efeitos de recolhas etnográficas, seja para fins de reuniões de trabalho com amigos ou ainda para acompanhar a revisão de provas de trabalhos em vias de impressão. Numa dessas deslocações, CN foi apresentado a TB, que logo instigou o jovem músico a iniciar a edição exaustiva de um cancioneiro de melodias e danças populares e a efectuar as suas próprias recolhas. TB já tinha vindo a trabalhar intensamente o cancioneiro literário popular, mas não sabia música nem encontrara até ao momento colaborador capaz de satisfazer os seus reptos.
A cidade do Porto tinha alguma tradição na matéria, uma vez que o director do Teatro de São João, João António Ribas, recolhera e publicara na década de 1850 um modesto cancioneiro acompanhado de solfas harmonizadas para piano. E na passagem da década de 1870 para os anos 80, membros da família portuense Arroyo também se distinguiram no apego à recolha de musica popular e respectiva reutilização em contextos orfeónicos. Na estreia do Orfeon Académico de Coimbra, o regente e estudante de Direito João Arroyo regeu rapsódias por si harmonizadas sobre canções do Douro Litoral, Minho, Alentejo e Beira (Canção da Lousã, Toma Limão Verde, etc.). Seu irmão, António Arroyo, manteve-se sempre estritamente ligado aos meios musicais e foi um paladino da guerrilha antifadística, género musical que pretendia estirpar através da prática intensiva do folclore nas escolas e nos grupos corais.
A progressão dos sentimentos nacionalistas, em crescendo desde o Ultimato Britânico, suscitou interrogações em torno da possibilidade de uma arquitectura nacional/regional vernácula ou de uma pintura nacional. Aos arrufos da arquitectura internacional contrapunham-se as casas rurais provinciais portuguesas, vistas de forma idílica e descontextualizada. Às correntes pictóricas internacionais ou de índole progressista tentava responder-se com o naturalismo bucólico e posteriormente com os “Painéis de Nuno Gonçalves”. Aos surtos musicais internacionais e a manifestações suspeitas como o Fado acenava-se com as supostas potencialidades regeneradoras do folclore. A crescente consciencialização do eventual valor do folclore vinha a encontrar na Beira Litoral entusiastas como um Adelino das Neves e Melo ou um Pedro Fernandes Tomás, alinhados na construção de um movimento de não cessou de engrossar durante a 1ª República e os anos de afirmação do Estado Novo. O debate tecnicamente aprofundado teria de aguardar as reflexões publicadas após 1946 por Fernando Lopes Graça, quando em requentada reacção à folclorização estadonovista propôs uma campanha nacional de recolhas no terreno e chamou a atenção para o facto de muitas das danças e canções populares assentarem no esquema básico do Sol-e-Dó. Se prestarmos atenção ao contexto, o "Inquérito à Habitação Rural", promovido pela Universidade Técnica de Lisboa não está temporalmente desfazado em relação aos estudos de Lopes Graça sobre o uso da música popular nos ranchos folclóricos, orquestras ligeiras, corais, tunas e filarmónicas.
Valendo-se de amigos, de colaboradores e de deambulações a expensas próprias, CN iniciou as recolhas na década de 1870 mas nada conseguiu publicar antes do final da centúria. Em 1893 firmou sociedade com o poeta e jornalista Gualdino de Campos e com o comerciante e apaixonado folclorista Francisco Pinto Nogueira. Nogueira realizou também extensas recolhas em diversos pontos da Região Centro e Região Norte. Rapidamente foram prestando colaboração à equipa portuense padres, regentes de filarmónicas e até estudantes de Coimbra ligados à TAUC como o Dr. Manuel Maria Corte-Real.
Entre 1893-1895-1898 a sociedade “César, Campos & Companhia” conseguiu editar na Tipografia Ocidental três encorpados volumes de solfas, ultrapassando as 600 melodias. O cancioneiro dito de “César das Neves” congregou o que de mais importante se cantou em Portugal nos campos, nas igrejas, nas romarias, no trabalho, nos salões, nos palcos, nos terreiros onde a dança rompia, nas ruas. Deu notícia de processos de rápida circulação e recepção local de temas oriundos de determinados centros nos quais aparece referido por diversas vezes o distante Brasil. A territorialização ainda se não divisava no horizonte.
CN dominava uma multiplicidade de instrumentos de tecla, corda e sopro, tendo composto música para igrejas, corais, bandas e orquestras. Foi ainda professor particular de piano, violino, canto e harmonia, assinando muitas das letras que acompanhavam as melodias de sua lavra.
Eram tais a sua fama e competência que em 1880 foi convidado para reger a Aula de Música da Ordem Terceira do Carmo, cargo que desempenhou até falecer. Leccionou ainda Música na Ordem Terceira de São Francisco. CN dominava superiormente a Guitarra do Porto, sendo um executante de sala na tradição dos tocadores que vinham de António da Silva Leite. Para aquele instrumento, CN idealizou um notável manual, o muito raro “Methodo Elementar de Guitarra”, Porto, Casa Custódio Cardoso Pereira, Castanheira & Ca., ca. 1904. A parte didáctica deste método era completada com 13 trechos musicais eruditos (óperas) e de salão, sem a menor relação com o universo do Fado, revelando um tocador discretamente posicionado no rasto dos executantes setecentistas de Guitarra Inglesa que animavam cafés, casinos, termas, hotéis, salões, assembleias e bailes de máscaras.
De 1902 é um “Compendio de Musica. Solfejo e Canto Coral para alumnos de ambos os sexos” das escolas, liceus, seminários e colégios”, no qual CN propõe a execução de espécimes retirados do “seu” cancioneiro, apresentando in fine algumas peças de serenata ao gosto burguês da época.
Infelizmente não conhecemos nenhuma fotografia deste incansável e laborioso professor e recolector da música tradicional portuguesa que pode ser considerado com inteira propriedade um pioneiro “salvaguardador” do Património Espiritual Português. O mérito de CN não é em nada inferior ao de um António Augusto Gonçalves ou de um Martins Sarmento. Um trabalho diferente, contudo não menos meritório.
A Música Tradicional de Coimbra e a Canção de Coimbra devem-lhe seguramente alguma coisa.
(leitura de apoio: verbete da GEPB, 18, pp. 674-675)
António Manuel Nunes


Aula na Universidade de Paris
Leitura de uma lição na Universidade de Paris nos inícios do século XVI: 1) lente sentado na cátedra com barrete preto de quartos bolbosos, loba talar sem mangas e murça de arminhos. A murça é de confecção inteiriça, de vestir pela cabeça, como as dos cardeais, arcebispos, bispos e cónegos. O barrete entretelado, sem pala alguma, tem o rebordo posterior da copa descaído sobre as orelhas e pescoço, à semelhança do modelo "boné" correntemente usado no Renascimento por humanistas como Erasmo de Roterdão e Martinho Lutero, sendo ainda comum a monges e a cónegos seculares e regulares; 2) estudantes e/ou graduados ouvem a lição, apresentando alguns capelo misto de arminhos+setim (ou veludo); 3) três bedéis com "toges" talares negras de bainhas avivadas, barretes e maças de prata.
(gravura da BNF, reproduzida em José Hermano Saraiva (direcção), "História de Portugal. 1245-1640", Volume 2, Publicações Alfa, 1988, p. 28, Arquivo Salvat).
AMNunes

O Terceiro Encontro de Responsáveis pelo Protocolo e Cerimonial das Universidades Espanholas

Nos dias 19 e 20 de Abril de 1999 a Universidade Complutense de Madrid acolheu nas suas instalações os participantes no “III Encuentro de Responsables de Protocolo”. As diversas comunicações foram editadas num tomo de “Actas” com 101 páginas, consultável on line.
O III encontro deu continuidade a temas anteriores e promoveu novas reflexões, acobertando a partilha de experiências sobre a modernização do cerimonial, pesquisas historiográficas, o relacionamento entre universidades e a comunicação social, o lugar das autoridades eclesiásticas nos actos, a rentabilização de novos espaços arquitectónicos, a autonomia das universidades e sua relação protocolar com o governo central e regiões autónomas, a pragmática clássica e os desvios a que tem estado sujeita, bem como as cores distintivas das especialidades científicas mais recentes.
Se a relação protocolar com o Chefe de Estado, Ministro da Educação e eventuais convidados eclesiásticos não oferece problemas de monta, já o papel e funções a desempenhar pelos Presidentes das Regiões Autónomas é gerador de algum desconforto institucional.
Em finais da década de 1990, a Reitoria da Universidad La Laguna e o Presidente da Região Autónoma das Canárias viveram momentos de tensão, conforme relata Teresa de la Rosa. A aparente pujança do protocolo e das insígnias em Espanha tem como contraponto os protestos de sectores que reclamam a abolição do cerimonial, rotulando-o de “arcaico”, à semelhança do ambiente vivido em alguns nichos da Universidade de Coimbra desde do Reitorado de António Ferrer Correia.
Num país onde as universidades se habituaram ao conforto da uniformização centralista, as violações da pragmática clássica suscitam inquietações (Guillermo Leal). São as novas especialidades científicas que ad hoc implementam cores não conhecidas, nem inteiramente reconhecidas inter pares. São docentes que envergam a toga preta com elementos vestimentários civis multicolores, quais sejam gravatas, camisas, calças, meias e sapatos, quando o conjunto deverá ser integralmente negro (salvo camisa/blusa e gravata). São licenciados que “abusivamente” se apropriam dos punhos nas cores reservadas aos doutores, de luvas, de crachás peitorais e até de barretes com borla própria para doutorados. São autoridades académicas e membros do corpo docente de diversas hierarquias que desrespeitam as cores oficiais dos cordões das medalhas, distintos conforme se destinam a reitor, vice-reitor e doutores.
Matérias:
-Presidencia, Actores e Invitados en Actos Universitarios
“Los Actos Académicos y sus Protagonistas: viejas tradiciones y nuevas costumbres”, por Ana Villegas, da U. de Zaragoza
“Comunicación y Protocolo Universitario”, por Teresa Ferrón e Antonio Ruiz, da U. Granada
-Distintos Roles de Asistentes a Actos
“Algunas consecuencias protocolarias sobre la nueva Normativa de Doctorado (Real Decreto 778/1998, de 30 de abril), por Manuela Pinilla, da U. Granada
-Posición de la Iglesia en actos Universitarios
“Presencia de las autoridades eclesiásticas en los Actos Académicos”, por José Zumaquero, da U. Navarra
-Espacios Clásicos y Adaptados, Salones Nuevos
“Nuevos recintos en la Universidad Complutense para Actos Institucionales y Científico-Culturales”, por Victoria Camargo, Brigitte Desbordes e Ana Limón, da U. Complutense
-Distintos Roles de Asistentes a Actos
“Autonomía Universitaria”, por Teresa de la Rosa, da U. La Laguna
-Nuevos Colores
“Problemática actual de los colores en Protocolo Universitario”, por Guillermo Leal, da U. Europeia de Madrid CEES
“La Simbología de los Colores en el Traje Académico”, por Teresa Galino Mateos, da U. Complutense
“Desarrollo y Contenido del III Encuentro…”
Fonte: http://www.protocolouniversitario.ua.es/.
António Manuel Nunes

Coimbra
Seabra Santos eleito presidente do Conselho Reitores das Universidades

O Reitor da Universidade de Coimbra, Seabra Santos, que foi eleito segunda-feira presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), disse hoje à Agência Lusa que "pretende reforçar o papel das universidades nas questões educativas".
Seabra Santos, de 51 anos, foi eleito segunda-feira para presidir ao CRUP, que representa 15 universidades públicas mais a Católica, sucedendo a Lopes da Silva, Reitor da Universidade Técnica de Lisboa, que atingiu o limite de idade. "Estou satisfeito com a confiança que depositaram em mim e tentarei responder aos desafios, num momento de mudanças que se avizinha no sector do ensino superior", disse o catedrático de Engenharia Civil, deixando uma "palavra de apreço e consideração para o professor Lopes da Silva". Falando à Lusa no final de uma reunião regular do CRUP, que decorreu hoje em Coimbra, Seabra Santos disse que pretende dar maior dinamismo e mais visibilidade àquele órgão, reforçando o "papel das universidades na discussão das questões educativas e contribuindo activamente para a definição de políticas no sector". Seabra Santo foi, em Janeiro, reeleito para um segundo mandato de quatro anos como Reitor da Universidade de Coimbra, em lista única.
Seabra Santos toma posse como presidente do CRUP no dia 28 de Fevereiro, no Palácio de São Marcos, em Coimbra, no decorrer da próxima reunião ordinária daquele órgão. Quanto às mudanças previstas na lei da autonomia das universidades, Seabra Santos não quis comentar eventuais alterações, embora anteriormente já se tenha mostrado contra a falta de independência na gestão universitária e defendido a necessidade de manter a universidade pública e inclusiva.
[artigo da Lusa, de 13-02-2007, extraído do endereço http://.www.nave.cv/, AMNunes]

quarta-feira, fevereiro 14, 2007


O Segundo Encontro de Responsáveis pelo Protocolo e Cerimonial das Universidades Espanholas

Nos dias 24 e 25 de Abril de 1997 a Universidade de La Rioja (Logroño) acolheu os participantes e especialistas do II Encontro de Protocolo. O assunto tem vindo a ganhar crescente visibilidade e importância em Espanha. Assiste-se à proliferação de pós-graduações em protocolo e etiqueta. Mais de 100 anos decorridos sobre as leis liberais centralizadoras/uniformizadoras, as universidades espanholas esforçam-se por afirmar traços identitários diferenciados, para tanto recorrendo às brechas potenciadas pelo artigo 8º da Lei de 29 de Julho de 1943 e Lei da Reforma Universtária de 1983 (Preâmbulo).
Uma outra preocupação persistentemente aflorada pelos conferencistas respeitou ao lugar dos Reitores na sua relação com o Chefe de Estado e Presidentes das Regiões Autónomas. A questão não é pacífica nem se encontra resolvida a contento. Se velhas universidades como Salamanca, acostumadas que foram a partilhar o poder com os antigos Cancelários, Reformadores e Protectores, não se sentem beliscadas em ceder a presidência solene ao Rei, 1º Ministro ou Ministro da Educação, caso estejam presentes, já é menos consensual o papel e lugar a ocupar pelos Presidentes das Regiões Autónomas.
O Presidente da Região Autónoma da Galiza vai mesmo mais longe, sugerindo abertamente que os reitores galegos lhe cedam a Presidência nos actos solenes da vida intra-universitária, reinvindicação por muitos considerada intolerável abuso às autonomias institucionais. A Universidade de Zaragoza (1583 e ss.) não se mostra nada convencida da bondade destas soluções, contra-argumentando que à luz do quadro autonómico-corporativo o seu Reitor nunca se submeteu ao poder político, administrativo ou religioso, situação de privilégio consagrada desde os primeiros passos da instituição nos “Estatutos de 1583”.
Em Portugal, a abordagem do Protocolo e Cerimonial Universitários tarda em debutar. Um dos raros documentos internos acessíveis para efeitos de consulta e de reflexão comparativa será «Universidade Católica Portuguesa. Cerimonial Universitário. Regras”, ano de 2000, 13 páginas, disponível em http://www.ucp.pt/.
Deste II Encontro foram editadas 85 páginas de Actas, pela U. La Rioja, em 1999, contendo as seguintes tabuadas:
-Inauguración Oficial
-Conferencia Inaugural: “Las Precedências en los Actos Académicos”, por Manuela Suárez Pinilla, GRI da U. Granada
Bloco I – La Presidencia de los Actos Académicos
-“La Presidencia de los Actos Académicos y la Ubicación de los Actos Publicos. Tratamientos y Precedencias de Autoridades”, por D. Francisco Galino Nieto, Mestre de Cerimónias aposentado da U. Complutense
-“La Presidencia en los Actos Academicos Universitarios”, por Manuel Camargo, da U. de Oviedo
-“Rectores: Toma de Posesión e Investidura”, por Ana Villegas, da U. Zaragoza
Bloco II – La Casa Real en la Universidad
-“La Relación Corona-Universidad: Pasado y Presente”, por Asunción Sanchez, Chefe de Protocolo da U. Complutense
-“La Presencia de la Familia Real en los Actos celebrados en la Universidad”, por Daniel Barrientos, da U. da Alcalá
Bloco III – El Color de la Indumentaria Académica en las nuevas Titulaciones
-“Los colores en la indumentaria: pasado y futuro”, por Alberto Príncipe, da U. de Laguna
Bloco IV – Cambio de Paradigma en el Protocolo Universitario
-“El cambio de paradigma”, por José María Olivares, da U. Oberta
Bloco V – Estrutura Departamental en el Protocolo Universitario
-“Universidades Departamentales”, por Alicia Toda (U. de Navarra) e Sagrario Serapio (U. La Rioja)
-Conclusiones
Fonte: http://www.protocolouniversitario.ua.es/.
António Manuel Nunes

Cancioneiro "César das Neves" (III)
Do volume III, editado em 1898, constam mais de trinta espécimes, nem sempre reportados a Coimbra de forma explícita. Conforme já se referiu, César das Neves não é suficientemente claro quanto à origem das recolhas. Nalguns casos não saberia da proveniência, noutros os colaboradores ter-lhe-ão omitido as informações complementares. Um dado muito notório neste cancioneiro publicado em plena efervescência do nacionalismo é a frouxa afirmação/reinvindicação da territorialidade dos espécimes. Muitos dos fados no estilo de Lisboa, supostamente apenas conhecidos em Lisboa e em Coimbra à época da feitura do cancioneiro, estavam sobejamente popularizados no tecido regional. As legendas são assaz elucidativas, referindo expressamente Cascais, Évora, Avanca, Porto ou Cinfães. Apesar de o cancioneiro mencionar composições de origem territorializada, as anotações predominantes enfatizam a trans-territorialidade das recolhas.
Em bom rigor, o cariz de fronteiras movediças da música popular ou popularizada já havia sido posto em destaque na década de 1850 por João António Ribas. Nas recolhas de Ribas, o "Manoel Tão Lindas Moças" era referido como moda típica de São Martinho de Dume (Braga). Cerca de 40 anos mais tarde, César das Neves frisa que além do Minho, "Manoel" era uma canção popularizada no Porto. O que César das Neves não sabia era que mais ou menos na mesma altura o "Manoel" era vulgaríssimo em Coimbra, a tal ponto que inspirou uma frase poética a António Nobre na célebre "Carta a Manuel" (Coimbra, 1888 e ss.).
Mais curioso ainda é o exemplo configurado pela "Tricana d'Aldeia". Ribas, na década de 1850 dá-a como cantiga tradicional de Vila Real, quando a sua fábrica era coimbrã. Quanto tempo teria decorrido era a produção conimbricense, a recepção e a tradicionalização vila-realense? Uma a duas gerações, uma década? Terá João Ribas tido o cuidado de formular a sacramental pergunta aos informantes locais, "isto é uma moda antiga ou é uma moda de fora da terra"? Os informantes reponderiam de boamente "o meu avô diz que isso já vinha do tempo do pai dele", ou "foi um almocreve que por aqui passou vai para meia dúzia de anos e trouxe isto..." O antigo estudante de Coimbra, Dr. António Moniz Corte-Real fez esta mesma pergunta na Primavera de 1842 em Angra do Heroísmo e obteve uma resposta consistente no que respeita à distrinça popular entre "modas velhas" e "modas novas". Um recolector desprevenido poderia ser ingenuamente levado a supor que uma moda escutada numa determinada localidade era indígena ou antiga. Tomemos como exemplo Antero da Veiga. Numa das rapsódias de modas tradicionais de Coimbra, adpatada à guitarra por Antero da Veiga entre a década de 1890 e o 1º decénio do século XX, ouve-se distintamente um trecho da Rosa Tyrana. Ora, não obstante Antero da Veiga ter tomada a Rosa Tyrana por cantiga tradicional de Coimbra, a melodia surgira na cidade do Porto pela década de 1880. Não tinha mais de 15 a 20 anos de existência quando Antero da Veiga a escutou em Coimbra e não teria chegado a esta cidade da Beira Litoral há mais de dez anos.
Numa primeira síntese de índole provisória sobre esta matéria importará aprofundar o assunto explanado. A reinvindicação da territorialização folclórica parece ser uma consequência da construção do dircurso nacionalista crescentemente afirmado a partir do Ultimato Britânico.
-A Família dos Carecas
-Oh Querida, Gosto de Ti
-O Adro
-Estou Preso
-Negro Melro
-Serenata à Morena
-Adeus Areal do Rio
-Vira ao Norte
-Fado do Sofrimento
-Marcha dos Cavalinhos
-Remar... Remar
-Fado dos Estudantes
-A Barquinha Feiticeira
-Chegadinho
-O Meneio
-Morena
-Fado da Severa
-Caminhos de Ferro
-Oh Meu Bem
-Despedida
-Canção das Morenas
-As Freiras de Santa Clara
-Fado Posthumo do Hylario
-Moleirinho
-Lundum da Figueira
-Flor da Murta
-Senhor Ladrão
-Piriquito
-Ladrão
-O Trevo
-Oh Lidae
-Todos Bebem
-Fado João de Deus
Fonte: Tomo III digitalizado no site da BNL, http://purl.pt.742.
AMNunes

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Cancioneiro "César das Neves" (II)
Na segunda nota sobre o "Cancioneiro de Músicas Populares" aproveitamos para dar relação das melodias oriundas de Coimbra ou popularizadas na Coimbra oitocentista, que foram impressas no Tomo 2, no ano de 1895.
Numa contagem não inteiramente isenta de dúvidas tornou-se possível arrolar umas 39 composições, seguindo os títulos pela ordem de impressão:
-Hymno do Minho
-Jovens Sereias
-Tenho Pena, Tenho Dor
-Fado Madrugada
-Condessinha de Aragão
-Fado da Figueira da Foz
-Gra, Gre, Gri
-Fado de Coimbra
-O Preto
-Rosa Tyrana
-Oh Anna Brites
-Moreninha
-Os Teus Olhos
-Trigueirinha
-O Lagarto
-A Menina dos Olhos Negros
-Oh Balancé
-Tricana d'Aldeia
-Fado Campestre
-Digo Dae, Oh tirolé
-O Último Fado
-Ao Levantar Ferro
-A Partida
-Ella por Ella
-Amores, Amores
-O Cannavial
-Os Meus Tormentos
-Frei Paulino
-Canção do Marítimo
-Se eu Fôra
-Nas Praias
-Pudor e Compaixão
-Dores
-Hymno Académico de Coimbra
-Adoro os Teus Olhos
-Flores Tristes
-Isabel Martins
-O Mangerico
-Philomena
Fonte: exemplar digitalizado da BNL, http://purl.pt.742.
AMNunes

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

A obra de José Afonso em CD. Notícia do Diário de Coimbra de hoje.



Cancioneiro "César das Neves"

Rosto do célebre a ainda hoje incontornável "Cancioneiro de Musicas Populares", coordenado na parte musical pelo professor de música César A. das Neves (1841-1920), na parte poética por Gualdino de Campos (1847-1919) e na ideação etnográfica por Joaquim Teófilo Braga (1843-1924). Comercializado em fascículos quinzenais impressos, veio a ser reunido em três grossos tomos, editados em 1893 (Volume I), 1895 (Volume II) e 1898 (Volume III), pela Typographia Occidental da Cidade do Porto.

Teófilo Braga, recolector do cancioneiro popular português desde a decada de 1860, tinha bem consciência da lacuna que era continuar a editar textos sem o devido suporte musical. Nos alvores da década de 1890 Teófilo conseguiu estusiasmar César das Neves, que além de conceituado professor de Música no Liceu da Ordem Terceira do Carmo, no Porto, era manualista, e executante de Guitarra do Porto, tendo mesmo publicado um importante manual para o dito instrumento. César das Neves, que vinha desde finais da década de 1860 a recolher danças e canções por gosto próprio, era detentor de assinalável colecção particular de manuscritos musicais. A publicação regular de partituras musicais por editoras portuenses que abasteciam de ordinário os teatros da cidade e as bandas filarmónicas, mais faziam avolumar as colecções do ilustre musicólogo.

Deitadas mãos à obra, César das Neves contou com devotados colaboradores espalhados pelo país: universitários de Coimbra, regentes de tunas, professores de música, padres. Infelizmente, os recolectores nem sempre indicam as proveniências das recolhas. Abertos os manuscritos, César das Neves conferia as melodias e procedia à respetiva harmonização para piano. Gualdino revia as letras e no caso de haver uma melodia sem texto, juntava-lhe um lote de poemas. Não obstante as lacunas que lhe são apontadas, o "Cancioneiro" permanece como um "corpus" referencial.

Logo no 1º volume, Coimbra e Região foram amplamente retratadas. Numa contagem incompleta, arrolámos mais de 30 composições, abarcando modas satíricas, cânticos religiosos, reportório salonístico e de teatro, serenatas e danças das Fogueiras do São João.

Aqui fica uma relação lacunosa, contudo a dar razão a Octaviano de Sá:

-Oh Que salero

-A Manhã vai Rindo

-As Carvoeiras

-Queres a Flor

-Oh Preto, Oh Preta

-Duzentos Galegos

-Mané Chiné

-São Martinho

-Hymno do Trabalho

-Sou Marinheiro

-Senhor Ladrão

-Ao Menino Deus

-Carinhosa

-A Vida do Marujo

-Noite de Encanto

-A Raptada

-Manuel tão Lindas Moças

-O Noivado do Sepulcro (+Paródia)

-Oh Solidão

-A Judia

-A Ciranda

-Maria Cachucha

-Balada dos Estudantes de 1892

-Louvores ao Espírito Santo

-Hija del Guadalquivir

-Poesia Amor

-A Barquinha

-A Gereziana

-O Exílio

-A Padeirinha

-Às Estrelas

-Dá-me um Beijo

-Cavaco do Rio

-O Meninas Brinquem, Brinquem

-Meu Anjo Escuta

-Canção da Noite

-Noite de Primavera

-Serenata Açoriana

-Despedida de Coimbra

-Esta Calçadinha

-Hymno dos Emigrados Portuguezes

-Olha o que eu Tenho Passado (Frade Capucho)

-Retreta da Bandeira

-Os Caipiras

-Quitollis

-Fado Serenata

-Ao Toque da Música

-Saudades da Aldeia

-Afasta, Janota, Afasta

-O Pésinho

Fonte: O CMP é uma obra rara, impressa em papel de má qualidade. Existem exemplares na Biblioteca Pública Municipal do Porto, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra e Biblioteca Nacional de Lisboa. Neste caso utilizámos a colecção da BNL, digitalização completa em http://purl.pt.742.

AMNunes

domingo, fevereiro 11, 2007


Hernâni Marques
Retrato do Dr. Hernâni Marques, na década de 1950, referido em post anterior pelo Maestro Virgílio Caseiro a propósito da fundação e primeiros anos de actividade dos Antigos Orfeonistas.
Hernâni Marques, diplomado em Direito pela UC, foi orfeonista e membro do Fado Académico de Coimbra (FAC), na qualidade de serenateiro de certo aplauso e de dirigente auxiliar de Jorge Xabregas.
Em 1955 participou activamente na Comissão Executiva das Bodas de Diamante do Orfeon Académico. Há ainda notícia de ter marcado presença nos primeiros Seminários do Fado de Coimbra (1978, 1979, 1980, 1981...), na qualidade de antigo cultor, tendo assumido posições conservadoras quanto a dois pontos repetidamente debatidos sem consensos: a) defesa intransigente da nomenclatura "Fado de Coimbra"; b) rejeição categórica de todos os aportamentos do Segundo Modernismo, e mais em concreto dos Movimentos da Balada, Trova, Novo Canto, e quaisquer letras de pendor extra-lírico.
AMNunes


























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Introdução
Se poucos eram os que, por razões de maior apoio familiar e mais desanuviada situação financeira, para Coimbra vinham estudar, nos finais do século XIX, menos eram ainda aqueles que, tirando partido do contexto favorável que a cidade e a vivência académica esotérica lhes proporcionava, se predispunham a frequentar instituições de complementaridade cultural à erudição que, inegavelmente, a Universidade desde sempre se encontrou disponível para fornecer.
Nesta época, (e reportamo-nos a 1880) as ofertas culturais não abundavam, sobreviviam um pouco da iniciativa de uns tantos, organizados em tertúlias, e quase sempre movidos e motivados por questões prioritariamente políticas ou literárias[1]. Os movimentos de intelectuais pictóricos, baléticos e mesmo musicais não eram de todo significativos e por isso o aparecimento, enquanto grupo organizado de produção musical coral, do Orfeon Académico (na época Sociedade Choral do Orpheon Académico) foi um contributo poderoso para a congregação estudantil e para a sua marcação social personalizada.
Pertencer ao Orfeon, passou a ser uma mais valia acrescentada à formação académica de base erudita e, em simultâneo, a possibilidade de poder privar com outras realidades associativas, outros arejamentos de ideias, outro enriquecimento musical, estético e ético, o conhecimento de outras verdades e locais, etc.
Foi neste enquadramento e desde esta data que, a todos os alunos da Universidade de Coimbra a quem foi permitido o acesso e a frequência deste organismo (mal grado os anos, logo seguidos a 1882, que por variadas razões o Orfeon se viu impossibilitado de funcionar[2]), beneficiaram da criação de uma coesão de classe e de identidade que sobreviveu até aos nossos dias e nos permite ainda, com alguma vaidade, podermos dizer que fomos estudantes de Coimbra, e sentirmos, tantos anos volvidos, um arrepio inexplicável, decorrente do simples facto de encontrarmos alguém que, como nós por aqui andou, e que, anos perdidos, viemos a encontrar numa qualquer parte deste mundo esquartejado!
Em 1980, aquando das comemorações do 1º Centenário do OAC, ganhou particular força o espírito de congregação orfeónica, obviamente decorrente da importância das festividades, mas também da emergência de um período de pouquíssimas actividades académicas (por força do clima social criado pelo golpe de estado de 25 de Abril de 1974), da há pouco realizada 1ª Serenata Monumental pós 25 de Abril (1978), e de todo um clima favorável à reimplantação das tradições académicas, tão personalizantes desta cidade.
Nem o facto de entretanto o OAC se ter tornado em mais um coro misto da AAC, à semelhança do CMUC ou do CLUC, funcionava a desfavor.
Antes pelo contrário, a constatação irreversível deste facto, em simultâneo com a constatação da actual inexistência de nenhum coral com características tímbricas exclusivamente masculinas, tornava ainda mais premente as movimentações, dando força a quem argumentava no sentido da importância da sua tão mais rápida quanto possível recriação.
Foi neste contexto que, à data de 1980, e com o objectivo de participar nas comemorações do organismo mater OAC, dando-lhe ainda mais brilho e consistência histórica, foi criado um coro, movido pelas boas vontades de umas dezenas de antigos orfeonistas, começando os ensaios indispensáveis à posterior apresentação, e que os levou, depois, à criação da Associação dos Antigos Orfeonistas do Orfeon Académico, com a sigla A.A.O.O.A.C. e logótipo:

Começa aqui a nossa história!

Chegados a 2005, cantando ininterruptamente, é agora altura de organizarmos uma pequena e simples publicação, integrada nas comemorações dos 25 anos da instituição, onde as nossas origens e desenvolvimento associativo possam ser relatados e eternizados, para cumprir com as obrigações que um percurso ainda tão curto mas tão profícuo, nos obrigam a abraçar e não desmerecer.
Que esta publicação, humilde na profundidade de abordagem capitular e consciente das imensas omissões que contém, possa ser o ponto de partida para um qualquer outro trabalho de Mestrado ou Doutoramento, onde a investigação científica ligada ao tema, possa merecer, de facto, a dignidade e dimensão desta tão prestigiosa instituição.

Historial

Ponto prévio: o relato histórico feito neste capítulo não pode deixar de ter em linha de conta que, muitos dos factos que fazem parte do seu historial passam pelos concertos, digressões, Direcções e sua constituição e memória fotográfica, que neste trabalho complementarizam este historial em capítulos subsequentes.
Constituído por antigos orfeonistas do Orfeon Académico da Universidade de Coimbra, apresentou-se pela primeira vez em público na noite da Tomada da Bastilha, de 24 para 25 de Novembro de 1980, nas escadas da Câmara Municipal de Coimbra. A 13 de Dezembro do mesmo ano, à tarde, nas escadas da Igreja de Santiago, (onde se encontrou emocionalmente unido pela revivificação do O Vos Omnes e do Amen), voltou a cantar, terminando este dia no Teatro Académico de Gil Vicente, no sarau aí realizado, por ocasião das comemorações do Centenário do Orfeon Académico de Coimbra[3], onde o Coro foi buscar as suas raízes institucionais. Foram pontos altos desta actuação, aplaudida de pé por todos os espectadores presentes, as obras: “O Vos Omnes”, “Tenebrae factae Sunt”, “O Coro dos Soldados” de Gounod e o “Amen” da Danação de Fausto de Berlioz.
Duas razões prioritárias determinaram o seu aparecimento:
A) a possibilidade de, através dele, voltar a viver e a conviver com toda uma riqueza, incalculável, (ao tempo de estudantes), e só agora avaliável, volvidos muitos anos de separação, labuta, responsabilização e isolamento profissional, e que são a fraternidade, a irreverência, a amizade, o diálogo, a entreajuda, alguma leviandade!, a alegria e a alimentação da eterna juventude! B) o recriar um organismo capaz de restituir à Academia e à cidade aquilo que o OAC, até ao 25 de Abril de 1974, lhes dava e permitia saborear, ou seja, a riqueza ímpar da fruição de um coro formado só por vozes masculinas, com toda a mais valia tímbrica que este tipo de agrupamento nos pode dar, a par da sua pouca vulgaridade e até da especificidade harmónica densa que só um coro masculino verdadeiramente permite.
Assim se congregaram esforços, mobilizaram-se meios humanos em tempo recorde, e o Coro dos Antigos Orfeonistas nasceu![4]
Este primeiro esforço de congregação ficou-se a dever a todos os que de imediato aderiram ao projecto, mas principalmente a Hernâni Marques, aquele que lhe deu organização, unidade e dinâmica, (sendo o seu primeiro apresentador), Teixeira Santos, que muito ajudou a congregar vontades, e a Joel Canhão que imediatamente se mostrou disponível para artisticamente o levar por diante.
O Diário de Coimbra, na sua edição de 13/6/81, publica a lista de antigos orfeonistas ligados à Associação (54!), aquando do concerto nos claustros de Stª Cruz, e que são:

1ºs Tenores: Arlindo Gonçalves,Ilídio Sobral Gomes, Gouveia e Melo, Amândio Cabral, Veiga Miranda, José Bronze, João Lemos Mexia, Nuno Carvalho, Augusto Moreira, Francisco Vaz. (11)

2ºs Tenores: Hernâni Marques, Kim Reis, Jaime Sarmento, José Miguel Baptista, J. Teixeira Santos, Melo Júnior, José Mesquita, Costa e Nora, Luís Requixa, Neves da Costa, Marco António, Meliço Silvestre, Almeida e Sousa, Tavares Cautela, Rui Albuquerque. (16)

Barítonos: Adelino Fonseca, António Gonçalves, António Requixa, Castro e Silva (filho), Daniel de Campos, João Faria, João Silva Pereira, Jorge Biscaia, Jorge Guerreiro, Pinto Mendes, Ponce Leão, Raul Dinis, Vasconcelos Cardoso,Vaz Craveiro. (14)

Baixos: Agostinho A. Santos, Álvaro Carvalho, Amândio Morais, António Cortes, A. Teixeira Santos, Castro e Silva (pai), Cravo Roxo, Edgar Rodrigues, João Madeira, João Sobral Gomes, Jorge Ilharco, José Queirós, Maia Rodrigues, Simões Lobato, Paulo Fonseca,A. Lacerda Pinto. (15)

Por falta de instalações, os ensaios começaram por decorrer na Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, ao Largo da Portagem, passando depois para o Quartel do Regimento 12, sito na rua de Artelharia 12, junto à Penitenciária, ambos em Coimbra.
Já em Janeiro de 1981 o coro é solicitado a participar num concerto de solidariedade com os residentes do lar da terceira idade de Verride, a quem o azar bateu à porta, com um incêndio nas suas instalações. Após o concerto, que decorreu na igreja matriz da vila, e durante a ceia, um frémito a todos percorreu e deu origem a um grito unitário de avanço, contra tudo e contra todos, não deixando que o coro, já realidade, pudesse vir a perder-se nas veredas do desinteresse!
Um outro nome de imediato sobressai do conjunto de antigos orfeonistas, porque disponível para ajudar Hernâni Marques na organização e, de facto, muito empenhado na certeza de fazer com que o coro pudesse vir a ser uma realidade irreversível na Academia e na cidade: Arlindo Gonçalves, que veio a ser também o seu primeiro presidente.
Logo depois, a estes se junta Jorge Ilharco, que se responsabiliza pelo criação dos meios necessários ao registo e constituição oficial de uma associação, que desse cobertura jurídica ao coro.
Infelizmente, alguns desentendimentos de pormenor, aquando de mais uma actuação nos Claustros da Igreja de Stª Cruz, entre Hernâni Marques e o maestro Joel Canhão, levaram ao afastamento precoce do primeiro.
Em 1982 são aprovados, em Assembleia-Geral datada de 8 de Julho, os seus Estatutos, que de seguida publica e que dão existência jurídica legal à instituição a partir de 12 de Julho do mesmo ano. Ainda em 82 o Coro faz a sua primeira grande digressão a Macau, de 5 a 15 de Junho, a convite de S. Exª o Governador do Território, Almirante Almeida e Costa. Tem para isso o apoio do Ministério da Cultura e da Fundação Gulbenkian. Aqui participa nas Comemorações Oficiais do Dia de Portugal e em simultâneo nas 1ªs Jornadas Médicas Coimbra/Macau.
Em 1983 mais uma grande vitória institucional, ao conseguir reunir os apoios necessários a mais uma digressão, desta vez ao Brasil. De 2 a 27 de Junho desloca-se a este país, com o apoio da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Comendador Valentim Dinis. Realiza concertos em S. Paulo, Santos, Campinas, Rio de Janeiro e S. Carlos, integrados nas Comemorações Oficiais do Dia de Portugal. Actuou também na TV Cultura de S. Paulo.
Em 1985, integrado nas comemorações dos 5 anos de existência, o Coro faz a sua primeira gravação em vinil de 33 rpm, um álbum com o título genérico de “ANTIGOS ORFEONISTAS DO ORFEON ACADÉMICO DE COIMBRA”, sob a regência do Maestro Joel Canhão. Também neste ano edita a sua primeira medalha, da autoria de Cabral Antunes.
Um grande objectivo, de imediato, se entendeu por indispensável: a aquisição de instalações próprias. Das diferentes hipóteses possíveis foi ganhando força a que levou à aquisição do espaço onde se encontram hoje as actuais instalações. A sua aquisição era dispendiosa e a par do contributo de outras instituições e organismos oficiais, foi pedido um empenhamento especial a todos os ex-orfeonistas, sendo interessante referir uma das estratégias levadas por diante, entre outras, para recolha de fundos e que foi a “Campanha do Metro Quadrado”! Com esta campanha se propunha a associados e outras pessoas benemerentes a aquisição de “uma acção” das instalações, correspondente a um metro quadrado da superfície a adquirir. Contudo, para obstar à participação exagerada, desde logo foi estabelecida a impossibilidade de compra superior a cinco metros quadrados (ao tempo, o m2 era vendido a 12.000$00). Eram indispensáveis obras de adaptação e estas foram sendo feitas até permitir a sua inauguração em 1985 e consequente registo notarial em 1986.
Ainda neste ano de 86, a 22 de Abril, é conferida à associação a qualidade de Instituição de Utilidade Pública.
Com o encerrar de todo este circulo prioritário de realizações que envolveram estatutos, instalações e afirmação e reconhecimento artístico, a associação viu-se disponível para o traçar duma rota segura, mas tranquila, de projectos e concertos, que foram de forma continuada levados a efeito pelas consequentes Direcções. Estas foram sendo eleitas anualmente até 1987 e a partir de aqui, por alteração do Regulamento Interno, passaram a ser bienais.
As digressões[5] ao estrangeiro foram acontecendo também, na justa medida das “démarches” feitas e delas, bem como das Direcções, se faz relato pormenorizado nos capítulos posteriores correspondentes.
Em 1987 três grandes digressões foram efectuadas. A primeira, de 3 a 16 de Abril, patrocinou uma visita às sedes das Instituições Comunitárias. O convite partiu do Gabinete do Parlamento Europeu em Lisboa, com o Alto Patrocínio de S. Exªs. os Embaixadores de Portugal junto da CEE, em Paris, no Luxemburgo e em Bruxelas; do Comissário Europeu, Engenheiro Cardoso e Cunha, do Advogado-Geral no Tribunal Europeu, Doutor Cruz Vilaça, e do Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra. Realizaram-se concertos no Parlamento Europeu, (no decorrer do qual o seu Presidente, Lord Plumb, distinguiu o Coro com a Medalha de Prata desta Instituição), na cidade do Luxemburgo (Auditório da RTL), enquanto sede do Tribunal Europeu, na sede da Comissão Europeia e em Paris.
A segunda, de 6 a 15 de Junho, levou o Coro de novo a Macau e também Hong-Kong. A digressão foi feita a convite de S.Exª o Governador de Macau, com o objectivo de participar nas Cerimónias Comemorativas do Dia de Portugal. Foram feitos concertos em Macau e Hong-Kong. Nesta digressão igualmente se participou nas 2ªs Jornadas Médicas e nas 1ªs Jornadas Jurídicas Coimbra/Macau.
A terceira, a 12 de Novembro em Paris. Concerto no “Encontro das Culturas do Mundo”, durante a 24ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO, a convite do Departamento Cultural desta Organização, e com o Alto Patrocínio de S.Exª o Embaixador, Professor José Augusto Seabra.
Muitas outras digressões foram feitas em anos consecutivos, privilegiando os mais díspares destinos no estrangeiro e no Portugal insular. (Ver capítulo).
Em 1988, por aprovação em Assembleia-Geral de1 de Julho, é nomeada uma comissão encarregada de fazer uma avaliação do trabalho até à data já realizado pelo organismo, elaborar uma reflexão crítica sobre este trabalho, fazer propostas de recrutamento orfeónico, elaborar critérios de selecção dos coralistas para concertos e digressões, e em simultâneo inferir das reais razões de existência da Associação. Integravam-na os seguintes elementos: Jorge Ilharco, Luzio Vaz e José Mesquita[6]. Do trabalho destes resultou um extenso relatório de 61 páginas manuscritas (infelizmente com algumas páginas já desaparecidas!), de cujos dados, embora importantes, não há notícia posterior de qualquer tratamento analítico, para além da sua condução a Assembleias-Gerais posteriores, sob a forma de propostas que vieram a enriquecer ou alterar o Regulamento Interno.
Em 1989, por impedimento de saúde de Joel Canhão, a liderança artística do organismo passa a pertencer a Francisco Faria, que durante dois anos assegura o bom funcionamento e qualidade coral do grupo. Em 1990, uma vez recuperado dos problemas de saúde que o afligiam, o 1º maestro assume de novo a liderança, garantindo-a até 1992. Também em 90, são celebrados os 10 anos da instituição e mais uma medalha é editada.
Em 1991, por intercedência do maestro Joel Canhão, é contratado um preparador vocal, e a escolha recai na Profª Isabel Melo e Silva, professora de canto no Conservatório de Música de Coimbra. Também ao mesmo tempo entra, como ensaiador adjunto e pianista, aquele que viria depois a ser maestro do coro: Augusto Mesquita.
Em 1992, por impossibilidade manifesta de falta de saúde de Joel Canhão, a responsabilidade de regência é atribuída a Augusto Mesquita. A mudança, por comum acordo, é celebrada em mais um concerto realizado em 11 de Julho no Luso, durante o qual se faz a transmissão de regência. Com Mesquita o Coro passa a produzir um reportório de preferencial temática coimbrã, e passa a dispor do contributo regular de um pianista acompanhador, à época Filipe Teixeira Dias, mais tarde substituído por Rui Paulo Branco, depois Paulo Bernardino e a partir de 2003, de novo, Rui Paulo. Um outro pianista, Rui César Vilão, é ainda referido em alguns programas, muito principalmente durante a segunda digressão a Macau (1987).
Em Outubro de 1993 é nomeado Sócio Correspondente da Academia Pernambucana de Música.
Fruto desta dinâmica o Coro grava o seu primeiro CD em 1994. Em 1995 grava mais um CD, desta vez com a Orquestra Filarmónica de Londres (ver obra editada). Neste ano, realiza as comemorações dos seus 15 anos de existência e na sua sequência edita uma medalha comemorativa da autoria de Vasco Berardo.
Ainda em 1995 comemora os 15 anos de actividade com alguns concertos realizados neste enquadramento, sendo também de referir uma exposição de espólio, na sede, de 11/11/95 a 20/1/96, organizada pelo Conselheiro F. Cordeiro.
Em Março de 1995 é agraciado com a Medalha de Mérito Cultural, atribuído pelo Ministério da Cultura.
Em 29 de Fevereiro de 1996 é agraciado com o título de Membro Honorário da Ordem de Mérito, por S. Ex.ª o Presidente da República, Dr. Mário Soares.
Em 21 de Novembro de1997 é-lhe atribuído o título de Amigo Honorário da Fundação Bissaya Barreto e em 2000, recebe a Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra.
Em 2000 comemora os 20 anos de existência, com um conjunto de actividades, edição de mais uma medalha comemorativa dos 20 anos, da autoria do escultor Jorge Coelho, e concertos, que culminam, já em 2001, com um Concerto de Gala no Centro Cultural de Belém, do qual foi editado o CD correspondente.
Ao abrigo dos Estatutos e por proposta de algumas das Direcções, várias foram as personalidades que a Assembleia-Geral aprovou como sócios Honorários, pelo esforço, mérito, empenho e qualidades humanas demonstradas. Por ordem cronológica são os seguintes sócios Honorários: Prof. Doutor António Ferrer Correia, General Melo Egídio, Prof. Doutor Francisco Lucas Pires, Dr. António de Almeida Santos, Prof. Doutores Rui de Alarcão e Manuel Porto, Dr. Fernando Nogueira, Prof. Doutor António Barbosa de Melo, Maestro Joel Canhão, Juiz Conselheiro José Narciso da Cunha Rodrigues, Prof. Doutor José Augusto Seabra e Dr. Mário Soares.
Em 2003 e após alguns conflitos insanáveis ocorridos entre o Maestro Mesquita e a Direcção em funções, trazidos já desde o concertos com José Carreras em Faro e agravadas com o Concerto, no Páteo das Escolas, do mesmo tenor, neste ano referido, Augusto Mesquita demitiu-se das suas funções, aquando da realização de um concerto de inauguração do Pavilhão da Europa, ao fundo do parque verde da cidade.
Em Julho de 2003, Virgílio Caseiro é convidado para a Direcção e Regência Artística do organismo, funções que aceita e passa a exercer a partir de Setembro desse ano. Na sequência da sua aceitação, elabora um projecto de concertos diferenciados, em função dos locais e dos fins a que se propõem e com o qual pretende vir a normalizar a escolha das obras ou tipo de obras adequadas a cada local, espaço, ou função concreta dos concertos.
Em 2004 uma nova etapa artística se põe ao Coro, com a participação em obras cénicas e muito concretamente com a ópera “O Barbeiro de Sevilha” de G. Rossini, da qual os antigos orfeonistas assumem a responsabilidade dos coros e leva à cena em 6 e 7 de Julho deste ano, no Páteo das Escolas, na Universidade de Coimbra. Outras representações se seguirão em Aveiro, Estremoz e Figueira da Foz.
De referir ainda que a Associação, decorrente de protocolo assinado com a Câmara Municipal de Coimbra, criou nas suas instalações, uma Escola de Guitarra, Viola e Fado de Coimbra, cujo director é o Prof. Paulo Soares e que tem vindo a funcionar, com óptimos resultados, desde a sua fundação em 2002.
Finalmente, uma palavra de síntese, em relação à forma como decorrem os concertos desta Associação. O concerto tipo é composto por música coral de diferentes épocas, estilos e géneros na 1ª parte e por uma “Serenata de Coimbra” (Fados e Guitarradas de Coimbra) na 2ª. Não quer dizer, contudo, que em função dos locais e objectivos o concerto não possa ser feito só com música coral, ou ainda música coral e uma segunda parte de Variedades, alternativa que gradualmente vai deixando de ser praticada[7]. Para a realização de esta Serenata muitos grupos de fados têm dado a sua colaboração aos eventos, devendo contudo ser referido o facto de, no naipe de Barítonos, existirem dois guitarristas – Octávio Sérgio e Manuel Mora – que sendo sócios efectivos, reúnem condições ideais para o suporte primário destas serenatas em conjunto com os violas Custódio Moreirinhas (também Barítono), Carlos Caiado (2º Tenor) e Luís Ferreirinha (1º Tenor).

[1] Projectava-se, nesse ano, comemorar o tricentenário da morte de Camões; e foi este cenário que optimizou as condições de mobilização dos académicos. Esta mobilização não terá sido ingénua, mas sim decorrente da situação política vivida no momento e desenvolvida já desde o ano de 1876, altura em que, por um lado, se assistiu à fusão de várias expressões de tendência num único partido - o Partido Progressista, liderado por Anselmo Braamcamp - e por outro se iniciavam, nos seus primeiros passos, os adeptos do republicanismo socializante. Estes, ainda neste ano de 1876, e incentivados pela vitória eleitoral dos republicanos franceses, encontram nesta o apoio moral para a sua constituição, o que vem a acontecer na decorrência de um banquete realizado em 25 de Março do mesmo ano em atitude de solidariedade com os seus camaradas.
A sobrevivência deste novo partido foi precária até 1878, data em que, realizadas eleições para nova legislatura parlamentar, pela primeira vez se candidataram, em Lisboa e Porto, representantes do Partido Republicano. E se é verdade que o partido do Governo ganhou as eleições, permitindo a Fontes Pereira de Melo continuar com o seu projecto de reformas, a vitória da facção republicana em alguns círculos, colmatada pela eleição de Rodrigues de Freitas no Porto e Elias Garcia em Lisboa, começou a abrir brechas na estrutura e a dispor de interlocutores capazes de se fazerem ouvir.
Todas as oportunidades eram bem-vindas para fazer ouvir a voz republicana e é neste contexto que as comemorações Camonianas acontecem. A memória do poeta, porque universal, servia insuspeitadamente a qualquer adesão e por outro lado a ideia da música, e muito concretamente da música coral, assentava como luva na exaltação da sua memória, por decalque e amostra do que a Revolução Francesa já nos tinha mostrado, com os seus cânticos patrióticos.
Foi assim que a estas comemorações aderiram os mais prestigiosos intelectuais da época, sendo injusto não referir nomes como o de Teófilo Braga, Antero de Quental e Oliveira Martins. Este último entende mesmo as comemorações como o festejar de um novo Renascimento, o que o leva a reeditar, em 1881, o seu livro ''Camões, os Lusíadas e a Renascença em Portugal'', livro publicado, pela primeira vez, em 1872.
Quanto a Teófilo Braga ele foi, de facto, o grande impulsionador das comemorações tri-centenárias e a ele se deve a congregação, em torno de Camões, dos mais importantes liberais e republicanos do tempo. O seu culto pelo património moral e espiritual da raça, bem assim como o fortalecimento e ressurgimento do sentimento pátrio, mereceram-lhe o aplauso da nação viva que o apoiou, conseguindo, desta forma, a quase globalidade da adesão popular.
A este espírito se ficou a dever o brilhantismo e gigantismo das comemorações e a partir dele se veio a encontrar uma expressão republicana cada vez mais forte e consequente.
A perpetuar as comemorações, no largo fronteiriço à Porta Férrea, foi erigido um monumento a Camões, formado por uma coluna de pedra, suporte de uma palma de folhas de louro, e por um leão em bronze, na base da coluna. A primeira pedra do monumento foi lançada a 10 de Junho de 1880 e este veio a ser inaugurado a 8 de Maio de 1881.
O O.A.C., ao dar os seus primeiros passos por finais do ano de 1880, aparecia como mais um elemento de engrandecimento dos festejos e de projecção cultural daqueles que o haviam promovido, ou seja, a corrente liberal republicana.
Poderá ser esta a descrição sucinta do enquadramento do actual Organismo (OAC) no contexto político e social da época.
[2] Para sínteses históricas do OAC, atender à tese de Mestrado do mesmo autor desta publicação e publicado sob o título “O Orfeon Académico de Coimbra desde 1880 – Causas Determinantes, Objectivos e Evolução”
[3] A Comissão Executiva para estas comemorações tinha a seguinte constituição: Presidente-Dr. Frederico Carvalho de Almeida Baptista (2º Tenor); Secretário-Geral-Dr. Hernâni Marques (2º Tenor); Tesoureiros-Dr. António Duarte Guimarães (Barítono) e João Teixeira Sobral Gomes (Baixo); Vogais: Kim Reis (2º Tenor), João Faria (Barítono), Eng. Manuel Bernardino Pinto (Baixo), Eng. Daniel José Pais Gomes de Campos (Barítono), luís Filipe de Carvalho Requixa (2º Tenor) e Eng. João António Araújo Madeira (Baixo). Pela Direcção do OAC: António Eugénio Alves Martins (Baixo), António José Figueiredo Fernandes (Baixo) e Carlos Augusto Almeida Santos (Baixo).
[4] -Insere-se neste espaço, em nota de rodapé e infelizmente um pouco extenso, o teor de um preâmbulo à Assembleia Geral de19/10/81, convocada pela Comissão de Gestão e assinada por Daniel Campos, como seu representante, para aprovação dos “Estatutos”, por se entender o seu teor importante para a compreensão do enquadramento social, à época, bem assim como o difícil convívio, nestes anos, entre o Orfeon Académico de Coimbra e os Antigos Orfeonistas em formação. Cita-se: “Em 1980 ocorreu o primeiro centenário da fundação do Orfeon Académico de Coimbra. Um núcleo de antigos orfeonistas, radicado em Coimbra e nas suas proximidades, chamou a si a iniciativa de congregar o maior número possível de antigos orfeonistas, na intenção de todos se as­sociarem às solenidades comemorativas daquela efeméride e, sendo possível, não apenas ,por um modo meramente passivo de presenças pessoais, mas por modo activo e actuante; e dai que tivessem lançado a ideia de ensaiarem e prepararem, entre os antigos orfeonistas, umas tantas peças do antigo reportório do seu Orfeon Académico, para depois, na altura própria, se integrarem, cantando, no sarau a realizar no Teatro Gil Vicente, em Coimbra, momento alto do progra­ma festivo e comemorativo do centenário da existência do organismo.
À iniciativa aderiu, entusiasmado, um elevado número de an­tigos orfeonistas, decididos a darem realização ao projecto propos­to; garantida a valiosíssima e imprescindível colaboração do tam­bém antigo regente do Orfeon Académico, Prof. Joel Canhão, que consentiu em aceitar a preparação coral dos antigos orfeonistas, logo os ensaios começaram a ter lugar na sede dos Antigos Estudantes de Coimbra, generosamente empenhada em cooperar na iniciativa, ofere­cendo as suas instalações como local de reunião, onde aqueles en­saios passaram a suceder-se regularmente.
E, com um êxito porventura dificilmente previsível, os anti­gos orfeonistas vieram efectivamente a apresentar-se no referido sarau, em Dezembro de 1980, depois de terem estado presentes, como conjunto diferenciado, nos diversos actos e solenidades do programa das comemorações levadas a efeito.
Cumprida que estivesse, como cumprida ficou, a razão primeira que a todos congregara - participar activamente nas decorridas co­memorações - não seria estranhável que, numa sequência lógica, os an­tigos orfeonistas se decidissem pelo termo das suas reuniões regula­res, pelo menos enquanto destinados a dar continuidade à actividade que visara uma finalidade especifica, entretanto atingida.
Mas duas novas razões - e qualquer delas com autonomia e suficiência para o efeito - se apresentaram como determinantes da vontade de se prosseguir, agora já em busca de finalidades de natureza bem diversa da que ficou referida.
a)- A generalizada assiduidade aos ensaios do grupo coral, motivou uma convivência regular e intensiva entre os antigos orfeonistas, acabando por proporcionar o campo onde, com adivinhável na­turalidade, viria a reflorescer, como aconteceu, o espírito de ca­maradagem dos bons velhos tempos de estudantes; e aí, sob o clima da compreensão, tolerância e aceitação recíprocas, ficou facilitada a reaproximação onde a amizade relançou raízes, para depois prodi­galizar o prazer espiritual do reencontro, tão verificável na estremecida troca dos abraços dos que desinteressadamente se estimam, tão patente nas inebriantes entregas às mil e uma recordações duma vivência comum, recheada de singularidades, tão rica de experiências, tão repleta de belas e inesquecíveis emoções.
Mas se tais benefícios despontam em resultado da mera convivência estabelecida entre os antigos orfeonistas, por motivo da manutenção do seu agrupamento coral, então razão há para prosseguir com o grupo que tal convivência origina. Ele oferecerá, para agora e para o futuro, a água límpida com que se mitiga a sede de amizade e de camaradagem e que se pretende compartilhar com os vindouros, orfeonistas e estudantes de hoje, antigos orfeonistas de amanhã.
b) -Embora o núcleo dos antigos orfeonistas possa ser considerado como um conjunto de pessoas genericamente dispostas a a­ceitar a inovação, quer no domínio das ideias, quer no domínio das práticas, é todavia possível assegurar, com o mesmo carácter de generalidade, que tal tipo de aceitação só logrará ser encontrado desde que as inovações a introduzir consintam a preservação daquilo que, no antecedente, se revelou com índices de assegurada utilidade e com manifestações de amplo sinal positivo.
Inovar não poderá nunca corresponder a incaracterizar ou a despersonalizar o que, como individualidade singular, propor­cionou algo de bom e de reconhecidamente útil. O contrário, começar por ser, antes do mais, um processo de destruir, mesmo que pretex­tando a criação de uma outra coisa eventualmente valorizável. Tal conjunto de considerações ajudará a compreender, e depois a aceitar, as razões pelas quais os antigos orfeonistas se encontram em dificuldade para reconhecerem no actual Orfeon Académico de Coimbra o organismo que conheceram quando dele participaram.
Tão profundas foram as modificações introduzidas a partir de meados da década de 1970-80, que o organismo delas resultante é inidentificável com o anterior (e de sempre), mesmo que se tenha utilizado, como aconteceu, o enganoso expediente da manutenção da mesma denominação. Esta só é o espelho duma real identidade entre o que se foi no passado e o que se é no presente, quando em qualquer dos momentos, e por todo o tempo, se possa concluir pela constância, na coisa considerada, de um determinado conjunto de características: afinal, as essenciais ao permanente reconhecimento da sua individualidade e dos seus singularismos, como expressão da sua u­nidade temporal.
Em justificação do que se vem dizendo, apontar-se-á:
1 - O antigo Orfeon Académico era um agrupamento coral estri­tamente masculino; o actual é misto;
2 - O antigo Orfeon era exclusivamente formado por alunos da Universidade de Coimbra; o de hoje é participado por es­tudantes doutros graus e doutros estabelecimentos de ensino e, num ou noutro caso, até por não estudantes;
3 - Os elementos do antigo Orfeon apresentavam-se ao público, no decurso dos seus espectáculos, com o traje tradicional do estudante de Coimbra: a capa e batina; os elementos do actual Orfeon apresentam-se com um traje que, embora uniforme, é avulso e incaracterístico, nada tendo a ver com o da tradição académica;
4 - No plano meramente artístico o antigo Orfeon oferecia ao público um conjunto de peças corais entre as quais se contava um extenso número de obras de consagrados autores clássicos, que, pode dizer-se, passaram a constituir uma tradição no património cultural do Orfeon e com cuja exe­cução o Orfeon granjeou os aplausos, a fama e o apreço que o consagraram nos palcos de todos os continentes, em correspondência ao subido grau da sua excelência artística; o Orfeon actual baniu da sua programação todas ou quase todas aquelas peças de execução tradicional, subs­tituindo-as por umas tantas outras que, embora de harmo­nia agradável, estão ao alcance de um qualquer grupo co­ral, mesmo que menos credenciado.
A introdução, no seio do Orfeon Académico de Coimbra de um tão vasto conjunto de modificações equivale, no espírito analítico dos antigos orfeonistas sobressaltados, à adopção dum certo tipo de procedimento que, intencionalmente ou não, pretende desfigurar um organismo centenário de características impares recheado de êxitos, rincão estremecido por sucessivas gerações de estudantes que nele, e com ele, completaram ou enriqueceram a sua cultura, o seu humanismo e os sentimentos de solidariedade que se estima ver praticados entre os homens e, mais restritamente e talvez por isso mais intensamente - entre aqueles que alguma vez se uniram em termos de camaradagem e de amizade.
É, pois, indeclinável obrigação dos antigos orfeonistas dar a conhecer à actual geração académica o que foi e o que se pretende que continue a ser o Orfeon Académico de Coimbra, pela reposição das suas mais fundamentais características e que o tornaram um agrupamento coral diferenciado, para que, sob tal designação, a todo o momento espelhe o carácter unitário de identidade consigo próprio, inviolável pelo rodar dos anos, inatingível pela dobragem constante das gerações.
E não se oponha, ao que se vem dizendo, o desvalido argumento de que a atitude de defesa assumida se encontra eivada dum imobilismo que contraria a inovação e a criatividade. Seria injustificada tal crítica. Ninguém, entre os antigos orfeonistas, pretende negar aos interessados de hoje a liberdade e o direito de constituírem um orfeon de características diferentes das que sempre foram as próprias do Orfeon Académico. Que se organize e se active um orfeon que se queira misto, sem capa e sem batina, com ou sem universitários, com este ou aquele programa para execução; mas não se lhe chame depois, abusivamente, Orfeon Académico de Coimbra, porque aquele jamais seria identificável com este;
A criação de um certo tipo de agrupamento coral não legitima que se adultere e se torne irreconhecível um outro já existente e sempre muito validamente afirmado aos mais elevados níveis do útil e o desejável.
E dai que os antigos orfeonistas, reunidos em grupo, prossigam a sua activi­dade coral, dentro dos princípios que vigoravam ao tempo da sua passagem pelo Orfeon Académico de Coimbra, no desejo de contribuírem, através do seu exemplo vivo e actuante, para o esclarecimento que conduza à aceitação, por reposição no organismo, das características havidas como essenciais, para que o actual Orfeon Académico, então homogeneizado com o de sempre, deste possa legitimamente anunciar-se como seu verdadeiro continuador.
Decididos, pois, a prosseguirem com a sua actividade coral, reconhecem os anti­gos orfeonistas a utilidade, senão a imprescindibilidade, de fazerem fixar em docu­mento escrito um certo conjunto de princípios definidores das finalidades por si vi­sadas e, simultaneamente, orientadores e disciplinadores dessa actividade.
Tal documento é o que passa em seguida a oferecer-se sob a forma de projecto, mero ponto de partida para os trabalhos que, em assembleia dos antigos orfeonistas, visarão a obtenção do que se pretende chamar "CADERNO REGULAMENTAR", repositório dos preceitos definidores, orientadores e disciplinadores da actividade em grupo e que com aquela designação evita a de "Estatutos", estes próprios duma associação constituída em forma legal e com personalidade jurídica, já que está apurado não pretenderem os antigos orfeonistas constituírem-se, de momento, sob a forma de associação re­gular.
[5] Depois de consultados os arquivos, por gentileza da Direcção, constata-se que mais de 70% destes são ocupados com folhas de despesa e receita ou então, numa percentagem esmagadora, com ofícios para as mais variadas instituições públicas e privadas, no sentido de concretizar novas digressões!!!
[6] A constituição desta comissão decorre da prévia existência de um documento elaborado por José Mesquita, alinhado em torno de 9 pontos essenciais para a organização da associação, e que, uma vez analisado em A.G. se entendeu, por bem, enriquecer.
[7] -Ao falar de variedades é incontornável falar de Jorge Condorcet, o eterno ilusionista, que durante tantos e tantos anos, no OAC e depois no coro dos antigos orfeonistas, foi o elemento “pivot”e primeira presença nelas. Estas variedades, herdadas também da tradição orfeónica, eram constituídas por ilusionismo, “telejornais”, “bailados”, rábulas teatrais e operísticas, música instrumental e até a colaboração de um grupo rock – Os Álamos – que depois abrilhantavam o baile final, subsequente aos concertos. Também neste contexto é de referir a Orquestra Ligeira do OAC.

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