terça-feira, março 06, 2007

Carlos Carranca fala de Miguel Torga no Jornal Centro de 21-2-2007.

segunda-feira, março 05, 2007

Universidade de Coimbra. Um texto do Diário as Beiras, de hoje, com texto de Aires Antunes Diniz. Foto de Carlos Jorge Monteiro.

Alterações na estrutura da Queima das Fitas?
Segundo as notícias do último número do Jornal Universitário "A Cabra", a Queima das Fitas de Coimbra vai, segundo o DUX VETERANORUM, ser completamente alterada, inclusivamente o Cortejo da Queima poderá passar a ser ao fim de Semana.
Vejam on-line em: http://www.acabra.net/ , depois é só clicar em Versão Impressa no lado esquerdo e ver a notícia na página 6, onde estão as alterações que o DUX pretende fazer ...
Rui Lopes

domingo, março 04, 2007

José Maria Oliveira enviou-me esta foto de uma homenagem a José Afonso no dia 24 de Fevereiro.

Costumes Académicos (II Série)
"Cap and Gown", versão feminina publicitada na obra norte-americana de Sons Cox e Vining, "Catalogues and Leaflets of Academic Robes, Ecclesiastical Vestements, Clerical Clothing", New York, The Firm, sem data. O desenho remete-nos para as estilizações em voga nos períodos 1890-1900-1910.
Esta gravura pode constituir um bom ponto de partida para uma reflexão sobre as reacções/decisões surgidas nas universidades portuguesas em termos de trajos e de insígnias, quando foram confrontadas com a feminilização dos seus corpos docentes e discentes.
Assim, considerando a conjuntura de transição da Monarquia Constitucional para a Primeira República:
-quando e como a Universidade de Coimbra decidiu sobre os modelos de Traje e de Insígnias a usar pelas alunas e docentes?
-quando e como a Universidade de Lisboa deliberou sobre modelos de Traje e de Insígnias a usar pelas alunas e docentes?
-quando e como a Universidade do Porto tomou posição institucional sobre modelos de Traje e de Insígnias a usar pelas suas alunas e docentes?
-eventuais decisões governamentais sobre Trajes e Insígnias encontraram bom acolhimento por parte dos órgãos representativos dos docentes/discentes das três universidades referidas, ou fez-se letra morta da intenção do legislador, sendo registáveis nesses estabelecimentos de ensino superior duas situações paralelas: a) o órgão de gestão reitoral, ou o orgão de gestão de Faculdade deliberou apenas quanto ao Traje e Insígnias das membros do seu corpo docente; b) a Academia, espontaneamente, ou por intermédio dos seus representantes, adoptou Traje facultativo próprio e Insígnias, as mais das vezes à margem de qualquer acordo com a Reitoria/Senado?
-quais as universidades criadas ou reformadas na Primeira República que adoptaram um traje de modelo único para os docentes masculinos/femininos, e quais as que optaram por um figurino distinto?
-no Portugal da Primeira República e do Estado Novo prevaleu um Traje único, nacionalizado e uniformizado em todas as universidades, à semelhança do que vinha a contecer em França e em Espanha (tendências para a semelhança nos EUA, Grã-Bretanha e seus domínios ultramarinos)?
-como explicar as hesitações e (in)decisões por vezes pouco sugestivas vividas após 1910 no mundo universitário português, face à boa concertação espontânea vivida no mundo judiciário em termos de feminilização da Toga na Ordem dos Advogados em 1913 (advogada Regina Quintanilha) e da Beca logo após 1974 (ingresso das primeiras mulheres no Ministério Público, com trânsito para a magistratura judicial)?
Fonte: gravuras da New York Public Library, NYPL DIGITAL GALLERY. The Picture Collection, http://digitalgalery.nypl.org/.
AMNunes


Costumes Académicos
Trajos académicos adoptados ao longo do século XIX nas universidades norte-americanas John Hopkins, Princeton, California, Columbia, Minnesota, Yale, Pensylvania, Chicago e Western Reserv University. Após terem procedido à nacionalização dos trajos académicos oriundos da Grã-Bretanha, as universidades dos EUA fizeram projectar derivados destes modelos nos seus liceus e em diversas universidades da América-Latina e Japão.
Na Europa, a fundação de institutos superiores e de universidades de ambição internacional a partir da década de 1970 potenciou uma autêntica corrida a trajos inventados a partir da matriz britânica e/ou norte-americana. Estão neste caso o Instituto Universitário de Florença (invenção inspirada na Grã-Bretanha) e escolas superiores germânicas recentes. Por seu turno, a influência cultural da Grã-Bretanha faz-se sentir nos trajos académicos das universidades da África do Sul, Austrália e Canadá.
"Academic Robes from United States" foi originariamente publicada na obra "New International Encyclopaedia", New York, 1902-1903.
Fonte: colecção de gravuras da New York Public Library, http://digitalgalery.nypl.org/.
AMNunes

Costumes Académicos
Trajos académicos das Universidades britânicas de Oxford, Cambridge e Edinburgh. Gravura originalmente publicada na obra "New Internacional Encyclopaedia", New York, 1902-1903.
Fonte: colecção de gravuras e estampas da New York Public Library, http://digitalgalery.nypl.org/.
AMNunes

Costumes Académicos
"An Oxford Don", gravura de inícios do século XIX.
Fonte: colecção de gravuras e estampas da New York Public Library, http://digitalgalery.nypl.org/.
AMNunes


Costumes Académicos
"Doctor in Divinity", Universidade de Oxford, inícios do século XIX (1814).
Fonte: colecção de estampas e gravuras da New York Public Library, http://digitalgalery.nypl.org/.
AMNunes


Costumes Académicos
O Reitor da Universidade de Pádua numa representação do século XVI. Veste trajo civil nobre à Século de Ouro composto por meias calças, calções de balão e entretalhos, gibão ornamentado, grande colar e gorgeira de canudos. Por fora usa uma garnacha de mangões e um barrete comum aos clérigos, humanistas e universitários de quinhentos.
Desenho de Cesare Vecello, editado na obra "Costumes Aciens et Modernes", Paris, Firmin Didot, 1859-1860.
Fonte: colecção de gravuras antigas da New Iork Public Library, editadas on line em http://digitalgalery.nypl.org/.
AMNunes


Costumes Académicos
Esboço francês do século XIII (ca. 1245), representando aquilo que seria a vestimenta mais vulgarizada pelos escolares. É uma peça da família do pelote, com bainha pela meia perna e ausência de mangas. Como complemento, parece notar-se um capelo.
Fonte: colecção de gravuras antigas da New York Public Library, disponíveis on line no site http://digitalgalery.nypl.org/.
AMNunes

Programa "Coimbra com Tradição", apresentado com uma sessão de canções e guitarradas de Coimbra pelo grupo ÀCapella. Suplemento Fim-de-semana, do Diário de Coimbra de ontem. Fotos de Figueiredo.

sábado, março 03, 2007


António dos Santos e Silva evoca José Afonso. Artigo do Diário de Coimbra de hoje, no suplemento fim-de-semana, da autoria de Sílvia Torres, com fotos de Raul Cardoso.

Lançamento de um livro de Eduardo Aroso, na Casa Municipal da Cultura, em Coimbra, no ano de 2001. Carlos Teixeira, José Miguel Baptista, Álvaro Aroso e Octávio Sérgio.

Noite Cultural numa Escola. José Paulo e Álvaro Aroso (gg); Eduardo Aroso (v); a cantar, Victor Nunes e José Miguel Baptista.

José Miguel Baptista num estúdio de gravação no ano de 1994.

Intercâmbio Universitário em Salamanca, na Plaza Mayor. José Carlos Teixeira e Álvaro Aroso (gg); Mário de Castro (v); José Miguel Baptista a cantar. Ano de 1981.

Raposo Marques e Miranda Barbosa no Parque da Serreta, na Ilha Terceira, Açores. Espólio de José Miguel Baptista.

sexta-feira, março 02, 2007


Museu Bernardino Machado dedica debate à Revolta Académica de 1907
Ciclo de conferências organizado pelo Município de Famalicão

O Museu Bernardino Machado de Vila Nova de Famalicão promove, esta sexta-feira, pelas 21h30, um debate dedicado à maior revolta estudantil de sempre em Portugal, que ocorreu em 1907.
Para além de ter ficado na história como uma das maiores crises académicas de Portugal, tendo paralisado o país, durante alguns dias, a revolta de 1907 teve como protagonista o antigo Presidente da República, Bernardino Machado, que durante este período colocou-se ao lado dos estudantes, tendo pedido mesmo a demissão do cargo de docente da Universidade de Coimbra.
Para debater os principais momentos da revolta académica de 1907, foram convidados o coordenador científico do Museus Bernardino Machado, Norberto Cunha, e o professor catedrático do Departamento de Filosofia e Cultura da Universidade do Minho Manuel Sá Marques, neto de Bernardino Machado, que prometem desvendar as principais razões do maior movimento estudantil da história de Portugal.
Este debate está inserido no ciclo de conferências consagrado às «Lutas Académicas e Estudantis: do Liberalismo ao Estado Novo», organizado pela Câmara Municipal de Famalicão, através do Museu Bernardino Machado, e irá decorrer até 2008, passando em revista, e de forma cronológica, alguns dos mais importantes episódios dos movimentos estudantis, que eclodiram em várias cidades portuguesas, nos séculos XIX e XX.

[notícia extraída do endereço http://www.fabricadeconteudos.com/, edição on line de 02/03/2007, AMNunes]


Mais uma reunião "cultural" na Tasquinha do João, com Frias Gonçalves e Jorge Gomes, este a saborear a bica final.

quinta-feira, março 01, 2007

Texto (Grupo de trabalho) do 1º Seminário sobre o Fado de Coimbra, realizado em 1978. Espólio de Joaquim Pinho.



Textos (Ofícios) do 1º Seminário sobre o Fado de Coimbra, realizado em 1978. Espólio de Joaquim Pinho.


Textos (Achegas para as conclusões) do 1º Seminário sobre o Fado de Coimbra. Espólio de Joaquim Pinho.




Textos (Propostas) do 1º Seminário sobre o Fado de Coimbra, realizado em 1978. Espólio de Joaquim Pinho.


Textos (Programa) do 1º Seminário sobre o Fado de Coimbra, realizado em 1978. Espólio de Joaquim Pinho


Textos (conclusões) do 1º Seminário do Fado-Canção de Coimbra, realizado no ano de 1978. Espólio de Joaquim Pinho.

SEGUE UM ESTUDO CARICATURAL DO ROSTO DE JORGE TUNA INSPIRADO EM DUAS
FOTOGRAFIAS COM ALGUNS ANOS DE DISTÂNCIA.
TENTEI TRAZER "AO DE CIMA" AQUELA INQUIETUDE, QUE SE ADIVINHA NO SEMBLANTE, DUM CERTO TIPO DE "PERFECCIONISMO", APANÁGIO NOS GRANDES ARTISTAS.
TIVE O PRAZER DE CONHECER PESSOALMENTE, ATRAVÉS DO JÓJÓ, JORGE TUNA, EM COIMBRA, CREIO QUE EM JUNHO DE 2003.
JT É PARA MIM (UM MODESTO APAIXONADO DA GUITARRA DE COIMBRA), UMA DAS MAIORES REFERÊNCIAS DE SEMPRE.
O ESTILO INCONFUNDÍVEL, A CRIATIVIDADE COMO COMPOSITOR, CHEIA DA ALMA COIMBRÃ, E O VIRTUOSISMO DE EXECUTANTE COM AQUELE "BALANÇO", MUITO SEU, QUE RAROS ATINGEM, FAZEM DELE, SEM EXAGEROS, AO LADO DOS PAREDES, E DE MAIS UM PUNHADO DE EXECUTANTES COIMBRÕES, O QUE DE MELHOR E MAIS GENUÍNO EXISTE NA MÚSICA POPULAR PORTUGUESA.
CREIO QUE AQUI, NOS ALGARVES - NESTA DOCE INSULARIDADE MEDITERRÂNICA - DISTANTE DO "BENFICA/SPORTING" DAS PAIXÕES GUITARRÍSTICAS, ESTOU PERFEITAMENTE À VONTADE PARA ESCREVER ISTO E APRECIAR, À SACIEDADE, TODOS OS GRANDES VALORES MUSICAIS QUE ESSA TERRA "DE TRICANAS ENCANTADAS" PRODUZ NOS SEUS CANTEIROS DE AFECTO, ARTE E JUVENTUDE.
José Maria Oliveira


Alma Mater Conimbrigensis: 717 Anos
A Universidade de Coimbra festeja anualmente no dia 01 de Março o aniversário da fundação dionisiana.
Imagem: Selo da UC reformado no início do século XX por António Augusto Gonçalves
AMNunes

VI ENCUENTRO DE RESPONSABLES DE PROTOCOLO

Jerónimo Hernández de Castro, do Gabinete de Protocolo da Universidade de Salamanca e membro da Asociación para el Estúdio y la Investigación del Protocolo Universitario (http://www.protocolouniversitario.ua/es/) informa-nos que nos dias 26, 27 e 28 de Abril de 2007 terá lugar na Universidade de Alicante o VI Encuentro de Responsables de Protocolo y Relaciones Institucionales de las Universidades Españolas.
Em actividade desde 1996, a Asociación tem vindo a promover jornadas regulares de estudo e reflexão, esforço reforçado pela actividade de subcomissões, publicação de actas e edição de trabalhos de pesquisa, de que se destacam pela sua qualidade[1]:
-de Juan Luis Polo Rodríguez e Jerónimo Hernández de Castro, "Cerimonias y Grados en la Universidad de Salamanca. Una aproximación al Protocolo Académico", Salamanca, Ediciones USAL, 2004;
-de Francisco Galino, "Del Protocolo y Cerimonial Universitario Complutense", Madrid, Editorial Complutense, 1999 (com a devida vénia à gentileza de María Asunción Villa Sánchez).
Para mais informações sobre o VI Encontro:
-"VI Encuentro de Protocolo de Alicante/Universidad de Alicante", http://www.ua.es/es/congresos/protocolo/6encuentro/.
***
[1] Para um registo comparativo com a actividade hispânica, vale a pena consultar o site mantido pela britânica THE BURGON SOCIETY, http://www.burgon.org.uk/.
António Manuel Nunes



Tomada de Posse do Reitor

Coimbra, 4ª feira, 28 de Fevereiro de 2007, 10:00h:

hoje foi a tomada de posse do Reitor da UC. O Decano da Universidade, o Lente de Direito Doutor Jorge Figueiredo Dias (penalista de renome), na qualidade de Decano (professor com mais idade) conduziu a investidura.

Estiveram presentes os Embaixadores de Moçambique, Brasil e Afeganistão. Usaram da palavra o Doutor Figueiredo Dias, o Presidente da AAC e o Reitor da UC que, à tarde também tomou posse como Presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP). Estiveram também presentes o Reitor da Universidade de Minas Gerais - Brasil e representantes de outras Universidades.

Rui Lopes

[fotografia extraída do site do "Diário de Coimbra", edição on line de 5ª feira, dia 01 de Março de 2007, http://www.diariocoimbra.t/]

Chorei!

Perfeitamente presente, no espírito, o momento em que recebi a triste notícia da morte do nosso Zeca Afonso!
Morava em Aradas, ao tempo, e foi no sótão que eu usava para ouvir música e trabalhar.
Estava a ouvir rádio, o que nem era tão habitual como isso! O locutor de serviço anunciava que o Zeca tinha falecido! Chorei, como nunca havia chorado por pessoa que não era da família! Muito! Não que seja eu um durão! Mas a figura amiga do Zé Afonso, que eu tive o gosto de conhecer pessoalmente, de com ele falar, ocupava/ocupa no meu cofre de memórias o gavetão mais sumptuoso, mais apreciado!
Habituado desde os tempos de Coimbra a venerar a sua coragem, a sua arte, a sua luta anti-fascista, para mim e para milhões, o Zé Afonso será um histórico Português que não mais verá desvanecida a merecida memória de cidadão honesto e honrado; de pessoa dotada de um sentido musical invulgar com uma capacidade poética acima da média! Trauteei, desde sempre, todas as suas composições. Vibrei com cada um dos discos que editou. Animei, atabalhoado, muitas tertúlias com as suas composições!
Na guerra colonial, foi com o Zeca, com a sua musa e o seu exemplo, que consegui levar de vencida a terrível e podre situação de antagonismo perante indivíduos que compreendia e respeitava: os guerrilheiros, que "construíam o seu país", como ele escreveu e cantou numa das suas trovas!
Para ele o dinheiro era um acessório, e bem que poderia ter vivido muito mais rico, materialmente, do que viveu.
Em Aveiro, onde vivo e onde ele nasceu, a Câmara que sempre foi CDS até há 8 anos atrás, nunca lhe deu sequer nome a uma rua! Há hoje, por mor do PS, uma placa na 'Baixa de Stº António' mas sem dignidade, sem genica, sem significado nem beleza! Resta a consolação de saber que o Presidente da Câmara centrista que lhe negou a evocação, já ninguém o recorda. E quando morrer, lá irá o dito para o tal caixote dos vulgares... Ao contrário do nosso Zeca, que perdurará ad secula seculorum!
Já depois do 25 de Abril, certa manhã encontrei-me com ele casualmente:vínhamos os dois no comboio para Lisboa, a partir do norte. E na plataforma, a caminho da saída - seriam umas dez e trinta, meti conversa. Fomos seguindo para a porta, até que ele me perguntou: "Tens aí dinheiro? É que venho de uma sessão de canto livre, em Amares, e aqueles mariolas esqueceram-se de me dar alguma coisa. E eu ainda não tomei o pequeno-almoço!"... Palavras para quê? O Zeca era um dos seres que ultrapassa a concepção mais complexa que possamos conceber! Para ele, o que importava mesmo era o seu semelhante oprimido e explorado! Ele, a quem tantos exploraram, na sua imensa despreocupação com os bens materiais deste mundo...
- "Canta sempre para nós, oh Zeca, que é sangue e seiva a tua voz!" disse o Zé Mário. Eu subscrevo. Todos os de boa vontade o farão, também!
Do Blog artenosatos, de José Paracana.

Somos nós os teus cantores

-O Zeca Morreu!
– Foram as palavras que meu pai, apoiado na janela, disse como num desabafo. Eu apenas sabia que o Zeca que só mais tarde se me mostrou José Afonso era uma voz saída do aparelho de música todos os sábados de manhã e um incómodo um quase descontentamento se me dava caso não a ouvia. No despontar de minha infância o Zeca era aquele cantor que fazia os olhos de meu pai olharem longe, alcançando horizontes que ainda não compreendia. Por isso aquela notícia se anunciou estranha, era como se por algum motivo o disco não mais fosse girar e aquela cantiga tão bela não mais soasse.
– Foi o nosso cantor!
– Foi a única frase soluçante que até hoje ouvi de meu pai, que laconicamente deslocou a agulha encontrando o disco em movimento. Maio maduro Maio quem te pintou, quem te quebrou o encanto nunca te amou … num gesto quase de imitação sentei-me à janela olhando o horizonte e imaginando que o Zeca era o meu cantor, que naquele momento apenas eu e meu pai o ouviam. O horizonte tão quotidiano como que se pintou e eu via lá longe uma falua que vinha lá de Istambul, e Maio para mim, que nem sabia de cor os meses do ano, passou a ser o melhor deles todos.
- Quem foi o Zeca pai?
– Meu pai reclinado na cadeira parecia já adivinhar a pergunta
- O Zeca foi o maior cantor e compositor português, foi poeta, usou a música como arma política, lutou contra o fascismo … foi o nosso cantor. Foi então que me lembrei das discussões dos domingos a noite em que eu deitado provocando o gato ouvia falar de uma tal Revolução, palavra da qual não sabia o significado mas achava bonita.
Cresci ouvindo Zeca, todos os dias primaveris, abrindo as janelas, punha o disco “Venham mais cinco” ou “Com as minhas tamanquinhas” continuando a achar que o Zeca era o meu cantor e em segredo ia apontando letras das quais palavras saltavam enigmáticas de minha imaginação. Um dia já mais velho passei numa loja e vi a um canto um CD com uma mão na capa; era do Zeca, comprei-o e trazia com um disco um livrinho que tinha fotos, fotos do Zeca. Um homem meio despenteado com olhos semi-cerrados por detrás de uns grandes óculos que a força da imaginação tentava endireitar. Durante muito anos rejeitei aquelas fotos; para mim aquela voz profunda e bela que ouvia nas canções não tinha um rosto próprio, talvez um vago perfil de um homem encostado à janela. José Afonso, para mim sempre Zeca, morreu há 20 anos, tempo em que deixou de ser apenas o meu cantor, passou a ser a voz de Abril, um cantor sem igual que nos brindou com a mestria de suas composições acompanhadas com a firmeza de seu carácter. Mais do que cantor, sua obra se transcende na mensagem de inconformismo caiada de rebeldia poética e concisa. Ainda hoje olho o horizonte que há 20 anos o Zeca transformou e sinto que não morreu, vive hoje e sempre na obra e em sua imagem inalterável. É tempo de se ouvir Zeca Afonso, ouvi-lo em casa, nas escolas e universidades, nas rádios e televisões, ouvi-lo sobretudo em nossa tão íntima realidade pois hoje somos nós os teus cantores!
Adriano Campos
Do Blog da AJA

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