domingo, janeiro 07, 2007

Augusto Hilário

Faz hoje 142 anos que nasceu Augusto Hilário. A biografia que se segue foi retirada do site Informação Adicional
- Augusto Hilário da Costa Alves, nasceu em Viseu em Janeiro de 1864 na Rua Nova. A data do seu nascimento é ainda uma incógnita, porquanto o registo de baptismo refere que foi “exposto na roda desta dita cidade pelas cinco horas da manhã do dia sete do dito mês e ano”, sendo baptizaso a 15 do mesmo mês e ano pelo páraco da Sé, com o nome de Lázaro Augusto. Ao receber o crisma em 26 de Maio de 1877, muda o nome para Augusto Hilário.
- As dúvidas que se poderiam levantar em relação à sua filiação ficam desfeitas em face da certidão de óbito que refere Augusto Hilário como filho legítimo de António Alves e de Ana de Jesus Mouta. Crê-se assim, que Hilário terá sido fruto de um enlace pré-matrimonial sendo por isso exposto na Roda e posteriormente reconhecido.
- Frequentou o liceu de Viseu com o intuito de fazer os estudos preparatórios para a admissão à Faculdade de Filosofia, mas os anos foram passando sem que concluísse a disciplina de filosofia.
- Matriculou-se em Coimbra, mas também aí os resultados não foram famosos e revela-se então um apaixonado pela boémia coimbrã, notabilizando-se como cantor de fado e executante de guitarra. Os seus fados correram o país de lés a lés, ficando imortalizado o Fado Hilário.
- Em 1889-90, foi examinado no liceu de Coimbra e tendo feito uma prova admirável foi aprovado com boa classificação. Matriculou-se então no 1º ano de Medicina, tendo assentado praça na Marinha Real para obviar à falta de recursos, recebendo um subsídio do Estado.
- A sua actividade de fadista e trovador era conhecida pelo país inteiro, em particular na Academia Coimbrã onde era o “Rei da Alegria”. O seu esmerado trato e a sua cordialidade faziam dele o grande animador dos serões académicos. Nos seus fados, interpretou poemas de Guerra Junqueiro, António Nobre, Fausto Guedes Teixeira, para além dos que ele próprio criou.
- Parte alta da sua vida de fadista foi a participação na festa de homenagem ao grande poeta João de Deus que se realizou em Lisboa no Teatro D. Maria II, a que se associou a Academia de Coimbra e onde participaram entre outros o Prof. Doutor Egas Moniz. No decorrer do espectáculo, após a sua intervenção e em plena apoteose do público presente, Augusto Hilário atirou para o meio da multidão a sua guitarra, da qual nunca mais nada se soube. O Ateneu Comercial de Lisboa a 2 de Junho de 1895, oferece-lhe aquela que foi a sua derradeira guitarra e que se encontra actualmente na posse do Museu Académico de Coimbra, por especial oferta da família.
- Como poeta escreveu dezenas de quadras que se imortalizaram nos seus fados e das quais se destacam Fado Hilário (36 quadras); Novos fados do Hilário, recolha de um conjunto apreciável de quadras; Carteira de um Boémio, conjunto de versos manuscritos de que se ignora o seu paradeiro.
- A sua grande capacidade de improvisar fazia dele uma figura popular e sublime que entusiasmava quem o ouvia tendo actuado em Viseu, Coimbra, Lisboa, Espinho e Figueira da Foz, entre outros lugares.
- Foi uma hora de luto nacional aquela que o ceifou à vida no dia 3 de Abril de 1896, pelas 21 horas, vitimado por uma “ictericia grave hypertermica”. Morreu na sua casa da Rua Nova, contando 32 anos. Frequentava então o 3º ano da Escola Médica da Universidade de Coimbra e era aspirante da Escola Naval.
- O seu funeral foi imponente, com uma aparatosa multidão que o quis acompanhar até à sua última morada no cemitério da cidade de Viseu onde ficou sepultado em jazigo de família. Em carta de condolências datada de 5 de Abril de 1896, remetida de Mangualde à sua mãe pelos seus colegas é feita a síntese do sentimento académico de então:
- “Está de lucto a mocidade portugueza!”
- Chorado por admiradoras, amigos e conhecidos, chorado por simples amantes do fado, Hilário marcou para sempre a academia conimbricense ao enraizar-lhe a alma que lhe faltava, o fado. A admiração provocada nos seus contemporâneos levou a que o seu nome fosse dado a um jornal que se fundou em Viseu pouco tempo após a sua morte. Em 12 de Junho de 1896, surge nas bancas o Hylário, com a figura do fadista ao centro da 1ª página e tendo a guitarra como ex-libris. Semanário “imparcial e livre de quaesquer agrupamentos partidários”, assim foi também o seu homónimo.
- Se nunca foi feita uma biografia do poeta-cantor, referências em jornais e revistas não faltam. Vejam-se, por exemplo, os artigos publicados logo após a sua morte, na revista O Occidente, de 1896, no jornal que teve o seu nome ou noutro semanário de Viseu, A Liberdade, que transcreve em vários números as notícias saídas em jornais de todo o país aquando da sua morte.
- Em 1967, a família, por intermédio da Srª Dª Maria Alice Trindade de Figueiredo, entregou ao Museu Académico de Coimbra uma das guitarras que o seu tio-avô dedilhara em muitas ocasiões e que lhe tinha sido oferecida pelo Ateneu Comercial de Lisboa quando ali se deslocou a cantar.
- Em 30 de Junho de 1979, é a vez da Câmara Municipal de Viseu promover uma grande homenagem ao poeta a que se associou toda a população da cidade e academia Coimbrã, tendo sido atribuído o seu nome a uma rua da cidade e descerrada uma lápide na casa onde nasceu.
- Em 1 de Dezembro de 1987, a Associação Académica de Coimbra, recordou o grande Augusto Hilário, por ocasião do I Centenário da Academia, editando um desdobrável onde se podia ler um artigo escrito no Jornal dos Estudantes, de 1 de Maio de 1896, poucos dias, portanto, decorridos sobre a sua morte. É mais um testemunho da dor que a morte do fadista provocou no coração de todos os estudantes, futricas e tricanas de Coimbra.
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Joaquim Pinho acrescentou o texto que se segue, à biografia de Augusto Hilário:
No Arquivo da U. de Coimbra, e no seu processo existe uma Certidão de Perfilhação que cita, salvo erro,
-...que,sendo solteiros tiveram como filhos, Lázaro Augusto, no Crisma mudado para Augusto Hilário e - mais dois irmãos.
Foi também um bom intérprete de Teatro - vidé "O teatro em Coimbra...
Foi a enterrar com farda MILITAR e não com Capa e Batina...
Faleceu em Viseu numa Sexta-feira Santa!!! em Abril de 1896.
Tinha familiares em Viseu e Vila Nova de Paiva.
Músicas suas popularizaram-se, por exemplo: "O mar enrola na areia" (Póvoa de Varzim) e "O sancristan de Coimbra" - na Galiza, - vidé como era então a C. de C, com estribilho e duas letras sobrepostas - gravado pela Pilocha.
O primeiro fado gravado em 78 rpm, foi o Fado Hilário em 1902 no Brasil, pelo Bahiano, também quem pela primeira vez gravou no Brasil - cerca de 444 discos/temas (então era só de um lado), e que só gravou o 1º samba em 1917 - Pelo Telefone...
Em Portugal os primeiros discos são de 1904!
Em 1903/4 o Fado Hilário era a 3ª ou 4ª canção mais ouvida no Brasil!!!

CD "Cristina Cruz - Coimbra Menina do Meu Olhar"




Horácio Fachada teve a amabilidade de me oferecer este CD, autografado pela cantora, Cristina Cruz. É mais um trabalho produzido por Carlos Jesus, com este na guitarra, António Jesus e Alexandre Cortesão também em guitarra, e nas violas Paulo Larguesa, Bernardino Gonçalves e Fernando Plácido.
Raramente têm aparecido mulheres a cantar o Fado e a Canção de Coimbra mas, quando aparecem, fazem-no com bastante mestria. Temos o exemplo de Maria Teresa de Noronha, para não ir mais longe. Cristina Cruz não foge à regra. Com uma voz de afinação impecável, timbre doce, cristalino, com bons registos nos graves e médios, menos conseguida nos agudos, mas sem desmerecer nota positiva alta, será provavelmente uma rampa de lançamento para que novas vozes apareçam na galáxia coimbrã. Assim o esperamos.
Carlos Jesus apresenta-nos três guitarradas, duas do seu "mestre" António Portugal e uma de Afonso de Sousa. Esta está um pouco adulterada em relação ao original, talvez por opção do instrumentista. As do seu "mestre" estão como este as quereria tocadas, provavelmente.
Há peças inéditas de Manuel Portugal, com poema de David Mourão Ferreira e de António Jesus. É de realçar este facto, pois só assim se poderá dizer que a Canção de Coimbra não morreu.

Ainda acerca do papel da mulher na canção de Coimbra…

2º texto retirado do caderno que acompanha o CD de Cristina Cruz. Texto enviado por Paulo Larguesa.
Estranhamente, em pleno século XXI, a polémica em torno do papel da mulher na canção de Coimbra ainda é uma realidade. Esta questão, extemporânea, deve ser integrada numa problemática mais vasta, pois tem a ver com discriminações relativas a tudo o que é considerado elemento exógeno a uma ficção, criada por alguns puristas da canção de Coimbra, designada por “Sociedade tradicional académica”. Neste pequeno apontamento centrar-me-ei somente na discriminação feminina. Sou mulher, cidadã, pessoa e, por acaso, frequentei a Universidade de Coimbra, mas, apesar disso, esses puristas consideram ser ilegítima a possibilidade de poder ser cultora da canção de Coimbra, dado este género artístico ser “na sua essência e estrutura original (…) inequívoca e indiscutivelmente masculino”.
Qual seria a situação das mulheres actuais se lhes fosse vedada toda e qualquer actividade de origem “inequívoca e indiscutivelmente masculina”!? Continuariam recatadas no “gineceu”, a exercer meramente tarefas domésticas, sem poderem desenvolver todas as suas potencialidades como pessoas que são, dotadas de eminente dignidade, como qualquer “macho”, possuidoras de uma vontade autónoma, de criatividade, de motivações, … não seriam políticas, engenheiras, médicas, jornalistas, advogadas, artistas de jazz, artistas em geral, escritoras, filósofas, polícias, professoras, cientistas, … O ser humano, enquanto ser espácio-temporalmente situado, vai evoluindo historicamente e qualquer tentativa de abolir o progresso será esquizóide, lunática, … Todas as áreas da actividade humana sofrem as mutações que o horizonte epocal lhes determina, porque não somos coisas, somos seres inteligentes, conscientes, motivados, emocionais, criativos, … Aquando da polémica “Manuela Bravo” em 1996, houve alguns conservadores que referiram ser “uma aberração histórica” qualquer apropriação feminina do património artístico que é o fado de Coimbra; pois eu reformulo, dizendo que aberração histórica é não querer acompanhar a renovação endógena da tradição, é continuar a não dar crédito ao convite kantiano (já velho de três séculos) “Ousa pensar” e perpetuar a menoridade mental que não nos deixa ser autónomos, que nos faz escravos das ideias feitas e dos preconceitos, dum passadismo e machismo serôdios que negam a própria essência do ser pessoa como ser autónomo, livre, crítico, aberto e singular. Se estes intolerantes e fundamentalistas não ousam pensar por si, pelo menos deveriam escutar a voz de pessoas reconhecidas internacionalmente pelas suas competências intelectuais e artísticas, como Boaventura de Sousa Santos, Carlos Fiolhais, Manuel Alegre, Elísio Estanque e outros, que, desafiando-se a si próprios, criaram ciência e arte, actividades consentâneas com espíritos que reflectem, que duvidam, que questionam o óbvio, que problematizam, que não aceitam a superficialidade e que já mostraram a sua indignação relativamente aos argumentos falaciosos e machistas dos puristas da canção de Coimbra. Nem vale a pena aduzir argumentos como o facto de, neste momento, a Universidade de Coimbra ter mais alunas do que alunos, pois não me parece que essa seja a questão central. Com efeito, o problema fulcral prende-se com o desrespeito por um conjunto de seres humanos, as mulheres, que têm o mesmo direito inalienável que os homens de se expressarem artisticamente. Quando a criação e a expressão artísticas não são livres, é porque a sociedade que as cultiva é prepotente, ditatorial, não respeitadora dos direitos de cidadania, … e nós queremos, em Portugal, que as conquistas de Abril sejam uma realidade!
Não esqueçamos que estamos também em época de globalização, e esta deverá ser encontro, fusão e não é, necessariamente, perda da identidade, pois esta, seja individual ou cultural, constrói-se na dialéctica entre o eu e o outro, implicando, simultaneamente, diferenciação e influência, e não me parece que Coimbra possa ficar isolada deste processo, como algo transcendente e imune às vicissitudes da história, por isso, consequentemente, a sua canção sofrerá, obrigatoriamente, influências exteriores.
Para terminar este pequeno apontamento, gostaria de acrescentar que, se o século XX foi, assumidamente, “o século das mulheres”, como diz Victoria Camps, o século XXI será o reforço dessa assunção e, por isso, o processo de apropriação feminina da canção de Coimbra será irreversível. Se isto agradar aos fundamentalistas, será assim, mas se não lhes agradar, será assim também!

Alice Alves

A mulher…e a Canção de Coimbra !

Texto incluído no caderno que acompanha o CD de Cristina Cruz. Texto enviado por Paulo Larguesa.
A Coimbra de ontem! A vida em Coimbra, há décadas atrás, era romântica, sedutora, apaixonante. A sociedade, marcadamente conservadora e machista, ditava as suas leis. O homem apaixonado namorava à porta ou à janela. A mulher, a partir de certa hora, recolhia a casa. Se o não fizesse era apelidada de “prostituta”. À noite os estudantes, sem televisão, computador ou telemóvel, tinham duas alternativas: estudar ou tocar e cantar. A comunicação com a sua amada era feita através do fado de Coimbra. Era o tempo da “serenata de rua”. Essa sim, a verdadeira serenata cantada para alguém, sem assistência, e hoje praticamente extinta. A mulher, musa inspiradora dos poetas e cantores, era o epicentro das atenções masculinas. O amor, a paixão, a saudade, a despedida eram cantadas duma forma intensa. O homem dominava a sociedade e a Universidade era maioritariamente masculina, logo, fazia sentido o fado de Coimbra ser tocado e cantado apenas por homens. Mas já nesse tempo havia mulheres a cantar, e bem, o fado. Recordo-me, por exemplo, da minha mãe que, segundo os meus antepassados, cantava às escondidas, encantando alguns estudantes da época, entre os quais o grande cantor Nani, que se escondia para ouvi-la cantar. A sociedade machista, aliada a certos fundamentalistas já existentes nesse tempo, não permitia tais veleidades. Mas, a partir da década de 60, o fado começou a mudar. As más condições de vida do povo, aliadas à crise política gerada pela guerra colonial, deram um novo rumo à canção coimbrã. Do fado romântico passou-se ao fado de intervenção. As trovas de Adriano, as canções do mar e da vida de Luiz Goes e, sobretudo, as baladas de Zeca Afonso ao romperem com as guitarras, deram uma contestação político-social à música de Coimbra. Zeca Afonso, criticado e perseguido pelos ultra-conservadores, viria mais tarde a ser idolatrado. As suas baladas intemporais ainda hoje são cantadas, ou será que hoje não existem vampiros? Zeca Afonso e Adriano cantavam “Meu amor é marinheiro” e, assim, chegámos ao movimento estudantil e à revolução de Abril. Lentamente começou a emancipação da mulher na sociedade. Hoje, segundo estudo efectuado, a actual academia de Coimbra comporta 61% de mulheres. Da secção de fado da A.A.C, presidida por uma mulher, surgem as primeiras guitarristas. Na Sé Velha, Ana Sadio brilha com a sua guitarra. A mulher passa a ter um papel mais interventivo na música coimbrã, em tunas femininas, em tunas mistas, em organismos como as Mondeguinas, as Fãs, etc. e em cujo repertório já incluem alguns fados de Coimbra. As repúblicas passam a ser mistas. As serenatas à janela dão lugar às discotecas! Já alguém dizia: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.” Certos fundamentalistas vão caindo, tal como no Outono das árvores caem as folhas. A mulher a cantar o fado começa a ser um dado adquirido. Finalmente, surge a primeira mulher a interpretar admiravelmente a canção coimbrã. É a Coimbra de hoje!
Cristina Cruz acaba de presentear os amantes da canção de Coimbra com este magnífico trabalho! Os actuais cantores, principalmente os ayatholas que, segundo o distinto Prof. Carlos Fiolhais, ainda existem em Coimbra e que não deixam as mulheres cantar o fado, deviam ouvir, analisar este trabalho e, sem machismos bolorentos, tirar as necessárias conclusões. Cristina Cruz, com uma voz cristalina, romântica, timbrada e cuidada, aliada a uma excelente interpretação, tanto no fado clássico como na nova canção de Coimbra, vai, de certo, contribuir para o ponto de viragem e estimular o aparecimento de outros valores femininos. A canção de Coimbra precisa de renovação e modernidade, respeitando sempre a matriz coimbrã. É tempo, segundo o sociólogo Elísio Estanque, de um verdadeiro movimento feminista se impor na academia. As estudantes da Academia de Coimbra devem tomar posição, ou poderão ser ultrapassadas pelas colegas doutras universidades. Aprendam a tocar e a cantar o fado de Coimbra! A canção de Coimbra não tem sexo! Procurem alguém que vos ensine! Cantem e criem novas poesias! Mas é fundamental cantar bem, tal como o faz neste trabalho Cristina Cruz. A esta jovem universitária de Aveiro, aqui lhe deixo os meus parabéns pela excelente voz, magnífica interpretação e, ainda, pela coragem, sofrimento, dedicação e aprendizagem conseguidas. A canção coimbrã sai enriquecida, fortalecida, mas, sobretudo, diferente para melhor, com o magnífico trabalho realizado. Parabéns à cantora e aos músicos!

António Jesus

GUITARRAS DE COIMBRA

CD de Cristina Cruz

Palavras de Cristina Cruz. Comentários, para quê?...
O meu nome é Cristina Cruz. Acabei de gravar o CD intitulado "Coimbra Menina do Meu Olhar", esperando (muito sinceramente) poder contribuir para que mais raparigas adiram a esta iniciativa, dando continuidade a uma luta que até então tem sido bastante sofrida.
Fui informada de que lhe enviaram um exemplar do referido CD. A fotografia que consta dentro da Capa, junto da minha Biografia foi tirada quando estava a trocar algumas agradáveis palavras com o Dr. Octávio Sérgio, após uma actuação. Junto anexo a fotografia que pode publicar, caso manifeste o interesse de divulgar este projecto neste seu admirável Blogg, que considero bastante actualizado e abrangente, no que diz respeito ao tema "Fado/Canção de Coimbra" - e não só.
No entanto, não posso deixar de ficar profundamente entristecida, ao constatar que pessoas, sob a forma de anonimato, utilizam tão precioso meio de divulgação de projectos, eventos e outros assuntos de interesse público, para dele fazerem um campo de batalha, empregando uma linguagem e uma forma de argumentação pouco dignas de pessoas que se dizem possuidoras de um grau de inteligência acima da média. Fazer uso da sua inteligência é o mínimo que se pode esperar de pessoas que, de algum modo, se dizem ligadas à Academia, e por esse motivo se entendem legitimadas para comentar todo e qualquer assunto. Eu compreendo e aceito os diversos pontos de vista. No entanto, entendo que o debate deve ser aberto, frontal e transparente, sem que os diversos intervenientes se escondam numa capa designada por "anonimato", e sobretudo, não utilizando uma linguagem que se eleve ao nível que a temática exige e merece, sob pena de caírem nas teias da sua própria ignorância.

sábado, janeiro 06, 2007


Capa e contracapa do CD de Serrano Baptista, que gentilmente me foi oferecido por A. Albino, do grupo Tertúlia Coimbrã de Miratejo, em que Serrano Baptista (filho) está agora integrado. É um trabalho artesanal, com compilação de 7 peças gravadas em gravador de fita e passado para CD. São cinco guitarradas de Serrano Baptista e 2 Canções de Coimbra por ele cantadas. Voz agradável, que me surpreendeu, pois apenas o conhecia como guitarrista. As guitarradas seguem o estilo bem da época, mas com partes muito difíceis de executar. Pena que as Variações em Ré Maior estejam incompletas, pois a fita estava danificada no final. Gostava de ouvir o efeito dessa parte, já que conheço a partitura. Em outras duas tem trechos com dedilhações semelhantes à Fantasia de Artur Paredes, o que mostra que Serrano Baptista era dotado de uma técnica bastante evoluída. As peças ouvem-se com muito agrado. Pena é que nunca tenham sido gravadas em disco!
Segundo me disse A. Albino, uma fita com gravações de Serrano Baptista foi emprestada a António Portugal, nunca tendo sido devolvida, devido à sua morte prematura. O filho de S.B. pede encarecidamente a Teresa Portugal que procure no espólio de seu marido se tal fita ainda lá se encontra, pois pensa que pode incluir as Variações em Ré Maior, que estão incompletas neste disco, além de outras inéditas.



Honras dos arminhos, glórias da púrpura (1)

Tipografia parisiense em plena actividade nos alvores do século XVI, com dois humanistas de capelo e barrete.

AMNunes



Honras dos arminhos, glórias da púrpura (2)

Francisco Henriques: São Cosme, São Tomé e São Damião, ca. 1503-1508, Lisboa, Museu nacional de Arte Antiga.

Vistos como curandeiros das epidemias que assolavam a Europa e Portugal, S. Cosme e S. Damião são figurados com capelos de época. O capelo de S. Damião obedece a um modelo mais clássico, com forro de arminhos salpicado de tufos e capuz costal, assemelhando-se aos usados pelos cardeais romanos e docentes activos na Universidade de Paris.

AMNunes



Honra dos arminhos, glórias da púrpura (3)

Antonello da Messina: "São Jerónimo no escritório", ca. 1460, Londres, National Gallery.

São Jerónimo em vestes escarlates, com capelo pelos ombros, em pose reflexiva de "lente" estudioso, é um clássico da arte sacra ocidental.

AMNunes



Honras dos arminhos, glórias da púrpura (4)
Melozzo da Forlì (1438-1494): O Papa Sisto IV funda a Livraria do Vaticano em presença de seus sobrinhos e do Prefeito Bartolomeu Platina, ca. 1477, Roma, Vaticano.
A figura erecta ostenta longo capelo escarlate, descido pela linha dos cotovelos, com forro de arminhos e capuz deitado sobre o ombro direito.
AMNunes



Honras dos arminhos, glórias da púrpura (5)

Jean Hey: "Nativité du Cardinal Jean Rolin", ca. 1480, Autun, Musée Rolin.

Postura orante, com sotaina escarlate de abertura frontal e capelo de arminhos e veludo.

AMNunes


Honras dos arminhos, glórias da púrpura (6)

Rafael Sanzio: "Madona di Foligno", ca. 1512, Roma, Vaticano. Obra encomendada em 1511 por Sigimondo Conti (de barbas brancas na tela) para o altar da Igreja de Santa Maria, em Roma. O humanista Conti figura ao lado do purpurado São Jerónimo. Do lado oposto, Rafael dispôs São Francisco e São João Baptista.

AMNunes



Honras dos arminhos, glórias da púrpura (7)

"O Cardeal Albretch de Bradenburgo diante do Crucificado", pintura de Lucas Cranach, o Velho (1472-1553), feita entre 1520-1530, Munique.

Grande destaque para o capelo, com o capuz lançado sobre o ombro.

AMNunes



Honras dos arminhos, glórias da púrpura (8)

O Cardeal Albretch de Bradenburgo com barrete escarlate e pelote forrado a peles. Pintura de ca. 1526, existente em St. Petersburgo, Rússia

AMNunes



Honras dos arminhos, glórias da púrpura (9)

Retrato do Cardeal Nicola Albergati por Jan van Eyk, ca. 1432, Viena, Kunstistorisches Museum, com sotaina escarlate forrada a peles ricas. Trata-se de um retrato mais intimista, com o prelado a prescindir das insígnias respectivas.

AMNunes



Honras dos arminhos, glórias da púpura (10)

Figuração completa da indumentária de um cardeal da segunda metade do século XV: a) túnica branca; b) sotaina talar escarlate, sem mangas, com duas aberturas fendidas e embainhadas a arminhos; c) capelo de veludo Veneza, forrado de arminhos e capuz deitado pela cabeça; d) galero de estrutura rígida e cordões pendentes.

Fonte: volante de São Jerónimo, trabalho da autoria do pintor Michael Pacher (ca. 1435-1498), com o título "Padres da Igreja", de ca. 1483, Munique, Alte Pinakotheke.

AMNunes


Honras dos arminhos, glórias da púrpura (11)
A evolução da moda não deixou de afectar o gosto das altas esferas do mundo eclesiástico romano. Progressivamente abandonado, o galero medieval (nobilitado pelo Papa Bonifácio VIII), viu-se transformado em estilização heráldica aplicável em tectos, portões e pedras de armas, com os seus cordões de trinta borlas. Chegaria ao Concílio Vaticano II, confeccionado em feltro preto, com fita à volta da copa e discreta borla quase colada ao rebordo da aba.
A simplificação e laicização da vestimentária eclesiástica tentava adaptar-se às tendências da sociedade civil masculina que desde a Segunda Guerra Mundial praticamente abandonara o uso dos chapéus.
AMNunes

Honras dos arminhos, glórias da púrpura (12)
A compreensão e aprofundamento dos estudos dos uniformes e insígnias das universidades ocidentais pode ser enriquecido através do cotejo com os ainda mal conhecidos guarda-roupas judiciário e eclesiástico.
Na fotografia, tirada em Roma, Dezembro de 1929: Cardeal Eugénio Pacelli (1876-1958), entronizado Papa Pio XII em 1939, aqui com calção, cáligas de seda (meias), sapatos de fivela, volta branca e cabeção, batina talar, roquete de rendados, capa magna e murça de arminhos. Nas mãos são bem visíveis as insígnias: o anel e o barrete escarlate, de quartos, com dorsais, mas sem borla alguma na copa.
A sotaina de púrpura foi honorificamente concedida aos cardeais pelo Papa Bonifácio VIII em 1294. Esta véstia podia ser usada com capelo de veludo Veneza e arminhos no acto de investidura dos novos cardeais romanos, procedendo o Papa à colocação do galero de cordões e borlas na cabeça dos neófitos.
O visual descrito proliferou em pinturas dos séculos XIV e XV, refluindo no Renascimento. O galero como que passou de moda no Renascimento, progressivamente convertido em motivo heráldico dos cardeais, os quais deram mostras de preferir o barrete escarlate que lhes fora concedido em 1245 pelo Papa Inocêncio IV.
AMNunes

Duas décadas doutorais: uma celebração "de Reis" (I)

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4. Armando Luís de Carvalho HOMEM




Duas décadas doutorais: uma celebração "de Reis" (II)

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Armando Luís de Carvalho HOMEM

Duas décadas doutorais: uma celebração "de Reis" (III)

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Armando Luís de Carvalho HOMEM

Duas décadas doutorais: uma celebração "de Reis" (IV)

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Em 2005/12/18 passaram duas décadas sobre o meu doutoramento em Letras / História da Idade Média pela UP. Celebrando a efeméride, os meus Colegas doutores na especialidade pelo mesmo Studium Generale ofereceram-me um jantar e diversas lembranças: foi na «noite de Reis» (Jan.05) de há 1 ano. Foi mesmo uma «noite de Reis» !... Propus que, antes do jantar, se fizesse uma «pose de grupo» em hábitos académicos. Aqui fica uma pequena reportagem, no âmbito dos sucessivos posts que tenho vindo a colocar no blog sobre os trajes e as insígnias dos lentes universitários, do nosso País e de outros.

0. Montagem, por Flávio Miranda, de uma série de fotos desta comemoração.
1. Mesa grande da sala do Departamento de História e de Estudos Políticos e Internacionais (DHEPI) da FL/UP, antes da chegada dos lentes

2. Com a minha Mulher, Maria Isabel Miguéns de Carvalho Homem.

3. Idem.

4. Com uma das executivas do DHEPI, Dr.ª Idalina Azeredo Rodrigues.

5. Com os finalistas de História Flávio Miranda, Joana Sequeira e André Vitória, colaboradores da organização (disposição da sala, flores, fotografias, ulterior digitalização de imagens, etc.); estão hoje licenciados e a frequentar a post-graduação em História Medieval e do Renascimento.

6. 1.ª foto de grupo – 1.ª fila, da esq. para a dir.: Doutora Maria Cristina Almeida e Cunha (UP); Doutor José Augusto de Sotto-Mayor Pizarro (id.); eu próprio; Doutor Luís Adão da Fonseca (UP); Doutor Luís Miguel Duarte (id.); Doutora Isabel Morgado de Sousa e Silva (Centro de Investigação Histórica [CIH] – FLUP); e Doutora Paula Pinto Costa (UP); 2.ª fila, da esq. para a dir.: Mestre Luís Carlos Ferreira do Amaral (UP, prestes a doutorar-se); Doutora Isabel Rodrigues Ferreira (CIH – FLUP; professora do Ensino Secundário); Joana Sequeira (segurando uma almofada com o meu chapéu troncónico); Doutora Maria Cristina Pimenta Aguiar Pinto (CIH – FLUP); Doutora Judite Gonçalves de Freitas (CIH – FLUP; lente da U. Fernando Pessoa / Porto); Doutor António Pais de Matos Reis (CIH – FLUP; Director do Arquivo Distrital de Viana do Castelo); e Dr.ª Maria Fernanda M. Ferreira Santos (UP).

7. 2.ª foto de grupo – escassas diferenças em relação à foto anterior: saiu o Mestre Luís Carlos Amaral (teve uma aula) e chegou (de uma aula na U. Lusíada / Porto, de que é lente) o Doutor Joel Silva Ferreira Mata (2.ª fila, 2.º a contar da esquerda; também investigador do CIH – FLUP). Como se vê, há por aqui becas do modelo com origem em Oitocentos (1856-1857), nas Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e do Porto, hábitos talares (com os quais os que os envergam se apresentaram a provas de doutoramento) e um «traje doutoral» da UP, nos termos da reforma de 2003; a medalha usada é, sem excepção [a], a concebida pelo escultor JOÃO DA SILVA para o Centenário da Academia Politécnica e da Escola Médico-Cirúrgica (1937), adoptada como insígnia doutoral da UP em 1994; esta medalha pode pender de uma simples fita na cor da Unidade Orgânica (azul-escuro [b]) ou do escapulário previsto pela reforma do traje em 2003.

8. O levantar da mesa – da esq. para a dir.: Maria Cristina Cunha, Isabel Rodrigues Ferreira, José Augusto Pizarro, eu próprio, Joana Sequeira, Luís Adão da Fonseca e Cristina Pimenta.

9. Recarregando a máquina fotográfica.

10. Recebendo lembranças; é aqui visível a cor (azul-escuro) do pom-pom hemiesférico que encima o chapéu troncónico.

11. Com José Augusto Pizarro, que usa também a medalha do Instituto Português de Heráldica, a que pertence. A beca envergada por este meu Colega – tal como a de Luís Adão da Fonseca, a deste último algo mais discretamente – é um claro exemplo do modelo portuense de sugerência oitocentista: folhos levantados nos ombros [c]; grande profusão de pregas; faixa de cinta de duas voltas; abotoadura até á base [d]; para além dos botões, a peça fecha, na zona torácica, com quatro pares de alamares [e]; mangas de balão, dando ao conjunto apreciável volumetria [f]; a dupla borla de serigaria que pende da faixa de cintura tem frequentemente – como é aqui o caso [g] – a cor da Unidade Orgânica / especialidade científica. Quanto ao novo «traje doutoral» da UP (2003), trata-se se algo que se destina «(…) a ser usado pelos doutores pela Universidade do Porto e por professores jubilados e aposentados a quem seja conferido, para este efeito, um estatuto equivalente. Apresentando-se como uma simplificação do anterior, é constituído por uma túnica de côr preta, lisa na parte da frente e com um macho e duas pregas nas costas, com mangas lisas e largas na parte de baixo, levando um folho, à sua volta, no ombro. Como acessório, será usado um cinto de seda, com duas pontas a que se prendem duas borlas com as cores da faculdade ou, em alternativa, pretas [h]. Nas cerimónias em que haja lugar ao uso de insígnias, o traje doutoral será completado com um colar, tipo escapulário, da côr, ou cores, da faculdade e com a medalha da Universidade» [i]. Uso este traje com laço branco (na tradição das antigas Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e do Porto) e chapéu troncónico (também com origem no séc. XIX, mas só regulamentado muito tardiamente, para a UL nos Reitorados de Marcello Caetano [1960] e de José Barata Moura [2005], para a U. Açores no Regulamento fundacional do traje (Reitorado de António Machado Pires, 1990) e para a UNL no mandato do actual Prelado, Leopoldo Guimarães [ca. 2002]) com pom-pom hemiesférico na cor da Unidade Orgânica (azul-escuro).

12. Com os membros da Linha de Acção «As Ordens Religiosas e Militares na Idade Média Portuguesa» do CIH – FLUP (Unidade de I&D 746 da Fundação para a Ciência e a Tecnologia [FCT]), a que presido: da esq. para a dir. – Luís Adão da Fonseca, Paula Pinto Costa, Cristina Pimenta, Isabel Morgado, Joel Mata e eu próprio.

13. Com os membros da Linha de Acção «A Sociedade Política e os Poderes» do CIH – FLUP: da esq. para a dir. – José Augusto Pizarro, Cristina Cunha, eu próprio, Judite Gonçalves de Freitas e Luís Miguel Duarte.

14. «Jantar de Reis» (I): Pré-prandialmente…

15. «Jantar de Reis» (II): O verbo post-prandial…

A fechar, lembro antes de mais o único membro do meu júri já desaparecido: o Doutor Salvador Dias Arnaut (1913-1995), recentemente imortalizado na toponímia de Coimbra, facto dignamente registado no blog; nas provas de 1985 foi arguente do trabalho complementar [j]. Os restantes membros do dito júri foram:

· Doutor Cândido dos Santos, ao tempo Vice-Reitor da UP, Presidente do Júri (actualmente jubilado);

· Doutor António Henrique de Oliveira Marques, da UNL, actualmente jubilado; foi um dos arguentes da tese: Desembargo (O) Régio (1320-1433), publ. Porto, INIC / Centro de História da UP, 1990, 634 pp.;

· Doutor Humberto Baquero Moreno, da UP, actualmente aposentado; foi o meu orientador científico e, como tal, também arguente da tese;

· Doutor Luís António de Oliveira Ramos, da UP, actualmente aposentado;

· Doutor Luís Alberto Adão da Fonseca, da UP, actualmente aposentado;

· e Doutor José Marques, da UP, actualmente aposentado.

Direi também que motivos de saúde impediram a presença nesta comemoração do Doutor Humberto Baquero Moreno e que o Doutor José Marques apenas pôde comparecer no jantar.
A quem me fez esta bela «festa de Reis» só posso reiterar o meu Muito e Muito Obrigado !


Post-Scriptum – É curioso: por razões históricas quanto aos trajes em uso na UP, nestas imagens coexistem becas e hábitos talares; ou seja, e uma vez mais, «o eu» e «o outro»…


NOTAS:

[a] Ainda sobram lentes doutorados antes de 1994 que continuam a usar a anterior medalha, remontante à antiga Academia Politécnica.
[b] Mais ou menos…
[c] Em vez do agradável arredondamento para o antebraço, característico das da UL nos termos da reforma do Reitor Marcello Caetano [1960]; com pequenas adaptações, estoutro modelo passou para a UNL – até à reforma do traje ocorrida ca. 2002, mas não aceite, por ex., pela Fac. Ciências Médicas – e para a U. dos Açores [mas aqui com outras especificidades]; na UL o modelo foi consagrado com pequenas inovações em 2005, no reitorado de José Barata Moura.
[d] As de Lisboa e o novo «traje doutoral» portuense fazem terminar a abotoadura um pouco abaixo da cintura.
[e] De dimensões francamente superiores aos utilizados nas becas da UL, da UNL e da U. Açores.
[f] As da UL, da UNL e da U. Açores apresentam mangas de canhão, podendo este (mormente nos Açores) ser na cor da especialidade científica.
[g] Cf. ils. 12. e 13.
[h] É esta última a solução adoptada no caso patente.
[i] José Novais BARBOSA, «Posfácio», in A. L. de Carvalho HOMEM, Traje (O) dos lentes. Memória para História da Veste dos Universitários Portugueses (séculos XIX-XX), Porto, Fac. Letras / UP, 2006, p. 97 (col. «flup e-dita»; em breve no mercado).
[j] «Conselho Real ou Conselheiros do Rei ? A propósito dos “Privados” de D. João I», publ. em Revista da Faculdade de Letras [UP]. História, II sér., 4 (1987), pp. 9-68; reed. In A. L. de Carvalho HOMEM, Portugal nos Finais da Idade Média: Estado, Instituições, Sociedade Política, Lisboa, Livros Horizonte, 1990, pp. 221-278.
Armando Luís de Carvalho HOMEM

sexta-feira, janeiro 05, 2007



No 74º Aniversário de Luiz Goes

Antologia fonográfica abrangendo a produção balizada entre 1952-2002, com textos de Carlos Carranca, José Henrique Dias, Carlos Couceiro, Levy Baptista, Jorge Cravo, José Anjos de Carvalho e António Toscano.

A invulgar obra artística de LG é sem dúvida merecedora de exaustivos estudos e ensaios, continuando a faltar nos meios universitários aquele certo investigador a quem "morda o bichinho"... Pena é que numa Faculdade de Letras da UC não se acolham um LG ou a Canção de Coimbra com o mesmo entusiasmo que a Universidade de Aveiro tem vindo a consagrar ao Jazz.

Não serve de consolação, mas LG tem sido demoradamente estudado por Jorge Cravo. Esperemos que estes trabalhos, com uma primeira versão alinhavada em 2005, possam ver a luz do dia...

A antologia fonográfica de 2002 não esgota a globalidade das prestações goesianas. Posteriormente seria gravado um novo cd com o guitarrista João Moura e em arquivos radiofónicos e televisivos permanecem intervenções esquecidas.

AMNunes


Natalis Dies
O Dr. Joaquim Pinho convida os leitores do blog e os admiradores da obra artística de LUIZ GOES a comemorarem condignamente o aniversário desta figura magna da Canção de Coimbra (05/01/1933...).
Imagem: caricatura e poema de Luiz Goes na contracapa do livro orientado por Carlos Carranca, "Luiz Goes de Ontem e de Hoje", Lisboa, Universitária Editora, 1998.
AMNunes



Métodos (1)
Folha de rosto da 2ª edição do "Álbum do Guitarrista", de João Vitória, manual reportado à Guitarra de Fado, muito popular nas décadas de 1930-1940, com possibilidades de aquisição ao balcão e por encomenda postal na casa Olímpio Medina (Coimbra).
Desconhecemos se este manual teve alguma audiência em Coimbra, cidade onde a guitarra de Lisboa fora postergada. Mesmo assim, não deverá perder-se de vista que a Olímpio Medina fornecia clientes da Beira Litoral, Beira Alta e até Douro Litoral (encomendas de tunas rurais do Marão).
Imagem enviada por José Anjos de Carvalho
AMNunes





Métodos (2)
Outra página do manual "A guitarra sem mestre", de João Vitória, com selo da Olímpio Medina.
Merece reparo a publicidade algo enganosa, retomada por outros manualistas activos na passagem do século XX para o XXI, segundo os quais o "método" possuiria capacidades milagreiras...
Imagem enviada por José Anjos de Carvalho
AMNunes



Tons (1)
A edição do FADO DAS PENAS (solfa+memória), em 19 de Novembro de 2006, suscitou algumas interrogações no que toca ao fundamento do "esquema do acompanhamento" habitualmente utilizado nas nossas recolhas.
Trata-se de um dispositivo muito básico, conforme se constatou, contudo eficaz do ponto de vista da acessibilidade, com longa tradição em Portugal.
No caso de Coimbra, embora prevaleça a ideia de que os cantores interpretam as composições de memória, sabe-se que não raro os vocalistas recorriam a caderninhos onde colocavam à frente do títulos, ou sobre os versos, os tons (recorde-se a edição, neste blog, de um lote de letras habitualmente cantadas por Lucas Junot).
Estes esquemas são ainda muito utilizados por instrumentistas ligados a grupos folclóricos, animadores de retiros e acampamentos de escuteiros, convívios informais de soldados, encontros de jovens católicos, tunas académicas, tunas rurais e escolas de iniciação juvenil de viola.
Confirma as nossas palavras o "Método Instantâneo de Viola" (Tons I, II, III, IV e V), da autoria do prolixo músico activo em Lisboa, João Vitória, que nas décadas de 1930-40 se vendia na casa Olímpio Medina, Coimbra, e em lojas de música de outras cidades portuguesas. Compositor, recolector, manualista, João Vitória foi um músico profissional com larga audição em todo o Portugal rural e urbano. Pode ser considerado o Eurico Cebolo dos anos 30 e 40 do século XX. Além do método de viola, Vitória fez sair manuais para guitarra de fado, bandolim, flauta, saxofone, violino, etc. Comercializou um número impressionante de solfas de melodias portuguesas e estrangeiras, prontamente acolhidas por tunas rurais, filarmónicas, orquestras ligeiras, directores de grupos folclóricos e animadores espontâneos de grupos paroquiais de teatro. Por exemplo, no estudo que conseguimos fazer do espólio de Manuel Eliseu, pudémos constatar que este harmonizador utilizou frequentemente na sua orquestra, activa em Coimbra, solfas dos cancioneiros de João Vitória (ex: "Feixe de Melodias. 10ª Meia Dúzia de Músicas para Bandolim ou Violino com indicação dos tons de viola ou violão e os versos intercalados, por 1$00 [Dez tostões], Nova Edição, Catálogo Especificativo das Músicas de João Vitória, Lisboa, sem data). Deste mesmo tipo são as populares brochuras editadas nas décadas de 1990-2000 pelo músico residente em São João da Madeira Manuel Pereira Rezende (inúmeros cadernos "Melodias de Sempre", alguns com temas de Coimbra), com sucessivas reedições, à venda em Coimbra, Lisboa e Porto.
Imagem: documentos de José Anjos de Carvalho
AMNunes





Tons (2)
Folha do "Método de viola", de João Vitória, enviada por José Anjos de Carvalho.
AMNunes





Tons (3)
Folha do "Método de viola", de João Vitória, enviada por José Anjos de Carvalho.
AMNunes





Tons (4)
Outra folha do "Método de viola", de João Vitória, enviada por José Anjos de Carvalho.
AMNunes





Tons (5)
Folha do "Método de viola" do popular músico João Vitória, enviada por José Anjos de Carvalho.
AMNunes

Estive a pensar…


Noto que na maioria das pessoas em Portugal que sejam ouvintes da rádio ou espectadores de televisão, estão confrontadas com produções estrangeiras ou de matriz formatada nomeadamente em televisão, pois em todos os países da Europa que conheço, os programas televisivos são de formato idêntico, com a sua panóplia de artifícios comerciais com objectivo de controlar as tendências de gosto nomeadamente o musical.Como, de um modo geral, não se faz a mínima ideia do que se passa e se faz por detrás do pano, assim como dos interesses comerciais que nos forçam a assumir de forma a diminuir o gosto pelo que é português, pelo afunilamento das opções do pronto a ouvir e deseducando a opção do diferente, para não falar de questões de abuso e atentado à identidade cultural (se é que ainda se pode já tal afirmar) deste País.Cada geração tem referências culturais que enraízam numa infância e se tornam universais com o amadurecimento da vida. Quais serão as actuais referências que nós estamos a mostrar às nossas crianças? Esta pergunta talvez prove que estou a ficar um velho.No pouco que posso, tento inverter as tendências do espírito anti português que se vive não só na música portuguesa, assim como na cultura portuguesa em geral. Sei que muito pouco posso fazer. Sei que é uma tarefa gigantesca e é um trabalho de gerações, pois ainda não assumimos uma posição de auto estima que herdamos na vivência colectiva de um provincianismo teimoso.Passamos o tempo a dizer mal deste país, que no estrageiro, leia-se Europa, é que é, que isto aqui é uma bosta, etc. Mas quando me desloco ao estrangeiro, mal o avião começa a levantar sinto-me a aprender, reconheço, mas passado pouco tempo sinto uma necessidade em regressar urgentemente à bosta e beber do vinho das minhas referências culturais.
Texto e foto do Blog do Manel

quinta-feira, janeiro 04, 2007

O Dia da Universidade do Porto (Mar., 22) / 2006 (I)

A sessão solene (I):
Realizada este ano na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, marcou a inauguração oficial do novo edifício desta Escola (em utilização desde 2005, Out.). Na imagem, a zona do cortejo onde seguiam alguns dos mais antigos lentes da FL/UP aproximando-se do Grande Auditório. Ao fundo, junto à parede, entrevê-se a bandeira da UP, dominada pela figura de MINERVA, em rosa. Esta já foi a cor da UP, patente, por exemplo, na fita de que pendia a medalha reitoral. Desde 2004 que tal cor é o ouro-velho. Podem ver-se, da esq. para a dir.: Armando Luís de Carvalho Homem (História Medieval), «traje doutoral» da UP (modelo de 2003), com laço branco (na tradição das antigas Escolas Médico-Cirúrgicas), chapéu troncónico e medalha da UP (segundo a reforma de 1994), pendente de escapulário na cor da Escola (reforma de 2003); Rui Centeno (Arqueologia), hábito talar com medalha (1994) pendente de fita do modelo antigo; e Arnaldo Saraiva (Departamento de Estudos Portugueses e Românicos), beca do modelo remontante a 1857, sem qualquer reforma formal no século XX.
Armando Luís de Carvalho HOMEM

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