terça-feira, dezembro 06, 2005


Placa de homenagem ao cantor e guitarrista Lucas Rodrigues Junot (1902-1968), afixada num prédio sito entre o Largo da Sé Velha e a entrada da Rua dos Coutinhos, Coimbra. A placa, idealizada pelos antigos estudantes de Coimbra radicados no Brasil, apresenta os seguintes dizeres: "Nesta casa viveu o estudante brasileiro Lucas Junot. 1902-1968. Licenciado em Ciências Matemáticas em 26 de julho de 1927, e que enobreceu o Fado de Coimbra. Homenagem dos seus colegas do Brasil, 26-07-1970".
Trata-se do cantor e guitarrista Lucas Junot que gravou em Londres, corria o mês de Maio de 1927, um lote de discos para a editora Columbia. Nos fonogramas gravados constam títulos como "Fado de Santa Clara", "Fado Manassés", "Fado Sepúlveda", "Fado dos Passarinhos", "Fado Corrido de Coimbra", "Fado Rezende", "Vira de Coimbra" e "Triste".
No dia 25 de Junho de 1970 a Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra promoveu uma sentida homenagem a este importante cantor da Escola Ultra-Romântica, com descerramento de uma lápide na casa onde habitou mais regularmente, e serão cultural no pátio do Museu Nacional Machado de Castro. No referido serão, Divaldo Gaspar de Freitas proferiu uma palestra biográfica sobre Junot, tendo actuado Manuel Julião (voz e viola), o grupo de Manuel Branquinho (com Jorge Gomes) e o Grupo de Hermínio Menino.
A palestra assinada por Divaldo de Freitas foi impressa no Boletim da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra Nº 10, de Dezembro de 1970 ("Lucas Junot. A Saudade de Coimbra", pp. 27-34), no qual consta também sentida evocação de Afonso de Sousa a José Paradela de Oliveira.
O espólio fonográfico de Lucas Junot encontra-se parcialmente reeditado pela Tradisom. Por decisão da sua viúva foram depositados no Museu Académico as provas das matrizes fonográficas, os discos completos e ainda a Guitarra Toeira de Coimbra de Junot, com escala de 17 trastos, ilharga baixa, voluta oval sem arestas, e tampo escorado por duas travessas.
António M Nunes


Capa da Partitura de "Fado do Alentejo", com música de António Menano e editada em 1924 . Partitura gentilmente cedida por Eduardo Proença Mamede. Embora a paisagem impressa não esteja assinada, EPM garantiu-me que era da autoria de Stuart Carvalhais.


Partitura de "Fado do Alentejo" (1), com música de António Menano e editada em 1924.


Partitura de "Fado do Alentejo" (2), com música de António Menano e datando de 1924.


Capa do Boletim "DECRETUS", da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto, com arranjo sobre uma aguarela de António Moniz Palme. Posted by Picasa

segunda-feira, dezembro 05, 2005


Enterro do Grau. Página 3 do Boletim "DECRETUS" do mês de Dezembro e com o número 7, da Associoação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto. Posted by Picasa
















Embaixada Académica à Ilha da Madeira pelo Orfeon Académico de Lisboa, no Natal de 1936. António Vitorino de Almeida será o pai do conhecido maestro?
Este programa (só aqui está um extracto), foi-me enviado por Joaquim Pinho.








































Páginas 6 e 7 do Boletim da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto, "DECRETUS", saído em Dezembro de 2005, com o nº 7. Artigo escrito por António Moniz Palme, na foto, ao lado esquerdo de Eugénio de Andrade.

domingo, dezembro 04, 2005

O Primeiro EP gravado por Barros Madeira
(Dúvidas que geram conversas)
Pesquisa e texto por José Anjos de Carvalho e António M. Nunes

Após a edição on-line neste Blog, no dia 17/11/2005, do invólucro do EP “BALADA – Barros Madeira”, Porto, Rapsódia EPF 5.092, surgiram algumas dúvidas quanto a autorias de músicas e de letras, títulos, data de gravação, teor dos textos originais, que importam clarificar. Feito um pedido de esclarecimento, o Dr. João Barros Madeira adiantou-nos telefonicamente, em 25 de Novembro de 2005, que a gravação ocorreu em Coimbra, numa sala do edifício da Universidade, pelo ano de 1958. Por seu turno, José Anjos de Carvalho anotara nos seus ficheiros que a agravação teria sido realizada pelo ano de 1957. Foram realizados diversos telefonemas e postos a tocar velhos discos, com Barros Madeira, Octávio Sérgio, Jorge Tuna e Durval Moreirinhas a abrirem as arcas das lembranças.
Para os tira-teimas entendemos solicitar um esclarecimento escrito à EDISCO, herdeira do espólio documental da extinta Rapsódia. Para nosso agradável espanto, a amável representante da EDISCO, Sandra Cerqueira, respondeu-nos em 29/11/2005, esclarecendo que a gravação fora efectuada em Coimbra no dia 29 de Março de 1960, estando esta data muito próxima da que havíamos proposto na legenda do Blog (circa 1961).
Confrontados e cruzados os dados, optamos por incluir neste artigo os textos cantados pelo Dr. João Barros Madeira, mas não os tons do acompanhamento, uma vez que a audição em disco e em translado cassete, exigem um trabalho mais demorado e minudente.
No invólucro que editamos on-line neste Blog, proveniente de colecção particular do Dr. José Miguel Baptista, o rosto é inteiramente preenchido com uma vista aguarelada de Coimbra, figurando como título singelo “BALADA”. Na parte de trás constam o subtítulo “Barros Madeira”, a identificação dos instrumentistas, Jorge Tuna/Jorge Godinho (gg) e José Tito/Durval Moreirinhas (vv nylon), além de publicidade aos eps:

-“SÉ VELHA. GUITARRAS DE COIMBRA", Porto Rapsódia, EPF 5.93, ano de 1960, grupo de Jorge Tuna;
-“BALADA DO OUTONO”, Porto, Rapsódia, EPF 5.085, Março de 1960, José Afonso acompanhado pelo grupo de António Portugal;
-“FADO CORRIDO DE COIMBRA”, Porto, Rapsódia, EPF 5.094, ano de 1960, Casimiro Ferreira c/grupo de António Portugal.

A Rapsódia fez sair uma 2ª edição deste disco, talvez em 1963, com capa diferente da primeira. Na que possuímos, a aguarela ocupa apenas o canto inferior esquerdo da capa, sendo o restante espaço preenchido com “Barros Madeira” e os quatro títulos das peças em caracteres vermelhos. O título original, “BALADA”, passou para a parte de trás, figurando agora publicidade aos EP’s de Armando Marta (1963), José Afonso (Menino d’Oiro, 1963), Barros Madeira (Balada da Saudade, 2º EP, de 1962) e Casimiro Ferreira, 1960).
Na matriz discográfica ocorrem erros factuais que importa corrigir:
No tema N.º 1, o título original, Fado da Ansiedade, aparece encurtado para “Ansiedade”, sem quaisquer menções identificativas de textos;
No tema Nº 2 os dados estão relativamente correctos, pese embora a incorporação de uma 1ª quadra alheia ao original;
No tema N.º 3 há adulteração do título original, incorporação de letra alienígena de Bandeira Mateus, verificando-se ainda discrepâncias entre os dizeres da etiqueta e os constantes na contracapa. Na etiqueta são mencionados Bandeira Mateus (letra), Paulo de Sá (música) e Barros Madeira (sem motivo plausível), enquanto na capa cartonada são alinhados Bandeira Mateus e Barros Madeira;
No tema N.º 4, a etiqueta está correcta, mas na contracapa, além de Barros Madeira, alinhou-se desnecessariamente o nome de Paulo de Sá.
Duas destas gravações foram remasterizadas em compact disc, respectivamente “Ansiedade” e “Olhos Verdes”, no CD “Coimbra Tem Mais Encanto”, Porto, EDISCO, ECD 138, ano de 2000, faixas 6 e 9. A edição é meramente comercial, omitindo instrumentistas e mantendo os erros de autorias.
Relativamente ao trabalho de acompanhamento, saliente-se a presença das violas de cordas de nylon, confirmando-se quase em simultâneo nesses anos de 1957-1960 o pioneirismo de Durval Moreirinhas, José Tito Mackay, Paulo Alão e António Leão Ferreira Alves.
Jorge Tuna produz alguns arranjos de acompanhamento interessantes, sobretudo nas introduções e separadores. Nas partes cantadas, a tocata esmorece bastante e o cantor acaba por protagonizar uma marcação arrastada, sabido que uns e outros poderiam fazer bastante melhor. De certa forma Jorge Tuna revela desde cedo que entre o concertista e o acompanhador de cantores ia aquela diferença que Miguel Ângelo também colocava entre a pintura e a escultura.

1 – FADO DA ANSIEDADE
Música: Francisco Paulo Menano
Letra: 1ª quadra popular; 2ª quadra de Martinho Nobre de Melo

O mundo dá tanta volta,
Quem dera que fora assim,
E que numa dessas voltas
Tu viesses para mim.

Depois de Deus só é grande
O teu amor para mim;
Não é Deus por ter princípio,
Quase deus por não ter fim.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Canção musical estrófica monódica, retomada a partir da matriz efectuada na década de 1920 por António Menano. Este espécime constitui uma das velhas glórias de António Menano como cantor de Coimbra. Sendo já septuagenário, no dia 16 de Dezembro de 1967, dois anos antes da sua morte, António Menano ainda o interpretou com aplaudido sucesso na vernissage da Galeria Rodin do pintor Mário Silva.
António Menano gravou esta composição em Dezembro de 1929, em Berlim (Disco Odeon, LA 187 808b, master Og 1025). No disco vem a indicação de João Fernandes, à guitarra e Mário Marques, à viola, instrumentistas do Fado de Lisboa indicados pela editora. A gravação de António Menano encontra-se disponível em vinil (Álbum de Fados de Coimbra – António Menano, I Vol., disco 1, EMI-VC 2605983, editado em 1985) e em cassete e também em compact disc:
- Heritage, HT CD 31, da Interstate Music, editado em 1995;
- Arquivos do Fado/Tradisom, Vol. V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995;
- CD António Menano – Fados, EMI-VC 7243 8 34618 2 0, editado em Setembro de 1995;
- Col. Um Século de Fado/Ediclube, CD N.º 1/Coimbra, EMI 7243 5 20633 2 1, editado em 1999.

O mesmo tema foi gravado em disco em 1960 por Augusto Camacho, acompanhado à guitarra por João Bagão e Fernando Xavier e, à viola, por António Leão Ferreira Alves (EP Fado do Mondego, Columbia, SLEM 2028).
No final da década de 60 viria também a ser gravado pelo cantor Manuel Branquinho, acompanhado à guitarra por si próprio e por Francisco Dias e, à viola, por Manuel Dourado (EP Ansiedade – Manuel Branquinho, Orfeu, ATEP 6405).
Gravado também por Luis Alcoforado, acompanhado por Paulo Soares/José Rabaça (gg) e Luis Carlos/Carlos Costa (vv), na cassete Praxis Nova, Canções de Coimbra, Porto, Fortes & Rangel, ano de 1989, Face A, Faixa n.º 5, com autoria atribuída a António Menano. Gravação remasterizada no CD “Praxis Nova. Percursos. Colectânea de Canções de Coimbra”, Porto, Fortes & Rangel, CDM 003, ano de 1998, faixa nº 3, persistindo o erro autoral.

Gravações disponíveis em compact disc de outros cantores:
- Tempo(s) de Coimbra, disco 1, EMI 0777 7 99608 2 8, comercializado em 1992 e novamente em 2005, a partir da antologia em vinil editada de 1984 (canta Alfredo Correia, acompanhado por António Brojo/António Portugal e Aurélio reis/Luis Filipe);
- Registo fadístico no CD Frederico Vinagre – Eternos Fados de Coimbra, MetroSom, CD 101, editado em 2000;
-Mário Gomes Pais, no CD “Coimbra é uma Saudade”, Coimbra AEMINIUM RECORDS, AE 002, ano de 2002, faixa nº 12, acompanhado por António Jesus/Carlos Jesus (gg) e Paulo Larguesa/Bernardino Gonçalves (vv), imputando erradamente a autoria a António Menano.

2 – FADO DA DESPEDIDA DO 5º ANO MÉDICO DE 1937-1938
Música: João Gonçalves Jardim
Letra: João Gonçalves Jardim

A minha capa velhinha
Quer o destino levar
Não me roubes meu amor…
(Ai2) Também o teu negro olhar.

Foram-se as fitas doiradas
Com elas minha ilusão
Findou minha mocidade
(Ai2) S’tá chorar meu coração.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição de tipo estrófico, com melodia e ais neumáticos banais, cantada na Récita de Despedida do 5º Ano Médico de 1938, cuja peça, intitulada “Gotas amargas… quantum satis”, foi levada à cena no Teatro Avenida em fins de Março de 1938 e repetida na semana seguinte, em princípios de Abril. A Récita tinha também uma balada com coro, da autoria de António da Silva Fonseca, música e letra.
A solfa foi editada nesse mesmo ano em folheto impresso na Lito-Coimbra e o compasso é quaternário. Nas gravações existentes a letra apresenta-se alterada: No mínimo o tempo verbal do verbo “querer” deixa de estar no presente do indicativo para passar para o pretérito perfeito (“Quis” em vez de “Quer”). Por vezes, «o teu negro olhar» é substituído por «o teu meigo olhar» e nem o incipit escapa às adulterações.
Barros Madeira não canta exactamente a letra original, pois introduz no lugar da 1ª quadra uma outra de autor não identificado e estropia o 2º dístico da 2ª quadra.
Eis a letra gravada por Barros Madeira:

Eu vou partir, vou-me embora,
Tão triste por te deixar
Mas as saudades que eu levo
(AI2) Hão-de fazer-me voltar.

Foram-se as fitas doiradas,
Com elas minha ilusão
Foi-se a minha mocidade
(Ai2) Está a chorar meu coração.

Este mesmo “fado de despedida” foi gravado por Augusto Camacho Vieira, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Luis Filipe: CD “Coimbra na voz do doutor Camacho Vieira”, Discossete, ADD-CD 8640000, editado em 1992; disponível também em cassete.
Augusto Camacho é dos cantores que mais modificações introduz na letra, além da citada alteração da forma verbal. As alterações introduzidas por Augusto Camacho são: «Com ela teu meigo olhar», «Queimam-se as fitas doiradas» e «Vai-se embora a mocidade».
Outros cantores invertem a ordem das quadras e até o incipit surge adulterado para “Minha capa tão velhinha”.

3 – OLHOS VERDES
(UM FADO DE COIMBRA)
Música: Paulo de Sá
Letra: Francisco Gregório Bandeira Mateus

Teus olhos verdes, gaiatos,
São mais profundos que o mar;
Espelhos dum coração
Que escondes do meu olhar.

Teus olhos da cor do mar
São duas ondas serenas,
Duas velas dum altar
Onde rezo as minhas penas.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Na 1ª copla, ao 3º verso, o intérprete vocaliza «dum coração» embora se entenda que para bem cantar deveria dizer «de um coração», como se fosse um ditongo crescente «deum». Na 2ª quadra, ao 3º verso, não diz «do altar» mas sim «dum altar».
Com o mesmo título e as mesmas quadras de Bandeira Mateus, este velho clássico foi gravado por Manuel Branquinho, acompanhado à guitarra por si próprio e por Francisco Dias e, à viola, por Manuel Dourado (EP Balada do 6º Ano Médico/1958, Orfeu, ATEP 6409, ano de 1968).
Gravado também com a mesma letra por Carlos Costa, cantor activo na região do Porto, acompanhado à guitarra por Joaquim Martins, Armando Martins e Luis de Sousa e, à viola, por José Martins e Aníbal Ramos (EP Carlos Costa – Olhos Verdes Gaiatos, Ofir, AM 4.228 e LP Fados de Coimbra – Carlos Costa, Ofir, MAS 324).
A música é sempre a do clássico tema de Paulo de Sá, mais conhecido por Um Fado de Coimbra, por vezes designado também por “Nossa Senhora da Graça”. A presente melodia foi gravada inicialmente sob o título Fado da Mágoa (Fiz uma cova na areia) na Primavera de 1928, em Lisboa, por António Menano, que inicia o canto no tom de Sol (discos Odeon, 136819 e Odeon, A136819, master Og 691). Gravação disponível em vinil (Álbum António Menano, II volume, EMI-VC, Disco 1, Face B, faixa 3, editado em 1986) e em compact disc: António Menano – Fados, EMI-VC, volume II, editado em Dezembro de 1995.
António Menano canta as seguintes três quadras populares:

Fiz uma cova na areia
Pra enterrar a minha mágoa:
– Entrou por ela o mar todo,
Não encheu a cova d’água.

Tu de longe e eu de longe,
Tu sozinha e eu sozinho;
Oh quem pudesse, ai, fazer
Uma prega no caminho.

Cerejas frescas, vermelhas,
Suspensas pelos caminhos,
Sois os brincos das orelhas
Das filhas dos pobrezinhos.

Gravado sob o título Fado de Coimbra, tout court, e com uma outra letra em Setembro de 1929 por Armando Goes, acompanhado à guitarra por Albano de Noronha e Afonso de Sousa (Disco His Master’s Voice, E.Q. 254). A 1ª quadra que canta é popular e a 2º é de António de Sousa. O que é interessante e muito curioso é que o barítono Armando Goes gravou dois tons acima do tenor Barros Madeira e meio-tom acima de António Menano.

Nossa Senhora da Graça,
Que tantos milagres fazes,
S‘tou de mal com meu amor,
Senhora, fazei as pazes.

Falas de amor só as sabem
Os cegos de olhar profundo;
Há palavras que não cabem
Em toda a luz deste mundo.

O cantor António Bernardino efectuou um registo desta composição na década de 1960 e outro na antologia vinil de 1984 “Tempo(s) de Coimbra”. A 1ª gravação ocorreu num Ep Alvorada, do ano de 1966, com António Portugal/Manuel Borralho (gg) e Rui Pato (v nylon). A autoria da música está indicada correctamente, mas não a letra, no caso vertente atribuída a António Menano. Registo remasterizado no duplo CD “Serenata Monumental”, Lisboa, Movieplay, MOV 30.487 A, ano de 2003, faixa nº 15 do disco 1. A letra interpretada por Berna é a herdada da versão Armando Goes, com as coplas “Nossa Senhora da Graça” (popular) e “Falas de Amor só as Sabem” (António de Sousa). A 2ª gravação, realizada a propósito do programa televisivo da RTP “Tempo(s) de Coimbra”, em 1983, foi posteriormente vertida na monumental antologia vinil com o mesmo título. Na 2ª e derradeira edição vinil, comercializada em 1990, o tema de Paulo de Sá ocorre no LP Nº 1 “Do princípio do século ao fim dos anos 20”, Lado A, faixa nº 4, EMI- Valentim de Carvalho 2603833 com arranjo de António Brojo, e acompanhamento por António Brojo/António Portugal (gg) e Aurélio Reis/Luís Filipe (vv). A autoria da letra é erradamente imputada a Paulo de Sá.
A versão fonográfica de António Menano (título e letra) foi retomada pelo malogrado cantor Raul Moreira Dinis (m. 07/11/2001), no CD “Coimbra de Sempre”, Lisboa, Discossete, CD 971000, ano de 1993, faixa nº 5, acompanhado por António Ralha/Jorge Gomes (gg) e Manuel Dourado (v nylon), numa escorreita interpretação de barítono.

4 – BALADA
Música: João Barros Madeira
Letra: João Barros Madeira

Adeus, amor, vou partir,
(Ai2) Adeus, amor, vou-me embora
Levando a boca a sorrir
Enquanto a minha alma chora.

E quando o terço rezares,
(Ai2) Pede a Nossa Senhora
Que me dê o seu favor
E me traga sem demora.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e, a seguir, repete-se o 1º dístico.
Informação complementar:
A melodia interpretada por Barros Madeira comporta trechos classizantes, facto que torna a audição pouco convidativa. A 2ª quadra não apresenta um sentido claro, por falta de complemento. Com o título modificado para “Adeus, Adeus Vou-me Embora”, este espécime foi gravado com alterações da letra por Carlos Costa, cantor activo na região do Porto, acompanhado à guitarra por Joaquim Martins, Armando Martins e Luis de Sousa e, à viola, por José Martins e Anibal Ramos (LP “Fados de Coimbra – Carlos Costa”, Ofir, AMS 324). No disco vem a indicação «D.R.» indicativa de Direitos Reservados ou, por outras palavras, de desconhecimento dos autores da música e da letra.
A versão fonográfica de Carlos Costa é a seguinte:

Adeus, adeus, vou partir,
(Ai2) Adeus, adeus, vou-me embora,
Levando a boca a sorrir
Enquanto a minh’alma chora.

E quando o terço rezares
(Ai2) Pede a Nossa Senhora
Que me faça cá voltar
E que não deixe ir embora.

Carlos Costa, no final da 2ª quadra, em vez de repetir o 1º dístico desta quadra, repete mas é o 1º dístico da 1ª quadra.

VIAGEM PELO CANTO E PELA GUITARRA DE COIMBRA
(Organização, programação e apresentação pelo Grupo Serenata de Coimbra. Tarde de Domingo em Alenquer, estúdio do Pintor João Mário, 6 de Abril de 2003)

Apresentadores: José Anjos de Carvalho, Francisco de Vasconcelos, Fernando Murta Rebelo
Cantores: Alcindo Costa, José Barros Ferreira, Tito Costa Santos, Tomé Medeiros, Victor de Carvalho e como convidados José Anjos de Carvalho e Augusto Camacho Vieira
Violas: João Figueiredo Gomes, Rodrigues Pereira e Manuel da Costa Brás
Guitarras de Coimbra: Alexandre Bateiras e António Serrano Baptista

Abertura, por Francisco de Vasconcelos
Em meados da década de 50, havia em Coimbra um jovem estudante, o Mac Mahon, do qual os desse tempo ainda se lembram: era o porta-estandarte do Orfeon, e principiava sempre as suas apresentações com as palavras: “SENHORAS MINHAS E MEUS SENHORES”. Como não podia deixar de ser, ficou-lhe logo a alcunha de “Senhoras Minhas” e eu, hoje, e aqui, vou parafraseá-lo também, começando por vos englobar a todos nesta saudação de boas-vindas: Senhoras minhas e meus Senhores, muito boa tarde. O Grupo Serenata de Coimbra deseja-vos uma agradável viagem através do Canto e da Guitarra de Coimbra.
Vou ainda contar uma breve história coimbrã, passada no primeiro exame de anatomia que o então estudante Barrigas de Carvalho protagonizou: chegada a sua hora, foi feita a chamada e o Barrigas de Carvalho aproximou-se do Mestre. Pergunta este: “O senhor é que é o Barrigas de Carvalho?” Resposta imediata dele: “Sim senhor, Barrigas por parte da minha Mãe e Carvalho por parte do meu Pai.”
Vem esta história a propósito do seguinte: os textos que acompanham as diversas peças deste percurso coimbrão foram todos escritos pelo nosso companheiro José Anjos de Carvalho que, se fosse apresentado pelo Barrigas, certamente diria que o Anjos de Carvalho é Anjos por parte da Mãe e Carvalho por parte do Pai. Para todos vós, uma agradável sessão.

I – INDICATIVO do grupo (Balada de Coimbra, solo de Guitarra por António Serrano Baptista)
Acabámos de ouvir uma BALADA DE COIMBRA, uma peça composta em Lourenço Marques no ano de 1949, da autoria de Francisco Serrano Baptista. É o indicativo do Grupo Serenata de Coimbra, o seu cartão de visita, o sinal que precede as actuações do Grupo e o identifica. Esta Balada fez enorme sucesso em Lourenço Marques, cantada e tocada na Guitarra por Serrano Baptista, que se fazia acompanhar no violão aço pelo autor da letra, Dr. Luís Paiva. Foi também editada em Portugal pela casa Olímpio Medina, de Coimbra.
Perguntar-se-á, quem foi Francisco Serrano Baptista? O Dr. Serrano Baptista foi um dos mais destacados estudantes da UC da Década de Oiro da Academia, a década de 1920: cantor, compositor, guitarrista, violonista, orfeonista e tuno com boa formação musical. Nasceu em Mação no ano de 1910, fixou-se em Coimbra aos nove anos, cidade onde fez sucessivamente o Liceu e o curso de Direito (1932). Radicou-se em Lourenço Marques, Moçambique, no ano de 1944, onde trabalhou como Director Comercial dos Caminhos de Ferro. Faleceu em 1954. É autor de algumas composições emblemáticas para canto e solos de guitarra. Foi em sua homenagem que o Grupo Serenata de Coimbra adoptou este indicativo.

II – Da 2ª metade do século XIX até ao início de 1920
FADO DAS TRÊS HORAS, interpretação vocal de José Anjos de Carvalho
A nossa viagem tem seu início na 2ª metade do século XIX. Vamos primeiramente ouvir o que, em termos musicais é, e tipicamente se chama, uma “serenata”. O tema foi improvisado de madrugada, a desoras, numa noite de paródia, em 1887 (época estival), no rio Vizela, vogando de barco os seus autores. Embora com o título Canção da Noite, esta serenata é vulgarmente mais conhecida por Fado das Três Horas, nome com que os seus autores primeiro a baptizaram, por ser àquela hora da noite que tal improvisação aconteceu.
A música é de Reynaldo Varella, de seu nome completo Reynaldo Augusto Álvares Pereira Leite da Silva Pinto Varella, natural de Ponte de Lima, onde nasceu em 1867, descendente dos morgados de Tabuaço, excelente cantor, compositor, professor de música e um grande guitarrista, tanto que foi apelidado de “o Liszt da Guitarra”.
A letra original, naquela altura também improvisada, é de Bráulio Caldas, de seu nome completo Bráulio Lauro Pereira da Silva Caldas, distinto poeta, natural de Vizela, então quartanista de Direito da UC.
Esta serenata, de tipo estrófico, constituiu um sucesso espantoso naquela época, sucesso que perdurou por décadas, de tal forma que foi logo gravada na sua versão original, precisamente no ano em que foram feitas as primeiras gravações portuguesas, isto é, no ano de 1904. Posteriormente, foi adaptada a esta serenata uma outra letra, duas quadras de Guerra Junqueiro, extraídas do livro “A Morte de D. João”, e, acompanhando os gostos da época e por influência do chamado “estilo Manassés de Lacerda”, foram-lhe introduzidos alguns “ais”, cuja duração se podia prolongar ad libitum, isto é, à vontade do intérprete.
Este Manassés de Lacerda, de que falaremos mais adiante, foi antigo escolar do Liceu de Coimbra no início do século XX. Como cantor, foi o criador de um estilo muito próprio, estilo esse caracterizado por prolongar de forma sustentada e muito expressiva as notas mais agudas através dos referidos “ais” de duração ad libitum. É esta versão do Fado das Três Horas, no chamado estilo Manassés de Lacerda, que vamos ouvir.

FADO HYLARIO MODERNO, interpretação vocal de José Maria Barros Ferreira. Palavras de contextualização por Fernando Murta Rebelo
O chamado Fado Hilário, tal como se canta, nunca o Hilário o cantou, ou o ouviu cantar, nem consta no Cancioneiro de César das Neves, publicado na última década do século XIX.
O Fado Hilário que presentemente se canta e iremos escutar, compreende três partes musicais:
A 1ª parte é constituída exclusivamente pelo Fado Serenata do Hilário, composição de Augusto Hilário que veio a lume em 1894;
A 2ª e 3ª partes são constituídas integralmente pela música do chamado O Último Fado, do Hilário, composto e oferecido por ele a César das Neves, no verão de 1895, com o pedido que reservasse para mais tarde a sua publicação no Cancioneiro, quando ele, Hilário, o tivesse já composto definitivamente.
Meses depois, nas férias da Páscoa de 1896, Hilário morre sem ter concluído a pretensa versão definitiva e César das Neves acaba por vir a publicar, no dito cancioneiro, a versão original que Hilário lhe entregara meses antes.
Ao certo, ao certo, não se sabe quem teria tido a ideia de reunir estes dois fados do Hilário (o Fado Serenata e O Último Fado) num só fado, e bem assim a forma feliz como a junção foi feita, mas é voz corrente que tal junção se deve ao já referido Manassés de Lacerda, inspirado compositor e um dos melhores e mais célebres cantores de Coimbra de todos os tempos, excelente tenor, dotado de bela voz, extensa, potente e bem timbrada, que na primeira década do século XX criou um estilo de cantar muito sui generis, o chamado “estilo Manasses” (ou Manassés de Lacerda), caracterizado, como já se disse, por prolongar de forma sustentada e muito expressiva as notas mais agudas através de “ais” de apreciável duração.
Nessa junção dos dois citados fados do Hilário e por influência do chamado “estilo Manasses”, foram introduzidos os “ais” de duração ad libitum, tal como aconteceu com o Fado das Três Horas, e modificados o compasso e os tons originais.
Este novo fado, designado inicialmente por Fado Hilário Moderno, agora com duas partes musicais, foi cantado e gravado pelo próprio Manassés de Lacerda, no seu estilo muito próprio de cantar, em meados da 1ª década de 1900, fado cuja respectiva partitura foi editada na 2ª Série de “Fados e Canções Portuguesas cantadas por Manassés de Lacerda para cilindros e discos de máquinas falantes”. Na partitura do chamado Fado Hilário Moderno, inserto, como se disse, na 2ª série de Fados e Canções Manassés já os referidos “ais” se encontram introduzidos e integrados na respectiva notação musical.

FADO MANASSÉS (=FADO MARIA), interpretação vocal de Víctor de Carvalho
O chamado Fado Manassés é um fado da 1ª década do século XX. Manassés de Lacerda, de seu nome completo Manassés Ferreira de Lacerda Botelho, era natural de Sabrosa, Trás-os-Montes, onde nasceu em 1885. Foi antigo escolar de Coimbra no início do século 20, mas não chegou a entrar na UC.
Inspirado compositor e inegável cantor de eleição, deixa Coimbra e vai para o Porto em 1905, onde, logo nesse mesmo ano de 1905, grava numerosíssimos fados. É de referir e salientar que o ano de 1905 é o 2º ano em que foram feitas em Portugal as gravações dos primeiros discos.
Manassés da Lacerda casa em 1908 em Miragaia e, a seguir, emigra com sua mulher Margarida para o Brasil, onde se fixa e vem a morrer em 1962.
Na sua versão original, este fado tem por título "Fado Maria", sendo um dos muitos fados gravados por Manassés de Lacerda entre 1905 e 1906-07.
Além das referidas gravações de discos, foram também publicadas, entre 1905 e 1907, três séries de edições musicais sob o título de «Fados e Canções Portuguesas cantadas por Manassés de Lacerda para cilindros e discos de máquinas falantes», contendo, cada uma dessas 3 séries musicais, a letra e a notação musical de 10 composições, num total de 30, portanto. A editora dessas três séries de partituras foi a casa Arthur Barbedo, que tinha sede na Rua Mousinho da Silveira, 310-1º, Porto, e cada série de 10 composições custava 600 réis. Além da edição Barbedo, saíram duas outras importantes edições do repertório Manasses: em 1914, a edição portuense da casa Moreira de Sá; em 1916, a edição portuense e brasileira de promoção ao vinho do Porto Constantino Quinado. Como se pode ver, Manassés foi o primeiro cantor de Coimbra a alcançar promoção comercial internacional através de partituras impressas e de discos de 78 rpm, sendo de lamentar que as partituras impressas nunca mencionem autorias de músicas e de letras.
A serenata que vamos ouvir vem inserida na 1ª Série dos referidos Fados e Canções Manassés, sob o título Fado Maria, precisamente por ter sido dedicada por Manassés a uma jovem Maria. O seu nome, porém, viria a generalizar-se com uma outra letra, sob o título Fado Manassés.
É um fado que exige do aparelho fonador excelentes atributos vocais e uma voz muito moldável, tal como acontece com o Fado Hilário que ouvimos há pouco, cantado com “roupagens” ao estilo Manassés de Lacerda. Está em compasso 4/4, à semelhança de quase todo o repertório Manassés. A letra escolhida, não é a original, correspondendo à matriz fixada em disco por António Menano no final da década de 1920.

VALSA DE OUTROS TEMPOS, solo de Guitarra por António Serrano Baptista. Palavras de apresentação por Francisco Vasconcelos
A VALSA DE OUTROS TEMPOS compreende duas partes musicais. A 1ª parte desta valsa é da autoria de Gonçalo Paredes, pai de Artur Paredes, valsa que foi completada por seu filho Artur Paredes quando em 1923 pretendeu homenagear a sua noiva e futura esposa. Convirá referir aqui que a forma de dedilhar a Guitarra de Coimbra foi evoluíndo ao longo dos tempos e que o próprio instrumento sofreu sucessivas transformações na morfologia da sua construção.
Antigamente, as guitarras eram mais pequenas e a sua sonoridade bem menor. Uma outra inovação foi o acompanhamento dos solos de guitarra passar também a ser feito com uma 2ª guitarra, o que constituiu outra acentuada melhoria. Esta evolução nos sons das guitarras, convirá aqui referir, deve-se em grande parte ao genial guitarrista que foi Artur Paredes. Vamos pois ouvir a Valsa de Outros Tempos, não propriamente como antigamente se tocava, mas como presentemente se interpreta a partir da versão de Carlos Paredes.

SAMARITANA, vocalização de José Anjos de Carvalho, palavras de apresentação por Fernando Murta Rebelo
Este fado-canção começou a generalizar-se nos primeiros anos da implantação da República Portuguesa e o seu autor, quer da música, quer da letra, foi e é Álvaro Cabral (contudo, na discografia de cantores de Coimbra, em vez de Álvaro Cabral vem erradamente o nome de Álvaro Leal como autor. Deve ter surgido, mais coisa menos coisa, entre 1914 e 1916. A confusão autoral é, digamos, um erro que já se tornou sistemático – este Álvaro Leal é um compositor e escritor teatral, natural do Funchal, antigo aluno do Colégio Militar, falecido em Lisboa com apenas 38 anos, em 1931).
Álvaro Cabral, o autor da Samaritana, nasceu em Vila Nova de Gaia em 1865, pelo que é apenas um ano mais novo do que Augusto Hilário. Estreou-se como actor no teatro da Rua dos Condes, em Lisboa, em 1890. Desempenhou primeiros papéis em diversas revistas e operetas e foi também autor de algumas revistas, nomeadamente em colaboração com João Bastos ou com Penha Coutinho.
Além de compositor e letrista, Álvaro Cabral era um boémio muito espirituoso e um bom e grande conversador. Morreu em 1918, no Porto. Tinha 53 anos e era primeiro actor e director de cena da companhia que trabalhava no Teatro Nacional de São João.
Este fado-canção não foi, nem é propriamente, um Fado de Coimbra. Mas também não é um fado de Lisboa com melodia padronizada, facto que ajudará a explicar grande parte do sucesso que veio a conquistar em Coimbra. Acontece que, a partir de 1928, ano em que foi gravado por Edmundo Bettencourt, a Academia de Coimbra apropriou-se dele e muitos cantores de Coimbra o têm cantado e gravado, tendo-se tornado num dos Fados de Coimbra mais emblemáticos. A versão que vamos apresentar é a herdada de Edmundo Bettencourt, importando referir que foi conhecida uma outra na voz de António Menano, a qual não conquistou palmarés. Relativamente aos meios fadísticos lisboetas, este fado-canção caíu no esquecimento. Foi no entanto gravado no estilo Lisboa pelo fadista Nuno da Câmara Pereira, pelos idos de 1986, num registo que gerou enorme polémica em Coimbra.

FADO SEPÚLVEDA, vocalização de Victor de Carvalho
A música deste fado é de Júlio César Afonso Sepúlveda que, em finais do século XX, princípios do século XX, era despachante na Alfândega de Lisboa.
Afonso Sepúlveda era mais conhecido entre os amigos da boémia lisboeta pela abreviatura VEDA, isto é, pelas duas últimas sílabas do seu nome (Sepúl+VEDA).
É um Fado de Lisboa, do fim do século XIX. Compreende duas partes musicais e foi gravado inicialmente, na sua forma original, pelo actor e tenor António de Almeida Cruz, ainda nos tempos da Monarquia Portuguesa. A partitura deste fado, feita na Alemanha, foi editada no início do século XX pela casa Raul Venâncio, sita então na Rua do Ouro, n.º 63, em Lisboa. Deste fado de Lisboa, foi apenas aproveitada a 1ª parte musical para a sua adaptação, com uma outra letra, a Fado de Coimbra, tendo sido gravado em 1927 por Lucas Junot, um estudante brasileiro que cursou na UC e que foi um dos mais famosos cantores do seu tempo.

III – Década de Oiro, palavras e contextualização por José Anjos de Carvalho
Estamos agora a chegar à década de 1920, a chamada DÉCADA DE OIRO DA ACADEMIA DA COIMBRA. Entenda-se que estamos a falar de “Década de Oiro” apenas no âmbito do foro musical coimbrão, pois outros géneros musicais como o Tango também individualizam artisticamente uma “Idade de Ouro” (1920-1935).

CANÇÃO DAS LÁGRIMAS, vocalização de Alcindo Costa
O seu autor foi o estudante Armando Goes (1906-1967), que frequentou a UC entre 1924 e 1930, ano em que se licenciou em Medicina.
Armando Goes foi um fino compositor e um dos mais notáveis cantores da chamada “geração de oiro”. Dotado de uma voz portentosa, doce e maleável, cantava, com um tão inexcedível sentimento, que a todos encantava e embevecia, tendo gravado, entre os anos de 1927 e 1930, uns oito discos de duas faces para a His Master’s Voice, enquanto era estudante.

VARIAÇÕES EM RÉ MENOR Nº 1, solo de Guitarra por Alexandre Bateiras, palavras de Francisco de Vasconcelos
As variações que se seguem são do mais genial guitarrista de Coimbra. Tal como aconteceu com o cantor Manassés de Lacerda, outro tanto aconteceu com o guitarrista Artur Paredes. Aquele criou um estilo muito próprio de cantar e este criou um estilo muito próprio de tocar guitarra e de fazer o acompanhamento dos cantores.
Natural de Coimbra, Artur Paredes nasceu em 1899, filho de Gonçalo Paredes, um dos maiores guitarrista de Coimbra do seu tempo. Artur Paredes, tal como Manassés de Lacerda, também nunca frequentou a UC mas conviveu intimamente com o meio estudantil.
Artur Paredes viveu em Coimbra até 1934, altura em que, sendo funcionário do Banco Nacional Ultramarino, pediu e obteve transferência para Lisboa, cidade onde fixou residência e viria a falecer em 20 de Dezembro de 1980.
Artur Paredes foi o grande fenómeno da Guitarra de Coimbra, apartando-a e individualizando-a completamente dos modelos mais comuns em voga em Lisboa e no Porto.
Foi Artur Paredes quem, em estreita colaboração, numa primeira fase com o guitarreiro Joaquim Grácio, e numa segunda fase com o notável guitarreiro João Pedro Grácio Junior, introduziu várias transformações na morfologia da construção da Guitarra Toeira de Coimbra: alargou e abaulou a escala, reformou a voluta, elevou o nível da pontuação e aumentou a altura das ilhargas, introduziu o vigamento da caixa com três barras, ampliando a caixa de ressonância na procura da obtenção de uma maior pureza de notas, quer isoladas, quer em acordes.
Artur Paredes revolucionou também a dedilhação, servindo-se de um novo sistema de afinação e criando uma nova forma de digitação, em contraponto com a tradicional forma lisboeta da “verticalidade linear”, e distanciando-se dos toques singelos usados pelos tocadores de folclore da Beira Litoral. À “verticalidade linear” contrapôs a “movimentação digital no sentido da lateralidade”, captando efeitos polifónicos, proclamando a supremacia do acorde com o emprego simultâneo de todos os dedos, técnica que, por sua vez, veio facilitar o uso de dissonâncias.
A Artur Paredes se deve também a inovação do emprego de uma 2ª Guitarra de Coimbra no acompanhamento do solista. De Artur Paredes se diz que reinventou e renovou a Guitarra de Coimbra e que, no foro musical coimbrão, o seu contributo foi de tal ordem que há um “Fado de Coimbra” antes de Artur Paredes e, um outro, depois dele.
Esta "variação" é um clássico de inícios da década de 1920, ainda hoje muito tocada em espectáculos e ensaiada para efeitos de gravação em estúdio. O tom de Ré era muito querido pelos tocadores de Coimbra já em oitocentos, permitindo aproximações ao Fado (e neste caso, temos mesmo no trecho final um galope sobre o "Fado de Mario Gayo" em corrido menor). Mas na época a que nos referimos, e até às gravações do compositor/autor em 1927, Artur Paredes idealizara já uma média de 4 a 5 peças distintas por forma a explorar em maior e menor as cordas da Guitarra de Coimbra na nova afinação que estava a ser implementada e testada.

CANÇÃO DO ALENTEJO, vocalização de Tito Costa Santos, palavras de Fernando Murta Rebelo.
Trata-se de uma canção de raiz acentuadamente folclórica, de que a Academia de Coimbra se apropriou através da voz privilegiada de Edmundo Bettencourt, que a gravou em 1928, com Artur Paredes na orquestração e no acompanhamento. Nela também se notam alguns ais de duração variável, sustentada à vontade do gosto do cantor, os ditos ais ao estilo Manassés. A versão apresentada é a de Edmundo Bettencourt, sendo conhecida mas não praticada a de António Menano.

VARIAÇÕES EM RÉ MENOR, solo de Guitarra por Alexandre Bateiras
Flávio Rodrigues nasceu em Coimbra em 1902 e morreu em 1950, com apenas 48 anos de idade. Homem do povo de Coimbra, barbeiro de profissão e grande virtuoso da guitarra, é outro dos grandes vultos do foro musical coimbrão, mestre de guitarra de várias gerações de estudantes nas décadas de 30 e de 40. Gravou alguns discos de guitarradas em 1927, participou na 1ª se´rie de registos de António Menano em Paris, e é autor de diversas peças e variações, entre as quais as Variações em Ré Menor que vamos ouvir.

MENINA E MOÇA, vocalização de José Maria Barros Ferreira, palavras por José Anjos de Carvalho
A música original de Menina e Moça é a do Fado da Récita de Despedida do V Ano Médico de 1919-1920. Este fado Menina e Moça, usando a habitual terminologia aplicada aos “Fados de Récitas”, deveria antes designar-se por “Fado do V Ano Médico de 1920”. O fado primitivo é, portanto, o Fado da Récita de 1920. O seu autor foi Fausto de Almeida Frazão, então quintanista de Medicina, e foi precisamente ele, Fausto Frazão, quem, na dita récita, cantou o referido fado.
Fausto Frazão foi, sem dúvida alguma, um dos grandes cantores daquela época, com actuações públicas em Coimbra, Lisboa e Paris. Infelizmente não chegou a gravar disco algum, pois, tempos depois de formado, foi para Angola como médico e por lá ficou. Foi Deputado à Assembleia Nacional, por Angola, e Presidente da Câmara de Benguela, cidade onde viria a falecer em 1946.
Menina e Moça é um dos mais emblemáticos Fados de Coimbra, pelo que tem sido cantado e gravado por numerosos cantores ao longo de sucessivas gerações.
Na discografia aparecem frequentemente erradas as autorias, quer da música, quer da letra, e o título vem muitas vezes substituído pelo seu 1º verso, ou seja o incipit. Além disso o nome de Edmundo Bettencourt figura por vezes como co-autor, o que também está errado, pois ele nada tem a ver com a autoria, quer da música, quer da letra. O fado é de 1920 e Edmundo Bettencourt só foi para Coimbra em fins de 1922.
A letra do Fado da Récita de 1920 é de Américo Cortez Pinto, que também era quintanista de Medicina, letra que compreende 4 quadras e cuja 1ª quadra é também, simultaneamente, a 1ª quadra do fado Menina e Moça. Porém, a 2ª quadra do fado Menina e Moça, não é do Fado da Récita, nem é de Américo Cortez Pinto, é uma quadra popular.
O fado Menina e Moça foi gravado pela primeira vez no Porto, em 1928, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola por Mário Faria da Fonseca. António Menano também gravou este fado em Dezembro de 1928, com o mesmo título e música, mas adaptou-lhe uma outra letra que não ganhou muitos aderentes.

ALEGRIA DOS CÉUS, canta Victor de Carvalho
ALEGRIA DOS CÉUS é também um fado da Década de Oiro, os anos 20. Foi gravado em 1929 por Edmundo Bettencourt. O autor da letra é José Campos de Figueiredo, antigo estudante de Coimbra daquela década e, o autor da música, é Mário Faria da Fonseca, o violonista que, tal como Artur Paredes, sempre acompanhou Edmundo Bettencourt em todas as suas gravações.

FIM DA 1ª PARTE
INTERVALO

SEGUNDA PARTE
IV – ANOS 40 e 50, palavras por Francisco de Vasconcelos
Senhoras minhas e meus Senhores: antes de continuarmos a nossa viagem musical coimbrã, queremos informar os senhores passageiros deste mágico autocarro que acabamos de chegar aos anos 40 e 50 do século XX.

FEITICEIRA, canta Alcindo Costa
A FEITICEIRA é uma serenata ligeira dos anos 40, música e letra de Ângelo Araújo. O seu primeiro divulgador foi o famoso Manuel Simões Julião, que após transito pelo Liceu de Coimbra, foi caloiro de Direito no final da década de 1930, tendo frequentado Histórico Filosóficas de 1940 a 1945. Este solista do naipe dos 1ºs tenores do Orfeon Académico nasceu na Pampilhosa, Mealhada, em 1915. Trabalhou longos anos como funcionário administrativo, primeiro na Câmara Municipal de Aveiro, e mais duradouramente na Secretaria da Câmara Municipal de Mortágua. Faleceu em 1982.
Aquando da preparação do filme “Capas Negras”, de Armando Miranda, esta serenata era muito conhecida em Coimbra e estava na moda. Foi por isso que o dito fado acabou por ser aproveitado e escolhido para fazer parte desse mesmo filme. A Alberto Ribeiro coube no filme o papel principal, de estudante e cantor, e foi ele, sem dúvida, o grande divulgador deste fado por todo o país e Brasil, o que constituiu um grandioso sucesso, quer pessoal, quer do próprio fado. Apesar do enorme sucesso de bilheteira, o filme levantou enorme reacção na Academia de Coimbra. A primeira gravação conhecida desta serenata foi feita no Brasil, em disco de 78 rpm, pelo próprio Alberto Ribeiro.

VARIAÇÕES EM LÁ MENOR, solo de Guitarra por António Serrano Baptista
João Bagão, nasceu na Figueira da Foz, completou o curso dos liceus em Coimbra e frequentou a Faculdade de Ciências durante três anos.
Em 1948 abandonou Coimbra e os estudos e fixou residência em Lisboa, tendo trabalhado como agente de propaganda médica (Figueira da Foz, 14/07/1921; Lisboa, 09/12/1992).
Amante de música, tocou bandolim, viola, piano e guitarra. Definitivamente atraído para guitarra, tornou-se num dos melhores guitarrista de Coimbra do seu tempo.
João Bagão sofreu notória influência do estilo revolucionário e inovador de Artur Paredes, tocava com invulgar virtuosismo e foi, em certa medida, um renovador, quer a compor, quer a fazer os acompanhamentos.
Esta composição, de meados da década de 40, foi popularíssima em Coimbra e nos repertório de grupos activos no Porto, sendo vulgramente conhecida por "Lá Menor das Feiras".

ADEUS A COIMBRA, canta Augusto Camacho Vieira, palavras de Fernando Murta Rebelo
A música e a letra são de Edmundo Bettencourt. O fado foi gravado pela primeira vez em 1957 por Augusto Camacho, acompanhado à guitarra por Carlos Paredes e, à viola, por António Leão Ferreira Alves, disco que viria a ser editado no ano seguinte, em 1958. Dois anos depois, em 1960, este mesmo fado voltaria a ser gravado pela voz de Paradela de Oliveira, acompanhado à guitarra por João Bagão e José Amaral e, á viola, por Arménio Silva.

AGUARELA PORTUGUESA, solo de Guitarra por António Serrano Baptista, palavras de Francisco de Vasconcelos
A guitarrada AGUARELA PORTUGUESA é da autoria de António Portugal, guitarrista de nomeada, a quem a CC muito deve. António Portugal teve como mestres de guitarra dois barbeiros de profissão, os irmãos Rodrigues da Silva, o Flávio, «o barbeiro da Velha Alta» e o Fernando, «o barbeiro da Académica». Estes dois grandes mestres, o Flávio e o Fernando, eram filhos de António Rodrigues da Silva, também ele um notável guitarrista no seu tempo. António Portugal participou logo em 1952 nas primeiras gravações que houve de Fados e Guitarradas de Coimbra depois de 1930. Era então um jovem estudante de 21 anos, trabalhando como 2º guitarra de António Brojo.
Em 1956-57 é 1º guitarra do célebre grupo Coimbra Quintet, que grava os primeiros discos de vinil, e nunca mais pára até que a morte o levou em 1994, tinha ele 63 anos. Praticamente, António Portugal dedicou toda a sua vida de adulto à música e CC.
Aproveito para pedir a vossa especial atenção para o facto de, não sendo esta uma das mais ricas guitarradas de Coimbra, é das poucas que permite um diálogo permanente entre as duas guitarras, numa conjugação musical difícil de encontrar.

RUA LARGA, canta Tomé de Medeiros, palavras por José Anjos de Carvalho
O fado RUA LARGA foi composto por Carlos Figueiredo em 1958, em Angola, destinado propositadamente para ser cantado nas comemorações da Tomada da Bastilha que tiveram lugar em Novembro desse mesmo ano de 1958. O fado veio depois a ser gravado por Luiz Goes em 1967, com João Bagão e Aires de Aguilar nas guitarras e António Toscano e Fernando Neto Mateus da Silva nas violas. A letra evoca uma antiga rua da Alta de Coimbra, que ia do Arco do Castelo, junto aos velhos Hospitais da UC, até à Porta Férrea da UC.

V – ANOS 60 E CANTARES DE INTERVENÇÃO, palavras por Francisco de Vasconcelos
Vamos continuar a nossa viagem musical atravessando agora os anos 60 e os Cantares de Intervenção.

CANTIGA PARA OS QUE PARTEM, vocalização de Tito Costa Santos, na versão gravada por Adriano
Começamos pela CANTIGA PARA OS QUE PARTEM. A letra é de Rosalía de Castro, que foi inspirada poetiza galega do século XIX. A música foi composta por José Niza para uma peça de teatro ensaiada em 1969, e logo perseguida pela censura. Foi gravada por Adriano Correia de Oliveira sob o título CANTAR DE EMIGRAÇÃO e, por António Bernardino, sob o título CANTIGA PARA OS QUE PARTEM.
As letras são ligeiramente diferentes, são duas variantes literárias sobre o mesmo tema, devendo considerar-se versão correcta a gravada por Adriano Correia de Oliveira.

FLORES PARA COIMBRA, vocalização de Augusto Camacho Vieira
A letra é de Manuel Alegre, a música é de Joaquim Fernandes e o arranjo musical é de Francisco Martins. Foi António Bernardino, o nosso saudoso Berna, quem primeiro gravou esta canção, cujo disco constitui um gritante testemunho sonoro da grande Crise Académica de 1969, precisamente o ano em que o disco foi editado. Joaquim Fernandes da Conceição, natural da Freguesia de Cedofeita, Porto, era companheiro de António Bernardino no Quartel Militar de Santa Clara de Coimbra, na Secção de Transportes Rodoviários, quando Berna lhe pediu que pusesse em música o poema de Manuel Alegre para um disco que pretendia ensaiar e gravar no segundo semestre desse ano de 1969. Fernandes entrou em Santa Clara no mês de Março de 69, tendo idealizado a composição por Junho desse ano, na sua casa de família no Porto. Tocou a melodia ao piano e fez um trauteio, que depois de passados a cassete foram entregues em mão a António Bernardino. É uma linda canção em compasso 4/4, e modo maior, com duas partes musicais, que Fernandes ajudou a ensaiar na casa de António Portugal. Terminado o serviço militar, Joaquim Fernandes regressou ao Porto, tendo trabalhado como jornalista no "Jornal de Notícias", e após Licenciatura em História na FLUP (1989), e mestrado (1996), passou a trabalhar como docente na Universidade Fernando Pessoa. O arranjo de guitarra proposto por Francisco Martins é de belo efeito, nem sempre lhe sendo dado o devido valor, uma vez que a autoria este trabalho costuma ser erradamente confundida com o nome de António Portugal.

MELODIA Nº 2, solo de Guitarra por Alexandre Bateiras
Carlos Paredes nasceu em Coimbra em 1925. É filho de Artur Paredes, neto de Gonçalo Paredes e sobrinho-neto de Manuel Rodrigues Paredes, pelo que provém de uma família de destacados guitarristas de Coimbra (m., Lisboa, 2004).
Quem não conhece Carlos Paredes? Compositor e intérprete de alto gabarito e grande inovador, a ele principalmente se deve a universalização da Guitarra de tipo conimbricense como instrumento musical. Esta composição aparece gravada pela primeira vez em 1967, no Lp “Guitarra Portuguesa”, com participação de Fernando Alvim na viola de acompanhamento.

TROVA DO VENTO QUE PASSA, canta Tomé de Medeiros
A música é de António Portugal e de Adriano Correia de Oliveira, a letra é de Manuel Alegre. Peça estrófica, passível de ser entoada em coro, foi gravada por Adriano Correia de Oliveira em 1963, após a Crise Académica de 1962 e depois por António Bernardino durante a Crise Académica de 1969, no Lp “Flores para Coimbra”. A autoria a música costuma figurar sempre com o nome de António Portugal, embora se saiba de fonte segura nos meios conimbricenses que foi Adriano quem compôs os rudimentos da melodia, a qual foi completada e aperfeiçoada por Portugal.

VI – ANOS 80 E SEGUINTES, palavras por Fernando Murta Rebelo
A nossa viagem entra agora pelos anos 80

MEMÓRIA, canta José Maria Barros Ferreira
Musicada por José Maria Barros Ferreira, que é também seu intérprete, esta canção tem letra de Francisco de Vasconcelos, que com ela quis homenagear a memória do Alferes Linhares de Almeida, morto em combate na Guiné em 1966. Composta por estes dois elementos do Grupo Serenata de Coimbra, aqui fica esta “memória”. Trata-se de uma composição inédita que oportunamente poderá vir a ser gravada.

ENCERRAMENTO
Caríssimos Amigos: chegámos ao fim da nossa viagem. De todos nos despedimos com a “Balada de Despedida do 5º Ano Jurídico de 1906-1907”. A música é do maestro Rebelo Neves e, a letra, é de Cândido Guerreiro, quintanista de Direito no ano de 1906-1907.
Esta Balada de Despedida foi recuperada pelo Grupo Serenata de Coimbra, que fez o arranjo que lhe deu a actual “roupagem”. De realçar a sensibilidade poética e a inspirada melodia que facilmente entra no ouvido e que, sendo cantada sempre no mesmo tom, permite apreciar o timbre das vozes dos diferentes solistas.
Convidamos o auditório a cantar o “Refrão”.
Como foi dito logo no início pelo nosso companheiro Tito Costa Santos, nas guitarras de Coimbra estiveram, Alexandre Bateiras e António Serrano Baptista e, nas violas, João Figueiredo Gomes, José Rodrigues Pereira e Manuel da Costa Braz, que, a finalizar, nos vão deliciar com a célebre Balada de Coimbra, de José Eliseu, na versão instrumental concebida por Artur Paredes.
Esperamos que a viagem romântica e sentimental que vos propusemos pelo Canto e Guitarra da cidade encantada de Coimbra, tenha sido do vosso agrado.
Muito obrigado pela vossa atenção.
Da nossa parte, foi um prazer estar convosco.

Nota: texto proveniente do arquivo particular do Coronel José Anjos de Carvalho, prestimoso colaborador do Blog “guitarradecoimbra”, cuja formatação e grafismo foram adaptados para efeitos de edição on line. De salientar que se trata da única proposta de alinhamento temático-cronológico alternativa ao projecto “Tempos de Coimbra”, divulgado em 1983 na RTP pela formação de António Brojo/António Portugal (não consideraremos ao mesmo nível o percurso proposto por José Manuel Beato e Patrik Mendes no DVD "História do Fado de Coimbra", editado pelo Diário de Coimbra em 2004, esgotado, reeditado em Dezembro de 2005 e de novo esgotado). Há alguns períodos artisticamente omissos, como as décadas de 1930 e a de 1970, merecedoras de maior individualização e diversificação. Em todo o caso, ressalvem-se o especial valor didáctico conferido aos textos, o tom coloquial do encontro, a substancia bem documentada da informação veiculada ao público, e o terrível esforço que é condensar em escassos minutos mais de 100 anos de composições musicais. Esta memória vinha acompanhada da rigorosa transcrição integral de todas as letras cantadas no espectáculo, as quais foram omitidas por necessidade de economia do texto (António M. Nunes).

sábado, dezembro 03, 2005


Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto. Comemorações do 12º aniversário. Posted by Picasa

Curiosidades: "Fado Maior" na TSF
Por António M. Nunes

Mário Dias, da TSF, e José Moças, da editora discográfica TRADISOM, conjugaram esforços no sentido de revigorar a campanha apostada na difícil aquisição da vasta colecção particular do britânico Bruce Bastin, respeitante a antigos discos de música portuguesa. Os referidos discos, gravados em Portugal e no Brasil entre 1902 e meados da década de 1950, em suportes anteriores à geração vinil, conglobam uma vasta gama de registos que vão do folclore a trechos teatrais, declamações, Fado ao estilo de Lisboa, temas da Canção de Coimbra e canções ligeiras em voga à época.
O editor José Moças tem desenvolvido desde os tempos da sua radicação em Macau, na década de 1990, uma notável acção de recuperação e de divulgação deste património sonoro desconhecido. Uma das acções então desenvolvidas, consistiu em editar a série de autênticas preciosidades intitulada "Arquivos do Fado", fruto de acordo com a Heritage (contendo dois discos relativos à CC, um inteirament dedicado a António Menano, outro generalista, com amostras de Artur Paredes, José Paradela de Oliveira, António Batoque, Lucas Junot e Edmundo Bettencourt).
Mais recentemente, José Moças tem tentado o tudo por tudo, junto do Ministério da Cultura, da Câmara Municipal de Lisboa, da Câmara Municipal de Coimbra, e de outras instituições com peso económico, com vista a processar definitivamente a aquisição portuguesa da colecção sonora londrina.
As negociação avançam e recuam a um ritmo exasperante. Há o risco de Bruce Bastin vender o espólio a coleccionadores norte-americanos pouco interessados em regatear preços. Da parte das instituições portuguesas, e seus representantes, há consenso quanto à urgência da aquisição, mas os desentendimentos persistem no tocante aos trâmites editoriais. O proprietário Bastin, representado em Portugal pelo advogado e estudioso de música tradicional José Alberto Sardinha, exige como cláusula negocial que seja a Tradisom a processar a edição integral dos fonogramas, decisão que não agrada a alguns potenciais compradores do lado português.
Em Novembro de 2005, Mário Dias lançou na TSF uma campanha de divulgação de amostras de alguns antigos fonogramas atinentes ao período 1902-1910.
Foram já divulgados:
-30/10/2005 - "À conversa com José Moças";
-31/10/2005 - "O mais antigo fado com registo conhecido", comentado por Carlos do Carmo;
-14/11/2005 - "Conde Anadia", comentado pelo Eng. Luís Penedo;
-21/11/2005 - "Morreu D. Carlos", comentado pelo Dr. José Alberto Sardinha;
-28/11/2005 - "Fado dos Olhos Negros", comentado por António M. Nunes
Os programas já transmitidos estão arquivados em "Fado Maior", http://tsf.sapo.pt/online/radio/dossiers/tsf/arquivo/fado03/programas.asp, devendo prosseguir nos próximos meses a divulgação de curtos trechos sonoros relativos ao Fado e à Canção de Coimbra.
Parabéns aos homens de bem que são José Moças, José Alberto Sardinha e Mário Dias, pois se o escutado sabe a pouco, a esperança do que se poderá adquirir só nos pode aguçar o apetite.

DR. JOSÉ AMARAL

Um guitarrista de Coimbra em Abrantes

Rui Moreira Lopes*


“[…]além de grande académico que viveu a nossa geração, foi um artista de rara qualidade e brilhante tocando a guitarra de forma extraordinária […] brilhante companheiro que recordo com saudade […] figura brilhante daquela época.”

Augusto Camacho Vieira.


Introdução

Nem todas as cidades, vilas ou aldeias de Portugal têm ou tiveram o privilégio de terem entre os seus habitantes, alguém que deixou o seu nome gravado no “corredor da fama” da Canção de Coimbra.
Abrantes é uma cidade que tem esse privilégio ao ser o local escolhido para habitar e exercer medicina, por um dos grandes guitarristas da segunda década de oiro da Canção de Coimbra: José Amaral, de que tencionamos fazer um breve esboço biográfico no artigo que ora apresentamos.

a) Os primeiros contactos com a Guitarra de Coimbra e os grupos de Canção de Coimbra

A Primeira República prosseguia o seu caminho e os soldados portugueses que combateram nas trincheiras da Flandres durante a Grande Guerra tinham regressado recentemente a Portugal, quando, em 1919, nasceu em Folhadosa, Concelho de Seia[i], José Maria Amaral.
Fez os estudos primários na sua terra natal, tendo prosseguido os estudos no Liceu D. João III em Coimbra, cidade para onde foi habitar em 1930[ii] com apenas onze anos, contudo, aos doze anos ficou órfão de mãe e aos dezanove anos ficou órfão de pai.
Coimbra não é apenas uma cidade para se estudar, pois é também a cidade onde se canta e toca a Canção de Coimbra, mas quando José Amaral chegou em 1930, já os grandes nomes da primeira década de oiro tinham abandonado a alma mater: António Menano estava a exercer medicina em Moçambique, Edmundo de Bettencourt já tinha abandonado definitivamente Coimbra tendo partido para o seu exílio lisboeta, enquanto que o brasileiro Lucas Junot tinha regressado às suas origens e andava “perdido” no imenso sertão brasileiro.[iii]
Com esta geração fora de Coimbra, urgia fazer surgir novos valores, para darem início a uma segunda década de oiro da Canção de Coimbra, na qual integramos o Dr. José Amaral.
É ainda durante a década de 30, quando ainda é estudante de Liceu, que José Amaral começa a aprender os primeiros acordes com Júlio Augusto Sequeira Mendes[iv], tocando na sua primitiva Guitarra toeira de Coimbra, que a sua família ainda guarda religiosamente.
Além disso, também integra a Tuna Académica da Universidade de Coimbra desde 1937, com o nº 178, quando ainda é “bicho[v]”, com o naipe de Viola[vi]. Nesta época, José Amaral habita na zona do Calhabé.
Já dava “uns toques” na sua guitarra quando o Dr. António Carvalhal, que necessitava de alguém que tocasse guitarra no seu grupo convidou José Amaral a fazer parte deste, que o integrou pelo menos até 1945, quando o Dr. Carvalhal abandonou a Lusa Atenas com destino à Covilhã[vii].
Na fase seguinte constituiu-se um novo grupo com António Sobral Carvalho e Eduardo Tavares de Melo nos instrumentos e Jorge Gouveia, Camacho Vieira e Manuel Julião, na voz[viii].
José Amaral também se destacou como compositor de instrumentais de Guitarra de Coimbra nas décadas de 40 e 50 do século passado, que hoje ainda alguns dos grandes guitarristas de Coimbra têm a honra de tocar, dos quais destacamos: Variações em Lá Maior (1944), Variações em Lá Menor (1945), Variações em Ré Menor (1946), Variações em Mi Menor (1953), Variações em Sol Menor (1953)[ix], Variações em Sol Maior (1954)[x].
Já a exercer Medicina e longe da alma mater, em 1954, regressou a Coimbra, para acompanhar o Orfeon Académico de Coimbra na célebre digressão ao Brasil, onde acompanhou à Guitarra Augusto Camacho Vieira, Luís Goes e Fernando Rolim, entre outros[xi].

b) O Estudante de Medicina e alguns dos seus mestres

À medida que desenvolvia os seus estudos na Guitarra de Coimbra, também prosseguia os seus estudos na Faculdade de Medicina, onde foi caloiro em 1942, pois terminou o curso de Medicina em 1948, sem nunca ter reprovado. Durante a frequência do Curso de Medicina, terá sido aluno de grandes mestres, dos quais seleccionámos três que consideramos os mais conhecidos: o Professor Maximino Correia, que também era o Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra, de quem se dizia que era um grande professor de Anatomia, onde até contava anedotas acerca do corpo humano[xii], mas também um bom justiceiro nos exames, pois quando um aluno via que não sabia a matéria desistia e regressava na época seguinte, não passando a vergonha de reprovar nem dando ao mestre o desgosto de reprovar[xiii] (também não devemos esquecer que o Professor Maximino tocava guitarra de Coimbra); O Professor Elísio de Moura, muito célebre entre os seus alunos (sobretudo pela sua característica cabeleira), por ajudar tudo e todos (deixou tudo o que tinha para a Casa de Infância Elísio de Moura que ainda existe) de quem o Dr. José Amaral teve a honra de assistir à última aula; por fim, também foi aluno do Professor Bissaya Barreto, que também deixou muita obra, entre as quais o famoso “Portugal dos Pequenitos”.

c) O Estabelecimento definitivo em Abrantes, a morte e o memorial.

O Dr. José Amaral acabou por estabelecer-se definitivamente em Abrantes, mais concretamente no Pego, onde já vivia em 1958[xiv] e exerceu medicina naquela localidade onde viveu alguns anos. Posteriormente, transferiu-se para a cidade de Abrantes onde viveu até ao final da sua vida e continuou a exercer medicina no seu consultório na Rua Nossa Senhora da Conceição, bem próximo de onde foi em tempos o Café Pelicano.
O facto de viver longe da alma mater, não foi motivo para deixar de tocar Guitarra de Coimbra, tendo fundado, em 1983, em Abrantes, o Grupo “Saudades de Coimbra” onde tocou guitarra até ao fim da vida, sempre com a sua capa traçada, da qual o Dr. Amaral afirmava: “Se esta capa falasse, tantas histórias que contava”.
Como grande nome da Guitarra de Coimbra, foi finalmente homenageado pelo Grupo de Canto e Guitarra de Coimbra de Santarém, em 27 de Maio de 2000, com uma serenata de homenagem ao Dr. Amaral que contou com a presença de muitos amigos, nomeadamente o Dr. Camacho Vieira.
O Dr. José Amaral faleceu a 12 de Julho de 2001, tendo sido sepultado no Pego, sendo mais tarde sido trasladado para o Cemitério de Abrantes.
Do seu memorial, restam-nos os seus instrumentais que muitos guitarristas ainda tocam, e que o grupo “Saudades de Coimbra”, fundado pelo Dr. Amaral e sediado em Abrantes, tem a missão de divulgar a obra do Dr. José Amaral nas suas actuações.
Além disso, também a sua memória perdura na toponímia abrantina, com uma Rua com o seu nome em Alferrarede.
Também na Serenata Tradicional que o Grupo de Canto e Guitarra de Coimbra de Santarém levou a cabo no passado dia 9 de Julho, no Largo do Seminário, foi mais uma vez lembrado o Dr. José Amaral, quando chamaram ao palco o Dr. José Amaral (filho) para lhe entregarem um CD de inéditos do Dr. José Amaral gravado pelo grupo de Santarém.
Ficará assim perpetuada a memória daquele que foi um dos grandes guitarristas na segunda década de oiro do Fado de Coimbra, que escolheu a cidade de Abrantes para viver e exercer a sua profissão.

BIBLIOGRAFIA

- CORREIA, Camilo Araújo – Coimbra Minha. Coimbra: Almedina, 1989.
- NIZA, José – Fado de Coimbra. Vol. II. [s.l.]: Ediclube, 1999.
- PELOURO DA CULTURA DA AAC – Canção de Coimbra: Testemunhos vivos (Antologia de Textos). Coimbra: Pelouro da Cultura da AAC, 2002.
- SILVA, António dos Santos e – Zeca Afonso: Antes do Mito. Coimbra: Minerva, 2000. ISBN: 972-8318-88-X.
- TUNA ACADÉMICA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA – Ficha individual do Dr. José Maria Amaral (n º 178). Coimbra: TAUC, 1952.

Agradecimentos
Um agradecimento ao Dr. José Amaral, aos meus colegas do grupo de Fados “Saudades de Coimbra”, em Abrantes (que me forneceram informações vitais para que este artigo fosse elaborado); ao Dr. Augusto Camacho Vieira que com a amizade de sempre me definiu o Dr. José Amaral em breves palavras, quando o solicitei para tal; À Tuna Académica da Universidade de Coimbra que me facilitou a ficha individual do Dr. José Amaral para incluir no artigo; ao Dr. João Luís Madeira Lopes, Advogado e exímio Guitarrista do Grupo de Santarém, por ter cedido a fotografia do Dr Amaral a tocar guitarra.

*Rui Lopes - Licenciado em História e Pós-graduado em Ciências Documentais (Arquivo), pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Estudioso da História da Canção de Coimbra e executante de Guitarra de Coimbra. Actualmente encontra-se a organizar e catalogar o Arquivo da Escola Superior de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca, em Coimbra.
[i] NIZA, José – Fado de Coimbra. Vol. II. [s.l.]: Ediclube, 1999. p. 190.
[ii] Idem, Ibidem, p. 190.
[iii] SILVA, António dos Santos e – Zeca Afonso: Antes do Mito. Coimbra: Minerva, 2000. p. 33.
[iv] NIZA, José – ob. cit. P. 190
[v] Nome que designa na hierarquia da praxe o Estudante de Liceu que, neste caso, é abaixo de caloiro.
[vi] Ficha Individual do Dr. José Maria Amaral (n º 178) na Tuna Académica da Universidade de Coimbra.
[vii] PELOURO DA CULTURA DA AAC – Canção de Coimbra: Testemunhos vivos (Antologia de Textos). Coimbra: Pelouro da Cultura da AAC, 2002. p. 19.
[viii] Idem, Ibidem, p. 19.
[ix] PELOURO DA CULTURA DA AAC – ob. cit. P. 21.
[x] NIZA, José – ob. cit. P. 190
[xi] Em 2004, o Orfeon comemorou os 50 anos desta digressão por terras de Vera Cruz, com um espectáculo em Santa Clara, na Igreja de S. Francisco.
[xii] CORREIA, Camilo Araújo – Coimbra Minha. Coimbra: Almedina, 1989. p. 16
[xiii] Idem, Ibidem, p. 16
[xiv] Segundo informação do Dr. José Amaral (filho) terá ido viver para o Pego em Junho ou Julho de 1958. Contudo, a ficha da Tuna Académica da Universidade de Coimbra, datada de 1952, já tem como morada o Pego, mas deve ter sido acrescentado posteriormente, porque em 1952 o Dr. José Amaral vivia e exercia medicina em Sabóia.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

CANTIGA PARA QUEM SONHA

Tu que tens dez reis de esperança e de amor
grita bem alto que queres viver.
Compra pão e vinho, mas rouba uma flor.
Tudo o que é belo não é de vender
Não vendem ondas do mar
nem brisa ou estrelas, sol ou lua-cheia
Não vendem moças de amar
nem certas janelas em dunas de areia.

Canta, canta como uma ave ou um rio
Dá o teu braço aos que querem sonhar
Quem trouxer mãos livres ou um assobio,
nem é preciso que saiba cantar.

Tu que crês num mundo maior e melhor
grita bem alto que o céu está aqui.
Tu que vês irmãos, só irmãos em redor,
Crê que esse mundo começa por ti.
Traz uma viola, um poema,
um passo de dança, um sonho maduro.
Canta glosando este tema,
Em cada criança há um homem puro.

Canta, canta como uma ave ou um rio
Dá o teu braço aos que querem sonhar
Quem trouxer mãos livres ou um assobio,
nem é preciso que saiba cantar.

Letra de Leonel Neves
Música de João Gomes
Canta Luiz Goes


É PRECISO ACREDITAR

É preciso acreditar,
É preciso acreditar
que o sorriso de quem passa
é um bem para se guardar
que é luar ou sol de graça
que nos vem alumiar
com amor alumiar
É preciso acreditar,
É preciso acreditar
que a canção de quem trabalha
é um bem para se guardar
E não há nada que valha
a vontade de cantar
a qualquer hora cantar
É preciso acreditar,
É preciso acreditar
que uma vela ao longe solta
é um bem para se guardar
que se um barco parte ou volta
passará no alto mar
E é livre o alto mar
É preciso acreditar,
É preciso acreditar
Que esta chuva que nos molha
é um bem para se guardar
que há sempre terra que colha
um ribeiro a despertar
para um pão por despertar.

Letra de Leonel Neves
Música de Luiz Goes
Canta Luiz Goes



HOMEM SÓ, MEU IRMÃO

Tu, a quem a vida pouco deu
que deste o nada que foi teu em gestos desmedidos.
Tu, a quem ninguém estendeu a mão
e mendigas o pão dos teus sentidos
Homem só, meu irmão.
Tu que andas em busca da verdade
e só encontras falsidade em cada sentimento
Inventa, inventa amigo uma canção
que dure para além deste momento
Homem só, meu irmão.
Tu, que nesta vida te perdeste
e nunca a mitos te vendeste,
dura solidão!
Faz dessa solidão teu chão sagrado,
agarra bem teu leme ou teu arado,
Homem só, meu irmão.

Letra de Luiz Goes
Música de Luiz Goes
Canta Luiz Goes


Paulo Bernardino e Pedro Janela no TAGV, ontem. Abriu o espectáculo o Ensemble de Metais EPMVC, dirigido por Sonia Santalices Feijoo. Actuação muito interessante, com peças de Dukas, Praetorius e Farkas.


Paulo Bernardino e Pedro Janela no TAGV, ontem. Paulo Bernardino rege o coro e orquestra. Sofia Serra canta. Participaram ainda Isabel Sá na harpa, Joel Azevedo no contrabaixo, Marta Falcão em flauta de bisel, Grupo de Flautas da Academia Martiniana, Ensemble de Metais EPMVC, Elementos da Escola de Música de Perosinho e o Coro AEMINIUM.
A peça executada, da autoria de Paulo Bernardino nas partes corais, orquestra e regência, e de Pedro Janela na sonoplastia, mostra já um amadurecimento dos autores, um grande conhecimento das técnicas de composição. Um bom trabalho a pedir que seja repetido e votos para que outros semelhantes apareçam.


Paulo Bernardino e Pedro Janela no TAGV, ontem. Vista parcial do coro AEMINIUM e orquestra. Posted by Picasa


Paulo Bernardino e Pedro Janela no TAGV, ontem. Entrega de lembranças a alguns dos participantes. Augusto Mesquita chama um deles e Mário Nunes, Vereador da Cultura, observa.


Paulo Bernardino e Pedro Janela no TAGV, ontem. Agradecimentos finais. Posted by Picasa


Paulo Bernardino e Pedro Janela no TAGV, ontem. No final, foto do autor Paulo Bernardino com Rui Vilão e José Miguel Baptista. Posted by Picasa

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Pensamento

Música: Adriano Correia de Oliveira e António Portugal
Letra: Manuel Alegre

Meu pensamento (Refrão)
partiu no vento
podem prendê-lo
matá-lo não

Meu pensamento
quebrou amarras
partiu no vento
deixou guitarras
meu pensamento
por onde passa
estátua de vento
em cada praça

(Refrão)

Foi à conquista
de um novo mundo
foi vagabundo
contrbandista
foi marinheiro
maltês ganhão
foi prisioneiro
mas servo não

(Refrão)

E os reis mandaram
fazer muralhas
tecer as malhas
de negras leis
homens morreram
estátuas ao vento
por ti morreram
meu pensamento


Paulo Bernardino, ex pianista do Coro dos Antigos Orfeonistas, logo à noite no TAGV, com uma peça de sua autoria, conjuntamente com Pedro Janela. Notícia do Diário ce Coimbra de hoje. Posted by Picasa

O MEU FADO

Música: Armando do Carmo Goes
Letra: 1ª quadra popular; 2ª quadra de António Tomás Botto (modificada)
Incipit: Esse ar de santa, a brilhar
Origem: Coimbra
Data: 1924

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Esse ar de santa, a brilhar,
Que do teu rosto esvoaça,
Põe meus lábios a rezar;
Maria, cheia de graça.

Não me peças mais cantigas
Que eu a cantar vou sofrendo,
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.


Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Mib menor, Si maior, 2ª Mib /// 2ª Mib, Mib menor
2º dístico: Fá# maior, Si maior /// Mib menor, 2ª Mib, Mib menor, Mib maior (1ª vez)
2º dístico: 3ª Mib menor, 2ª Mib, Mib menor /// 2ª Mib, Mib menor (2ª vez)

Informação complementar:
Canção musical estrófica em compasso quaternário (4/4) e tom de Mi Bemol Menor. Espécime gravado pelo barítono Armando Goes em Lisboa, a 21 de Outubro de 1928, acompanhado exclusivamente em Guitarra de Coimbra de 17 trastos por Albano de Noronha e Afonso de Sousa: disco de 78 rpm His Master’s Voice, E.Q. 183 – 7-62228. A letra primeiramente transcrita neste verbete de inventariação corresponde à versão original e autêntica de "O Meu Fado", de Armando Goes. Trata-se de um dos primeiros temas compostos por Armando Goes, cantor estreado em Coimbra no ano de 1924 com apadrinhamento do Dr. António Menano, cuja voz já era conhecida no Liceu de Leiria e na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Esta composição anda vulgarizada com os os designativos "Fado da Nora" (Nunca chores junto à nora), "O Meu Fado" (Não me peças mais canções), "O Meu Fado" (Não choram os meus pecados), "O Meu Fado" (Tenho saudades do mundo) e ainda "Não me Peças mais Cantigas". A 1ª quadra é popular e já era cantada por António Menano na "Canção da Beira" antes de Armando Goes se ter radicado em Coimbra. Não deve confundir-se com "O MEU FADO" (Na minha campa desfolha), composição bem mais antiga, presente nas solfas impressas do cantor Manassés de Lacerda. A melodia é do tipo mórbido-lamentoso, sobrecarregada nalgumas vocalizações.
Na década de 1930 a letra original já estava estropiada e bem assim o título (Não me peças mais cantigas), por influência do registo concretizado antes de 1926 pelo cantor José Carvalho de Oliveira (78 rpm Pathé 4047, master 201012), sendo a 1ª quadra de António Tomás Botto e a 2ª de José Marques da Cruz:

Não me peças mais cantigas
Que eu a cantar vou sofrendo;
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

Nunca chores junto à nora,
Que a corrente faz girar;
Quem chora ao pé de quem chora
Fica-se sempre a chorar.

José Maria das Neves Lacerda e Megre gravou esta canção em 1960, acompanhado por António Portugal/Eduardo de Melo/Manuel Pepe e Paulo Alão: EP Alvorada, MEP 60 272, remasterizado no CD "Fados e Guitarradas de Coimbra", Lisboa, Movieplay, MOV 30.332 B, ano de 1996 (cd 2, Movieplay, MOV 30.332 B, faixa nº 15, com confusão de autorias, pois imputa a música a Ferreira Guedes e a letra a Armando Goes). Por sugestão de António Portugal, que tinha ligações ao estudante e poeta contestário António Ferreira Guedes, Lacerda e Megre preteriu a letra original em função de outra de Ferreira Guedes:

Tenho saudades do mundo,
Tenho saudades da vida,
Mas mais saudades eu tenho
Por te saber já perdida.

Nós somos na despedida
Duas saudades à espera
Que a morte venha e nos traga
Um resto de Primavera.

Luiz Goes regravou este tema em 1967, acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão e Aires Máximo de Aguilar e, à viola, por António Simão Toscano e Fernando Neto Mateus da Silva: LP "Coimbra de Ontem e de Hoje," reeditado em 1983, EMI 11c 078 40624. Disponível em compact disc: CD "Coimbra de Ontem e de Hoje", Lisboa, EMI 7243 8 33481 2 1, editado em 1995, faixa nº 2; idem, Colecção "Um Século de Fado"/Ediclube, CD Nº 3, EMI 7243 5 20637 2 7, editado em 1999; ibidem, "Luiz Goes. Canções para quem vier. Integral (1952-2002)", Lisboa, EMI-Valentim de Carvalho, 7243 5 80297 2 7, ano de 2002, CD Nº 2, Faixa Nº 2, com identificação correcta de título, música e letra, transcrição e fixação de texto por José Anjos de Carvalho.
Porém, Luiz Goes não canta a letra original recebida de seu tio. Como primeira quadra interpreta a segunda - mas não modificando a versão original de António Botto, e, como segunda, adopta uma outra de António Botto que para o efeito lhe foi expressamente "descoberta" por Leonel Neves. Eis a letra interpretada por Luíz Goes, a qual deve considerar-se como sendo a versão definitiva autorizada ainda em vida por Armando Goes:

Não me peças mais canções
Porque a cantar vou sofrendo,
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

Tem quatro letras apenas
A triste palavra amor,
Menos uma do que a morte,
Mas mais uma do que a dor.

José Mesquita gravou "O Meu Fado" em 1979, mas com duas outras coplas, a primeira de António Ferreira Guedes e, a segunda, de Eugénio Sanches da Gama, acompanhado à guitarra por António Brojo e Jorge Gomes e, à viola, por Aurélio Reis e Manuel José Dourado (LP "Dr. José Mesquita – Fados e Baladas de Coimbra", Roda, SSRL 9000, editado em 1979, e cassete CSR 134). No referido disco figura erradamente o nome de António Menano como autor da letra:

Tenho saudades do mundo,
Tenho saudades da vida,
Mas mais saudades eu tenho
Por te saber já perdida.

Não choram os meus pecados
Os meus olhos a chorar
Choram ainda, coitados,
Com saudades de pecar!

Num outro registo de 1983, comercializado em 1984, disponível em compact disc ("Tempo(s) de Coimbra", CD Nº 1, EMI 0777 7 99608 2 8, remasterização em1992), José Mesquita, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Luis Filipe, utiliza a segunda quadra da sua gravação de 1979 como primeira e, como segunda, canta esta outra de António Ferreira Guedes:

Nós somos na despedida
Duas saudades à espera
Que a morte venha e nos traga
Um resto de primavera.
Relativamente a este 2º registo de José Mesquita utilizamos a 2ª edição vinil, "Tempo(s) de Coimbra. Oito décadas no canto e na guitarra", Lisboa, EMI 2603833, ano de 1990, LP nº 2 (Anos 30 e 40), Lado A, Faixa nº 3. O acompanhamento é feito por António Brojo/AntónioPortugal (gg) e Aurélio Reis/Luís Filipe (vv). Quer na etiqueta do disco, quer no livreto com a transcrição das letras, atribui-se a Armando Goes música e letra, pese embora o facto de a letra interpretada por José Mesquita ser de António Ferreira Guedes e de jamais Armando Goes a ter cantado. De anotar também no referido trabalho de reconstituição do Grupo de Guitarras e Cantares de Coimbra os embaraços com a cronologia, pois "O MEU FADO" é um tema da década de 1920, pelo que deveria ter entrado no LP nº 1 e não no LP nº2.
Este espécime, em outras gravações, aparece sob o título “Não me peças mais cantigas”, “Nunca chores junto à Nora” e, também, “Fado da Nora". Uma outra versão, sob o título "Fado da Nora", é a gravada pelo cantor profissional Américo Lima (Cassete Tecla, TC 563), cantando como 1ª quadra “Nunca chores junto à nora”, de José Marques da Cruz, e como 2ª “A saudade faz lembrar”, da autoria do poeta e antigo estudante de Direito Domingos Garcia Pulido. A quadra de Garcia Pulido foi publicada num livrinho de versos entre 1911-1916 e vulgarizou-se nessa época na voz do serenateiro e membro do Orfeon de António Joyce, Augusto Morna (1909-1913). Cantores há que estropiam a referida copla, salmodiando no 2º verso “A maluqueira da nora”:

A saudade faz lembrar
A melopeia da nora,
A uns parece cantar
Parece a outros que chora!


Domingos Garcia Pulido, estudante de Direito da UC entre 1910-1916, poeta, era natural do Alentejo. Ainda estudante publicou “Nos braços da cruz”. A partir de 1926 aderiu ao regime salazarista e por 1934 exerceu funções de Inspector Geral dos Serviços Jurisdicionais de Menores. Em 1950 era Presidente do Conselho de Administração do jornal "O Século". Em todo o caso não é o guitarrista Garcia Pulido, activo em Coimbra na década de 1930, que acompanhou regularmente o barbeiro Flávio Rodrigues da Silva.
Registo raro é o de José Pimenta de Castro Lacerda e Megre, recolhido a partir de uma gravação do Rádio Clube Português, em 1955, no Pavilhão dos Desportos/Lisboa: CD "Coimbra Eterna", Strauss, ST 5190, ano de 1998, faixa nº 20, acompanhado por João Bagão/António Portugal (gg), Manuel Pepe/Levy Baptistas (violões aço). Lacerda e Megre identifica o tema como "Nunca Chores Junto à Nora", isto é, por via da gravação José Carvalho de Oliveira. Como 1ª quadra canta “Nunca chores junto à nora”, de José Marques da Cruz, e a título de 2ª, esta de autor não identificado que estaria muito em voga nos alvores da década de 1930:

Quem me dera, meu amor
Embora tu não o creias
Fazer girar o meu sangue
No sangue das tuas veias.

A intérprete do Fado Maria Teresa de Noronha costumava cantar "O MEU FADO", tendo-o incluído num programa da RTP gravado em 1959, acompanhada pelo conjunto de guitarras de Raul Nery: cassete vídeo “Recordando Maria Teresa de Noronha (1918-1993)”, Lisboa, Edição RTP/Videofono, ano de 1998.
Conhecemos uma interpretação deste tema na voz do barítono Joaquim Matos, presente no CD "Velha Guarda Coimbrã. Recordando... do Choupal até à Lapa", Pombal, DISCOTONI, faixa nº 10, acompanhado por José dos Santos Paulo/Francisco Dias (gg), não estando identificado o tocador de viola. Na ficha técnica sugere-se incorrectamente que o título "O Meu Fado" seria equivalente a "Fado da Nora".

-António Tomás BOTTO (Abrantes, 17 de Março de 1897; Rio de Janeiro, 17 de Março de 1959): funcionário público, poeta.
-José Marques da CRUZ (Leiria, 1888; Brasil, 1958): antigo estudante da UC, formado em Direito no ano de 1912, colega de curso do guitarrista Francisco Menano. Poeta de veia nacionalista, radicou-se precocemente no Brasil onde trabalhou como docente universitário.
-Eugénio Sanches da Gama (1864-1933): poeta, antigo estudante da UC, formado em Direito, foi professor no Liceu de Coimbra.
-Maria Teresa do Carmo de Noronha Guimarães Serôdio Paraty (1918-1993): notável intérprete do Fado, cantava temas do repertório de Armando Goes como "Fado dos Busos" e "O Meu Fado".

Transcrição musical: Octávio Sérgio (2005)
Pesquisa e textos: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Agradecimentos: Dr. Afonso de Sousa, José Moças (Tradisom), Dr. Aurélio dos Reis

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